Este documento discute equações diferenciais ordinárias de primeira ordem. Aborda equações diferenciais lineares e não lineares, sistemas autônomos e não autônomos, existência e unicidade de soluções, dependência das soluções em relação às condições iniciais e parâmetros, e elementos da teoria qualitativa de equações diferenciais como campos vetoriais e fluxos.
4. Cap´ıtulo 1
Equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias
Defini¸c˜ao 1 (Equa¸c˜ao diferencial ordin´aria em Rn
). Sejam f : U → Rn
, U
aberto de R × Rn
, (t, x) ∈ U onde t ∈ R, x ∈ Rn
, x : I → Rn
onde I ´e um intervalo
aberto de R, x = x(t) sendo tamb´em chamada de caminho. Uma equa¸c˜ao da forma
x (t) = f(t, x)
´e uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria em Rn
, definida por f, no caso queremos
encontrar x que satisfa¸ca a equa¸c˜ao acima. t em f(t, x) ´e dita ser a vari´avel
temporal. Tal equa¸c˜ao x = f(t, x) ´e dita ser equa¸c˜ao vetorial, no caso de fun¸c˜oes
reais dizemos que a equa¸c˜ao ´e escalar.
Podemos denotar x(t) = (xk(t))n
1 e f(t, x) = (fk(t, x))n
1 onde cada xk : I → R,
fk(t, x) : U → R s˜ao as fun¸c˜oes coordenadas. A derivada x (t) consiste em derivar
coordenada-a-coordenada
x (t) = (xk(t))n
1
equiparando com o lado direito, temos o sistema
3
5. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 4
x1(t) = f1(t, x1(t), · · · , xn(t))
x2(t) = f2(t, x1(t), · · · , xn(t))
...
xn(t) = fn(t, x1(t), · · · , xn(t))
Ent˜ao a equa¸c˜ao diferencial vetorial x = f(t, x) ´e equivalente a um sistema
de equa¸c˜oes diferenciais escalares. x = f(t, x) ´e ainda chamada de equa¸c˜ao de
primeira ordem por envolver apenas a derivada primeira de x. Diremos tamb´em
que x ´e uma velocidade.
Corol´ario 1. Segue da interpreta¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial por meio de sis-
tema que a existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de sistema de equa¸c˜oes diferenciais
em R equivale a existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais veto-
riais em Rn
.
Defini¸c˜ao 2 (Solu¸c˜ao de equa¸c˜ao diferencial). Uma solu¸c˜ao para equa¸c˜ao
diferencial x (t) = f(t, x) ´e um caminho deriv´avel x : I → R que satisfaz a primeira
equa¸c˜ao, x tamb´em pode ser chamado de curva integral.
Em termos de sistemas, uma solu¸c˜ao consiste em n fun¸c˜oes xj : I → R de-
riv´aveis, tais que
xj(t) = fj(t, x1(t), · · · , xn(t)).
Defini¸c˜ao 3 (Condi¸c˜ao inicial). Dada um solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial
x = f(t, x) dizemos que x(t0) = x0 ´e uma condi¸c˜ao inicial, um problema de valor
inicial ´e achar x : I → Rn
com x = f(t, x) e x(t0) = x0.
6. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 5
Uma condi¸c˜ao inicial para o sistema ´e dada por
x1(t0) = x1, x2(t0) = x2, · · · , xn(t0) = xn.
Defini¸c˜ao 4 (Equa¸c˜ao diferencial autˆonoma e campo de vetores). ´E uma
equa¸c˜ao do tipo x = f(t, x) onde f(t, x) = f(x), a fun¸c˜ao n˜ao depende de t.
Nesse caso interpretamos f : E → Rn
como um campo de vetores, E ⊂ Rn
.
Defini¸c˜ao 5 (Equa¸c˜ao diferencial n˜ao-autˆonoma). ´E uma equa¸c˜ao do tipo
x = f(t, x) onde f(t, x) depende de t.
Defini¸c˜ao 6 (Equa¸c˜ao diferenciais normais). S˜ao equa¸c˜oes do tipo x = f(t, x)
onde ´e poss´ıvel explicitar x em fun¸c˜ao de (t, x).
Defini¸c˜ao 7 (Equa¸c˜ao diferencial de ordem m). Uma equa¸c˜ao diferencial de
ordem ordem m em Rn
, ´e uma equa¸c˜ao do tipo
y(m)
= g(t, y, y(1)
, · · · , y(m−1)
)
onde g ´e definida em um aberto U ⊂ R×Rn
× · · · Rn
n vezes
onde y(k)
´e a k-´esima derivada
em rela¸c˜ao `a t, y : I → Rn
Propriedade 1. Toda equa¸c˜ao de ordem m, pode ser escrita como uma
equa¸c˜ao diferencial de ordem 1.
Demonstra¸c˜ao.
Definimos o sistema
7. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 6
x1(t) = x2(t)
x2(t) = x3(t)
...
xm−1(t) = xm(t)
xm(t) = g(t, x1(t), · · · , xm(t))
com isso temos xm(t) = xm
1 (t), tomando x1(t) = y(t), fazemos o sistema de ordem
m recair em um sistema de ordem 1
x (t) = f(t, x)
x(t) = (x1(t), x2(t), · · · , xm(t))
f(t, x) = (x2(t), x3(t), · · · , xm(t), g(t, x1(t), · · · , xm(t)) )
as igualdades conseguimos derivando termo-a-termo x(t) e equiparando com f(t, x).
Propriedade 2. Um sistema n˜ao-autˆonomo pode ser reduzido a um sistema
autˆonomo.
