O documento descreve uma pesquisa sobre a estrutura da ictiofauna ao longo do gradiente longitudinal das cabeceiras do Rio Sorocaba. Foram coletados 636 peixes de 18 espécies em 9 famílias. A espécie mais abundante foi Cyphocharax modestus. Os trechos mais a montante apresentaram menor diversidade do que os trechos mais a jusante, seguindo um padrão encontrado em outros estudos sobre gradiente longitudinal.
DIAGNÓSTICO DE QUATRO METODOLOGIAS DE NUCLEAÇÃO IMPLANTADAS EM PASTO ABANDONA...
06
1. III Seminário de Pesquisa da APA Itupararanga:
Água e Saneamento, desafios à conservação
28 e 29 de Novembro de 2012
Sorocaba - SP
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Estrutura da Ictiofauna ao Longo do Gradiente Longitudinal das
Cabeceiras do Rio Sorocaba
Anderson Dalmolin Arsentales (Universidade Paulista)
Graduando do curso de Ciências Biológicas
a_arsentales-bio@hotmail.com
Andréia Camargo Portella (Universidade Paulista)
Graduanda do curso de Ciências Biológicas
andreia_portella@hotmail.com
Welber Senteio Smith (Universidade Paulista e Universidade de Sorocaba)
Professor dos cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental
welber_smith@uol.com.br
Resumo
No estado de São Paulo existem cerca de 391 espécies de peixes, correspondendo a
aproximadamente 15% do total estimado para o território brasileiro. Desse total, 260 espécies
ocorrem no Alto Paraná. De acordo com o conceito do Rio Contínuo um rio natural apresenta um
gradiente contínuo nas variáveis físicas de montante a jusante, onde as comunidades variam e se
adaptam à essas variações com o objetivo de utilizar a energia com maior eficiência. Este trabalho
teve como objetivo caracterizar a assembleia de peixes e analisar a influência do gradiente
longitudinal dos rios de cabeceira do rio Sorocaba. Durante o período de Outubro de 2011 a Maio
de 2012 foram realizadas coletas nos rios Sorocabuçu, Sorocamirim e Una, no município de
Ibiúna, São Paulo. As cabeceiras do rio Sorocaba sofrem constantes degradações devido ao uso
para agropecuária e residencial. Foram capturados 636 indivíduos pertencentes a 18 espécies, 15
gêneros, 9 famílias e 4 ordens. A espécie mais abundante é a Cypfocharax modestus com um
total de 170 indivíduos capturados. Os trechos mais a montante apresentaram diversidade menor
que os trechos mais a jusante, característica padrão encontrada em estudos da ictiofauna no
gradiente longitudinal. Observa-se que no decorrer do rio, o ambiente apresenta variações de
habitats propiciando uma elevação na diversidade de peixes. Conclui-se que a ictiofauna se
desenvolve mais nos trechos mais baixos do rio devido à variedade de habitats.
Palavras-chave: peixes, riachos, rio contínuo.
2. Introdução
De acordo com o conceito do Rio Contínuo (Vannote et al., 1980) um rio natural apresenta um
gradiente contínuo nas variáveis físicas de montante a jusante, onde as comunidades variam e se
adaptam à essas variações com o objetivo de utilizar a energia com maior eficiência. A variação
longitudinal se mostra mais importante que a variação sazonal na composição da ictiofauna
(Súarez & Petrere Jr, 2007).
Vannote et al. (1980) ressaltam que as comunidades lóticas podem ser agrupadas de acordo com
o processo predominante utilizado por seus membros na obtenção de alimentos. Dessa forma,
rios de cabeceira prenominam comunidades de condições heterotróficas detritívoras, utilizando
matéria orgânica proveniente da vegetação do entorno.
Para Casatti (2005) a variação da comunidade de peixes no decorrer do gradiente longitudinal
está relacionada com a variação de micro-habitats existentes nos rios e riachos neotropicais. A
diversidade local depende também de estruturas de hábitats relacionadas ao volume do trecho, ao
tipo de substrato, à velocidade de corrente, ao sombreamento e às condições de preservação do
entorno (Barrella et al., 2000).
Como constatado por Salles et al. (2008), as sub bacias dos rios Sorocabussu, Sorocamirim e
Una encontram-se em variados estados de conservação, sendo as principais ações de
degradação, o desmatamento da vegetação ripária e o lançamento de efluentes domésticos nos
corpos d’água. O rio com maior interferência antrópica é o rio de Una uma vez que passa pela
área urbana e agrícola de Ibiúna (Sardinha et al., 2008).
Existe uma grande quantidade de estudos realizados na bacia do rio Sorocaba (Smith et al., 2003;
Smith, 2003; Smith et al., 2007; Smith et al., 2009), porém nenhum relacionado a ictiofauna nos
rios de cabeceira, avaliando a influência do gradiente.
Este trabalho tem como objetivos analisar a composição e distribuição da ictiofauna e avaliar a
variação da assembleia no gradiente longitudinal dos rios de cabeceira do rio Sorocaba.
