2. 2 3
INTRODUÇÃO
Este livro tem o objetivo de instruir melhor e auxiliar
as famílias em relação ao processo de internação
e desintoxicação de um dependente químico.
Aqui, o Grupo Recanto oferece acesso a infor-
mações cruciais que podem esclarecer a prob-
lemática da dependência química, além de ofer-
ecer a melhor maneira de como reagir e proceder
diante de um familiar ou ente querido que apre-
sente essas características.
Vamos mostrar o passo a passo de como é feito
o nosso tratamento e ajudar a entender o que
está acontecendo no corpo e na mente desse
dependente.
Buscamos o auxílio de nossos profissionais, espe-
cializados em dependência química, para resumir
da forma mais clara possível afim de que você e
sua família possam entender o que é essa doença.
3. 4 5
O GRUPO RECANTO é uma instituição de tratamento de
dependência química que tem como objetivo propiciar
o tratamento biopsicossocial de indivíduos dependentes
químicos. Fundada em abril de 2008 no estado de
Pernambuco, o Grupo Recanto possui atualmente 03 centros
de recuperação na Região Metropolitana de Recife (duas
unidades em Igarassu e uma unidade em Camaragibe -
Aldeia) especializados no tratamento para dependência
química de pessoas do sexo masculino, acima de 18
anos, com capacidade para 65 pacientes cada unidade.
Recentemente, abrimos mais um centro de recuperação. A
nova unidade está localizada na capital de Sergipe.
O Grupo Recanto começou a partir de um sonho e de um
senso de missão, com sua fundamentação baseada em
estudos de modelos terapêuticos de vários estados, através
de visitas e análises de centros de recuperação por todo
o país. Esse estudo resultou num método de tratamento
diferenciado, baseado nas melhores práticas e está em
constante atualização, sempre considerando todos os
aspectos sociais, epidemiológicos, organizacionais, de
gestão e financeiro e operacional, visando a excelência na
prestação de serviços com o melhor custo x benefício.
Nosso lema: O LUGAR PARA RECOMEÇAR.
Quando chega ao tratamento o dependente apresenta
prejuízos reais em sua vida e precisa de tratamento para
recomeçar. O Grupo Recanto é capacitado a receber e tratar
este novo residente, oferecendo ferramentas para o início de
uma nova vida de recuperação. Quando se encontra no uso
abusivo de drogas, nem o dependente químico, sua família
e muito menos a sociedade acreditam que exista esta pos-
sibilidade de modificar suas atitudes e comportamentos e
transformar radicalmente sua qualidade de vida para um
novo recomeço. Nós acreditamos que existe vida após a
dependência química e nossa experiência tem demonstrado
que, se o dependente adere ao projeto terapêutico proposto
e segue as orientações práticas oferecidas, ele recomeça
uma vida em recuperação, para assim tornar-se um membro
produtivo e participante da sociedade.
Hoje, o Grupo Recanto já é a maior instituição de tratamento
de dependentes em Pernambuco e referência no Brasil.
Possuímos convênios técnicos firmados, os nossos
profissionais são convidados para palestras, participamos e
investimos em congressos e temos contato com instituições
reconhecidas em todo o Brasil. Nosso compromisso é com a
qualidade de vida do residente e de seus familiares.
Através da união de quem vive a recuperação e a alta
qualificação técnico-profissional a equipe Grupo Recanto
vem provando que há vida após as drogas. Porque quando
ninguém mais acredita, a vida recomeça.
OBJETIVO
NOSSO OBJETIVO: Ajudar você a salvar a vida de um
dependentequímicoqueestácomousoabusivoecompulsivo
de álcool e/ou outras drogas onde sua obsessão já está
causando prejuízos reais à vida dele e/ou a de terceiros.
POR QUE PODEMOS AJUDAR? Porque cumprimos todos os
requisitos éticos, profissionais e legais que uma internação
voluntária ou involuntária necessita e proporcionamos
um ambiente propício ao estabelecimento de vínculos de
ajuda-mútua para o desenvolvimento da reestruturação
biopsicossocial do indivíduo dependente de álcool e outras
drogas, de modo a estabelecer a prática do programa de
recuperação e modificar seu estilo de vida anterior, o qual o
levou ao fundo de poço.
O GRUPO
4. 6 7VISÃO
Atender com qualidade e ser reconhecido como referência
no tratamento de dependentes de álcool e drogas.
MISSÃO
Proporcionar relacionamentos de ajuda mútua para o desen-
volvimento do indivíduo dependente de álcool e/ou outras
drogas, de modo a estabelecer a prática do programa de
recuperação.
VALORES CORPORATIVOS
Honestidade/Ética
Imparcialidade
Confiança e Credibilidade
Empreendedorismo
Mente aberta
NOSSO DIFERENCIAL
O Grupo Recanto acredita que a recuperação é baseada
em fundamentos éticos, conduzidos por profissionais
capacitados. O tratamento é baseado na força da união entre
o técnico (corpo médico – psiquiatra e clínico, psicólogo,
enfermagem e educador físico) e empírico (vivencial –
conselheiros que estão livres das drogas e que têm muita
experiência para repassar,orientando o residente no caminho
de recuperação).
Quem chega a um dos nossos centros de recuperação é
recebido por uma equipe de profissionais preparados para
acolher da melhor maneira aquele que acredita já ter perdido
para as drogas e/ou álcool.
MODELO DE EQUIPE - Equipe
Multidisciplinar
Composta por mais de 70 profissionais em sua totalidade,
5. 8 9
cada unidade do Grupo Recanto é formada por uma equipe de:
Médico/Psiquiatra;
Médico Clínico;
Plantão de Enfermagem;
Psicólogo especializado no tratamento de Dependência
Química;
Consultores em Dependência Química, com os seguintes
cursos:
FEBRACT - Campinas/SP;
ABRASA - Curitiba/PR;
UNIFESP - São Paulo/SP.
Educador Físico especializado em Reabilitação e
Desintoxicação;
Nutricionista;
Cozinheiro;
Monitores de Pátio.
Esta equipe tem por missão criar um ambiente favorável
ao estabelecimento de vínculos de ajuda mútua para o
desenvolvimento da reestruturação biopsicossocial do
indivíduo dependente químico, estabelecendo a prática do
programa de recuperação.
Quem chega aos Centros de Recuperação do Grupo Recanto
é apresentado a diferentes abordagens para o tratamento
da dependência química. Dividimos nossa metodologia em:
Aconselhamento, 12 passos e Hazelden.
O tratamento da dependência química deve ser considerado
como um conjunto de técnicas e intervenções desenvolvidas
com o intuito de favorecer a abstinência do consumo de
substâncias psicoativas, bem como a melhora da qualidade
devida e do funcionamento social.
Vamos detalhar o tratamento, descrevendo quantos
profissionais envolvem cada face destes modelos:
Tratamentodadependênciaquími-
ca–Otratamentobiológico:
Médicos
Na Dependência química a equipe médica
desempenha diferentes papéis dentro do
atendimento ao dependente químico, de
acordo com o seu grau de especialização:
Ao médico Psiquiatra cabe a gestão
do tratamento, além de tratar a crise
de abstinência e das comorbidades,
especialmente do ponto de vista terapêutico
e farmacoterápico.
Ao médico clinico, cabe o tratamento das
complicações clínicas relacionadas ao consu-
mo de drogas, o manejo dos casos mais leves
e o encaminhamento dos casos mais graves.
Enfermeiros e técnicos de enfermagem:
O enfermeiro está cada vez mais presente
eatuante na área da dependência química.
Ele é responsável pela realização da triagem,
execução dos procedimentos de tratamento
e pela desintoxicação ambulatorial, podendo
também contribuir para o aconselhamento e
motivação para o tratamento da dependência.
O enfermeiro é essencial no manejo
medicamentoso e é altamente importante na
acessória dos médicos na unidade.
6. 10 11
Principais atividades da equipe do tratamento biológico:
Avaliação e anamenese psiquiátrica;
Avaliação e anamenese Clínica;
Anamnese e avaliação da equipe de enfermagem
Prescrições de medicamentos:
Abstinência – que, utilizados adequadamente, são
capazes de aliviar os sintomas da abstinência;
Crises – Salvar vidas, evitar recaídas;
Tratamento de comorbidades;
Construção e execução do plano de tratamento;
Desintoxicação – de 04 a 06 semanas;
Conscientização da Doença da Dependência Química;
Avaliação clínica do consumo e os critérios de gravidade;
Exames Clínicos – garantir a saúde do paciente.
Atividades físicas adequadas à situação de cada indivíduo
Tratamentodadependênciaquímica
–OTratamentopsicológico
Psicólogo
O psicólogo pode atuar nos diversos níveis de
tratamento para a dependência química, provendo
apoio inicial aos dependentes e motivação para
tratamento especializado, uma vez que ele possui
conhecimentoteóricoetécnicoparaaatuaçãodentro
de grupos,atendimento individual e coordenação de
equipes de tratamento. O psicólogo complementa o
trabalho de equipe, trocando informações com os
técnicos em dependência química e abrangendo o
diagnósticopsicossocial.
Principais atividades do tratamento psicológico:
Psicoterapia Individual – Buscar entendimento dos traumase
comportamentos a serem tratados;
Psicoterapiaemgrupo–Atuanoprocessodemudançaerecon-
strução da vida;
Gestão de grupo de discussão de caso;
Construção e execução do plano de tratamento;
Avaliação motivacional;
Metas a curto,médio e longo prazo;
Avaliar a consistência da família;
Como receber críticas?
Aceitar e fazer elogios;
Objetivos realistas;
Avaliação dos fatores de proteção e risco;
Ressocialização;
Fase de conclusão e alta do tratamento;
Fazerescolhaseassumirasresponsabilidadescomamudança.
Tratamentodadependênciaquímica
–OTratamentosocial
Estes técnicos em dependência química são ex-usuários de álcool e
drogas, com vasta experiência a ser repassada, atuando como con-
selheiros e ensinando o caminho da recuperação.A proposta destes
técnicos em dependência química,consoante com o décimo-segun-
do passo, é transmitir aos dependentes químicos a mensagem dos
DozePassos.
O tratamento de drogas e dependência química executada por es-
ses profissionais pode ser tão eficaz quanto qualquer outro.A ação
do técnico em dependência química pode encontrar, em alguns pa-
cientes, maior receptividade e permeabilidade aos relatos de vida e
7. 12 13
assoluçõesencontradasporestesparalidarcomsuasdificuldades.
Prover capacitação a esses profissionais poderá combinar o con-
hecimento teórico-técnico com os insights de sua experiência pes-
soal, colaborando, assim, para a qualidade de sua abordagem com
osdependentes.
