A dislexia afeta entre 2-10% da população e causa dificuldades na leitura fluente e compreensão do que é lido. Ela não é causada por preguiça ou falta de inteligência, mas sim por diferenças neurológicas. Sintomas incluem leitura lenta e errática, com substituição e repetição de palavras. Uma avaliação multidisciplinar é necessária para diagnóstico, e intervenção precoce e regular pode ajudar a maioria dos estudantes com dislexia a superar suas dificuldades.
1. O QUE É A DISLEXIA?
UMA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICA DA
LEITURA
Cerca de 2 a 10% da população tem dislexia, ou seja, existe um número muito significativo
de pessoas que não consegue ler fluentemente e/ou que não consegue compreender aquilo
que leem. Para estas pessoas ler exige um esforço tremendo para discriminarem as letras,
juntá-las para formarem palavras e ainda para compreenderem o significado desse conjunto de
palavras. Cerca de 48% dos alunos com necessidades educativas especiais têm dislexia. Os
alunos que têm estas dificuldades não são preguiçosos, imaturos, não têm problemas visuais
ou posturais, não são pouco inteligentes, nem é por não gostarem de ler que têm dificuldades,
estas são intrínsecas. Eles verdadeiramente necessitam de um apoio específico e de
adaptações no processo de ensino-aprendizagem, para que consigam ter sucesso.
A dislexia é considerada uma dificuldade crónica, que se manifesta pela dificuldade em
aprender a ler, sem que tal esteja relacionado com a qualidade do ensino, o nível intelectual, as
oportunidades socioculturais, nem com alterações sensoriais. Estas dificuldades têm uma base
neurobiológica, ou seja, existem alterações na estrutura e funcionamento neurológico, e têm
influências genéticas.
As principais características escolares observáveis são uma leitura lenta,
silábica, sem ritmo, com leitura parcial de palavras, substituição de
palavras, repetições, hesitações e correções constantes, confusões quanto
à ordem das letras e confusão entre os sons semelhantes.
Quando são detetadas estas dificuldades num aluno, este deve ser encaminhado para
uma avaliação psicopedagógica, para que seja feito o despiste de dislexia por uma equipa
multidisciplinar. A avaliação deve incluir a história clínica do aluno, a recolha de informação dos
professores, uma avaliação cognitiva e comportamental, a avaliação da consciência fonológica,
da linguagem oral e da leitura para determinar o nível de leitura em que o aluno se encontra,
caracterizar o tipo de erros, a sua intensidade, frequência e duração. A dislexia não se
diagnostica antes do ensino da leitura, mas podem ser avaliados os pré-requisitos em idade
pré-escolar, não se diagnostica com um exame oftalmológico, postural, ou através de EEG,
TAC ou RMF.
Com base nos resultados da avaliação deve ser delineado um plano de intervenção, que deve
ser partilhado entre técnicos, família e escola, para que todos trabalhem em equipa. A
intervenção deve ser o mais regular e intensiva possível, a instrução deve ser ajustada às
necessidades da criança e deve haver um ensino explícito e muitas oportunidades de prática. A
investigação tem revelado a importância de se elaborar um programa de intervenção que inclua
o treino do conhecimento das letras, da consciência fonológica, do princípio alfabético, da
descodificação, da fluência, do vocabulário e da compreensão. Não existem evidências
2. científicas que comprovem a eficácia de exercícios oculares ou da utilização de lentes
especiais.
Deve ser, portanto, efetuado um treino explícito da consciência fonológica e a aprendizagem
estruturada da leitura, utilizando variadas metodologias que se adequem ao aluno. Estes
alunos têm direito a adaptações na sala de aula (organização, estratégias, apoio) e nos
processos de avaliação, para que possam ter iguais oportunidades de êxito aos seus colegas.
Concluindo, a dislexia é uma perturbação que está altamente relacionada com a aprendizagem
da leitura, mas que também pode ter consequências noutras áreas académicas e em aspetos
emocionais, comportamentais e da vida quotidiana. A intervenção deve, idealmente, começar
antes da entrada no primeiro ciclo, para que a criança possa já ter os pré-requisitos da
aprendizagem da leitura. Com uma intervenção precoce e adequada conseguem-se
ultrapassar cerca de 90% das dificuldades, quando adiamos esta intervenção, esta
percentagem diminui notoriamente. Para além dessas áreas ainda é fundamental que se
proporcionem experiências e expectativas positivas em relação à leitura, o mais cedo possível.