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Jürgen Habermas
Moderação justificada.
Existem respostas pós-
metafísicas para a
questão sobre a “vida
correta”?
A triste ciência, da qual ofereço algo a meu amigo, refere-se
a um domínio que em tempos imemoriais era tido como
próprio da filosofia, mas que desde a transformação desta
em método ficou à mercê da desatenção intelectual, da
arbitrariedade sentenciosa, e, por fim, caiu em
esquecimento: a doutrina da vida reta. Aquilo que “vida”
significava outrora para os filósofos passou a fazer parte da
esfera privada e, mais tarde ainda, da esfera do mero
consumo, que o processo de produção material arrasta
consigo como um apêndice sem autonomia e sem substância
própria.
Quem quiser saber a verdade acerca da vida imediata tem
que investigar sua configuração alienada, investigar os
poderes objetivos que determinam a existência individual
até o mais recôndito nela. Se falarmos de modo imediato
sobre o que é imediato, vamos nos comportar quase como
aqueles romancistas que cobrem suas marionetes de
ornamentos baratos, revestindo-as de imitações dos
sentimentos de antigamente, e fazem agir as pessoas, que
nada mais são do que engrenagens da maquinaria, como se
estas ainda conseguissem agir como sujeitos e como se algo
dependesse de sua ação. O olhar lançado à vida transformou-
se em ideologia, que tenta nos iludir escondendo o fato de
que não há mais vida.
ADORNO, Theodor. Minima moralia: reflexões a partir da vida danificada. p. 7.
Introdução
O que faço com o tempo da minha vida?
O que devo fazer com o tempo de minha vida?
Crise da metafísica:
Não seria possível “dar respostas definitivas a
perguntas sobre a conduta de vida pessoal ou
coletiva.”
Ética como “ciência triste” (em oposição à gaia
ciência nietzschiana):
Oferece “reflexões” (e não respostas) dispersas (em
vez de sistemáticas e definitivas).
“Reflexões” essas “originadas a partir da vida
prejudicada”.
Parte I
Para Habermas,
(a)o que seria uma vida não prejudicada?
(b)e o que seria uma ética capaz de dar respostas definitivas
a respeito da conduta de vida individual e coletiva?
1) Qual filosofia é capaz de oferecer essas respostas?
Aquela que pode “se assegurar da totalidade da natureza e
da história”.
2) Por quê?
Porque ela oferecia uma base “supostamente” sólida, “na
qual a vida humana dos indivíduos e das comunidades devia
se inserir.”
3) Por que essa base era sólida ou “consolidada”?
Porque oferecia uma compreensão:
a) da estrutura do cosmos e da natureza humana;
b) das fases da história universal e da história sagrada.
E essa compreensão, por sua vez, oferecia:
a) “elementos impregnados de normas (…)”
b) “(…) que ‘aparentemente’ ofereciam elucidação sobre a
vida correta.”
4) O que quer dizer “correção” para essas filosofias?
“‘Correto’ tinha o sentido exemplar de um modelo [religoso
ou secular] digno de imitação para a vida, seja pelo
indivíduo, seja pela comunidade política.”
“As doutrinas da boa vida e da sociedade justa, como a ética
e política, eram ainda doutrinas com uma base única, que
formavam um todo.”
5) O que houve para que não se considerasse mais possível
um filosofia como aquelas?
A “aceleração da transformação social”, a partir da
modernidade, teve por consequência o encurtamento do
período de validade (do reconhecimento comum, da
“autoridade”, da “evidência”) desses modelos de vida.
NOTA: O diagnóstico habermasiano se faz a partir da tese
weberiana da modernização e do “desencantamento do
mundo”.
Qual a resposta habermasiana a essa impossibilidade de
respostas definitivas a respeito da boa vida?
O liberalismo político de John Rawls como “o ponto final
dessa evolução”:
1) Qual o diagnóstico do liberalismo político em relação às
nossas sociedades atuais?
(a) O “pluralismo ideológico” e à “individualização crescente
dos estilos de vida.”
(b) O “fracasso das tentativas filosóficas de designar
determinados modos de vida como exemplares ou
universalmente decisivos.”
2) Qual a resposta do liberalismo político a esse diagnóstico?
Uma concepção de sociedade justa que:
(a) “deixa ao critério de todas as pessoas aquilo que elas
querem ‘iniciar com o tempo de suas vidas’.”