Demonstra¸c˜ao. Sendo uma equa¸c˜ao n˜ao-autˆonoma x = f(t, x), f : U → Rn
,
definimos y = (t, x) ∈ U ⊂ R × Rn
, definimos g : U → Rn+1
com
g(y) = g(t, x) = (1, f(t, x))
e a equa¸c˜ao y = g(y) que resulta em (1, x ) = (1, f(t, x)).
Com isso temos que a existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais
vetoriais dependentes da vari´avel temporal ´e equivalente `a existˆencia e unicidade de
solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais vetoriais sem dependˆencia na vari´avel temporal t.
Como os casos citados recaem sobre o estudo da equa¸c˜ao autˆonoma x(t) = f(x),
vamos dar ˆenfase ao estudo desse tipo de equa¸c˜ao.
1.1 Equa¸c˜oes diferenciais lineares
8. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 7
Defini¸c˜ao 8 (Campos lineares). Campos lineares s˜ao fun¸c˜oes do tipo
f(x) = Ax
onde A = (ak,j)n×n e x ´e o vetor coluna n × 1.
Defini¸c˜ao 9 (Equa¸c˜ao diferencial linear). Uma equa¸c˜ao diferencial linear ´e
uma equa¸c˜ao do tipo x = A(x)
x (t) = Ax(t),
que pode ser vista como
x1(t)
x2(t)
...
xn(t)
=
a1,1 a1,2 · · · a1,n
... · · · · · ·
...
an,1 an,2 · · · an,n
x1(t)
x2(t)
...
xn(t)
efetuando a multiplica¸c˜ao temos o sistema
x1(t) = a1,1x1(t) + a1,2x2(t) + · · · + a1,nxn(t)
x2(t) = a2,1x1(t) + a2,2x2(t) + · · · + a2,nxn(t)
...
xn(t) = an,1x1(t) + an,2x2(t) + · · · + an,nxn(t)
Nesta se¸c˜ao iremos em geral considerar matrizes com entradas reais.
Teorema 1. Se A = (ak,j)n×n ´e uma matriz real, ent˜ao para cada x0 ∈ Rn
existe uma ´unica solu¸c˜ao do problema de valor inicial
x (t) = Ax, x(0) = x0.
Demonstra¸c˜ao.
9. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 8
Propriedade 3. O conjunto de todas solu¸c˜oes de x = A(x) ´e um espa¸co
vetorial, subespa¸co de F(R, Rn
).
Demonstra¸c˜ao.
• x(t) = 0v ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao pois x (t) = 0v, A(0v) = 0v, logo temos a
equa¸c˜ao diferencial satisfeita.
• Se s1(t) e s2(t) s˜ao solu¸c˜oes de x = A(x) ent˜ao s1(t) + cs2(t) ´e solu¸c˜ao onde
c ∈ R qualquer. Temos s1(t) = As1(t), s2(t) = As2(t), c ∈ R ent˜ao cs2(t) =
cAs2(t) = Acs2(t) portanto cs2(t) ´e solu¸c˜ao, juntando tais fatos temos
A(s1(t) + cs2(t)) = As1(t) + cAs2(t) = s1(t) + s2(t)
logo s1(t) + cs2(t) ´e solu¸c˜ao, como quer´ıamos demonstrar.
Corol´ario 2. Por unicidade de solu¸c˜ao se x(t ) = 0 para algum t ∈ R ent˜ao
x(t) = 0 ∀ t ∈ R por unicidade de solu¸c˜ao.
1.1.1 Caso de matriz diagonal
Propriedade 4. Se A ´e uma matriz diagonal, A = d(λ1, · · · λn) ent˜ao a
solu¸c˜ao de
x (t) = Ax(t)
´e da forma
x(t) = (x1eλ1t
, x2eλ2t
, · · · , xneλnt
)
onde x(0) = (t1, t2, · · · , tn) em outra nota¸c˜ao
x(t) = d(eλ1t
, eλ2t
, · · · , eλnt
)x0.
Demonstra¸c˜ao. Pelo produto das matrizes Ax = x (t) temos
x1(t)
x2(t)
...
xn(t)
=
λ1 0 · · · 0
... · · · · · ·
...
0 0 · · · λn
x1(t)
x2(t)
...
xn(t)
10. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 9
efetuando a multiplica¸c˜ao temos o sistema
x1(t) = λ1x1(t)
x2(t) = λ2x2(t)
...
xn(t) = λnxn(t)
cada uma das equa¸c˜oes diferenciais pode ser resolvida, resultando em xk(t) =
ckeλkt
, usando xk(0) = tk, temos ck = tk ent˜ao a solu¸c˜ao ´e da forma como quer´ıamos
x(t) = (t1eλ1t
, t2eλ2t
, · · · , tneλnt
).
1.1.2 Solu¸c˜oes e conjuga¸c˜ao
Propriedade 5. Se Q conjuga as matrizes reais A e B de Mn×n, isto ´e,
A = QBQ−1
, ent˜ao s˜ao equivalentes
1. y(t) ´e uma solu¸c˜ao de y = By
2. x(t) = Qy(t) ´e uma solu¸c˜ao de x = Ax.
Demonstra¸c˜ao.
