SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Cantigas Profanas Medievais
Maria Peres Balteira
Famosa soldadeira galega, ativa nas cortes castelhanas de Fernando III e Afonso X. Provavelmente
originária da povoação de Armea (Betanzos, A Coruña), na Galiza, Maria Peres terá nascido numa família
da pequena nobreza, de quem vai herdar algumas propriedades. Do documento de venda de uma dessa
suas herdades ao mosteiro galego de Sobrado, datado de 1257, se depreende que deve ter acabado
confortavelmente os seus dias como familiar deste mosteiro, e isto atendendo aos termos em que é feito o
acordo, e que indiciam um certo desafogo económico. De resto, e embora no referido documento não
conste o nome Balteira, como nele se refere explicitamente que a transação é feita com vista a uma
cruzada a realizar por Maria Peres, e a cruzada da Balteira é um dos motivos das cantigas que os
trovadores afonsinos lhe dirigem, os investigadores, desde Martínez Salazar1, têm identificado a referida
dona com a soldadeira. Já sobre o percurso posterior de Maria Balteira não há certezas, mas é possível
que ainda fosse viva no início da década de oitenta do século XIII.
Joao Vasques de Talaveira
Maria Leve, u se maenfestava,
direi-vos ora o que confessava:
- Sõo velh', ai capelam!
Nom sei hoj'eu mais pecado[r] burguesa
de mim; mais vede-lo que mi mais pesa:
sõo velh', ai capelam!
Sempr[e] eu pequei, des que fui foduda,
pero direi-vos per que [som] perduda:
sõo velh', ai capelam!
Afonso X, o Sábio
Afonso X ataca jocosamente o deão de Cádis a propósito do seu gosto pelos livros eróticos,
aliado ao seu pendor para a feitiçaria. Tratar-se-ia de livros árabes, como as referências às
mouras parecem fazer entender? De qualquer forma, e numa linguagem bastante crua
(embora transposta para a boca do criado que lhe levaria os ditos livros), o que Afonso X
pretende dizer é que, com o pretexto de fazer curas milagrosas, ele punha em prática os
ensinamentos desses livros com todas as mulheres que lhe passavam perto.
Não havendo dados concretos que nos permitam datar com segurança a cantiga, é possível,
como sugere Márquez Villanueva1, que ela tenha sido composta por volta de 1267, ano em
que o rei se ocupou, junto do bispo de Sevilha, de alguns problemas fiscais do cabido de Cádiz.
Acrescente-se que o deão de Cádiz Rui Dias foi um dos encarregados reais do Repartimento de
Jerez, efetuado em 1264 (González Jimenez, 1999:310, nota 112). A tratar-se da mesma
personagem, é possível que algum desentendimento posterior com o monarca tenha servido
de contexto à sua cantiga.
Ao daian de Cález eu achei
livros que lhe levarian da benzer,
e o que os tragia preguntei
por eles, e respondeu-m' el: -Senher,
con estesl i vros que vós veedes dous
e conos outros que el ten dos sous,
fod' el per eles quanto foder quer.
E ainda vos end' eu mais direi:
macar vel el muit' aja de leer,
por quanto eu de sa fazenda sei,
conosli v ro s que ten non á molher
a que non faça que semelhen grous
os corvos, e as anguias babous
Per força de foder, se x'el quiser
Ca non á mais, na arte do foder,
do que enosl i vros que el ten jaz;
e el á tal sabor de os leer,
que nunca noite nen dia al faz;
e sabe d' arte do foder tan ben,
que cõnos seusl i vros d' artes, que el ten,
fod' el as mouras cada que lhi praz.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Capítulo XXII - MC
Capítulo XXII - MCCapítulo XXII - MC
Capítulo XXII - MC12anogolega
 
MC construção da passarola
MC construção da passarolaMC construção da passarola
MC construção da passarolaAnaFPinto
 
A nobre familia de Santa Clara de Assis
A nobre familia de Santa Clara de AssisA nobre familia de Santa Clara de Assis
A nobre familia de Santa Clara de AssisEugenio Hansen, OFS
 
Memorial do Convento Aléxis
Memorial do Convento AléxisMemorial do Convento Aléxis
Memorial do Convento Aléxis12anogolega
 
Capítulo X - MC
Capítulo X - MCCapítulo X - MC
Capítulo X - MC12anogolega
 
Memorial do convento narrador, espaço e tempo
Memorial do convento narrador, espaço e tempoMemorial do convento narrador, espaço e tempo
Memorial do convento narrador, espaço e tempoAntónio Teixeira
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73luisprista
 
Memorial do Convento
Memorial do ConventoMemorial do Convento
Memorial do Conventolibrarian
 
Memorial do convento, cap. 13 14
Memorial do convento,  cap. 13 14Memorial do convento,  cap. 13 14
Memorial do convento, cap. 13 14Ana Teresa
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento12anogolega
 