(b) “garante a todos a mesma liberdade para desenvolver
uma autocompreensão ética, a fim de formar uma concepção
pessoal da ‘boa vida’ segundo capacidades e critérios
próprios.”
EXCURSO:
(…) eu suponho que os membros de uma sociedade bem-
ordenada são, eles mesmos, pessoas morais livres e iguais.
a) Elas são morais na medida em que, uma vez que já
alcançaram a idade da razão, cada um tem e vê os outros
como tendo um senso realizado de justiça; e este sentimento
informa a sua conduta na maior parte do tempo.
b) Que eles sejam iguais é expresso pela suposição que cada
um deles tem e se vê mutuamente como possuindo um
direito ao respeito igual e consideração em determinar os
princípios pelos quais os arranjos básicos da sociedade
devem ser regulados.
c) Finalmente, exprimimos o fato de serem livres ao
estipular que cada um deles tem e se vê mutuamente como
possuindo propósitos fundamentais e interesses de ordem
superior (uma concepção do seu bem) em nome dos quais é
legítimo fazer reivindicações mútuas quanto ao desígnio de
suas instituições. Ao mesmo tempo, enquanto pessoas livres
eles não pensam em si mesmos como inevitavelmente
vinculados, ou como idênticos com, à busca de qualquer
arranjo particular de interesses fundamentais que eles
possam ter num momento qualquer; pelo contrário, eles se
concebem a si mesmos como capazes de revisar e alterar
esses fins terminais e dão prioridade à preservação da sua
liberdade nesse sentido.
RAWLS, John. “A kantian conception of equality”. p. 51-52.
3) O liberalismo político não pressupõe uma concepção isolada,
“desenraizada”, do eu?
É verdade que “os projetos individuais de vida não se formam
independentemente dos contextos partilhados
intersubjetivamente.”
Habermas, contudo, recusa o papel determinante desses contextos
por duas razões:
a) “(…) dentro de uma sociedade complexa, uma cultura só
consegue se afirmar perante as outras convencendo as novas
gerações, que também podem dizer ‘não’, das vantagens de sua
semântica que viabiliza o mundo e de sua força orientada para a
ação.”
b) “(…) num Estado constitucional democrático, a maioria não
pode prescrever às minorias a própria forma de vida cultural – na
medida em que estas se distanciam da cultura política comum do
país – como uma suposta cultura de referência.”
4) Se a filosofia prática não se ocupa com a boa vida, com o que ela
se ocupa?
As reflexões normativas se limitam a questões de justiça, evitando
as questões relativas ao bem.
A filosofia “se esforça especialmente para elucidar o ponto de vista
moral que adotamos para julgar normas e ações sempre que se
trata de estabelecer o que é de igual interesse de cada um e
igualmente bom para todos.”
À pergunta “o que devo fazer?”, ela responde apenas a partir da
“perspectiva inclusiva do ‘nós’”, que diz respeito aos “direitos e
deveres que todos atribuem uns aos outros”.
5) De que tratam, então, as questões propriamente éticas?
Elas partem da perspectiva da primeira pessoa (do “eu”) e
perguntam “qual a melhor coisa a fazer ‘por mim’ ou ‘por nós’
a longo prazo, observando-se o todo.”
“Com efeito, tais questões éticas sobre a própria sorte se
estabelecem no contexto de uma determinada história de
vida ou de uma forma de vida especial. Elas se identificam
com questões sobre a identidade: como devemos nos
compreender, quem somos e quem queremos ser.”
O problema com essas perguntas é que, para elas:
“(…) não há, evidentemente, nenhuma resposta que não
dependa do respectivo contexto e, portanto, que seja
universal e igualmente definitiva para todas as pessoas.”
6) A consequente divisão entre justiça e moral, de um lado, e
ética, de outro.
“Do ponto de vista moral, sentimo-nos obrigados a abstrair
daquelas imagens exemplares, que nos são transmitidas nas
grandes narrativas metafísicas e religiosas, de uma vida
bem ou mal sucedida.”
7) A separação, correlata àquela entre justiça e ética, entre
filosofia e autocompreensão existencial.
“Nossa autocompreensão existencial pode até se alimentar
da substância dessas transmissões, mas a filosofia não pode
mais intervir no debate desses poderes de fé, fundada em seu
direito próprio.”