1. 1) ⇒ 2). Vamos mostrar que se y(t) ´e uma solu¸c˜ao de y = By ent˜ao x(t) =
Qy(t) ´e uma solu¸c˜ao de x = Ax. Derivamos x(t) = Qy(t)
x1(t)
x2(t)
...
xn(t)
=
c1,1 c1,2 · · · c1,n
... · · · · · ·
...
cn,1 cn,2 · · · cn,n
y1(t)
y2(t)
...
yn(t)
=
=
c1,1y1(t) + · · · c1,ny1(t)
c2,1y2(t) + · · · c2,ny2(t)
...
cn,1yn(t) + · · · cn,nyn(t)
11. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 10
derivando temos
c1,1y1(t) + · · · c1,ny1(t)
c2,1y2(t) + · · · c2,ny2(t)
...
cn,1yn(t) + · · · cn,nyn(t)
=
c1,1 c1,2 · · · c1,n
... · · · · · ·
...
cn,1 cn,2 · · · cn,n
y1(t)
y2(t)
...
yn(t)
= Qy (t)
lembrando que AQ = QB e y (t) = By(t) temos
x (t) = Qy (t) = QBy(t) = AQy(t) = Ax(t)
como quer´ıamos demonstrar.
2. 2) ⇒ 1). Vamos provar que se x(t) = Qy(t) ´e uma solu¸c˜ao de x (t) = Ax(t)
ent˜ao y(t) ´e uma solu¸c˜ao de y (t) = By(t). Temos
Qy (t) = AQy(t)
como AQ = QB tem-se
Qy (t) = QBy(t) ⇒ y (t) = QBy(t)
pois Q ´e invert´ıvel, logo provamos a equivalˆencia.
Propriedade 6. Seja A ∈ Mn matriz diagonaliz´avel, isto ´e, A = QDQ−1
com
D diagonal.
1. Se D possui todos elementos na diagonal negativos ent˜ao x(t), solu¸c˜ao de
x (t) = Ax(t) satisfaz
lim
t→∞
x(t) = 0.
2. Se D possui todos elementos na diagonal positivos distintos, A n˜ao nulo e
y(0) n˜ao possuir coordenada nula ent˜ao
lim
t→∞
|x(t)| = ∞.
12. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 11
3. Cada coordenada xk satisfaz equa¸c˜ao diferencial linear de ordem n .
Demonstra¸c˜ao.
1. Seja y(t) solu¸c˜ao de y (t) = Dy(t), ela ´e da forma y(t) = (c1eλ1t
, · · · , cneλnt
),
onde
D =
λ1 · · · 0
... · · · 0
0 · · · 0
.
A solu¸c˜ao de x (t) = Ax(t) ´e x(t) = Qy(t),
a1,1 · · · a1,n
... · · ·
...
an,1 · · · an,n
c1eλ1t
...
cneλnt
=
a1,1c1eλ1t
+ · · · + a1,ncneλnt
...
an,1c1eλ1t
+ · · · + an,ncneλnt
=
x1(t)
...
xn(t)
.
logo o limite em qualquer coordenada tende a zero, pois
xk(t) = ak,1c1eλ1t
+ · · · + ak,ncneλnt
onde cada parcela tende a zero pois eλkt
→ 0 quando t → ∞, se os coeficientes
s˜ao nulos n˜ao se altera o resultado.
2. Tem-se que
xk(t) = ak,1c1eλ1t
+ · · · + ak,ncneλnt
tomando λs o maior valor entre os (λk)n
1 que esteja associado a constante ak,s =
0 , colocamos em evidˆencia
|xk(t)| = |eλst
||ak,1c1e(λ1−λs)t
+ · · · + ak,scs + · · · + ak,ncne(λn−λs)t
|
onde |ak,1c1e(λ1−λs)t
+ · · · + ak,scs + · · · + ak,ncne(λn−λs)t
| ´e limitada pois possuem
termos que tendem a zero e o termo ak,ncn n˜ao ´e nulo, por isso a express˜ao
tamb´em n˜ao se anula, como |eλst
| tende a infinito ent˜ao |xk(t)| tamb´em, sendo
que isso vale para qualquer coordenada de x(t).
3. Temos que
xk(t) = ak,1c1eλ1t
+ · · · + ak,ncneλnt
aplicando o operador (D − λ1) · · · (D − λk) anulamos xk(t), logo ele satisfaz
equa¸c˜ao diferencial de ordem n.
13. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 12
1.2 Teoria geral de sistemas lineares
1.2.1 Exponencial de matrizes
Defini¸c˜ao 10 (Exponencial de matriz). Dada A ∈ Mn(C), definimos a sua
exponencial como a matriz n × n simbolizada por eA
, definida como
eA
=
∞
k=0
Ak
k!
que tamb´em pode ser denotada por exp(A).
Propriedade 7. Dada A ∈ Mn(C) ent˜ao
∞
k=0
Ak
k!
converge no espa¸co normado
Mn(C).
Demonstra¸c˜ao. Temos que
∞
k=0
||
Ak
k!
|| ≤
∞
k=0
||A||k
k!
= e||A||
logo a s´erie
∞
k=0
Ak
k!
converge absolutamente e portanto converge em Mn(C).
Corol´ario 3. Sendo A = 0 a matriz nula, temos
e0
=
∞
k=0
0k
k!
=
00
0!
+
∞
k=1
0k
k!
0
= I
pois 00
= I a matriz identidade.
14. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 13
Corol´ario 4. Se A ´e a matriz diagonal A =
λ1 · · · 0
0
... 0
0 · · · λn
, temos que
eA
=
∞
k=0
λk
1
k!
· · · 0
0
... 0
0 · · ·
λk
n
k!
=
∞
k=0
λk
1
k!
· · · 0
0
... 0
0 · · ·
∞
k=0
λk
n
k!
=
=
eλ1
· · · 0
0
... 0
0 · · · eλn
.
Em especial
eI
=
e1
· · · 0
0
... 0
0 · · · e1
= eI
e novamente tiramos que e0
= I.