Principais atividades
Prover o tratamento e conscientização da necessidade de
abstinência total;
Intervenções psicossociais estruturadas;
Focar mudanças ativas e melhorar o estilo de vida;
Identificar os riscos de abandono precoce e procurar se
antecipar a eles;
Gerenciamento de caso por profissional de referência;
Conceitos de:culpa,raiva,medo,ressentimento,vergonha;
Tomar decisões;
Fase de conclusão e alta do tratamento – o acompanha-
mento do indivíduo mesmo quando abstinente, impedin-
do-se a recaída; as visitas domiciliares (ressocialização);
Auto conhecimento (percepção de defeitos de caráter);
Minúcia e coragem para explorar suas falhas;
Tratar dos instintos naturais (vida sexual, relacionamen-
tos, bens materiais e vida social);
Modificar áreas problemas;
Aceitar responsabilidades;
Identificar fatores de alto risco;
Identificar fatores de proteção;
Fontes de prazeres que não envolvam substâncias;
Modelo de tratamento do grupo
Recanto
Nossa metodologia é baseada em três aspectos do trata-
mento da Dependência química, que são:
ACONSELHAMENTO EM DE-
PENDÊNCIA QUÍMICA
No processo do tratamento de dependência química existem
duas opiniões que divergiam: uma delas é o conceito
moral, formulado pela sociedade, e outra é o conceito
médico, conhecido como a abordagem de aconselhamento
de dependência química, que foi formulado através de
estudos e pesquisas por profissionais do assunto (médicos
e psicólogos).
Durante muitos anos a visão moralista que pregava que “o
uso abusivo de álcool ou de outras substâncias psicoati-
vas era considerado um vício ou uma falha de caráter”,fez
com que a sociedade julgasse dessa forma as pessoas que
tinham qualquer tipo de transtorno relacionado ao uso de
álcool e drogas.Com a evolução dos debates e estudos foi
elaborado assim um conceito médico sobre o assunto,que
trata essa dependência do álcool e outras drogas como uma
doença BIOPSICOSSOCIAL.
O Grupo Recanto compartilha do conceito médico para,
não apenas tratar o residente, mas também desmistificar o
dilema moral e elucidar/informar sobre os critérios e diag-
nósticos da doença e a busca de recuperação através da
abstinência completa de substâncias psicoativas.
Este conceito foi elaborado através de observações feitas
nas últimas quatro décadas após a publicação do livro
“O conceito de doença do alcoolismo”onde os médicos e
psicólogos, baseado em estudos realizados com membros
de “Alcoólicos Anônimos”, conceituaram o alcoolismo como
uma doença caracterizada pela perda do controle, ou seja,
a incapacidade do indivíduo de ingerir álcool de forma
controlada.
Após alguns anos o termo alcoolismo foi substituído pela
expressão Síndrome de Dependência do Álcool (SDA). Essa
substituição aconteceu com uma tentativa de atribuir níveis
8. 14 15
diferenciados para o avanço da dependência ao álcool.
A síndrome de dependência é
definida como:
“Um conjunto de fenômenos fisiológicos ou comportamentais
e cognitivos, no qual o desejo do dependente para fazer uso
da droga passa a ser maior do que fazer qualquer outra
atividade, que vai ao simples cuidado com sua higiene
pessoal até garantir seu próprio sustento ou sua vida”.
Umadascaracterísticascentraisdasíndromedadependência
química é o enorme desejo de consumir álcool ou outras
drogas independentemente do que tenha que fazer para
conseguir usar novamente.
A Síndrome de Dependência Química se caracteriza por um
conjunto de sinais e sintomas. São eles:
Consciência subjetiva da compulsão - caracterizada pela
percepção do desejo ardente de beber e da perda do
controle de quando parar;
Saliência do comportamento de beber - o indivíduo
passa a atribuir grande importância para as ocasiões
de consumo de bebidas e fazer o planejamento de sua
rotinaem função dessas ocasiões;
Sintomas de abstinência - são sintomas desagradáveis
como tremores, enjoos, suor excessivo e alterações de
humor que podem aparecer quando o indivíduo para de
beber;
Estreitamento do repertório - repetição das situações
de consumo, que, embora cada vez mais frequentes, se
tornam menos variadas com o avanço da dependência;
Reinstalação da síndrome de dependência - após
um longo período de abstinência o antigo padrão de
consumos e instala rapidamente;
Aumento da ingestão de álcool para aliviar ou evitar os
sintomas de abstinência.
Esse novo conceito evolui à eliminação do termo alcoolismo
na Classificação Internacional das Doenças, passando a ser
substituído oficialmente por síndrome de dependência.
Esta classificação mais ampla inclui todas as substâncias
psicoativasemumamesmacategoria:Transtornosmentaisde
comportamento decorrentes do uso de substâncias,incluindo
classificações de:
Síndrome de dependência;
Uso nocivo;
Intoxicações agudas;
Quadros de abstinência;
Transtornos psicóticos associados.
Com o passar dos anos e com os avanços nas pesquisas
psicológicas e sociais, o conceito de saúde foi sendo
aprimorado. Mantendo vivos os debates em relação à
dependência química, foram valorizados outros aspectos
além dos puramente biológicos. Esse mais novo debate tem
características mais amplas e apresenta a integração das
áreas de medicina, psicologia e sociologia, trazendo novas
perspectivas para a compreensão da dependência química.
Dependência química –
Um problema biológico,
psicológico e social.
Parece haver um componente biológico herdado nos
transtornos de abuso a substâncias, mas este componente
isolado não explica a complexidade do fenômeno.
Fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais
desempenham um importante papel na causa, curso e
resultados da dependência química.
12 Passos
O Grupo Recanto tem como uma de suas metodologias
a filosofia apresentada pelas irmandades anônimas de
ajuda coletiva, que são instituições mundiais que tem por
objetivo auxiliar os dependentes químicos a solucionar seus
problemas com a dependência.
9. 16 17
Essas irmandades auxiliam os dependentes químicos por
meio do estudo e prática dos seus 12 passos (princípios)
básicos que, se seguidos corretamente, podem garantir ao
indivíduo uma força motivadora para manter-se longe do uso
de substâncias psicoativas e encontrarem uma nova maneira
de viver.
Esses 12 princípios têm uma natureza vivencial, levando o
dependente químico a conseguir se adequar e vivê-los de
forma saudável com o mundo externo, fazendo com que ele
possa ser novamente um membro participativo e ativo na
sociedade.
Os princípios podem ou não seguir uma ordem cronológica,
contudo, mostram aos dependentes químicos que através
da sua prática diária, os mesmos podem entrar em um
processo de recuperação, amadurecimento e crescimento.
Tais princípios têm natureza espiritual e médica, levando
o dependente a viver de maneira sadia com a vida em
sociedade.
Os 12 Passos também consistem em um conjunto de
princípios espirituais em sua natureza, que, se praticados
como um modo de vida pode expulsar a compulsão pela
droga e possibilitar que o indivíduo tenha uma vida íntegra,
feliz e útil.
O Sucesso do programa de recuperação deve-se ao fato de
que quem não está “usando” tem uma excepcional facilidade
de ajudar uma pessoa do grupo que ainda é dependente.
Quando um dependente em recuperação, vivenciando e
seguindo os princípios de 12 Passos, relata seus problemas
com a droga, descreve como está sua abstinência e o que
encontraram depois do fim do tratamento no Grupo Recanto,
fazendo com que o grupo consiga começar a ver esperança
e passam a experimentar também essa possibilidade.
Além do Aconselhamento em dependência química e de
Hazelden, os 12 Passos constituem uma importante técnica
de recuperação, pois cria uma ordem necessária, e o
dependente químico consegue mensurar seu progresso.
CONHEÇA QUAIS SÃO:
Passo 1:Admissão e Rendição
Neste passo inicial do programa de 12 Passos, é preciso que
o dependente admita claramente que perdeu totalmente o
controle sobre todas as áreas de sua vida:social,física,mental,
espiritual, e principalmente o controle sobre o uso de drogas.
O mais importante é que ele admita sua impotência diante
do uso de qualquer tipo de substância que altere o seu
comportamento e o seu humor, levando à total perda de
controle sobre suas ações.
O primeiro dos 12 Passos é fundamental para dar início
a todo o restante do processo de recuperação através do
estudo desse e dos demais princípios. Os pontos principais
desse passo são a sinceridade e a honestidade. Aceitar-se,
portanto, é a motivação primordial para dar início ao processo
de rendição e recuperação.
Passo 2:Acreditar em um
Poder Maior
Acreditar em um Poder Superior da forma que cada um
compreende, mostra que esse é um programa abertoa todas
as religiões, sendo um programa ecumênico, onde todas
as ideologias e todo tipo de fé é aceita e respeitada. É um
programa baseado na espiritualidade e não em umareligião
específica.
Nesse passo faz-se necessário manter as ideias abertas
para perceber o seu próprio caminho em direção à busca
de uma espiritualidade, pois é através dessa espiritualidade
que pode ser devolvida a sanidade do dependente químico.
10. 18 19
Toda forma de preconceito e indiferença a qualquer tipo de
fé são empecilhos que devem ser deixados para trás neste
passo.A partir do segundo passo é necessária uma mudança
no seu modo de pensar e de crer.
Passo 3: Entregar nossas
vontades e nossas vidas
Quando usávamos drogas nossas vidas estavam entregues
a um poder oposto ao Poder Superior, Éramos escravos
do poder destrutivo. Vivíamos no perigoso mundo da
autossuficiência, onde acreditávamos que não dependíamos
de ninguém, muito menos de um poder maior que nós. O
sucesso para realização desse passo é a boa vontade, para
depender e entregar sua vida e vontades destrutivas nas
mãos do Poder Superior.
A prática do terceiro passo deve ser diária e contínua
durante todo o dia; é preciso que o dependente insista neste
passo,que tenha a boa vontade de tentar e tentar novamente,
construindo assim uma relação íntima de dependência com
o seu poder superior.
Passo 4: Descobrindo falhas e
qualidades
A prática do quarto passo leva o residente a um esforço
profundo para descobrir suas falhas, sejam elas de caráter ou
comportamental, ou até mesmo os problemas vivenciados ao
longo dos anos que desencadearam dentro dele os impulsos
excessivos e desenfreados.
A coragem de fazer um inventário minucioso de si mesmo,
revelando-se de forma clara e sincera traz à luz uma nova
confiança. Neste inventário o dependente químico vai procurar
ser o mais minucioso possível em todos os aspectos de sua
vida. Ele deve fazer o inventario moral revisando toda a sua
história de vida, para que ele tome ciência de como suas
atitudes e comportamentos doentios interferiam em suas
relações pessoais, sociais, afetivas e em relação a sua própria
vida, buscando entender as causas que o levaram ao uso de
substâncias psicoativas e a perda de controle desse uso.
Passo 5:Admissão; perante
Deus, nós mesmos e perante
outro ser humano.
Segundo o programa dos 12 Passos, este é o passo para
desinflar o ego, ou seja, pra quebrar o orgulho, retirar todas
as máscaras. Ele é difícil, porém necessário para que o
dependente químico encontre a sobriedade e a paz de
espírito.
O quinto passo pede ao dependente químico que ele
compartilhe seus erros perante alguém, conversando a
respeitodo que lhe perturba. Mas nesse momento é muito
comum o indivíduo ser tomado por uma negação e assim não
querer aceitar e expor seus problemas a outro ser humano.
Por isso é tão importante se aceitar, manter a mente aberta,
depositar nossas vidas na mão de um Poder maior, fazer
um inventário moral minucioso e confessá-lo através de uma
conversa franca e sincera a Deus e a outro ser humano.
