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 Michel Foucault (1926-1984)
O percurso intelectual de Michel
Foucault
 As categorias de filósofo ou historiador são, ao mesmo
tempo, bastante imprecisas e por demais limitadas para
caracterizar os trabalhos realizados por Michel Foucault ao
longo de sua vida. Ao percorrer, com suas análises, campos
de conhecimento diversos, ele rompe com as divisões
disciplinares tradicionais, o que faz com que seus trabalhos
tenham ressonância em muitas regiões do conhecimento,
sobretudo nas assim chamadas Ciências Humanas.
Apresentar os contornos mais amplos do percurso
intelectual de Foucault é, conseqüentemente, tarefa árdua,
dada a multiplicidade de áreas e de objetos englobados por
suas pesquisas.
Cronologia dos principais textos
• Doença Mental e Personalidade (1954)
• História da Loucura (1961)
• Nascimento da Clínica (1963)
• As Palavras e as Coisas (1966)
• A Arqueologia do Saber (1969)
• A Ordem do Discurso (1970)
• Teorias e Instituições Penais (1971-1972)
• A Verdade e as Formas Jurídicas (1973)
• A Sociedade Punitiva (1972-1973)
• O Poder Psiquiátrico (1973-1974)
• Os Anormais (1974-1975)
• Vigiar e Punir (1975)
• Em Defesa da Sociedade (1975-1976)
• História da Sexualidade I (1976)
• Segurança, Território, População (1977-1978)
• Nascimento da Biopolítica (1978-1979)
• Do Governo dos Vivos (1979-1980)
• Subjetividade e Verdade (1980-1981)
• A Hermenêutica do Sujeito (1981-1982)
• O Governo de Si e dos Outros (1983)
• A Coragem da Verdade (1984)
• História da Sexualidade II e III (1984)
Arqueologia, Genealogia e Ética
 Geralmente os escritos de Foucault são divididos em
três domínios distintos de análise, a cada um dos quais
se associa um determinado tipo de abordagem. O
primeiro domínio seria o dos sistemas de
conhecimento, abordado a partir de uma arqueologia
do saber. O segundo domínio seria aquele das
modalidades de poder, estudado a partir de uma
genealogia do poder. E o terceiro domínio seria o das
relações do sujeito consigo mesmo, analisado a partir
de uma ética.
Roberto Machado – Por uma
genealogia do poder
 Questão do poder não é o mais velho desafio
formulado pelas análises de Foucault;
 Homogeneidade dos instrumentos metodológicos:
saber, descontinuidades, articulação saberes/espaços
institucionais/estrutura social, crítica da ideia de
progresso em história das ciências etc.;
 Arqueologia: como os saberes apareciam e se
transformavam;
 Genealogia: questão do porquê das transformações;
 Não há uma teoria geral do poder;
 Romper com a relação exclusiva Estado/poder;
 Microfísica do poder: os poderes se exercem em níveis
variados, em pontos diferentes da rede social,
integrados ou não ao Estado;
 Estado não é o órgão central e único do poder;
 Poderes funcionam como redes de dispositivos a que
nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior
possível, limites ou fronteiras;
 Rigorosamente, o poder não existe; existem sim
práticas ou relações de poder;
 Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria
rede do poder; onde há poder, há resistência;
 Busca de uma concepção não-jurídica do poder;
 Relações de poder não se passam nem ao nível do
direito, nem da violência; nem contratuais, nem
repressivas;
 Concepção positiva do poder;
 Questão específica: os poderes disciplinares;
 Disciplina como método que permite o controle
minucioso das operações do corpo, docilidade-
utilidade;
 “Fabrica” o tipo de homem necessário ao
funcionamento e manutenção da sociedade capitalista;
 Poder é produtor de individualidade; o indivíduo é
uma produção do poder e do saber;
 Não considerar pertinente para a análise a distinção
ciência e ideologia;
Verdade e Poder
• Quando fiz meus estudos, por volta dos anos 50-55, um dos problemas que se
colocava era o do estatuto político da Ciência e as funções ideológicas que podia
veicular. Não era exatamente o problema Lyssenko que dominava, mas creio
que em torno deste caso escandaloso, que durante tanto tempo foi dissimulado
e cuidadosamente escondido, apareceu uma série de questões interessantes.
Duas palavras podem resumi-las: poder e saber. Creio haver escrito História da
loucura dentro deste contexto. Para mim tratava-se de dizer o seguinte: se
perguntamos a uma Ciência como a física teórica, a química orgânica quais
suas relações com as estruturas políticas e econômicas da sociedade, não
estaremos colocando um problema muito complicado? Não será muito grande
a exigência para uma explicação possível? Se, em contrapartida, tomarmos um
saber como a psiquiatria, não será a questão muito mais fácil de ser resolvida
porque o perfil epistemológico da psiquiatria é pouco definido, e porque a
prática psiquiátrica está ligada a uma série de instituições, de exigências
econômicas imediatas e de urgências políticas e de regulamentações sociais?
(Foucault, 1981b, p.1)
Evitar a noção de Ideologia
• A noção de ideologia me parece dificilmente utilizável por três
razões. A primeira é que, queira-se ou não, ela está sempre em
oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade. Ora, creio
que o problema não é de se fazer a partilha entre o que num
discurso releva da cientificidade e da verdade e o que relevaria de
outra coisa; mas de ver historicamente como se produzem efeitos
no interior de discursos que não são em si nem verdadeiros nem
falsos. Segundo inconveniente: refere-se necessariamente a
alguma coisa como o sujeito. Enfim, a ideologia está em posição
secundária em relação a alguma coisa que deve funcionar para ela
como infra-estrutura ou determinação econômica, material, etc.