6. sequências narrativas
6. sequências narrativas6. sequências narrativas
6. sequências narrativasHelena Coutinho
 
Memorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosMemorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosRui Matos
 
2. elementos paratextuais [título e contracapa]
2. elementos paratextuais [título e contracapa]2. elementos paratextuais [título e contracapa]
2. elementos paratextuais [título e contracapa]Helena Coutinho
 
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)Memorial do convento dimensão crítica da história (1)
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)José Galvão
 
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoA sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoJoana Filipa Rodrigues
 
Memorial do Convento - Personagens
Memorial do Convento - PersonagensMemorial do Convento - Personagens
Memorial do Convento - PersonagensFilipa Alexandra
 

Mais procurados (20)

Capítulo XXII - MC
Capítulo XXII - MCCapítulo XXII - MC
Capítulo XXII - MC
 
Memorial convento
Memorial conventoMemorial convento
Memorial convento
 
MC construção da passarola
MC construção da passarolaMC construção da passarola
MC construção da passarola
 
A nobre familia de Santa Clara de Assis
A nobre familia de Santa Clara de AssisA nobre familia de Santa Clara de Assis
A nobre familia de Santa Clara de Assis
 
Memorial do Convento Aléxis
Memorial do Convento AléxisMemorial do Convento Aléxis
Memorial do Convento Aléxis
 
Capítulo X - MC
Capítulo X - MCCapítulo X - MC
Capítulo X - MC
 
Memorial do convento narrador, espaço e tempo
Memorial do convento narrador, espaço e tempoMemorial do convento narrador, espaço e tempo
Memorial do convento narrador, espaço e tempo
 
Memorial Do Convento
Memorial Do ConventoMemorial Do Convento
Memorial Do Convento
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 72-73
 
Memorial do Convento
Memorial do ConventoMemorial do Convento
Memorial do Convento
 
Memorial do convento, cap. 13 14
Memorial do convento,  cap. 13 14Memorial do convento,  cap. 13 14
Memorial do convento, cap. 13 14
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
6. sequências narrativas
6. sequências narrativas6. sequências narrativas
6. sequências narrativas
 
Memorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosMemorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por Capítulos
 
2. elementos paratextuais [título e contracapa]
2. elementos paratextuais [título e contracapa]2. elementos paratextuais [título e contracapa]
2. elementos paratextuais [título e contracapa]
 
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)Memorial do convento dimensão crítica da história (1)
Memorial do convento dimensão crítica da história (1)
 
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoA sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
 
Portugues mc
Portugues mcPortugues mc
Portugues mc
 
Capítulo i
Capítulo iCapítulo i
Capítulo i
 
Memorial do Convento - Personagens
Memorial do Convento - PersonagensMemorial do Convento - Personagens
Memorial do Convento - Personagens
 

Semelhante a Cantigas profanas medievais

1 de um casarão do outro mundo
1   de um casarão do outro mundo1   de um casarão do outro mundo
1 de um casarão do outro mundoFatoze
 
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisConto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisClaudia Valeria Ortega
 
Sábios como camelos power point
Sábios como camelos power pointSábios como camelos power point
Sábios como camelos power pointGuilhermina Brotas
 
Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30PLETZ.com -
 
04 Til - José de Alencar1872-pwsf
04   Til - José de Alencar1872-pwsf04   Til - José de Alencar1872-pwsf
04 Til - José de Alencar1872-pwsfWelington Fernandes
 
A viuva do enforcado camilo castelo branco
A viuva do enforcado   camilo castelo brancoA viuva do enforcado   camilo castelo branco
A viuva do enforcado camilo castelo brancoAnaRibeiro968038
 
A viuva do enforcado camilo castelo branco
A viuva do enforcado   camilo castelo brancoA viuva do enforcado   camilo castelo branco
A viuva do enforcado camilo castelo brancoAnaRibeiro968038
 

Semelhante a Cantigas profanas medievais (20)

1 de um casarão do outro mundo
1   de um casarão do outro mundo1   de um casarão do outro mundo
1 de um casarão do outro mundo
 
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisConto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Poema medieval.docx
Poema medieval.docxPoema medieval.docx
Poema medieval.docx
 
Poster projecto galaico português
Poster projecto galaico portuguêsPoster projecto galaico português
Poster projecto galaico português
 
50 anos depois
50 anos depois50 anos depois
50 anos depois
 
50 anos depois
50 anos depois50 anos depois
50 anos depois
 
50 anos depois
50 anos depois50 anos depois
50 anos depois
 
50 anos depois
50 anos depois50 anos depois
50 anos depois
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
11 chico xavier-emmanuel-50anosdepois
11 chico xavier-emmanuel-50anosdepois11 chico xavier-emmanuel-50anosdepois
11 chico xavier-emmanuel-50anosdepois
 