Passo 6: Permitir que Deus
remova nossos defeitos de
caráter
O passo seis faz-se extremamente necessário no decorrer
dessa trajetória para que haja um crescimento espiritual. Ele
é o ponto de partida no qual o dependente químico deixa
para trás o esforço para alcançar seus objetivos limitados
para se encaminhar em direção a vontade de Deus para sua
vida.
Estar preparado para deixar todos os seus defeitos de caráter
é de suma importância para o dependente químico assumir
princípios espirituais em suas atitudes.
11. 20 21
A decisão de mudar para melhor o seu comportamento e
suas atitudes perante a vida, trará ao dependente químico a
oportunidade de modificar sua personalidade e vida moral. É
importantíssimo para o dependente tomar essa decisão sem
demora, pois procrastinar pode ser muito perigoso. Por isso
a importância de que o indivíduo esteja realmente pronto,
preparado para essas mudanças. Lembrando que essas
decisões e mudanças são apenaso começo de uma tarefa
para a vida inteira.
Estamos na metade dos 12 Passos e o passo seis fala
exatamente a respeito da disposição do dependente químico
em mostrar-se inteiramente para Deus, a fim de que seus
defeitos de caráter sejam removidos. Mas, o Programa
ressalta que, para esse processo de mudança na forma de
se relacionar com Deus ocorra, deve-se fazer um trabalho
espiritual e moral diário e intenso.
Passo 7: Com humildade
pedimos a ele, que nos renove.
Seguindo os 12 Passos, o passo sete é pautado pela
humildade, pois sem ela nenhum dependente químico
poderia manter-se em recuperação. Ela é essencial para
poder reconhecer, aceitar, se entregar, pedir ajuda a um
poder superior pra remover seus defeitos de caráter. Sem ela
a felicidade se tornaria difícil de alcançar.
Neste passo, o pedido de ajuda é primordial a sobriedade,
juntamente com o esvaziamento do ego. Aceitar a ajuda,
através da humildade, dá ao dependente químico paz de
espírito; ele passa a descobrir que, colocando-a em prática,
a serenidade toma o lugar da depressão e da ansiedade.
Passo 8: Lista de reparações
Neste passo, preparar uma lista com todas as pessoas as
quais prejudicou, faz com que o dependente químico enxergue
a natureza de suas atitudes em relação aos outros. A palavra
chave deste passo é perdão.Pedir perdão aos outros e perdoar
si mesmo faz com que o indivíduo observe eperceba quem ele
feriu e de que forma e quais consequênciasque tais ferimentos
trouxeram para sua convivência social.
Aprender a viver na companhia do outro é uma aventura
fascinante, pois enquanto estava no uso de drogas esses
sentimentos estavam anestesiados. O foco principal na
dependência química era o uso de drogas e não a convivência
com as pessoas no geral, e isto é uma grande vitória do
programa de 12 Passos.
Passo 9: Fazer reparações
diretas as pessoas que
prejudicou.
No passo anterior o programa sugere ao dependente
químico fazer uma lista minuciosa das pessoas as quais ele
prejudicou no decorrer de sua dependência química ativa, e
esta lista servirá agora para futuras reparações.
No passo nove a reparação acontece quando o indivíduo se
dirigir a essas pessoas e pede perdão por todos os danos e
sofrimentos causados. Vale salientar que essas reparações
só podem ser feitas quando não forem colocar em risco
nemo dependente químico que as causou, as pessoas que
sofreram o dano, e nem outros.
O Programa de 12 Passos diz que é preciso se valer do bom
senso, no sentido de escolher o melhor momento para fazer
as reparações, assim como coragem e prudência. Deve-
se fazer tudo para que a reparação do dano seja eficaz e
oportuna.
Ter a consciência que deve arcar com as consequências do
seu passado e de que também pode se responsabilizar pelo
bem estar dos outros é o espírito do passo nove.
13. 24 25
Passo 10: Devemos nos
inventariar a cada dia.
Este passo fala que todo dependente químico deve fazer
diariamente uma auto análise da sua personalidade e das
emoções, ou seja, essa auto investigação, deverá torna-se
um hábito regular na vida do residente.
O depende químico precisa se auto avaliar todos os dias
para perguntar para si mesmo: Que sentimento eu tive
durante estedia? Por quais motivos esses sentimentos
foram gerados? Que tipo de atitude eu tive diante desses
sentimentos?
O décimo passo diz respeito à análise dos fatos que ocorreram
nas últimas vinte e quatro horas, nos últimos meses ou no
último ano.
Contudo, em virtude de seu passado, não pode o dependente
químico se dar ao luxo de guardar tais sentimentos pra si
próprios, bem é sabido que os dependentes não controlam
da melhor maneira suas emoções, e, foi justamente a falta
de controle dessas emoções, que muitas vezes os levaram a
dependência química ativa.
No programa de 12 Passos, este décimo passo ajuda a
manter o autocontrole sobre os seus sentimentos e emoções.
Passo 11: Através da prece
e meditações procuramos
melhorar nosso contato com o
nosso Poder Superior.
Os principais meios de contato consciente com Deus são
através da oração e da meditação.A relação entre elas torna-
se uma base indestrutível para toda vida do dependente
químico.
A meditação é uma aventura individual sem limites. O
primeiro resultado é o equilíbrio emocional. Já a oração, faz
com que o indivíduo mantenha um contato permanente com
o Deus da sua compreensão, fazendo pedidos diários para
compreender a vontade de Deus e para pô-la em prática.
Neste décimo primeiro passo, vê-se que, tanto a oração
quanto à meditação, transmitem ao indivíduo a sensação
de fazer parte de algo, dando-lhe a certeza de que o amor
de Deus recai sobre sua vida. É impossível não afirmar que
tais práticas são extremamente positivas aos dependentes
químicos.
Passo 12:Transmitir
mensagem dos princípios
espirituais e praticar estes
princípios em todas as áreas
da sua vida.
O prazer de viver sem entorpecer sua mente, nem destruir
suas relações sociais e afetivas através do uso abusivo de
substâncias, define o último dos 12 Passos. Levar esta
mensagem a outros adictos que estão sofrendo tem que
sero pensamento do dependente químico.
Quando se chega a esse passo, percebe-se que o
dependente químico que passou pelas fases anteriores
teve seu despertar espiritual, acreditando em determinadas
coisas e fazendo outras que antes nunca pensara e nem
se dispusera a fazer. Os 12 Passos é o caminho para isso,
mas, em vitória inicial. Acreditou, tolerou, dedicou-se e fez,
quando antes acreditava não ser capaz de nada disso.
Ao chegarmos ao final dos 12 passos propostos pelo
programa, aquele que se dispôs a fazê-los, verá em um
recém-chegado as mesmas atitudes e a mesma resistência
que então ele próprio tivera no início do tratamento.
Hazelden
Hazelden é um modelo que trata dos comportamentos e
sentimentos que levam o dependente químico ao uso de
14. 26 27
drogas. Através da terapia racional emotiva o residente
terá ferramentaspara lidar com tais sentimentos e
comportamentos que os motivava a usar novamente.
Infelizmente, quando paramos de usar substâncias
químicas, não resolvemos o problema. Durante toda nossa
vida e dependência química ativa, temos ou alimentamos
sentimentos e atitudes que nos mantêm presos a nossa
doença e comportamentos doentios.
Chegou a hora do dependente químico admitir que a droga
não é o único problema,e sim a perda de domínio sobre a vida
e emoções, pois, em recuperação quando essas emoções e
comportamentos vêm à tona é preciso ser tratados!
O modelo Hazelden trata previamente os motivos de uma
possível recaída.
Hazelden – Tratamento de
sentimentos e comportamentos
específicos que o Dependente
Químico precisa tratar:
Vergonha
Para o modelo Hazelden, a vergonha é um problema emo-
cional e a usamos muitas vezes para disfarçar a dor. Assim,
nossas emoções doentias se tornam um problema quando
nos impedem de alcançar alguns dos nossos objetivos mais
básicos.
A vergonha é fomentada quando as necessidades emocionais
de uma criança não são satisfeitas, quando essa criança não
é ajudada a crescer como uma pessoa válida e livre para
explorar as suas capacidades, para testar os seus limites e
para se aceitar emocionalmente.
Quando um sentimento como a vergonha nos impede de
realizarmos estas tarefas básicas, então temos um problema
emocional.
Este tratamento nos ajuda a entender que podemos mudar
os sentimentos da vergonha. Assim como a vergonha se
aprende, também pode ser “desaprendida” e substituída
por atitudes, comportamentos e sentimentos mais
positivos. Podemos reduzir os sentimentos da vergonha
compreendendo as suas raízes, reconhecendo que a temos
e alterando conscientemente os todos os comportamentos
relacionados com ela.
Estar em recuperação também significa participar ativamente
do mundo: trabalhando, estudando, fazendo uma atividade
física, enfim, tendo prazer em viver o dia-a-dia e, é claro, se
mantendo abstinente para realizar estas atividades.
Raiva
A raiva é um sentimento humano que experimentamos
de vez em quando. Isso significa dizer que todos nós,
independentemente de sermos adictos ou não, ficamos
com raiva. Mas o principal problema com esse sentimento
na vida do dependente químico está nas consequências que
ele pode causar. Para alguns, as consequências dolorosas
ou prejudiciais da raiva resultam em atingirmos o outro, em
atingirmos o que ou quem nos causa à raiva.
Exemplos extremos dessas consequências são as formas de
violência doméstica e de brutalidade contra as crianças. Já
em outros casos, alguns de nós podemos negar ou sentir
dificuldade em aceitar e demonstrar abertamente quaisquer
sentimentos de raiva contra os outros.
Dessa forma, escondendo a raiva para si mesmo, guardá-
la ou engoli-la, pode gerar fortes danos emocionais no
indivíduo. Exige tempo e prática aprender um processo de
controle dos sentimentos de raiva — Precisamos aprender
a dominar os nossos velhos comportamentos irados. Os
nossos sentimentos a respeito das coisas modificam-se
à medida quea nossa maneira de pensar a respeito delas
também se modifica. Éum dos sentimentos mais comuns e
mais tratados dentro do modelo Hazelden.
Negação
A negação é um mecanismo embutido em nós que funciona
15. 28 29
como um dispositivo que separa as informações reais, afim
de evitar uma sobre carga de emoções que acreditamos
serem devastadoras.
Os psicólogos que estudam sobre o assunto afirmam que a
negação é uma defesa consciente ou inconsciente que todas
as pessoas usam para evitar, reduzir, ou prevenir a ansiedade
quando somos ameaçados. Assim, as pessoas podem negar
mudanças, sentimentos, pensamentos, acontecimentos,
situações, problemas e até a própria doença.
Dentro do modelo de Hazelden, atravessar este processo
de negação é também importante para a nossa saúde. Não
existem regras absolutas para lidar com a negação ou com
as pessoas, cada situação e cada pessoa são únicas. Mas
você pode pensar, pode ver como lidar com cada uma das
situações que está negando e que já lhe trás prejuízos reais
a você ou a quem você ama.
