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SÁBIOS COMO
CAMELOS
 Há muitos anos viveu na
Pérsia um grão-vizir, que
gostava imenso de ler.
Sempre que tinha de viajar
ele levava consigo
quatrocentos
camelos, carregados de
livros, e treinados para
caminhar em ordem
alfabética. O primeiro camelo
chamava- se Aba, o segundo
Baal, e assim por diante, até
ao último, que atendia pelo
nome de Zuzá. Quando lhe
apetecia ler um livro o grão-
vizir mandava parar a
caravana e ia de camelo em
camelo, até encontrar o título
certo.
 Um dia a caravana perdeu-se
no deserto. Os quatrocentos
camelos caminhavam em
fila, uns atrás dos outros. À
frente da cáfila, que é como
se chama uma fila de
camelos, seguiam o grão-vizir
e os seus ministros.
Subitamente o céu
escureceu, e um vento áspero
começou a soprar de
leste, cada vez mais forte. O
vento, carregado de
areia, magoava a pele.
 O grão-vizir mandou que os
camelos se juntassem
todos, formando um círculo.
Mas era demasiado tarde. A
areia entrava pela
roupa, enfiava-se pelos
cabelos, e as pessoas tinham
de tapar os olhos para não
ficarem cegas.
Aquilo durou a tarde inteira.
Veio a noite e quando o Sol
nasceu o grão-vizir olhou em
redor e não foi capaz de
descobrir um único dos
quatrocentos camelos.
Pensou, com horror, que
talvez eles tivessem ficado
enterrados na areia. Não
conseguiu imaginar como
seria a vida, dali para a
frente, sem um só livro para
ler.
Regressou muito triste ao seu
palácio. Quem lhe contaria
histórias? Os
camelos, porém, não tinham
morrido. Presos uns aos
outros por cordas, e
conduzidos por um jovem
pastor, haviam sido
arrastados pela tempestade
de areia até uma região
remota do deserto. Durante
muito tempo caminharam
sem rumo, tentando
encontrar um sinal, que os
voltasse a colocar no caminho
certo. Por toda a parte era só
areia, areia, e o ar seco e
quente. À noite as estrelas
quase se podiam tocar com os
dedos.
Ao fim de quinze dias, vendo
que os camelos iam morrer de
fome, o jovem pastor deu-
lhes alguns livros a comer.
Comeram primeiro os livros
transportados por Aba, ou
seja, todos os títulos
começados pela letra A. No
dia seguinte comeram os
livros de Baal. Trezentos e
noventa e oito dias
depois, quando tinham
terminado de comer os livros
de Zuzá, viram avançar ao
seu encontro um grupo de
homens. Eram as tropas do
grão-vizir Conduzido à
presença do grão-vizir o
jovem guardador de
camelos, explicou-
lhe, chorando, o que tinha
acontecido.
Mas este não se comoveu: -
Eras tu o responsável pelos
livros - disse -, assim por
cada livro destruído passarás
um dia na prisão. O
guardador de camelos fez
contas de
cabeça, rapidamente, e
percebeu que seriam muitos
dias. Cada camelo carregava
quatrocentos livros, então
quatrocentos camelos
transportavam cento e
sessenta mil! Cento e
sessenta mil dias são
quatrocentos e quarenta e
quatro anos. Muito antes
disso morreria de velhice na
cadeia.
Dois soldados amarraram-
lhe os braços atrás das
costas.
Já se preparavam para o
levar preso, quando Aba, o
camelo, se adiantou uns
passos e pediu licença para
falar: - Não faças isso,
meu senhor - disse Aba
dirigindo-se ao grão-vizir -
esse homem salvou-nos a
vida. O grão-vizir olhou
para ele espantado: - Meu
Deus! O camelo fala!?
- Falo sim, meu senhor -
Confirmou
Aba, divertido, com o
incrédulo silêncio dos
homens. - Os livros deram-
nos a nós, camelos, a ciência
da fala. Explicou que, tendo
comido os livros, os camelos
haviam adquirido não apenas
a capacidade de falar, mas
também o conhecimento que
estava em cada livro.
Lentamente enumerou de A a
Z os títulos que
ele, Aba, sabia de cor. Cada
camelo conhecia de memória
quatrocentos títulos.
- Liberta esse homem - disse
Aba -, e sempre que assim o
desejares nós viremos até ao
vosso palácio para contar
histórias.
O grão-vizir concordou.
Assim, a partir daquele
dia, todas as tardes, um
camelo subia até ao seu
quarto para lhe contar uma
história.