Corol´ario 5. Seja a matriz n × n
Gc(n) =
0 0 · · · 0
c 0 · · · 0
... · · · · · · 0
0 · · · c 0
tal matriz ´e nilpotente e vale Gc(n)n
= 0. Podemos calcular sua exponencial, sendo
que sua s´erie trunca
16. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 15
Propriedade 8. Se A, B, Q ∈ Mn tais que AQ = QB ent˜ao eA
Q = QeB
. Em
especial se A e B s˜ao conjugadas ent˜ao eA
e eB
tamb´em o s˜ao.
Demonstra¸c˜ao. De AQ = QB temos por indu¸c˜ao que vale As
Q = QBs
∀ s ∈
N, logo
eA
Q = (lim
n
k=0
Ak
k!
)Q = lim
n
k=0
Ak
Q
k!
= lim
n
k=0
QBk
k!
= QeB
.
Corol´ario 6. Se Q ∈ Mn invert´ıvel com A = QBQ−1
ent˜ao
eA
= eQBQ−1
= QeB
Q−1
pois
AQ = QB ⇒ eA
Q = QeB
⇒ eA
= QeB
Q−1
.
Se as matrizes s˜ao conjugadas basta calcular a exponencial de uma das matri-
zes a da outra ´e obtida por produto com Q e Q−1
.
Propriedade 9. Sejam A, B ∈ Mn ent˜ao et(A+B)
= etA
etB
∀ t ∈ R ⇔ AB = BA.
Demonstra¸c˜ao. ⇐).
Vale que (AB)k
= Ak
Bk
= Bk
Ak
etA
etB
= (
∞
k=0
tk
Ak
k!
)(
∞
k=0
tk
Bk
k!
) =
∞
k=0
cktk
onde
ck =
k
s=0
Ak−s
Bs
(k − s)!s!
=
k
s=0
k!
Ak−s
Bs
(k − s)!s!k!
=
k
s=0
k
s
Ak−s
Bs
k!
=
(A + B)k
k!
o bin˜omio de Newton pode ser aplicado pois A e B comutam, ent˜ao
etA
etB
=
∞
k=0
(A + B)k
k!
tk
= et(A+B)
.
⇐).
17. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 16
Supondo a igualdade, derivando de ambos lados temos
(A + B)et(A+B)
= AetA
etB
+ etA
BetB
derivando novamente
(A + B)(A + B)et(A+B)
= A2
etA
etB
+ AetA
BetB
+ AetA
BetB
+ etA
B2
etB
tomando t = 0 tem-se
(A + B)(A + B) = A2
+ AB + AB + B2
= A2
+ AB + BA + B2
⇒ AB = BA
como quer´ıamos demonstrar.
Propriedade 10. Vale que
||eA
−
p
k=0
Ak
k!
|| ≤ e||A||
−
p
k=0
||A||k
k!
≤ ||A||p+1
e||A||
,
p ∈ N e A ∈ Mn.
Demonstra¸c˜ao.
||eA
−
p
k=0
Ak
k!
|| = ||
∞
k=p+1
Ak
k!
|| ≤
∞
k=p+1
||A||k
k!
= e||A||
−
p
k=0
||A||k
k!
temos ainda que
∞
k=p+1
||A||k
k!
=
||A||p+1
(k + p + 1) · · · (k + 1)
∞
k=0
||A||k
k!
≤ ||A||p+1
e||A||
.
Corol´ario 7. Em especial no resultado anterior com p = 0 temos
||eA
− I|| ≤ e||A||
− I ≤ ||A||e||A||
,
caso p = 1
||eA
− I − A|| ≤ e||A||
− 1 − |A| ≤ ||A||2
e||A||
.
18. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 17
Propriedade 11. Seja x : R → Mn um caminho cont´ınuo de matrizes que
´e deriv´avel em 0 ∈ R, com X(0) = I e x(t + u) = x(t)x(u) ∀ t, u ∈ R ent˜ao x ´e
deriv´avel em R com x (t) = x (0)x(t).
Demonstra¸c˜ao.
Consideramos a express˜ao, com t ∈ R arbitr´ario fixo
x(t + h) − x(t) − x (0)x(t)h
h
=
usamos que x(t + h) = x(h + t) = x(h)x(t), substituindo tem-se
=
x(h)x(t) − x(t) − x (0)x(t)h
h
=
[x(h) − I]x(t) − x (0)x(t)h
h
=
=
[x(h) − I − x (0)(h)]
h
x(t) +
x (0)hx(t)
h
−
x (0)x(t)(h)
h
=
=
[x(h) − I − x (0)(h)]
h
x(t) → 0
quando h → 0 pois x(s) ´e deriv´avel em s = 0, ent˜ao vale realmente x (t) = x (0)x(t).
Propriedade 12. Dada A ∈ Mn, x(t) : R → Mn com x(t) = etA
vale que
x(t + u) = x(t)x(u) ∀ t, u ∈ R.
Demonstra¸c˜ao. Temos que
n
r=0
(tA)r
r!
n
s=0
(uA)s
s!
=
2n
k=0
ckAk
onde
ck =
k
s=0
ts
uk−s
(s)!(k − s)!(k − s)!
=
k
s=0
k
s
ts
uk−s
(k)!
=
(t + u)k
k!
onde essa express˜ao ´e dada pelo regra do produto de polinˆomios, ent˜ao
n
r=0
(tA)r
r!
n
s=0
(uA)s
s!
=
2n
k=0
(t + u)k
k!
Ak
com n → ∞ todos express˜oes com somat´orio convergem tomando o limite temos
∞
r=0
(tA)r
r!
∞
s=0
(uA)s
s!
=
∞
k=0
(t + u)k
k!
Ak
⇒
e(t+u)A
= etA
euA
.
19. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 18
Corol´ario 8. Em especial vale que
e(t+u)A
= etA
euA
= euA
etA
as express˜oes comutam, pois t + u = u + t.