Material e Métodos
Área de Estudo
O rio Sorocaba nasce ao lado poente da Serra do Mar, no planalto de Ibiúna, a mais ou menos
900 metros de altitude. (Smith, 2003). Principal rio da bacia é formado pelos rios Sorocabuçu,
Sorocamirim e Una (Figura 1) (Smith et al., 2005).
As coletas foram realizadas nas sub-bacias dos rios Una (figura 2), Sorocabuçu (figura 3) e
Sorocamirim (figura 4). Foram determinados 3 pontos de coleta em cada rio, que serão mantidos
para todas as coletas. Os pontos Una1, Sçu1 e Srm1, representam, respectivamente, a cabeceira
dos rios Una, Sorocabuçu e Sorocamirim. Os pontos Una2, Sçu2 e Srm2 representam,
respectivamente, o ponto intermediário dos rios Una, Sorocabuçu e Sorocamirim. Os pontos
3. Una3, Sçu3 e Srm3 indicam, respectivamente, a foz dos rios Una, Sorocabuçu e Sorocamirim.
Figura 1: Localização da bacia do rio Sorocaba e área de amostragem (adaptado de Smith et al., 2009).
Figura 2: Trechos amostrados do rio Uma (da esquerda para a direita: Una1, Una2, Una3).
Figura 3: Trechos amostrados do rio Sorocabuçu (da esquerda para a direita: Sçu1, Sçu2, Sçu3).
4. Figura 4: Trechos amostrados do rio Sorocamirim (da esquerda para a direita: Srm1, Srm2, Srm3).
Coleta de dados
As coletas foram realizadas de Outubro de 2011 à Maio de 2012. Para as coletas foram utilizados
puçás, redes de espera de variadas malhas e pesca elétrica.
Após coletados, os indivíduos foram pesados e medidos (comprimento padrão), fixados em
formalina 10% no próprio local. Em laboratório, foram conservados em álcool 70%, identificados
com auxilio de chaves de identificação apropriadas e confirmados por especialistas. Os
exemplares foram armazenados no laboratório de Ciências Biológicas da UNIP - Campus
Sorocaba. O presente projeto conta com licença permanente para coleta de material zoológico n.
24151-1 emitida em 21/06/2010 às 16h59min.
Análise dos Dados
Após a realização das coletas, foram obtidas informações como abundância, riqueza e
diversidade, da ictiofauna em cada ponto amostrado. Os cálculos foram realizados com o apoio do
software BioEstat 5.0.
A diversidade de espécies foi medida através do índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’):
∑
onde ni é a abundância da espécie i, N é a abundância total da amostra e S a riqueza.
Resultados e Discussão
Dentre os trechos amostrados, o Una 2 e o Srm1 são os mais impactados, sendo suas margens
áreas de pastagem e urbanas e a existência de lançamento direto de efluentes nesses rios. Estes
três trechos apresentam cobertura vegetal menor que 50% e, no caso do Sçu3 e Srm2, é mais
visível áreas de erosão em suas margens. Os trechos Una 1 e Sorocabuçu 1 são os mais
preservados, com cobertura da vegetação ripária em suas margens maiores que 75% (tabela 1).
A profundidade média variou de 1 metro, encontrada no ponto Sorocabuçu 1, à 3 metros de
profundidade no ponto Sorocamirim 3. Os trechos amostrados apresentaram pouca variedade de
sedimento, sendo que todos eles apresentaram areia. Apenas nos trechos Una 2, Sorocamirim 1 e
Sorocamirim 2 foi encontrado lodo.
A maior diferença de elevação ocorreu do trecho Una1 para o Una3, com um declive de 26
metros. Entre os trechos Sorocabuçu 1 e Sorocabuçu 3 a variação da elevação foi de 15 metros e
5. entre os trechos Sorocamirim 1 e Sorocamirim 3 houve um declive de 14 metros.
Tabela 1: caracterização ambiental dos pontos amostrados (Ar: areia; Ca: cascalho; Lo: lodo; Ro: rocha; P:
preservada; PP: parcialmente preservada; A: ausente; Ru: Rural; Ur: Urbana) .
Una Sorocabuçu Sorocamirim
Trecho
1 2 3 1 2 3 1 2 3
Altitude (m)
880 868 854 861 853 846 869 863 855
Profundidade (m)
1,60 1,70 1,90 1,20 1,70 1,80 1 1,90 3
Largura (m)
3 5 6 4 5 5 3 7 13
Sedimento Ar, Ro, Ar, Ar, Ar Ca,
Ar Ar Ar, Lo
Ca Ar, Lo Ca Ca Lo, Ar
Mata Ciliar
P A PP P PP A PP PP PP
Ocupação do
Entorno Ru Ru Ur Ru Ru Ur Ur Ru Ru
Foram coletados 636 indivíduos pertencentes a 18 espécies sendo 15 gêneros, 10 famílias e 4
ordens. A espécie mais abundante foi Cyphocharax modestus, com 170 indivíduos, e a menos
abundante foi Characidium sp., com apenas 1 indivíduo coletado (tabela 2).
