Este documento discute o papel dos roteiros de observação de aulas no contexto do estágio supervisionado. Ele propõe uma nova configuração para os roteiros que promova uma abordagem mais crítica por parte dos estagiários. O documento argumenta que os roteiros atuais focam muito na avaliação do estagiário e não estabelecem interação com a escola. Uma abordagem mais dialógica e contextualizada pode ajudar os estagiários a desenvolver uma postura analítica em relação às suas experiências no estágio.
O papel do roteiro de observação de aulas no contexto do estágio supervisionado
1. Roles y funciones de profesores mentores, supervisores, tutores en su relación
con los profesores principiantes
INFORME DE EXPERIÊNCIA
O PAPEL DO ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DE AULAS NO CONTEXTO DO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
RITTER, Lilian Cristina Buzato
bliliancristina@hotmail.com
Universidade Estadual de Maringá – UEM
Palavras-chave: formação inicial - estágio de observação - língua portuguesa - roteiro de
observação de aulas - dialogismo.
O presente trabalho insere-se no projeto de pesquisa “Letramento para o local de
trabalho: práticas de linguagem na formação inicial” (UEM), cujo foco de análise volta-se
às condições de produção do gênero diário de observação de aulas de Língua
Portuguesa, ferramenta utilizada durante o Estágio Supervisionado II, do curso de Letras,
que possibilita aos professorandos a observação de aulas de professores em serviço,
para que, diante da realidade observada e compreendida, possam assumir uma postura
crítica em relação às práticas linguísticas coletadas nas unidades concedentes do
estágio. Contudo, como está hoje configurada, essa ferramenta apenas serve para
avaliar o estagiário, sem dar efetivamente voz a esse estagiário e sem estabelecer
qualquer interação com a escola. Entendemos que nós, professores formadores,
assumindo a posição defendida por Kleiman (2007) de agentes de letramento, devemos
procurar caminhos mais favoráveis para o desenvolvimento de atitudes mais críticas, por
parte de nossos estagiários, em relação às suas experiências de estágio. Portanto, o
presente trabalho propõe-se a apresentar um relato de experiência de uma nova
configuração para as condições de produção do relatório reflexivo de observação de
aulas de língua portuguesa realizada durante a intervenção de uma professora
formadora, no contexto do Estágio Supervisionado II, tomando como objeto de
investigação os roteiros de observação de aulas de Língua Portuguesa, por entendermos
que esses gêneros constituem-se como uma prática de leitura de aulas, no caso, aulas
de Língua Portuguesa. Em vista disso, a justificativa para a realização desta pesquisa
deu-se pelos seguintes aspectos: a descrição das aulas é feita por coleta de informações
sem critérios respaldados na pesquisa qualitativa de caráter etnográfico, resultando, na
maioria das vezes, em um relato descritivo muito genérico; o roteiro de observação de
aulas, no contexto da disciplina Estágio Supervisionado, é um gênero utilizado para
orientar o olhar crítico do professorando para a aula de Língua Portuguesa. Partimos da
premissa de que as práticas de leitura e escrita de roteiros de observação de aulas de
Língua Portuguesa podem contribuir para modelar o fazer pedagógico característico dos
agentes de letramento, desde que os estagiários sejam preparados para analisar
criticamente suas experiências de estágio. Esta investigação parte de uma perspectiva
contemporânea de Linguística Aplicada (LA), ancorando-se teórico-metodologicamente
2. na Análise Dialógica de Discurso (ADD), que, em consonância aos postulados do Círculo
de Bakhtin, consolida-se em uma área de pesquisa que busca “[...] compreender as
regularidades enunciativo-discursivas que engendram e se engendram na constituição e
no funcionamento dos gêneros do discurso, objetivando entender a relativa estabilização
linguístico-enunciativa desse gênero [...]” (ACOSTA-PEREIRA; RODRIGUES, 2010,
p.152). Seguimos uma abordagem qualitativa, isto é, uma abordagem interpretativa para
analisar e interpretar os dados. A coleta dos roteiros de observação foi desenvolvida
durante a supervisão de estagiários na própria disciplina de Estágio Supervisionado II,
por meio de notações de campo. A análise preliminar dos dados aponta que a
ressignificação da observação de aulas para uma prática mais colaborativa e menos
avaliativa implica o investimento do professor formador em posturas mais reflexivas
acerca de questões sócio-históricas tanto acerca do processo ensino-aprendizagem de
língua portuguesa quanto da própria formação do professor. Em pesquisa anterior (HILA;
RITTER, 2013), já havíamos constatado que a observação de aulas é vista pelos
estagiários como uma atividade avaliativa, na qual o professor em exercício e os alunos
do ensino fundamental e médio representam modelos de condutas que podem ou não
serem reproduzidos na formação inicial, sendo que o papel social assumido pelos
estagiários é de um expectador que reproduz ou não modelos observados. No papel
social de professoras formadoras, podemos problematizar essas constatações a respeito
das apreciações valorativas dos professorandos, com o intuito de oportunizar-lhes uma
postura mais crítica durante o estágio de observação. Dessa forma, na perspectiva
bakhtiniana (BAKHTIN, 2003), no contexto do estágio de observação, procuramos
mobilizar parâmetros de observação que propiciassem o estagiário a assumir a posição
social de analista das condições de produção de determinado enunciado, ou seja, de
leitor crítico de um gênero da esfera escolar - aulas de Língua Portuguesa. Para tanto,
instigamos os professorandos a refletirem sobre vários aspectos sócio-históricos
constitutivos das ações realizadas nas aulas observadas, tendo como ponto de partida
reflexões a respeito do papel da observação para a formação profissional do professor.
Em seguida, elaboramos questões para o roteiro de observação que auxiliassem o
estagiário, primeiramente, a descrever as ações observadas, para, em seguida, articular
essas ações a princípios teórico-metodológicos (concepções de língua, de linguagem e
de ensino de língua portuguesa), éticos, históricos que determinam as ações do professor
e dos alunos. Além disso, para favorecer a visão crítica do professorando propomos
questões que os levassem a perceber como fatores do contexto sócio-histórico
manifestam-se na sala de aula e afetam o processo de ensino-aprendizagem. Podemos
considerar que a maioria dos relatos orais das aulas observadas ampliou a postura
cristalizada de julgar a aula observada e atribuir somente ao professor em serviço a
responsabilidade dos aspectos negativos no contexto observado.
Referências
ACOSTA-PEREIRA, A.R.; RODRIGUES, R.H. Os gêneros do discurso sob perspectiva
da Análise Dialógica de Discurso do Círculo de Bakhtin. Revista Letras, Santa Maria:
UFSM, v.20, n.42, p.147-162, jan/jun, 2010.
3. BAKHTIN, M.M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
HILA, C.V.D. ; RITTER, L.C.B. O estágio de observação e as apreciações valorativas dos
estagiários. Revista Olh@res, Guarulhos, v. 1, n1, p. 163-182, maio. 2013.
KLEIMAN, A. Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Revista
Signo, Santa Cruz do Sul, v. 32, n. 53, p. 1-25, dez. 2007.