Propriedade 13. Sejam A ∈ Mn, x0 ∈ Rn
, X : R → Mn com X(t) = etA
,
x : R → Rn
com x(t) = X(t)x0 = etA
x0, ent˜ao x e X s˜ao deriv´aveis e vale
d(etA
)
dt
= AetA
∈ Mn
d(etA
x0)
dt
= AetA
x0 ∈ Rn
.
Demonstra¸c˜ao. Dados A ∈ Mn e t ∈ R temos ||tA|| = |t| ||A||, temos por
desigualdade de exponencial que
|| etA
X(t)
− I
X(0)
− tA
A(t)
|| ≤
1
|t|
||tA||2
e||tA||
= |t| ||A||2
e|t| ||A||
≤ |t|||A||2
e||A||
com |t| < 1, onde usamos desigualdade que j´a demonstramos para exponencial. Dessa
desigualdade tem-se que X (0) = A por defini¸c˜ao de derivada. Como temos
X(t + u) = X(t)X(u)
tem-se que X(t) ´e deriv´avel valendo
X (t) = X (0)X(t) = AX(t)
por aplica¸c˜ao em x0 segue que x(t) = X(t)x0 ´e deriv´avel em R e x (t) = Ax(t).
Corol´ario 9. Se A ∈ Mn e x0 ∈ Rn
ent˜ao o caminho x(t) = etA
x0, t ∈ R define
a ´unica solu¸c˜ao de x = Ax com condi¸c˜ao inicial x(0) = x0.
20. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 19
Propriedade 14. Se A, B ∈ Mn tais que AB = BA ent˜ao eA+B
= eA
eB
.
Vejamos outra demonstra¸c˜ao dessa propriedade usando unicidade de solu¸c˜ao de
equa¸c˜ao diferencial.
Demonstra¸c˜ao. Como BA = AB ent˜ao B(tA) = (tA)B, da´ı por resultado que
j´a mostramos tem-se BetA
= etA
B. Fixamos x0 ∈ Rn
, definindo
x(t) = etA
etB
x0
a regra da derivada do produto garante que
x (t) = AetA
etB
x0 + etA
BetB
x0 = AetA
etB
x0 + BetA
etB
x0 = (A + B)x(t)
al´em disso x(0) = x0, logo x(t) ´e solu¸c˜ao de x = (A + B)x com condi¸c˜ao inicial
x(0) = x0, por´em et(A+B)
x0 ´e a ´unica solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao, disso segue
etA
etB
x0 = et(A+B)
x0
tomando t = 1 segue eA
eB
x0 = e(A+B)
x0, como x0 ´e arbitr´ario, os dois operadores
devem ser idˆenticos, por isso
eA+B
= eA
eB
.
Corol´ario 10.
eA
e−A
= eA−A
= e0
= I
ent˜ao eA
´e sempre invert´ıvel com inversa e−A
.
Exemplo 2. Mostre que se u n˜ao ´e autovalor de A ent˜ao a equa¸c˜ao x =
Ax + eut
b, possui uma solu¸c˜ao da forma φ(t) = veut
. Onde b ∈ Rn
, u, t reais, logo
eut
´e a exponencial real.
Substitu´ımos φ(t) = veut
na equa¸c˜ao diferencial para encontrar v.
uveut
= Aveut
+ eut
b ⇒ (u − A)veut
= eut
b ⇒ (u − A)v = b
como u n˜ao ´e autovalor de A, det(uI − A) = 0 logo uI − A ´e invert´ıvel v =
21. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 20
(uI − A)−1
b, ent˜ao realmente existe φ(t) = veut
solu¸c˜ao da equa¸c˜ao.
Propriedade 15. Seja V < Rn
, A-invariante. Ent˜ao V ´e etA
invariante para
qualquer t ∈ R fixo .
Demonstra¸c˜ao. Como V ´e A invariante e subespa¸co de Rn
, ent˜ao ´e invariante
por
tk
Ak
k!
e soma de aplica¸c˜oes desse operador, por isso ∀ n temos
n
k=0
(tA)k
k!
(v) ∈ V ∀ v ∈ V
como subespa¸cos vetoriais s˜ao fechados a propriedade se mant´em na passagem do
limite ∞
k=0
(tA)k
k!
(v) ∈ V ∀ v ∈ V.
Propriedade 16. Sejam A ∈ Mn, S ⊂ F(R, Rn
) espa¸co de todas as solu¸c˜oes
de x = Ax. Definimos T : S → Rn
com T(x) = x(0). Nessas condi¸c˜oes T ´e linear,
sobrejetora e injetora, portanto ´e um isomorfismo e da´ı dimS = n.
Demonstra¸c˜ao.
T ´e linear, pois sendo x1, x2 ∈ S, c ∈ R tem-se
T(cx1 + x2) = (cx1 + x2)(0) = cx1(0) + x2(0) = cT(x1) + T(x2).
T ´e sobrejetora pois dado x0 ∈ Rn
a equa¸c˜ao x = Ax com x(0) = x0 possui
solu¸c˜ao, por condi¸c˜ao de existˆencia, portanto existe x ∈ S tal que T(x) = x0 = x(0).
T ´e injetora, suponha que T(x) = T(y), x, y ∈ S ent˜ao x(0) = y(0) ambas sendo
solu¸c˜ao de z = Az, por unicidade de solu¸c˜ao segue que x = y, pois coincidem na
condi¸c˜ao inicial.
Disso conclu´ımos que T ´e isomorfismo ent˜ao dimS = n.
Propriedade 17. Sejam A ∈ Mn, (vk)n
1 base de Rn
, (sk)n
1 : R → Rn
as solu¸c˜oes
de x = Ax com sk(0) = vk, k ∈ In. Ent˜ao (sk)n
1 ´e LI em S ⊂ F(R, Rn
) (espa¸co das
22. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 21
solu¸c˜oes de x = Ax), qualquer solu¸c˜ao de x = Ax ´e combina¸c˜ao linear de (sk)n
1 .