A consequência dessa interdição explica o porquê de
Habermas mencionar a qualificação adorniana da ética como
“ciência triste”:
“Justamente nas questões que, para nós, são de maior
relevância, a filosofia se desloca para um plano superior e
passa a analisar apenas as propriedades formais dos
processos de autocompreensão, sem adotar ela mesma uma
posição a respeito dos conteúdos. Isso pode ser insatisfatório,
mas o que pode ser alegado contra uma moderação bem
fundamentada?”
8) A cisão entre ética e moral enfraquece a moral.
“Certamente, a teoria moral paga um preço muito alto por
dividir seu trabalho com uma ética especializada nas formas
da autocompreensão existencial. Desse modo, ela desfaz a
conexão, que é a única a garantir aos julgamentos morais a
motivação para agir corretamente.”
9) Quais os limites de uma filosofia moral que fala em dever
sem falar em ética?
“As convicções morais só condicionam efetivamente a vontade
quando se encontram inseridas numa autocompreensão ética,
que coloca a preocupação com o próprio bem-estar a serviço do
interesse pela justiça. Teorias deontológicas após Kant
ainda poderiam explicar muito bem como as normas morais
devem ser fundamentadas e aplicadas; no entanto, elas não são
capazes de responder por que devemos efetivamente ser
morais. Tampouco podem as teorias políticas responder por
que os cidadãos de uma comunidade democrática, na discussão
sobre os princípios da vida em comum, devem orientar-se pelo
bem-estar comum em vez de se contentarem com um modus
vivendi negociado de acordo com os princípios da racionalidade
voltada para fins específicos. As teorias da justiça, desatreladas
da ética, só podem esperar pela ‘transigência’ de processos de
socialização e formas políticas de vida.”
10) Quem ocupa o lugar ao qual a filosofia renunciou?
“Ainda mais inquietante é querer saber por que a ética
filosófica deixou o campo livre àquelas psicoterapias, que,
com a eliminação de perturbações psíquicas, se encarregam
da clássica tarefa de orientar a vida sem grandes
escrúpulos.”
11) Há um núcleo filosófico nessas questões, mesmo quando
elas são tratadas fora da filosofia?
“O núcleo filosófico da psicanálise, por exemplo, distingue-se
claramente em Alexander Mitscherlich, que entende a
doença psíquica como uma lesão a um modo de existência
especificamente humano. Ela significa uma perda de
liberdade causada pelo próprio doente, pois este apenas
compensa com seus sintomas um sofrimento produzido
inconscientemente – sofrimento esse do qual ele escapa pela
autodissimulação. O objetivo da terapia seria um
autoconhecimento, que ‘frequentemente não passa da
transformação da doença em sofrimento, porém um
sofrimento que eleva o grau do Homo sapiens, pois não
aniquila sua liberdade.’”
12) O conceito de doença implica em normatividade?
“Deve-se o conceito de ‘doença’ psíquica a uma construção
analógica com doença somática. Mas até que ponto chega
essa analogia, se ainda faltam, na área psíquica, parâmetros
de observação e de julgamento precisos para determinar o
estado saudável?”
13) Essa normatividade da doença psíquica tem a ver com
nossa autocompreensão existencial (ética)?
“Obviamente, é preciso que uma compreensão normativa do
‘ser si mesmo não perturbado’ substitua os indicadores
somáticos que faltam. Isso se torna evidente sobretudo nos
casos em que a opressão causada pelo sofrimento, que leva
os pacientes ao analista, acaba sendo ela própria reprimida,
de modo que a perturbação se introduz discretamente na
vida normal.”
14) Que lugar a filosofia pode ocupar nessas discussões?
“Por que a filosofia deveria se intimidar, por exemplo, com
aquilo que a psicanálise se julga capaz de fazer? Trata-se de
esclarecer nossa compreensão intuitiva a respeito das
características clínicas de uma vida fracassada ou não.
Mesmo assim, a declaração de Alexander Mitscherlich,
mencionada anteriormente, revela as pistas de Kierkegaard
e de seus sucessores filosófico-existencialistas, o que não é
por acaso.”
REFERÊNCIAS:
ADORNO, Theodor. Minima moralia: reflexões a partir da vida
danificada. São Paulo: Ática, 1992.
HABERMAS, Jürgen. “Moderação justificada. Existem respostas pós-
metafísicas para a questão sobre a ‘vida correta’?”. In: _____. O futuro
da natureza humana. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 3-22.
