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ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA
Vencer o mundo e viver na riqueza
Salvatore Brizzi
NOTA INTRODUTÓRIA
Neste pequeno livro são expostas uma filosofia e uma prática que podem
revolucionar a sua vida. Leia-o pelo menos três vezes, para que as idéias aqui
reveladas comecem realmente a fazer parte do seu modo de viver,
conduzindo-o assim à libertação da perigosa ilusão de que lá fora exista um
mundo separado da sua consciência. Leve-o sempre com você como se fosse
um amuleto, porque a Força que emana destas páginas pode te ajudar a
alcançar o seu objetivo, ou a encontrar um...
Salvatore Brizzi
1. A VISÃO DAS MÁSCARAS
Quando encontrei pela primeira vez Victoria Ignis, na metade dos anos
90, eu tinha uns 25 anos e ganhava a vida trabalhando como estoquista para
uma grande indústria de alimentos. Por um certo tempo fui um código de
barras perfeitamente incorporado na engrenagem do sistema “produz –
consome - rompe”. Mas já há vários anos havia me tornado um código de
barras sempre menos útil, sempre menos legível. Tinha perdido toda a
confiança na possibilidade de encontrar um sentido para a minha vida: o
trabalho, o esporte, o amor, a família...tudo me parecia inútil, e à minha volta
eu também não conseguia ver exemplos de pessoas que fossem realmente
realizadas.
Primeiro o esporte, praticado há anos de forma obsessiva, depois o
álcool e as drogas me representavam o refúgio de uma realidade que já tinha
se tornado insuportável e ao mesmo tempo irremediável. A depressão, natural
conseqüência da incapacidade de dar um sentido à realidade, tornou-se a
minha companheira durante o dia, enquanto à noite, a dor de ter que viver
como um fantoche, vindo ao mundo por acaso, vinha escondida por algumas
horas de alteração de consciência por efeito de drogas. A dor estava cada vez
mais insuportável – às vezes mesmo sem estar mascarado pelas drogas –
quando a minha falta de objetivo pessoal e de sentido na vida chegou a
alcançar a conscientização de que aquela situação pudesse ser idêntica
também para muitos outros, que provavelmente era assim para todos, e que a
vida fosse já por ela mesma uma derrota, mesmo que você tenha nascido na
família de um rico Industrial ou de um ator de Hollywood.
À noite eu ia dormir esperando não mais acordar. Queria me esconder,
me anular, escorregar docemente na inconsciência mais completa, no
indefinido nada. Não queria mais pensar em quem eu era, nem refletir sobre a
minha condição.
Quando um ser humano descobre a sua impotência, quando enxerga a
sua mecanicidade, a sua ausência de um real querer, quando a existência o
coloca de lado, o sufoca, o esmaga, não há saída. Criam-se então condições
ideais para que possa acontecer algo de importante. Não foi por acaso que
justamente naqueles anos de escuridão e sofrimento, me aconteceu uma
experiência incomum: uma noite, enquanto estava em um bar com alguns
amigos, pela primeira vez, simplesmente pude enxergar com clareza todas as
suas dores. Estávamos em um dos tantos bares de Torino (é uma das cidades
onde há mais bares da Europa), sentados a mesa. Falava-se de coisas
estúpidas, contava-se piadas, e ria-se liberadamente. Para um olhar desatento
podia parecer uma das tantas reuniões de amigos, em um dos tantos locais,
uma noite como tantas outras. Pois saímos à noite justamente para isso: nos
divertir, beber um pouco, talvez conhecer um lugar novo, gente nova... e
depois voltarmos a casa para dormir. E na manhã seguinte recomeçar o
trabalho: oito horas em um escritório, fábrica, ou dirigindo um carro para
tentar vender alguma coisa a alguém, não vendo a hora que chegue a noite
para sair com os amigos ou voltar a casa para encontrar com a família. Um dia
esperando para que chegue a noite, uma semana esperando para que chegue
o fim-de-semana, um ano esperando para que cheguem as férias, trinta anos
esperando para que chegue a aposentadoria, uma vida esperando para que
chegue a morte... libertadora. Tudo programado para fugir da dor infinita de
uma vida sem objetivo, sem apoios, sem explicações.
De repente, como se dentro de mim se abrisse uma janela, comecei a
ver segundo uma nova ótica: as primeiras conseqüências foram o tempo que
foi se lentificando e as cores ficando mais lúcidas e brilhantes. Era como se
tivesse mais luz no local, mas essa luz vinha de dentro dos objetos e das
próprias pessoas. As vozes, todas as vozes e todos os sons, até a música ficou
mais longe e indistinguível. Naquele estado de consciência ‘suspenso’, as
expressões dos meus amigos, assim como aquelas dos outros, finalmente se
mostraram realmente como eram: foi naquele momento que de suas risadas
saíram assustadoras notas de dor. Não riam, mas batiam os dentes no esforço
de segurar o choro. Não contavam piadas, mas gritavam sua raiva. Não se
davam tapinhas amigáveis nas costas, mas descarregavam a própria
agressividade reprimida nos outros. Nenhum deles estava satisfeito.
Eram todos, homens e mulheres, empenhados em dar uma aparência
de credibilidade e originalidade às suas máscaras. Nenhum deles era feliz.
Claro, se eu tivesse perguntado tenho certeza de que teriam respondido: “-
Mas não dá pra ver que sou feliz? Estou rindo, então sou feliz, somos todos
felizes! Bebemos e rimos em companhia, beba você também! Por que essa
cara triste? Não estrague sua noite...”
Nos reuníamos para enganarmos a nós mesmos, para mostrar que
éramos alguém, que possuíamos uma identidade, para fingir que não tínhamos
fracassado na vida. Um bando de desiludidos infelizes que se sentiam em
dever, mesmo com si mesmos, de rir e brincar toda noite. Tínhamos que vestir
máscaras de felicidade, porque admitirmos de não sermos felizes, significaria
admitir de haver falido!
Não eram simpáticas noites com amigos, nunca foram, eram tentativas
de fugir da dor de viver sem um verdadeiro objetivo, sem um sonho. As férias
de verão, a aposentadoria e uma família que imita aquela da propaganda
podem substituir um verdadeiro objetivo quando o ser humano se encontra em
um estado hipnótico. À medida que começa a acordar, a recuperar-se da
indiferença quotidiana, estes paliativos não bastam mais, e tornam-se frágeis e
inconsistentes.
“Às massas, são dados pontos de referência externos, não
internos. E é normal que seja assim, porque a massa não consegue
curar-se dentro, é extro-versa (= voltada ao externo) por
natureza. Um Deus, um Messias, o dinheiro, a carreira, o Estado,
a Ciência e também a família, são todos pontos de referimento
externos, seguranças ilusórias externas. A massa não sente ainda a
voz da sua interioridade. Só pode acreditar em alguma coisa no
plano mental, confiar em alguém que a guie, mas não pode ainda
sentir a Força do próprio Ser.
Olha só, não estou falando mal do povo, escrevo somente suas
características para que você possa escolher onde se colocar. Só
alguns indivíduos podem perceber a Força – e são milhares
espalhados pelo mundo – mas devem ser orientados e educados
individualmente. Quando chega uma época, como a nossa, em que
todos os pontos de referimento externo entram em colapso, a
massa, então chega a um impasse: começar a olhar-se dentro... ou
enlouquecer. Alguns conseguirão encontrar o Coração, a Força, a
Realeza dentro de si. Muitos não conseguirão. As conseqüências
serão caos social, epidemias, delinqüência e loucura”
Assim teria me dito alguns meses mais tarde Victoria Ignis. Mas naquela
noite, naquele bar, ela ainda não existia, não fazia ainda parte da minha vida, e
eu fiquei durante duas horas seguidas aterrorizado por aquela minha visão
intuitiva. Por vários dias fiquei submerso como nunca em uma sensação de
desconforto, de um senso de impotência e de raiva. Sentia a dor de estar, de
ser vivo e consciente, de ter sido jogado na matéria sem ter pedido pra que
isso acontecesse. É uma dor infinita, interminável.
Naquela noite eu tinha demonstrado a mim mesmo que eu estava com
razão. Não era só eu o doente, os outros também sofriam de uma falta de
objetivo crônica, talvez ninguém fosse imune à ela. Sofriam em silêncio em
frente à televisão, enquanto abraçavam seus filhos, faziam amor ou enquanto
riam no bar com seus amigos, mas na verdade a dor não os deixava nunca. A
única diferença entre eu e eles é que agora eu estava pronto: a consciência da
minha condição e a honestidade comigo mesmo haviam me deixado pronto
para algo de novo. Eu ainda não sabia, mas estava pronto para a Escola.
É a Escola que te encontra, não é você a encontrá-la. Procurar
desenfreadamente por escolas, mestres e guias, viajando pelo Globo, como
fazem milhares de aspirantes discípulos “New Age”, é pura tolice. A Escola se
apresentou a mim sob a figura de Victoria Ignis, e aquela mulher foi tudo o que
eu conheci da Escola: nenhuma estrutura oficial, nenhum grupo, nenhuma
publicação. A Escola transformou o meu modo de ver a vida me revelando o
engano dos enganos, o pecado dos pecados: acreditar que possa existir um
mundo fora de nós capaz de nos influenciar.
Já há séculos, um grupo de audazes – de ‘Mônacos Guerreiros’ – descobriu
que este planeta é uma armadilha psicológica, e se reúnem em segredo para
elaborar um plano de fuga. Seu chefe se chamava Draco Daatson, e eles viviam
no escuro da mais escura época Medieval. Draco Daatson – ou seria melhor
chamá-lo de Prometheo, capaz de roubar o fogo dos Deuses – entendeu que
os seres humanos não são nunca prisioneiros dos outros homens, mas sim de
uma psicologia, do seu próprio modo falso de compreender a vida. Para haver
qualquer real esperança de escapar, não se deve então combater
materialmente contra alguém ou alguma coisa. Não basta, por exemplo,
destruir o governo, mas é necessário trabalhar em uma direção intro-versa (=
voltada ao interno) para mudar a própria psicologia. A realidade externa ficaria
então obrigada a adaptar-se àquela mudança interna.
Draco Daatson e seu grupo entenderam a raiz do problema: a humanidade vive
na falsa crença de que a consciência do indivíduo esteja localizada somente
dentro do seu corpo, e que fora, exista um mundo separado e objetivo, no qual
possa alcançar perigos ou satisfações.
Uma vez compreendida a fundo a origem do problema, liberar-se foi só
uma questão de tempo. Portanto, aplicando um método e ajudando-se
mutuamente, esses primeiros heróis se libertaram da armadilha psíquica e
fundaram diversas Escolas secretas, que pudessem transmitir também aos
outros, esse único e fundamental conhecimento: nós acreditamos que somos
separados do mundo, quando, ao contrário, o mundo está dentro de nós e é uma
projeção totalmente nossa.
Se vocês estão lendo este livro é porque ao tal antigo e fundamental
conhecimento – mesmo que já tenham lido em mil textos e escutado em
diversas histórias – ainda não querem acreditar.
Com o passar dos séculos, tais escolas se diferenciaram cada vez mais
e perderam contato entre elas, tanto que hoje é quase impossível reconhecê-
las em uma matriz única. De tempos em tempos alguém pega a tarefa de
trazer à luz tal conhecimento.
2. DEPENDENTE OU EMPREENDEDOR
Alguns dias após aquela experiência no bar, vagava à noite num grande
parque perto da minha casa. Eu havia organizado algumas hora antes, com
alguns amigos, uma cerimônia mágico-alquímica, inspirada um pouco na magia
ocidental e um pouco nos rituais Xamânicos utilizados entre os povos da
Amazônia. No decorrer desta nossa experiência, inalamos um pó marrom de
efeitos psicotrópicos muito potentes¹, conhecido como raiz de Paricá ou Virola
(uma árvore da Amazônia, em particular a Virola Theiodora). A Virola contém
DMT (Dimetiltriptamina), talvez a substância psicodélica mais potente em
absoluto. Como novatos bruxos e bruxas, escondidos entre as árvores do
parque, fizemos um círculo mágico na terra e, ao lado, um triângulo mágico,
utilizando uma faca da cerimônia. Nas fendas formadas espalhamos pó de
sulfeto de mercúrio. Os meus amigos, muito mais espertos do que eu,
recitavam fórmulas mágicas com o objetivo de invocar ‘presenças’ que
pudessem fornecer indicações sobre o significado de nossas vidas.
Nós estávamos sentados dentro do círculo mágico, enquanto as
entidades manifestavam-se ao interno do triângulo. Cada um de nós viu
aparecer nas fronteiras do triângulo alguma coisa diferente: uma das meninas
viu o tio que a havia molestado quando era pequena; um amigo conversou
com o pai, com o qual não conversava há tempos, alguém se comunicou com
entidades extraterrestres e alguém foi aterrorizado pelos seus demônios...que
são sempre interiores. Cada um recebeu o que lhe era mais útil naquele
momento de sua vida. Por volta das 3 horas da manhã, enquanto o efeito da
planta sagrada passava, seguia sozinho em direção à minha casa, que se
encontrava após o parque, quando no escuro entre as árvores me apareceu
pela primeira vez a figura de Victoria Ignis. No início me parecia só uma
sombra, um ectoplasma, depois, quando chegou mais perto, consegui
enxergar melhor seu rosto, iluminado por uma das lâmpadas do parque.
Demonstrava menos de 40 anos e vestia um elegante tailleur cinza, cabelos
negros, corpo carnudo e aspecto muito simpático. Como se estivesse
realmente me esperando, se moveu lentamente na minha direção, sem pressa,
segura de si, mesmo estando sozinha em um parque pouco iluminado, em
plena noite.
“As drogas no passado serviam para fazer-se penetrar em novos
mundos, dimensões desconhecidas da existência. Era um meio
sagrado utilizado pelos exploradores da consciência para se
reconectar ao seu Ser. „Psicodélico‟ vem do grego psiche e delos:
„revelador da alma‟. Hoje, as drogas servem somente para escapar
da quotidianidade, para esconder o desespero do existir sem um
objetivo. Tornaram-se o símbolo da derrota, da concessão do
próprio poder nas mãos do mundo externo. Não é por acaso que
antigamente tais substâncias ficassem sob custódia de Xamanos e
Sacerdotes, enquanto que hoje são propriedade de organizações
mafiosas.”
Disse a mulher quando estava perto de mim. Sorria e era cordial. Com aquele
seu vestido elegante parecia que tinha apenas saído de alguma festa privada
que acontecia nas redondezas. Talvez estivesse só pegando um pouco de ar
no parque por causa da fumaça, do álcool, ou então era uma prostituta que
estava tentando me atrair (se bem que vestida assim, naquela zona eu nunca
tinha visto). Em todo caso, para deixar tudo claro fui logo dizendo: “- Olha, eu
não tenho dinheiro. Se está aqui por isso se deu mal. Faço um trabalho do cão
e ganho o quanto me basta para sobreviver”.
“É justo que seja pobre, porque você é um escravo... é um escravo
interiormente, um dependente. E não pode obter ao externo o
que não é ainda internamente.”
Estava pronto para qualquer resposta, estava já esperando que por detrás das
árvores pudesse aparecer um de seus cúmplices para me ameaçar e pegar as
poucas notas que eu havia no bolso, mas uma resposta do gênero eu não
esperava.
- Do que você está falando? Disse, apenas voltei a mim. – O que quer dizer com
isso? Não sou escravo de ninguém. – Eu resmungava como um bêbado e
estava difícil de focar seu rosto, mas continuei mesmo assim: - Se não sou rico
é porque vivemos em uma sociedade capitalista onde se busca somente o
lucro, o dinheiro. É uma luta entre gigantes onde poucas famílias de eleitos
comem e todos os outros são engolidos.
¹Nota da Tradutora - Não incentivo nem desincentivo o uso de nenhuma substância. Acho que cada
um tem a sua consciência e as suas necessidades. Mas se alguém já fez o uso de tais substâncias
(como tantos), que resultou em informações preciosas como as que se encontram neste livro,
porque não aproveitar destas descobertas, e tentar praticá-las, e trazê-las à consciência,
naturalmente, ao invés de sair usando substâncias por aí? Talvez não seja tão simples como usar
substâncias, com certeza é um longo caminho a ser percorrido, com muita determinação e vontade.
Mas quem disse que também usando as tais substâncias se chega ao objetivo? Não são as
substâncias que vão nos poupar do esforço. Elas podem até nos ajudar a enxergar mais rápido, mas
não resolvem o resto, não transformam o “pó em ouro”. Acho que cada um tem um momento certo
para enxergar, e estamos em geral, em um momento muito propício para isto. Eu particularmente
prefiro o caminho natural, cada um na medida de sua compreensão e necessidade de aprendizado.
A mulher chegou mais perto, há menos de um metro de mim, e me fixou nos
olhos:
“O mundo é um reflexo seu. Você o cria projetando fora o que é
dentro. Está fazendo isso mesmo neste momento, conscientemente
ou inconscientemente, não importa. Aquilo que parece acontecer a
você, na verdade acontece dentro de você. Não encontre
justificativas para a sua pobreza em um mundo externo que você
mesmo está criando a cada instante. Você é o único responsável
por isso. Não é rico na matéria somente porque ainda não conhece
a riqueza do seu ser. A dependência não é uma situação
trabalhista, mas um estado interior, um estado da sua essência.
Você é dependente psicologicamente, e como conseqüência disto, o
é também materialmente. O estado de dependência reflete uma
mente preocupada com o futuro, que vive na dúvida e na
insegurança. Empreendedor e dependente parecem somente dois
papéis existentes na sociedade, a expressão de duas classes sociais,
mas na verdade são dois estados de ser bem precisos. O seu papel
na sociedade está intimamente ligado ao seu grau de Realeza
interior. Você depende porque não assumiu ainda a sua
responsabilidade individual, depende porque tem medo da vida e
daquilo que te espera, depende porque é mais cômodo seguir do
que conduzir. Mas lembre-se de que a vida não te reserva
nenhuma surpresa. Todos os acontecimentos ao seu redor são
desejados por você, e só você os cria, durante meses, anos, com o
seu modo de pensar, com as suas emoções, com a sua ausência de
sonhos e aspirações. O problema deste mundo é que é um mundo
de dependentes, onde poucos são autênticos líderes,
empreendedores, sonhadores, artistas, gênios. Você não é pobre
porque há pouco dinheiro no bolso, mas porque não tem um
sonho. Esta é a única verdadeira pobreza, e é daí que deriva a
pobreza material.”
Uma mulher sozinha no parque, à noite,... mas era eu que estava com medo
dela, não ela de mim. Recomeçou a falar, prendendo novamente a minha
atenção:
“Depender significa ter desistido de criar. Quem não tem um
sonho é destinado a seguir quem o tem. E, ao contrário, quem
tem uma idéia, quem tem um sonho, não depende, mas cria.
Quem tem um objetivo, torna-se, somente por isto, magnético e
atrai à sua volta, os colaboradores, os dependentes, os clientes, os
amigos... todos aqueles que serão atraídos por ele como ímãs e o
ajudarão a realizar seu sonho.
Presta atenção, não estou dizendo que depender de alguém seja
errado, porque se não existissem empregados, dependentes,
operários, colaboradores... nenhum sonho poderia tornar-se
realidade. Só estou te fazendo notar a diferença entre essas duas
condições, que são dois estados do ser. Será você, depois, a
escolher. Além disso, o verdadeiro empreendedor, se for um
empreendedor do „Ser‟, e não somente de aparências, não se
limita a dar trabalho, mas educa os seus colaboradores para que
desenvolvam também a capacidade de sonhar e de tornarem-se
autônomos um dia. O verdadeiro empreendedor cria outros
empreendedores porque a existência é abundante, e tem lugar
para todos. Se você ficar consciente do fato de que o sonhador e o
dependente representam somente dois degraus diferentes da
escada evolutiva, então poderá fazer uma escolha, uma verdadeira
escolha. Pergunte à sua essência em qual degrau da evolução você
quer se colocar.”
Porque me estava acontecendo tudo aquilo? Porque aquela mulher, e,
sobretudo, aquele discurso, que de um lado destoavam com as minhas crenças
– literalmente me violentavam – e de outro lado me atraiam, como se eu
sentisse profundamente essa necessidade? Acredito que qualquer um
responderia que preferiria ser um sonhador e um criador, mas a vida às vezes
nos redimensiona, a sociedade corta as nossas asas, mata nossos sonhos, as
nossas aspirações mais elevadas. Eu sempre fui um ativista, um contestador:
luto contra um governo que nos oprime e nos derruba, luto contra uma
religião que nos cria senso de culpa, contra uma medicina que mais nos faz
ficar doentes do que nos cura, contra famílias de bancários que estragam o
mundo e decidem as guerras... – repousei, tentando resistir ao seu ataque - um
ataque que era voltado diretamente à minha essência.
“Você ainda está procurando justificativas externas para o seu
fracasso, pela sua falta de vontade, pelas suas poucas idéias e
sonhos. Você criou pra si mesmo um mundo malvado onde
realizar os seus sonhos é impossível por causa de alguma coisa ou
de alguém que trama contra você. Mas o único artista das suas
vitórias e derrotas é você mesmo. Não delegue o seu poder ao
externo... nunca! Você está idolatrando um mundo externo, que
você acredita que haja um poder infinito sobre você. O estado, a
religião, a medicina, a ciência, os banqueiros, os chefes, para você
são divindades, que algumas vezes aceita e outras recusa e
combate com todas as suas forças, mas que em ambos os casos
considera mais potente do que você. Somente com o ato de
combatê-los, dá à eles um poder que eles não têm. Quando o
operário luta contra o patrão, o patrão já venceu, porque foi
reconhecido como tal. Lembre-se: somente um escravo luta para
liberar-se de um patrão. Cada vitória do escravo-operário não
pode ser mais do que parcial e provisória. A história demonstra
isso de maneira clara: como conseqüência de certas lutas,
aparentemente parece que o operário tenha conquistado alguma
coisa, mas se não ocorreu também uma transmutação de sua
essência, uma liberação sob o plano psicológico, cedo ou tarde
perderá o que pensava haver conquistado e ainda mais. Que um
operário tenha vencido ou perdido, continua sempre um operário.
Quem o desfruta fica contente mesmo quando é temporariamente
derrotado, porque sabe que deste modo reforçou no operário a
convicção de ser um operário, e é isso que conta, não o fato de
que venceu ou perdeu. Deste modo, os respectivos papéis
continuam sempre os mesmos. O patrão pode conceder-se de
perder uma batalha de vez em quando, porque sabe que assim
está vencendo a guerra, que é sempre uma guerra psicológica,
uma guerra de papéis.
Por outro lado até o patrão pode ficar prisioneiro do seu papel.
Pode iludir-se que operários e empregados sejam realmente
existentes fora dele, quando na verdade são partes dele mesmo
que ele deve conseguir governar para que o ajudem no seu
objetivo. E se ele entra em conflito com essa parte de si, torna-se
também prisioneiro do seu papel, da sua classe social. Se sentirá
um patrão que deve se defender contra dependentes que querem
desfrutar do seu poder, que criam obstáculos ao seu sonho,
querendo salários mais altos. Mas não é bem assim que funciona.
Os dependentes se encontram dentro do empreendedor, e
esperam ser aceitos, compreendidos, integrados e amados.”
Minha cabeça estava girando. E não só por causa das substâncias psicotrópicas
que ainda desenhavam mandalas Tibetanas entre meus neurônios, mas
porque aquelas palavras estavam deixando em crise todas as minhas
convicções, todas aquelas certezas que tinham levado anos para cristalizar
dentro de mim. Realmente não as aceitava, resistia, não via a hora daquela
mulher se afastar de mim, mas ao mesmo tempo não tinha coragem de ir
embora primeiro. Se tivesse feito rapidamente, hoje eu seria um homem
tranqüilo como tantos. Mas ao invés disso, me deixei atropelar por outros
conceitos absurdos, paradoxais, impossíveis.
