1. Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926, em
Poitiers, na França. Filho, neto e bisneto de médicos, aos
onze anos decidiu que seria professor de história.
Entre os dez e treze anos, viu os refugiados da Guerra Civil
Espanhola e o início da Segunda Guerra Mundial.
Por ser de uma família fortemente católica e de classe
média, enfrentou grandes problemas quando descobriu que
era homossexual.Tentou suicídio por várias vezes até os 20
anos e buscou refúgio no álcool.
Foucault tinha temperamento agressivo e era de difícil
convívio, o que o levou à solidão e consequentemente ao
desenvolvimento de doenças psicóticas que o levou a longos
períodos em sanatórios.
Michel Foucault
2. Nessa época começou seu interesse pela história, quando
inicia a leitura de Hegel, cuja filosofia insistia na coerência e
no sentido da história.De Hegel, Foucault passou para
Heidegger , que encarava a situação do homem como
determinada por elementos mais profundos que a mera
razão.Após Heidegger, a orientação do pensamento de
Foucault passou a ser a crença de que a história não
registrava a verdade do passado, mas revelava a verdade do
presente.
Foucault filiou-se ao Partido Comunista Francês, mas essa
filiação pouco durou, pois se decepcionou com a forma como
o homossexualismo era tratado, com desprezo por esse
grupo; como mera " decadência burguesa".
3. Em 1953, Foucault descobre Nietzsche, que afirmava que " o
homem necessita daquilo que é o mal maior em si próprio
para alcançar o seu melhor". O segredo para se tirar o maior
e o melhor proveito possível da existência é viver
perigosamente. Tal mensagem encaixava-se perfeitamente
no comportamento sadomasoquista de Foucault.
A partir do estudo desse autor, Foucault declarou-se livre
para criar por si mesmo o que desejasse, pois já não se sentia
preso como antes. Assim conformou sua teoria de que a
humanidade somente poderia ser estudada através da análise
histórica de seu desenvolvimento.
A mistura de filosofia nietzchiana, psicologia, história e
prática clínica o conduziu para uma área que ultrapassava
as fronteiras das academias comuns.
4. Aos 33 anos começou a escrever " História da Loucura", sua
tese de doutorado na Sorbonne, que visava registrar uma
mensagem mais nítida do presente que ele chamou
contramemória. Queria demonstrar como até mesmo o
conceito de loucura mudou através dos tempos e o que isso
significava. Desejava descobrir o marco zero em que a
loucura se separava da razão.
Após a morte de seu pai, Foucault conheceu Daniel Defert,
jovem estudante de filosofia e ativista político de esquerda,
com quem teve um conturbado relacionamento amoroso por
quase vinte anos.
Em 1964, aceitou o cargo de professor da Universidade de
Tunis. Realizou cursos na Tunísia ao mesmo tempo em que
foi nomeado professor da Universidade de Nanterre, que seria
uma das trincheiras mais ardentes durante a revolta
estudantil francesa. Foucault participou das últimas
manifestações francesas, antes que o partido de De Gaulle
ganhasse amplamente as eleições convocadas por Pompidou.
5. Poucos dias depois de acabada a revolta, foi convidado para
participar da criação da Universidade de Vincennes.
Foucault só aceitou ajudar a estruturar os departamentos
de psicanálise e de filosofia.
No começo de 1970 Foucault realizou sua primeira viagem
aos Estados Unidos. Em Berkeley, teve experiências com
drogas e práticas sexuais sadomasoquistas. Foucault se
incomodava com a sexualidade vista como objeto de
preocupação moral supervisionada por uma instituição,,ou
um poder regulador.
Foucault começou a enfocar seu trabalho sobre o problema
do poder e da relação entre o saber e poder.
Em 25 de junho de 1984, morre aos 57 anos em função de
complicações provocadas pela AIDS.
6. O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE MICHEL FOUCAULT
O estruturalismo de Foucault consiste essencialmente numa
reação contra o existencialismo.
Para Foucault, a categoria principal não é o ser, mas sim a
relação; não o sujeito, mas a estrutura.,Os homens não tem
significado e não existem fora das relações que os instituem,
os constituem e especificam o seu comportamento, sendo as
formas e não as substâncias.
Segundo Foucault, o poder não é um objeto natural: é uma
prática social e como tal, constituída historicamente. Para
ele, toda teoria é provisória, acidental, dependente de um
estado de desenvolvimento que aceita seus limites, seu
inacabado e sua parcialidade, formulando conceitos que
classificam os dados.
7. Foucault utilizava um tipo de análise que chamou de
descendente, no sentido em que deduziria o poder partindo
do Estado e procurando ver até onde ele se prolonga nos
escalões mais baixos da sociedade e se reproduz em seus
elementos mais distintos.
Em seus livros Vigiar e Punir e A Vontade de Saber discute a
idéia de que o Estado seria o órgão central e único de poder,
ou de que a inegável rede de poderes das sociedades modernas
seria uma extensão dos efeitos do Estado. Analisou o que
chamou de micro-poderes que estão relacionados com saberes
como sexualidade, criminalidade , doença, loucura, etc, e
estudou como esses micro-poderes se relacionam com o nível
mais geral do poder constituído pelo Estado.
8. Em sua análise, os poderes não estão localizados em algum
ponto específico da estrutura social; funcionam como uma
rede de mecanismos a que nada ou a ninguém escapa , e que
não existem fronteiras.
Foucault procura mostrar que as relações de poder não passam
fundamentalmente ao nível do Direito, nem da violência , nem
são basicamente contratuais, nem unicamente
representativas. O que suas análises querem mostrar é que a
dominação capitalista não conseguiria se manter se fosse
exclusivamente baseada na repressão.
O que interessa ao Estado é controlá-los em suas ações para que
seja possível utilizá-los ao máximo, aproveitando suas
potencialidades. Objetivo ao mesmo tempo econômico e
político: torna os homens força de trabalho,dando-lhes
atividade econômica máxima, neutralizando os efeitos do
contra-poder, isto é, tornando-os homens dóceis politicamente.
Foi esse tipo de poder que Foucault chamou de disciplina ou
poder disciplinar.
9. A grande importância estratégica que as relações de poder
disciplinares desempenham nas sociedades modernas depois
do século XIX vem justamente do fato delas não serem
negativas, mas positivas, quando tiramos desses termos
qualquer juízo de valor moral ou político e pensamos
unicamente na tecnologia empregada. É então que surge uma
das teses fundamentais da genealogia: o poder é produtor de
individualidade. O individuo é uma produção do poder e do
saber.
O poder disciplinar não destrói o indivíduo, ao contrário, ele
o fabrica. O indivíduo não é realidade exterior do poder que é
por ele anulado. É um dos seus mais importantes efeitos.
Assim, de acordo com Foucault, " o que faz com que o
poder se mantenha , que seja aceito , é que simplesmente
ele não pesa só com a força que diz não, mas que de fato
ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber,
produz discurso."
10. Com sua proposta de uma história crítica e efetiva, Foucault
cria um método de investigação e produção de conhecimento,
o método genealógico. Uma forma de história que dê conta da
constituição de saberes, discursos, dos domínios de objetos,
sem ter que se referir a um sujeito. Ao descrever seu método,
Foucault expõe aquilo que constitui seu objeto central,
perseguido em toda a sua obra: o saber, o discurso e o poder.
Delineia historicamente como esses campos se constituem,
se transformam na sociedade, nas relações entre
acontecimentos e estrutura.
A historiografia, tal como praticada por Foucault, tem por
tarefa crítica perceber a forma como um pensamento sobre o
sujeito, entendido em sua relação com a verdade, pode ser
elaborado em culturas apartadas por suas diferenças no
tempo.
11. Tais conjecturas fazem de Foucault um escritor, um
pensador, um estudioso, que se transformou num dos
filósofos que mais profundamente refletiu sobre a história, a
sociedade e o homem como objeto deste contexto.
Qualificado como detentor de uma potencialidade
elevadamente reveladora, Foucault propiciou-nos um legado
inestimável e atemporal, consagrado como o poeta do
pensamento e inigualável filósofo de nossos tempos.
A problematização de tal pensamento permite refletir sobre as
formas diferentes de subjetividade do presente, ou seja, manter ,
com outras verdades, relações distintas que dariam condições a
novas experiências históricas. Em poucas palavras, condições para
que o pensamento contemporâneo pudesse ser pensado de
maneira diversa.