Na Pérsia, naquela época, era
habitual dizer-se de alguém
que mostrasse grande
inteligência: - Aquele homem
é sábio como um camelo. Isto
foi há muito tempo. Mas há
quem diga que, quando estão
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Camelos que comeram livros e aprenderam a falar

  • 2.  Há muitos anos viveu na Pérsia um grão-vizir, que gostava imenso de ler. Sempre que tinha de viajar ele levava consigo quatrocentos camelos, carregados de livros, e treinados para caminhar em ordem alfabética. O primeiro camelo chamava- se Aba, o segundo Baal, e assim por diante, até ao último, que atendia pelo nome de Zuzá. Quando lhe apetecia ler um livro o grão- vizir mandava parar a caravana e ia de camelo em camelo, até encontrar o título certo.
  • 3.  Um dia a caravana perdeu-se no deserto. Os quatrocentos camelos caminhavam em fila, uns atrás dos outros. À frente da cáfila, que é como se chama uma fila de camelos, seguiam o grão-vizir e os seus ministros. Subitamente o céu escureceu, e um vento áspero começou a soprar de leste, cada vez mais forte. O vento, carregado de areia, magoava a pele.
  • 4.  O grão-vizir mandou que os camelos se juntassem todos, formando um círculo. Mas era demasiado tarde. A areia entrava pela roupa, enfiava-se pelos cabelos, e as pessoas tinham de tapar os olhos para não ficarem cegas. Aquilo durou a tarde inteira. Veio a noite e quando o Sol nasceu o grão-vizir olhou em redor e não foi capaz de descobrir um único dos quatrocentos camelos. Pensou, com horror, que talvez eles tivessem ficado enterrados na areia. Não conseguiu imaginar como seria a vida, dali para a frente, sem um só livro para ler.
  • 5. Regressou muito triste ao seu palácio. Quem lhe contaria histórias? Os camelos, porém, não tinham morrido. Presos uns aos outros por cordas, e conduzidos por um jovem pastor, haviam sido arrastados pela tempestade de areia até uma região remota do deserto. Durante muito tempo caminharam sem rumo, tentando encontrar um sinal, que os voltasse a colocar no caminho certo. Por toda a parte era só areia, areia, e o ar seco e quente. À noite as estrelas quase se podiam tocar com os dedos.
  • 6. Ao fim de quinze dias, vendo que os camelos iam morrer de fome, o jovem pastor deu- lhes alguns livros a comer. Comeram primeiro os livros transportados por Aba, ou seja, todos os títulos começados pela letra A. No dia seguinte comeram os livros de Baal. Trezentos e noventa e oito dias depois, quando tinham terminado de comer os livros de Zuzá, viram avançar ao seu encontro um grupo de homens. Eram as tropas do grão-vizir Conduzido à presença do grão-vizir o jovem guardador de camelos, explicou- lhe, chorando, o que tinha acontecido.
  • 7. Mas este não se comoveu: - Eras tu o responsável pelos livros - disse -, assim por cada livro destruído passarás um dia na prisão. O guardador de camelos fez contas de cabeça, rapidamente, e percebeu que seriam muitos dias. Cada camelo carregava quatrocentos livros, então quatrocentos camelos transportavam cento e sessenta mil! Cento e sessenta mil dias são quatrocentos e quarenta e quatro anos. Muito antes disso morreria de velhice na cadeia.
  • 8. Dois soldados amarraram- lhe os braços atrás das costas. Já se preparavam para o levar preso, quando Aba, o camelo, se adiantou uns passos e pediu licença para falar: - Não faças isso, meu senhor - disse Aba dirigindo-se ao grão-vizir - esse homem salvou-nos a vida. O grão-vizir olhou para ele espantado: - Meu Deus! O camelo fala!?
  • 9. - Falo sim, meu senhor - Confirmou Aba, divertido, com o incrédulo silêncio dos homens. - Os livros deram- nos a nós, camelos, a ciência da fala. Explicou que, tendo comido os livros, os camelos haviam adquirido não apenas a capacidade de falar, mas também o conhecimento que estava em cada livro. Lentamente enumerou de A a Z os títulos que ele, Aba, sabia de cor. Cada camelo conhecia de memória quatrocentos títulos.
  • 10. - Liberta esse homem - disse Aba -, e sempre que assim o desejares nós viremos até ao vosso palácio para contar histórias. O grão-vizir concordou. Assim, a partir daquele dia, todas as tardes, um camelo subia até ao seu quarto para lhe contar uma história.
  • 11. Na Pérsia, naquela época, era habitual dizer-se de alguém que mostrasse grande inteligência: - Aquele homem é sábio como um camelo. Isto foi há muito tempo. Mas há quem diga que, quando estão sozinhos, os camelos ainda conversam entre si. Pode ser!