Demonstra¸c˜ao. Temos que a transforma¸c˜ao T : S → Rn
com T(s) = s(0) ´e um
isomorfismo ent˜ao ela leva base de S em base de Rn
e sua inversa T−1
: Rn
→ S leva
base de Rn
em base de S, como a imagem de (sk)n
1 ´e (vk)n
1 base de Rn
, ent˜ao (sk)n
1 ´e
base de S. Por isso tal conjunto gera S, espa¸co das solu¸c˜oes sendo tamb´em LI.
Propriedade 18. Se A ´e idempotente, ent˜ao
eA
= I + (e − 1)A.
Demonstra¸c˜ao. A ´e idempotente, isto ´e, A2
= A, Ak
= A para k > 0 ent˜ao
eA
= I + A
∞
k=1
1
k!
= I + A(e − 1).
Exemplo 3. Dˆe exemplo de matrizes A e B tais que eA+B
= eA
eB
. Tomamos
matrizes que n˜ao comutam no produto.
A =
1 0
0 0
, B =
0 0
1 0
1 0
0 0
0 0
1 0
=
0 0
0 0
0 0
1 0
1 0
0 0
=
0 0
1 0
portanto elas n˜ao comutam. B ´e nilpotente com B2
= 0, ent˜ao
eB
=
1 0
1 1
= I + B.
A ´e idempotente A2
= A, ent˜ao
23. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 22
eA
= I + (e − 1)A =
e 0
0 1
A + B =
1 0
1 0
A + B ´e idempotente logo
eA+B
= I + (e − 1)(A + B) =
e 0
e − 1 1
por´em temos
eA
eB
=
e 0
0 1
1 0
1 1
=
e 0
1 1
= eA+B
.
Portanto n˜ao vale eA+B
= eA
eB
, neste caso.
Exemplo 4. Calcule a exponencial da matriz
a b
0 a
.
Escrevemos
a b
0 a
=
a 0
0 a
+
0 b
0 0
.
as duas matrizes comutam no produto, dando em qualquer ordem
0 ab
0 0
24. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 23
A =
0 b
0 0
satisfaz A2
= 0 ent˜ao
eA
=
1 0
0 1
+
0 b
0 0
=
1 b
0 1
a outra matriz possui exponencial
e
ea
0
0 ea
usando que eA+B
= eA
eB
quando A e B comutam, temos o resultado desejado
multiplicando as matrizes, resultando em
ea
bea
0 ea
.
Exemplo 5. Calcule a exponencial da matriz
a b
−b a
.
Separamos a matriz como a soma
a b
−b a
=
a 0
0 a
+
0 b
−b 0
sendo que as parcelas comutam (primeira chamamos de A, segunda de B)
0 b
−b 0
a 0
0 a
=
0 ab
−ab 0
=
a 0
0 a
0 b
−b 0
ent˜ao
eA+B
= eA
.eB
=
ea
0
0 ea
cos(b) sen(b)
−sen(b) cos(b)
=
25. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 24
= ea
cos(b) sen(b)
−sen(b) cos(b)
.
1.2.2 Autovalores com autovetores
Propriedade 19. Seja v ∈ Rn
um autovetor de A ∈ Mn com autovalor λ ∈ R
ent˜ao
x(t) = eλt
v, t ∈ R
´e a solu¸c˜ao de x = Ax com x(0) = v.
Demonstra¸c˜ao.
Derivamos x(t) = eλt
v, obtemos
x (t) = λeλt
v = eλt
λv = eλt
A = A(x(t))
al´em disso x(0) = eλ0
v = v que satisfaz a condi¸c˜ao inicial e a equa¸c˜ao diferencial
ent˜ao tal express˜ao fornece a solu¸c˜ao por unicidade.
Propriedade 20. Se v ∈ Rn
´e um autovetor de A ∈ Mn e x : R → Rn
´e
solu¸c˜ao de x = Ax tal que x(t ) ∈ {av ∈ Rn
|a ∈ R} = s(v), para algum t ∈ R
ent˜ao x(t) ∈ S(v) ∀ t ∈ R.
Demonstra¸c˜ao. Temos x(t ) = av para algum a real, x = Ax, a solu¸c˜ao de
tal equa¸c˜ao com condi¸c˜ao inicial ´e
x(t) = eλ(t−t )
av,
pois, derivando
x (t) = λeλ(t−t )
av = eλ(t−t )
aλv = eλ(t−t )
aAv = A(eλ(t−t )
av) = Ax(t),
al´em disso x(t ) = av, como a solu¸c˜ao ´e ´unica tem-se x(t) = eλ(t−t )
av ∈ S(v).
26. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 25
Exemplo 6. Em um sistema
x1(t)
x2(t)
=
a1,1 a1,2
a2,1 a2,2
x1(t)
x2(t)
x1(t) e x2(t) satisfazem equa¸c˜oes diferenciais lineares de ordem 2. Por exemplo
x1 satisfaz
x1 = (a1,1 + a2,2)x1 + (a1,2a2,1 + a2,2a1,1)x1.
Propriedade 21. Suponha que A ∈ Mn possui um autovalor real λ < 0
ent˜ao a equa¸c˜ao x = Ax possui pelo menos uma solu¸c˜ao x(t) n˜ao trivial tal que
lim
t→∞
x(t) = 0.
Demonstra¸c˜ao.