Por estas três razões creio que é uma noção que não deve ser
utilizada sem precauções” (Foucault, 1981b, p.7).
Foucault e a “natureza” humana
• Foucault vê o homem como um “animal de
experiência”, pois “no curso de sua história, o homem
não cessou de se construir a si mesmo, ou seja, de
trasladar continuamente o nível de sua subjetividade,
de se constituir numa série infinita e múltipla de
subjetividades diferentes que nunca alcançam um final
nem nos colocam na presença de algo que pudesse ser
o homem. (citado por Ortega, 1999)
História da Loucura
• Encontrar as próprias condições históricas que tornaram
possível um conhecimento acerca da loucura como doença
mental;
• Não mais apenas contextualizar historicamente o saber
sobre a enfermidade mental mas procurar as condições
históricas que permitiram que a experiência da loucura
pudesse ser tratada como doença mental;
• Não fazer uma história da linguagem da razão sobre a
loucura (como seria uma simples história da Psiquiatria),
mas uma arqueologia do silêncio da loucura, silêncio este
que permitiu o monólogo da razão;
As Palavras e as Coisas
• Estuda-se a passagem da epistéme clássica para a
moderna e o surgimento das Ciências Humanas;
• A epistéme aparece como o solo comum, espaço de
identidades, similitudes e analogias no qual se
distribuem as coisas diferentes e parecidas numa
cultura, limitando seu horizonte de pensamento,
podendo sofrer rupturas e transformações;
Vigiar e Punir
• Dos suplícios de criminosos no século XVIII ao grande
complexo carcerário do século XX, Foucault analisa as
transformações das práticas penais e com elas as
transformações das práticas de poder no interior das
sociedades modernas. E dentro destas transformações,
um problema principal: a emergência da prisão como
instituição central, à qual vem se articular um novo
conjunto de práticas de poder disciplinares, suporte
também de novas relações de conhecimento;
Três Momentos da Trajetória
 Arqueologia do Saber: domínio dos sistemas de
conhecimento;
 Genealogia o Saber: domínio das modalidades de
poder;
 Ética: domínio das relações do sujeito consigo mesmo;
 Tripla ontologia: saber-poder-sujeito;
Relação Saber/Poder
• Seria talvez preciso também renunciar a toda uma
tradição que deixa imaginar que só pode haver saber
onde as relações de poder estão suspensas e que o
saber só pode desenvolver-se fora de suas injunções,
suas exigências e seus interesses. (...) Temos antes que
admitir que o poder produz saber (e não simplesmente
favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é
útil); que poder e saber estão diretamente implicados;
que não há relações de poder sem constituição
correlata de um campo de saber, nem saber que não
suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de
poder. (...)” (Foucault, 1977, p. 29-30)
Poder (I)
• Deve-se conceber o poder não como posse mas sim como
um conjunto de relações estratégicas imanentes às relações
sociais; deve-se enfatizar que o poder produz
comportamentos e individualidades, não se limitando
assim à interdição e à proibição; também as relações entre
poder e saber não se resumem a relações de exterioridade
mas poder e saber devem ser vistos como intimamente
relacionados, sendo o próprio sujeito do conhecimento
muito mais um “efeito” das relações poder-saber;
finalmente, as práticas de resistência necessitam ser
concebidas como correlativas ao poder, como virtualmente
presentes em todos os pontos de sua aplicação. (resumo)
Poder (II)
• É um conjunto de ações sobre ações possíveis: ele
opera sobre o campo de possibilidades aonde se vêm
inscrever o comportamento dos sujeitos atuantes: ele
incita, ele induz, ele contorna, ele facilita ou torna
mais difícil, ele alarga ou limita, ele torna mais ou
menos provável; no limite ele constrange ou impede
completamente; mas ele é sempre uma maneira de agir
sobre um ou sobre sujeitos atuantes, enquanto eles
agem ou são susceptíveis de agir. Uma ação sobre
ações. (Foucault, O Sujeito e o Poder)
O eixo do poder
 História da Loucura: questão da exclusão e da
objetivação;
 Vigiar e Punir: os poderes disciplinares;
 Panoptismo;
 Cursos e a noção de governamentalidade;
 Crítica da Cultura;
 Ofício de sociólogo;
 Contexto francês;
 Sistemas simbólicos: consenso ou conflito e poder?
 Conceitos de habitus e de campo;
 Capital econômico, cultural, social, simbólico;
 Afastamento teórico do Estruturalismo e reflexão
sobre a mediação entre o agente social e a sociedade;
 Superar falsas oposições na Sociologia;
 Relações entre estruturas objetivas e disposições
duráveis dos agentes;
 Habitus: sistema de disposições duráveis, resultado de
um longo processos de aprendizagem;
 História incorporada pelo ator social;
 História objetivada nas instituições sociais;
Conceitos principais
 Campo
 Problema da diferenciação social das atividades nas
sociedades modernas;
 Microcosmos sociais relativamente autônomos;
 Cada campo possui regras do jogo e desafios
específicos;
 Espaço estruturados de posições ocupadas pelos
diferentes agentes do campo;
 Luta pela apropriação específica do capital do campo;
 A cada campo corresponde um habitus próprio do
campo;
 Campo artístico;
 Campo científico;
 Campo econômico;
 Campo jurídico;
 Campo literário;
 Campo religioso;
 Capital
 Estoque de recursos que podem ser possuídos ou
mobilizados por indivíduos ou grupos;
 Capital cultural: conjunto multidimensional de
competências institucionalizadas ou não;
 Capital social: relações pessoais ou coletivas como
recursos disponíveis;
 Capital simbólico: estatuto simbólico de indivíduos ou
grupos, reconhecimento e valorização;
 Habitus
 Reintroduzir na antropologia estruturalista a
capacidade inventiva dos agentes;
 Prática como produto da relação dialética entre uma
situação e o habitus;
 Sistema de disposições duráveis e transponíveis que
funciona em cada momento como uma matriz de
percepções, apreciações e ações;
 Competência prática, espécie de gramática gerativa;
 Violência simbólica
 Como compreender a perpetuação da ordem e da
dominação;
 Problema da adesão ou da contribuição dos dominados
para sua própria submissão;
 Violência simbólica como a coerção que se institui por
intermédio da adesão que o dominado não pode deixar
de dar ao dominante;
 Cf. Vocabulário Bourdieu, Autêntica.