Sábios como camelos power point
Sábios como camelos power pointSábios como camelos power point
Sábios como camelos power point
 
Literaturaportuguesa
LiteraturaportuguesaLiteraturaportuguesa
Literaturaportuguesa
 
Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30
 
Novelas do Minho
Novelas do MinhoNovelas do Minho
Novelas do Minho
 
04 Til - José de Alencar1872-pwsf
04   Til - José de Alencar1872-pwsf04   Til - José de Alencar1872-pwsf
04 Til - José de Alencar1872-pwsf
 
A viuva do enforcado camilo castelo branco
A viuva do enforcado   camilo castelo brancoA viuva do enforcado   camilo castelo branco
A viuva do enforcado camilo castelo branco
 
A viuva do enforcado camilo castelo branco
A viuva do enforcado   camilo castelo brancoA viuva do enforcado   camilo castelo branco
A viuva do enforcado camilo castelo branco
 
Honoré de Balzac - O elixir da longa vida
Honoré de Balzac - O elixir da longa vidaHonoré de Balzac - O elixir da longa vida
Honoré de Balzac - O elixir da longa vida
 
Lenda da princesa Peralta
Lenda da princesa PeraltaLenda da princesa Peralta
Lenda da princesa Peralta
 

Último

AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxRonys4
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 

Último (20)

AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 

Cantigas profanas medievais

  • 1. Cantigas Profanas Medievais Maria Peres Balteira Famosa soldadeira galega, ativa nas cortes castelhanas de Fernando III e Afonso X. Provavelmente originária da povoação de Armea (Betanzos, A Coruña), na Galiza, Maria Peres terá nascido numa família da pequena nobreza, de quem vai herdar algumas propriedades. Do documento de venda de uma dessa suas herdades ao mosteiro galego de Sobrado, datado de 1257, se depreende que deve ter acabado confortavelmente os seus dias como familiar deste mosteiro, e isto atendendo aos termos em que é feito o acordo, e que indiciam um certo desafogo económico. De resto, e embora no referido documento não conste o nome Balteira, como nele se refere explicitamente que a transação é feita com vista a uma cruzada a realizar por Maria Peres, e a cruzada da Balteira é um dos motivos das cantigas que os trovadores afonsinos lhe dirigem, os investigadores, desde Martínez Salazar1, têm identificado a referida dona com a soldadeira. Já sobre o percurso posterior de Maria Balteira não há certezas, mas é possível que ainda fosse viva no início da década de oitenta do século XIII. Joao Vasques de Talaveira Maria Leve, u se maenfestava, direi-vos ora o que confessava: - Sõo velh', ai capelam! Nom sei hoj'eu mais pecado[r] burguesa de mim; mais vede-lo que mi mais pesa: sõo velh', ai capelam! Sempr[e] eu pequei, des que fui foduda, pero direi-vos per que [som] perduda: sõo velh', ai capelam! Afonso X, o Sábio Afonso X ataca jocosamente o deão de Cádis a propósito do seu gosto pelos livros eróticos, aliado ao seu pendor para a feitiçaria. Tratar-se-ia de livros árabes, como as referências às mouras parecem fazer entender? De qualquer forma, e numa linguagem bastante crua (embora transposta para a boca do criado que lhe levaria os ditos livros), o que Afonso X
  • 2. pretende dizer é que, com o pretexto de fazer curas milagrosas, ele punha em prática os ensinamentos desses livros com todas as mulheres que lhe passavam perto. Não havendo dados concretos que nos permitam datar com segurança a cantiga, é possível, como sugere Márquez Villanueva1, que ela tenha sido composta por volta de 1267, ano em que o rei se ocupou, junto do bispo de Sevilha, de alguns problemas fiscais do cabido de Cádiz. Acrescente-se que o deão de Cádiz Rui Dias foi um dos encarregados reais do Repartimento de Jerez, efetuado em 1264 (González Jimenez, 1999:310, nota 112). A tratar-se da mesma personagem, é possível que algum desentendimento posterior com o monarca tenha servido de contexto à sua cantiga. Ao daian de Cález eu achei livros que lhe levarian da benzer, e o que os tragia preguntei por eles, e respondeu-m' el: -Senher, con estesl i vros que vós veedes dous e conos outros que el ten dos sous, fod' el per eles quanto foder quer. E ainda vos end' eu mais direi: macar vel el muit' aja de leer, por quanto eu de sa fazenda sei, conosli v ro s que ten non á molher a que non faça que semelhen grous os corvos, e as anguias babous Per força de foder, se x'el quiser Ca non á mais, na arte do foder, do que enosl i vros que el ten jaz; e el á tal sabor de os leer,
  • 3. que nunca noite nen dia al faz; e sabe d' arte do foder tan ben, que cõnos seusl i vros d' artes, que el ten, fod' el as mouras cada que lhi praz.