RAWLS, John. “A kantian conception of equality”. In: DE OLIVEIRA,
Nithamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2013. p. 50-65. (Coleção
Filosofia Passo-a-passo, 18).

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Habermas moderação justificada (parte i)

  • 1. Jürgen Habermas Moderação justificada. Existem respostas pós- metafísicas para a questão sobre a “vida correta”?
  • 2. A triste ciência, da qual ofereço algo a meu amigo, refere-se a um domínio que em tempos imemoriais era tido como próprio da filosofia, mas que desde a transformação desta em método ficou à mercê da desatenção intelectual, da arbitrariedade sentenciosa, e, por fim, caiu em esquecimento: a doutrina da vida reta. Aquilo que “vida” significava outrora para os filósofos passou a fazer parte da esfera privada e, mais tarde ainda, da esfera do mero consumo, que o processo de produção material arrasta consigo como um apêndice sem autonomia e sem substância própria.
  • 3. Quem quiser saber a verdade acerca da vida imediata tem que investigar sua configuração alienada, investigar os poderes objetivos que determinam a existência individual até o mais recôndito nela. Se falarmos de modo imediato sobre o que é imediato, vamos nos comportar quase como aqueles romancistas que cobrem suas marionetes de ornamentos baratos, revestindo-as de imitações dos sentimentos de antigamente, e fazem agir as pessoas, que nada mais são do que engrenagens da maquinaria, como se estas ainda conseguissem agir como sujeitos e como se algo dependesse de sua ação. O olhar lançado à vida transformou- se em ideologia, que tenta nos iludir escondendo o fato de que não há mais vida. ADORNO, Theodor. Minima moralia: reflexões a partir da vida danificada. p. 7.
  • 5. O que faço com o tempo da minha vida? O que devo fazer com o tempo de minha vida?
  • 6. Crise da metafísica: Não seria possível “dar respostas definitivas a perguntas sobre a conduta de vida pessoal ou coletiva.” Ética como “ciência triste” (em oposição à gaia ciência nietzschiana): Oferece “reflexões” (e não respostas) dispersas (em vez de sistemáticas e definitivas). “Reflexões” essas “originadas a partir da vida prejudicada”.
  • 8. Para Habermas, (a)o que seria uma vida não prejudicada? (b)e o que seria uma ética capaz de dar respostas definitivas a respeito da conduta de vida individual e coletiva? 1) Qual filosofia é capaz de oferecer essas respostas? Aquela que pode “se assegurar da totalidade da natureza e da história”. 2) Por quê? Porque ela oferecia uma base “supostamente” sólida, “na qual a vida humana dos indivíduos e das comunidades devia se inserir.”
  • 9. 3) Por que essa base era sólida ou “consolidada”? Porque oferecia uma compreensão: a) da estrutura do cosmos e da natureza humana; b) das fases da história universal e da história sagrada. E essa compreensão, por sua vez, oferecia: a) “elementos impregnados de normas (…)” b) “(…) que ‘aparentemente’ ofereciam elucidação sobre a vida correta.”
  • 10. 4) O que quer dizer “correção” para essas filosofias? “‘Correto’ tinha o sentido exemplar de um modelo [religoso ou secular] digno de imitação para a vida, seja pelo indivíduo, seja pela comunidade política.” “As doutrinas da boa vida e da sociedade justa, como a ética e política, eram ainda doutrinas com uma base única, que formavam um todo.”
  • 11. 5) O que houve para que não se considerasse mais possível um filosofia como aquelas? A “aceleração da transformação social”, a partir da modernidade, teve por consequência o encurtamento do período de validade (do reconhecimento comum, da “autoridade”, da “evidência”) desses modelos de vida. NOTA: O diagnóstico habermasiano se faz a partir da tese weberiana da modernização e do “desencantamento do mundo”.
  • 12. Qual a resposta habermasiana a essa impossibilidade de respostas definitivas a respeito da boa vida? O liberalismo político de John Rawls como “o ponto final dessa evolução”: 1) Qual o diagnóstico do liberalismo político em relação às nossas sociedades atuais? (a) O “pluralismo ideológico” e à “individualização crescente dos estilos de vida.” (b) O “fracasso das tentativas filosóficas de designar determinados modos de vida como exemplares ou universalmente decisivos.”