Saber se Comunicar
Quando estamos verdadeiramente falando e ouvindo uns aos
outros, as portas se abrem, permitindo que cada um entre no
mundo do outro. A boa comunicação é uma maneira eficaz
de se manter um bom relacionamento.
Aprender a dizer aos outros como está se sentindo e em
que está pensando é muito importante para o dependente
que está em recuperação. Mas é igualmente importante para
esse dependente aprender como ouvir de forma respeitosa os
sentimentos e pensamentos dos outros. A boa comunicação
entre os grupos sociais e familiares com os residentes não
vão especificamente manter os problemas afastados, mas
dar a oportunidadede resolver os conflitos de forma mais
saudável.
A comunicação saudável nos dá condições de expressar as
nossas necessidades e vontades junto aos outros. À medida
que o dependente vai aprendendo, novas e mais respeitosas
maneiras de se comunicar são necessárias,ao mesmo tempo
em que ele terá que desaprender as maneiras antigas.
Através do Modelo Hazelden, sabemos que a recuperação
não se dá através de um único passo, da mesma forma a
comunicação saudável. Não nos transformamos em bons
comunicadores de um dia para outro. A boa comunicação,
tal como a recuperação no programa, exige atenção diária.
Pensamento destrutivo
Ser dependente não significa não ter inteligência. Somos
aquilo que pensamos. As atitudes de um indivíduo podem
levá-lo ao uso de drogas, mas também são elas que o tiram
da dependência.
É comum que os dependentes possuam um pensamento
destrutivo – sendo negativos, culpando-se e se mantendo
sempre insatisfeito. Este tipo de pensamento é que leva à
recaídas. Cada um deve se auto avaliar, verificando se possui
atitudes positivas ou pensamentos destrutivos.
A sobriedade vem com pensamentos e racionais, afastando
todo e qualquer pensamento negativo. Por ser uma tarefa
constante, a terapia é apenas o começo da sobriedade.
Podem existir pessoas sóbrias com pensamentos destrutivos,
mas em tratamento.Portanto,o trabalho de se manter sóbrio,
nutrindo pensamentos positivos, é eterno.
Tomar Decisões
As decisões que tomamos podem ter o poder de mudar as
nossas vidas. A liberdade de poder escolher é uma ideia
bastante entusiasmante. Significa conseguir decidir.
Muitas dessas decisões não são realmente importantes, são
simples, como entre um título de filme ou outro, ou entre
um sabor de sorvete e outro. Já outras decisões são menos
evidentes. Será que você devia voltar para a escola para
adquirir mais instrução? Deixar o lugar onde vive há tanto
tempo? Casar-se ou divorciar-se? Muitas vezes, chega-se
a uma encruzilhada na estrada e tem de se desistir de uma
coisa para se alcançar outra melhor.
Não existe nada de espetacular ou de misterioso na tomada
de decisões. O indivíduo passa a vida toda tomando decisões
16. 30 31
que podem afetar sua vida de forma positiva ou negativa. Pra
acontecer uma verdadeira mudança é preciso haver um efetivo
Plano de Ação e o modelo Hazelden nos auxilia bastante nisso.
O ato ou a forma de fazer as coisas mudarem leva certo
tempo e consiste em muitas pequenas decisões. Você tem o
poder de melhorar. Ao fazer escolhas melhores na sua vida,
o dependente químico irá descobrir dentro de si um leque de
coisas boas como: energias escondidas, talentos, interesses e
criatividade.
Acabar com ressentimento
O ressentimento é raiva que se solidifica. Quando se passapor
uma situação em que houve sentimento de constrangimento,dor
ou humilhação cria-se uma raiva a respeito daquele fato e da
pessoa que o causou; esta raiva não passae permanece dentro
doindivíduo.Éumaraivafriaeconstante.Assiméoressentimento
– deixa as pessoas solitárias e amargas.
Os ressentimentos são gradativos – crescem por fases. Começa
pela raiva original, transformando-se em firmes ressentimentos
e, enfim, mudam para o ódio e a vingança. A raiva original
surge em virtude de um fato que foi desagradável a alguém;
é uma situação em que a pessoa se sente triste, magoada ou
mesmo traída. Cada pessoa reage de maneira diferente: umas
abstraem e relevam,outras passama nutrir sentimentos de raiva.
Estes sentimentos, porém, se fossem externados e discutidos,
sumiriam, mas o indivíduo prefere ficar calado.
Os ressentimentos firmes são as raivas que não foram bem
processadas; a raiva permaneceu e, com o passar do tempo,
sedimentou-se em ressentimento. As pessoas ressentidas
tendem a ser mais fechadas, estando sempre na defensiva. Às
vezes, um pedido de desculpas em virtude daquela situação
inicial não mais funciona nestes casos.
Enfim, chega-se ao ódio e ao desejo de vingança. A pessoa
quer, então, que os outros sofram o que ela sofreu – o que se
chama de “devolver uma ferida por outra”. Esta é uma sensação
que concede uma falsa sensação de superioridade. Superar os
ressentimentos pode ser feito de maneira simples, bastando
escrever, num papel o que ocorreu, a pessoa que o fez e os
sentimentos que foram gerados. Depois, é preciso avaliar a
situação descrita e verificar se há um foco excessivo no fato que
pode ser deixado para trás.
Outra maneira de se livrar dos ressentimentos é enumerá-los
e, em seguida, perdoar. O perdão é, acima de tudo, um ato de
bondade para consigo mesmo. O ato de perdoar é gradual e
não instantâneo; esquece-se o passado e se vive o presente.
Lembre-se que perdoar é uma escolha e não obrigação. Para
ter valor, o perdão tem de ser sincero. Às vezes, é preciso que
se mudem os atos e as ações para que, então, modifique-se o
pensamento. O perdão, quando for difícil, pode ser mental.Você
mentaliza a pessoa e lhe diz sinceramente que a perdoa.
Poderá o indivíduo elencar os ganhos que obtém com os
ressentimentos; por outro lado, poderá, também, elencar o que
se perde com os ressentimentos.O ato de perdoar nem sempre
leva à reconciliação. Reconciliar significa ser novamente amigo
daquela pessoa. Isso pode ocorrer ou não. O essencial é que se
perdoe, extinguindo os ressentimentos.
Perdoar as pessoas deve ser seguido pelo ato de perdoar a si
mesmo. Acabar com os ressentimentos se direciona a quem
se nutria raiva e a si próprio. O indivíduo pode enumerar os
comportamentos pelos quais sente que precisa ser perdoado.
Deve contrapor essa lista com outra que enumere suas virtudes.
Assim, perceberá que, além dos equívocos, possuem também
características positivas e que erra tal qual outras pessoas.
Evitar ressentimentos é não exagerar na interpretação dos fatos,
não viver de acontecimentos passados e manter a serenidade
independentemente de acontecimentos externos. Superar
ressentimentos é perdoar, reparar erros, rezar por sie pelas
pessoas e, ainda, avaliar o lado positivo de cada ser humano,
deixando de lado as críticas.
17. 32 33
Alcoolismo Tratamento –
Olhando o alcool de forma mais
específica
Um dependente de álcool num primeiro momento é mais
resistente para aceitar o tratamento e para manter alguma
mudançamais regular.
Estas dificuldades podem tanto sinalizar o reflexo de uma
cronicidade, que se dá por um longo período de consumo da
bebida, até o surgimento de uma crise, bem como, por que, na
maioria das vezes, o dependente de álcool já é um adulto, com
uma personalidade constituída em alguns falsos julgamentos
a respeito de si e do mundo. Por isto, o paciente fica menos
receptivo aos apontamentos que denunciam a crise presente no
seu hábito de beber.
Alcoolismo – PLANODETRABALHO
e a aceitação do Tratamento
Desta forma você precisa se precaver e fazer algumas
perguntas sobre um possível tratamento:
A avaliação e diagnóstico do cliente são apurados?
Como é realizada a desintoxicação do dependente de
álcool?
As comorbidades são avaliadas e tratadas?
Os profissionais realizam de fato as terapias psicológicas
como elas são preconizadas?
Qual a abordagem psicológica indicada no tratamento
deusuários e dependentes de álcool?
Vamos então falar do plano de trabalho do Centro de
Recuperação Grupo Recanto. Primeiramente todos os
nossos esforços são para reabilitar de forma biopsicossocial
a pessoa necessitada.
A Aliança terapêutica: o tratamento deve causar, num
primeiro impacto sobre o dependente de álcool, sentimentos
de sensibilidade, sinceridade e empatia. O ambiente deve
ser cuidadosamente favorável à auto avaliação do paciente.
É importante escutá-lo, demonstrar interesse pelo que diz
e não o criticar. Se o contato inicial não for agradável, o
processo de tratamento pode ser prejudicado.
Aavaliaçãodiagnósticaéfeitaporumaequipemultidisciplinar
– temos 07 anamneses (pesquisa para levantamento da
história clínica) feitas por profissionais diferentes, são
eles: médico clínico, psiquiatria, psicólogo, educador físico,
enfermeiro,técnico de referência e a anamnese familiar.
Alcoolismo – História clínica
Todo este trabalho serve para levantar a história clínica. É
preciso identificar alguns aspectos da vida do dependente,
como:compreender o contexto dentro do qual a dependência
se desenvolveu; identificar os fatores que favoreceram a
instalação da dependência, os que mantêm a dependência
e os que favorecem a abstinência; e reunir condições
para estabelecer a hipótese diagnóstica. Deve-se saber
como era o residente antes de usar o álcool. Os elementos
familiares também devem ser pesquisados e conhecidos.
Conhecer sua história pregressa ajuda a entender as forças
e vulnerabilidades do dependente.
Para tanto a desintoxicação do alcoólico (tratamento da
SAA) merece uma maior atenção biológica nos primeiros
momentos de tratamento, onde a atenção do médico clínico
e psiquiatra são fundamentais, tanto para o tratamento de
seus distúrbios físicos, alucinações ecomorbidades, até a
dificuldade de autocrítica.
O Grupo Recanto está preparado para atender crises de
abstinência leves e moderadas. Nos casos das crises graves,
o residente terá que ser assistido por um período determinado
pela equipe médica em um hospital especializado. As
comorbidades leves e moderadas, onde o residente tem
condições de tratar seus comportamentos doentios, podem
ser tratados pelo nosso psiquiatra, através de medicação
oral, uma vez que não utilizamos medicação injetável.
Lembrando que a instituição é um centro de recuperação, e
não um hospital psiquiátrico.
O acompanhamento psicológico segue a linha da abordagem
humanista voltada para a integridade do ser, considerando
18. 34 35
seus diversos aspectos (mental, emocional, comportamental
e espiritual) e a abordagem social e comportamental é
baseada na filosofia de doze passos que é reconhecida como
uma das mais eficazes, buscando não apenas tratar a droga,
mas descobrir a causa do uso e os comportamentos a ele
associados, proporcionando a ajuda mútua entre pares e a
ressocialização no término do tratamento, sendo indicada a
continuidade do tratamento em grupos de mútua ajuda como
irmandades anônimas.