Seja v0 autovetor associado `a λ ent˜ao x = Ax, A(0) = v0 possui solu¸c˜ao da forma
x(t) = eλt
v0,
pois x(0) = v0 e derivando
x (t) = λeλt
v0 = eλt
λv0 = eλt
Av0 = A(eλt
v0) = Ax(t)
portanto ´e realmente solu¸c˜ao, ainda temos que lim
t→∞
eλt
v0 = 0 por domina¸c˜ao da
exponencial em cada coordena do vetor solu¸c˜ao.
Propriedade 22. Todas as solu¸c˜oes x(t) de x = Ax tendem a 0 ∈ Rn
quando
t → ∞ se A ∈ Mn ´e diagonal e todas suas entradas s˜ao negativas.
Demonstra¸c˜ao.
A equa¸c˜ao diferencial ´e da forma
x1(t)
...
xn(t)
=
−λ1 · · · 0
... · · · 0
0 · · · −λn
x1(t)
...
xn(t)
27. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 26
ent˜ao em cada coordenada temos xk(t) = −λkxk que possui solu¸c˜ao da forma
xk(t) = e−λkt
xk(0), com cada λk > 0, portanto cada coordenada tende a zero e da´ı
x(t) → 0.
Propriedade 23. Seja A ∈ Mn. Se λ ´e um autovalor de A associado `a v
ent˜ao eλ
´e um autovalor de eA
associado `a v.
Demonstra¸c˜ao. Sabemos que A(v) = λv, v = 0
eA
v = (
∞
k=0
Ak
k!
)v =
∞
k=0
Ak
v
k!
=
∞
k=0
λk
v
k!
= eλ
v
como quer´ıamos demonstrar.
Exemplo 7. Dˆe um exemplo de uma matriz A tal que eA
tenha algum
autovalor real negativo.
Seja A =
0 π
−π 0
, sua exponencial ´e
eA
=
cos(π) sen(π)
−sen(π) cos(π)
=
−1 0
0 −1
que possui autovalor −1, perceba que −1 = eiπ
, iπ ´e autovalor de A sobre C.
Propriedade 24. Seja A ∈ Mn tal que ||A − I|| < 1, ent˜ao A ´e invert´ıvel e
∞
k=0
(I − A)k
converge absolutamente para A−1
.
Demonstra¸c˜ao. Denotaremos b = ||A − I|| < 1
|x| = |I(x)| = |(I − A)x + A(x)| ≤ |(A − I)(x)| + |A(x)| ≤ ||A − I|||x| + |A(x)| ⇒
28. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 27
(1 − b)
>0
|x| < |A(x)|
1 − b > 0 pois b < 1. Portanto A(x) se anula ⇔ x = 0, A ´e injetora portanto
sobrejetora e bijetora (dimens˜ao finita).
A s´erie converge absolutamente pois ||I − A|| < 1 a norma dos termos da s´erie
converge por s´erie geom´etrica.
[(I − A) − I]
n−1
k=0
(I − A)k
=
n−1
k=0
[(I − A)k+1
− (I − A)k
] = (I − A)n
− I,
por soma telesc´opica, logo
A
n−1
k=0
(I − A)k
= I − (I − A)n
⇒ A
n−1
k=0
(I − A)k
− I = −(I − A)n
⇒
||A
n−1
k=0
(I − A)k
− I|| = ||(I − A)||n
→ 0
com n grande, ent˜ao
A
∞
k=0
(I − A)k
= I ⇒
∞
k=0
(I − A)k
= A−1
.
Propriedade 25. Se temos solu¸c˜ao y de y = By com y(0) = Q−1
x0 onde
x = Ax, AQBQ−1
ent˜ao temos a solu¸c˜ao de x = Ax com x(0) = x0 dada por
Qy(t).
Demonstra¸c˜ao. A solu¸c˜ao de x = Ax com x(0) = x0 ´e x(t) = eAt
x0 como
At = QBtQ−1
ent˜ao eAt
= QeBt
Q−1
de y(t) = eBt
y0 = eBt
Q−1
x0 multiplicando por Q
`a esquerda, tem-se
Qy(t) = (QeBt
Q−1
)
eAt
x0 = eAt
x0.
1.3 Solu¸c˜ao de sistemas lineares usando forma canˆonica
de Jordan
29. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 28
Propriedade 26. Sejam
B =
A1 · · · 0
... · · ·
...
0 · · · Am
onde cada Ak ´e um bloco, B ´e matriz diagonal em bloco, ent˜ao temos
eB
=
eA1
· · · 0
... · · ·
...
0 · · · eAm
a exponencial de uma matriz em blocos ´e obtida tomando a exponencial de
cada bloco ao longo da diagonal.
Demonstra¸c˜ao.
1.4 Teorema de Picard
Teorema 2 (Teorema de Picard). Considere o problema
X (t) = f(t, x)
x(t0) = x0
onde f ´e limitada, cont´ınua e Lipschitz na segunda vari´avel em Ia × Bb[x0] onde
Ia = [t0 − a, t0 + a],
Bb[x0] = {x ∈ Rn
| |x − x0| ≤ b}.
Ent˜ao existe uma ´unica solu¸c˜ao do problema em Iα onde α = min{a,
b
M
}, M ´e
tal que |f| ≤ M.
Demonstra¸c˜ao. Sabemos que o problema ´e equivalente a resolver a equa¸c˜ao
integral
x(t) = x0 +
t
t0
f(s, x(s))ds
30. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 29
logo podemos definir o operador L : C0(Iα, Bb) → C0(Iα, Bb)
por
L(ϕ) = x0 +
t
t0
f(s, ϕ(s))ds.