  • 13. 2) Qual a resposta do liberalismo político a esse diagnóstico? Uma concepção de sociedade justa que: (a) “deixa ao critério de todas as pessoas aquilo que elas querem ‘iniciar com o tempo de suas vidas’.” (b) “garante a todos a mesma liberdade para desenvolver uma autocompreensão ética, a fim de formar uma concepção pessoal da ‘boa vida’ segundo capacidades e critérios próprios.”
  • 14. EXCURSO: (…) eu suponho que os membros de uma sociedade bem- ordenada são, eles mesmos, pessoas morais livres e iguais. a) Elas são morais na medida em que, uma vez que já alcançaram a idade da razão, cada um tem e vê os outros como tendo um senso realizado de justiça; e este sentimento informa a sua conduta na maior parte do tempo. b) Que eles sejam iguais é expresso pela suposição que cada um deles tem e se vê mutuamente como possuindo um direito ao respeito igual e consideração em determinar os princípios pelos quais os arranjos básicos da sociedade devem ser regulados.
  • 15. c) Finalmente, exprimimos o fato de serem livres ao estipular que cada um deles tem e se vê mutuamente como possuindo propósitos fundamentais e interesses de ordem superior (uma concepção do seu bem) em nome dos quais é legítimo fazer reivindicações mútuas quanto ao desígnio de suas instituições. Ao mesmo tempo, enquanto pessoas livres eles não pensam em si mesmos como inevitavelmente vinculados, ou como idênticos com, à busca de qualquer arranjo particular de interesses fundamentais que eles possam ter num momento qualquer; pelo contrário, eles se concebem a si mesmos como capazes de revisar e alterar esses fins terminais e dão prioridade à preservação da sua liberdade nesse sentido. RAWLS, John. “A kantian conception of equality”. p. 51-52.
  • 16. 3) O liberalismo político não pressupõe uma concepção isolada, “desenraizada”, do eu? É verdade que “os projetos individuais de vida não se formam independentemente dos contextos partilhados intersubjetivamente.” Habermas, contudo, recusa o papel determinante desses contextos por duas razões: a) “(…) dentro de uma sociedade complexa, uma cultura só consegue se afirmar perante as outras convencendo as novas gerações, que também podem dizer ‘não’, das vantagens de sua semântica que viabiliza o mundo e de sua força orientada para a ação.” b) “(…) num Estado constitucional democrático, a maioria não pode prescrever às minorias a própria forma de vida cultural – na medida em que estas se distanciam da cultura política comum do país – como uma suposta cultura de referência.”
  • 17. 4) Se a filosofia prática não se ocupa com a boa vida, com o que ela se ocupa? As reflexões normativas se limitam a questões de justiça, evitando as questões relativas ao bem. A filosofia “se esforça especialmente para elucidar o ponto de vista moral que adotamos para julgar normas e ações sempre que se trata de estabelecer o que é de igual interesse de cada um e igualmente bom para todos.” À pergunta “o que devo fazer?”, ela responde apenas a partir da “perspectiva inclusiva do ‘nós’”, que diz respeito aos “direitos e deveres que todos atribuem uns aos outros”.
  • 18. 5) De que tratam, então, as questões propriamente éticas? Elas partem da perspectiva da primeira pessoa (do “eu”) e perguntam “qual a melhor coisa a fazer ‘por mim’ ou ‘por nós’ a longo prazo, observando-se o todo.” “Com efeito, tais questões éticas sobre a própria sorte se estabelecem no contexto de uma determinada história de vida ou de uma forma de vida especial. Elas se identificam com questões sobre a identidade: como devemos nos compreender, quem somos e quem queremos ser.” O problema com essas perguntas é que, para elas: “(…) não há, evidentemente, nenhuma resposta que não dependa do respectivo contexto e, portanto, que seja universal e igualmente definitiva para todas as pessoas.”
  • 19. 6) A consequente divisão entre justiça e moral, de um lado, e ética, de outro. “Do ponto de vista moral, sentimo-nos obrigados a abstrair daquelas imagens exemplares, que nos são transmitidas nas grandes narrativas metafísicas e religiosas, de uma vida bem ou mal sucedida.”
  • 20. 7) A separação, correlata àquela entre justiça e ética, entre filosofia e autocompreensão existencial. “Nossa autocompreensão existencial pode até se alimentar da substância dessas transmissões, mas a filosofia não pode mais intervir no debate desses poderes de fé, fundada em seu direito próprio.” A consequência dessa interdição explica o porquê de Habermas mencionar a qualificação adorniana da ética como “ciência triste”: “Justamente nas questões que, para nós, são de maior relevância, a filosofia se desloca para um plano superior e passa a analisar apenas as propriedades formais dos processos de autocompreensão, sem adotar ela mesma uma posição a respeito dos conteúdos. Isso pode ser insatisfatório, mas o que pode ser alegado contra uma moderação bem fundamentada?”