Móbile de Calder
 SELL. C.E.; MARTINS, C.B. (2017) Teoria sociológica
contemporânea. São Paulo: Annablume.
Miceli – A força do sentido
 Importância dos estudos sobre ideologia e cultura nas
Ciências Humanas no século XX;
 Sociologia dos sistemas simbólicos de Pierre Bourdieu;
 Duas posturas para lidar com a cultura:
 Sistemas simbólicos como instrumentos de
comunicação e conhecimento x sistemas simbólicos
como instrumentos de poder;
 Durkheim e Lévi-Strauss x Marx e Weber;
 Insuficiência dessa alternativa;
 Crítica de Bourdieu tanto ao simbólico como puro
conhecimento quanto ao simbólico como puro poder,
perdendo a realidade própria dos sistemas simbólicos;
 Compatibilizar Marx, Weber e Durkheim;
 Não há relações de sentido que não estejam referidas e
determinadas por sistemas de dominação: p. XIII
 Durkheim: classificação das coisas reproduz a
classificação dos homens;
 Representações possuem existência material;
 Prática não é a execução de uma norma social coletiva
e onipotente;
 Habitus como sistema de disposições duráveis,
princípio gerador flexível que possibilita
improvisações reguladas; interiorização de estruturas
exteriores;
 Conjunto de esquemas implantados desde a primeira
educação familiar e repostos e reatualizados ao longo
da trajetória social restante;
 As estruturas produzem os habitus tendentes a
reproduzi-las;
 Processo de simbolização legitima e justifica a unidade
do sistema de poder;
Bourdieu – Fieldwork in philosophy
 Estudante nos anos 50;
 Stalinismo;
 Canguilhem, Althusser, Foucault;
 Recusa do existencialismo e do humanismo;
 Sociologia empírica e medíocre na época;
 Estruturalismo e Lévi-Strauss;
 Pesquisa etnológica;
 Ruptura com o estruturalismo;
 Reintroduzir os agentes;
 Coerência das construções práticas;
 Escapar da alternativa do estruturalismo sem sujeito e
da filosofia do sujeito;
 Análise nem intelectualista nem mecanicista da
relação entre o agente e o mundo;
 Condições para o cálculo racional praticamente nunca
são dadas nas prática;
 Disposições socialmente construídas;
 Primado da razão prática;
 Estruturalismo genético;
 Sociologia descobre o arbitrário e a contingência, ali
onde as pessoas gostam de ver a necessidade ou a
natureza;
 Ao historicizar, a sociologia desnaturaliza, desfataliza;
 Liberdade em relação ao determinismo;
 Marxismo acaba sendo um pensamento protegido
contra a crítica histórica;
 Estruturas simbólicas;
 Recusar a ambição totalizante;
 Relação ambivalente com a Escola de Frankfurt;
 Crítica social da cultura; sistema escolar etc.
 Formas de classificação são formas de dominação;
 Diversidade do trabalho sociológico;
 Lógica do rótulo classificatório e estigmatização;
 Relação pragmática com os autores;
 Colocar o problema da razão e das normas de maneira
historicista;
 A verdade é um jogo de lutas em todos os campos;
 Autoanálise do cientista;
Bourdieu – Crítica da Razão Escolástica
 Participar da ilusão científica, literária, filosófica etc.