Metodologia e Atividades Diárias no Grupo
Recanto
Segue abaixo todas as atividades desenvolvidas de segunda
a sábado no Centro de Recuperação Grupo Recanto – O
residente terá seus dias totalmente ocupados com as
seguintes atividades terapêuticas:
Reunião de Espiritualidade: Experiência ecumênica,através
de leituras e cantos escolhidos pelos próprios residentes;
Reuniões de Doze passos: Sob a coordenação dos
Técnicos de Referência, faz-se o estudo dos 12 Passos
com o auxílio de um roteiro.Mensalmente,cada residente
passa pela avaliação dos cinco primeiros passos. Como
o programa de recuperação baseia-se na filosofiados 12
Passos, também se orienta para que o residente vivencie
os demais passos na prática do apadrinhamento, no
grupo de apoio e demais atividades de sua vida;
Reuniões Temáticas: São formuladas reuniões sobre a
dependência química. O técnico de referência explica
também sobre as fases da doença, antes do primeiro
uso até o último estágio da degradação física, mental e
espiritual;
Laborterapia: Atividade definida na Resolução da ANVISA
trata-se das atividades de manutenção da limpeza do
espaço comum, tais como limpeza dos quartos e da
cozinha,além dos cuidados com objetos pessoais;
O desenvolvimento destas atividades é rotativo
e proporcionaaos residentes a valorização de
seu empenho, desenvolve-se a autoestima pelo
reconhecimento do próprio potencial e as habilidades
para executar as tarefas e a disciplina para a execução;
Estas atividades também auxiliam na desintoxicação e
proporcionam a inserção de novos valores através da
concretizaçãodeseutrabalho.Osmonitoresacompanham
o desenvolvimento e as atividades são distribuídas de
acordo com a capacidade física de cada residente.
Atendimento psicológico e terapia grupal: sob a
responsabilidade do profissional de psicologia, trabalha-
se o aspecto mental da doença, buscando resgate da
autoestima, o autoconhecimento e a compreensão das
angústias e sentimentos;
Atendimentos individuais: são realizados pelo
médico clínico, psiquiatra, psicólogos e técnicos de
referência. Tem o objetivo de avaliar o estado cognitivo
e comportamental, bem como aprofundar o tratamento
e reconhecimento de emoções que levaram ao uso de
substâncias;
Reunião de Sentimentos: exercício para a vivência
da recuperação nos grupos de apoio, onde são
partilhados sentimentos, emoções, dificuldades e outros,
acompanhados pelos monitores;
Educação Física esportiva: São realizadas aulas de
educação física duas vezes por semana, respeitando-
se a faixa etária e condicionamento físico. Nestas,
coordenadas por professor de educação física,
desenvolvem-se atividades de caminhada,hidroginástica,
futebol, vôlei e outros;
Equipe de enfermagem: Auxiliam a equipe na
observação dos internos e na entrega das medicações
prescritas pelos médicos da instituição,além de cuidados
gerais de enfermagem;
Grupo de Apadrinhamento: Grupos onde os próprios
residentes mais antigos e em fase de ressocialização,
promovem o estudo e o apadrinhamento de novos
residentes no programa de 12 passos;
Arte e Cultura: Todos os residentes são envolvidos com
cantos e louvores que trabalham a espiritualidade e o
desenvolvimento cultural, bem como os residentes fazem
19. 36 37
uma encenação teatral organizada juntamente com os
coordenadores, e apresentam nas reuniões de família
(Visitas Coletivas);
GrupodeRessocialização:Operíododeressocialização
inicia-se após a avaliação do quinto passo, quando o
residente apresenta aos companheiros do grupo o seu
histórico, como as decepções, sentimentos e conquistas.
Ressocialização
Consiste em retornar ao seu núcleo familiar para exercitar
as ferramentas terapêuticas da recuperação, principalmente
manter-se em abstinência, evitar coisas, pessoas e lugares
de ativa, ingressar nos grupos de apoio, partilhar as
dificuldades.
Trata-se de momento fundamental no processo de
recuperação. Inicia-se a construção de uma nova maneira
de viver, em especial, de relacionamento com familiares,
por isso, anterior e posterior à saída do residente, à equipe
técnica realiza atendimento grupal, informando sobre os
objetivos e processo da ressocialização e percebendo a
evolução do processo.
Tratamento da Maconha
Os estudos demonstram que a maconha é a droga ilícita
mais traficada e mais produzida, todavia, não é ela quem
gera maior demanda para tratamento, que, por sua vez, é
feito de maneira diferenciada, havendo promoção da reflexão
do paciente.
Como o Grupo Recanto organiza seus
serviços para este tratamento?
Nosso processo de recuperação engloba abordagens
psicossociais e farmacológicas, como também tratamento
integrado às comorbidades, que é o uso e abuso de
substâncias nocivas e, também, a existência de uma
morbidade psiquiátrica.
A desintoxicação é apenas o passo inicial para o tratamento
da maconha, lembrando que não estamos tratando de uma
patologia, mas de um ser humano. Precisamos sempre
enfrentar os problemas psicológicos e sociais, estimular a
conscientização sobre o problema, promover a abstinência
e acolher o paciente durante todo o período de tratamento.
O tratamento da maconha se baseia nos fatores psicológicos
e também biológicos. Utilizamos entrevistas motivacionais,
prevenção de recaída e treinamento de habilidades. Há
também atendimentos individuais ou em grupo.
No período final do tratamento da maconha temos a
ressocialização, porém o tratamento pode se prolongar com
o que chamamos de pós-tratamento.
Como é a avaliação clínica?
A avaliação do paciente é a primeira etapa do tratamento.
Ela conta com três objetivos: ganhar a empatia do residente,
coletar informações do paciente e definir um diagnóstico
afim de planejar o tratamento. São feitas as anamneses do
paciente, objetivando ter relatos de sua história pessoal, a
história do uso de substâncias e o histórico familiar para ao
final fazer a formulação do diagnóstico.
Alguns questionamentos fazem os pacientes refletirem.
Alguns deles são: a escala de problemas na sua vida depois
da maconha; razões para parar; escala de treinamento de
habilidades; qual o nível de “fissura” em relação à maconha;
questionário de confiança situacional; escala de abstinência
da maconha; escala de expectativas com relação à maconha;
escala de autoestima; entre outros.
Comorbidades psiquiátricas
Você sabia que 8% dos casos de esquizofrenia
poderiam ser prevenidos pela eliminação do consumo
de maconha da população?
A esquizofrenia decorrente do uso da maconha é chamada
de psicose funcional, onde não há lesão cerebral, diferente
esquizofrenia orgânica. Indivíduos que utilizam a droga têm
maior propensão à esquizofrenia mais precocemente.
20. 38 39
A maconha é a substância mais consumida,seja por usuários
com ou sem quadros psicóticos. Por outro lado, indivíduos
deprimidos estão mais sujeitos ao uso da maconha. Isso leva
ao aumento da ansiedade, piorada depressão e tentativas de
suicídio. De maneira reflexa, indivíduos que usaram maconha
têm maior suscetibilidade à depressão.
O uso da maconha gera comorbidades, a exemplos da
hiperatividade; do transtorno de conduta; do déficit de
atenção; e das crises de ansiedade. O melhor meio para
evitar comorbidades é a abstinência. O uso da maconha
pode gerar quadros crônicos e quadros psiquiátricos agudos.
A possibilidade de seu surgimento aumenta conforme o uso.
É o uso da maconha, inclusive, que leva, muitas vezes, o
indivíduo a ter recaídas em outras drogas que já estava
abstinente.
Tratamento do crack
No tratamento do crack é preciso ter em mente que há
solução, como mostram os estudos.
Avaliação clínica de usuários e dependentes
O Grupo Recanto sabe que o uso do crack cresceu largamente
ao longo dos últimos anos e que é preciso tomar muito cuidado,
pois é uma das drogas mais prejudiciais e de fácil acesso,
ganhando espaço rapidamente entre os dependentes. Seu
crescimento foi tão rápido nos últimos anos que se formou um
quadro social preocupante na saúde pública, como podemos
observar nos noticiários diariamente.
Os efeitos e o tratamento do crack variam de acordo com a dose
e as características individuais do usuário.Sendo esta droga uma
variação da cocaína, o que mais ocorre é que o usuário muda a
via de administração, onde o ele pode ir da cocaína inalada, para
a injetada, até a sua forma fumada, que é o crack.
A maneira fumada tem um alto grau de absorção, que se inicia
com 15 segundos e seu efeito dura apenas de 3 a 5 minutos.Por
isto que a necessidade de repetir a dose é enorme.
A sintomatologia do uso do crack se divide em:
Intoxicação: alterações comportamentais ou psicológicas,
sudorese, calafrios, euforia, hipervigilância, convulsões,
náusea, coma, ansiedade, taquicardia, vômitos, convulsões,
etc;
Comportamental: não cumprimento de obrigações,uso da
substância em momentos de risco, problemas legais e uso
continuado;
Abstinência: humor oscilante, fadiga, sonhos vívidos,
insônia, hipersônia, hiperfagia, retardo ou agitação;
Dependência:esforçomalsucedidonosentidodereduzirou
parar, aparição de sintomas de abstinência quando cessado
o uso, frequência no uso, tempo longo gasto na obtenção da
droga e grande tolerância à substância.
Nossa avaliação clínica sempre leva em conta,além da pesquisa
detalhada do histórico clínico do indivíduo, as informações
provenientes de prontuários, familiares e amigos. Também são
relevantes informações como: a via de administração; a duração
dos efeitos; e o uso de outras substâncias. Exames laboratoriais
também têm grande importância, assim como exames físicos.
Diferentes pessoas, diferentes tratamentos.
Os dependentes químicos que se internam no Grupo
Recanto são muito diferentes entre si, assim, ainda que haja
tratamentos que beneficiam alguns indivíduos, tomamos
o cuidado para não criar uma regra geral. De toda forma,
não se deve descartar o tratamento farmacológico, o qual
objetiva tratar as comorbidades, atuando na síndrome de
abstinência e prevenindo recaídas.
O uso da cocaína e do crack pode levar à euforia,
desregulação hedônica (deprimência, irritação e paranoia),
perda de controle e craving (fissura). É justamente o craving,
21. 40 41
caracterizado pelo desejo intenso, que determina a recaída.
Além deste fator, outro ponto que influência as recaídas é o
estresse.
O craving é uma força propulsora direcionada e urgente no
sentido do uso da droga. A fissura, porém, torna-se menos
frequenteaolongodotempo.Diz-sequesãoasoportunidades
do uso da droga que se transformam no pontapé para o
estímulo do craving. E isso deve ser contemplado também
no tratamento do crack.
Comorbidades psiquiátricas de usuários e
dependentes de crack
Os avanços nas pesquisas sobre dependência química
demostram que não se deve analisar tão somente o fato, como
desvio de caráter.A dependência química vai além desta faceta,
encontrando grande fundamento para a sua existência nas
análises psicológicas em geral.
Porém,ambas as doenças (morbidades + dependência química)
devemcoexistirseparadamenteparaconstituirumacomorbidade.
No Grupo Recanto entendemos que estes tratamentos devem
ser realizados de forma conjunta. O tratamento do crack e o
tratamento psiquiátrico devem ser resolvidos paralelamente, ou
o paciente não melhora.
Os transtornos mentais mais comuns são a depressão, a
esquizofrenia e a bipolaridade. Estas, inclusive, são as que
mais geram consumo da droga neste panorama. Tais doenças
existem independentemente do uso das drogas. Além delas,
outras patologias comuns neste âmbito são: os transtornos de
ansiedade; as distimias; o déficit de atenção; e os transtornos
de personalidade. Estas últimas são mais difíceis de serem
detectadas.
Não se devem confundir efeitos da droga com comorbidades.
Os efeitos estão ligados ao uso, são características já relatadas,
ou mesmo previstas.As comorbidades pressupõem uma doença
mental independe do uso das drogas. O seu conceito serve para
separar o que faz parte da dependência química e o que está
presente no indivíduo mesmo sem a dependência. Isto ajuda,
também, a melhor aplicar o tratamento do crack em cada caso.
Tratamento da Cocaína
O Grupo Recanto pratica a recuperação dos dependentes
de cocaína, observando não apenas as nuances do uso da
substância, mas também os comportamentos individuais de
cada paciente. Curiosamente, a cocaína é a droga onde há a
maior busca por tratamento.
Novas versões
Como já falado anteriormente, o crack surgiu como uma
alternativa ao uso da cocaína, sendo uma versão “fumada”,
e por isso, bem mais simples de usar, pois não é injetada
ou aspirada. Precisamos entender que isso é um mercado e
como mercado possui custos e por causa dos altos custos
da cocaína, o crack surgiu. O crack é, portanto, uma versão
barata da cocaína.
Para o tratamento da cocaína, em ambos os casos, há a
diferenciação entre o querer e o gostar. Geralmente se inicia
o uso porque se gosta, depois porque se quer, até chegar ao
ponto de utilizá-la porque se precisa. Assim, muitos acabam
perdendoo controle e acabam se deixando dominar pela
droga, o que acaba causando a dependência. Isto ocorre
porque estas drogas causam o que chamamos de “déficit
cognitivo”, que é a diminuição do discernimento do usuário.
As pesquisas até hoje nunca demonstraram a existência
de medicamentos eficazes no tratamento da cocaína
e do crack. No Grupo Recanto, quando o indivíduo é
diagnosticado e caracterizado como usuário desta droga,
aliamos o fator psicológico ecompomos um quadro positivo
para o tratamento da cocaína. Entendemos que tratamos de
indivíduos e dos seus comportamentos que o levaram ao
consumo da droga.
22. 42 43
A aceitação do tratamento
Muitos pacientes têm grande dificuldade em aceitar o
tratamento, por isto o fator psicológico e as intervenções
psicoterápicas serem de extrema relevância. Dentre os vários
aspectos para o tratamento da cocaína, os principais são:
Estrutura do tratamento – horário, regras, contratos;
Aliança terapêutica – trabalho multidisciplinar,
interação entre as várias equipes;
Fator grupal – troca de experiências e interação entre
dependentes;
Fator psicoeducacional – ensinamos ao usuário a
sepoliciar, a se notar, a entender que ele pode entrar em
recuperação.
Um dos grandes entraves à procura do tratamento da
cocaína é o estigma que sofrem estes tipos de dependentes,
sendo este um fator a ser levado em conta e trabalhado
no tratamento. Nossos profissionais recebem treinamento
técnico e emocional,onde alguns deles,inclusive ex-usuários
em recuperação há anos, servem de exemplo e motivação
para os que estão chegando agora nesta luta interna e
externa contra as drogas.
O Grupo Recanto organiza seus serviços para tratamento da
cocaína, usando várias abordagens de tratamento, sendo as
mais relevantes e eficazes:
Terapias cognitivas comportamentais que incluem
treinamento de habilidades; prevenção de recaídas;
apoio comunitário; e encorajamento de comportamentos
positivos por meio de “premiações”;
Psicoterapias de apoio e aconselhamento, com
abordagens humanistas e entrevista motivacional;
Aconselhamento em Dependência Química;
Os 12 Passos;
Intervenções de crise.
Mas isso não é uma regra válida para todo e qualquer
dependente que tratamos. Sabemos que cada indivíduo é
diferente em relação aos motivos que o levaram ao consumo.
Assim, ainda que existam estas modalidadesde tratamento,
os usuários de cocaína e crack demandam um serviço
diferenciado, atendendo e suprindo suas necessidades
específicas a fim de haver maior efetividade no processo de
recuperação, como:
Disponibilizar atendimento médico ambulatorial fácil e
rápido em momentos de crise;
Dobrar os cuidados na triagem de pacientes (verificação
de uso primário e secundário);
Utilizar linguagem adequada a estes usuários;
Apresentar e tornar o tratamento da cocaína atraente,
através do conhecimento profundo desta doença: a
dependência química;
Atualizar os usuários sobre o conhecimento acerca
dessas drogas, numa abordagem humanista, com
empatia e compreensão;
Manter nosso ambiente de tratamento calmo e acolhedor;
Criar vínculos entre paciente e terapeuta;
Acompanhar o paciente mesmo quando já estiver em
abstinência (prevenção de recaída);
Tratar do uso secundário de substâncias nocivas
(álcool,maconha, tabaco) e buscar a abstinência
completa;
Efetuar intervenção familiar;
Atuar em programas de ressocialização;
Abordagem sobre saúde sexual.
Afinal,cuidados extras sempre são bons!
Tratamento Involuntário
O tratamento involuntário é a garantia de vida para quem
perdeu a razão por causa do uso de substâncias psicoativas.
Este tema vem sendo gradativamente discutido na
comunidade médica, devido a crescente epidemia de Crack
e a dificuldade deste paciente pedir ajuda (apenas 8% dos
usuários de Crack procuram tratamento). Desta forma, é
23. 44 45
válido analisar o ato da internação involuntária, a fim de
esclarecer alguns pontos através dessa técnica médica
necessária.
Procedimento Legais
O tratamento involuntário é realizado sem o consentimento
do paciente. Geralmente são pessoas que não aceitam se
afastar do uso compulsivo, tornando necessária essa atitude
tomada por membros da família do dependente – químico ou
de álcool – com intenção de conscientizá-lo da necessidade
de desintoxicação e tratamento.
É relevante ressaltar que desde a implementação da lei
10.216/01, um novo ator faz parte do processo, que é o
Ministério Público. O mesmo é responsável por controlar
esse tratamento involuntário.
O tratamento involuntário torna-se necessário para qualquer
indivíduo com problemas mentais que apresente risco de vida
para si e para a sociedade, ou que perderam a capacidade
de discernimento e de juízo de valor pelo uso compulsivo de
drogas. Esta avaliação é realizada por um médico.
Causas
O dependente químico perdeu a capacidade de discernimento
e de juízo de valor por que a droga impede o usuário de ter um
raciocínio claro e uma compreensão lúcida de sua situação.Assim,
normalmente,ele não aceita afastar-se do seu uso compulsivo.
Ousoincontroláveldedrogaslevaodependenteafazercoisasantes
condenáveis, como vender coisas pessoais, cometer furtos, roubos
eoutroscrimes,independentementedaclassesocialqueeleocupe.
Por estes motivos a Internação Involuntária é uma atitude da família
(um parente de primeiro grau) do dependente químico que precisa
procurar um médico, devidamente credenciado no CRM do estado,
e relatar a situação do paciente (isso quando não for possível a
avaliação presencial do mesmo).
Nessa consulta é confeccionado um laudo que direciona a
necessidade de uma intervenção.O médico deverá atestarem laudo
que o dependente químico apresenta riscos como:
Risco de vida;
Risco a vida de terceiros;
Uso abusivo de drogas.
Benefícios
Após a internação, quando o paciente chega ao Centro de
Tratamento ele precisa passar por uma avaliação pelo médico
responsável para validar os riscos descritos pela família e assim
reafirmar, do ponto de vista médico, o início do tratamento. A
instituição tem por obrigação legal, informar o Ministério Público
em até 72 horas.Desta forma,a família e a instituição estão salva
guardadas e regularizadas para tal procedimento.
Um importante documento do NIDA – Nacional Institute on Drug
Abuse–abordaosdozeprincípiosdotratamentodedependência
química. Um dos seus princípios é que uma internação não
precisa ser voluntária para ser eficaz, desta forma, o NIDA valida
a internação involuntária como efetiva para o tratamento da
dependência química.
Quando ocorre a internação, o primeiro benefício é o fato da
pessoa não estar se intoxicando e, com isso, seu estado mental
começa a se modificar. Quando ele está usando, seu processo
decisório está comprometido e uma parte da falta de motivação
está relacionada ao fato da própria intoxicação turvar o processo
de motivação.
O tratamento involuntário junto ao dependente químico sem seu
consentimento não significa tratá-lo de maneira inferior, pelo
contrário, o ato demonstra cuidado e preocupação, intervindo
para que ele volte a ter uma vida saudável e se torne,novamente,
apto a decidir sobre o que é melhor em sua vida.
Dependência Química
O que é Dependência Química?
Com a finalidade de entender a complexidade deste tema,
estudos e teorias procuram explicar o que levam o ser
humano à dependência química através de quatro modelos:
25. 48 49
modelo de doença; modelo de comportamento
aprendido; modelo psicanalítico; e o modelo familiar.
Primeiramente, analisando a dependência química através
da perspectiva do modelo de doença, conclui-se que a
dependência química acontece como um transtorno primário
e independente de outras condições, como herança biológica
de suscetibilidade aos efeitos do álcool ou drogas. Nesse
modelo, as principais características da dependência são
a perda de controle sobre o consumo, a negação, o uso
continuado e o padrão de recaída.
A partir do modelo de comportamento aprendido,
compreende-se que a dependência química acontece a partir
de comportamentos adquiridos, sejam na infância, ou na
vivênciado meio social, devido à capacidade do dependente
químico de imitação de comportamentos e respostas
condicionadas ao prazer. É possível observar também
que problemas comportamentais, como pensamentos,
sentimentos e mudanças fisiológicas, realizam um papel
significativo na influência da dependência química.
No modelo psicanalítico, a dependência química é entendida
como uma tentativa de retornar a estados prazerosos
da infância. De acordo com essa hipótese, algumas
deficiências do indivíduo poderiam levar a problemas com
abuso de substâncias, tais como déficits de tolerância
aos afetos, inabilidade de autoproteção, vulnerabilidade
no desenvolvimento da autoestima ou problemas na
construçãodos relacionamentos e intimidade.
O modelo familiar correlaciona à dependência química com
padrões familiares. Esse modelo contribuiu muito para o
entendimento da dependência, principalmente no que diz
respeito ao conceito de equilíbrio e à importância das regras
e metas que governam os relacionamentos familiares e como
elas contribuem para a manutenção do uso de substâncias.
É importante pontuar que há também um quinto modelo, que
concebe a dependência química como sendo um fenômeno
biopsicossocial. Este modelo tenta integrar as contribuições
de todos os quatro anteriores em uma teoria unificada, no
qual parece haver um componente biológico herdado nos
transtornosdeabusoàssubstâncias.Porémestecomponente
isolado não explica a complexidade do fenômeno. Somados,
os fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais
desempenham um importante papel na causa, no curso e
nos resultados da dependência química.
Uso, Abuso e Dependência.
O uso se refere a qualquer consumo, enquanto o abuso é
caracterizado pelo uso nocivo associado a algum tipo de
problema. Já a dependência química é um consumo sem
controle e problemas reais de saúde.
Estes conceitos passam uma ideia de continuidade, como
uma evolução progressiva entre esses níveis de consumo:
os indivíduos passariam inicialmente por uma fase de uso,
alguns deles evoluiriam posteriormente para o estágio de
abuso e, finalmente, alguns destes últimos tomar-se-iam
dependentes. Nem todo uso ou abuso progride para a
dependência, uma vez que não existe uma fronteira clara
entre uso,abuso e dependência.O uso precoce tende a gerar
problemas futuros mais sérios, todavia, não existe fator que
determine se as pessoas se tornarão ou não dependentes.
Torna-se imprescindível analisar as características do
dependente a partir de uma visão empírica. Em uma
primeira análise, percebe-se que o dependente químico
usa a droga de forma frequente e exagerada, com prejuízos
para os vínculos afetivos e sociais, não conseguindo parar
quando quer. É um indivíduo para quem a droga passou
a desempenhar um papel central na sua organização,
ocupando lacunas importantes e se tornando, assim,
indispensável ao funcionamento psíquico daquele indivíduo.
A dependência química torna os usuários impotentes
perante adicção e com dificuldade de assumir que suas
vidas estão incontroláveis, culpando pessoas, lugares
e coisas pela própria adicção. Os mesmos negam seus
problemas e sentimentos,a sua compulsão pela droga, a
perda de controlesobre o uso e o uso contínuo, apesar das
26. 50 51
consequências adversas.
É válido também compreender a personalidade do
dependente, respondendo a seguinte pergunta: como são os
usuários de drogas dependentes na ativa do uso?
O dependente de drogas se encontra diante de uma realidade
de vida insuportável, realidade essa que não consegue
modificar e da qual não pode se esquivar, restando-lhe como
única alternativa a alteração da percepção dessa realidade.
Se tivermos em mente que a relação de dependência com
a droga é a única alternativa que restou para o usuário
de drogas, toma-se compreensível que o comportamento
de se drogar efetive-se através de um ato impulsivo. Não
se trata, portanto, do desejo de consumir drogas, mas da
impossibilidade de não as consumi-las.
Preconceito com os dependentes
Quando se trata do uso do álcool e drogas, sob os aspectos
psiquiátricos e psicológicos, é imprescindível levar em conta
o caráter moral que permeia nossa sociedade, visando
evitar ideias e atitudes preconceituosas. Expressões tais
como:“Outra vez bêbado?”, “É um fraco” ou “Não tem
vergonha nacara” são, infelizmente, muito comuns. É por
esse motivo que devemos evitar o uso de palavras como
“vício”, “viciado”, ou“drogado”, as quais acabaram se
tornando pejorativas.
O dependente químico – assim como qualquer outro paciente
– precisa ser respeitado e atendido com atenção, visto que
atitudes preconceituosas criam distanciamento e pioram o
prognóstico, tornando fundamental uma revisão de crenças
pessoais sobre o fenômeno da dependência química.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Dependência Química -> Síndrome de
dependência
O conceito de síndrome é utilizado na medicina para designar
um agrupamento de sinais e sintomas. Nem todos os
elementos estão presentes em todos os casos, mas o quadro
deve ser suficientemente regular e coerente para permitir
seu reconhecimento clínico e a distinção entre a síndrome
ea não síndrome.
Dependência de substâncias é um padrão desadaptativo
de uso de substância, provocando comprometimento ou
sofrimento clinicamente significante, manifestado por três
(ou mais) dos seguintes fatores, ocorrendo no período de
12 meses:
Tolerância à substância – quantidades cada vez maiores;
Síndrome de Abstinência - uso para aliviar os sintomas
de abstinência;
Uso em grandes quantidades ou por períodos maiores do
que o intencionado;
Desejo ou esforço sem sucesso de diminuir, controlar ou
cessar o uso;
Aumento do tempo gasto na obtenção, uso ou
recuperação dos efeitos do uso;
Reduzir ou abandonar atividades sociais, ocupacionais
ou recreativas pelo uso;
Uso a despeito de problemas físicos ou psicológicos.
Dependência Química – Neurobiologia
A dependência química é uma doença crônica que resulta
na interação entre o uso prolongado e os efeitos gerados no
cérebro, causando alteração de comportamento, motivação
(pragmatismo) e de capacidade de julgamento (crítica).
Esses são os sinais e sintomas psicopatológicos que se
originam da ação direta das drogas no sistema nervoso
central. As drogas atuam no “centro do prazer”, também
chamado de sistema de recompensa cerebral que comanda
atividades prazerosas e essenciais à sobrevivência do
indivíduo e da espécie como matar a fome, saciar a sede e
ter relações sexuais.
Estimulado pela droga,o sistema de recompensa negligencia
estas sensações prazerosas e naturais da vida. Isto ocorre
porque o uso de drogas libera mais dopamina no sistema
de recompensa cerebral do que as demais atividades. Cabe
27. 52 53
aqui, portanto, uma análise das sensações que as drogas
geram: a cocaína provoca prazer em pico, as anfetaminas
provocam efeito duradouro e não em pico. Já o álcool é
depressor do sistema nervoso central e a maconha gera
efeito de prazer e relaxamento e também libera dopamina
com o reforço positivo do uso.
É válido compreender o que acontece com o sistema de
recompensa quando se usa droga. As drogas de abuso
desorganizam e alteram a comunicação intercelular natural
no cérebro,gerando assim,uma alteração do comportamento
e, portanto, a dependência. Nesse panorama, o uso repetido
de uma droga faz com que os receptores celulares se
esgotem e a capacidade natural de produzir dopamina fica
reduzida, necessidade de doses maiores e mais frequentes.
Portanto, é importante para a equipe terapêutica identificar
os riscos de abandono precoce e procurar se antecipar a
eles, fazendo o dependente focar em mudanças ativas e
melhorar o seu estilo de vida. Na fase de conclusão e altado
tratamento,o acompanhamento do indivíduo,mesmo quando
abstinente, impede a recaída.
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA
QUÍMICA NO CAMPO - BIOLÓGICO
Avaliação psiquiátrica;
Prescrições de medicamentos;
Abstinência - que, utilizados adequadamente, são
capazes de aliviar os sintomas da abstinência;
Crises – Salvar vidas, evitar recaídas;
Construção e execução do plano de tratamento;
Tratamento de comorbidades;
Avaliação clínica do consumo e os critérios de gravidade;
Exames Clínicos – garantir a saúde do paciente;
Nutricionista;
Educador Físico.
TRATAMENTO DA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO
CAMPO - PSICOLÓGICO
Psicoterapia Individual – Buscar entendimento dos
traumas e comportamentos a serem tratados;
Psicoterapia em grupo - Atua no processo de mudança e
reconstrução da vida;
Construção e execução do plano de tratamento;
Avaliação motivacional;
Gestão de grupo de discussão de caso – Gerenciamento
de caso por profissional de referência;
Avaliação dos fatores de proteção e risco;
Fase de conclusão e alta do tratamento;
Avaliação neuropsicológica.
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA
QUÍMICA NO CAMPO - SOCIAL
Fator grupal (troca de experiências e interação entre
dependentes);
Tratamento entre pares;
Identificação da presença do uso de substâncias
psicoativas;
A especialização do serviço (linguagem adequada a estes
usuários);
Construção do vínculo terapêutico - a abordagem
humanista, voltada para empatia e compreensão;
Estrutura do tratamento (horários, regras, contratos),
atentando sempre a não formalização do serviço, sendo
este prático, garantindo a motivação inicial do indivíduo;
Aliança terapêutica - a promoção de ambiente calmo e
28. 54 55
acolhedor e a criação de laços entre paciente e terapeuta;
Identificar os riscos de abandono precoce e procurar se
antecipar a eles;
Gerenciamento de caso por profissional de referência;
Prover o tratamento e conscientização da necessidadede
abstinência total;
Intervenções psicossociais estruturadas;
Focar mudanças ativas e melhorar o estilo de vida;
Fasedeconclusãoealtadotratamento-oacompanhamento
do indivíduo mesmo quando abstinente, impedindo-se a
recaída; as visitas domiciliares (ressocialização).
Dependência Química – Tratamento Familiar
A terapia familiar ainda é matéria que necessita de maior
análise, tornando como propício a análise dos aspectos
familiares que podem influenciar no consumo de drogas,
como: dependência química; problemas psiquiátricos;
conflitos familiares; desorganização familiar; crises
frequentes; discussões; baixo suporte social; separação;
perdas; doenças graves; e baixo poder aquisitivo.
A partir desse âmbito, as famílias de dependentes químicos
costumam passar por quatro fases: a negação, a tentativa
de controlar a dependência, a desorganização familiar e a
exaustão emocional.
Analisa-se também que são três as modalidades de
abordagem familiar: grupos de autoajuda, abordagem
sistêmica (a família é vista como um sistema que se
equilibra pelas regras do funcionamento familiar; logo, o
sistema familiar influencia na dependência) e a abordagem
cognitivo-comportamental (por sua vez, foca a mudança das
relações familiares, que servem de estímulo, melhorando
a comunicação e as habilidades de solucionar problemas
e fortalecer a capacidade de lidar com os recursos e a
sobriedade).
Crisedeabstinência,vocêconheceossintomas?
Crise de abstinência é o que ocorre quando se para com o
consumo do álcool e da droga.
Ao mesmo tempo em que funciona como se estivesse tirando
um peso do seu cérebro, ele também apresenta reações
reversas, produzindo uma onda de adrenalina que acarreta
os sintomas da abstinência, pois o álcool e as drogas servem
como depressores do cérebro que submetem o impulso para
baixo do lado bom da coisa, ele restringe que o cérebro
produza neurotransmissores como a noradrenalina. De fato
a crise de abstinência ocorre exatamente porque o cérebro
age como uma mola quando se trata de adição.
Crisedeabstinência–Oquerealmentesesente?
Cada droga tem seu diferencial. As drogas produzem dois
tipos de Crise de abstinência: a física e a emocional. Drogas
como o álcool, opiáceos e tranquilizantes costumam produzir
crise de abstinência significativa física, por outro lado, a
cocaína, a maconha e o ecstasy geram poucos desses
sintomas, porém tem como consequência o acarretamento
de uma abstinência emocional.
Não é porque você teve pouco dos sintomas da dependência
física que significa que você não seja um dependente,
pois, ao invés dela, você pode ter acarretado abstinência
emocional, e isto varia o padrão de cada pessoa durante
este período.
Sintomas da crise de abstinência emocional como ansiedade,
inquietação, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, falta de
concentração, depressão e isolamento social, são sintomas
de abstinência emocional produzidas por todas as drogas,
podendo ser experimentado caso tenha sintomas de
abstinência física ou não.
Os sintomas da crise de abstinência física como sudorese,
coração acelerado, taquicardia, tensão muscular, aperto no
peito, dificuldade em respirar, tremores, náuseas, vômitos ou
diarreia, são sintomas que geralmente ocorrem com o álcool,
opiáceos e tranquilizantes.
29. 56 57
Convulsões graves, ataques cardíacos, derrames ou infartos,
alucinações e delirium tremens (DTs), são alguns sintomas
perigosos provocados pela crise de abstinência do álcool e
tranquilizantes. De fato eles produzem a crise de abstinência
física mais perigosa, que são as convulsões, derrames ou
ataques cardíacos em pacientes de alto risco, e deliberam
da parada repentina do álcool e dos tranquilizantes. A
desintoxicação sob supervisão médica minimiza os sintomas
da abstinência e reduz o risco de complicações perigosas.
A abstinência de heroína não produz convulsões, ataques
cardíacos, derrames ou delirium tremens (DTs), porém elas
são extremamente desconfortáveis, mas não perigosas, a
menos que sejam misturados com outras drogas.
Mudanças de humor, ansiedade, irritabilidade, cansaço,
energia variável, baixa entusiasmo, concentração variável
e sono perturbado, são sintomas de crise de abstinência
mais comuns depois da primeira fase que é aguda e com
duração de algumas semanas, tendo em vistas que estes
sintomas encontram-se na segunda etapa, que é a fase pós-
aguda, que é nesta etapa que se sente com um turbilhão
de sintomas que mudam repentinamente sem que você
perceba, eles desaparecerão por instantes, porém voltarão
novamente, mas os maus períodos de abstinência pós-
aguda pouco durarão, contudo serão de muita intensidade.
Crise de abstinência – Tenha certeza de uma
coisa,vai passar!
Após algum tempo você vai obter a confiança que pode
ultrapassar tudo isso,pois terá a percepção que cada episódio
é por tempo limitado, cada episódio de crise de abstinência
pós-aguda tem a duração de poucos dias, não existe um
precursor óbvio para a maioria dos acontecimentos.Acordará
um dia com irritabilidade e terá baixo consumo energético,
aguentando por alguns dias ele vai sumir tão rapidamente
como começou.
Não pense que a abstinência pós-aguda vai durar apenas
alguns meses, caso isso venha a acontecer você será pego
de surpresa e o desapontamento te levará a ter mais chance
de recaída,porém a abstinência pós-aguda tem uma duração
geral de dois anos.
A sobrevivência a uma crise de abstinência tem como
fundamental importância a paciência, pois você não pode
apressar a recuperação, podendo assim lembrar-se que irá
passar por isso um dia de cada vez. Não se ressinta ou tente
intimidar seu caminho através dela, pois você se tornará
exausto e é exatamente neste momento que você pensará
no uso como ferramenta para o escapismo.
Lembre-se sempre que, mesmo passado um ano, isto
é apenas metade do caminho, e sintomas de abstinência
pós-aguda são sinais de recuperação do seu cérebro,
consequentemente não fuja disto.
Ao longo dos próximos dois anos você terá variações de dia
bons e ruins, nos dias bons passe a apreciá-los, porém os
dias ruins que virão enfrente-os com cautela não sofrendo
demais,poisossintomasdaabstinênciasãodemasiadamente
desconfortáveis e eles vão parecer pior se você se ressentir
deles. Nestes dias foque na sua recuperação e você passará
por tudo isso.
Crise de Abstinência – Ferramentas para
melhora
A recuperação é exatamente o oposto da dependência
química. Deem-se pequenas pausas ao longo dos próximos
dois anos, afirme a si mesmo que o que você esta fazendo é
suficiente. Seja benéfico para si, é exatamente isto que você
deve aprender na recuperação, porém isto é o que a maioria
dos dependentes não podem fazer.
Passarão semanas sem algum sintoma da crise de
abstinência, porém, um dia você acordará e sua abstinência
será tão forte que parecerá que você foi atropelado por
ela. Consequências como o mau sono, o mau humor e a
grande queda energética no seu corpo será consequência.
Esteja preparado para isso e não ache que a abstinência
terá duração de apenas alguns meses, não ache que você é
diferente e que não vai ser tão ruim pra você, senão você vai
ser pego desprevenido. Sabendo o que esperar você pode
30. 58 59
sim fazer isso.
A capacidade de relaxar irá ajudar através deste momento,
pois é relaxado que você não terá facilidade de ser pego
nelas, ficando menos propício a recaída, pois você não estará
desencadeado pelos seus sintomas. Sempre lembrando que
a cada recaída, não importando se pequena, ela desfaz
todo o ganho que seu cérebro fez anteriormente durante o
período da recuperação. Sem a crise de abstinência haverá
um desmoronamento de tudo, porém com a abstinência para
tudo haverá possibilidade.
Cada pessoa e droga tem sua particularidade e por este fato
a etapa da abstinência aguda ocorrerá de formas diferentes
para cada indivíduo, porém, como a crise de abstinência
pós aguda ocorre por que a química do cérebro esta
gradualmente voltando ao normal, a maioria das pessoas
sentemalguns sintomas.
É de suma importância o companheirismo da família, dos
amigos, a ajuda profissional e o afastamento de ambientes
que não sejam propícios e saudáveis. Esses pontos são
importantíssimos para que você sinta que sua abstinência
não foi de modo algum em vão, ocorrendo assim o fim de
todo o problema e a continuidade de sua recuperação.
Motivação do dependente químico
Metodologia
A matriz de motivação do indivíduo (o modelo de Prochaskae
Di Clemente) é onde buscamos compreender seu estado de
abertura e motivação para a mudança.
Abaixo serão descritos os estágios de motivação e
os conceitos e práticas desenvolvidos para evolução
no tratamento destes estágios em nosso centro de
recuperação:
PRÉ-CONTEMPLAÇÃO – o início da
recuperação, conforme a evolução deste estágio é vencida
nos 15 a 30 primeiros dias. Nestafase, o Grupo Recanto
trabalha a desintoxicação no centro de recuperação, a
remoção de barreiras e resistências, e a síndrome de
abstinência.
Através das anamneses, conhece-se o paciente para assim
desenvolver um trabalho de integração ao grupo e discussão
dos conceitos de doença, perda de domínio, impotência,
inabilidade, inadequação, egocentrismo e mecanismos de
defesa.Também é abordado o uso de álcool e drogas x os
prejuízos causados.
CONTEMPLAÇÃO – Neste momento o
indivíduo já começa uma relação com a instituição e o
programa. Ele já considera a recuperação. Chegou a hora do
residente entender a conexão entre seus comportamentos e
problemas, os custos e benefícios.
A equipe precisa tratar da ambivalência do residente,
favorecendo o aumento de sua crítica e conscientização
de suas falências e prejuízos, para assim entender os seus
pensamentos destrutivos e se engajar na mudança para
vencer a ambivalência.
PREPARAÇÃO – é o momento que o residente
busca toda a ajuda da nossa equipe multidisciplinar. É nesta
hora que vemos a importância de garantir uma variedade de
recursos para ajudar o paciente a se engajar no tratamento
em nosso centro de recuperação.
A dependência é um fenômeno de natureza complexa,
gerado por múltiplos fatores. Por este motivo ele deve ser
atendido preferencialmente por uma equipe interdisciplinar.
No Grupo Recanto o residente começa a ter uma reflexão
de si mesmo, e assim busca ajuda, passa a ter uma relação
saudável com a fé e o tratamento, começa a enxergar uma
vida sem drogas e passa a ter a capacidade de crítica para
perceber a relação entre comportamentos, atitudes e a
abstinência da droga.
AÇÃO – Chegou a hora de se munir de ferramentas
para por em prática a recuperação, de buscar para si a ação
positiva. Chegou a hora de reconhecer e confessar suas
falhas, intensificar seu autoconhecimento, tratar de sua
vida sexual, dos relacionamentos afetivos, sociais e da sua
relação direta com dinheiro e bens materiais. Desta forma,
espera-se que o residente evite comportamentos de risco,
31. 60 61
buscando sua auto eficácia, seu autorrespeito e adquirindo
uma visão realística da mudança, corrigindo expectativas em
relação à recuperação. Tudo isto, claro, com total apoio do
centro de recuperação.
MANUTENÇÃO– É a hora da ressocialização, e
é preciso usar as ferramentas conhecidas durante o período
de tratamento para aplicar na sua vida cotidiana.
O paciente precisa ter informações e atividades como:
Prevenção de recaídas com aprendizagem de habilidades
- fazer seu planejamento pós-internação no centro de
recuperação, com metas a curto, médio e longo prazo;
Preparação de planos de emergência para saber lidar como
desemprego, perdas, separação, etc; e Saber como agir
frente à possibilidade de usar drogas para buscar e manter
sua tão sonhada e recentemente alcançada recuperação.
PREVENÇÃO RECAÍDA
A prevenção de recaída busca mudar hábitos destrutivos,
mantendo essa mudança.
O processo de recaída envolve determinantes
imediatos, como:
Situações de risco (ameaça ao controle);
Respostas de enfrentamento (o que o indivíduo faz para
afastar a situação de risco);
Uso inicial da substância (lapso ou recaída);
Efeito da violação da abstinência (como se comporta o
indivíduo após o lapso ou recaída).
Treinamento de habilidades e situações de
risco – Ênfase ao treinamento de habilidades.
Déficits de habilidades submetem o indivíduo a grandes
riscos. Esses déficits interagem com as situações e com
as vulnerabilidades que podem abalar as capacidades do
indivíduo de manejá-las adequadamente, como:
Habilidades intrapessoais: Assertividades, habilidades de
iniciar conversações, falar e ouvir sobre sentimentos e
opiniões, fazer e receber elogios, fazer críticas, receber
críticas e de recusar bebidas ou drogas;
Habilidades interpessoais: Manejo da raiva, de
pensamentos sobre álcool e drogas, do pensamento
disfuncional, habilidade de lidar com decisões, aumentar
as atividades prazerosas, de lidar com situações de
emergência e de resolução de problemas e problemas
persistentes.
Grupos de autoajuda
Alcoólicos Anônimos
O A.A. influenciou muitos outros grupos de autoajuda.
Este grupo se utiliza da filosofia dos 12 Passos e se organiza
conforme as 12 tradições. Não há prescrição de remédios,
diagnósticos, fichas de avaliação e não aceita ajuda de
profissionais. Vale-se tão somente de princípios espirituais e
partilhas de seus membros
Narcóticos Anônimos
Também se vale dos 12 Passos e das 12 tradições
adaptados à realidade do dependente químico de álcool e
outras drogas. Tal qual o A.A., o N.A. não mantém hospitais,
não fornece assistência social ou financeira, não faz trabalho
de prevenção e não fornece informações dos membros.
Pós Tratamento
O objetivo do pós-tratamento é manter o paciente motivado,
ajudando-o a enfrentar a compulsão, as crises, a fissura e as
novas situações de vida com as quais ainda não sabe lidar.
O tratamento é realizado com atendimentos semanais de
psicólogo ou conselheiro em dependências químicas (TR’s)
e atendimento psiquiátrico mensal.Todos estes profissionais
se baseiam em técnicas terapêuticas já conhecidas pelo
residente, o que propicia um vínculo terapêutico mais efetivo.