“Se o operário-dependente quer realmente vencer deve parar de
recitar o seu papel de subordinado, parar de culpar alguém e
iniciar a transformar a si mesmo. Deve olhar pra dentro.”
E apontou o dedo na minha cara:
“Escute bem: deve transformar o seu ser, a sua essência interior,
não a sua condição exterior. A nova condição exterior será fruto
da sua transformação interior, exatamente como o atual estado
do seu ser está sendo espelhado no trabalho que está fazendo
agora e no misero salário que ganha através dele.
Um sonhador, um Rei, um empreendedor, constrói dia após dia
o seu sonho, que o envolve e o satisfaz totalmente a cada
instante e a cada inspiração. Não colocam a culpa de suas
derrotas nas instituições ou nos poderes econômicos. O sonhador
não há patrões, não há ídolos, não acredita que exista um
mundo fora de si que o possa impedir de criar aquilo que ele
quer. Você é supersticioso, continua a idolatrar um mundo onde
existem personagens maus que te impedem de obter resultados,
mas o mundo está dentro de você, o mundo é totalmente criado
por você, mesmo no menor e aparentemente insignificante
particular. Não tem ninguém lá fora que possa mover um só
músculo se você não quiser. O Universo mora em você, e não o
contrário. Quando sentir isso, aí então será livre, será um Rei,
será invencível.”
Estava ao limite de suportar aquela situação. Aquela mulher estava me
acusando de ser responsável por tudo o que acontecia ao meu redor. Uma
responsabilidade assim eu não conseguia sustentar, ainda não conseguia. Para
sentir-se criador do mundo é necessário possuir capacidades físicas e psíquicas
que ainda não tinha desenvolvido. O meu sistema nervoso não estava
preparado para segurar aquele imenso grau de responsabilidade.
“A responsabilidade não é qualquer coisa abstrata, mas
eminentemente física. Se o seu aparato psicofísico não está
pronto para administrá-la, não pode assumir uma dose tão
grande de responsabilidade, e conseqüentemente, de riqueza. Até
para administrar a riqueza, você tem que ter desenvolvido um
sistema nervoso adequado. Só quem consegue carregar nas costas
um grau bem definido de responsabilidade obtém um grau
correspondente de riqueza, que é sempre proporcional à
responsabilidade que pode se encarregar de cuidar. Vencer na
loteria, herdar a empresa da família, significa ser submetido a
uma voltagem elétrica muito grande, é como colocar o dedo
molhado na tomada: levará um baita choque, e seu sistema
nervoso se elevará.”
Eu tentei reagir: - Para mim não parece que seja assim. Conheço pessoas que
assumiram grande responsabilidade, mas que pra mim não possuem adequada
riqueza, e pessoas muito ricas e potentes que não são capazes de assumir
nenhuma responsabilidade.
“Isso é o que aparenta de fora, mas na realidade,
responsabilidade e riqueza são sempre correspondentes. Se você
herda uma empresa da sua família, mas a sua essência não é
ainda suficientemente madura, responsável, por um certo
período pode até parecer rico e ser invejado por isso por quem
são sabe olhar em profundidade, mas provavelmente deve estar
enfrentando uma prova terrível, uma prova que poucos
superam: adequar rapidamente o seu ser e o seu grau de
responsabilidade aquela nova riqueza material. Quem não o faz
perde muito, ou deve delegar a nova responsabilidade a algum
colaborador que consiga administrá-la. Ganhar uma
hereditariedade ou na loteria, ativam internamente o seu
aparelho psicofísico no limite do suportável, até que você consiga
adaptar o seu novo ser à sua riqueza material. Você pode herdar
uma empresa, isto é, uma riqueza material, mas raramente
herda também o sonho que levou à criação daquela empresa.
Uma empresa não é erguida pelo dinheiro ou pelas pessoas que
ali trabalham, mas exclusivamente pelo sonho de seu criador e
pela integridade com a qual tal sonho foi levado adiante por ele
mesmo, e depois pelos seus colaboradores. E isso não pode ser
herdado.
Uma coisa é administrar, outra é criar. Se você só toma conta
de uma empresa importante pode até parecer rico,
externamente, mas não é nunca feliz dentro de si. A autêntica
felicidade vem da realização de si mesmo na criação. Se você
consegue fazer seu o sonho de quem veio antes de você, a sua
essência te permitirá criar, sentir-se realizado, e a empresa
prosperará. Mas se você se limita a somente administrar alguma
coisa, a falta de criatividade secará o seu ser, e a empresa
perecerá. O verdadeiro líder não administra, cria.”
Me veio em mente a diferença que existe entre os herdeiros de hoje - que
“pegam carona” nos sonhos de seus antecedentes, trabalhando “por inércia”
nas empresas - e os fundadores da Fiat, entre Mario Cecchi Gori e seu filho
Vittorio entre a Ferrari durante e depois de Jean Todt.
“Por outro lado, existem pessoas com uma grande alma que
suportam grandes responsabilidades, mas aparentemente não
possuem um retorno em termos de riqueza. Mesmo nesse caso, se
olhar bem, descobre que essas pessoas sentem-se já ricas,
completas e serenas e não desejam nada mais. Ser rico significa
ter sempre aquilo que te serve, quando te serve. Se você se
encontra nesse estado psicológico, já é rico, independentemente
do tamanho da sua conta bancária. Mas pode ser também que,
neste caso, a chegada de uma riqueza material seja só uma
questão de tempo.”
Na verdade quando julgamos um homem estamos analisando somente uma
fotografia de sua vida, um instante, com todos os limites que a seguem. Em
alguns períodos, o ter de um indivíduo pode parecer maior do que o seu ser e
seu grau de responsabilidade, ou vice-versa. O seu ser pode parecer superior
ao seu ter. Em outras palavras, mesmo um estúpido pode, por um certo
período de tempo estar guiando uma nação, e ao mesmo tempo, pode
acontecer de um grande homem ou mulher, atravessarem um período de
dificuldade econômica. Isso faz com que, em alguns momentos, riqueza
interior e exterior pareçam desconectadas uma da outra. Mas não é assim.
“Draco Daatson dizia: “ter e ser fazem parte da mesmíssima
realidade. O ter é o ser distribuído no tempo”. Ao final da vida
de um ser humano, tirando e somando tudo que ele atravessou,
entre altos e baixos, podemos ver que a sua riqueza exterior e
sua essência interior correspondem sempre exatamente. O seu
ter foi o reflexo do seu ser.”
Enquanto uma parte de mim tendia à uma forte resistência aquelas idéias, uma
outra parte – a minha alma, a minha essência – entendia que estava de frente a
um modo totalmente novo de entender a vida, o trabalho, o dinheiro... Uma
giro de 360 graus naquele comum ‘bom senso’ com o qual somos educados
pela família e pela escola. Aquilo que me estava sendo comunicado era
grandioso, mas eu não conseguia ainda compreender o quanto. A sua voz veio
ainda a interromper o andamento dos meus pensamentos:
“Destingua-se. Eleve-se acima de sua espécie. Carregue
totalmente a sua cruz, a sua responsabilidade por aquilo que é e
por aquilo que te acontece a cada instante. Assim, contribuirá
enormemente à evolução da humanidade.
A massa se perde sempre em reclamações, gosta de colocar a
culpa de suas desgraças em alguém. A massa aspira depender,
ser cuidada, socorrida. Acha insuportável o peso de sua própria
cruz. A massa quer assistência social, pensão: trabalha por
décadas somente com o objetivo de poder, um dia não trabalhar
mais! Não se apaixona pelo que faz, quer segurança. Mas esta
segurança é uma quimera. A única segurança possível vem da
mais plena compreensão de que só pode te acontecer aquilo que
te serve para a sua evolução interior, aquilo que você precisa,
aquilo que você mesmo, a um nível profundo quer. Você é um
Rei, porque continua a escalar o muro das lamentações como um
escravo?”
Eu... um Rei! Isso era mais do que eu podia segurar pelo momento. Só me
lembro que senti minhas pernas balançarem, e depois, uma escuridão.
3. AS EMOÇÕES CRIAM A REALIDADE
Encontrei Victoria Ignis novamente alguns dias mais tarde. Estava saindo
do trabalho e indo até o estacionamento. Estava, como sempre, imerso em
pensamentos destrutivos, de derrota e raiva ao mesmo tempo. Sentia-me
prisioneiro de um trabalho que não me gratificava, um número perdido em
uma lista de números, um código de barras orgânico escravo do mundo e de
suas regras de ‘sobrevivência’. Por um lado, sabia que estava aqui para realizar
alguma coisa de importante, por outro eu ainda aderia ao vitimismo coletivo,
ao hábito de culpar a nação, a cidade, o bairro..., que não permitem que os
jovens se realizem.
“O mundo que te rodeia é unicamente um reflexo do que você é
nesta fase de sua vida. Os lugares que você freqüenta, as pessoas
que encontra todos os dias, representam partes de você. Você não
é um escravo porque faz aquele trabalho, mas faz aquele trabalho
porque dentro de você, ainda há um escravo. Não confunda a
causa e o efeito!”
Senti sua voz nas minhas costas. Não tinha percebido que ela estava me
seguindo. Provavelmente sabia onde eu trabalhava e vinha me encontrar na
saída. Suspirei. No fundo eu a temia. Meu aparelho psicofísico já tinha
registrado que aquela voz, aquela mulher colocava em perigo tudo o que eu
havia construído em décadas de vida. Era uma mulher perigosa.
“Quem se tornou um Rei na sua essência, cria em volta de si o
próprio Reino. Quem é um escravo cria situações de escravidão.
Mude a qualidade do seu ser e verá mudar o seu ter. A realidade
não é objetiva, não se encontra lá fora em algum lugar. A
realidade está dentro de você e muda à medida que você
compreende, se transforma, evolui. O mundo é a cristalização das
suas emoções e do seu modo de pensar. É constituído de uma
substância extremamente maleável. Mas para que esta substância
seja modificada é preciso tempo. Esta é a Alquimia. Entre a
mudança do seu estado interior e a correspondente mudança da
realidade „externa‟, ocorre um certo período de tempo, às vezes
muito longo, e isso faz com que você não perceba imediatamente
que é sempre e somente você a dar vida a tudo o que te rodeia.
As suas emoções e os seus pensamentos recorrentes formam
totalmente o seu mundo. As expressões na face das pessoas que
encontra, o seu jeito de agir, a cor de suas roupas, os lugares que
freqüenta... são criados por você no mais completo e verdadeiro
sentido do termo. Eles são matéria mutável colocada em suas
mãos.”
- Então porque não posso mudar a minha realidade quando e como quero? Eu
queria ser mais rico, mas não consigo. Queria ter um carro mais bonito, mas
não tenho. Eu também cheguei a ler algo sobre a capacidade do homem de
criar sua realidade, mas na prática não é assim, e é a prática que conta, não as
belas filosofias.
“A sua realidade é criada 95% pelo seu inconsciente. Aquela sua
parte ainda desconhecida por você. Eu te disse que você molda o
seu mundo a cada instante, mas não te disse o que quero
realmente dizer quando digo VOCÊ.
Quem é você? Aqui está a questão fundamental. Vou te explicar
assim: a dualidade sujeito/objeto é ilusória. A diferença entre o
sujeito que percebe e o mundo que é percebido é só aparente. Você
acredita ser uma entidade pensante fechada dentro de um corpo,
e se ilude que fora das fronteiras da sua pele existe o mundo
externo. Este é o engano dos enganos, a armadilha da qual a
humanidade é escrava.
Na verdade existe só a unidade, o Um – aquilo que normalmente
é entendido como Deus – e você é este Um. O problema é que
você ainda não é consciente disso, e se identifica somente com
uma pequena parte dele, os 5% que moram no seu aparelho
psicofísico, enquanto que todo o resto você esconde no seu
inconsciente. Assim, os seus estados inconscientes – ou seja, aquela
parte do Um que você ainda não conhece porque ainda não
englobou dentro de você – criam a sua atual realidade dia após
dia, sem que você perceba. À medida que você começa a
identificar-se com o Um, torna-se consciente de ser o único
verdadeiro criador, mas se continuar se identificando somente
com 5% do Um, através de seu pequeno aparelho psicofísico, será
o seu inconsciente a criar por você, e você se submete ao que
acontece na sua vida. Se você quer se tornar consciente de ser
criador, deve pular do Eu ao Um, da parte ao Todo, dos 5 aos
100%, da circunferência ao centro... Deve tornar consciente o seu
inconsciente. Só então sentirá que é realmente o único verdadeiro
artista de tudo o que te rodeia.
As pessoas que encontra, os eventos que assiste a cada dia não são
nada mais do que projeções do seu inconsciente, ou seja, projeções
daquela parte do Um que você ainda não consegue perceber como
suas, e que, então manifesta como se existissem fora de você. Isso
ocorre para que, assim você fique consciente de sua existência e
possa englobá-las, integrá-las, compreendê-las (cum-prehendere
= „prender dentro de si‟). Cada vez que você consegue sentir que
um evento externo é na verdade criado por você, mais um pedaço
é subtraído do seu inconsciente e integrado na sua consciência,
permitindo assim uma expansão da mesma. Integrando pedaço
por pedaço, se tornará consciente de ser Um, de ser plenamente
íntegro em si mesmo, um verdadeiro indivíduo (=não dividido).
Esse não é o mesmo discurso espiritual de sempre. Aqui não tem
nada de espiritual ou religioso. Estou te falando de como age a
realidade e do que você é em relação ao Universo: unus-vertere
significa ser voltado ao Um, à integridade do ser. Não se trata de
rezar ou meditar na posição de Lótus. Trata-se de entender que a
sua consciência é vítima de um engano: você acredita ser separado
do mundo quando na verdade você é Um Todo com ele. Você está
doente de separação e aspira unir-se com o Todo... não tem nada
de religioso nisso. É tudo muito pragmático.”
Aquele dia não tinha ainda instrumentos para compreender plenamente
a enormidade do que estavam me ensinando. Somente muitos anos depois,
entendi o precioso presente que Victoria Ignis estava me dando. Suas palavras
representavam a chave para entender até um fenômeno que está
acontecendo nos últimos anos. Multiplicam-se mais e mais livros que falam
sobre o desenvolvimento do potencial humano: como ficar rico, como ter
sucesso, como desenvolver a capacidades de líder, como se tornar criador da
própria realidade... Seminários que prometem fazer “descobrir o poder que
existe em você”, crescem como fungo. Em particular, vêm à tona grandes
sucessos como o livro “O segredo: a ciência do enriquecer, Attractor Factor (A
lei da atração), The Key... São textos úteis que falam de princípios esotéricos
bem precisos, como por exemplo, a lei da atração. Mas normalmente não se
entende o princípio base: não é procurando satisfazer os desejos do meu
‘pequeno Eu’ que me tornarei o criador do meu mundo, mas fazendo
justamente o contrário: tornando-me consciente de que, a minha situação
atual e tudo o que me acontece são coisas que Eu desejei. Se não aceito, e não
chego a sentir dentro de mim que só eu sou o criador daquilo que tenho neste
momento da minha vida, não terei nunca algo diferente no futuro. Não posso
me colocar de repente o objetivo de modificar minha condição econômica,
porque devo primeiro aceitar e ‘cumprehender’ que a quantidade de dinheiro
que hoje está em minha posse, materializei eu mesmo, com base naquilo que
preciso para o meu caminho evolutivo, e naquilo que sou capaz de administrar
hoje, em nível do ser.
Se eu acolho profundamente esta verdade, ocorre em mim uma elevação do
ser, e começo a sentir-me o Rei, o regente do meu Reino, abrindo as portas
para a possibilidade de, em uma fase sucessiva, criar aquilo que quero. O
problema de tantas pessoas é que continuam a imitar o Rei, pois continuam a
pensar com a psicologia do escravo; colocam o carro na frente dos bois. Se eu
recuso a condição na qual estou agora e não acredito que ela foi desejada por
mim, quer dizer que ainda estou pensando segundo um escravo. Como poderá
criar sua realidade futura se não sente que está criando também a atual? Mas
quando finalmente sou capaz de ver que todo o mundo está dentro de mim e
que eu o estou criando, o problema de ganhar mais dinheiro ou ter mais
sucesso nem existe. Aquilo que eu desejo coincide, então, com o que
acontece, em uma sucessão perfeita de eventos onde eu tenho sempre o
dinheiro que me serve para levar adiante os meus projetos.
“Não se trata de fazer acontecer aquilo que deseja, mas de desejar
aquilo que te acontece. Quando entender que tudo o que te
acontece foi desejado inconscientemente por você durante
muitísssimo tempo, automaticamente, você se identifica com o
Todo. Daquele momento em diante, aquilo que você quer e aquilo
que você é, coincidem-se. Usar a vontade focada para realizar um
desejo próprio é magia negra. Todos os homens praticam a magia
negra em todas as medidas e sob várias formas, sem nem saber.
Na magia branca não se „deseja‟, mas se segue a verdadeira
Vontade, ou seja, a vontade do Todo. Mas para agir segundo esta
vontade, precisa primeiro identificar-se com o Todo.”
Estas foram as palavras de Victoria Ignis quando conversamos há alguns anos.
Acredito que tal conceito deva ser trazido ao conhecimento dos leitores deste
tipo de livro, porque senão, podem desiludir-se. Na verdade conheço várias
pessoas que leram The Secret, mas não conseguem um carro novo e nem ficam
ricos. Os mesmos autores destes best sellers, que estão sim fazendo um ótimo
trabalho em favorecer a expansão da consciência, perceberam que muitas
pessoas não conseguem obter os resultados esperados. Joe Vitale escreveu
The Key justamente para ajudar às pessoas que não conseguiram resultados
com o The Secret. Mas é fundamental que as pessoas entendam que antes de
tentar modificar a realidade externa através do uso da vontade, é necessário a
compreensão de que não existe uma realidade externa.
Imaginemos que eu exprima o desejo de me tornar mais rico. Exatamente
porque existe uma lei da atração, a vida certamente responderá a este meu
desejo, mas não é certo que responda como eu espero. O objetivo de cada um
de nós é aquele de voltar a nos identificar com o Todo, enquanto que a
dualidade sujeito/objeto é só ilusória. Para conseguí-lo, devo parar de
considerar o dinheiro como algo de externo a mim. Se eu me torno rico sem
ter primeiro compreendido que o dinheiro que está sob minha possessão se
encontra dentro de mim e corresponde à elevação do meu ser, o meu “ficar
rico” reforçará em mim a crença de que o dinheiro seja realmente algo de
externo, e que eu posso ter mais dinheiro agindo simplesmente com a vontade
de fora de mim. Mas a realidade é que o dinheiro se encontra ao interno da sua
consciência, e sua quantidade depende da grandeza e da integridade desta
consciência.
Justamente porque eu quero, inconscientemente, a minha própria evolução,
me impedirei de ficar rico até que eu consiga compreender que a riqueza
depende do ser, e que haver é só uma conseqüência de ser. Então, assim que
eu tenha expressado conscientemente o desejo de me tornar rico posso obter,
como resposta, um enriquecimento, ou mesmo uma perda de dinheiro! O meu
desejo será de qualquer forma atendido, porque se continuo novamente
desiludido pela minha tentativa exterior de busca à riqueza, cedo ou tarde
começarei a aceitar aquilo que tenho, o que me fará efetivamente mais rico e
mais capaz de criar a minha realidade. Mas mesmo que o processo seja sempre
evolutivo, não é este o resultado que a maioria das pessoas espera quando
lêem um livro sobre a lei da atração.
***
Mas, voltando àquilo que me explicava Victoria Ignis naquele dia, na saída do
trabalho.
“O mundo que há em frente a seus olhos neste momento – disse
fazendo um enorme gesto com os braços, indicando o caminho, as
pessoas, os carros – é a representação do seu passado, não do seu
presente. A sua namorada, o seu trabalho, a sua conta no banco,
espelham aquilo que você pensou, sentiu, aquilo que você foi, nos
meses e anos passados da sua vida. Se você tivesse um acidente
neste momento, ou fosse diagnosticada uma doença, estes fatos
não espelhariam o seu presente, mas o seu passado. Um acidente
ou uma doença vêm cuidadosamente preparados dentro de você
por anos, sem que você perceba. As suas emoções negativas, os
seus incômodos, reclamações e pensamentos obsessivos criam as
doenças, as dificuldades e os acidentes. O seu falso modo de
compreender a vida hoje já está te preparando para as suas
desgraças futuras. Emoções negativas e reclamações solidificam-se
com o tempo, cristalizam-se dentro de você graças à repetição.
Tornam-se agregados psíquicos, verdadeiras entidades que
escorregam no inconsciente... e ali ficam na escuridão,
condicionam a sua vida. Reclamando, você nutre a cada dia estes
vampiros que fazem de você um escravo.
Você tem medo de falar em público e se sente
desconfortável? Já se perguntou por que é assim? O que, dentro
de você, te obriga a se comportar de um certo modo? Algo que
você não consegue controlar. O seu contínuo julgamento das
pessoas te leva a ter medo do julgamento dos outros. O tímido
parece uma vítima, quando na verdade é o contrário, ou seja,
alguém que julga o mundo e como conseqüência, tem medo de ser
julgado pelo mundo.”
Acertou em cheio. Eu sempre fui muito tímido e tinha muito medo de fazer até
uma pergunta em público quando assistia a uma conferência. Devo ao
encontro com aquela mulher o fato de que hoje eu ganhe a vida escrevendo
livros e fazendo palestras. Ou melhor dizendo, devo isso àquela parte de mim
que foi materializada nela. Quando consegui parar de julgar as pessoas,
aconteceu em mim uma verdadeira revolução interior. Posso tranquilamente
afirmar que somente após aquele dia eu comecei a viver realmente. Foi o meu
renascimento, porque até agora vivia escravo do medo do que os outros
podiam pensar de mim.
“A sua incapacidade de assumir a responsabilidade de tudo o que
acontece na sua vida, o seus julgamentos e reclamações contínuas
de alguém ou algo sobre o trabalho, a família, o querer delegar ao
externo a causa dos seus falimentos... tudo isso cria atritos,
sofrimentos, acidentes, doenças. Ao mesmo tempo que você quer
se identificar com o Todo e procura a sua Realeza perdida, não
quer acreditar que a existência seja construída por você. Te dá
medo a idéia de ser o Rei, o Regente do seu mundo.”
Realmente Victoria Ignis tinha toda a razão. Tantos admiram a filosofia do
‘criar a própria realidade’, lêem livros do tema, participam de seminários,
tornam-se até professores, mas pouquíssimos vivem realmente deste modo
no dia-a-dia. Já vi instrutores, que ensinavam seus grupos como ‘criar a própria
realidade’, ainda reclamarem do governo, dos bancários ou da escassa
oportunidade que nos oferece a sociedade!
“A reclamação é um indício de sua incapacidade de se perceber
como único criador dos eventos da sua vida. Em um caminho de
crescimento pessoal é indispensável abandonar cada tipo de
reclamação, senão nenhum outro passo poderá ser dado.”
Victoria Ignis foi sempre muito categórica. Considerava qualquer tipo de
reclamação – desde aquelas relacionadas às condições climáticas até aquela
voltada à ineficiência do Estado – como uma renúncia à própria Realeza.
“Draco Daatson dizia: “um Rei nunca reclama”. Se reclama, isso
significa admitir a existência de um poder superior ao seu, um
poder que é capaz de te impor alguma coisa que você não quis, e
da qual você reclama agora. Um verdadeiro Rei não pode admitir
um poder maior que o seu, então sabe que cada evento foi
desejado por ele mesmo, pelo seu ser mais profundo e
inconsciente. Assim, a reclamação perde todo e qualquer sentido. “
4. A SUA ANSIEDADE LENTIFICA O TREM
Uma vez estávamos viajando de trem juntos. Tínhamos que ir a Torino
e Cesena, e havia uma troca de trem em Piacenza. Sabíamos que entre a
chegada do nosso trem e a partida do trem seguinte teríamos somente 10
minutos, mas na metade do caminho estávamos já com 8 minutos de atraso.