 Disposição escolástica e pensamento “puro”;
 Neutralização das urgências e dos fins práticos;
 Prolongar a análise durkheimiana da gênese social das
“formas de pensamento” por uma análise das variações
das disposições cognitivas em relação ao mundo
conforme as condições sociais e as situações históricas;
p.27
 Recalque das determinações materiais das práticas
simbólicas;
 Olhar escolástico: olhar distante e altivo;
 Esquecer as condições históricas e sociais de
possibilidade da razão escolástica;
 Nobreza escolar e maio de 1968; p.47
 Rejeitar o intelectual total; p. 50-51
 Descortinar a lógica da prática;
 Não projetar na prática o raciocínio escolástico;
 Noção de estratégia x estrutura;
 A Distinção: gosto é socialmente construído;
 Nem Habermas nem Foucault;
A força do Direito: elementos para uma
Sociologia do campo jurídico
 Tomar a “ciência jurídica” como objeto;
 Formalismo x instrumentalismo;
 Kelsen: “teoria pura do Direito” como ideologia
profissional;
 Direito como aparelho ideológico de Estado;
 Não ignorar a estrutura dos sistemas simbólicos;
 Universo social relativamente independente dos
constrangimentos externos;
 Autoridade jurídica como forma por excelência da
violência simbólica legítima, monopolizada pelo
Estado e combinada com o uso da força física;
 Campo jurídico como lugar de concorrência pelo
monopólio do direito de dizer o direito;
 Cisão entre os profanos e os profissionais;
 Corpo hierarquizado que põe em prática
procedimentos codificados de resolução de conflitos;
 Retórica da autonomia, da neutralidade e da
universalidade;
 Dois polos extremos: professores x magistrados;
 Tradição romano-germânica x tradição anglo-
americana;
 Doutrina x jurisprudência;
 O conteúdo prático da lei que se revela no veredicto é o
resultado de uma luta simbólica entre profissionais
dotados de competências técnicas e sociais desiguais;
 Entrar no jogo implica em aceitar a adoção de um
modo de expressão e de discussão que implica a
renúncia à violência física e às formas elementares de
violência simbólica;
 Habitus jurídicos: atitudes comuns, formadas por
experiências familiares, estudos de Direito e da prática
das profissões jurídicas que funcionam como
categorias de percepção e de apreciação;
 Clientes dos profissionais: renunciar a gerir
tacitamente, por si próprios, os conflitos;
 O Direito consagra a ordem estabelecida, ao consagrar
a visão desta ordem, que é uma visão do Estado;
 O Direito é a forma por excelência do poder simbólico
de nomeação que cria as coisas nomeadas;
 O Direito é a forma por excelência do discurso atuante,
capaz de produzir efeitos;
 Faz o mundo social, mas também é feito por este;
 Efeito mágico de nomeação, ato de força simbólica que
só é bem sucedido porque está fundado na realidade;
 Efeito de naturalização, doxa, adesão imediata ao que é
evidente, normal;
A Dominação Masculina
 Paradoxo da doxa: o fato de que a ordem no mundo
seja grosso modo respeitada;
 Perpetuação da ordem estabelecida;
 Dominação masculina como exemplo de violência
simbólica;
 Restituir à doxa seu caráter paradoxal; demonstrar os
processos que são responsáveis pela transformação da
história em natureza, do arbitrário cultural em natural;
 Devolver à diferença entre o masculino e o feminino
seu caráter arbitrário, contingente;
 Apreender a dimensão propriamente simbólica da
dominação masculina;
 Não apenas dominação na unidade doméstica, mas
também por meio de instituições com a Escola e o
Estado;
 Incorporação, sob a forma de esquemas inconscientes
de percepção e de apreciação, das estruturas históricas
da ordem masculina;
 Análise etnográfica das estruturas objetivas e das
formas cognitivas de uma sociedade histórica
específica, a dos berberes da Cabília;
 Forma paradigmática da visão “falo-narcísica” e da
cosmologia androcêntrica;
 Crítica à Foucault;
 Sociedade Cabila: ordem da sexualidade não se
constitui como tal, as diferenças sexuais permanecem
imersas no conjunto das oposições que organizam todo
o cosmo;
 Sistema de diferenças naturais em aparência;
 A divisão entre os sexos parece estar “na ordem das
coisas”;
 Incorporada no corpo e no habitus dos agentes;
 Concordância entre as estruturas objetivas e as
estruturas cognitivas: “atitude natural” ou “experiência
dóxica”;
 Ordem masculina dispensa justificação; visão
androcêntrica se impõe como neutra;
 Princípios de visão e de divisão sexualizantes; aplica-se
a todas as coisas do mundo;
 Visão mítica do mundo enraizada na relação arbitrária
da dominação masculina;
 Questões: A força do Direito
 Como Bourdieu caracteriza o campo jurídico? Por que
ele afirma que é preciso evitar tanto o formalismo
quanto o instrumentalismo para analisá-lo? O que ele
entende como “poder de nomeação”?
Prova Sociologia IV - 2018
 Prova individual;
 Escolha 2 questões para responder;
 Utilizar no máximo 5 páginas para cada resposta (times 12, espaço duplo);
 Usar para consulta a bibliografia obrigatória e complementar da disciplina;
 Não fazer citações ou transcrição de textos na resposta;
 A prova será anulada em caso de plágio ou de provas iguais (partes ou
completa);
 Colocar nome completo e período (também na linha de assunto do email);
 Enviar por email a prova até 20/21 de dezembro;
 Endereço: mcalvarez@usp.br
Questão 1
 A partir de seu texto intitulado “Teoria Tradicional e Teoria
Crítica”, Max Horkheimer acabou consagrando o termo “teoria
crítica” como forma de designar a perspectiva do conjunto dos
autores da assim chamada “Escola de Frankfurt”. Como o autor
caracteriza essas diferentes concepções e práticas de
conhecimento? Tendo em vista tal discussão, como poderiam
ser situadas as posteriores trajetórias intelectuais de Michel
Foucault e de Pierre Bourdieu? Exemplifique, quando possível,
a argumentação.
Questão 2
 Em entrevista de 1977, Michel Foucault afirmava: “A noção de ideologia
me parece dificilmente utilizável por três razões. A primeira é que (...) ela
está sempre em oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade. (...)
Segundo inconveniente: refere-se necessariamente a alguma coisa como o
sujeito. Enfim, a ideologia está em posição secundária em relação a alguma
coisa que deve funcionar para ela como infra-estrutura ou determinação
econômica, material, etc. Por estas três razões creio que é uma noção que
não deve ser utilizada sem precauções” (Foucault, 1981b, p.7).
 Tendo em vista essa afirmação, como Foucault desenvolve suas análises
em Vigiar e em História da Sexualidade I? É possível afirmar que a noção
de ideologia está ausente nesses textos? Neste aspecto, sua perspectiva se
aproxima ou se afasta da análise de Adorno e de Horkheimer sobre a
“indústria cultura”? Justifique.
Questão 3
 Em Vigiar e Punir, Michel Foucault defende a
perspectiva de uma “microfísica do poder”. Tendo em
vista também o volume I de sua História da
Sexualidade, como o autor caracteriza essa expressão?