  • 21. 8) A cisão entre ética e moral enfraquece a moral. “Certamente, a teoria moral paga um preço muito alto por dividir seu trabalho com uma ética especializada nas formas da autocompreensão existencial. Desse modo, ela desfaz a conexão, que é a única a garantir aos julgamentos morais a motivação para agir corretamente.”
  • 22. 9) Quais os limites de uma filosofia moral que fala em dever sem falar em ética? “As convicções morais só condicionam efetivamente a vontade quando se encontram inseridas numa autocompreensão ética, que coloca a preocupação com o próprio bem-estar a serviço do interesse pela justiça. Teorias deontológicas após Kant ainda poderiam explicar muito bem como as normas morais devem ser fundamentadas e aplicadas; no entanto, elas não são capazes de responder por que devemos efetivamente ser morais. Tampouco podem as teorias políticas responder por que os cidadãos de uma comunidade democrática, na discussão sobre os princípios da vida em comum, devem orientar-se pelo bem-estar comum em vez de se contentarem com um modus vivendi negociado de acordo com os princípios da racionalidade voltada para fins específicos. As teorias da justiça, desatreladas da ética, só podem esperar pela ‘transigência’ de processos de socialização e formas políticas de vida.”
  • 23. 10) Quem ocupa o lugar ao qual a filosofia renunciou? “Ainda mais inquietante é querer saber por que a ética filosófica deixou o campo livre àquelas psicoterapias, que, com a eliminação de perturbações psíquicas, se encarregam da clássica tarefa de orientar a vida sem grandes escrúpulos.”
  • 24. 11) Há um núcleo filosófico nessas questões, mesmo quando elas são tratadas fora da filosofia? “O núcleo filosófico da psicanálise, por exemplo, distingue-se claramente em Alexander Mitscherlich, que entende a doença psíquica como uma lesão a um modo de existência especificamente humano. Ela significa uma perda de liberdade causada pelo próprio doente, pois este apenas compensa com seus sintomas um sofrimento produzido inconscientemente – sofrimento esse do qual ele escapa pela autodissimulação. O objetivo da terapia seria um autoconhecimento, que ‘frequentemente não passa da transformação da doença em sofrimento, porém um sofrimento que eleva o grau do Homo sapiens, pois não aniquila sua liberdade.’”
  • 25. 12) O conceito de doença implica em normatividade? “Deve-se o conceito de ‘doença’ psíquica a uma construção analógica com doença somática. Mas até que ponto chega essa analogia, se ainda faltam, na área psíquica, parâmetros de observação e de julgamento precisos para determinar o estado saudável?”
  • 26. 13) Essa normatividade da doença psíquica tem a ver com nossa autocompreensão existencial (ética)? “Obviamente, é preciso que uma compreensão normativa do ‘ser si mesmo não perturbado’ substitua os indicadores somáticos que faltam. Isso se torna evidente sobretudo nos casos em que a opressão causada pelo sofrimento, que leva os pacientes ao analista, acaba sendo ela própria reprimida, de modo que a perturbação se introduz discretamente na vida normal.”
  • 27. 14) Que lugar a filosofia pode ocupar nessas discussões? “Por que a filosofia deveria se intimidar, por exemplo, com aquilo que a psicanálise se julga capaz de fazer? Trata-se de esclarecer nossa compreensão intuitiva a respeito das características clínicas de uma vida fracassada ou não. Mesmo assim, a declaração de Alexander Mitscherlich, mencionada anteriormente, revela as pistas de Kierkegaard e de seus sucessores filosófico-existencialistas, o que não é por acaso.”
  • 28. REFERÊNCIAS: ADORNO, Theodor. Minima moralia: reflexões a partir da vida danificada. São Paulo: Ática, 1992. HABERMAS, Jürgen. “Moderação justificada. Existem respostas pós- metafísicas para a questão sobre a ‘vida correta’?”. In: _____. O futuro da natureza humana. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 3-22. RAWLS, John. “A kantian conception of equality”. In: DE OLIVEIRA, Nithamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2013. p. 50-65. (Coleção Filosofia Passo-a-passo, 18).