Logo nosso problema se reduz a encontrar um ponto fixo de L. Dado ϕ ∈ C0(Iα, Bb),
L(ϕ) ´e cont´ınua, verificaremos que L(ϕ) : Iα → Bb
|L(ϕ)(t) − x0| = |
t
t0
f(s, ϕ(s))ds| ≤ M|t − t0| ≤ Mα ≤ b.
Como C0(Iα, Bb) ´e completo, basta ver que para algum m, Lm
´e contra¸c˜ao.
Vamos provar que para t ∈ Iα, temos
|Ln
(ϕ1)(t) − Ln
(ϕ2)(t)| ≤
kn
|t − t0|n
n!
|ϕ1 − ϕ2|∞
lembrando que |ϕ1 − ϕ2|∞ = sup
t∈Iα
|ϕ1(t) − ϕ2(t)|. Provamos por indu¸c˜ao, para m = 0
vale a desigualdade pois equivale `a
|ϕ1(t) − ϕ2(t)| ≤ |ϕ1 − ϕ2|∞
suponha a validade para m ent˜ao, vamos provar para m + 1
|Lm+1
(ϕ1)(t) −m+1
L (ϕ2)(t)| = |L(Lm
(ϕ1))(t) − L(m
L (ϕ2))(t)|
substituindo pela integral temos
|
t
t0
f(s, Lm
(ϕ1)(s))ds −
t
t0
f(s, Lm
(ϕ2)(s))ds| ≤
t
t0
|f(s, Lm
(ϕ1)(s)) − f(s, Lm
(ϕ2)(s))|ds ≤
usando a condi¸c˜ao de Lipschitz na segunda vari´avel
≤
t
t0
k|Lm
(ϕ1)(s) − Lm
(ϕ2)(s)|ds ≤
usamos agora a hip´otese da indu¸c˜ao
≤ k
t
t0
km |s − t0|m
m!
|ϕ1 − ϕ2|∞ds =
km+1
m!
|ϕ1 − ϕ2|∞
t−t0
0
|s|m
ds ≤
31. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 30
≤
km+1
(m + 1)!
|ϕ1 − ϕ2|∞|t − t0|m+1
logo fica provado por indu¸c˜ao, al´em disso temos que
|Ln
(ϕ1)(t) − Ln
(ϕ2)(t)| ≤
kn
αn
n!
|ϕ1 − ϕ2|∞
pois α ´e o comprimento do intervalo, Lm
´e contra¸c˜ao para m suficientemente grande,
pois para m grande temos 0 <
kn
αn
n!
|ϕ1 −ϕ2|∞ < 1, portanto L possui um ´unico ponto
fixo e o resultado est´a provado.
Propriedade 27. Considere o problema de valor inicial y (t) = f(t, y(t)), y(t0) =
y0,. Suponha que f ´e uniformemente lipschitz em y (a constante de Lipschtiz in-
dependente de t) e cont´ınua em t. Ent˜ao, para algum valor de ε > 0, existe uma
´unica solu¸c˜ao y(t) do problema de valor inicial no intervalo [t0 − ε, t0 + ε].
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 28. Sejam Ω aberto em R × E, E ⊂ Rn
, aberto . f : Ω → E
cont´ınua com D2f cont´ınua para todo ponto (t0, x0) ∈ Ω existe uma vizinhan¸ca
V = I(t0) × B[x0] tal que x = f(t, x), x(t0) = x0 tem uma ´unica solu¸c˜ao em I(t0).
Al´em disso o gr´afico desta solu¸c˜ao est´a contido em V onde I(t0) ´e algum intervalo
centrado em t0 e B(x0) alguma bola de Rn
centrada em x0.
Demonstra¸c˜ao. Seja U uma vizinhan¸ca de (t0, x0) tal que f|U ´e lipschitziana
na segunda vari´avel e |f| ≤ M em U, pois a segunda derivada ´e cont´ınua em um
compacto logo a fun¸c˜ao ´e lipschitz na segunda vari´avel. Seja α > 0 suficientemente
pequeno tal que V = Iα(t0)×Bb[x0] ⊂ U, onde b = αM, com isso estamos na condi¸c˜ao
do teorema de Picard, o que implica solu¸c˜ao ´unica.
Teorema 3 (Teorema de Peano). Dada f cont´ınua e |f| < M em Ia[t0] × Bb[x0].
Nessas condi¸c˜oes existe pelo menos uma solu¸c˜ao de
x = f(t, x), x(t0) = x0
32. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 31
em Iα, onde α = min{a,
b
M
} (Nota¸c˜oes como no teorema de Picard).
Demonstra¸c˜ao. Como f ´e cont´ınua em Ia × Bb, existe uma sequˆencia (pn) de
fun¸c˜oes de classe c∞
que converge uniformemente para f. (Basta aplicar o teorema
de aproxima¸c˜ao de Weierstrass em cada coordenada).
Agora considere o problema
(1)
x = pn(t, x)
x(t0) = x0
para n grande |pn| ≤ M em Ia × Bb, (pn) ´e lipschitz, por ser C∞
em compacto.
Assim podemos aplicar o teorema de Picard, obtendo uma fam´ılia (ϕn) de solu¸c˜oes
do problema (1), temos que tal fam´ılia ´e uniformemente limitada pois
|ϕn(t) − x0| ≤ b∀ t ∈ Iα
e vale a equicontinuidade pois
|ϕn(t) − ϕn(t )| = |x0 +
t
t0
pn(s, ϕn(s))ds − x0 −
t
t0
pn(s, ϕn(s))ds| =
= |
t
t
pn(s, ϕn(s))ds| ≤
t
t
|pn(s, ϕn(s))|ds ≤ M|t − t |
para n maior que algum n0 ∈ N , perceba tamb´em que essa rela¸c˜ao n˜ao depende
de n, na condi¸c˜ao de n > n0, portanto temos equicontinuidade. