4. Ficha técnica
Coordenação Técnico-Científica
Miguel Soares de Oliveira, Médico
Revisão Técnico-Científica
Lara Marcelo, Médica
Luis Meira, Médico
Miguel Soares de Oliveira, Médico
Autores
Alfredo Leal, TAE
André Azevedo, TAE
António Táboas, Médico
Carla Dias, TAE
Célia Godinho, TAE
Gabriel Campos, TAE
Luís Meira, Médico
Márcio Tavares, TAE
Miguel Ângelo Santos, TAE
Pedro Ivo Moura, TAE
Pedro Louro, TAE
Telmo Correia, TAE
Design e Paginação
Márcio Tavares, TAE
5. Índice
Objetivos ................................................................................................................................................... 10
Objetivo geral............................................................................................................................................ 10
Objetivos específicos .............................................................................................................................. 10
Estudo de caso......................................................................................................................................... 12
Introdução................................................................................................................................................. 13
1. Considerar a informação obtida no acionamento para a ocorrência ..............................................16
2. Abordagem do local da ocorrência .....................................................................................................18
2.1. Garantir as precauções universais................................................................................................. 18
2.1.1. Equipamento de proteção individual (EPI)............................................................................. 19
2.1.2. Doenças transmissíveis ......................................................................................................... 24
2.1.3. Lavagem das mãos................................................................................................................ 29
2.1.4. Imunização............................................................................................................................. 30
2.2. Avaliar e garantir as condições de segurança ............................................................................... 31
2.3. Mecanismo de lesão / natureza da doença ................................................................................... 34
2.4. Determinar o número de vítimas.................................................................................................... 40
2.5. Considerar meios de socorro adicionais........................................................................................ 41
3. Avaliação e estabilização inicial da vítima .........................................................................................42
3.1. Obter uma impressão geral do estado da vítima........................................................................... 43
3.2. Considerar a estabilização manual da cabeça .............................................................................. 44
3.3. Avaliação do estado de consciência.............................................................................................. 46
3.4. A – Airway – Via aérea................................................................................................................... 50
3.5. B – Breathing – Ventilação............................................................................................................. 55
3.6. C – Circulation – Circulação........................................................................................................... 60
3.7. Identificação de vítimas críticas e pedido de apoio de SAV .......................................................... 66
4. Recolha de informação, exame físico e monitorização ....................................................................69
4.1. Recolha de informação – CHAMU................................................................................................. 70
4.2. Exame físico................................................................................................................................... 78
4.2.1. Exame físico associado à queixa principal ............................................................................ 78
4.2.2. Exame físico rápido................................................................................................................ 79
4.2.3. Monitorização......................................................................................................................... 85
4.2.3.1. Avaliação da ventilação................................................................................................. 86
4.2.3.2. Avaliação do pulso ........................................................................................................ 86
4.2.3.3. Avaliação das pressões arteriais .................................................................................. 87
4.2.3.4. Avaliação da temperatura corporal ............................................................................... 91
4.2.3.4.1. Avaliação na boca .................................................................................................. 91
4.2.3.4.2. Avaliação axilar ...................................................................................................... 92
4.2.3.4.3. Avaliação timpânica ............................................................................................... 92
4.2.3.4.4. Avaliação retal........................................................................................................ 93
4.2.3.5. Avaliação da glicemia capilar........................................................................................ 94
4.2.3.6. Avaliação da saturação periférica de oxigénio – SpO2 ................................................. 96
4.2.3.8. Monitorização do ritmo cardíaco ................................................................................... 98
5. Exame físico detalhado ........................................................................................................................99
6. 6. Registo e envio de informação para o CODU e SU......................................................................... 100
7. Avaliação durante o transporte......................................................................................................... 103
7.1. Reavaliação do estado de consciência e ABC............................................................................. 103
7.2. Reavaliação e verificação de todos os procedimentos ................................................................ 104
7.3. Reavaliação dos sinais vitais e de outros parâmetros ................................................................. 105
7.4. Reavaliação da queixa principal................................................................................................... 105
8. Transferência da vítima no serviço de urgência ............................................................................. 106
9. Algoritmo de atuação ......................................................................................................................... 107
Revisão dos principais pontos.............................................................................................................. 119
Fecho do estudo de caso....................................................................................................................... 127
Índice de figuras
Figura 1 – Queda de uma vítima idosa ............................................................................................................................................ 12
Figura 2 – Algoritmo de abordagem e avaliação da vítima............................................................................................................... 15
Figura 3 – Luva de látex Figura 4 – Luva de nitrilo Figura 5 – Luva de vinil .......................................... 20
Figura 6 – Óculos de proteção......................................................................................................................................................... 21
Figura 7 – Máscara facial sem viseira plástica Figura 8 – Máscara facial com viseira plástica ............................ 21
Figura 9 – Máscara de proteção respiratória tipo P1........................................................................................................................ 22
Figura 10 – Bata e avental............................................................................................................................................................... 23
Figura 11 – Sequência da lavagem das mãos ................................................................................................................................. 29
Figura 12 – Exemplo de uma situação de risco para o TAE............................................................................................................. 33
Figura 13 – Exemplo de um mecanismo de lesão significativo ........................................................................................................ 36
Figura 14 – Estabilização manual da cabeça................................................................................................................................... 44
Figura 15 – Estabilização manual da cabeça Figura 16 – Estabilização manual da cabeça.................................. 44
Figura 17 – Estabilização da cabeça com os joelhos....................................................................................................................... 45
Figura 18 – Estabilização da cabeça da vítima a partir de uma posição lateral................................................................................ 45
Figura 19 – Estabilização da cabeça da vítima a partir de uma posição posterior............................................................................ 45
Figura 20 – Postura em “Descorticação”.......................................................................................................................................... 48
Figura 21 – Postura em “Descerebração” ........................................................................................................................................ 48
Figura 22 – Pinça de Magill ............................................................................................................................................................. 52
Figura 23 – Extensão da cabeça e elevação do queixo ................................................................................................................... 53
Figura 24 – Elevação da mandíbula ................................................................................................................................................ 53
Figura 25 – Tubos orofaríngeos....................................................................................................................................................... 53
Figura 26 – Tubo nasofaríngeo........................................................................................................................................................ 53
Figura 27 – Máscara laríngea.......................................................................................................................................................... 54
Figura 28 - Realização do VOSP..................................................................................................................................................... 56
Figura 29 – Avaliação da ventilação na vítima consciente (sentada) ............................................................................................... 57
Figura 30 – Avaliação da ventilação na vítima consciente (deitada) ................................................................................................ 57
Figura 31 – Pesquisa de pulso radial............................................................................................................................................... 60
Figura 32 – Pesquisa de pulso carotídeo......................................................................................................................................... 60
Figura 33 – Posicionamento para comunicar com a vítima .............................................................................................................. 73
Figura 34 – Escala de faces da intensidade de dor.......................................................................................................................... 77
Figura 35 – Exantema (rash cutâneo).............................................................................................................................................. 80
Figura 36 – Urticária........................................................................................................................................................................ 80
Figura 37 – Edema.......................................................................................................................................................................... 81
Figura 38 – Eritema......................................................................................................................................................................... 81
Figura 39 – Formação de prega cutânea em pele desidratada ........................................................................................................ 81
Figura 40 – Hematoma.................................................................................................................................................................... 82
Figura 41 – Equimose...................................................................................................................................................................... 82
Figura 42 – Abrasão ou escoriação ................................................................................................................................................. 82
7. Figura 43 – Laceração .....................................................................................................................................................................82
Figura 44 – Incisão ..........................................................................................................................................................................82
Figura 45 – Perfuração ....................................................................................................................................................................82
Figura 46 – Utilização da manta isotérmica......................................................................................................................................85
Figura 47 – Esfigmomanómetro aneróide ........................................................................................................................................88
Figura 48 – Estetoscópio .................................................................................................................................................................88
Figura 49 – Estetoscópio com diafragma e estetoscópio com diafragma e campânula ....................................................................90
Figura 50 – Avaliação da PA no membro inferior (artéria tibial posterior e artéria dorsal do pé).......................................................90
Figura 51 – Avaliação da temperatura corporal na boca ..................................................................................................................91
Figura 52 – Avaliação da temperatura corporal na axila...................................................................................................................92
Figura 53 – Avaliação da temperatura corporal no tímpano .............................................................................................................92
Figura 54 – Avaliação da temperatura corporal na região retal ........................................................................................................93
Figura 55 – Avaliação da glicemia capilar ........................................................................................................................................95
Figura 56 – Avaliação da saturação periférica de O2........................................................................................................................97
Figura 57 – Exemplos de registo de informações clínicas ..............................................................................................................101
Figura 58 – Modelo de Declaração de Recusa de Transporte e Procedimentos ............................................................................101
Figura 59 – Algoritmo de abordagem e avaliação da vítima ...........................................................................................................107
Índice de quadros
Quadro 1 – Material mínimo a transportar em função da tipologia da ocorrência .............................................................................17
Quadro 2 – Sinais e sintomas de TP................................................................................................................................................27
Quadro 3 – Sinais e sintomas de meningite .....................................................................................................................................28
Quadro 4 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes em acidentes com veículos....................................................................37
Quadro 5 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes ...............................................................................................................38
Quadro 6 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes nas agressões com armas .....................................................................39
Quadro 7 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes nas explosões........................................................................................39
Quadro 8 – Escala AVDS.................................................................................................................................................................46
Quadro 9 – Escala de Coma de Glasgow ........................................................................................................................................47
Quadro 10 – Relação da GCS com o estado neurológico ................................................................................................................49
Quadro 11 – Sons ventilatórios associados à obstrução da via aérea..............................................................................................51
Quadro 12 – Resumo da avaliação ao nível da via aérea ................................................................................................................51
Quadro 13 – Resumo dos procedimentos de permeabilização da via aérea ....................................................................................55
Quadro 14 – Parâmetros básicos a considerar na identificação de uma ventilação adequada .........................................................56
Quadro 15 – Resumo da avaliação da ventilação ............................................................................................................................58
Quadro 16 – Resumo dos procedimentos relativamente à ventilação ..............................................................................................59
Quadro 17 – Parâmetros a considerar na avaliação do pulso ..........................................................................................................62
Quadro 18 – Resumo da inspeção da pele ......................................................................................................................................64
Quadro 19 – Resumo da palpação da pele ......................................................................................................................................64
Quadro 20 – Resumo da avaliação e procedimentos relativamente à circulação .............................................................................65
Quadro 21 – Alterações que estão frequentemente associadas a instabilidade fisiológica...............................................................67
Quadro 22 – Resumo da ordem das etapas de recolha de informação e exame físico.....................................................................69
Quadro 23 –Mnemónica CHAMU para recolha de informação .........................................................................................................70
Quadro 24 – Exemplos de sinais e de sintomas...............................................................................................................................72
Quadro 25 – Avaliação da dor através da mnemónica TILIDAS.......................................................................................................74
Quadro 26 – Classificação da dor ....................................................................................................................................................75
Quadro 27 – Intensidade da dor segundo a Escala de Classificação Numérica da Dor....................................................................76
Quadro 28 – Queixas principais frequentes e exemplo de exame físico associado..........................................................................79
Quadro 29 – Alterações cutâneas mais comuns ..............................................................................................................................80
Quadro 30 – Resumo das lesões dos tecidos moles mais comuns ..................................................................................................82
Quadro 31 – Principais pontos do exame físico rápido.....................................................................................................................83
Quadro 32 – Resumo do estado das pupilas....................................................................................................................................84
Quadro 33 - Procedimento para avaliação das pressões arteriais no membro superior ...................................................................89
Quadro 34 – Valores de referência dos sinais vitais para o adulto ...................................................................................................93
Quadro 35 – Valores de referência da glicemia capilar ....................................................................................................................94
Quadro 36 - Procedimento para avaliação da glicemia capilar .........................................................................................................95
Quadro 37 – Valores de referência da SpO2 ....................................................................................................................................96
Quadro 38 - Indicações para monitorização do ritmo cardíaco.........................................................................................................98
8.