Tabela 2: composição e abundância da ictiofauna nos pontos amostrados.
Una Sçu Srm
1 2 3 1 2 3 1 2 3
Characiformes
Anostomidae
Leporinus sp. 4 4
Characidae
Astyanax altiparanae 4 4 5 30 43
Astyanax eigenmanniorum 1 6 7
Astyanax fasciatus 3 3 1 4 20 7 6 44
Astyanax scabripinis 2 2 4
Hiphessobrycon flammeus 1 2 2 5
Oligosarcus pintoi 1 3 11 15
Serrapinnus notomelas 12 3 50 65
Crenuchidae
Characidium sp. 1 1
Curimatidae
Cyphocharax modestus 2 21 147 170
Erythrinidae
Hoplias malabaricus 4 1 5 10
Siluriformes
Callichthydae
Corydoras aeneus 83 6 2 4 10 105
6. Tabela 2: Continuação
Heptapteridae
Pimelodella sp. 2 1 2 2 7
Loricariidae
Hypostomus ancistroides 1 1 2
Hisonotus depressicauda 1 1 2
Cyprinodontiformes
Poeciliidae
Phalloceros reisi 7 33 3 12 1 7 3 72 138
Perciformes
Cichlidae
Geophagus brasiliensis 7 1 1 2 11
Tilapia rendalli 3 3
Total 25 141 10 12 25 52 13 28 330 636
A ordem mais expressiva foi a Characiformes representando aproximadamente 57,9% de todos os
indivíduos capturados, seguida da ordem Cyprinodontiformes, representando aproximadamente
21,7% dos indivíduos coletados. Com relação a riqueza, Characiformes representou 61,1% e
Siluriformes representou 22,2% (figura 6).
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Characiformes Siluriformes Perciformes Cyprinodontiformes
Figura 6: gráfico de representatividade do número de espécies em cada ordem.
Os maiores índices de diversidade foram encontrados nos pontos Sorocamirim 3 (H’= 0,6832) e
Sorocamirim 2 (H’= 0,6813), os menores índices foram encontrados nos pontos Sorocamirim 1
(H’= 0,4273) e Sorocabuçu 1(H’= 0,5207) (tabela 3).
Tabela 3: índice de diversidade (Shannon-Wiener: H’)
Una Sorocabuçu Sorocamirim
Trecho 1 2 3 1 2 3 1 2 3
H’ 0.6192 0.5602 0.5558 0.5207 0.6391 0.6078 0.4273 0.6813 0.6832
As similaridades nos tipos de sedimento dos pontos amostrados aponta ser uma característica
típica da região. O lodo encontrado nos pontos Una2, Srm1 e Srm3 são provenientes da erosão
de suas margens devido à degradação da mata ciliar. As matas ciliares desenvolvem um
importante papel na proteção dos recursos hídricos (Barrela et al., 2000).
7. A dominância na riqueza das ordens Characiformes e Siluriformes é semelhante a encontrada em
trabalhos realizados na bacia do rio Sorocaba (Smith et al., 2003; Smith et al., 2009) e na bacia do
Alto Paraná (Lemes e Garutti, 2002; Langeani et al., 2007).
O maior índice de diversidade encontrado, no ponto Una 2, pode ser atribuído a diversidade de
hábitats, pois o trecho apresenta, poção e correnteza, folhagens, lodo e rochas como principais
sedimentos. Porém o mesmo trecho apresenta dominância de C. aeneus, característica
encontrada em ambientes degradados por ação antrópica, como encontrado por Casatti et al.,
(2010).
Embora os trechos Sorocabuçu 1 e Una 1 sejam os trechos mais preservados, ambos não
apresentaram índice de diversidade alto devido aos trechos apresentarem maior correnteza e
menor profundidade. Essas características são as mais encontradas em riachos de cabeceira
(Lemes & Garutti, 2002). Mesmo não apresentando índice de diversidade alto, esses ambientes
são habitats de espécies mais restritas, como é o caso de S. notomelas, Pimelodella sp. e I.
depressicauda, que foram capturados em poucos trechos.
Assim como Teixeira et al., (2005), percebe-se uma tendência no aumento da diversidade ao
longo do gradiente longitudinal dos rios. Nos trechos mais a montante dos rios Una e Sorocabuçu
a diversidade encontrada foi menor que nos trechos mais a jusante. A adição na diversidade de
peixes no decorrer do gradiente longitudinal está relacionada com a variação de habitats (Casatti,
2005; Teixeira et al., 2005; Vannote et al., 1980).
Conclusão
Conclui-se que o gradiente longitudinal apresentou fatores importantes na variação da diversidade
ao longo do rio, favorecendo a variação de habitats. Este trabalho obteve resultados favoráveis ao
conceito do rio contínuo, mostrando um aumento da riqueza nas comunidades de peixes no
gradiente longitudinal dos rios amostrados.
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