Quais os efeitos dessa proposta em termos das suas
investigações sobre a prisão e sobre a sexualidade?
Compare, em linhas gerais, a análise de Foucault sobre
a punição e a de Pierre Bourdieu sobre o campo
jurídico.

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O percurso intelectual de Michel Foucault e suas análises sobre saber, poder e sujeito

  • 1.
  • 2.  Michel Foucault (1926-1984)
  • 3.
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7.
  • 8. O percurso intelectual de Michel Foucault  As categorias de filósofo ou historiador são, ao mesmo tempo, bastante imprecisas e por demais limitadas para caracterizar os trabalhos realizados por Michel Foucault ao longo de sua vida. Ao percorrer, com suas análises, campos de conhecimento diversos, ele rompe com as divisões disciplinares tradicionais, o que faz com que seus trabalhos tenham ressonância em muitas regiões do conhecimento, sobretudo nas assim chamadas Ciências Humanas. Apresentar os contornos mais amplos do percurso intelectual de Foucault é, conseqüentemente, tarefa árdua, dada a multiplicidade de áreas e de objetos englobados por suas pesquisas.
  • 9. Cronologia dos principais textos • Doença Mental e Personalidade (1954) • História da Loucura (1961) • Nascimento da Clínica (1963) • As Palavras e as Coisas (1966) • A Arqueologia do Saber (1969) • A Ordem do Discurso (1970) • Teorias e Instituições Penais (1971-1972) • A Verdade e as Formas Jurídicas (1973) • A Sociedade Punitiva (1972-1973) • O Poder Psiquiátrico (1973-1974) • Os Anormais (1974-1975) • Vigiar e Punir (1975) • Em Defesa da Sociedade (1975-1976) • História da Sexualidade I (1976) • Segurança, Território, População (1977-1978) • Nascimento da Biopolítica (1978-1979) • Do Governo dos Vivos (1979-1980) • Subjetividade e Verdade (1980-1981) • A Hermenêutica do Sujeito (1981-1982) • O Governo de Si e dos Outros (1983) • A Coragem da Verdade (1984) • História da Sexualidade II e III (1984)
  • 10. Arqueologia, Genealogia e Ética  Geralmente os escritos de Foucault são divididos em três domínios distintos de análise, a cada um dos quais se associa um determinado tipo de abordagem. O primeiro domínio seria o dos sistemas de conhecimento, abordado a partir de uma arqueologia do saber. O segundo domínio seria aquele das modalidades de poder, estudado a partir de uma genealogia do poder. E o terceiro domínio seria o das relações do sujeito consigo mesmo, analisado a partir de uma ética.
  • 11. Roberto Machado – Por uma genealogia do poder  Questão do poder não é o mais velho desafio formulado pelas análises de Foucault;  Homogeneidade dos instrumentos metodológicos: saber, descontinuidades, articulação saberes/espaços institucionais/estrutura social, crítica da ideia de progresso em história das ciências etc.;  Arqueologia: como os saberes apareciam e se transformavam;  Genealogia: questão do porquê das transformações;
  • 12.  Não há uma teoria geral do poder;  Romper com a relação exclusiva Estado/poder;  Microfísica do poder: os poderes se exercem em níveis variados, em pontos diferentes da rede social, integrados ou não ao Estado;  Estado não é o órgão central e único do poder;  Poderes funcionam como redes de dispositivos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior possível, limites ou fronteiras;
  • 13.  Rigorosamente, o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder;  Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria rede do poder; onde há poder, há resistência;  Busca de uma concepção não-jurídica do poder;  Relações de poder não se passam nem ao nível do direito, nem da violência; nem contratuais, nem repressivas;  Concepção positiva do poder;  Questão específica: os poderes disciplinares;
  • 14.  Disciplina como método que permite o controle minucioso das operações do corpo, docilidade- utilidade;  “Fabrica” o tipo de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade capitalista;  Poder é produtor de individualidade; o indivíduo é uma produção do poder e do saber;  Não considerar pertinente para a análise a distinção ciência e ideologia;
  • 15. Verdade e Poder • Quando fiz meus estudos, por volta dos anos 50-55, um dos problemas que se colocava era o do estatuto político da Ciência e as funções ideológicas que podia veicular. Não era exatamente o problema Lyssenko que dominava, mas creio que em torno deste caso escandaloso, que durante tanto tempo foi dissimulado e cuidadosamente escondido, apareceu uma série de questões interessantes. Duas palavras podem resumi-las: poder e saber. Creio haver escrito História da loucura dentro deste contexto. Para mim tratava-se de dizer o seguinte: se perguntamos a uma Ciência como a física teórica, a química orgânica quais suas relações com as estruturas políticas e econômicas da sociedade, não estaremos colocando um problema muito complicado? Não será muito grande a exigência para uma explicação possível? Se, em contrapartida, tomarmos um saber como a psiquiatria, não será a questão muito mais fácil de ser resolvida porque o perfil epistemológico da psiquiatria é pouco definido, e porque a prática psiquiátrica está ligada a uma série de instituições, de exigências econômicas imediatas e de urgências políticas e de regulamentações sociais? (Foucault, 1981b, p.1)
  • 16. Evitar a noção de Ideologia • A noção de ideologia me parece dificilmente utilizável por três razões. A primeira é que, queira-se ou não, ela está sempre em oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade. Ora, creio que o problema não é de se fazer a partilha entre o que num discurso releva da cientificidade e da verdade e o que relevaria de outra coisa; mas de ver historicamente como se produzem efeitos no interior de discursos que não são em si nem verdadeiros nem falsos. Segundo inconveniente: refere-se necessariamente a alguma coisa como o sujeito. Enfim, a ideologia está em posição secundária em relação a alguma coisa que deve funcionar para ela como infra-estrutura ou determinação econômica, material, etc. Por estas três razões creio que é uma noção que não deve ser utilizada sem precauções” (Foucault, 1981b, p.7).