9.
10. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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10/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
Objetivos
Objetivo geral
Dotar os Técnicos de Ambulância de Emergência (TAE) de competências que lhes
permitam realizar a abordagem, a avaliação e a estabilização inicial de vítimas em
contexto de emergência médica pré-hospitalar.
Objetivos específicos
Considerar a informação obtida no acionamento para a ocorrência como parte
fundamental e determinante no processo de abordagem e avaliação da vítima;
Realizar e compreender a importância da abordagem do local da ocorrência:
o Avaliar e garantir as condições de segurança para a adequada prestação de
cuidados de emergência pré-hospitalares;
o Identificar os principais equipamentos de proteção individual (EPI) associados às
precauções universais;
o Adequar o uso do EPI às diferentes particularidades de cada ocorrência;
o Identificar os fatores de risco mais comuns no local da ocorrência;
o Reconhecer particularidades que ajudam a determinar o mecanismo de lesão ou
a natureza da doença;
o Identificar os eventos com mecanismo de lesão significativo;
o Compreender que a determinação do número de vítimas requer, para além da
sua contagem, a sua classificação em termos de gravidade através de um
método de triagem primária;
o Identificar as situações que careçam de recursos adicionais para a adequada
prestação de cuidados de emergência e segurança da equipa de socorro;
Realizar a avaliação e estabilização inicial da vítima:
o Obter a impressão geral do estado da vítima e compreender que esta pode
condicionar, desde logo, a abordagem e o tempo de permanência no local da
ocorrência;
o Distinguir uma vítima de trauma de uma vítima de doença súbita;
o Reconhecer a estabilização manual da cabeça como um procedimento prioritário
em algumas vítimas de trauma;
o Conhecer e aplicar as diferentes escalas de avaliação do estado de consciência
da vítima;
o Identificar e perceber os aspetos a considerar na avaliação e permeabilização
da via aérea;
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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Versão 1.0 / 2014 Abordagem e Avaliação da Vítima 11/131
o Identificar e perceber os aspetos a considerar na avaliação e estabilização da
ventilação;
o Identificar e perceber os aspetos a considerar na avaliação e estabilização da
circulação;
o Identificar as condições relativas ao estado da vítima que podem tornar-se
críticas;
o Identificar uma vítima crítica ou potencialmente crítica;
o Reconhecer as situações que carecem de cuidados de emergência avançados
ou específicos;
Efetuar a recolha de informação e o exame físico adequado ao estado da vítima:
o Identificar os principais aspetos a considerar relativamente à recolha de
informação;
o Conhecer e aplicar técnicas básicas de comunicação;
o Reconhecer a importância da comunicação para um processo eficiente de
recolha de informação;
o Reconhecer a importância de um exame físico rápido nas vítimas com
mecanismo de lesão significativo ou com alteração do estado de consciência;
o Identificar e perceber os principais aspetos associados ao exame físico (rápido /
associado à queixa principal);
o Identificar e perceber os aspetos a considerar na avaliação dos sinais vitais e
demais parâmetros de monitorização;
Reconhecer as situações em que o exame físico detalhado deve ser aplicado e saber
executá-lo;
Efetuar os registos adequados referentes à informação da vítima e a outros aspetos
relacionados com a ocorrência;
Identificar os pontos a considerar na avaliação durante o transporte;
Efetuar um resumo objetivo do estado da vítima no momento da transferência no
serviço de urgência (SU).
12. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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12/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
Estudo de caso
A ambulância onde se encontra a fazer turno é acionada para uma ocorrência numa habitação.
A informação disponibilizada pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) é:
Masculino, 71 anos de idade;
Queda;
Prostrado e com disartria;
Antecedentes: Diabetes Mellitus e disritmia.
Na avaliação e estabilização inicial constata que:
A vítima está deitada no chão, em decúbito lateral direito, no final de uma escada,
estando acompanhada pela esposa;
Responde à voz mas o discurso não é percetível;
Tem uma pequena hemorragia ativa na região temporal direita e quando lhe toca no
ombro direito esboça um esgar de dor e procura afastar o ombro;
Aparentemente não mexe os membros superior e inferior esquerdos;
A esposa refere que, antes da queda, o marido vomitou uma vez, apresentava alteração
do equilíbrio e, por vezes, discurso incoerente. As alterações começaram há cerca de
uma hora.
Como aborda e avalia esta vítima? Trata-se de uma vítima de trauma ou de doença súbita?
Quais são as prioridades de atuação?
Figura 1 – Queda de uma vítima idosa
13. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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Versão 1.0 / 2014 Abordagem e Avaliação da Vítima 13/131
Introdução
Enquanto Técnico de Ambulância de Emergência (TAE) uma das competências mais
importantes que deve desenvolver ao longo do seu percurso profissional é a abordagem e
avaliação de vítimas.
Os objetivos dos cuidados de emergência médica pré-hospitalar (EMPH) são essencialmente
contribuir para “evitar a morte evitável”, prevenir o agravamento do estado clínico da vítima e
diminuir o seu sofrimento.
A abordagem e avaliação da vítima deve ser, por isso, um processo organizado e
sistematizado cujo objetivo é identificar rapidamente e por ordem de gravidade os problemas
existentes para melhor definir os cuidados de emergência a prestar. Contudo, para além de
organizada e sistematizada deve, ao mesmo tempo, ser suficientemente flexível, capaz de se
adaptar à multiplicidade de situações que ocorrem em contexto pré-hospitalar. Por exemplo,
após a realização da avaliação primária, e depois de corrigidas as situações de compromisso
imediato de vida, a avaliação da vítima pode seguir a sequência que, em concreto, melhor se
ajuste às particularidades daquela vítima e às características da situação.
Apenas pode decidir corretamente após avaliar, pois não é possível encontrar uma
“solução” sem previamente ter identificado o “problema”.
A transposição e a aplicação rígida de metodologias de avaliação que nasceram de uma
abordagem intrahospitalar, como o método “ABCDE” – Airway, Breathing, Circulation, Disability
and Exposure, seguido de uma “avaliação secundária”, pode traduzir-se numa abordagem e
avaliação incompletas por não incorporarem aspetos que a especificidade do ambiente em que
se desenvolve a EMPH impõem e a experiência e a rotina aconselham.
Existem hoje metodologias desenvolvidas especificamente para a EMPH, em muitos pontos
sobreponíveis ao método ABCDE referido, e que contemplam aspetos que incorporam a
prática diária e as particularidades do ambiente pré-hospitalar. Etapas e procedimentos como
“Considerar a informação obtida no acionamento”, “Avaliar os mecanismos de lesão” e “Obter
uma impressão geral do estado da vítima”, são exemplos disso.
A este nível, são reconhecidas algumas vantagens em não separar completamente as
situações de trauma ou de doença súbita, recorrendo a metodologias distintas na abordagem
das vítimas. A abordagem e avaliação devem partir de um tronco comum, em que as
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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14/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
prioridades iniciais, a avaliação e a estabilização são sobreponíveis, e só depois seguir as
especificidades das diferentes etiologias, nomeadamente ao nível do exame físico e da recolha
de informação.
Assim, o algoritmo de abordagem e avaliação da vítima está estruturado com o objetivo de
proporcionar uma abordagem sistematizada e expedita, que permita à equipa de EMPH
determinar com segurança e por ordem de prioridades, onde “colocar as mãos e que perguntas
fazer”, de modo a poder prestar cuidados de emergência de forma eficiente.
É igualmente importante compreender que a capacidade de trabalho em equipa é determinante
na abordagem e avaliação da vítima, bem como nos cuidados de emergência a prestar,
atendendo a que algumas das etapas do algoritmo podem e devem ser feitas em simultâneo.
O trabalho em equipa, a identificação atempada de situações de gravidade e a tomada
de decisões adequadas podem ser determinantes para a sobrevivência das vítimas.
Nem todas as vítimas podem ser salvas, pois existem condições incompatíveis com a vida.
Contudo, a sua missão passa por nunca se perder uma vítima cuja morte, por agravamento de
lesões ou da sua condição clínica, possa ser evitada com uma avaliação adequada e com a
melhor aplicação dos recursos disponíveis.
A abordagem e a avaliação da vítima é composta por 8 fases que, integradas, proporcionam
uma abordagem sistematizada. Essas etapas são:
1. Considerar a informação obtida no acionamento para a ocorrência;
2. Abordar o local da ocorrência;
3. Realizar a avaliação e estabilização inicial – “ABC”;
4. Recolher informação, realizar o exame físico e monitorizar;
5. Realizar o exame físico detalhado (nas situações aplicáveis);
6. Registar e enviar a informação para o CODU e SU;
7. Avaliar durante o transporte;
8. Transferir a vítima no SU.
15. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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Versão 1.0 / 2014 Abordagem e Avaliação da Vítima 15/131
Estas etapas constituem o ALGORITMO DE ABORDAGEM E AVALIAÇÃO DA VÍTIMA:
Figura 2 – Algoritmo de abordagem e avaliação da vítima
Garantir precauções universais
Avaliar e garantir condições de segurança
Determinar o mecanismo de lesão / natureza da doença
Determinar o número de vítimas
Considerar meios de socorro adicionais
Obter uma impressão geral do estado da vítima
Considerar a estabilização manual da cabeça
Avaliar o estado de consciência
A - Airway – Via Aérea
B - Breathing – Ventilação
C - Circulation – Circulação
Determinar: Vítima Crítica / Vítima Não Crítica
VÍTIMA DE TRAUMA
Consciente Inconsciente ou AEC
CHAMU
Exame físico associado
à queixa principal
Monitorização
Exame físico rápido
Monitorização
CHAMU
Mecanismo de lesão
não significativo
Mecanismo de lesão
significativo ou AEC
Exame físico associado
à queixa principal
Monitorização
CHAMU
Exame físico rápido
Monitorização
CHAMU
Início transporte SU Início transporte SU Início transporte SU Início transporte SU
Exame físico detalhado Exame físico detalhado
TRANSFERÊNCIA DA VÍTIMA NO SU
CONSIDERAR A INFORMAÇÃO OBTIDA NO
ACIONAMENTO PARA A OCORRÊNCIA
ABORDAGEM DO LOCAL DA OCORRÊNCIA
AVALIAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO INICIAL - ABC
RECOLHA DE INFORMAÇÃO, EXAME FÍSICO E MONITORIZAÇÃO
REGISTO E ENVIO DE INFORMAÇÃO PARA O CODU E SU
AVALIAÇÃO DURANTE O TRANSPORTE
VÍTIMA DE DOENÇA
16. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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16/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
1. Considerar a informação obtida no acionamento para a
ocorrência
É a partir do momento em que recebe a informação do acionamento para a ocorrência que
pode começar a recolher informações acerca da vítima ou do que está a acontecer no local da
ocorrência.
Esta informação pode ser útil, por exemplo, para distinguir uma vítima de doença súbita de
uma vítima de trauma, pode permitir formar uma ideia do mecanismo de lesão ou natureza da
doença que vai encontrar, refletir sobre algoritmos de atuação específicos ou considerar riscos
específicos em função do local da ocorrência e da hora do dia.
Desta forma, o equipamento de proteção individual (EPI) adequado, os meios de socorro
adicionais, o número de vítimas, a existência de perigos no local, os cuidados de emergência a
prestar, entre outros, podem ser considerados nesta fase.
Com base na informação do acionamento para a ocorrência, juntamente com o colega,
deve desenvolver uma lista mental de possibilidades. Não desenvolva uma visão tipo
túnel mas mantenha todas as possibilidades em aberto.
Porém, apesar da informaçao obtida no acionamento ser útil, muitas vezes a realidade
encontrada no local é diferente da que foi transmitida. Só no local é que todos os detalhes
podem ser observados e confirmados.
Muitas vezes os contactantes fornecem informações imprecisas e/ou incorretas aos Técnicos
Operadores de Telecomunicações de Emergência (TOTE) do CODU por ignorância ou por por
alteração emocional mas, por vezes, intencionalmente.
Por exemplo, se for acionado para uma vítima do sexo masculino com dor torácica, não deve
excluir a possibilidade de trauma. A dor torácica pode, eventualmente, estar associada a uma
lesão da grade costal ou pneumotórax que a vítima desenvolveu após cair sobre uma mesa.
Outro exemplo pode ser a vítima que apresenta uma ferida aberta na região occipital devido a
uma queda, cuja causa foi uma alteração de equilíbrio por um défice motor, na sequência de
um acidente vascular cerebral (AVC).
17. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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Versão 1.0 / 2014 Abordagem e Avaliação da Vítima 17/131
A imprevisibilidade do que vamos encontrar no local da ocorrência impõe, por isso, alguns
procedimentos transversais a todas as ocorrências, independentemente da informação obtida
no acionamento. Assim, independentemente da informação disponibilizada pelo CODU, se não
visualizar a vítima de imediato, deve transportar consigo o equipamento que consta no quadro
seguinte assim que sai da ambulância.
Quadro 1 – Equipamento mínimo a transportar em função da tipologia da ocorrência
Equipamento mínimo a transportar em
função da tipologia da ocorrência
Ocorrência de
doença súbita
Ocorrência de
trauma
Ocorrência de
trabalho de parto
Saco de 1ª abordagem
Garrafa portátil de oxigénio (O2)
Aspirador
DAE ou monitor de sinais vitais com DAE
Saco de trauma X X
Kit de parto X X
Além dos equipamentos referidos no quadro anterior, podem ainda ter que ser
transportados equipamentos específicos como lanternas, capacetes, medicação
armazenada em frigorífico, entre outros.
18. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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18/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
2. Abordagem do local da ocorrência
A abordagem do local da ocorrência é extremamente importante na sua intervenção enquanto
TAE. Os conhecimentos de EMPH que vai adquirir ao longo da sua vida profissional não serão
colocados em prática sem uma efetiva abordagem do local da ocorrência que passa
inevitavelmente, entre outros aspetos, pela avaliação e manutenção permanente das condições
de segurança.
Esta etapa é composta pelos seguintes pontos:
Garantir as precauções universais;
Avaliar e garantir as condições de segurança;
Determinar o mecanismo de lesão / natureza da doença;
Determinar o número de vítimas;
Considerar meios de socorro adicionais.
Cada um destes pontos é fundamental e, todos juntos, ajudam a mantê-lo seguro, protegido de
doenças e a ativar atempadamente outros meios de socorro ou de segurança necessários.
Nesta fase é ainda possível obter algumas pistas que o ajudam a perceber o que se passa com
a vítima, mesmo antes de lhe tocar ou falar com ela.
A abordagem do local da ocorrência é um processo constante ao longo de toda a intervenção.
Por isso, à semelhança da vítima, também o local da ocorrência deve ser permanentemente
reavaliado até iniciar o transporte da vítima para o serviço de urgência (SU).
2.1. Garantir as precauções universais
Todas as vítimas devem ser abordadas com “precauções standard” dado que, até prova em
contrário, são potenciais fontes de doenças infeciosas - doenças transmissíveis. Esta premissa
aplica-se de forma transversal independentemente do género, raça, etnia, idade, estrato social,
entre outros, devido a doenças como aquelas que são provocadas por vírus como os vírus da
hepatite B, da hepatite C e da imunodeficiência humana (VIH), exemplos de situações em que
a própria vítima pode não saber que está infetada.
Por isso, as precauções universais traduzem-se num requisito obrigatório na resposta a todas
as emergências e podem variar em função dos riscos específicos de cada ocorrência. Implicam
o uso de EPI para protegê-lo do contacto com substâncias que possa encontrar no local da
ocorrência e/ou no contacto com a vítima.
19. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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Versão 1.0 / 2014 Abordagem e Avaliação da Vítima 19/131
Habitualmente, o primeiro pensamento é o de que nas ocorrências de trauma existe um maior
risco de exposição devido à presença de sangue e que, nas situações de doença súbita, o
risco é mínimo, sendo necessária uma menor proteção.
Contudo, o sangue não é o único fluido orgânico capaz de transmitir doenças infeciosas.
Secreções orais e respiratórias, vómito, urina, fezes, suor, lágrimas, pus, fluido vaginal,
seminal, sinovial, pleural, peritoneal, pericárdico e amniótico são também potenciais
transmissores.
Como tal, deve proteger-se não somente do contacto com sangue mas também de todos os
fluidos orgânicos e, obviamente, garantir as precauções universais tanto em situações de
trauma como em situações de doença súbita.
O contacto direto com qualquer fluido orgânico aumenta seriamente o risco de
contágio de doenças infeciosas.
Garantir as precauções universais é especialmente importante atendendo a que, até
prova em contrário, todas as vítimas são portadoras de doenças transmissíveis.
2.1.1. Equipamento de proteção individual (EPI)
A decisão sobre o EPI a utilizar é baseada na potencial exposição a fluidos orgânicos, na
contaminação, na transmissão de doenças e outros riscos existentes no local da ocorrência.
A garantia das precauções universais inclui o uso do seguinte EPI descartável:
Luvas;
Óculos de proteção;
Máscara de proteção facial (máscara cirúrgica);
Máscara de proteção respiratória;
Bata;
Avental.
Embora não sejam destinados à proteção do risco de infeção, são também considerados como
EPI outros equipamentos usados no quotidiano da EMPH como os capacetes (incluindo as
viseiras rígidas), uniformes (refletores e zonas reforçadas), calçado de proteção, uniformes de
proteção contra o frio e a chuva, cintas de proteção lombar, entre outros.
20. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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20/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
Luvas
As luvas são usadas para proteger as mãos, uma vez que o ambiente pré-hospitalar é pouco
controlado e o risco de exposição a fluidos orgânicos nesta zona do corpo é elevado. Reduzem
o risco inesperado de exposição, uma vez que durante a avaliação da vítima tem que tocar na
mesma, podendo entrar em contacto com fluidos orgânicos. São de uso obrigatório em todas
as ocorrências mesmo que os fluidos orgânicos não sejam visíveis.
Assegure-se de que está a usar o tamanho apropriado para si. Nas ocorrências com várias
vítimas ou que envolvem grande quantidade de fluidos orgânicos deve considerar a hipótese
de calçar dois pares de luvas. Com isto, pode rapidamente ficar com luvas limpas (retirando o
par exterior que está sujo), estando assim disponível para mexer em equipamento ou noutra
vítima. Pode optar por calçar apenas um par de luvas e trocá-lo cada vez que tiver
necessidade, mas lembre-se que é difícil calçá-las com as palmas das mãos suadas.
Evite tocar com as luvas sujas em áreas e equipamentos que estão limpos pois vai,
dessa forma, contaminá-los.
As luvas podem ser de diferentes materiais, sendo o nitrilo atualmente o mais usado. Para
além da maior resistência, um dos motivos prende-se com o facto de existirem profissionais e
vítimas alérgicos ao látex.
Figura 3 – Luva de látex Figura 4 – Luva de nitrilo Figura 5 – Luva de vinil
Apesar do uso de luvas ser obrigatório em todas as ocorrências, a pele continua a ser
a maior barreira do organismo face ao exterior.
Sendo previsível que troque várias vezes de luvas e lave as mãos com frequência, é
recomendável o uso de um creme hidrante para mãos para manter a pele íntegra.
21. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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Óculos de proteção
Os óculos protegem a conjuntiva ocular (membrana mucosa) da projeção de sangue e de
outros fluidos orgânicos nas situações em que existe necessidade de aspirar secreções, a
vítima apresente vómitos, traumatismo da boca ou tosse.
Figura 6 – Óculos de proteção
Máscara de proteção facial
Habitualmente designada por máscara cirúrgica, é usada para proteger as membranas
mucosas da boca e do nariz de gotículas que possam ser projetadas pela vítima durante um
espirro ou quando tosse, ou até mesmo durante a aspiração de secreções.
No caso da máscara possuir viseira plástica, pode ser usada para proteção ocular em
substituição dos óculos de proteção.
A máscara de proteção facial destina-se também a ser aplicada na vítima, nas
situações em que esta apresenta tosse e febre. O objetivo é impedir a projeção de
gotículas potencialmente contaminadas.
Figura 7 – Máscara facial sem viseira plástica Figura 8 – Máscara facial com viseira plástica
22. Manual do Técnico de Ambulância de Emergência
Departamento de Formação em Emergência Médica
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22/131 Abordagem e Avaliação da Vítima Versão 1.0/2014
Máscara de proteção respiratória
É considerada de proteção respiratória uma máscara que evite a inalação de microrganismos e
poeiras, classificada de acordo com a norma Europeia EN149 em P1, P2 ou P3. Podem ter ou
não um filtro para facilitar a ventilação e diminuir a acumulação de calor no interior da máscara.
A numeração 1, 2 e 3 reflete o poder de retenção das partículas sólidas e líquidas:
P1 – poder de retenção normal para partículas sólidas;
P2 – alto poder de retenção para partículas sólidas e líquidas;
P3 – máximo poder de retenção para partículas sólidas e líquidas.
Em contexto de emergência pré-hospitalar, salvo outra circunstância específica, deve usar uma
máscara P1 sempre que estiver em contacto com uma vítima infetada com tuberculose
pulmonar (TP) – circular normativa da Direção Geral da Saúde (DGS).
Figura 9 – Máscara de proteção respiratória tipo P1
Contudo, na maior parte das vezes, quando chega à conclusão de que a vítima exibe sinais e
sintomas típicos de TP já está exposto, ainda que isso não o impeça de adotar as devidas
precauções a qualquer momento. A exposição pode já ter ocorrido mas a contaminação não.
Esteja, por isso, atento à informação obtida no acionamento para a ocorrência e aos sinais e
sintomas de TP adiante referidos.
A máscara de proteção respiratória também protege as membranas mucosas da boca e do
nariz, tal como a máscara cirúrgica, mas não filtra os gases exalados. Desta forma, não deve
ser usada na vítima mas sim no TAE.
Sempre que usar uma máscara de proteção respiratória, coloque também uma
máscara de proteção facial na vítima.
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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Bata e avental
A bata e o avental são usados para proteger o uniforme do contacto com sangue ou outros
fluidos orgânicos, sendo que apenas o avental confere impermeabilidade. Sempre que
estiverem presentes grandes quantidades de fluidos, o seu uso é aconselhável. São exemplos
o trabalho de parto e os traumatizados com hemorragias abundantes.
Figura 10 – Bata e avental
Uma das decisões mais importantes relativamente às precauções universais consiste em
escolher a proteção mais adequada para cada situação. Habitualmente o TAE aborda sempre
as vítimas com luvas mas é frequente não voltar a pensar nas precauções universais durante a
intervenção, o que se pode revelar perigoso.
Imagine, por exemplo, uma ocorrência de agressão em que a vítima sofreu um golpe na
cabeça. O ferimento está tapado e a ser comprimido com uma toalha. O TAE aproxima-se para
realizar a avaliação e, no momento em que retira a toalha para inspecionar o ferimento, há uma
projeção de sangue para a sua face. Nesta situação, se apenas estivesse a usar luvas, estaria
exposto através das membranas mucosas dos olhos, nariz e boca.
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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Outro exemplo, o caso do contacto com uma vítima que é um caso suspeito de Gripe A. O uso
de luvas por si só é igualmente insuficiente para a proteção do TAE. A máscara de proteção
respiratória tipo P1 e os óculos de proteção são equipamentos essenciais neste caso concreto.
O TAE deve ser rigoroso relativamente às precauções universais. O EPI pode ser
sempre removido se o risco de exposição não for tão elevado como o esperado.
O condutor, antes de entrar na cabine de condução, deve remover todo o EPI
possivelmente contaminado para evitar a contaminação desse compartimento.
2.1.2. Doenças transmissíveis
Os termos doença infeciosa e doença infetocontagiosa são utilizados frequentemente mas,
relativamente a este último, a definição não é consensual. Uma definição possível considera
como doença infetocontagiosa toda a doença infecciosa que se transmite facilmente de pessoa
para pessoa, através dos contactos normais do dia-a-dia (a gripe, por exemplo), deixando fora
desta classificação doenças com outras vias de transmissão específicas (como a via
parentérica ou a via sexual).
Para efeitos deste manual vai ser utilizada a designação “doença transmissível” com a seguinte
definição: doença devida a um agente infecioso (ou parasitário) específico ou aos seus
produtos tóxicos, devida à transmissão desse agente ou dos seus produtos, de uma pessoa,
um animal ou outro reservatório infetado para um hospedeiro suscetível.
Existem três doenças transmissíveis cujo risco de exposição é particularmente elevado no
contexto de emergência médica pré-hospitalar:
Hepatite B (VHB);
Hepatite C (VHC);
Infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).
Hepatite B
Devido ao contacto frequente com sangue e agulhas, os profissionais de saúde, incluindo os
TAE, estão especialmente sujeitos ao contágio da Hepatite B. No entanto, trata-se de uma
hepatite para a qual existe uma vacina efetiva.
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A hepatite B é a causa mais frequente de hepatite crónica, cirrose e cancro do fígado. De
acordo com a Occupational Safety Health Administration (OSHA) até 1992, cerca de 800
profissionais de saúde adquiriram esta doença em contexto ocupacional, mas devido aos
amplos programas de vacinação estes valores diminuíram cerca de 90 %.
É transmitida pelo sangue e outros fluidos orgânicos, assim como pelo contacto com material
contaminado até 7 dias, nas zonas em que existam portas de entrada (feridas com
descontinuidade na pele).
Há uma percentagem estimada entre 6 e 30 % de probabilidade do profissional de saúde
contrair a doença caso não esteja vacinado ou se não desenvolver a resposta de imunização
adequada após a vacina.
Hepatite C
Até 1992, a causa principal da hepatite C estava associada às transfusões de sangue.
Adicionalmente, o contágio da doença também aparecia associado à partilha de agulhas
endovenosas, contacto sexual, tatuagens e colocação de piercings.
A probabilidade de contrair hepatite C após um contacto único com uma agulha infetada é de
aproximadamente 1,8 %. Porém, este risco pode ser reduzido pelo uso de sistemas de
segurança das agulhas – agulhas autorretrateis.
A falência renal e cirrose ocorrem em 10 a 20 % dos doentes com hepatite C crónica e
atualmente não existe vacina disponível.
Existe tratamento disponível para as pessoas que contraem a doença e que geralmente
combina antirretrovirais com um interferão de longa ação (proteína produzida no organismo
para defender de agentes externos como vírus, bactérias e células tumorais).
Até ao momento são conhecidas cinco infeções víricas que envolvem o fígado –
Hepatites A, B, C, D e E. As hepatites A e E geralmente são transmitidas pelo contacto
com fezes contaminadas e não através do sangue. A hepatite D é rara em Portugal e é
transmitida apenas a doentes que já estejam contaminados com hepatite B ou numa
transmissão em simultâneo com esta – coinfeção. As relações sexuais e o contacto
com sangue infetado são os dois meios mais habituais de transmissão.
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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Infeção por VIH
Esta infeção é causada pelo VIH, ou HIV em inglês, sendo este o responsável pela Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida – SIDA.
Os doentes com VIH desenvolvem uma deficiência no seu sistema imunitário, aumentando a
predisposição para uma variedade de infeções pouco usuais. Podem apresentar um largo
espetro de manifestações ou podem permanecer assintomáticos. No entanto, qualquer doente
que seja portador do VIH, quer manifeste sintomas de SIDA ou não, pode transmitir o vírus.
À luz do conhecimento atual, este é transmitido da mesma forma que a hepatite B mas só o
sangue está implicado na transmissão do vírus em contexto laboral, uma vez que os outros
fluidos orgânicos não transportam uma quantidade suficiente de partículas víricas para
transmitir a doença. O sémen e as secreções vaginais são transmissores da doença apenas no
contacto sexual. Não há evidência que sugira a transmissão por contacto ocasional.
A transmissão para os profissionais de saúde apenas está documentada em casos de
exposição parentérica, exposição das membranas mucosas ou feridas abertas a grandes
quantidades de sangue infetado. Os registos de exposição ocupacional são de 0,3 % nos
casos de picada com agulha e de 0,09 % no caso de exposição das membranas mucosas
(ITLS, 2008).
O VIH é diferente do vírus da hepatite B em dois aspetos:
Não sobrevive fora do corpo, pelo que não são necessários produtos de limpeza
especiais;
É transmitido de forma muito menos efetiva.
A cura ainda não existe e, atualmente, não existe nenhuma vacina eficaz, apesar das terapias
antirretrovirais mostrarem um prolongamento da vida dos doentes com VIH/SIDA. Alguns
estudos têm sugerido que os antirretrovirais, se forem imediatamente administrados após uma
significativa exposição a sangue infetado, reduzem o risco de transmissão aos profissionais de
saúde. A decisão para administrar esta medicação deve ser baseada na natureza da
exposição, na probabilidade do doente estar infetado com VIH e no tempo decorrido após a
exposição. Em geral, as exposições com agulhas ocas são mais significativas.
Apesar da bibliografia mais recente referir apenas as três doenças anteriormente descritas
como as de maior risco para o contexto profissional do TAE, a tuberculose pulmonar e a
meningite também são doenças transmissíveis para a qual é necessário estar alerta.
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Tuberculose pulmonar (TP)
Numa perspetiva global, a TP continua a ser a doença transmissível mais mortal com 8 milhões
de novas infeções por ano e 3 milhões de mortes (Organização Mundial da Saúde, 2010). É
causada por uma bactéria, Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch, propagada através
do ar de uma pessoa infetada para uma pessoa com predisposição, especialmente através da
tosse ou espirros.
Ainda que se desconheça a sua incidência específica no contexto dos profissionais de EMPH,
o contágio a nível hospitalar é bastante elevado.
Para além de todas as vítimas imunodeprimidas (vulneráveis a qualquer tipo de infeção), as
que apresentam maior risco de contração da doença residem normalmente em lares ou em
instituições de solidariedade. As vítimas imunodeprimidas mais frequentemente infetadas são
as portadoras do VIH, as transplantadas e os doentes com cancro a efetuar quimioterapia.
Apresentam ainda especial risco os alcoólicos, as pessoas que habitem em locais pouco
salubres e com défice de cuidados de saúde e ainda os imigrantes de áreas com prevalência
de TP, nomeadamente Ásia, alguns países de África e Ex-União Soviética.
Atualmente, em Portugal, a região com maior prevalência de TP é o Porto, seguido de Lisboa,
Beja, Faro e Setúbal. (Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, 2012).
As manifestações da doença tornam-se visíveis assim que o sistema imunitário falha e deixa
de manter a bactéria “controlada”. Inicialmente a bactéria infeta os pulmões mas pode alastrar-
se para outras áreas do corpo, particularmente para os rins, para a medula ou para o cérebro.
Estes casos são designados por “extra pulmonares” e não são transmissíveis ao prestador de
cuidados. O tratamento inclui a toma de antibióticos.
Os sinais e sintomas habituais da TP ativa constam do quadro seguinte.
Quadro 2 – Sinais e sintomas de TP
Sinais e sintomas de TP
Tosse ao longo de 3 semanas em conjunto com
2 ou mais dos seguintes sinais e sintomas
Expetoração com sangue
Astenia
Dor no peito
Perda de peso inexplicável
Perda de apetite
Febre
Arrepios
Suores noturnos
Rouquidão
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Meningite
Ocasionalmente, os TAE transportam vítimas que, posteriormente, vêm a saber tratar-se de
casos de meningite. Tal como a TP, é uma doença que não está documentada como uma
doença de risco específico para as tripulações das ambulâncias mas que já tem implicado a
toma de medicação profilática por estes profissionais após o contacto com vítimas infetadas.
A meningite é uma reação inflamatória das membranas (meninges) que revestem o encéfalo e
a medula espinhal causada por vírus, bactérias, outros micro-organismos e, mais raramente,
por drogas. Algumas destas causas podem ser prevenidas através de vacinação.
Dada a proximidade de órgãos nobres do sistema nervoso central (SNC), a meningite é uma
situação que coloca a vida da vítima em risco. A meningite bacteriana é a mais grave e exige
um tratamento específico. A principal forma de contágio é através da projeção de gotículas de
saliva ao tossir, espirrar ou falar. É menos transmissível que uma gripe e exige um contacto
relativamente prolongado. A meningite viral tende a ser uma infeção auto-limitada, menos
grave, não é tão contagiosa e afeta sobretudo os indivíduos imunodeprimidos.
Os sinais e sintomas habituais de meningite constam do quadro seguinte.
Quadro 3 – Sinais e sintomas de meningite
Sinais e sintomas de meningite
Cefaleias intensas, febre e rigidez da nuca
para além dos seguintes sinais e sintomas
Alteração do estado de consciência
Vómitos
Perda de apetite
Fotofobia
Fonofobia
Rash cutâneo/ petéquias (se a causa for a
bactéria meningococos)
Para o TAE, os procedimentos em termos de precauções universais perante uma suspeita de
meningite, são os mesmos que para qualquer vítima com tosse e febre – colocação de
máscara de proteção facial na vítima e colocação de máscara de proteção respiratória na
tripulação. O uso de luvas e a lavagem das mãos são igualmente obrigatórios.
Se o diagnóstico de meningite se vier a confirmar a nível hospitalar, é possível que seja
notificado nas 24 horas seguintes para fazer terapêutica profilática com antibióticos, embora
estas decisões dependam sempre de normas definidas em cada serviço hospitalar.
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2.1.3. Lavagem das mãos
Outra precaução básica para o controlo de infeções é a lavagem das mãos, que deve fazer
após cada ocorrência, quer tenha usado luvas ou não. A lavagem, além da ação mecânica,
envolve o uso de água e sabão durante 40 a 60 segundos, de acordo com a imagem seguinte:
Figura 11 – Sequência da lavagem das mãos
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Após a lavagem, as mãos devem ser desinfetadas com uma solução à base de álcool,
a qual também deve ser usada sempre que não exista água e sabão.
2.1.4. Imunização
Os profissionais de saúde têm que cumprir o plano nacional de vacinação, tendo atenção
especial às seguintes imunizações:
Tetano / difteria / Tosse convulsa (DTP) – de 10 em 10 anos;
Sarampo / Parotidite epidémica / Rubéola (VASPR);
Gripe – anual;
Hepatite B (VHB);
Varicela – se nunca tiver tido a doença;
Ocasionalmente, serviços competentes como a Direção Geral de Saúde, podem
recomendar imunizações específicas (por exemplo, a vacina contra a Gripe A).
Em resumo, relativamente às precauções universais considere o seguinte:
Esteja familiarizado com as doenças transmissíveis, nomeadamente a Hepatite B,
Hepatite C e a infeção por VIH. Conheça as etiologias, os sinais e sintomas, as vias de
transmissão e a epidemiologia;
Considere também a TP e a meningite como doenças transmissíveis com as quais pode
ter que lidar no contexto pré-hospitalar e que também exigem proteção acrescida;
Se tiver uma lesão aberta na pele, tome precauções especiais para mantê-la tapada,
colocando, por exemplo, uma ligadura ou um penso durante o período de trabalho. Se
não o puder fazer, é preferível não efetuar serviço de ambulância;
Proceda à lavagem regular das mãos antes e depois do contacto com a vítima;
Em caso de contacto com sangue ou outros fluidos orgânicos proceda à lavagem logo
que possível. As soluções alcoólicas são geralmente a melhor opção caso se encontre
na rua ou na ambulância;
Mantenha-se imunizado relativamente ao vírus da Hepatite B;
Reporte imediatamente ao CODU e no SU qualquer exposição com risco de
transmissão de doença infeciosa.
Todos os fluidos orgânicos, não somente o sangue, são potenciais agentes de infeção.
As precauções universais devem ser adotadas com todas as vítimas,
independentemente de se tratar de uma situação de doença súbita ou de trauma.
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Existem diversos fatores de risco associados à infeção por doenças transmissíveis
específicas, como partilha de seringas contaminadas, transfusão de sangue
contaminado, relações sexuais, consumo de drogas por via endovenosa, doentes a
realizar tratamento de hemodiálise, entre outros. Contudo, em ambiente pré-hospitalar
são sempre adotadas as precauções de forma universal (para todas as vítimas) pois,
até prova em contrário, estão infetadas.
No caso de se aperceber de um novo fator de risco ao longo da abordagem e avaliação
da vítima não hesite em acrescentar, nessa altura, o EPI adequado. Da mesma forma,
substitua o EPI a qualquer momento, caso este fique danificado ou deixe de ser eficaz.
Imunização, uso de equipamento de proteção individual, procedimentos assépticos e
lavagem frequente das mãos, são as principais medidas que contribuem para reduzir o
risco de infeção por doenças transmissíveis.
2.2. Avaliar e garantir as condições de segurança
Avaliar e garantir as condições de segurança é um conceito que o vai acompanhar ao longo de
toda a formação e vida profissional enquanto TAE. Se as condições de segurança no local da
ocorrência não estiverem garantidas, não há condições para prestar socorro. No limite, pode
tornar-se também uma vítima adicional à(s) já existente(s), o que implica o recurso a meios
adicionais de socorro.
A atividade profissional do TAE passa por responder a situações de emergência na via pública
e em locais pouco controlados. Este facto pode conduzi-lo a grandes desafios que
ocasionalmente o colocam em situações potencialmente perigosas. Há uma grande
diversidade de fatores de risco que podem incluir agressões, pisos escorregadios, veículos
deformados com superfícies cortantes, matérias perigosas, entre outros.
A avaliação das condições de segurança é um processo contínuo durante toda a ocorrência.
Um simples objeto que aparentemente não parece perigoso, como um abre cartas ou uma
simples faca de cozinha pode tornar-se numa arma nas mãos de uma vítima ou familiar
agressivo. Só porque não está num local de crime violento não significa que não existam
armas, como pistolas ou facas, que podem estar guardadas, por exemplo, numa mesinha de
cabeceira ou no porta-luvas de um carro.
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Contudo, há uma conceção errada de que as agressões aos profissionais de EMPH ocorrem,
sobretudo, em ocorrências que envolvem armas. Seja especialmente cauteloso nas
ocorrências que envolvem consumo de drogas como cocaína ou anfetaminas e nas
intoxicações alcoólicas, pois estas vítimas encontram-se muitas vezes agressivas e violentas.
Os atos mais violentos ocorrem em situações com mudanças rápidas de comportamento que
tipicamente envolvem álcool, drogas, ou distúrbios comportamentais por parte das vítimas por
parte de terceiros.
Deve considerar sempre e em primeiro lugar a sua segurança e a segurança dos membros da
sua equipa, seguida da segurança da própria vítima e de terceiros. Coloque esta pergunta a si
mesmo: O local de ocorrência é seguro? Se sim, prossiga com a abordagem e avaliação da
vítima. Se a resposta for não ou existirem dúvidas, a primeira prioridade é criar condições de
segurança antes de qualquer outro procedimento. Recursos adicionais de socorro ou
autoridade policial podem ser necessários.
A chave para o controlo e prevenção dos riscos associados é a cuidada observação
do local da ocorrência e a adoção de estratégias que reduzam esses mesmos riscos.
Deve, por isso, procurar resistir à tentação de uma intervenção imediata sem garantir
primeiro a sua própria segurança, a segurança da sua equipa, da vítima e de terceiros.
Muitas vezes não é possível intervir até que sejam adotadas medidas que lhe garantam
que está seguro.
Alguns exemplos dos fatores de risco que deve considerar na avaliação das condições de
segurança incluem:
Exposição a fluidos orgânicos;
Existência de potenciais agressores, ambientes hostis e vítimas agressivas;
Existência de animais que possam causar ferimentos;
Pisos instáveis ou escorregadios;
Atmosferas contaminadas, explosivas ou pobres em oxigénio;
Circulação de veículos próxima ao local onde está a prestar socorro;
Queda de linhas de alta tensão ou outras situações que envolvam corrente elétrica;
Instabilidade do veículo acidentado em que é necessário entrar para prestar socorro
e/ou superfícies cortantes/perfurantes;
Instabilidade de estruturas adjacentes, risco de derrocada, explosão ou incêndio;
Substâncias químicas perigosas.
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Figura 12 – Exemplo de uma situação de risco para o TAE
Na figura anterior é possível observar uma TAE dentro de um veículo capotado, durante
operações de desencarceramento. Está exposto a riscos acrescidos atendendo, sobretudo, ao
facto de este não estar a usar EPI adequado como o capacete e o casaco de manga comprida,
idealmente resistente ao corte e à abrasão de acordo com as normas europeias (EN).
Como já referido, nunca deve intervir numa ocorrência cujas condições de segurança não
estejam garantidas. Perante um local inseguro, a primeira medida é criar as necessárias
condições de segurança o que implica, entre outras, as seguintes ações:
Estabelecer um perímetro de segurança, sinalizar e impedir a aproximação de pessoas
nos casos em que é necessário aguardar por outros meios de socorro para iniciar a
aproximação ao local;
Não entrar nem permitir a entrada de populares em locais fechados e mal ventilados,
com cheiros intensos ou fumos;
Estacionar a ambulância numa posição defensiva, com balizadores e rotativos ligados,
sempre que exista risco de atropelamento ou a intervenção ocorra na via pública. Se a
ambulância for o primeiro meio a chegar ao local, deve parar cerca de 30 metros antes
do local do acidente (vias de circulação rápida) e estacionar de forma a que a frente da
mesma não fique parada na direção do local onde a equipa vai prestar socorro: sempre
que possível, a porta de acesso lateral deve ficar virada para o local do acidente para
evitar circular pela parte de trás da ambulância enquanto o trânsito não for interrompido;
Através do CODU, notificar a autoridade policial sempre que existam questões de
ordem pública, necessidade de intervenção ao nível do tráfego ou risco de agressão;
Em vias de circulação, sinalizar devidamente o local com cones de sinalização e usar
vestuário com faixas refletoras;
Usar o capacete sempre que entrar em veículos acidentados, estiver perto de estruturas
instáveis ou existir o risco de projeção ou queda de materiais;
Se durante a prestação de socorro se iniciar um tiroteio, houver uma explosão ou
projeções de qualquer natureza, a equipa deve procurar imediatamente proteção em
locais seguros e suficientemente resistentes em relação ao risco;
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Departamento de Formação em Emergência Médica
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Se a vítima estiver em contacto com substâncias químicas, deve proceder à sua
identificação e atuar de acordo com indicações do CODU – CIAV ou, se disponível, a
ficha de dados de segurança e aguardar pela chegada dos bombeiros, se for o caso;
Através do CODU, notificar os bombeiros para a necessidade de operações da sua
responsabilidade como a existência de substâncias químicas perigosas não
controladas, necessidade de desencarceramento, operações de combate a incêndios,
resgate em espaços confinados ou outros locais de acesso perigoso, necessidade de
entrada em atmosferas contaminadas, explosivas ou pobres em oxigénio, estabilização
de estruturas, entre outras;
Em ocorrências que envolvam corrente elétrica, intervir apenas após ter a garantia de
que esta está desligada e, no caso de se tratar de média ou alta tensão, intervir apenas
após indicação técnica especializada – risco de arco elétrico;
Abandonar o local da ocorrência sempre que existam fatores de risco para a equipa que
não possam ser evitados ou controlados.
Pequenos sinais de risco podem não ser imediatamente reconhecidos ou evitados
devido à tendência de estar mais concentrado na avaliação e prestação de cuidados à
vítima do que na sua própria segurança.
A avaliação das condições de segurança durante toda ocorrência é uma das ações
mais importantes das equipas de EMPH para salvaguardarem a sua integridade física.
Tal como a avaliação da vítima, é um processo dinâmico efetuado várias vezes
enquanto permanece no local.
2.3. Mecanismo de lesão / natureza da doença
Depois de garantidos todos os passos que proporcionam condições de segurança, está agora
em condições de iniciar as avaliações que vão influenciar a prestação de cuidados à vítima.
Este momento da intervenção – determinação do mecanismo de lesão / natureza da doença –
é extremamente importante e pode ser efetuado em apenas alguns segundos após visualizar o
local da ocorrência e/ou a vítima. Não precisa visualizar a vítima para suspeitar de lesões
importantes se, por exemplo, estiver perante um veículo com o habitáculo totalmente
deformado após uma colisão. Da mesma forma, se encontra no local uma vítima inconsciente
para a qual foi acionado por obstrução da via aérea, vai suspeitar de uma situação grave.
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O mecanismo de lesão ajuda a determinar as lesões decorrentes de um evento traumático com
base na energia envolvida e a natureza da doença diz respeito à doença genérica pela qual a
vítima chamou a ambulância e está normalmente relacionada com a queixa principal da vítima.
As testemunhas, cuidadores, vizinhos e o ambiente em que a vítima se encontra, podem
fornecer algumas pistas do que se passa. Todavia, se a vítima estiver consciente, orientada e
colaborante, habitualmente esta é a melhor fonte de informação para determinar a natureza da
doença ou o mecanismo de lesão.
O TAE pode ser a única pessoa apta a prestar informações relacionadas com o
mecanismo de lesão/natureza da doença aos profissionais que vão receber a vítima no
SU e continuar a prestação de cuidados.
Considere os dois exemplos seguintes:
É acionado para a colisão de um veículo ligeiro. No local, encontra o veículo com
deformações que sugerem que capotou mais do que uma vez. No seu interior não
encontra ninguém mas do outro lado da via, a cerca de 6 metros do veículo, está uma
vítima caída em posição ventral e que aparentemente não se mexe;
É acionado para a colisão de um veículo ligeiro. No local, encontra uma marca de
travagem na estrada com cerca de dois metros e um veículo com a frente ligeiramente
deformada, após colidir na traseira de outro. Ambos os condutores se encontram no
exterior a avaliar os estragos dos veículos referindo “Estamos bem, foi só um toque”.
A diferença entre estes exemplos é óbvia. No primeiro caso a energia envolvida no acidente é
enorme, pelo que deve considerar o mecanismo de lesão muito significativo, conduzindo-o
imediatamente à suspeita de lesões graves. No segundo caso, o veículo apresenta apenas
uma deformação ligeira. A energia envolvida aparentemente é bastante menor que no primeiro
exemplo e ambos os condutores não referem queixas.
Uma vítima sujeita a um mecanismo de lesão significativo deve ser abordada como
vítima crítica, mesmo que não apresente lesões aparentemente graves. No entanto,
perante um mecanismo de lesão que não pareça significativo não há garantia de que
não existam lesões importantes.
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Figura 13 – Exemplo de um mecanismo de lesão significativo
As seguintes situações são exemplos de mecanismos de lesão potencialmente letais:
• Qualquer mecanismo que produza um impacto violento na cabeça, no pescoço, no
tronco ou na pélvis – agressão, soterramento, atropelamento, entre outros;
• Qualquer colisão a alta velocidade;
• Acidentes que produzam aceleração ou desaceleração súbita ou força de inclinação
lateral no pescoço ou tronco – colisões de veículos em velocidades moderada ou alta,
capotamento em que há projeção da vítima, envolvimento em explosões, entre outros;
• Morte de um ocupante do mesmo compartimento do veículo onde se encontra a vítima;
• Queda de altura 3 vezes superior à da vítima (adulta), qualquer que seja a parte do
corpo afetada;
• Projeção ou queda a partir de qualquer meio de transporte motorizado ou de propulsão
– skate, bicicleta, veículos motorizados, entre outros;
• Mergulho em águas rasas – risco elevado de lesão cervical;
• Qualquer queda que provoque um impacto na cabeça nos idosos;
• Em pediatria, os mecanismos de lesão que podem indicar gravidade incluem quedas
superiores a 3 metros, colisões de bicicleta e atropelamentos.
A associação de dois ou mais dos mecanismos referidos comprometem a probabilidade de
sobrevivência da vítima de forma significativa.
Nas situações descritas, deve equacionar o pedido de apoio de suporte avançado de
vida (SAV) e permanecer no local da ocorrência apenas para a realização de
procedimentos que não possam ser feitos a caminho do SU.
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Os quadros seguintes expôem um resumo dos vários mecanismos de lesão.
Quadro 4 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes em acidentes com veículos
Mecanismo de
lesão em acidentes
com veículos
Fatores a considerar na
abordagem e avaliação da vítima
Lesões mais espectáveis
Impacto frontal
Para-brisas partido e marca de “olho-
de-boi”
Traumatismo crânio-encefálico (TCE)
Traumatismo vertebro-medular (TVM) a
nível cervical
Deformação do volante
Uso do cinto de segurança
Pneumotórax/Hemotórax
Tamponamento cardíaco
Fratura de costelas e/ou esterno
Lesões dos tecidos moles
Impacto frontal
Deformação ou marca por baixo do
volante ou na zona do “porta-luvas”
Projeção dos ocupantes do banco
traseiro contra os ocupantes dos
bancos da frente
Lesão do fígado e/ou baço
Fratura pélvica
Fratura ou luxação do fémur
Luxação do joelho
TCE
TVM
Impacto traseiro
Encosto de cabeça mal ajustado
(demasiado baixo)
Aceleração-desaceleração e efeito
chicote
Cinto de segurança não colocado
TVM a nível cervical
Impacto lateral
Deformação e/ou intrusão do
habitáculo do veículo
Projeção de um passageiro contra o
outro
Invasão das estruturas do veículo
TCE
TVM a nível cervical
Fratura da clavícula do lado do impacto
Fratura de costelas e/ou contusão
pulmonar
Lesão do baço (impacto do lado
esquerdo)
Lesão do fígado (impacto do lado
direito)
Fratura pélvica
Fratura do fémur
Capotamento
Veículo com ou sem pilares
reforçados (veículos mais antigos não
têm pilares reforçados)
Uso do cinto de segurança
Projeção
Lesões por projeção de passageiros
ou objetos soltos no interior do veículo
TCE
TVM, especialmente se houver
projeção
Esmagamento das extremidades
Laceração de vasos sanguíneos e
órgãos pelo movimento centrífugo
Projeção
Exposto a todos os mecanismos de
lesão com alto nível de mortalidade,
principalmente por TVM e/ou TCE
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Quadro 5 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes
Mecanismo de
lesão
Fatores a considerar na
abordagem e avaliação da vítima
Lesões mais espectáveis
Acidente com
máquinas
agrícolas
Queda da máquina sobre a vítima TCE
TVM
Traumatismo torácico e/ou pélvico-abdominal
Esmagamento
Amputação
Acidente com
veículo de
duas rodas
Velocidade de circulação
Danos no veículo
Distância entre a vítima e o ponto de
colisão
TCE
TVM
Traumatismo torácico e/ou pélvico-abdominal
Traumatismos músculo-esqueléticos
Atropelamento
Velocidade de circulação do veículo
Superfície do veículo que colide com a
vítima
Parte do corpo atingida
Distância de projeção
Forma da superfície de impacto final
Parte do corpo que embate na
superfície de impacto final
TCE
TVM
Traumatismo torácico e/ou pélvico-abdominal
Traumatismos músculo-esqueléticos
Queda
Altura da queda
Posição da vítima no momento do
impacto
Superfície de impacto
Queda de pés:
o Fratura dos calcâneos
o Fratura do fémur
o Fratura pélvica
o TVM
o Laceração fígado, baço ou vasos
sanguíneos
Queda de mãos:
o Fratura bilateral dos punhos
Queda de cabeça:
o TCE
o TVM
Queda lateral:
o TCE
o TVM
o Traumatismos torácicos
o Fratura pélvica
Acidentes em
atividades
desportivas
Uso de equipamento de proteção
Velocidade
Movimentos ocorridos
TCE
TVM
Traumatismos músculo-esqueléticos
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Quadro 6 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes nas agressões com armas
Mecanismo de
lesão
Fatores a considerar na
abordagem e avaliação da vítima
Lesões mais espectáveis
Lesões por
arma branca
perfurante/
cortante (faca)
Local atingido
Comprimento da lâmina
Tipo de lâmina
Energia aplicada
Movimentos da lâmina depois de
perfurar
Depende dos vários fatores
Lesões por
arma de fogo
Energia da arma
Trajetória
Local atingido
Tipo de projétil
Calibre da munição
Distância do disparo
Depende dos vários fatores
Tecidos mais densos sofrem habitualmente
maior destruição em redor da cavidade
realizada pelo projétil
Quadro 7 – Resumo de mecanismos de lesão frequentes nas explosões
Mecanismo de
lesão
Fatores a considerar na
abordagem e avaliação da vítima
Lesões mais espectáveis
Explosão
Fase primária – onda de pressão Lesão dos órgãos ocos que contêm gás
como o tímpano, os pulmões e os intestinos
Hemorragia pulmonar, pneumotórax, embolia
gasosa e perfuração do tubo digestivo
Laceração de vasos sanguíneos
Lesões no SNC
Fase secundária – projeção de
fragmentos e estilhaços
Lesões penetrantes
Lesões oculares
Fase terciária – projeção da vítima ou
queda de estruturas
TCE
TVM
Fase quaternária – calor e gases Queimaduras
Lesões por inalação
Asfixia
Fase quintenária (nas dirty bombs e
homens-bomba) – bactérias, radiações,
substâncias químicas e ossos humanos
Depende dos vários fatores
Patologias relacionadas com os agentes
químicos
Processos infeciosos e transmissão de
doenças causadas por agentes patogénicos
dos ossos humanos dos homens-bomba
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2.4. Determinar o número de vítimas
Em algumas situações pode existir mais do que uma vítima – ocorrência multivítimas. Sempre
que existe um desequilíbrio entre a capacidade de resposta dos meios de socorro mobilizados
e o número de vítimas ou a especificidade da ocorrênca, designa-se Situação de Exceção.
É mais comum haver várias vítimas nas ocorrências de trauma, mas não é impossível existirem
várias vítimas numa ocorrência de causas não traumáticas. Imagine que é acionado para uma
vítima com astenia, cefaleias, zumbidos e náuseas. No local, repara que existem mais seis
vítimas com os mesmos sinais e sintomas, algumas mais queixosas do que outras. Reconhece
sinais de intoxicação por monóxido de carbono e terá de prestar socorro a todas elas.
A exaustão pelo calor em locais quentes e húmidos, as intoxicações alimentares e as
intoxicações por gases tóxicos e/ou asfixiantes, também são exemplos de ocorrências
multivítimas por causas não traumáticas.
Habitualmente, irá precisar de uma ambulância por cada vítima crítica e cabe ao primeiro meio
que chega ao local iniciar a triagem primária, de acordo com Algoritmo de Triagem do Adulto
ou Algoritmo de Triagem da Vítima Pediátrica.
Numa ocorrência multivítimas a função da equipa do primeiro meio de socorro que
chega ao local é realizar a triagem de todas as vítimas para que os restantes meios de
socorro possam iniciar de imediato a prestação de cuidados de emergência às vítimas
mais críticas. Se pertencer à primeira equipa de socorro que chega a uma ocorrência
multivítimas não inicie a prestação de cuidados de emergência até efetuar a triagem
primária de todas as vítimas.
Os únicos cuidados de emergência que devem ser realizados durante a triagem
primária são a permeabilização da via aérea, recorrendo a adjuvantes básicos ou
colocando a vítima em posição lateral de segurança, e o controlo de hemorragias
major com o rápido recurso a pensos compressivos ou garrotes.
Não se esqueça também que, estando a vítima inconsciente ou desorientada e não havendo
testemunhas do que aconteceu, deverá ser colocada a hipótese de existirem outras vítimas, o
que pode levar também ao pedido de recursos adicionais. São exemplos os acidentes de
viação durante a noite em que houve projeção dos ocupantes, acidentes com motociclos em
que as vítimas podem ser projetadas em momentos diferentes (por consequência a distâncias
diferentes), os incêndios em habitações e outros espaços fechados.
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2.5. Considerar meios de socorro adicionais
A necessidade de meios de socorro adicionais varia em função do número de vítimas, das
condições de segurança no local da ocorrência e ocorrências que requerem meios de socorro
para além dos meios inicialmente ativados, não só pela quantidade mas também pela
especificidade.
São exemplo de meios de socorro adicionais:
Motociclo de Emergência Médica (MEM);
Ambulâncias;
Bombeiros;
Autoridade policial;
Autoridades técnicas específicas (eletricidade, gás, águas, concessionárias de auto
estradas, entre outros);
Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER);
Helicóptero de Emergência Médica (HEM);
Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC) / Posto Médico Avançado (PMA);
Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE).
Não hesite em pedir recursos adicionais se estes forem necessários para uma efetiva
prestação de socorro ou para garantirem a sua própria segurança.
O pedido de meios de socorro adicionais pode ocorrer em dois momentos diferentes:
Assim que chegar ao local em situações óbvias como a queda de um poste de alta
tensão, veículo caído numa encosta, a existência de um incêndio, agressões em
curso ou trânsito a circular junto ao local de um acidente de viação;
Em qualquer momento da avaliação da vítima, ou seja, assim que identifica sinais
de gravidade e se apercebe que a sua intervenção não permite a adequada
resolução dos problemas encontrados ou não lhe é permitido intervir em segurança.
Deve ainda solicitar ajuda sempre que for necessário efetuar um esforço físico significativo ou
alguma tarefa que possa superar as suas capacidades físicas como, por exemplo, mover uma
vítima obesa ou efetuar a extração de um local de difícil acesso.
As lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho (LMERT) são provavelmente a
maior causa de absentismo laboral nesta classe profissional e podem ser responsáveis pelo fim
da atividade laboral em EMPH.
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3. Avaliação e estabilização inicial da vítima
A avaliação e estabilização inicial da vítima, também designada por avaliação primária, destina-
se a identificar e corrigir (estabilizar) as situações com compromisso imediato de vida.
Nos primeiros 60 a 90 segundos em que olha, fala e toca na vítima deve ser capaz de obter
uma impressão geral, avaliar o seu estado de consciência, identificar e estabilizar problemas
relacionados com a via aérea, ventilação e circulação (ABC – airway, breathing and circulation).
Nas situações de trauma, deve ainda decidir se é ou não necessário estabilizar de imediato a
cabeça, com base no que já sabe do local da ocorrência (incluindo o mecanismo de lesão) e na
impressão geral da vítima.
No final da avaliação e estabilização inicial da vítima, estará em condições de definir o
estado de gravidade, reconhecer a necessidade de pedir apoio de SAV e tomar uma
decisão em relação ao início do transporte.
Toda esta fase da avaliação é feita sem recurso a equipamentos de monitorização. Estes
apenas devem ser usados na avaliação secundária e na reavaliação durante o transporte.
Para que os objetivos referidos sejam alcançados com sucesso e num curto espaço de tempo,
é importante que desde o início “tome conta da ocorrência” demonstrando, não só perante a
vítima mas também perante os familiares, as testemunhas e outros profissionais presentes,
uma atitude calma e segura, empatia, competência e confidencialidade.
Adote também uma postura que reduza, tanto quanto possível, a ansiedade da vítima. Pode
fazê-lo apresentando-se, mudando-a de ambiente, usando técnicas de comunicação, sendo
cortês e tocando-lhe apropriadamente. Por exemplo, se conseguir reduzir a ansiedade numa
vítima de enfarte agudo do miocárdio está a reduzir o trabalho do músculo cardíaco e as
necessidades de aporte de oxigénio. Ambas as situações limitam a extensão da lesão.
Poderá ser necessário desligar uma televisão ou rádio, retirar crianças da divisão onde a vítima
se encontra ou pedir a alguém que prenda um animal noutra divisão para maior segurança e
reduzir distrações. Faça-o sempre de uma forma calma e com o menor confronto possível.
Obtenha informações junto das pessoas que prestaram os primeiros socorros – familiares,
testemunhas, entre outras. Se a vítima estiver consciente, colaborante e orientada, terá a
oportunidade imediata de lhe colocar a questão, após apresentar-se, “o que aconteceu, porque
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chamou a ambulância?”. Contudo, se a vítima apresentar AEC, terá que iniciar de imediato os
cuidados de emergência enquanto o seu colega recolhe informações.
Tenha sempre presente que se não assumir a liderança alguém o vai fazer, quer seja um
agente da autoridade, outro profissional de saúde, um familiar ou mesmo a própria vítima.
3.1. Obter uma impressão geral do estado da vítima
Qualquer um de nós, de forma intencional ou não, faz observações acerca da aparência de
alguém durante os primeiros segundos, após o primeiro contacto. Observamos se é homem ou
mulher, que idade aparenta, se a pessoa está sentada ou em pé, se é obesa ou magra, como
está vestida, que tipo de comportamento apresenta, entre outros aspetos.
Quando avaliamos uma vítima devemos fazer observações similares mas de forma mais
consciente, objetiva e sistemática. Procuram-se informações como o género, a idade, a
aparência, a postura, as lesões evidentes, os odores, a coloração da pele, o estado da roupa, o
ambiente envolvente, a queixa principal e pistas específicas que nos conduzam à determinação
da gravidade da situação como uma obstrução da via aérea ou uma hemorragia grave.
Por exemplo, a existência de garrafas de oxigénio na casa para onde é chamado a prestar
socorro, usualmente, indica uma patologia respiratória. Uma cama articulada pode levar à
suspeita de que existe uma condição de saúde crónica. O facto de uma vítima estar imóvel em
decúbito dorsal, após ter sido agredida, pode indicar a existência de uma lesão grave.
Basicamente procuramos responder às seguintes questões: “Esta pessoa está
verdadeiramente doente?”. Se sim, “qual é a gravidade?”. Na vítima de trauma, as perguntas
são colocadas de forma ligeiramente diferente: ”Esta pessoa está ferida?”. Se sim, “qual é a
gravidade dos ferimentos?”.
Com o tempo e com a experiência, deve ser capaz de responder a ambas as questões numa
janela temporal muito estreita, formando assim a sua impressão geral do estado da vítima.
A impressão geral na criança é obtida através do Triângulo de Avaliação Pediátrica (TAP).
Se durante a impressão geral identificar alguma hemorragia externa major, o controlo
da mesma será o primeiro cuidado de emergência a prestar.