Temendo perder o trem, entrei em um estado de ansiedade e não consegui
conter meu desespero: Caramba! Os trens dessa maldita ferrovia Italiana não
estão nunca no horário. Se perdermos a troca vamos ter que esperar o
próximo trem e chegar uma hora atrasados. Até na Índia os trens são mais
eficientes! Antes de terminar a frase já tinha me arrependido de ter dito. As
palavras tinham saído mecanicamente. A minha parte animal, a parte escrava e
submissa do mundo que eu carregava internamente tinha me pego de
surpresa, e eu sabia que a minha companheira de viagem – Victoria Ignis – não
me perdoaria. Ela estava sentada na cadeira em frente à minha, e curvou-se
para encostar-se ao meu rosto, lentamente, abrindo um ‘meio sorriso’, como
um tigre já seguro de haver a presa entre suas garras. Seus olhos estavam
apontando dentro dos meus com tanta intensidade que era impossível olhar
em outra direção para fugir do seu olhar. O ambiente ao redor tinha
desaparecido. Disse ela, então, com uma calma invejável, o que fazia aquele
momento ainda mais insuportável:
“Você é um escravo do mundo. Permite que o mundo decida se
pode ou não chegar a uma reunião. Você está colocando esta
responsabilidade nas mãos da ferrovia porque não a quer nas
suas mãos... é muito para você, o seu ser não consegue segurá-la.
Você é só um número entre tantos que vão encher as fileiras dos
derrotados, lamentadores, maltratados pela vida... as vítimas
profissionais.”
Senti-me humilhado, profundamente humilhado, mas não pelo que estava me
dizendo Victoria Ignis, mas pelo vacilo que eu tinha apenas deixado escapar.
Nessa época, eu realmente estava começando a ser cada vez mais consciente
de que frases como aquela sufocam a dignidade do homem e o reduzem a
uma marionete nas mãos de um ‘Deus exterior’, o mundo das aparências,
Maya. Assim como na história do Pinóquio, às vezes eu me comportava como
ser humano, e outras vezes, como um boneco, um fantoche.
“A maior superstição consiste em pensar que exista um mundo
lá fora, uma entidade desconhecida que pode decidir se hoje você
será derrubado ou ganhará um prêmio. Este trem está dentro
de você, na sua consciência, é um produto do seu cérebro. Não
existe nada fora da sua consciência. Então, este trem está em
suas mãos. Mas o seu ser é muito pequeno para contê-lo. Você
olha o mundo e ele parece ser gigantesco, enquanto que você se
considera um anão psicológico.”
Suas palavras representavam uma terrível e dolorosa verdade... tão verdadeira
que se tornava realmente insuportável. E eu não sabia mais quais linhas de
ação colocar em prática para proteger a mim mesmo, a tudo que eu tinha sido
até então, daquela implacável verdade.
- Existem centenas de pessoas viajando neste trem – tentei argumentar
enquanto me afastava alguns centímetros daqueles olhos que se voltavam
para o encosto do meu assento – como é possível que eu esteja influenciando
o horário do trem e também a vida dos outros passageiros? Eles também estão
criando suas realidades, certo?
“Os outros estão dentro de você, O mundo é feito de imagens na
sua consciência, e não de eventos ou pessoas. As pessoas que você
percebe são literalmente criadas pelo seu cérebro, pelo seu
sistema nervoso. As formas, cores, sons... tudo é constituído de
simples sinais elétricos que são depois elaborados pelo seu
cérebro. Lá fora não existem realmente casas, pessoas, trens... É
tudo fruto da sua interpretação interior. Você vê e sente
somente aquilo que é capaz de projetar a partir do seu aparelho
psicofísico. Aquilo que você vê é aquilo que você é interiormente.
O mundo te permite se conhecer.
O que você esta sentindo neste momento? Ansiedade e
preocupação pelo atraso do trem? Bem, a ansiedade que você
carrega dentro de você lentifica o trem, e faz com que ele
chegue atrasado, porque a realidade externa é obrigada a refletir
suas emoções. A realidade confirma as suas emoções e o seu
modo de pensar mais enraizado. O medo de chegar atrasado, o
julgamento da ineficiência das ferrovias... são estes os fatores que
criam o atraso do trem, e não o contrário.
Estar em um trem que chega no horário ou em um trem que
chega atrasado depende exclusivamente de você. Mas este é um
conceito incompreensível para a sua mente racional. Você pode
somente sentir ou não sentir que é assim, mas não pode chegar
a essa conclusão com a racionalidade. Se você quer se
reapropriar de sua vida deve sentir dentro de você que é assim.
A vitima é quem cria o culpado, o infrator.”
Resumiu. Virando de ponta cabeça com uma só frase o modelo de
pensamento de toda a atual humanidade. Mais tarde me explicou que aquela
frase tinha sido falada pela primeira vez pelo Monaco Guerreiro Draco
Daatson, e trazida ao Livro de Draco Daatson. Victoria Ignis usava muito as
frases pronunciadas por aquele ‘pioneiro da abertura interior’.
Naquele dia do trem aprendi muitas coisas. Naquela época, Victoria Ignis me
seguia há algum tempo como being educator (=educador do ser) – ou talvez
deveria dizer spiritual educator, embora não exista nada de espiritual em tudo
isso – cuidava pessoalmente de me preparar para a vida. Me ensinou que este
é o modo mais adequado para despertar a consciência do Ocidente de hoje:
um being educator – figura que lembra o tutor – lhe segue em cada coisa que
você faz por alguns dias, te avisando cada vez que você atribui ao externo as
causas do que acontece na sua vida, cada vez que se afasta do ‘caminho justo’,
cada vez que você se esquece de se voltar para a integridade do ser. Depois te
deixa sozinho e aparece após alguns meses para verificar em que ponto você
está e como pode prosseguir com o trabalho. Fica com você alguns dias e
depois te deixa sozinho novamente. Este esquema se repete algumas vezes,
até você conseguir viver vendo e sentindo o mundo como uma parte de você. É
um jeito muito prático de trabalhar com você mesmo, inserido no dia-a-dia.
“O „guru‟, chamado de mestre, desempenha unicamente a
função de substituir temporariamente o seu mestre interior, a
testemunha que te permite observar de maneira honesta e
imparcial todas as vezes que você se engana dizendo a si mesmo
que „os outros‟ estão te fazendo alguma coisa. A testemunha te
avisa quando você esta tentando escapar da responsabilidade por
aquilo que te acontece. Esta tarefa é realizada por alguém que
esta ao seu lado, até você conseguir realizá-la sozinho. Isso
também é o que diz a tradição das escolas ocidentais, que não
falam de horas e horas de meditação e nem de recitação de
mantras. Estas se diferenciam das escolas Orientais, onde o
„guru‟ é alguém vestido de branco e provavelmente com barba
longa, que fala aos discípulos com uma voz persuasiva e sentado
na posição de lótus. Para um ocidental, seguir uma tradição que
não é a sua, feita de meditações e mantras, significaria fugir do
real „trabalho interior‟. O crescimento interior do ocidental não
inclui mais a vida monástica, que é ainda uma hereditariedade
do método oriental, equivalente ao retiro no „Ashram‟. Ao
contrário, passa por um bom relacionamento com o dinheiro e
com o trabalho, e implica na capacidade de obter resultados
tangíveis e sucesso na vida.”
Ter tido uma mulher como being educator influenciou radicalmente os
anos seguintes da minha vida e o meu futuro, através dos ensinamentos.
Aquela energia feminina, mesmo às vezes sendo manifestada com extrema
severidade, foi sendo acomodada de maneira estável na minha essência e
impregna ainda hoje todo o meu ser. Victoria Ignis mostrava sempre o sorriso,
e quando ensinava, transmitia muita alegria, não era ‘pesada’ no seu modo, e
não perdia nunca o senso de humor. Emanava eficiência, mas também
serenidade interior. A sua centralização era excepcional: não realizava um só
gesto mecânico, involuntário supérfluo. Por exemplo, não coçava partes do
corpo mecanicamente e não usava palavras de ligação e gírias durante o
discurso. Suas palavras, sua postura e sua atitude eram todas conscientes. Eu
sentia a força da presença total que emanava de seu próprio corpo. Seus
movimentos eram vivos, repletos desta sua presença. Não desperdiçava
energia ao redor de si reclamando ou se incomodando, não comia nada que
não fosse indispensável para o seu organismo. Havia total controle de seu
aparelho psicofísico, não se submetia nunca à mecanicidade, nem física, nem
emotiva e nem à mental. Quando queria que um conceito entrasse na minha
cabeça, sabia como fazê-lo com extrema convicção. Sua força às vezes me
deixava arrepiado, e seu ‘amor compassional’ derretia meu coração. Em vários
momentos que estava com ela, tive medo de morrer. Imagine ter que ir às
zonas mais perigosas da cidade ao lado de uma pessoa que sente que é imortal
e, portanto, não tem mais medo de morrer... foi uma experiência interessante!
Era uma guerreira cheia de amor e paz.
Naquele dia, no trem, ela me ensinou como trabalhar interiormente
com o objetivo de aprender a sentir que o mundo esta dentro e não fora de
mim.
“Viva plenamente a emoção que sente neste momento. Sinta a
ansiedade, o medo, a impaciência... sem ficar se justificando: não
caia na tentação de culpar algo externo. Não reclame nunca, não
acuse um „fantasmagórico mundo externo‟ pelas suas desgraças.
Esteja presente nas suas emoções o máximo que puder, sem
recusá-la, sem escondê-la e sem reclamar. Acolha o seu
sofrimento, tente compreender seus incômodos, „faça as pazes‟
com a sua raiva, e tenha sempre em mente, em todos esses
momentos, que é exatamente aquela emoção que esta projetando
a realidade que você percebe como externa. Lembre-se sempre: a
sua ansiedade lentifica o trem!”
Neste momento senti vontade de retrucar: - não estou tão convencido
de esta minha emoção, em particular, crie a realidade, porque se for olhar
bem, primeiro aconteceu o evento, e somente mais tarde eu comecei a ficar
mal.
“Tem razão. Não é esta emoção em particular que cria a
realidade, mas o seu hábito de sentir coisas do gênero. Com o
tempo, as suas irritações e emoções relacionadas cristalizam-se
dentro de você, são transferidas ao inconsciente e agora dirigem
a sua vida. É a atitude psicológica a se incomodar com eventos
externos. As suas emoções inconscientes causam o evento, e o
evento a sua volta te provoca uma sucessiva emoção consciente.
Nesse momento você acredita que tenha sido o evento a
provocá-la, mas cai neste engano só porque não conhece o que
está cristalizado no seu inconsciente. Na verdade você não
conhece nada sobre você!”
5. SINTA A SUA EMOÇÃO
Outro trem foi também o palco da minha iniciação. Viajava de trem,
uma manhã, de Turim a Milão, e desta vez Victoria Ignis não estava comigo,
pelo menos não fisicamente. Sob um plano mais elevado aquela mulher já
estava de qualquer modo dentro de mim de maneira constante.
Eu estava lendo um livro quando o celular daquela senhora sentada em frente
a mim tocou. Ela atendeu e começou a falar em voz alta de suas tarefas,
dificuldades familiares, e problemas de saúde, sem nem se importar com quem
estava ao seu redor. Era insuportável: sua voz se tornava cada vez mais
irritante e eu não conseguia me concentrar na minha leitura. Quando eu já
estava a ponto de explodir e convidá-la a inserir aquele celular em um dos seus
orifícios mais íntimos, o observador, dentro de mim se manifestou
espontaneamente. Consegui assim, me lembrar de observar o que estava
acontecendo no meu aparelho psicofísico, desta vez sem a ajuda de Victoria
Ignis, a qual em situação parecida interviria para me fazer notar para qual
estrada estavam indo as minhas emoções e a minha imaginação negativa.
De repente eu estava presente a mim mesmo. Podia evitar a usual reação
mecânica ao evento externo, mas, sobretudo, me tornava consciente do fato e
que era a minha irritação, aquela que carregava comigo desde sempre, que
estava criando aquele episódio, e não vice-versa.
“O mundo é subjetivo, pessoal, construído sob medida para você
e por você. A agressividade é algo que faz parte de você, que
carrega sempre com você, quando come, quando dirige um
carro, quando faz meditação, quando faz amor, quando dorme...
está sempre com você, como o fato de que você tem 1 metro e
78 centímetros de altura e cabelo preto. Por estar sempre com
você, surge, porém, somente em algumas ocasiões, projetando ao
externo uma cena. A cena que você vive é uma projeção da sua
agressividade ou do seu medo. As emoções presentes no seu
inconsciente criam a cena e depois você reage à ela,
experimentando conscientemente a emoção.”
Estas eram as palavras que Victoria Ignis costumava me dizer em
situações parecidas, com firmeza e doçura ao mesmo tempo. E justamente
essas palavras me vieram em mente naquela situação. Então comecei a me
desinteressar pela cena exterior e me foquei no meu incômodo interior, no
meu julgamento para com a má educação de certas pessoas, na falta de
respeito e mil desculpas que costumava adotar para justificar a minha aversão
a alguém ou alguma coisa.
Quando queremos justificar um incômodo nosso, apelamos sempre a
algum princípio universal (o respeito, o amor, a amizade) ou então ao fato de
que as outras pessoas presentes também sentem o mesmo incômodo, e que
então o problema deve ser objetivo: “ Os outros viajantes também estavam
incomodados, não eã zi vam mais ouvir aquela mulher espalhando aos quatro
ventos sobre sua vida pessoal, então não era só um problema meu, era alguma
coisa objetiva!”. Este é um ótimo modo de continuar se enganando e escapar
da própria responsabilidade, permanecendo escravo do mundo. Mas
observando mais atentamente, se pode descobrir que nem todos reagem da
mesma forma em relação a um mesmo evento. Em frente a um recém-nascido
que chora eu posso ficar incomodado, mas alguém sente ternura, outro
preocupação; como posso então, afirmar que o meu incômodo seja causado
pelo choro da criança? Se a causa fosse realmente externa, em frente aquele
fenômeno todos reagiriam da mesma idêntica maneira. Mas se somente uma
pessoa não fica incomodada, esta é a prova de que a causa não é externa, mas
está no modo como é estruturado cada um de nós. Pode ser que mil pessoas
reajam do mesmo modo, mas se somente uma não o faz, significa que a causa
não está no exterior, mas na interpretação daquele evento, e este é um
fenômeno claramente subjetivo. Nós nunca interagimos com um mundo
objetivo, mas com a nossa interpretação subjetiva do mundo, e que está
relacionada com o plano intelectual, emocional e mesmo físico; na verdade até
as formas e cores são percebidas, criadas, de maneira diferente dependendo
das características do sistema nervoso de cada um.
Sinta a sua emoção, seu incômodo, sua dor... e não crie
justificativas mentais.
Me repetia incessantemente Victoria Ignis.
- Mas deve existir alguma outra coisa a ser feita! Às vezes a raiva é muito forte!
– protestava, quando chegava no meu limite.
“Você deve desejar que o seu sofrimento se torne seu, ao invés de
continuar submisso a ele! Mantenha dentro de você aquela
energia consciente, pois se o faz conscientemente deixa de ser
repressão. O segredo para transformar mais rapidamente o seu
ser consiste em estar presente quando sofre e fazer de tudo para
não escapar do sofrimento. Não tente resistir ou culpar um
„mundo externo fantasma‟ pela sua condição de dor. Cum
prehenda dentro de você a dor, ame-a, acolha-a, abra seu
coração à ela e ouça o que ela tem a te dizer. Não obterá nunca
algum resultado recusando-a.
Aqueles de sua espécie tendem a fugir do sofrimento, não
gostam do „sacrifício‟, do heroísmo, da coragem, da dedicação a
um ideal, não possuem um sonho ao qual consagrar-se, não se
propõem a morrer por uma causa. Desejam simplesmente as
férias, a pensão, e viver em longo prazo sem ter muitos
problemas. E essa é a condição mais triste para um ser humano.
Não faça nada. Sinta a sua emoção e imagine que a pessoa que
você encontra a sua frente é realmente uma projeção sua. Sinta
com todo o seu ser que você esta querendo aquela situação.
Torne desejada uma situação em que você foi até hoje submisso.
Aquela pessoa te diz e faz somente aquilo que você quer, somente
aquilo que você precisa para se libertar, para redescobrir o seu
ser Real. Os outros estão aqui para te ajudar. Todo o Universo foi
reunido para te ajudar a se libertar da ilusão. Mas até que você
enxergue e sinta isso por você mesmo, deve ter Fé no que eu te
digo.”
E aquele dia no trem, após anos de tentativas, finalmente enxerguei e senti na
minha pele. A minha dignidade de ‘portador da chama’ foi assumida; me
concentrei, foquei toda a minha atenção na raiva que estava sentindo e repeti
para mim mesmo, mentalmente: “estou dentro de uma maldita armadilha
emocional; a minha irritação me impede de ver a realidade dos fatos. Aquela
pessoa lá fora existe somente como projeção da minha irritação. Eu a estou
criando e controlando. Eu decido o volume de sua voz e as palavras que ela
pronuncia. Eu estou desejando tudo isso”. Sentia as minhas vibrações
aumentarem rapidamente. Eu estava começando a sair da gaiola psíquica em
que eu me havia colocado. Às vezes voltava a sensação de que a senhora com
o celular podia existir independentemente de mim, e então a irritação
recuperava energia, mas eu sabia que naquelas circunstâncias a força de
vontade era indispensável ao objetivo de assumir a armadilha emocional e
jogar fora cada pensamento de separação e dualidade. Ela não existia lá fora.
Tentava me concentrar em mim mesmo. Eu tinha que me concentrar na minha
emoção, mais do que nas pessoas ou os eventos externos, porque o meu
problema estava dentro de mim. Sabia bem, graças aos ensinamentos de
Victoria Ignis, que o meu mal estar era causado pelo meu ‘demônio’ e não pela
situação externa.
Não tinha nada a ver com uma tentativa de evitar uma realidade insuportável
utilizando uma técnica psicológica, mas ao contrário, era o esforço mágico de
alguém que queria alcançar a realidade além da ilusão, o conhecimento direto
do mundo que está alem de maya, aquele mundo de conto de fadas que às
vezes Victoria Ignis chamava de ‘O Reino da verdade’ ou ‘ O Reino dos céus’. E
num certo momento, consegui de realmente! Enquanto eu me observava de
maneira concentrada, algo me aconteceu. Entrei em um estado de consciência
diferente, o meu coração se expandiu e comecei a chorar.
O ciúmes, a irritação, a raiva... são armadilhas emocionais. Não
fazem parte de você, daquilo que você realmente é. São demônios que
vivem dentro de você e usam sua energia emocional para nutrir-se. Um
„portador da chama‟ não se identifica com seus demônios, mas os utiliza
para despertar, para abrir uma passagem na prisão psíquica. Quando
sentir uma emoção negativa, transforme-a em uma porta para entrar
na realidade além da ilusão. Fique desperto, observe o seu sofrimento de
fora, sem se envolver, como se estivesse acontecendo com outra pessoa,
como se você fosse um cientista que deve estudar as reações de sua
cobaia. Depois aceite este sofrimento, acolha-o dentro de você e ame-o.
Se não amar o seu demônio, ele nunca poderá se transformar em anjo;
o chumbo não poderá transmutar-se em ouro; o veneno não será
remédio. O demônio é um filho seu. Você o gerou, através dos tempos e
o cristalizou dentro de você. Ele vive já permanentemente na sua casa.
Imagine por um minuto que você é um pai que coloca pra fora de casa
um filho desnaturado, porque é muito agressivo, medroso ou incapaz.
Será que este filho não baterá a porta para ser acolhido ou
reconhecido? E nem será ouvido se bater com mais força, até que um
dia, derrubará a porta com toda a fúria de que é capaz? Não deixe
espaço para os seus demônios, e ao mesmo tempo, encha-os de
compaixão, porque são crianças medrosas disfarçadas atrás de máscaras
de monstros. Um belo dia você conseguirá realizar a transmutação: a
raiva se tornará „ímpeto guerreiro‟, o ciúmes se tornará amor
incondicional... cada emoção negativa se transformará em uma emoção
superior repleta de amor. Fora da prisão psíquica, no Reino dos Céus,
existe um estado de encantamento ilimitado, de bem estar, de
confiança na perfeição de tudo o que acontece... É um mundo que
espera só você, com paciência, há milhões de anos, para te envolver em
seu morno e afetuoso abraço.
Lembro-me ainda hoje do amor sem fronteiras com que Victoria Ignis
pronunciou aquelas palavras. Seu vulto emanava uma ternura capaz de
abraçar a humanidade inteira. Nem parecia ela... tinha sido literalmente
transfigurada. Era como se alguma coisa falasse comigo através de seu corpo
físico.
Aquele mesmo Amor tinha subido comigo no trem naquela manhã. Eu
não conseguiria descrever o que senti naquela situação utilizando somente a
linguagem humana. Para dar uma idéia do mundo que se abriu de repente,
diante dos meus olhos, teria que pedir ajuda a algum humorista de Vênus sob
o efeito do ópio. Deveria pegar emprestado os ultra sons emitidos pelos
golfinhos, o canto de amor de um raro passarinho, a vibração do vento quando
atravessa teias de aranha, o olhar esquivo de uma baleia logo antes de
mergulhar novamente no mar ou o ruído ensurdecedor de uma semente que
germina.
O meu conhecimento das coisas estava ignorando a mente racional,
como se esta fosse um velho asno impossibilitado de fazer seu dever, e a
espera de ser abatido. Graças a minha força de vontade, consegui mergulhar
no coração e me abrir para uma nova dimensão do conhecimento. Como
posso então descrever o sublime? O sublime envolve a sua mente, a domina, a
aquieta e depois a derrete com seu calor. Os efeitos do sublime são
permanentes, enquanto que os da razão não o são. Eu vi, da maneira mais
óbvia do mundo, que aquela mulher sentada à minha frente estava dentro de
mim... e eu a amava, ou melhor, eu era o próprio amor que me unia a ela. Senti
em mim uma combustão que nunca pensei que pudesse ocorrer em um corpo
humano sem causar uma falha instantânea do sistema nervoso. Estou certo de
que por causa da explosão de amor vinda naquela manhã, naquele trem,
alguns anjos no céu tornaram-se mais esplêndidos e passaram à hierarquia
superior; em Sírio, centenas de almas incorporaram contemporaneamente
milhares de novas intuições artísticas; Vênus modificou ligeiramente sua rota;
e sobre a Terra – posso jurar pela salvação da minha própria alma – milhares de
crianças africanas não sentiram fome naquele dia!
Finalmente livre das pedrinhas do incômodo e do julgamento, me
sentia leve e fresco. O olhar através do qual eu observava a realidade foi
iluminado. Quando afirmo que vi uma realidade diferente – e que isto seja
claro desde já – não quero dizer que me limitei a mudar a minha opinião sobre
aquela pessoa a nível intelectual, e sim que tais visões apresentaram-se à
minha frente como uma verdade interior inquestionável. Não pensava, mas
enxergava. E se eu puder ser ainda mais preciso, não diria nem que eu
enxergava, mas que eu sentia e tocava através de novos sentidos interiores: os
‘sentidos da alma’.
Um fogo incabível saia do centro do meu peito. Percebia em mim uma
força e uma potência desmedida, enquanto a minha consciência flutuava na
mais morna e tranqüila felicidade. Eu estava inflamado de amor. Sinal claro de
que estava observando a realidade além da ilusão. Eu estava vivo, e
temporariamente livre de alucinações psíquicas. Um vislumbre de realidade
estava ali, em frente a mim em sua mais maravilhosa e impensável forma. Dei
uma olhada à minha volta: as pessoas e as coisas emanavam, de dentro de si,
uma luz intensa e quente ao mesmo tempo, todo o ambiente era repleto de
cores nunca antes vistas que eu nem poderia descrever. Só o tentar seria um
sacrilégio com a natureza. Concentrei-me instintivamente na minha escuta,
como se agora fosse óbvio fazê-lo, e notei que cada pessoa emitia uma nota:
falavam uma língua feita de música que saía de seus corpos, invadindo o
espaço. Cada ser humano tocava uma nota diferente, independentemente se
estavam falando ou não, se se moviam ou estavam parados.
A dimensão supra-racional tinha vindo me fazer uma visita, me
impregnava e se expandia de dentro de mim. Alguma coisa dentro de mim
tinha sido rompida e a minha comoção tornava-se insustentável: comecei a
chorar soluçando como uma criança. Percebi, finalmente a ‘pequenez’ das
emoções que eu havia experimentado até aquele momento a minha vida.
Envergonhei-me de ter chamado de amor certos sentimentos mesquinhos os
quais pude então enxergar. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto
pingavam nas páginas do livro aberto sobre meus joelhos e cada gota emitia
uma vibração que ressonava em todo o meu corpo, agitando-o sutilmente;
uma massagem quase imperceptível fluía pelo meu ser, o estimulava, o
reforçava... e desse modo eu o estava curando dos velhos males de milênios.
6. UM CAMINHO DEVONIANO
No final dos anos 90 eu trabalhei por 6 meses como operário na fábrica
da Fiat, no estabelecimento Mirafiori de Torino. Naquela época Victoria Ignis
tinha começado a aparecer cada vez com mais freqüência. Havia 3 meses que
tínhamos nos encontrado pela primeira vez, e nos víamos mais ou menos a
cada 15 dias. Era como se ela me cercasse, desenhando círculos sempre mais
estreitos.
Numa manhã de setembro estava voltando para casa após o turno da noite,
que terminava as 6 horas, e a encontrei no ponto de ônibus. Estava vestida
com um simples jeans e uma blusinha verde, leve e solta. Seja qual fosse a
roupa que vestisse, estava sempre elegante, fascinante... nobre. Ela era a
demonstração viva de que nobreza não depende da família ou do aspecto
físico, mas sim do desenvolvimento interior de uma pessoa: a nobreza pode
ser somente a ‘nobreza da alma’.
A calça justa enfatizava suas formas abundantes, e mesmo sendo o tipo de
mulher que me atraia fisicamente, durante o tempo que mantive contato com
ela nunca me passou pela cabeça um pensamento sexual em relação à ela. Era
evidente que ela, de alguma forma me impedia de tê-lo. Ela tinha controle
completo de seu centro sexual e de seu corpo emocional, e isso tornava
impossível em mim a presença de qualquer energia sexual ou passional. Às
vezes se estabeleciam entre nós contatos ‘de coração a coração’ muito
intensos, com lágrimas e tudo, outras vezes ela me aterrorizava ou batia de
frente com o meu modo de pensar até que eu interrompia a conversa e ia
embora. Mas mesmo neste caso, eu sabia que ela havia provocado
deliberadamente aquela reação em mim.
Victoria Ignis era um ‘vampiro ao contrário’, capaz de grudar em você e lhe
transmitir energia, de dar vida ao invés de tirá-la. Ela me ‘mordeu’ naquele
dia no parque e me enfeitiçou com seu modo de entender a existência
totalmente oposto ao usual. Várias vezes eu me pegava pensando se ela era
uma louca, desvairada ou uma ambiciosa sem escrúpulos, mas ao mesmo
tempo eu não via a hora de reencontrá-la e contava os dias que me separavam
dela.
Exatamente como acontece após uma mordida de vampiro, percebi que
estava irremediavelmente contaminado pela sua visão de mundo. Me
assustava mas ao mesmo tempo me seduzia. Alguma coisa em mim tinha
começado a mudar. Uma vez mordido, não se pode mais voltar atrás, não
existe antídoto: estava ocorrendo em mim uma transmutação alquímica que
cedo ou tarde me faria pertencer à sua mesma espécie.
- Como pode dizer coisas tão desconcertantes com aquela calma, com aquela
naturalidade inatural?
Perguntei a ela naquela manhã no ponto de ônibus.
“O meu modo de falar com você é conseqüência do que eu vejo,
não do que eu penso. Esse seu estupor é que deveria ser
estudado! Pensar que exista um mundo de nós do qual não
temos controle... isso sim é que é uma loucura! E quem pensa
assim deveria ser internado em uma clínica e estudado a fundo!
Você não percebe a loucura desta visão somente porque é a mais
aceita socialmente. É a massa que pensa assim, então parece
normal. Isso faz com que venham tratados como loucos os poucos
sãos que existem no mundo. Nesta época de caos é a massa que
dita as leis. No governo estão os representantes da massa, não
„os melhores‟, ou seja, indivíduos que tenham alcançado a
integridade do ser. Quando a massa, ignorante das leis do
Universo, se apoderou da educação, da ciência, da medicina e da
religião, começou a decadência. Nas “sociedades tradicionais”
estas instituições eram administradas por „iniciados‟, ou seja,
pessoas que já haviam adquirido um certo desenvolvimento de
sua essência, pessoas conscientes de serem uma unidade com o
todo, líderes com o coração aberto, capazes de transmitir
valores. Através das instituições, a massa era governada e ao
mesmo tempo educada, ou seja, ajudada a evoluir, a superar a
gana de aspirar por um crescimento da consciência. Enquanto
que hoje, é a massa – os não livres, os escravos – que decide
quem governa e como conseqüência, como deve ser o programa
educacional. Mas um escravo só pode eleger ao governo
“ditadores”. Os resultados estão sob os olhos de todos: filas de
autônomos formam uma escravidão empregatícia que luta pela
sobrevivência oito ou mais horas ao dia em um escritório ou
uma fábrica. Se o indivíduo ocupa uma posição no quadro
gerencial ou se é um operário de linha, se ganha altas cifras ou
somente o que dá pra comer, não muda nada, porque a
mentalidade é sempre empregatícia: é a atitude de depender, de
viver somente para satisfazer necessidades básicas ao invés de
viver por um valor. Se a escola não educa os valores, a
necessidade torna-se o valor.
A massa que se ilude de poder se autogovernar através da
chamada „democracia‟ esta se arruinando sozinha!
A partir do momento que cada ser deve necessariamente. Por
força das circunstâncias, encontrar fora de si o próprio
governante, o resultado do infantil desejo de autogoverno do
povo é a fatal submissão a quem possuir a habilidade de iludi-lo
que isso seja efetivamente possível.
O irracional desejo de democracia terá, então, sempre como
efeito a oligarquia, que, não por acaso, é hoje a forma de
governo mais difundida no mundo dito democrático. A
democracia não é possível, mas se o povo não percebe esta
impossibilidade e quer mesmo assim se iludir de poder
autogovernar-se, então uma oligarquia – uma casta voraz e sem
valores – é automaticamente autorizada a estabelecer-se no
poder por décadas, sendo chamada de „governo democrático‟. O
povo possui aquilo que merece... sempre.”
Eis um daqueles momentos em que eu queria matá-la! Eu era um sustentador
completo da democracia e sempre acreditei que ela deveria ser defendida com
unhas e dentes, enquanto que aquela mulher me dizia que a democracia não
só não existe atualmente, como era impossível de existir.
- E então qual solução você proporia? Tentei indagar.
“Não se trata de propor alguma coisa. A história move-se de
através de ciclos, então já se sabe que após este período de caos
que já dura há milênios, virá um período de „restauração dos
mistérios‟, durante o qual se restabelecerá uma Hierarquia do
Ser, como guia de uma Sociedade Tradicional.”
Victoria Ignis me explicou que o termo ‘tradicional’ não tem nada a ver com o
termo ‘conservador’. Uma Sociedade Tradicional não é tida como tal porque
adota leis, costumes e preceitos morais do passado – o que seria uma tolice,
por retroceder em coisas que já foram superadas – mas porque se refaz no
‘princípio tradicional’, o qual afirma que dentro de uma coletividade que queira
estar alinhada com a evolução do Cosmo, todos os cidadãos se dedicam à sua
própria realização interior, cada um em seu nível e de acordo com suas
características pessoais. Em uma sociedade autenticamente tradicional, a
elevação do ser do indivíduo – a sua identificação com o Todo – é vivida como
o único objetivo da vida consciente de um ser humano. Qualquer outra
atividade – política, econômica, científica, educativa, artística – roda em torno
de tal princípio e é simplesmente sua manifestação. Com a expressão
‘Hierarquia do Ser’, não deve ser entendido nada de místico ou religioso, mas
sim um governo composto por seres íntegros, ou seja, totalmente
identificados com o Todo. Sua consciência é tão extensa que percebem o
mundo, e assim, a comunidade, como parte de si mesmos. Como consequência
agem naturalmente pelo Bem Comum, sentindo que o bem dos outros é
também seu próprio bem. Não possuem mais apegos materiais nem interesses
pessoais, mas tomam decisões impopulares, enquanto que para e-ducar o
povo é necessário obrigá-lo a dar um salto para o alto, coisa que por livre e
espontânea vontade não fariam. O povo tende a estacionar nos fundos, e
normalmente não aspira a um maior grau de consciência, já que esta implica
em maior responsabilidade. No futuro, quem demonstrará possuir um ser mais
evoluído – vale dizer, que se encontrará em um nível mais elevado de
consciência – será encarregado de fazer as decisões mais importantes, seja na
política, seja dentro de uma indústria. Não serão mais a ambição e o desejo de
obter privilégios a fazer com que um indivíduo chegue a governar um país,
mas sim suas qualidades interiores: a Inteligência iluminada, a genialidade, o
heroísmo, a capacidade de sonhar, o coração aberto, a dedicação ao ideal, o
sacrifício de si mesmo até a morte...
- Quer dizer que nos será imposto do alto uma forma de governo desse tipo? A
idéia de Hierarquia me dá medo!
“Se for imposta do alto não é autêntica. Se instalará
espontaneamente, como fruto de um processo de e-ducação do
povo. A Hierarquia é um conceito natural, inevitável. Na verdade
na natureza não existe democracia. Draco Daatson dizia:
“Quando dois homens se encontram um dá e o outro recebe”. O
que significa dar algo a uma pessoa? Não quer dizer eã zi-la,
mas ao contrário, amá-la como uma parte de si e ajudá-la a
“subir um degrau”. Somente quando você ajuda alguém que está
abaixo de você a subir no seu degrau poderá subir ao degrau
sucessivo. Não é possível subir deixando para trás um degrau
vazio, porque cedo ou tarde cairá nele novamente. Onde quer
que dois homens se encontrem, mesmo por poucos minutos
dentro de um elevador, imediatamente e inevitavelmente se
estabelece uma ordem hierárquica. A distância do Todo – a
força com a qual um indivíduo sente ser um Rei responsável pelo
seu reino, o coloca no degrau que lhe cabe nessa escada invisível.
Quanto mais íntegra e unitária é a sua consciência, ou seja,
próxima aquela do „Uno‟, que carrega tudo dentro de si, mais
elevada é sua responsabilidade. Não é a raça, a idade, o sexo, a
fama o cargo assumido, a educação, o título de estudo... mas é
exclusivamente o nível do Ser, o nível de responsabilidade pelo
que acontece no mundo, que decide, em silêncio, a posição
hierárquica de toda e qualquer pessoa. E aqui entra em jogo a
escola. Esse conhecimento deveria se tornar patrimônio de
muitos para que muitos possam elevar a própria essência.
Precisamos de pessoas capazes de transmitir esses ensinamentos
revolucionários para permitir a transição do ser humano a um
novo estado de Consciência, no grau sucessivo da evolução
planetária. Alguns comparam este período histórico com o fim
do Cretáceo, quando desapareceram os dinossauros e iniciou a
era Cenozóica. Outros o comparam ao Devoniano (na Era
Paleozóica), quando alguns anfíbios conseguiram sair da água e
dar os primeiros “passos” em terra firme. Ambas as
comparações são adequadas. A humanidade esta sendo chamada
a se transferir do mar à praia, mas essa transição requer um
esforço enorme, uma revolução do Ser. Somente alguns
conseguirão. Outros terão o mesmo fim dos dinossauros. Quando
o Ser de um organismo se torna mais elevado do que ele pode
exprimir dentro de sua espécie, tal organismo desenvolve novos
órgãos que lhe fazem pertencer a uma nova espécie e mudar de
habitat.”
Eu estava perplexo diante daquelas palavras. O meu mundo estava
desmoronando, tijolo por tijolo.
“Perceber o mundo dentro de si não é só uma questão de idéia,
mas implica em um despertar da consciência, uma
transformação física, um desenvolvimento adequado do sistema
nervoso, a reativação de algumas glândulas, a Pineal e Pituitária,
principalmente. São anos de trabalho intenso durante os quais o
indivíduo é totalmente reeducado. Precisa-se de escolas
realmente educativas, seja para os adultos ou para as crianças. À
medida que o nível de consciência do povo se elevar, sempre
mais indivíduos íntegros serão eleitos ao governo, porque o
cidadão tem sempre e somente aquilo que merece. Você possui as
qualidades para transmitir aos outros esta nova visão de mundo,
mas primeiro deve reeducar a si mesmo, liberar-se da prisão
psíquica.”
Não acredito que eu possa ter o dom de ensinar. Não tenho um título de
estudo adequado, sempre tive medo de falar em público...
“Isso não é você quem deve dizer. Te asseguro que você já tem as
qualidades que servem, mas ainda é totalmente um escravo, um
anão psicológico, e por esse motivo vive na escassez, e não
consegue nem colher sua próprias qualidades, seu poder, seu
fogo. Você é vítima daquilo que te ensinaram a escola, os pais, a
mídia... Você é vítima do Mundo e nesse estado você não serve
para qualquer atividade que não seja meramente mecânica e
baseada na sobrevivência, como comer, trabalhar como
dependente e fazer filhos. Mas pode decidir mudar, sair da
psicologia do „ser vítima do mundo‟ e assim teria a possibilidade
de se tornar alguém, um verdadeiro indivíduo.
Lembrando que tudo o que você é agora deverá morrer: suas
idéias sobre o mundo, suas convicções políticas, sua moral, o seu
modo de amar... tudo! Tirarei todas as suas falsas raízes; se
aceitar de trabalhar comigo será só porque você não faz idéia do
que te espera! Você deverá confiar completamente em mim e ter
um desejo sobre humano, incontrolável de abandonar o seu
estado atual. No momento que decidir fazer um percurso de re-
integração, você morre, e o que sobra de você é colocado em
minhas mãos. Não é uma brincadeira, vou arrancar o seu
orgulho, e isso te fará mal. Só pode enfrentar algo do gênero
quando percebe que não vale à pena continuar a viver como uma
marionete nas mãos do mundo, quando você estiver pronto para
a história do Pinóquio. Se tiver ainda qualquer coisa pra segurar,
qualquer aspecto que você ainda seja apegado, nem adianta
começar.”
- Me diga uma coisa: você me escolheu porque sou um pouco especial? Porque
você acha que tenho mais possibilidade do que muitos outros?
“Não! Muito pelo contrário! Você tem as qualidades de
divulgador e professor que poderemos usufruir no futuro, mas
não é por nada especial. Te escolhi exatamente porque você me
representava um desafio e um teste: se uma pessoa insignificante
como você conseguir se libertar, quer dizer que será também
possível para milhões de outros!”
E soltou uma risada estridente. Desse modo deu o primeiro grande golpe no
meu amor próprio. Eu não tinha sido escolhido porque eu era um eleito, mas
porque representava seu desafio pessoal. Se Victoria Ignis podia ajudar
alguém como eu a alcançar a liberdade – a tornar-me o Rei do meu mundo –
esta seria uma grande vitória para a Escola. Quem era eu? Um falido, um
depressivo crônico, alguém que tinha usado álcool e drogas por anos, alguém
cujo título de estudo era o 3º Ensino Médio completo, e cuja máxima aspiração
consistia em ser contratado por tempo indeterminado como operário de linha
da Fiat.
7. FULMINADOS OU ILUMINADOS
“A este ponto te faço uma pergunta: você quer despertar? Quer
tentar sair do mar para se aventurar na praia? Quer sentir a
mesma emoção sentida pelos primeiros anfíbios, pioneiros na
revolução planetária da época?
Parem um pouco para pensar: o que estimula um ser vivo a
fazer alguma coisa antes dos outros de sua espécie? Consegue
imaginar a psicologia daquele primeiro anfíbio que se arrastou
pra fora da água? Você já se perguntou o que significa tentar
alguma coisa realmente diferente dos outros de sua espécie?
Consegue sentir, somente por um instante, o fogo que mova
Draco Daatson, indivíduo que, há séculos atrás, se deu conta de
estar em uma prisão psíquica e organizou um grupo com o
objetivo de fugir dela?”
Me subiu um arrepio pela espinha. Abriu-se um horizonte de possibilidades e já
me sentia capaz de tudo para guiar um exercito de revoltados! Era incrível com
Victoria Ignis podia, com poucas frases certeiras, me provocar uma revolução
interior, um aumento do estado vibratório. Mas justamente quando eu estava
para derramar lagrimas de comoção, a racionalidade voltou a me dominar – Eu
realmente acredito que muitas pessoas já tenham iniciado um percurso
espiritual. São milhões pelo mundo: meditação, yoga, reiki... e só escolher. Não
acho que ainda haja espaço para ‘pioneiros’. Talvez há cinqüenta anos atrás,
mas não mais atualmente. Me olhou por alguns longos segundos e depois
disse com um tom de desprezo exagerado:
“Estou falando de uma transformação do Ser, não de recitar
mantras de maneira mecânica na frente da foto de um maestro
de barba branca! Este não é o pacote espiritual mostrado em
revistas de cabeleireiro. Eu te digo que a sua realidade está
dentro de você... e você me fala de espiritualidade?”
Eu não entendia. Qual era a diferença? Naquela época parecia tudo a mesma
coisa. ‘New Age’, esoterismo, reiki, meditação transcendental, Rene Guenon,
Gurjieff, Crowley, tantra, teosofia... Compreendendo o meu sincero embaraço,
resolveu me explicar melhor sua afirmação:
“Uma coisa é um autêntico trabalho de despertar, ou seja, de
re-integração do Ser conduzido através da auto-observação
cotidiana e a modificação do seu modo de ver o mundo, outra
coisa são as técnicas. Despertar quer dizer parar de se achar
uma criança medrosa a mercê do mundo e começar a agir como
um Rei, o regente da sua realidade. Hoje estão proliferando – e
aumentarão cada vez mais nos próximos anos – as escolas que
ensinam técnicas, mas as técnicas, por si só, não despertam não
te conduzem para fora da realidade sujeito/ objeto de maneira
consciente. Se quer despertar deve segurar sua vida com sua
próprias mãos, tornar-se um „mônaco guerreiro‟, atravessar a
dor sem culpar nada nem ninguém. Os seres humanos estão
inventando as técnicas mais estranhas... por não despertarem
nunca, por não enfrentar suas dores.”
Me explicou com paciência que a recitação dos mantras não desperta, mas ao
contrário, adormenta. Os exercícios de respiração e a energia sexual podem
levar à loucura, pois introduzem no organismo uma quantidade de energia que
o sistema nervoso ainda não esta pronto para receber. Me fez ainda uma
longa lista de exemplos dos danos criados pelo auto-uso dessas técnicas.
“Em todos esses anos nunca vi um ocidental despertar utilizando
técnicas de meditação! Nunca. Nesses grupos todos falam do
despertar, mas ninguém o obtém e ninguém resolve
radicalmente seus problemas cotidianos! Utilizar técnicas para
atingir a chamada liberação é uma ilusão da ilusão, a armadilha
da armadilha. Nunca soube de ninguém que adquiriu a
integridade do próprio ser dentro de escolas esotéricas, de
meditação, escolas de magia, escolas de gnosi. E também existem
muitas pessoas que saem contando que, por exemplo, a energia
sexual pode levar à iluminação. Simplesmente não é verdade.
Pode até ajudar, assim como fazem alguns exercícios de
respiração e até certas drogas, mas as técnicas por si só não
levam a lugar nenhum. No melhor dos casos você adquire tanta
energia que não consegue lidar com ela e que acaba por
alimentar as criticas, incômodos e julgamentos para com o
mundo... mas não te libera do Mundo.”
Me disse que, se insistimos nessas técnicas, podemos ativar os centros sutis
(chakras) e ter experiências místicas muito fortes. Neste ponto pode-se ate
achar que ‘entrou para o Uno’, o Todo, e, realmente, de um certo ponto de
vista, é de fato verdade. Mas se trata do Todo sem consciência, o pacote
indiferenciado onde a consciência do individuo está imersa há milhões de anos,
e não o Uno ao qual a consciência deve expandir-se sempre mais, o Uno
autoconsciente, fruto de um esforço consciente. Essas pessoas estão
fulminadas, e não iluminadas, como pensam. Não e mesmo possível conseguir
o despertar consciente do Ser, ate alcançar a Unidade autoconsciente,
utilizando técnicas puramente mecânicas. Por meio de drogas, energia sexual,
exercícios de respiração, recitação de mantras entre outras, podemos
somente entrar no Nada, um estado comparado ao sono profundo primário,
de onde tudo e iniciado; um estado de embotamento da consciência onde os
problemas acabam enquanto não somos nem capazes de percebê-los, e não
porque já os cavalgamos e os superamos. Ao invés de ir pra frente, voltamos
para trás.
Algumas destas técnicas são antigas, de milênios atrás, o que não quer dizer
que são boas. Pelo contrário. Elas foram concebidas por uma humanidade
muito diferente da atual. As meditações e mantras que eram ensinados na
Índia ou na China há mais de mil anos atrás não funcionam para um ocidental
que vive na era atual, obviamente! E incrível como ninguém perceba a
inutilidade, ou ainda a periculosidade que existe no querer utilizar hoje certos
métodos tão antigos. No passado, a humanidade não tinha as mesmas
potencialidades de hoje, então os estudantes almejavam o anulamento da
consciência no Uno primário, e não ao despertar consciente, ou seja, a
integridade do Ser que podemos alcançar hoje.
“Tente você mesmo, na sua pele – me cutucou Victoria Ignis –
freqüente escolas e grupos, inscreva-se a diversos cursos.
Experimente em você, assim aprenderá a discernir, de maneira
autônoma e um dia poderá explicar aos outros a diferença.”
Nos anos sucessivos, enquanto Victoria Ignis me seguia na minha formação,
freqüentei algumas escolas e me inscrevi a vários grupos: da meditação
transcendental a meditação Zazen, da escola de magia à escola tântrica, do
pensamento positivo ao Reiki. Por um certo período passei também por
algumas ordens iniciáticas aceitando assumir os típicos nomes ocultos que
iniciam sempre com Frater ou Soror... Mais pra frente foi a vez dos grupos de
Osho, onde, a um certo ponto, como ocorre s muitos que freqüentam esses
grupos, me pediram para usar um nome sannyasin, alguma coisa tipo Ananda
anam, Shivaprem, Shaktiavasa, Devananda Urusvati e assim por diante, todos
nomes que significavam ‘ flor de lótus que se abre na testa’ ou ‘sinto o amor
do Absoluto impregnar em meu coração’!
Mas na realidade, em nenhum desses lugares haviam bem claro o real
significado da mudança de nome, algo que poderia ser feito – sem
obrigatoriedade – somente após a integração do Ser, e não antes, o que indica
a morte da personalidade anagráfica e o nascimento de um verdadeiro
indivíduo. Mas a partir do momento que, nessas escolas ou grupos ninguém
atinge realmente tal estado – ou pelo menos eu nunca encontrei alguém que
tivesse conseguido – escolhe-se mudar o nome para indicar uma certa
iniciação ou até no momento de entrada na escola!
A minha experiência foi única, porque pude atravessar todos esses diversos
ambientes ditos espirituais com desapego, sem me identificar com uma
técnica, com um mestre ou tradição oculta. Em alguns lugares fiquei somente
algumas semanas, outros, freqüentei por anos. Graças às advertências de
Victoria Ignis pude agir como expectador, ou seja, indagando, ao invés de ser
somente ‘aluno’ procurando espiritualidade.
Me lembro que em um desses grupos queriam me fazer uma coisa chamada
‘ativação dos chakras’. Victoria Ignis já tinha me aconselhado a ficar longe de
qualquer um que quisesse manipular meus chakras, o que me ajudou a evitar
possíveis danos.
- “Não tente ativar os centros sutis utilizando métodos
mecânicos! – Me disse uma vez. – Quer abrir de verdade o
chakra do coração? Bem, é louvável da parte sua. O modo mais
rápido e seguro para fazê-lo consiste em parar de julgar e
decidir amar seus inimigos. Tome hoje esta firme decisão e leve-
a adiante a cada instante de sua vida. Se esforce para amar
qualquer pessoa que te incomode e em poucos meses conseguira
abrir esse chakra.
- Quer abrir o terceiro olho? – continuou em tom cada vez mais
irônico – Magnífico, gosto dos jovens que desejam crescer! Neste
caso o modo mais rápido e seguro consiste em pensar a cada
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  • 1. ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA Vencer o mundo e viver na riqueza Salvatore Brizzi NOTA INTRODUTÓRIA Neste pequeno livro são expostas uma filosofia e uma prática que podem revolucionar a sua vida. Leia-o pelo menos três vezes, para que as idéias aqui reveladas comecem realmente a fazer parte do seu modo de viver, conduzindo-o assim à libertação da perigosa ilusão de que lá fora exista um mundo separado da sua consciência. Leve-o sempre com você como se fosse um amuleto, porque a Força que emana destas páginas pode te ajudar a alcançar o seu objetivo, ou a encontrar um... Salvatore Brizzi 1. A VISÃO DAS MÁSCARAS Quando encontrei pela primeira vez Victoria Ignis, na metade dos anos 90, eu tinha uns 25 anos e ganhava a vida trabalhando como estoquista para uma grande indústria de alimentos. Por um certo tempo fui um código de barras perfeitamente incorporado na engrenagem do sistema “produz – consome - rompe”. Mas já há vários anos havia me tornado um código de barras sempre menos útil, sempre menos legível. Tinha perdido toda a confiança na possibilidade de encontrar um sentido para a minha vida: o trabalho, o esporte, o amor, a família...tudo me parecia inútil, e à minha volta eu também não conseguia ver exemplos de pessoas que fossem realmente realizadas. Primeiro o esporte, praticado há anos de forma obsessiva, depois o álcool e as drogas me representavam o refúgio de uma realidade que já tinha se tornado insuportável e ao mesmo tempo irremediável. A depressão, natural conseqüência da incapacidade de dar um sentido à realidade, tornou-se a minha companheira durante o dia, enquanto à noite, a dor de ter que viver como um fantoche, vindo ao mundo por acaso, vinha escondida por algumas horas de alteração de consciência por efeito de drogas. A dor estava cada vez
  • 2. mais insuportável – às vezes mesmo sem estar mascarado pelas drogas – quando a minha falta de objetivo pessoal e de sentido na vida chegou a alcançar a conscientização de que aquela situação pudesse ser idêntica também para muitos outros, que provavelmente era assim para todos, e que a vida fosse já por ela mesma uma derrota, mesmo que você tenha nascido na família de um rico Industrial ou de um ator de Hollywood. À noite eu ia dormir esperando não mais acordar. Queria me esconder, me anular, escorregar docemente na inconsciência mais completa, no indefinido nada. Não queria mais pensar em quem eu era, nem refletir sobre a minha condição. Quando um ser humano descobre a sua impotência, quando enxerga a sua mecanicidade, a sua ausência de um real querer, quando a existência o coloca de lado, o sufoca, o esmaga, não há saída. Criam-se então condições ideais para que possa acontecer algo de importante. Não foi por acaso que justamente naqueles anos de escuridão e sofrimento, me aconteceu uma experiência incomum: uma noite, enquanto estava em um bar com alguns amigos, pela primeira vez, simplesmente pude enxergar com clareza todas as suas dores. Estávamos em um dos tantos bares de Torino (é uma das cidades onde há mais bares da Europa), sentados a mesa. Falava-se de coisas estúpidas, contava-se piadas, e ria-se liberadamente. Para um olhar desatento podia parecer uma das tantas reuniões de amigos, em um dos tantos locais, uma noite como tantas outras. Pois saímos à noite justamente para isso: nos divertir, beber um pouco, talvez conhecer um lugar novo, gente nova... e depois voltarmos a casa para dormir. E na manhã seguinte recomeçar o trabalho: oito horas em um escritório, fábrica, ou dirigindo um carro para tentar vender alguma coisa a alguém, não vendo a hora que chegue a noite para sair com os amigos ou voltar a casa para encontrar com a família. Um dia esperando para que chegue a noite, uma semana esperando para que chegue o fim-de-semana, um ano esperando para que cheguem as férias, trinta anos esperando para que chegue a aposentadoria, uma vida esperando para que chegue a morte... libertadora. Tudo programado para fugir da dor infinita de uma vida sem objetivo, sem apoios, sem explicações. De repente, como se dentro de mim se abrisse uma janela, comecei a ver segundo uma nova ótica: as primeiras conseqüências foram o tempo que foi se lentificando e as cores ficando mais lúcidas e brilhantes. Era como se tivesse mais luz no local, mas essa luz vinha de dentro dos objetos e das próprias pessoas. As vozes, todas as vozes e todos os sons, até a música ficou mais longe e indistinguível. Naquele estado de consciência ‘suspenso’, as expressões dos meus amigos, assim como aquelas dos outros, finalmente se mostraram realmente como eram: foi naquele momento que de suas risadas saíram assustadoras notas de dor. Não riam, mas batiam os dentes no esforço de segurar o choro. Não contavam piadas, mas gritavam sua raiva. Não se davam tapinhas amigáveis nas costas, mas descarregavam a própria agressividade reprimida nos outros. Nenhum deles estava satisfeito. Eram todos, homens e mulheres, empenhados em dar uma aparência de credibilidade e originalidade às suas máscaras. Nenhum deles era feliz. Claro, se eu tivesse perguntado tenho certeza de que teriam respondido: “- Mas não dá pra ver que sou feliz? Estou rindo, então sou feliz, somos todos felizes! Bebemos e rimos em companhia, beba você também! Por que essa cara triste? Não estrague sua noite...” Nos reuníamos para enganarmos a nós mesmos, para mostrar que éramos alguém, que possuíamos uma identidade, para fingir que não tínhamos fracassado na vida. Um bando de desiludidos infelizes que se sentiam em dever, mesmo com si mesmos, de rir e brincar toda noite. Tínhamos que vestir máscaras de felicidade, porque admitirmos de não sermos felizes, significaria admitir de haver falido! Não eram simpáticas noites com amigos, nunca foram, eram tentativas de fugir da dor de viver sem um verdadeiro objetivo, sem um sonho. As férias de verão, a aposentadoria e uma família que imita aquela da propaganda podem substituir um verdadeiro objetivo quando o ser humano se encontra em um estado hipnótico. À medida que começa a acordar, a recuperar-se da indiferença quotidiana, estes paliativos não bastam mais, e tornam-se frágeis e inconsistentes. “Às massas, são dados pontos de referência externos, não internos. E é normal que seja assim, porque a massa não consegue curar-se dentro, é extro-versa (= voltada ao externo) por
  • 3. natureza. Um Deus, um Messias, o dinheiro, a carreira, o Estado, a Ciência e também a família, são todos pontos de referimento externos, seguranças ilusórias externas. A massa não sente ainda a voz da sua interioridade. Só pode acreditar em alguma coisa no plano mental, confiar em alguém que a guie, mas não pode ainda sentir a Força do próprio Ser. Olha só, não estou falando mal do povo, escrevo somente suas características para que você possa escolher onde se colocar. Só alguns indivíduos podem perceber a Força – e são milhares espalhados pelo mundo – mas devem ser orientados e educados individualmente. Quando chega uma época, como a nossa, em que todos os pontos de referimento externo entram em colapso, a massa, então chega a um impasse: começar a olhar-se dentro... ou enlouquecer. Alguns conseguirão encontrar o Coração, a Força, a Realeza dentro de si. Muitos não conseguirão. As conseqüências serão caos social, epidemias, delinqüência e loucura” Assim teria me dito alguns meses mais tarde Victoria Ignis. Mas naquela noite, naquele bar, ela ainda não existia, não fazia ainda parte da minha vida, e eu fiquei durante duas horas seguidas aterrorizado por aquela minha visão intuitiva. Por vários dias fiquei submerso como nunca em uma sensação de desconforto, de um senso de impotência e de raiva. Sentia a dor de estar, de ser vivo e consciente, de ter sido jogado na matéria sem ter pedido pra que isso acontecesse. É uma dor infinita, interminável. Naquela noite eu tinha demonstrado a mim mesmo que eu estava com razão. Não era só eu o doente, os outros também sofriam de uma falta de objetivo crônica, talvez ninguém fosse imune à ela. Sofriam em silêncio em frente à televisão, enquanto abraçavam seus filhos, faziam amor ou enquanto riam no bar com seus amigos, mas na verdade a dor não os deixava nunca. A única diferença entre eu e eles é que agora eu estava pronto: a consciência da minha condição e a honestidade comigo mesmo haviam me deixado pronto para algo de novo. Eu ainda não sabia, mas estava pronto para a Escola. É a Escola que te encontra, não é você a encontrá-la. Procurar desenfreadamente por escolas, mestres e guias, viajando pelo Globo, como fazem milhares de aspirantes discípulos “New Age”, é pura tolice. A Escola se apresentou a mim sob a figura de Victoria Ignis, e aquela mulher foi tudo o que eu conheci da Escola: nenhuma estrutura oficial, nenhum grupo, nenhuma publicação. A Escola transformou o meu modo de ver a vida me revelando o engano dos enganos, o pecado dos pecados: acreditar que possa existir um mundo fora de nós capaz de nos influenciar. Já há séculos, um grupo de audazes – de ‘Mônacos Guerreiros’ – descobriu que este planeta é uma armadilha psicológica, e se reúnem em segredo para elaborar um plano de fuga. Seu chefe se chamava Draco Daatson, e eles viviam no escuro da mais escura época Medieval. Draco Daatson – ou seria melhor chamá-lo de Prometheo, capaz de roubar o fogo dos Deuses – entendeu que os seres humanos não são nunca prisioneiros dos outros homens, mas sim de uma psicologia, do seu próprio modo falso de compreender a vida. Para haver qualquer real esperança de escapar, não se deve então combater materialmente contra alguém ou alguma coisa. Não basta, por exemplo, destruir o governo, mas é necessário trabalhar em uma direção intro-versa (= voltada ao interno) para mudar a própria psicologia. A realidade externa ficaria então obrigada a adaptar-se àquela mudança interna. Draco Daatson e seu grupo entenderam a raiz do problema: a humanidade vive na falsa crença de que a consciência do indivíduo esteja localizada somente dentro do seu corpo, e que fora, exista um mundo separado e objetivo, no qual possa alcançar perigos ou satisfações. Uma vez compreendida a fundo a origem do problema, liberar-se foi só uma questão de tempo. Portanto, aplicando um método e ajudando-se mutuamente, esses primeiros heróis se libertaram da armadilha psíquica e fundaram diversas Escolas secretas, que pudessem transmitir também aos outros, esse único e fundamental conhecimento: nós acreditamos que somos
  • 4. separados do mundo, quando, ao contrário, o mundo está dentro de nós e é uma projeção totalmente nossa. Se vocês estão lendo este livro é porque ao tal antigo e fundamental conhecimento – mesmo que já tenham lido em mil textos e escutado em diversas histórias – ainda não querem acreditar. Com o passar dos séculos, tais escolas se diferenciaram cada vez mais e perderam contato entre elas, tanto que hoje é quase impossível reconhecê- las em uma matriz única. De tempos em tempos alguém pega a tarefa de trazer à luz tal conhecimento. 2. DEPENDENTE OU EMPREENDEDOR Alguns dias após aquela experiência no bar, vagava à noite num grande parque perto da minha casa. Eu havia organizado algumas hora antes, com alguns amigos, uma cerimônia mágico-alquímica, inspirada um pouco na magia ocidental e um pouco nos rituais Xamânicos utilizados entre os povos da Amazônia. No decorrer desta nossa experiência, inalamos um pó marrom de efeitos psicotrópicos muito potentes¹, conhecido como raiz de Paricá ou Virola (uma árvore da Amazônia, em particular a Virola Theiodora). A Virola contém DMT (Dimetiltriptamina), talvez a substância psicodélica mais potente em absoluto. Como novatos bruxos e bruxas, escondidos entre as árvores do parque, fizemos um círculo mágico na terra e, ao lado, um triângulo mágico, utilizando uma faca da cerimônia. Nas fendas formadas espalhamos pó de sulfeto de mercúrio. Os meus amigos, muito mais espertos do que eu, recitavam fórmulas mágicas com o objetivo de invocar ‘presenças’ que pudessem fornecer indicações sobre o significado de nossas vidas. Nós estávamos sentados dentro do círculo mágico, enquanto as entidades manifestavam-se ao interno do triângulo. Cada um de nós viu aparecer nas fronteiras do triângulo alguma coisa diferente: uma das meninas viu o tio que a havia molestado quando era pequena; um amigo conversou com o pai, com o qual não conversava há tempos, alguém se comunicou com entidades extraterrestres e alguém foi aterrorizado pelos seus demônios...que são sempre interiores. Cada um recebeu o que lhe era mais útil naquele momento de sua vida. Por volta das 3 horas da manhã, enquanto o efeito da planta sagrada passava, seguia sozinho em direção à minha casa, que se encontrava após o parque, quando no escuro entre as árvores me apareceu pela primeira vez a figura de Victoria Ignis. No início me parecia só uma sombra, um ectoplasma, depois, quando chegou mais perto, consegui enxergar melhor seu rosto, iluminado por uma das lâmpadas do parque. Demonstrava menos de 40 anos e vestia um elegante tailleur cinza, cabelos negros, corpo carnudo e aspecto muito simpático. Como se estivesse realmente me esperando, se moveu lentamente na minha direção, sem pressa, segura de si, mesmo estando sozinha em um parque pouco iluminado, em plena noite. “As drogas no passado serviam para fazer-se penetrar em novos mundos, dimensões desconhecidas da existência. Era um meio sagrado utilizado pelos exploradores da consciência para se reconectar ao seu Ser. „Psicodélico‟ vem do grego psiche e delos: „revelador da alma‟. Hoje, as drogas servem somente para escapar da quotidianidade, para esconder o desespero do existir sem um objetivo. Tornaram-se o símbolo da derrota, da concessão do próprio poder nas mãos do mundo externo. Não é por acaso que antigamente tais substâncias ficassem sob custódia de Xamanos e Sacerdotes, enquanto que hoje são propriedade de organizações mafiosas.” Disse a mulher quando estava perto de mim. Sorria e era cordial. Com aquele seu vestido elegante parecia que tinha apenas saído de alguma festa privada que acontecia nas redondezas. Talvez estivesse só pegando um pouco de ar no parque por causa da fumaça, do álcool, ou então era uma prostituta que estava tentando me atrair (se bem que vestida assim, naquela zona eu nunca tinha visto). Em todo caso, para deixar tudo claro fui logo dizendo: “- Olha, eu
  • 5. não tenho dinheiro. Se está aqui por isso se deu mal. Faço um trabalho do cão e ganho o quanto me basta para sobreviver”. “É justo que seja pobre, porque você é um escravo... é um escravo interiormente, um dependente. E não pode obter ao externo o que não é ainda internamente.” Estava pronto para qualquer resposta, estava já esperando que por detrás das árvores pudesse aparecer um de seus cúmplices para me ameaçar e pegar as poucas notas que eu havia no bolso, mas uma resposta do gênero eu não esperava. - Do que você está falando? Disse, apenas voltei a mim. – O que quer dizer com isso? Não sou escravo de ninguém. – Eu resmungava como um bêbado e estava difícil de focar seu rosto, mas continuei mesmo assim: - Se não sou rico é porque vivemos em uma sociedade capitalista onde se busca somente o lucro, o dinheiro. É uma luta entre gigantes onde poucas famílias de eleitos comem e todos os outros são engolidos. ¹Nota da Tradutora - Não incentivo nem desincentivo o uso de nenhuma substância. Acho que cada um tem a sua consciência e as suas necessidades. Mas se alguém já fez o uso de tais substâncias (como tantos), que resultou em informações preciosas como as que se encontram neste livro, porque não aproveitar destas descobertas, e tentar praticá-las, e trazê-las à consciência, naturalmente, ao invés de sair usando substâncias por aí? Talvez não seja tão simples como usar substâncias, com certeza é um longo caminho a ser percorrido, com muita determinação e vontade. Mas quem disse que também usando as tais substâncias se chega ao objetivo? Não são as substâncias que vão nos poupar do esforço. Elas podem até nos ajudar a enxergar mais rápido, mas não resolvem o resto, não transformam o “pó em ouro”. Acho que cada um tem um momento certo para enxergar, e estamos em geral, em um momento muito propício para isto. Eu particularmente prefiro o caminho natural, cada um na medida de sua compreensão e necessidade de aprendizado. A mulher chegou mais perto, há menos de um metro de mim, e me fixou nos olhos: “O mundo é um reflexo seu. Você o cria projetando fora o que é dentro. Está fazendo isso mesmo neste momento, conscientemente ou inconscientemente, não importa. Aquilo que parece acontecer a você, na verdade acontece dentro de você. Não encontre justificativas para a sua pobreza em um mundo externo que você mesmo está criando a cada instante. Você é o único responsável por isso. Não é rico na matéria somente porque ainda não conhece a riqueza do seu ser. A dependência não é uma situação trabalhista, mas um estado interior, um estado da sua essência. Você é dependente psicologicamente, e como conseqüência disto, o é também materialmente. O estado de dependência reflete uma mente preocupada com o futuro, que vive na dúvida e na insegurança. Empreendedor e dependente parecem somente dois papéis existentes na sociedade, a expressão de duas classes sociais, mas na verdade são dois estados de ser bem precisos. O seu papel na sociedade está intimamente ligado ao seu grau de Realeza interior. Você depende porque não assumiu ainda a sua responsabilidade individual, depende porque tem medo da vida e daquilo que te espera, depende porque é mais cômodo seguir do que conduzir. Mas lembre-se de que a vida não te reserva nenhuma surpresa. Todos os acontecimentos ao seu redor são desejados por você, e só você os cria, durante meses, anos, com o seu modo de pensar, com as suas emoções, com a sua ausência de sonhos e aspirações. O problema deste mundo é que é um mundo de dependentes, onde poucos são autênticos líderes, empreendedores, sonhadores, artistas, gênios. Você não é pobre porque há pouco dinheiro no bolso, mas porque não tem um sonho. Esta é a única verdadeira pobreza, e é daí que deriva a pobreza material.” Uma mulher sozinha no parque, à noite,... mas era eu que estava com medo dela, não ela de mim. Recomeçou a falar, prendendo novamente a minha atenção:
  • 6. “Depender significa ter desistido de criar. Quem não tem um sonho é destinado a seguir quem o tem. E, ao contrário, quem tem uma idéia, quem tem um sonho, não depende, mas cria. Quem tem um objetivo, torna-se, somente por isto, magnético e atrai à sua volta, os colaboradores, os dependentes, os clientes, os amigos... todos aqueles que serão atraídos por ele como ímãs e o ajudarão a realizar seu sonho. Presta atenção, não estou dizendo que depender de alguém seja errado, porque se não existissem empregados, dependentes, operários, colaboradores... nenhum sonho poderia tornar-se realidade. Só estou te fazendo notar a diferença entre essas duas condições, que são dois estados do ser. Será você, depois, a escolher. Além disso, o verdadeiro empreendedor, se for um empreendedor do „Ser‟, e não somente de aparências, não se limita a dar trabalho, mas educa os seus colaboradores para que desenvolvam também a capacidade de sonhar e de tornarem-se autônomos um dia. O verdadeiro empreendedor cria outros empreendedores porque a existência é abundante, e tem lugar para todos. Se você ficar consciente do fato de que o sonhador e o dependente representam somente dois degraus diferentes da escada evolutiva, então poderá fazer uma escolha, uma verdadeira escolha. Pergunte à sua essência em qual degrau da evolução você quer se colocar.” Porque me estava acontecendo tudo aquilo? Porque aquela mulher, e, sobretudo, aquele discurso, que de um lado destoavam com as minhas crenças – literalmente me violentavam – e de outro lado me atraiam, como se eu sentisse profundamente essa necessidade? Acredito que qualquer um responderia que preferiria ser um sonhador e um criador, mas a vida às vezes nos redimensiona, a sociedade corta as nossas asas, mata nossos sonhos, as nossas aspirações mais elevadas. Eu sempre fui um ativista, um contestador: luto contra um governo que nos oprime e nos derruba, luto contra uma religião que nos cria senso de culpa, contra uma medicina que mais nos faz ficar doentes do que nos cura, contra famílias de bancários que estragam o mundo e decidem as guerras... – repousei, tentando resistir ao seu ataque - um ataque que era voltado diretamente à minha essência. “Você ainda está procurando justificativas externas para o seu fracasso, pela sua falta de vontade, pelas suas poucas idéias e sonhos. Você criou pra si mesmo um mundo malvado onde realizar os seus sonhos é impossível por causa de alguma coisa ou de alguém que trama contra você. Mas o único artista das suas vitórias e derrotas é você mesmo. Não delegue o seu poder ao externo... nunca! Você está idolatrando um mundo externo, que você acredita que haja um poder infinito sobre você. O estado, a religião, a medicina, a ciência, os banqueiros, os chefes, para você são divindades, que algumas vezes aceita e outras recusa e combate com todas as suas forças, mas que em ambos os casos considera mais potente do que você. Somente com o ato de combatê-los, dá à eles um poder que eles não têm. Quando o operário luta contra o patrão, o patrão já venceu, porque foi reconhecido como tal. Lembre-se: somente um escravo luta para liberar-se de um patrão. Cada vitória do escravo-operário não pode ser mais do que parcial e provisória. A história demonstra isso de maneira clara: como conseqüência de certas lutas, aparentemente parece que o operário tenha conquistado alguma coisa, mas se não ocorreu também uma transmutação de sua essência, uma liberação sob o plano psicológico, cedo ou tarde perderá o que pensava haver conquistado e ainda mais. Que um
  • 7. operário tenha vencido ou perdido, continua sempre um operário. Quem o desfruta fica contente mesmo quando é temporariamente derrotado, porque sabe que deste modo reforçou no operário a convicção de ser um operário, e é isso que conta, não o fato de que venceu ou perdeu. Deste modo, os respectivos papéis continuam sempre os mesmos. O patrão pode conceder-se de perder uma batalha de vez em quando, porque sabe que assim está vencendo a guerra, que é sempre uma guerra psicológica, uma guerra de papéis. Por outro lado até o patrão pode ficar prisioneiro do seu papel. Pode iludir-se que operários e empregados sejam realmente existentes fora dele, quando na verdade são partes dele mesmo que ele deve conseguir governar para que o ajudem no seu objetivo. E se ele entra em conflito com essa parte de si, torna-se também prisioneiro do seu papel, da sua classe social. Se sentirá um patrão que deve se defender contra dependentes que querem desfrutar do seu poder, que criam obstáculos ao seu sonho, querendo salários mais altos. Mas não é bem assim que funciona. Os dependentes se encontram dentro do empreendedor, e esperam ser aceitos, compreendidos, integrados e amados.” Minha cabeça estava girando. E não só por causa das substâncias psicotrópicas que ainda desenhavam mandalas Tibetanas entre meus neurônios, mas porque aquelas palavras estavam deixando em crise todas as minhas convicções, todas aquelas certezas que tinham levado anos para cristalizar dentro de mim. Realmente não as aceitava, resistia, não via a hora daquela mulher se afastar de mim, mas ao mesmo tempo não tinha coragem de ir embora primeiro. Se tivesse feito rapidamente, hoje eu seria um homem tranqüilo como tantos. Mas ao invés disso, me deixei atropelar por outros conceitos absurdos, paradoxais, impossíveis. “Se o operário-dependente quer realmente vencer deve parar de recitar o seu papel de subordinado, parar de culpar alguém e iniciar a transformar a si mesmo. Deve olhar pra dentro.” E apontou o dedo na minha cara: “Escute bem: deve transformar o seu ser, a sua essência interior, não a sua condição exterior. A nova condição exterior será fruto da sua transformação interior, exatamente como o atual estado do seu ser está sendo espelhado no trabalho que está fazendo agora e no misero salário que ganha através dele. Um sonhador, um Rei, um empreendedor, constrói dia após dia o seu sonho, que o envolve e o satisfaz totalmente a cada instante e a cada inspiração. Não colocam a culpa de suas derrotas nas instituições ou nos poderes econômicos. O sonhador não há patrões, não há ídolos, não acredita que exista um mundo fora de si que o possa impedir de criar aquilo que ele quer. Você é supersticioso, continua a idolatrar um mundo onde existem personagens maus que te impedem de obter resultados, mas o mundo está dentro de você, o mundo é totalmente criado por você, mesmo no menor e aparentemente insignificante particular. Não tem ninguém lá fora que possa mover um só músculo se você não quiser. O Universo mora em você, e não o contrário. Quando sentir isso, aí então será livre, será um Rei, será invencível.” Estava ao limite de suportar aquela situação. Aquela mulher estava me acusando de ser responsável por tudo o que acontecia ao meu redor. Uma responsabilidade assim eu não conseguia sustentar, ainda não conseguia. Para sentir-se criador do mundo é necessário possuir capacidades físicas e psíquicas
  • 8. que ainda não tinha desenvolvido. O meu sistema nervoso não estava preparado para segurar aquele imenso grau de responsabilidade. “A responsabilidade não é qualquer coisa abstrata, mas eminentemente física. Se o seu aparato psicofísico não está pronto para administrá-la, não pode assumir uma dose tão grande de responsabilidade, e conseqüentemente, de riqueza. Até para administrar a riqueza, você tem que ter desenvolvido um sistema nervoso adequado. Só quem consegue carregar nas costas um grau bem definido de responsabilidade obtém um grau correspondente de riqueza, que é sempre proporcional à responsabilidade que pode se encarregar de cuidar. Vencer na loteria, herdar a empresa da família, significa ser submetido a uma voltagem elétrica muito grande, é como colocar o dedo molhado na tomada: levará um baita choque, e seu sistema nervoso se elevará.” Eu tentei reagir: - Para mim não parece que seja assim. Conheço pessoas que assumiram grande responsabilidade, mas que pra mim não possuem adequada riqueza, e pessoas muito ricas e potentes que não são capazes de assumir nenhuma responsabilidade. “Isso é o que aparenta de fora, mas na realidade, responsabilidade e riqueza são sempre correspondentes. Se você herda uma empresa da sua família, mas a sua essência não é ainda suficientemente madura, responsável, por um certo período pode até parecer rico e ser invejado por isso por quem são sabe olhar em profundidade, mas provavelmente deve estar enfrentando uma prova terrível, uma prova que poucos superam: adequar rapidamente o seu ser e o seu grau de responsabilidade aquela nova riqueza material. Quem não o faz perde muito, ou deve delegar a nova responsabilidade a algum colaborador que consiga administrá-la. Ganhar uma hereditariedade ou na loteria, ativam internamente o seu aparelho psicofísico no limite do suportável, até que você consiga adaptar o seu novo ser à sua riqueza material. Você pode herdar uma empresa, isto é, uma riqueza material, mas raramente herda também o sonho que levou à criação daquela empresa. Uma empresa não é erguida pelo dinheiro ou pelas pessoas que ali trabalham, mas exclusivamente pelo sonho de seu criador e pela integridade com a qual tal sonho foi levado adiante por ele mesmo, e depois pelos seus colaboradores. E isso não pode ser herdado. Uma coisa é administrar, outra é criar. Se você só toma conta de uma empresa importante pode até parecer rico, externamente, mas não é nunca feliz dentro de si. A autêntica felicidade vem da realização de si mesmo na criação. Se você consegue fazer seu o sonho de quem veio antes de você, a sua essência te permitirá criar, sentir-se realizado, e a empresa prosperará. Mas se você se limita a somente administrar alguma coisa, a falta de criatividade secará o seu ser, e a empresa perecerá. O verdadeiro líder não administra, cria.” Me veio em mente a diferença que existe entre os herdeiros de hoje - que “pegam carona” nos sonhos de seus antecedentes, trabalhando “por inércia” nas empresas - e os fundadores da Fiat, entre Mario Cecchi Gori e seu filho Vittorio entre a Ferrari durante e depois de Jean Todt. “Por outro lado, existem pessoas com uma grande alma que suportam grandes responsabilidades, mas aparentemente não
  • 9. possuem um retorno em termos de riqueza. Mesmo nesse caso, se olhar bem, descobre que essas pessoas sentem-se já ricas, completas e serenas e não desejam nada mais. Ser rico significa ter sempre aquilo que te serve, quando te serve. Se você se encontra nesse estado psicológico, já é rico, independentemente do tamanho da sua conta bancária. Mas pode ser também que, neste caso, a chegada de uma riqueza material seja só uma questão de tempo.” Na verdade quando julgamos um homem estamos analisando somente uma fotografia de sua vida, um instante, com todos os limites que a seguem. Em alguns períodos, o ter de um indivíduo pode parecer maior do que o seu ser e seu grau de responsabilidade, ou vice-versa. O seu ser pode parecer superior ao seu ter. Em outras palavras, mesmo um estúpido pode, por um certo período de tempo estar guiando uma nação, e ao mesmo tempo, pode acontecer de um grande homem ou mulher, atravessarem um período de dificuldade econômica. Isso faz com que, em alguns momentos, riqueza interior e exterior pareçam desconectadas uma da outra. Mas não é assim. “Draco Daatson dizia: “ter e ser fazem parte da mesmíssima realidade. O ter é o ser distribuído no tempo”. Ao final da vida de um ser humano, tirando e somando tudo que ele atravessou, entre altos e baixos, podemos ver que a sua riqueza exterior e sua essência interior correspondem sempre exatamente. O seu ter foi o reflexo do seu ser.” Enquanto uma parte de mim tendia à uma forte resistência aquelas idéias, uma outra parte – a minha alma, a minha essência – entendia que estava de frente a um modo totalmente novo de entender a vida, o trabalho, o dinheiro... Uma giro de 360 graus naquele comum ‘bom senso’ com o qual somos educados pela família e pela escola. Aquilo que me estava sendo comunicado era grandioso, mas eu não conseguia ainda compreender o quanto. A sua voz veio ainda a interromper o andamento dos meus pensamentos: “Destingua-se. Eleve-se acima de sua espécie. Carregue totalmente a sua cruz, a sua responsabilidade por aquilo que é e por aquilo que te acontece a cada instante. Assim, contribuirá enormemente à evolução da humanidade. A massa se perde sempre em reclamações, gosta de colocar a culpa de suas desgraças em alguém. A massa aspira depender, ser cuidada, socorrida. Acha insuportável o peso de sua própria cruz. A massa quer assistência social, pensão: trabalha por décadas somente com o objetivo de poder, um dia não trabalhar mais! Não se apaixona pelo que faz, quer segurança. Mas esta segurança é uma quimera. A única segurança possível vem da mais plena compreensão de que só pode te acontecer aquilo que te serve para a sua evolução interior, aquilo que você precisa, aquilo que você mesmo, a um nível profundo quer. Você é um Rei, porque continua a escalar o muro das lamentações como um escravo?” Eu... um Rei! Isso era mais do que eu podia segurar pelo momento. Só me lembro que senti minhas pernas balançarem, e depois, uma escuridão. 3. AS EMOÇÕES CRIAM A REALIDADE Encontrei Victoria Ignis novamente alguns dias mais tarde. Estava saindo do trabalho e indo até o estacionamento. Estava, como sempre, imerso em pensamentos destrutivos, de derrota e raiva ao mesmo tempo. Sentia-me prisioneiro de um trabalho que não me gratificava, um número perdido em uma lista de números, um código de barras orgânico escravo do mundo e de suas regras de ‘sobrevivência’. Por um lado, sabia que estava aqui para realizar alguma coisa de importante, por outro eu ainda aderia ao vitimismo coletivo,
  • 10. ao hábito de culpar a nação, a cidade, o bairro..., que não permitem que os jovens se realizem. “O mundo que te rodeia é unicamente um reflexo do que você é nesta fase de sua vida. Os lugares que você freqüenta, as pessoas que encontra todos os dias, representam partes de você. Você não é um escravo porque faz aquele trabalho, mas faz aquele trabalho porque dentro de você, ainda há um escravo. Não confunda a causa e o efeito!” Senti sua voz nas minhas costas. Não tinha percebido que ela estava me seguindo. Provavelmente sabia onde eu trabalhava e vinha me encontrar na saída. Suspirei. No fundo eu a temia. Meu aparelho psicofísico já tinha registrado que aquela voz, aquela mulher colocava em perigo tudo o que eu havia construído em décadas de vida. Era uma mulher perigosa. “Quem se tornou um Rei na sua essência, cria em volta de si o próprio Reino. Quem é um escravo cria situações de escravidão. Mude a qualidade do seu ser e verá mudar o seu ter. A realidade não é objetiva, não se encontra lá fora em algum lugar. A realidade está dentro de você e muda à medida que você compreende, se transforma, evolui. O mundo é a cristalização das suas emoções e do seu modo de pensar. É constituído de uma substância extremamente maleável. Mas para que esta substância seja modificada é preciso tempo. Esta é a Alquimia. Entre a mudança do seu estado interior e a correspondente mudança da realidade „externa‟, ocorre um certo período de tempo, às vezes muito longo, e isso faz com que você não perceba imediatamente que é sempre e somente você a dar vida a tudo o que te rodeia. As suas emoções e os seus pensamentos recorrentes formam totalmente o seu mundo. As expressões na face das pessoas que encontra, o seu jeito de agir, a cor de suas roupas, os lugares que freqüenta... são criados por você no mais completo e verdadeiro sentido do termo. Eles são matéria mutável colocada em suas mãos.” - Então porque não posso mudar a minha realidade quando e como quero? Eu queria ser mais rico, mas não consigo. Queria ter um carro mais bonito, mas não tenho. Eu também cheguei a ler algo sobre a capacidade do homem de criar sua realidade, mas na prática não é assim, e é a prática que conta, não as belas filosofias. “A sua realidade é criada 95% pelo seu inconsciente. Aquela sua parte ainda desconhecida por você. Eu te disse que você molda o seu mundo a cada instante, mas não te disse o que quero realmente dizer quando digo VOCÊ. Quem é você? Aqui está a questão fundamental. Vou te explicar assim: a dualidade sujeito/objeto é ilusória. A diferença entre o sujeito que percebe e o mundo que é percebido é só aparente. Você acredita ser uma entidade pensante fechada dentro de um corpo, e se ilude que fora das fronteiras da sua pele existe o mundo externo. Este é o engano dos enganos, a armadilha da qual a humanidade é escrava. Na verdade existe só a unidade, o Um – aquilo que normalmente é entendido como Deus – e você é este Um. O problema é que você ainda não é consciente disso, e se identifica somente com uma pequena parte dele, os 5% que moram no seu aparelho psicofísico, enquanto que todo o resto você esconde no seu inconsciente. Assim, os seus estados inconscientes – ou seja, aquela parte do Um que você ainda não conhece porque ainda não
  • 11. englobou dentro de você – criam a sua atual realidade dia após dia, sem que você perceba. À medida que você começa a identificar-se com o Um, torna-se consciente de ser o único verdadeiro criador, mas se continuar se identificando somente com 5% do Um, através de seu pequeno aparelho psicofísico, será o seu inconsciente a criar por você, e você se submete ao que acontece na sua vida. Se você quer se tornar consciente de ser criador, deve pular do Eu ao Um, da parte ao Todo, dos 5 aos 100%, da circunferência ao centro... Deve tornar consciente o seu inconsciente. Só então sentirá que é realmente o único verdadeiro artista de tudo o que te rodeia. As pessoas que encontra, os eventos que assiste a cada dia não são nada mais do que projeções do seu inconsciente, ou seja, projeções daquela parte do Um que você ainda não consegue perceber como suas, e que, então manifesta como se existissem fora de você. Isso ocorre para que, assim você fique consciente de sua existência e possa englobá-las, integrá-las, compreendê-las (cum-prehendere = „prender dentro de si‟). Cada vez que você consegue sentir que um evento externo é na verdade criado por você, mais um pedaço é subtraído do seu inconsciente e integrado na sua consciência, permitindo assim uma expansão da mesma. Integrando pedaço por pedaço, se tornará consciente de ser Um, de ser plenamente íntegro em si mesmo, um verdadeiro indivíduo (=não dividido). Esse não é o mesmo discurso espiritual de sempre. Aqui não tem nada de espiritual ou religioso. Estou te falando de como age a realidade e do que você é em relação ao Universo: unus-vertere significa ser voltado ao Um, à integridade do ser. Não se trata de rezar ou meditar na posição de Lótus. Trata-se de entender que a sua consciência é vítima de um engano: você acredita ser separado do mundo quando na verdade você é Um Todo com ele. Você está doente de separação e aspira unir-se com o Todo... não tem nada de religioso nisso. É tudo muito pragmático.” Aquele dia não tinha ainda instrumentos para compreender plenamente a enormidade do que estavam me ensinando. Somente muitos anos depois, entendi o precioso presente que Victoria Ignis estava me dando. Suas palavras representavam a chave para entender até um fenômeno que está acontecendo nos últimos anos. Multiplicam-se mais e mais livros que falam sobre o desenvolvimento do potencial humano: como ficar rico, como ter sucesso, como desenvolver a capacidades de líder, como se tornar criador da própria realidade... Seminários que prometem fazer “descobrir o poder que existe em você”, crescem como fungo. Em particular, vêm à tona grandes sucessos como o livro “O segredo: a ciência do enriquecer, Attractor Factor (A lei da atração), The Key... São textos úteis que falam de princípios esotéricos bem precisos, como por exemplo, a lei da atração. Mas normalmente não se entende o princípio base: não é procurando satisfazer os desejos do meu ‘pequeno Eu’ que me tornarei o criador do meu mundo, mas fazendo justamente o contrário: tornando-me consciente de que, a minha situação atual e tudo o que me acontece são coisas que Eu desejei. Se não aceito, e não chego a sentir dentro de mim que só eu sou o criador daquilo que tenho neste momento da minha vida, não terei nunca algo diferente no futuro. Não posso me colocar de repente o objetivo de modificar minha condição econômica, porque devo primeiro aceitar e ‘cumprehender’ que a quantidade de dinheiro que hoje está em minha posse, materializei eu mesmo, com base naquilo que preciso para o meu caminho evolutivo, e naquilo que sou capaz de administrar hoje, em nível do ser. Se eu acolho profundamente esta verdade, ocorre em mim uma elevação do ser, e começo a sentir-me o Rei, o regente do meu Reino, abrindo as portas para a possibilidade de, em uma fase sucessiva, criar aquilo que quero. O problema de tantas pessoas é que continuam a imitar o Rei, pois continuam a pensar com a psicologia do escravo; colocam o carro na frente dos bois. Se eu
  • 12. recuso a condição na qual estou agora e não acredito que ela foi desejada por mim, quer dizer que ainda estou pensando segundo um escravo. Como poderá criar sua realidade futura se não sente que está criando também a atual? Mas quando finalmente sou capaz de ver que todo o mundo está dentro de mim e que eu o estou criando, o problema de ganhar mais dinheiro ou ter mais sucesso nem existe. Aquilo que eu desejo coincide, então, com o que acontece, em uma sucessão perfeita de eventos onde eu tenho sempre o dinheiro que me serve para levar adiante os meus projetos. “Não se trata de fazer acontecer aquilo que deseja, mas de desejar aquilo que te acontece. Quando entender que tudo o que te acontece foi desejado inconscientemente por você durante muitísssimo tempo, automaticamente, você se identifica com o Todo. Daquele momento em diante, aquilo que você quer e aquilo que você é, coincidem-se. Usar a vontade focada para realizar um desejo próprio é magia negra. Todos os homens praticam a magia negra em todas as medidas e sob várias formas, sem nem saber. Na magia branca não se „deseja‟, mas se segue a verdadeira Vontade, ou seja, a vontade do Todo. Mas para agir segundo esta vontade, precisa primeiro identificar-se com o Todo.” Estas foram as palavras de Victoria Ignis quando conversamos há alguns anos. Acredito que tal conceito deva ser trazido ao conhecimento dos leitores deste tipo de livro, porque senão, podem desiludir-se. Na verdade conheço várias pessoas que leram The Secret, mas não conseguem um carro novo e nem ficam ricos. Os mesmos autores destes best sellers, que estão sim fazendo um ótimo trabalho em favorecer a expansão da consciência, perceberam que muitas pessoas não conseguem obter os resultados esperados. Joe Vitale escreveu The Key justamente para ajudar às pessoas que não conseguiram resultados com o The Secret. Mas é fundamental que as pessoas entendam que antes de tentar modificar a realidade externa através do uso da vontade, é necessário a compreensão de que não existe uma realidade externa. Imaginemos que eu exprima o desejo de me tornar mais rico. Exatamente porque existe uma lei da atração, a vida certamente responderá a este meu desejo, mas não é certo que responda como eu espero. O objetivo de cada um de nós é aquele de voltar a nos identificar com o Todo, enquanto que a dualidade sujeito/objeto é só ilusória. Para conseguí-lo, devo parar de considerar o dinheiro como algo de externo a mim. Se eu me torno rico sem ter primeiro compreendido que o dinheiro que está sob minha possessão se encontra dentro de mim e corresponde à elevação do meu ser, o meu “ficar rico” reforçará em mim a crença de que o dinheiro seja realmente algo de externo, e que eu posso ter mais dinheiro agindo simplesmente com a vontade de fora de mim. Mas a realidade é que o dinheiro se encontra ao interno da sua consciência, e sua quantidade depende da grandeza e da integridade desta consciência. Justamente porque eu quero, inconscientemente, a minha própria evolução, me impedirei de ficar rico até que eu consiga compreender que a riqueza depende do ser, e que haver é só uma conseqüência de ser. Então, assim que eu tenha expressado conscientemente o desejo de me tornar rico posso obter, como resposta, um enriquecimento, ou mesmo uma perda de dinheiro! O meu desejo será de qualquer forma atendido, porque se continuo novamente desiludido pela minha tentativa exterior de busca à riqueza, cedo ou tarde começarei a aceitar aquilo que tenho, o que me fará efetivamente mais rico e mais capaz de criar a minha realidade. Mas mesmo que o processo seja sempre evolutivo, não é este o resultado que a maioria das pessoas espera quando lêem um livro sobre a lei da atração. *** Mas, voltando àquilo que me explicava Victoria Ignis naquele dia, na saída do trabalho. “O mundo que há em frente a seus olhos neste momento – disse fazendo um enorme gesto com os braços, indicando o caminho, as pessoas, os carros – é a representação do seu passado, não do seu presente. A sua namorada, o seu trabalho, a sua conta no banco, espelham aquilo que você pensou, sentiu, aquilo que você foi, nos
  • 13. meses e anos passados da sua vida. Se você tivesse um acidente neste momento, ou fosse diagnosticada uma doença, estes fatos não espelhariam o seu presente, mas o seu passado. Um acidente ou uma doença vêm cuidadosamente preparados dentro de você por anos, sem que você perceba. As suas emoções negativas, os seus incômodos, reclamações e pensamentos obsessivos criam as doenças, as dificuldades e os acidentes. O seu falso modo de compreender a vida hoje já está te preparando para as suas desgraças futuras. Emoções negativas e reclamações solidificam-se com o tempo, cristalizam-se dentro de você graças à repetição. Tornam-se agregados psíquicos, verdadeiras entidades que escorregam no inconsciente... e ali ficam na escuridão, condicionam a sua vida. Reclamando, você nutre a cada dia estes vampiros que fazem de você um escravo. Você tem medo de falar em público e se sente desconfortável? Já se perguntou por que é assim? O que, dentro de você, te obriga a se comportar de um certo modo? Algo que você não consegue controlar. O seu contínuo julgamento das pessoas te leva a ter medo do julgamento dos outros. O tímido parece uma vítima, quando na verdade é o contrário, ou seja, alguém que julga o mundo e como conseqüência, tem medo de ser julgado pelo mundo.” Acertou em cheio. Eu sempre fui muito tímido e tinha muito medo de fazer até uma pergunta em público quando assistia a uma conferência. Devo ao encontro com aquela mulher o fato de que hoje eu ganhe a vida escrevendo livros e fazendo palestras. Ou melhor dizendo, devo isso àquela parte de mim que foi materializada nela. Quando consegui parar de julgar as pessoas, aconteceu em mim uma verdadeira revolução interior. Posso tranquilamente afirmar que somente após aquele dia eu comecei a viver realmente. Foi o meu renascimento, porque até agora vivia escravo do medo do que os outros podiam pensar de mim. “A sua incapacidade de assumir a responsabilidade de tudo o que acontece na sua vida, o seus julgamentos e reclamações contínuas de alguém ou algo sobre o trabalho, a família, o querer delegar ao externo a causa dos seus falimentos... tudo isso cria atritos, sofrimentos, acidentes, doenças. Ao mesmo tempo que você quer se identificar com o Todo e procura a sua Realeza perdida, não quer acreditar que a existência seja construída por você. Te dá medo a idéia de ser o Rei, o Regente do seu mundo.” Realmente Victoria Ignis tinha toda a razão. Tantos admiram a filosofia do ‘criar a própria realidade’, lêem livros do tema, participam de seminários, tornam-se até professores, mas pouquíssimos vivem realmente deste modo no dia-a-dia. Já vi instrutores, que ensinavam seus grupos como ‘criar a própria realidade’, ainda reclamarem do governo, dos bancários ou da escassa oportunidade que nos oferece a sociedade! “A reclamação é um indício de sua incapacidade de se perceber como único criador dos eventos da sua vida. Em um caminho de crescimento pessoal é indispensável abandonar cada tipo de reclamação, senão nenhum outro passo poderá ser dado.” Victoria Ignis foi sempre muito categórica. Considerava qualquer tipo de reclamação – desde aquelas relacionadas às condições climáticas até aquela voltada à ineficiência do Estado – como uma renúncia à própria Realeza. “Draco Daatson dizia: “um Rei nunca reclama”. Se reclama, isso significa admitir a existência de um poder superior ao seu, um poder que é capaz de te impor alguma coisa que você não quis, e da qual você reclama agora. Um verdadeiro Rei não pode admitir
  • 14. um poder maior que o seu, então sabe que cada evento foi desejado por ele mesmo, pelo seu ser mais profundo e inconsciente. Assim, a reclamação perde todo e qualquer sentido. “ 4. A SUA ANSIEDADE LENTIFICA O TREM Uma vez estávamos viajando de trem juntos. Tínhamos que ir a Torino e Cesena, e havia uma troca de trem em Piacenza. Sabíamos que entre a chegada do nosso trem e a partida do trem seguinte teríamos somente 10 minutos, mas na metade do caminho estávamos já com 8 minutos de atraso. Temendo perder o trem, entrei em um estado de ansiedade e não consegui conter meu desespero: Caramba! Os trens dessa maldita ferrovia Italiana não estão nunca no horário. Se perdermos a troca vamos ter que esperar o próximo trem e chegar uma hora atrasados. Até na Índia os trens são mais eficientes! Antes de terminar a frase já tinha me arrependido de ter dito. As palavras tinham saído mecanicamente. A minha parte animal, a parte escrava e submissa do mundo que eu carregava internamente tinha me pego de surpresa, e eu sabia que a minha companheira de viagem – Victoria Ignis – não me perdoaria. Ela estava sentada na cadeira em frente à minha, e curvou-se para encostar-se ao meu rosto, lentamente, abrindo um ‘meio sorriso’, como um tigre já seguro de haver a presa entre suas garras. Seus olhos estavam apontando dentro dos meus com tanta intensidade que era impossível olhar em outra direção para fugir do seu olhar. O ambiente ao redor tinha desaparecido. Disse ela, então, com uma calma invejável, o que fazia aquele momento ainda mais insuportável: “Você é um escravo do mundo. Permite que o mundo decida se pode ou não chegar a uma reunião. Você está colocando esta responsabilidade nas mãos da ferrovia porque não a quer nas suas mãos... é muito para você, o seu ser não consegue segurá-la. Você é só um número entre tantos que vão encher as fileiras dos derrotados, lamentadores, maltratados pela vida... as vítimas profissionais.” Senti-me humilhado, profundamente humilhado, mas não pelo que estava me dizendo Victoria Ignis, mas pelo vacilo que eu tinha apenas deixado escapar. Nessa época, eu realmente estava começando a ser cada vez mais consciente de que frases como aquela sufocam a dignidade do homem e o reduzem a uma marionete nas mãos de um ‘Deus exterior’, o mundo das aparências, Maya. Assim como na história do Pinóquio, às vezes eu me comportava como ser humano, e outras vezes, como um boneco, um fantoche. “A maior superstição consiste em pensar que exista um mundo lá fora, uma entidade desconhecida que pode decidir se hoje você será derrubado ou ganhará um prêmio. Este trem está dentro de você, na sua consciência, é um produto do seu cérebro. Não existe nada fora da sua consciência. Então, este trem está em suas mãos. Mas o seu ser é muito pequeno para contê-lo. Você olha o mundo e ele parece ser gigantesco, enquanto que você se considera um anão psicológico.” Suas palavras representavam uma terrível e dolorosa verdade... tão verdadeira que se tornava realmente insuportável. E eu não sabia mais quais linhas de ação colocar em prática para proteger a mim mesmo, a tudo que eu tinha sido até então, daquela implacável verdade. - Existem centenas de pessoas viajando neste trem – tentei argumentar enquanto me afastava alguns centímetros daqueles olhos que se voltavam para o encosto do meu assento – como é possível que eu esteja influenciando o horário do trem e também a vida dos outros passageiros? Eles também estão criando suas realidades, certo? “Os outros estão dentro de você, O mundo é feito de imagens na sua consciência, e não de eventos ou pessoas. As pessoas que você percebe são literalmente criadas pelo seu cérebro, pelo seu
  • 15. sistema nervoso. As formas, cores, sons... tudo é constituído de simples sinais elétricos que são depois elaborados pelo seu cérebro. Lá fora não existem realmente casas, pessoas, trens... É tudo fruto da sua interpretação interior. Você vê e sente somente aquilo que é capaz de projetar a partir do seu aparelho psicofísico. Aquilo que você vê é aquilo que você é interiormente. O mundo te permite se conhecer. O que você esta sentindo neste momento? Ansiedade e preocupação pelo atraso do trem? Bem, a ansiedade que você carrega dentro de você lentifica o trem, e faz com que ele chegue atrasado, porque a realidade externa é obrigada a refletir suas emoções. A realidade confirma as suas emoções e o seu modo de pensar mais enraizado. O medo de chegar atrasado, o julgamento da ineficiência das ferrovias... são estes os fatores que criam o atraso do trem, e não o contrário. Estar em um trem que chega no horário ou em um trem que chega atrasado depende exclusivamente de você. Mas este é um conceito incompreensível para a sua mente racional. Você pode somente sentir ou não sentir que é assim, mas não pode chegar a essa conclusão com a racionalidade. Se você quer se reapropriar de sua vida deve sentir dentro de você que é assim. A vitima é quem cria o culpado, o infrator.” Resumiu. Virando de ponta cabeça com uma só frase o modelo de pensamento de toda a atual humanidade. Mais tarde me explicou que aquela frase tinha sido falada pela primeira vez pelo Monaco Guerreiro Draco Daatson, e trazida ao Livro de Draco Daatson. Victoria Ignis usava muito as frases pronunciadas por aquele ‘pioneiro da abertura interior’. Naquele dia do trem aprendi muitas coisas. Naquela época, Victoria Ignis me seguia há algum tempo como being educator (=educador do ser) – ou talvez deveria dizer spiritual educator, embora não exista nada de espiritual em tudo isso – cuidava pessoalmente de me preparar para a vida. Me ensinou que este é o modo mais adequado para despertar a consciência do Ocidente de hoje: um being educator – figura que lembra o tutor – lhe segue em cada coisa que você faz por alguns dias, te avisando cada vez que você atribui ao externo as causas do que acontece na sua vida, cada vez que se afasta do ‘caminho justo’, cada vez que você se esquece de se voltar para a integridade do ser. Depois te deixa sozinho e aparece após alguns meses para verificar em que ponto você está e como pode prosseguir com o trabalho. Fica com você alguns dias e depois te deixa sozinho novamente. Este esquema se repete algumas vezes, até você conseguir viver vendo e sentindo o mundo como uma parte de você. É um jeito muito prático de trabalhar com você mesmo, inserido no dia-a-dia. “O „guru‟, chamado de mestre, desempenha unicamente a função de substituir temporariamente o seu mestre interior, a testemunha que te permite observar de maneira honesta e imparcial todas as vezes que você se engana dizendo a si mesmo que „os outros‟ estão te fazendo alguma coisa. A testemunha te avisa quando você esta tentando escapar da responsabilidade por aquilo que te acontece. Esta tarefa é realizada por alguém que esta ao seu lado, até você conseguir realizá-la sozinho. Isso também é o que diz a tradição das escolas ocidentais, que não falam de horas e horas de meditação e nem de recitação de mantras. Estas se diferenciam das escolas Orientais, onde o „guru‟ é alguém vestido de branco e provavelmente com barba longa, que fala aos discípulos com uma voz persuasiva e sentado na posição de lótus. Para um ocidental, seguir uma tradição que não é a sua, feita de meditações e mantras, significaria fugir do real „trabalho interior‟. O crescimento interior do ocidental não
  • 16. inclui mais a vida monástica, que é ainda uma hereditariedade do método oriental, equivalente ao retiro no „Ashram‟. Ao contrário, passa por um bom relacionamento com o dinheiro e com o trabalho, e implica na capacidade de obter resultados tangíveis e sucesso na vida.” Ter tido uma mulher como being educator influenciou radicalmente os anos seguintes da minha vida e o meu futuro, através dos ensinamentos. Aquela energia feminina, mesmo às vezes sendo manifestada com extrema severidade, foi sendo acomodada de maneira estável na minha essência e impregna ainda hoje todo o meu ser. Victoria Ignis mostrava sempre o sorriso, e quando ensinava, transmitia muita alegria, não era ‘pesada’ no seu modo, e não perdia nunca o senso de humor. Emanava eficiência, mas também serenidade interior. A sua centralização era excepcional: não realizava um só gesto mecânico, involuntário supérfluo. Por exemplo, não coçava partes do corpo mecanicamente e não usava palavras de ligação e gírias durante o discurso. Suas palavras, sua postura e sua atitude eram todas conscientes. Eu sentia a força da presença total que emanava de seu próprio corpo. Seus movimentos eram vivos, repletos desta sua presença. Não desperdiçava energia ao redor de si reclamando ou se incomodando, não comia nada que não fosse indispensável para o seu organismo. Havia total controle de seu aparelho psicofísico, não se submetia nunca à mecanicidade, nem física, nem emotiva e nem à mental. Quando queria que um conceito entrasse na minha cabeça, sabia como fazê-lo com extrema convicção. Sua força às vezes me deixava arrepiado, e seu ‘amor compassional’ derretia meu coração. Em vários momentos que estava com ela, tive medo de morrer. Imagine ter que ir às zonas mais perigosas da cidade ao lado de uma pessoa que sente que é imortal e, portanto, não tem mais medo de morrer... foi uma experiência interessante! Era uma guerreira cheia de amor e paz. Naquele dia, no trem, ela me ensinou como trabalhar interiormente com o objetivo de aprender a sentir que o mundo esta dentro e não fora de mim. “Viva plenamente a emoção que sente neste momento. Sinta a ansiedade, o medo, a impaciência... sem ficar se justificando: não caia na tentação de culpar algo externo. Não reclame nunca, não acuse um „fantasmagórico mundo externo‟ pelas suas desgraças. Esteja presente nas suas emoções o máximo que puder, sem recusá-la, sem escondê-la e sem reclamar. Acolha o seu sofrimento, tente compreender seus incômodos, „faça as pazes‟ com a sua raiva, e tenha sempre em mente, em todos esses momentos, que é exatamente aquela emoção que esta projetando a realidade que você percebe como externa. Lembre-se sempre: a sua ansiedade lentifica o trem!” Neste momento senti vontade de retrucar: - não estou tão convencido de esta minha emoção, em particular, crie a realidade, porque se for olhar bem, primeiro aconteceu o evento, e somente mais tarde eu comecei a ficar mal. “Tem razão. Não é esta emoção em particular que cria a realidade, mas o seu hábito de sentir coisas do gênero. Com o tempo, as suas irritações e emoções relacionadas cristalizam-se dentro de você, são transferidas ao inconsciente e agora dirigem a sua vida. É a atitude psicológica a se incomodar com eventos externos. As suas emoções inconscientes causam o evento, e o evento a sua volta te provoca uma sucessiva emoção consciente. Nesse momento você acredita que tenha sido o evento a provocá-la, mas cai neste engano só porque não conhece o que está cristalizado no seu inconsciente. Na verdade você não conhece nada sobre você!”
  • 17. 5. SINTA A SUA EMOÇÃO Outro trem foi também o palco da minha iniciação. Viajava de trem, uma manhã, de Turim a Milão, e desta vez Victoria Ignis não estava comigo, pelo menos não fisicamente. Sob um plano mais elevado aquela mulher já estava de qualquer modo dentro de mim de maneira constante. Eu estava lendo um livro quando o celular daquela senhora sentada em frente a mim tocou. Ela atendeu e começou a falar em voz alta de suas tarefas, dificuldades familiares, e problemas de saúde, sem nem se importar com quem estava ao seu redor. Era insuportável: sua voz se tornava cada vez mais irritante e eu não conseguia me concentrar na minha leitura. Quando eu já estava a ponto de explodir e convidá-la a inserir aquele celular em um dos seus orifícios mais íntimos, o observador, dentro de mim se manifestou espontaneamente. Consegui assim, me lembrar de observar o que estava acontecendo no meu aparelho psicofísico, desta vez sem a ajuda de Victoria Ignis, a qual em situação parecida interviria para me fazer notar para qual estrada estavam indo as minhas emoções e a minha imaginação negativa. De repente eu estava presente a mim mesmo. Podia evitar a usual reação mecânica ao evento externo, mas, sobretudo, me tornava consciente do fato e que era a minha irritação, aquela que carregava comigo desde sempre, que estava criando aquele episódio, e não vice-versa. “O mundo é subjetivo, pessoal, construído sob medida para você e por você. A agressividade é algo que faz parte de você, que carrega sempre com você, quando come, quando dirige um carro, quando faz meditação, quando faz amor, quando dorme... está sempre com você, como o fato de que você tem 1 metro e 78 centímetros de altura e cabelo preto. Por estar sempre com você, surge, porém, somente em algumas ocasiões, projetando ao externo uma cena. A cena que você vive é uma projeção da sua agressividade ou do seu medo. As emoções presentes no seu inconsciente criam a cena e depois você reage à ela, experimentando conscientemente a emoção.” Estas eram as palavras que Victoria Ignis costumava me dizer em situações parecidas, com firmeza e doçura ao mesmo tempo. E justamente essas palavras me vieram em mente naquela situação. Então comecei a me desinteressar pela cena exterior e me foquei no meu incômodo interior, no meu julgamento para com a má educação de certas pessoas, na falta de respeito e mil desculpas que costumava adotar para justificar a minha aversão a alguém ou alguma coisa. Quando queremos justificar um incômodo nosso, apelamos sempre a algum princípio universal (o respeito, o amor, a amizade) ou então ao fato de que as outras pessoas presentes também sentem o mesmo incômodo, e que então o problema deve ser objetivo: “ Os outros viajantes também estavam incomodados, não eã zi vam mais ouvir aquela mulher espalhando aos quatro ventos sobre sua vida pessoal, então não era só um problema meu, era alguma coisa objetiva!”. Este é um ótimo modo de continuar se enganando e escapar da própria responsabilidade, permanecendo escravo do mundo. Mas observando mais atentamente, se pode descobrir que nem todos reagem da mesma forma em relação a um mesmo evento. Em frente a um recém-nascido que chora eu posso ficar incomodado, mas alguém sente ternura, outro preocupação; como posso então, afirmar que o meu incômodo seja causado pelo choro da criança? Se a causa fosse realmente externa, em frente aquele fenômeno todos reagiriam da mesma idêntica maneira. Mas se somente uma pessoa não fica incomodada, esta é a prova de que a causa não é externa, mas está no modo como é estruturado cada um de nós. Pode ser que mil pessoas reajam do mesmo modo, mas se somente uma não o faz, significa que a causa não está no exterior, mas na interpretação daquele evento, e este é um fenômeno claramente subjetivo. Nós nunca interagimos com um mundo objetivo, mas com a nossa interpretação subjetiva do mundo, e que está relacionada com o plano intelectual, emocional e mesmo físico; na verdade até as formas e cores são percebidas, criadas, de maneira diferente dependendo das características do sistema nervoso de cada um.
  • 18. Sinta a sua emoção, seu incômodo, sua dor... e não crie justificativas mentais. Me repetia incessantemente Victoria Ignis. - Mas deve existir alguma outra coisa a ser feita! Às vezes a raiva é muito forte! – protestava, quando chegava no meu limite. “Você deve desejar que o seu sofrimento se torne seu, ao invés de continuar submisso a ele! Mantenha dentro de você aquela energia consciente, pois se o faz conscientemente deixa de ser repressão. O segredo para transformar mais rapidamente o seu ser consiste em estar presente quando sofre e fazer de tudo para não escapar do sofrimento. Não tente resistir ou culpar um „mundo externo fantasma‟ pela sua condição de dor. Cum prehenda dentro de você a dor, ame-a, acolha-a, abra seu coração à ela e ouça o que ela tem a te dizer. Não obterá nunca algum resultado recusando-a. Aqueles de sua espécie tendem a fugir do sofrimento, não gostam do „sacrifício‟, do heroísmo, da coragem, da dedicação a um ideal, não possuem um sonho ao qual consagrar-se, não se propõem a morrer por uma causa. Desejam simplesmente as férias, a pensão, e viver em longo prazo sem ter muitos problemas. E essa é a condição mais triste para um ser humano. Não faça nada. Sinta a sua emoção e imagine que a pessoa que você encontra a sua frente é realmente uma projeção sua. Sinta com todo o seu ser que você esta querendo aquela situação. Torne desejada uma situação em que você foi até hoje submisso. Aquela pessoa te diz e faz somente aquilo que você quer, somente aquilo que você precisa para se libertar, para redescobrir o seu ser Real. Os outros estão aqui para te ajudar. Todo o Universo foi reunido para te ajudar a se libertar da ilusão. Mas até que você enxergue e sinta isso por você mesmo, deve ter Fé no que eu te digo.” E aquele dia no trem, após anos de tentativas, finalmente enxerguei e senti na minha pele. A minha dignidade de ‘portador da chama’ foi assumida; me concentrei, foquei toda a minha atenção na raiva que estava sentindo e repeti para mim mesmo, mentalmente: “estou dentro de uma maldita armadilha emocional; a minha irritação me impede de ver a realidade dos fatos. Aquela pessoa lá fora existe somente como projeção da minha irritação. Eu a estou criando e controlando. Eu decido o volume de sua voz e as palavras que ela pronuncia. Eu estou desejando tudo isso”. Sentia as minhas vibrações aumentarem rapidamente. Eu estava começando a sair da gaiola psíquica em que eu me havia colocado. Às vezes voltava a sensação de que a senhora com o celular podia existir independentemente de mim, e então a irritação recuperava energia, mas eu sabia que naquelas circunstâncias a força de vontade era indispensável ao objetivo de assumir a armadilha emocional e jogar fora cada pensamento de separação e dualidade. Ela não existia lá fora. Tentava me concentrar em mim mesmo. Eu tinha que me concentrar na minha emoção, mais do que nas pessoas ou os eventos externos, porque o meu problema estava dentro de mim. Sabia bem, graças aos ensinamentos de Victoria Ignis, que o meu mal estar era causado pelo meu ‘demônio’ e não pela situação externa. Não tinha nada a ver com uma tentativa de evitar uma realidade insuportável utilizando uma técnica psicológica, mas ao contrário, era o esforço mágico de alguém que queria alcançar a realidade além da ilusão, o conhecimento direto do mundo que está alem de maya, aquele mundo de conto de fadas que às vezes Victoria Ignis chamava de ‘O Reino da verdade’ ou ‘ O Reino dos céus’. E num certo momento, consegui de realmente! Enquanto eu me observava de maneira concentrada, algo me aconteceu. Entrei em um estado de consciência diferente, o meu coração se expandiu e comecei a chorar.
  • 19. O ciúmes, a irritação, a raiva... são armadilhas emocionais. Não fazem parte de você, daquilo que você realmente é. São demônios que vivem dentro de você e usam sua energia emocional para nutrir-se. Um „portador da chama‟ não se identifica com seus demônios, mas os utiliza para despertar, para abrir uma passagem na prisão psíquica. Quando sentir uma emoção negativa, transforme-a em uma porta para entrar na realidade além da ilusão. Fique desperto, observe o seu sofrimento de fora, sem se envolver, como se estivesse acontecendo com outra pessoa, como se você fosse um cientista que deve estudar as reações de sua cobaia. Depois aceite este sofrimento, acolha-o dentro de você e ame-o. Se não amar o seu demônio, ele nunca poderá se transformar em anjo; o chumbo não poderá transmutar-se em ouro; o veneno não será remédio. O demônio é um filho seu. Você o gerou, através dos tempos e o cristalizou dentro de você. Ele vive já permanentemente na sua casa. Imagine por um minuto que você é um pai que coloca pra fora de casa um filho desnaturado, porque é muito agressivo, medroso ou incapaz. Será que este filho não baterá a porta para ser acolhido ou reconhecido? E nem será ouvido se bater com mais força, até que um dia, derrubará a porta com toda a fúria de que é capaz? Não deixe espaço para os seus demônios, e ao mesmo tempo, encha-os de compaixão, porque são crianças medrosas disfarçadas atrás de máscaras de monstros. Um belo dia você conseguirá realizar a transmutação: a raiva se tornará „ímpeto guerreiro‟, o ciúmes se tornará amor incondicional... cada emoção negativa se transformará em uma emoção superior repleta de amor. Fora da prisão psíquica, no Reino dos Céus, existe um estado de encantamento ilimitado, de bem estar, de confiança na perfeição de tudo o que acontece... É um mundo que espera só você, com paciência, há milhões de anos, para te envolver em seu morno e afetuoso abraço. Lembro-me ainda hoje do amor sem fronteiras com que Victoria Ignis pronunciou aquelas palavras. Seu vulto emanava uma ternura capaz de abraçar a humanidade inteira. Nem parecia ela... tinha sido literalmente transfigurada. Era como se alguma coisa falasse comigo através de seu corpo físico. Aquele mesmo Amor tinha subido comigo no trem naquela manhã. Eu não conseguiria descrever o que senti naquela situação utilizando somente a linguagem humana. Para dar uma idéia do mundo que se abriu de repente, diante dos meus olhos, teria que pedir ajuda a algum humorista de Vênus sob o efeito do ópio. Deveria pegar emprestado os ultra sons emitidos pelos golfinhos, o canto de amor de um raro passarinho, a vibração do vento quando atravessa teias de aranha, o olhar esquivo de uma baleia logo antes de mergulhar novamente no mar ou o ruído ensurdecedor de uma semente que germina. O meu conhecimento das coisas estava ignorando a mente racional, como se esta fosse um velho asno impossibilitado de fazer seu dever, e a espera de ser abatido. Graças a minha força de vontade, consegui mergulhar no coração e me abrir para uma nova dimensão do conhecimento. Como posso então descrever o sublime? O sublime envolve a sua mente, a domina, a aquieta e depois a derrete com seu calor. Os efeitos do sublime são permanentes, enquanto que os da razão não o são. Eu vi, da maneira mais óbvia do mundo, que aquela mulher sentada à minha frente estava dentro de mim... e eu a amava, ou melhor, eu era o próprio amor que me unia a ela. Senti em mim uma combustão que nunca pensei que pudesse ocorrer em um corpo humano sem causar uma falha instantânea do sistema nervoso. Estou certo de que por causa da explosão de amor vinda naquela manhã, naquele trem, alguns anjos no céu tornaram-se mais esplêndidos e passaram à hierarquia superior; em Sírio, centenas de almas incorporaram contemporaneamente milhares de novas intuições artísticas; Vênus modificou ligeiramente sua rota; e sobre a Terra – posso jurar pela salvação da minha própria alma – milhares de crianças africanas não sentiram fome naquele dia!
  • 20. Finalmente livre das pedrinhas do incômodo e do julgamento, me sentia leve e fresco. O olhar através do qual eu observava a realidade foi iluminado. Quando afirmo que vi uma realidade diferente – e que isto seja claro desde já – não quero dizer que me limitei a mudar a minha opinião sobre aquela pessoa a nível intelectual, e sim que tais visões apresentaram-se à minha frente como uma verdade interior inquestionável. Não pensava, mas enxergava. E se eu puder ser ainda mais preciso, não diria nem que eu enxergava, mas que eu sentia e tocava através de novos sentidos interiores: os ‘sentidos da alma’. Um fogo incabível saia do centro do meu peito. Percebia em mim uma força e uma potência desmedida, enquanto a minha consciência flutuava na mais morna e tranqüila felicidade. Eu estava inflamado de amor. Sinal claro de que estava observando a realidade além da ilusão. Eu estava vivo, e temporariamente livre de alucinações psíquicas. Um vislumbre de realidade estava ali, em frente a mim em sua mais maravilhosa e impensável forma. Dei uma olhada à minha volta: as pessoas e as coisas emanavam, de dentro de si, uma luz intensa e quente ao mesmo tempo, todo o ambiente era repleto de cores nunca antes vistas que eu nem poderia descrever. Só o tentar seria um sacrilégio com a natureza. Concentrei-me instintivamente na minha escuta, como se agora fosse óbvio fazê-lo, e notei que cada pessoa emitia uma nota: falavam uma língua feita de música que saía de seus corpos, invadindo o espaço. Cada ser humano tocava uma nota diferente, independentemente se estavam falando ou não, se se moviam ou estavam parados. A dimensão supra-racional tinha vindo me fazer uma visita, me impregnava e se expandia de dentro de mim. Alguma coisa dentro de mim tinha sido rompida e a minha comoção tornava-se insustentável: comecei a chorar soluçando como uma criança. Percebi, finalmente a ‘pequenez’ das emoções que eu havia experimentado até aquele momento a minha vida. Envergonhei-me de ter chamado de amor certos sentimentos mesquinhos os quais pude então enxergar. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto pingavam nas páginas do livro aberto sobre meus joelhos e cada gota emitia uma vibração que ressonava em todo o meu corpo, agitando-o sutilmente; uma massagem quase imperceptível fluía pelo meu ser, o estimulava, o reforçava... e desse modo eu o estava curando dos velhos males de milênios. 6. UM CAMINHO DEVONIANO No final dos anos 90 eu trabalhei por 6 meses como operário na fábrica da Fiat, no estabelecimento Mirafiori de Torino. Naquela época Victoria Ignis tinha começado a aparecer cada vez com mais freqüência. Havia 3 meses que tínhamos nos encontrado pela primeira vez, e nos víamos mais ou menos a cada 15 dias. Era como se ela me cercasse, desenhando círculos sempre mais estreitos. Numa manhã de setembro estava voltando para casa após o turno da noite, que terminava as 6 horas, e a encontrei no ponto de ônibus. Estava vestida com um simples jeans e uma blusinha verde, leve e solta. Seja qual fosse a roupa que vestisse, estava sempre elegante, fascinante... nobre. Ela era a demonstração viva de que nobreza não depende da família ou do aspecto físico, mas sim do desenvolvimento interior de uma pessoa: a nobreza pode ser somente a ‘nobreza da alma’. A calça justa enfatizava suas formas abundantes, e mesmo sendo o tipo de mulher que me atraia fisicamente, durante o tempo que mantive contato com ela nunca me passou pela cabeça um pensamento sexual em relação à ela. Era evidente que ela, de alguma forma me impedia de tê-lo. Ela tinha controle completo de seu centro sexual e de seu corpo emocional, e isso tornava impossível em mim a presença de qualquer energia sexual ou passional. Às vezes se estabeleciam entre nós contatos ‘de coração a coração’ muito intensos, com lágrimas e tudo, outras vezes ela me aterrorizava ou batia de frente com o meu modo de pensar até que eu interrompia a conversa e ia embora. Mas mesmo neste caso, eu sabia que ela havia provocado deliberadamente aquela reação em mim. Victoria Ignis era um ‘vampiro ao contrário’, capaz de grudar em você e lhe transmitir energia, de dar vida ao invés de tirá-la. Ela me ‘mordeu’ naquele dia no parque e me enfeitiçou com seu modo de entender a existência totalmente oposto ao usual. Várias vezes eu me pegava pensando se ela era uma louca, desvairada ou uma ambiciosa sem escrúpulos, mas ao mesmo
  • 21. tempo eu não via a hora de reencontrá-la e contava os dias que me separavam dela. Exatamente como acontece após uma mordida de vampiro, percebi que estava irremediavelmente contaminado pela sua visão de mundo. Me assustava mas ao mesmo tempo me seduzia. Alguma coisa em mim tinha começado a mudar. Uma vez mordido, não se pode mais voltar atrás, não existe antídoto: estava ocorrendo em mim uma transmutação alquímica que cedo ou tarde me faria pertencer à sua mesma espécie. - Como pode dizer coisas tão desconcertantes com aquela calma, com aquela naturalidade inatural? Perguntei a ela naquela manhã no ponto de ônibus. “O meu modo de falar com você é conseqüência do que eu vejo, não do que eu penso. Esse seu estupor é que deveria ser estudado! Pensar que exista um mundo de nós do qual não temos controle... isso sim é que é uma loucura! E quem pensa assim deveria ser internado em uma clínica e estudado a fundo! Você não percebe a loucura desta visão somente porque é a mais aceita socialmente. É a massa que pensa assim, então parece normal. Isso faz com que venham tratados como loucos os poucos sãos que existem no mundo. Nesta época de caos é a massa que dita as leis. No governo estão os representantes da massa, não „os melhores‟, ou seja, indivíduos que tenham alcançado a integridade do ser. Quando a massa, ignorante das leis do Universo, se apoderou da educação, da ciência, da medicina e da religião, começou a decadência. Nas “sociedades tradicionais” estas instituições eram administradas por „iniciados‟, ou seja, pessoas que já haviam adquirido um certo desenvolvimento de sua essência, pessoas conscientes de serem uma unidade com o todo, líderes com o coração aberto, capazes de transmitir valores. Através das instituições, a massa era governada e ao mesmo tempo educada, ou seja, ajudada a evoluir, a superar a gana de aspirar por um crescimento da consciência. Enquanto que hoje, é a massa – os não livres, os escravos – que decide quem governa e como conseqüência, como deve ser o programa educacional. Mas um escravo só pode eleger ao governo “ditadores”. Os resultados estão sob os olhos de todos: filas de autônomos formam uma escravidão empregatícia que luta pela sobrevivência oito ou mais horas ao dia em um escritório ou uma fábrica. Se o indivíduo ocupa uma posição no quadro gerencial ou se é um operário de linha, se ganha altas cifras ou somente o que dá pra comer, não muda nada, porque a mentalidade é sempre empregatícia: é a atitude de depender, de viver somente para satisfazer necessidades básicas ao invés de viver por um valor. Se a escola não educa os valores, a necessidade torna-se o valor. A massa que se ilude de poder se autogovernar através da chamada „democracia‟ esta se arruinando sozinha! A partir do momento que cada ser deve necessariamente. Por força das circunstâncias, encontrar fora de si o próprio governante, o resultado do infantil desejo de autogoverno do povo é a fatal submissão a quem possuir a habilidade de iludi-lo que isso seja efetivamente possível. O irracional desejo de democracia terá, então, sempre como efeito a oligarquia, que, não por acaso, é hoje a forma de
  • 22. governo mais difundida no mundo dito democrático. A democracia não é possível, mas se o povo não percebe esta impossibilidade e quer mesmo assim se iludir de poder autogovernar-se, então uma oligarquia – uma casta voraz e sem valores – é automaticamente autorizada a estabelecer-se no poder por décadas, sendo chamada de „governo democrático‟. O povo possui aquilo que merece... sempre.” Eis um daqueles momentos em que eu queria matá-la! Eu era um sustentador completo da democracia e sempre acreditei que ela deveria ser defendida com unhas e dentes, enquanto que aquela mulher me dizia que a democracia não só não existe atualmente, como era impossível de existir. - E então qual solução você proporia? Tentei indagar. “Não se trata de propor alguma coisa. A história move-se de através de ciclos, então já se sabe que após este período de caos que já dura há milênios, virá um período de „restauração dos mistérios‟, durante o qual se restabelecerá uma Hierarquia do Ser, como guia de uma Sociedade Tradicional.” Victoria Ignis me explicou que o termo ‘tradicional’ não tem nada a ver com o termo ‘conservador’. Uma Sociedade Tradicional não é tida como tal porque adota leis, costumes e preceitos morais do passado – o que seria uma tolice, por retroceder em coisas que já foram superadas – mas porque se refaz no ‘princípio tradicional’, o qual afirma que dentro de uma coletividade que queira estar alinhada com a evolução do Cosmo, todos os cidadãos se dedicam à sua própria realização interior, cada um em seu nível e de acordo com suas características pessoais. Em uma sociedade autenticamente tradicional, a elevação do ser do indivíduo – a sua identificação com o Todo – é vivida como o único objetivo da vida consciente de um ser humano. Qualquer outra atividade – política, econômica, científica, educativa, artística – roda em torno de tal princípio e é simplesmente sua manifestação. Com a expressão ‘Hierarquia do Ser’, não deve ser entendido nada de místico ou religioso, mas sim um governo composto por seres íntegros, ou seja, totalmente identificados com o Todo. Sua consciência é tão extensa que percebem o mundo, e assim, a comunidade, como parte de si mesmos. Como consequência agem naturalmente pelo Bem Comum, sentindo que o bem dos outros é também seu próprio bem. Não possuem mais apegos materiais nem interesses pessoais, mas tomam decisões impopulares, enquanto que para e-ducar o povo é necessário obrigá-lo a dar um salto para o alto, coisa que por livre e espontânea vontade não fariam. O povo tende a estacionar nos fundos, e normalmente não aspira a um maior grau de consciência, já que esta implica em maior responsabilidade. No futuro, quem demonstrará possuir um ser mais evoluído – vale dizer, que se encontrará em um nível mais elevado de consciência – será encarregado de fazer as decisões mais importantes, seja na política, seja dentro de uma indústria. Não serão mais a ambição e o desejo de obter privilégios a fazer com que um indivíduo chegue a governar um país, mas sim suas qualidades interiores: a Inteligência iluminada, a genialidade, o heroísmo, a capacidade de sonhar, o coração aberto, a dedicação ao ideal, o sacrifício de si mesmo até a morte... - Quer dizer que nos será imposto do alto uma forma de governo desse tipo? A idéia de Hierarquia me dá medo! “Se for imposta do alto não é autêntica. Se instalará espontaneamente, como fruto de um processo de e-ducação do povo. A Hierarquia é um conceito natural, inevitável. Na verdade na natureza não existe democracia. Draco Daatson dizia: “Quando dois homens se encontram um dá e o outro recebe”. O que significa dar algo a uma pessoa? Não quer dizer eã zi-la, mas ao contrário, amá-la como uma parte de si e ajudá-la a “subir um degrau”. Somente quando você ajuda alguém que está abaixo de você a subir no seu degrau poderá subir ao degrau sucessivo. Não é possível subir deixando para trás um degrau vazio, porque cedo ou tarde cairá nele novamente. Onde quer que dois homens se encontrem, mesmo por poucos minutos
  • 23. dentro de um elevador, imediatamente e inevitavelmente se estabelece uma ordem hierárquica. A distância do Todo – a força com a qual um indivíduo sente ser um Rei responsável pelo seu reino, o coloca no degrau que lhe cabe nessa escada invisível. Quanto mais íntegra e unitária é a sua consciência, ou seja, próxima aquela do „Uno‟, que carrega tudo dentro de si, mais elevada é sua responsabilidade. Não é a raça, a idade, o sexo, a fama o cargo assumido, a educação, o título de estudo... mas é exclusivamente o nível do Ser, o nível de responsabilidade pelo que acontece no mundo, que decide, em silêncio, a posição hierárquica de toda e qualquer pessoa. E aqui entra em jogo a escola. Esse conhecimento deveria se tornar patrimônio de muitos para que muitos possam elevar a própria essência. Precisamos de pessoas capazes de transmitir esses ensinamentos revolucionários para permitir a transição do ser humano a um novo estado de Consciência, no grau sucessivo da evolução planetária. Alguns comparam este período histórico com o fim do Cretáceo, quando desapareceram os dinossauros e iniciou a era Cenozóica. Outros o comparam ao Devoniano (na Era Paleozóica), quando alguns anfíbios conseguiram sair da água e dar os primeiros “passos” em terra firme. Ambas as comparações são adequadas. A humanidade esta sendo chamada a se transferir do mar à praia, mas essa transição requer um esforço enorme, uma revolução do Ser. Somente alguns conseguirão. Outros terão o mesmo fim dos dinossauros. Quando o Ser de um organismo se torna mais elevado do que ele pode exprimir dentro de sua espécie, tal organismo desenvolve novos órgãos que lhe fazem pertencer a uma nova espécie e mudar de habitat.” Eu estava perplexo diante daquelas palavras. O meu mundo estava desmoronando, tijolo por tijolo. “Perceber o mundo dentro de si não é só uma questão de idéia, mas implica em um despertar da consciência, uma transformação física, um desenvolvimento adequado do sistema nervoso, a reativação de algumas glândulas, a Pineal e Pituitária, principalmente. São anos de trabalho intenso durante os quais o indivíduo é totalmente reeducado. Precisa-se de escolas realmente educativas, seja para os adultos ou para as crianças. À medida que o nível de consciência do povo se elevar, sempre mais indivíduos íntegros serão eleitos ao governo, porque o cidadão tem sempre e somente aquilo que merece. Você possui as qualidades para transmitir aos outros esta nova visão de mundo, mas primeiro deve reeducar a si mesmo, liberar-se da prisão psíquica.” Não acredito que eu possa ter o dom de ensinar. Não tenho um título de estudo adequado, sempre tive medo de falar em público... “Isso não é você quem deve dizer. Te asseguro que você já tem as qualidades que servem, mas ainda é totalmente um escravo, um anão psicológico, e por esse motivo vive na escassez, e não consegue nem colher sua próprias qualidades, seu poder, seu fogo. Você é vítima daquilo que te ensinaram a escola, os pais, a mídia... Você é vítima do Mundo e nesse estado você não serve para qualquer atividade que não seja meramente mecânica e baseada na sobrevivência, como comer, trabalhar como
  • 24. dependente e fazer filhos. Mas pode decidir mudar, sair da psicologia do „ser vítima do mundo‟ e assim teria a possibilidade de se tornar alguém, um verdadeiro indivíduo. Lembrando que tudo o que você é agora deverá morrer: suas idéias sobre o mundo, suas convicções políticas, sua moral, o seu modo de amar... tudo! Tirarei todas as suas falsas raízes; se aceitar de trabalhar comigo será só porque você não faz idéia do que te espera! Você deverá confiar completamente em mim e ter um desejo sobre humano, incontrolável de abandonar o seu estado atual. No momento que decidir fazer um percurso de re- integração, você morre, e o que sobra de você é colocado em minhas mãos. Não é uma brincadeira, vou arrancar o seu orgulho, e isso te fará mal. Só pode enfrentar algo do gênero quando percebe que não vale à pena continuar a viver como uma marionete nas mãos do mundo, quando você estiver pronto para a história do Pinóquio. Se tiver ainda qualquer coisa pra segurar, qualquer aspecto que você ainda seja apegado, nem adianta começar.” - Me diga uma coisa: você me escolheu porque sou um pouco especial? Porque você acha que tenho mais possibilidade do que muitos outros? “Não! Muito pelo contrário! Você tem as qualidades de divulgador e professor que poderemos usufruir no futuro, mas não é por nada especial. Te escolhi exatamente porque você me representava um desafio e um teste: se uma pessoa insignificante como você conseguir se libertar, quer dizer que será também possível para milhões de outros!” E soltou uma risada estridente. Desse modo deu o primeiro grande golpe no meu amor próprio. Eu não tinha sido escolhido porque eu era um eleito, mas porque representava seu desafio pessoal. Se Victoria Ignis podia ajudar alguém como eu a alcançar a liberdade – a tornar-me o Rei do meu mundo – esta seria uma grande vitória para a Escola. Quem era eu? Um falido, um depressivo crônico, alguém que tinha usado álcool e drogas por anos, alguém cujo título de estudo era o 3º Ensino Médio completo, e cuja máxima aspiração consistia em ser contratado por tempo indeterminado como operário de linha da Fiat. 7. FULMINADOS OU ILUMINADOS “A este ponto te faço uma pergunta: você quer despertar? Quer tentar sair do mar para se aventurar na praia? Quer sentir a mesma emoção sentida pelos primeiros anfíbios, pioneiros na revolução planetária da época? Parem um pouco para pensar: o que estimula um ser vivo a fazer alguma coisa antes dos outros de sua espécie? Consegue imaginar a psicologia daquele primeiro anfíbio que se arrastou pra fora da água? Você já se perguntou o que significa tentar alguma coisa realmente diferente dos outros de sua espécie? Consegue sentir, somente por um instante, o fogo que mova Draco Daatson, indivíduo que, há séculos atrás, se deu conta de estar em uma prisão psíquica e organizou um grupo com o objetivo de fugir dela?” Me subiu um arrepio pela espinha. Abriu-se um horizonte de possibilidades e já me sentia capaz de tudo para guiar um exercito de revoltados! Era incrível com Victoria Ignis podia, com poucas frases certeiras, me provocar uma revolução interior, um aumento do estado vibratório. Mas justamente quando eu estava
  • 25. para derramar lagrimas de comoção, a racionalidade voltou a me dominar – Eu realmente acredito que muitas pessoas já tenham iniciado um percurso espiritual. São milhões pelo mundo: meditação, yoga, reiki... e só escolher. Não acho que ainda haja espaço para ‘pioneiros’. Talvez há cinqüenta anos atrás, mas não mais atualmente. Me olhou por alguns longos segundos e depois disse com um tom de desprezo exagerado: “Estou falando de uma transformação do Ser, não de recitar mantras de maneira mecânica na frente da foto de um maestro de barba branca! Este não é o pacote espiritual mostrado em revistas de cabeleireiro. Eu te digo que a sua realidade está dentro de você... e você me fala de espiritualidade?” Eu não entendia. Qual era a diferença? Naquela época parecia tudo a mesma coisa. ‘New Age’, esoterismo, reiki, meditação transcendental, Rene Guenon, Gurjieff, Crowley, tantra, teosofia... Compreendendo o meu sincero embaraço, resolveu me explicar melhor sua afirmação: “Uma coisa é um autêntico trabalho de despertar, ou seja, de re-integração do Ser conduzido através da auto-observação cotidiana e a modificação do seu modo de ver o mundo, outra coisa são as técnicas. Despertar quer dizer parar de se achar uma criança medrosa a mercê do mundo e começar a agir como um Rei, o regente da sua realidade. Hoje estão proliferando – e aumentarão cada vez mais nos próximos anos – as escolas que ensinam técnicas, mas as técnicas, por si só, não despertam não te conduzem para fora da realidade sujeito/ objeto de maneira consciente. Se quer despertar deve segurar sua vida com sua próprias mãos, tornar-se um „mônaco guerreiro‟, atravessar a dor sem culpar nada nem ninguém. Os seres humanos estão inventando as técnicas mais estranhas... por não despertarem nunca, por não enfrentar suas dores.” Me explicou com paciência que a recitação dos mantras não desperta, mas ao contrário, adormenta. Os exercícios de respiração e a energia sexual podem levar à loucura, pois introduzem no organismo uma quantidade de energia que o sistema nervoso ainda não esta pronto para receber. Me fez ainda uma longa lista de exemplos dos danos criados pelo auto-uso dessas técnicas. “Em todos esses anos nunca vi um ocidental despertar utilizando técnicas de meditação! Nunca. Nesses grupos todos falam do despertar, mas ninguém o obtém e ninguém resolve radicalmente seus problemas cotidianos! Utilizar técnicas para atingir a chamada liberação é uma ilusão da ilusão, a armadilha da armadilha. Nunca soube de ninguém que adquiriu a integridade do próprio ser dentro de escolas esotéricas, de meditação, escolas de magia, escolas de gnosi. E também existem muitas pessoas que saem contando que, por exemplo, a energia sexual pode levar à iluminação. Simplesmente não é verdade. Pode até ajudar, assim como fazem alguns exercícios de respiração e até certas drogas, mas as técnicas por si só não levam a lugar nenhum. No melhor dos casos você adquire tanta energia que não consegue lidar com ela e que acaba por alimentar as criticas, incômodos e julgamentos para com o mundo... mas não te libera do Mundo.” Me disse que, se insistimos nessas técnicas, podemos ativar os centros sutis (chakras) e ter experiências místicas muito fortes. Neste ponto pode-se ate achar que ‘entrou para o Uno’, o Todo, e, realmente, de um certo ponto de vista, é de fato verdade. Mas se trata do Todo sem consciência, o pacote indiferenciado onde a consciência do individuo está imersa há milhões de anos, e não o Uno ao qual a consciência deve expandir-se sempre mais, o Uno autoconsciente, fruto de um esforço consciente. Essas pessoas estão fulminadas, e não iluminadas, como pensam. Não e mesmo possível conseguir o despertar consciente do Ser, ate alcançar a Unidade autoconsciente,
  • 26. utilizando técnicas puramente mecânicas. Por meio de drogas, energia sexual, exercícios de respiração, recitação de mantras entre outras, podemos somente entrar no Nada, um estado comparado ao sono profundo primário, de onde tudo e iniciado; um estado de embotamento da consciência onde os problemas acabam enquanto não somos nem capazes de percebê-los, e não porque já os cavalgamos e os superamos. Ao invés de ir pra frente, voltamos para trás. Algumas destas técnicas são antigas, de milênios atrás, o que não quer dizer que são boas. Pelo contrário. Elas foram concebidas por uma humanidade muito diferente da atual. As meditações e mantras que eram ensinados na Índia ou na China há mais de mil anos atrás não funcionam para um ocidental que vive na era atual, obviamente! E incrível como ninguém perceba a inutilidade, ou ainda a periculosidade que existe no querer utilizar hoje certos métodos tão antigos. No passado, a humanidade não tinha as mesmas potencialidades de hoje, então os estudantes almejavam o anulamento da consciência no Uno primário, e não ao despertar consciente, ou seja, a integridade do Ser que podemos alcançar hoje. “Tente você mesmo, na sua pele – me cutucou Victoria Ignis – freqüente escolas e grupos, inscreva-se a diversos cursos. Experimente em você, assim aprenderá a discernir, de maneira autônoma e um dia poderá explicar aos outros a diferença.” Nos anos sucessivos, enquanto Victoria Ignis me seguia na minha formação, freqüentei algumas escolas e me inscrevi a vários grupos: da meditação transcendental a meditação Zazen, da escola de magia à escola tântrica, do pensamento positivo ao Reiki. Por um certo período passei também por algumas ordens iniciáticas aceitando assumir os típicos nomes ocultos que iniciam sempre com Frater ou Soror... Mais pra frente foi a vez dos grupos de Osho, onde, a um certo ponto, como ocorre s muitos que freqüentam esses grupos, me pediram para usar um nome sannyasin, alguma coisa tipo Ananda anam, Shivaprem, Shaktiavasa, Devananda Urusvati e assim por diante, todos nomes que significavam ‘ flor de lótus que se abre na testa’ ou ‘sinto o amor do Absoluto impregnar em meu coração’! Mas na realidade, em nenhum desses lugares haviam bem claro o real significado da mudança de nome, algo que poderia ser feito – sem obrigatoriedade – somente após a integração do Ser, e não antes, o que indica a morte da personalidade anagráfica e o nascimento de um verdadeiro indivíduo. Mas a partir do momento que, nessas escolas ou grupos ninguém atinge realmente tal estado – ou pelo menos eu nunca encontrei alguém que tivesse conseguido – escolhe-se mudar o nome para indicar uma certa iniciação ou até no momento de entrada na escola! A minha experiência foi única, porque pude atravessar todos esses diversos ambientes ditos espirituais com desapego, sem me identificar com uma técnica, com um mestre ou tradição oculta. Em alguns lugares fiquei somente algumas semanas, outros, freqüentei por anos. Graças às advertências de Victoria Ignis pude agir como expectador, ou seja, indagando, ao invés de ser somente ‘aluno’ procurando espiritualidade. Me lembro que em um desses grupos queriam me fazer uma coisa chamada ‘ativação dos chakras’. Victoria Ignis já tinha me aconselhado a ficar longe de qualquer um que quisesse manipular meus chakras, o que me ajudou a evitar possíveis danos. - “Não tente ativar os centros sutis utilizando métodos mecânicos! – Me disse uma vez. – Quer abrir de verdade o chakra do coração? Bem, é louvável da parte sua. O modo mais rápido e seguro para fazê-lo consiste em parar de julgar e decidir amar seus inimigos. Tome hoje esta firme decisão e leve- a adiante a cada instante de sua vida. Se esforce para amar qualquer pessoa que te incomode e em poucos meses conseguira abrir esse chakra. - Quer abrir o terceiro olho? – continuou em tom cada vez mais irônico – Magnífico, gosto dos jovens que desejam crescer! Neste caso o modo mais rápido e seguro consiste em pensar a cada