  • 17. Foucault e a “natureza” humana • Foucault vê o homem como um “animal de experiência”, pois “no curso de sua história, o homem não cessou de se construir a si mesmo, ou seja, de trasladar continuamente o nível de sua subjetividade, de se constituir numa série infinita e múltipla de subjetividades diferentes que nunca alcançam um final nem nos colocam na presença de algo que pudesse ser o homem. (citado por Ortega, 1999)
  • 18. História da Loucura • Encontrar as próprias condições históricas que tornaram possível um conhecimento acerca da loucura como doença mental; • Não mais apenas contextualizar historicamente o saber sobre a enfermidade mental mas procurar as condições históricas que permitiram que a experiência da loucura pudesse ser tratada como doença mental; • Não fazer uma história da linguagem da razão sobre a loucura (como seria uma simples história da Psiquiatria), mas uma arqueologia do silêncio da loucura, silêncio este que permitiu o monólogo da razão;
  • 19. As Palavras e as Coisas • Estuda-se a passagem da epistéme clássica para a moderna e o surgimento das Ciências Humanas; • A epistéme aparece como o solo comum, espaço de identidades, similitudes e analogias no qual se distribuem as coisas diferentes e parecidas numa cultura, limitando seu horizonte de pensamento, podendo sofrer rupturas e transformações;
  • 20. Vigiar e Punir • Dos suplícios de criminosos no século XVIII ao grande complexo carcerário do século XX, Foucault analisa as transformações das práticas penais e com elas as transformações das práticas de poder no interior das sociedades modernas. E dentro destas transformações, um problema principal: a emergência da prisão como instituição central, à qual vem se articular um novo conjunto de práticas de poder disciplinares, suporte também de novas relações de conhecimento;
  • 21. Três Momentos da Trajetória  Arqueologia do Saber: domínio dos sistemas de conhecimento;  Genealogia o Saber: domínio das modalidades de poder;  Ética: domínio das relações do sujeito consigo mesmo;  Tripla ontologia: saber-poder-sujeito;
  • 22. Relação Saber/Poder • Seria talvez preciso também renunciar a toda uma tradição que deixa imaginar que só pode haver saber onde as relações de poder estão suspensas e que o saber só pode desenvolver-se fora de suas injunções, suas exigências e seus interesses. (...) Temos antes que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relações de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. (...)” (Foucault, 1977, p. 29-30)
  • 23. Poder (I) • Deve-se conceber o poder não como posse mas sim como um conjunto de relações estratégicas imanentes às relações sociais; deve-se enfatizar que o poder produz comportamentos e individualidades, não se limitando assim à interdição e à proibição; também as relações entre poder e saber não se resumem a relações de exterioridade mas poder e saber devem ser vistos como intimamente relacionados, sendo o próprio sujeito do conhecimento muito mais um “efeito” das relações poder-saber; finalmente, as práticas de resistência necessitam ser concebidas como correlativas ao poder, como virtualmente presentes em todos os pontos de sua aplicação. (resumo)
  • 24. Poder (II) • É um conjunto de ações sobre ações possíveis: ele opera sobre o campo de possibilidades aonde se vêm inscrever o comportamento dos sujeitos atuantes: ele incita, ele induz, ele contorna, ele facilita ou torna mais difícil, ele alarga ou limita, ele torna mais ou menos provável; no limite ele constrange ou impede completamente; mas ele é sempre uma maneira de agir sobre um ou sobre sujeitos atuantes, enquanto eles agem ou são susceptíveis de agir. Uma ação sobre ações. (Foucault, O Sujeito e o Poder)
  • 25. O eixo do poder  História da Loucura: questão da exclusão e da objetivação;  Vigiar e Punir: os poderes disciplinares;  Panoptismo;  Cursos e a noção de governamentalidade;
  • 26.
  • 27.
  • 28.  Crítica da Cultura;  Ofício de sociólogo;  Contexto francês;  Sistemas simbólicos: consenso ou conflito e poder?  Conceitos de habitus e de campo;  Capital econômico, cultural, social, simbólico;
  • 29.  Afastamento teórico do Estruturalismo e reflexão sobre a mediação entre o agente social e a sociedade;  Superar falsas oposições na Sociologia;  Relações entre estruturas objetivas e disposições duráveis dos agentes;  Habitus: sistema de disposições duráveis, resultado de um longo processos de aprendizagem;  História incorporada pelo ator social;  História objetivada nas instituições sociais;
  • 30. Conceitos principais  Campo  Problema da diferenciação social das atividades nas sociedades modernas;  Microcosmos sociais relativamente autônomos;  Cada campo possui regras do jogo e desafios específicos;  Espaço estruturados de posições ocupadas pelos diferentes agentes do campo;  Luta pela apropriação específica do capital do campo;
  • 31.  A cada campo corresponde um habitus próprio do campo;  Campo artístico;  Campo científico;  Campo econômico;  Campo jurídico;  Campo literário;  Campo religioso;
  • 32.  Capital  Estoque de recursos que podem ser possuídos ou mobilizados por indivíduos ou grupos;  Capital cultural: conjunto multidimensional de competências institucionalizadas ou não;  Capital social: relações pessoais ou coletivas como recursos disponíveis;  Capital simbólico: estatuto simbólico de indivíduos ou grupos, reconhecimento e valorização;
  • 33.  Habitus  Reintroduzir na antropologia estruturalista a capacidade inventiva dos agentes;  Prática como produto da relação dialética entre uma situação e o habitus;  Sistema de disposições duráveis e transponíveis que funciona em cada momento como uma matriz de percepções, apreciações e ações;  Competência prática, espécie de gramática gerativa;
  • 34.  Violência simbólica  Como compreender a perpetuação da ordem e da dominação;  Problema da adesão ou da contribuição dos dominados para sua própria submissão;  Violência simbólica como a coerção que se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de dar ao dominante;  Cf. Vocabulário Bourdieu, Autêntica.
  • 36.  SELL. C.E.; MARTINS, C.B. (2017) Teoria sociológica contemporânea. São Paulo: Annablume.
  • 37. Miceli – A força do sentido  Importância dos estudos sobre ideologia e cultura nas Ciências Humanas no século XX;  Sociologia dos sistemas simbólicos de Pierre Bourdieu;  Duas posturas para lidar com a cultura:  Sistemas simbólicos como instrumentos de comunicação e conhecimento x sistemas simbólicos como instrumentos de poder;  Durkheim e Lévi-Strauss x Marx e Weber;  Insuficiência dessa alternativa;
  • 38.  Crítica de Bourdieu tanto ao simbólico como puro conhecimento quanto ao simbólico como puro poder, perdendo a realidade própria dos sistemas simbólicos;  Compatibilizar Marx, Weber e Durkheim;  Não há relações de sentido que não estejam referidas e determinadas por sistemas de dominação: p. XIII  Durkheim: classificação das coisas reproduz a classificação dos homens;  Representações possuem existência material;
  • 39.  Prática não é a execução de uma norma social coletiva e onipotente;  Habitus como sistema de disposições duráveis, princípio gerador flexível que possibilita improvisações reguladas; interiorização de estruturas exteriores;  Conjunto de esquemas implantados desde a primeira educação familiar e repostos e reatualizados ao longo da trajetória social restante;
  • 40.  As estruturas produzem os habitus tendentes a reproduzi-las;  Processo de simbolização legitima e justifica a unidade do sistema de poder;
  • 41. Bourdieu – Fieldwork in philosophy  Estudante nos anos 50;  Stalinismo;  Canguilhem, Althusser, Foucault;  Recusa do existencialismo e do humanismo;  Sociologia empírica e medíocre na época;  Estruturalismo e Lévi-Strauss;  Pesquisa etnológica;  Ruptura com o estruturalismo;  Reintroduzir os agentes;
  • 42.  Coerência das construções práticas;  Escapar da alternativa do estruturalismo sem sujeito e da filosofia do sujeito;  Análise nem intelectualista nem mecanicista da relação entre o agente e o mundo;  Condições para o cálculo racional praticamente nunca são dadas nas prática;  Disposições socialmente construídas;  Primado da razão prática;
  • 43.  Estruturalismo genético;  Sociologia descobre o arbitrário e a contingência, ali onde as pessoas gostam de ver a necessidade ou a natureza;  Ao historicizar, a sociologia desnaturaliza, desfataliza;  Liberdade em relação ao determinismo;  Marxismo acaba sendo um pensamento protegido contra a crítica histórica;  Estruturas simbólicas;
  • 44.  Recusar a ambição totalizante;  Relação ambivalente com a Escola de Frankfurt;  Crítica social da cultura; sistema escolar etc.  Formas de classificação são formas de dominação;  Diversidade do trabalho sociológico;  Lógica do rótulo classificatório e estigmatização;  Relação pragmática com os autores;  Colocar o problema da razão e das normas de maneira historicista;
  • 45.  A verdade é um jogo de lutas em todos os campos;  Autoanálise do cientista;
  • 46. Bourdieu – Crítica da Razão Escolástica  Participar da ilusão científica, literária, filosófica etc.  Disposição escolástica e pensamento “puro”;  Neutralização das urgências e dos fins práticos;  Prolongar a análise durkheimiana da gênese social das “formas de pensamento” por uma análise das variações das disposições cognitivas em relação ao mundo conforme as condições sociais e as situações históricas; p.27
  • 47.  Recalque das determinações materiais das práticas simbólicas;  Olhar escolástico: olhar distante e altivo;  Esquecer as condições históricas e sociais de possibilidade da razão escolástica;  Nobreza escolar e maio de 1968; p.47  Rejeitar o intelectual total; p. 50-51  Descortinar a lógica da prática;
  • 48.  Não projetar na prática o raciocínio escolástico;  Noção de estratégia x estrutura;  A Distinção: gosto é socialmente construído;  Nem Habermas nem Foucault;
  • 49. A força do Direito: elementos para uma Sociologia do campo jurídico  Tomar a “ciência jurídica” como objeto;  Formalismo x instrumentalismo;  Kelsen: “teoria pura do Direito” como ideologia profissional;  Direito como aparelho ideológico de Estado;  Não ignorar a estrutura dos sistemas simbólicos;  Universo social relativamente independente dos constrangimentos externos;
  • 50.  Autoridade jurídica como forma por excelência da violência simbólica legítima, monopolizada pelo Estado e combinada com o uso da força física;  Campo jurídico como lugar de concorrência pelo monopólio do direito de dizer o direito;  Cisão entre os profanos e os profissionais;  Corpo hierarquizado que põe em prática procedimentos codificados de resolução de conflitos;
  • 51.  Retórica da autonomia, da neutralidade e da universalidade;  Dois polos extremos: professores x magistrados;  Tradição romano-germânica x tradição anglo- americana;  Doutrina x jurisprudência;  O conteúdo prático da lei que se revela no veredicto é o resultado de uma luta simbólica entre profissionais dotados de competências técnicas e sociais desiguais;
  • 52.  Entrar no jogo implica em aceitar a adoção de um modo de expressão e de discussão que implica a renúncia à violência física e às formas elementares de violência simbólica;  Habitus jurídicos: atitudes comuns, formadas por experiências familiares, estudos de Direito e da prática das profissões jurídicas que funcionam como categorias de percepção e de apreciação;
  • 53.  Clientes dos profissionais: renunciar a gerir tacitamente, por si próprios, os conflitos;  O Direito consagra a ordem estabelecida, ao consagrar a visão desta ordem, que é uma visão do Estado;  O Direito é a forma por excelência do poder simbólico de nomeação que cria as coisas nomeadas;  O Direito é a forma por excelência do discurso atuante, capaz de produzir efeitos;  Faz o mundo social, mas também é feito por este;
  • 54.  Efeito mágico de nomeação, ato de força simbólica que só é bem sucedido porque está fundado na realidade;  Efeito de naturalização, doxa, adesão imediata ao que é evidente, normal;
  • 55. A Dominação Masculina  Paradoxo da doxa: o fato de que a ordem no mundo seja grosso modo respeitada;  Perpetuação da ordem estabelecida;  Dominação masculina como exemplo de violência simbólica;  Restituir à doxa seu caráter paradoxal; demonstrar os processos que são responsáveis pela transformação da história em natureza, do arbitrário cultural em natural;
  • 56.  Devolver à diferença entre o masculino e o feminino seu caráter arbitrário, contingente;  Apreender a dimensão propriamente simbólica da dominação masculina;  Não apenas dominação na unidade doméstica, mas também por meio de instituições com a Escola e o Estado;
  • 57.  Incorporação, sob a forma de esquemas inconscientes de percepção e de apreciação, das estruturas históricas da ordem masculina;  Análise etnográfica das estruturas objetivas e das formas cognitivas de uma sociedade histórica específica, a dos berberes da Cabília;  Forma paradigmática da visão “falo-narcísica” e da cosmologia androcêntrica;  Crítica à Foucault;
  • 58.  Sociedade Cabila: ordem da sexualidade não se constitui como tal, as diferenças sexuais permanecem imersas no conjunto das oposições que organizam todo o cosmo;  Sistema de diferenças naturais em aparência;  A divisão entre os sexos parece estar “na ordem das coisas”;  Incorporada no corpo e no habitus dos agentes;
  • 59.  Concordância entre as estruturas objetivas e as estruturas cognitivas: “atitude natural” ou “experiência dóxica”;  Ordem masculina dispensa justificação; visão androcêntrica se impõe como neutra;  Princípios de visão e de divisão sexualizantes; aplica-se a todas as coisas do mundo;  Visão mítica do mundo enraizada na relação arbitrária da dominação masculina;
  • 60.  Questões: A força do Direito  Como Bourdieu caracteriza o campo jurídico? Por que ele afirma que é preciso evitar tanto o formalismo quanto o instrumentalismo para analisá-lo? O que ele entende como “poder de nomeação”?
  • 61. Prova Sociologia IV - 2018  Prova individual;  Escolha 2 questões para responder;  Utilizar no máximo 5 páginas para cada resposta (times 12, espaço duplo);  Usar para consulta a bibliografia obrigatória e complementar da disciplina;  Não fazer citações ou transcrição de textos na resposta;  A prova será anulada em caso de plágio ou de provas iguais (partes ou completa);  Colocar nome completo e período (também na linha de assunto do email);  Enviar por email a prova até 20/21 de dezembro;  Endereço: mcalvarez@usp.br
  • 62. Questão 1  A partir de seu texto intitulado “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, Max Horkheimer acabou consagrando o termo “teoria crítica” como forma de designar a perspectiva do conjunto dos autores da assim chamada “Escola de Frankfurt”. Como o autor caracteriza essas diferentes concepções e práticas de conhecimento? Tendo em vista tal discussão, como poderiam ser situadas as posteriores trajetórias intelectuais de Michel Foucault e de Pierre Bourdieu? Exemplifique, quando possível, a argumentação.
  • 63. Questão 2  Em entrevista de 1977, Michel Foucault afirmava: “A noção de ideologia me parece dificilmente utilizável por três razões. A primeira é que (...) ela está sempre em oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade. (...) Segundo inconveniente: refere-se necessariamente a alguma coisa como o sujeito. Enfim, a ideologia está em posição secundária em relação a alguma coisa que deve funcionar para ela como infra-estrutura ou determinação econômica, material, etc. Por estas três razões creio que é uma noção que não deve ser utilizada sem precauções” (Foucault, 1981b, p.7).  Tendo em vista essa afirmação, como Foucault desenvolve suas análises em Vigiar e em História da Sexualidade I? É possível afirmar que a noção de ideologia está ausente nesses textos? Neste aspecto, sua perspectiva se aproxima ou se afasta da análise de Adorno e de Horkheimer sobre a “indústria cultura”? Justifique.
  • 64. Questão 3  Em Vigiar e Punir, Michel Foucault defende a perspectiva de uma “microfísica do poder”. Tendo em vista também o volume I de sua História da Sexualidade, como o autor caracteriza essa expressão? Quais os efeitos dessa proposta em termos das suas investigações sobre a prisão e sobre a sexualidade? Compare, em linhas gerais, a análise de Foucault sobre a punição e a de Pierre Bourdieu sobre o campo jurídico.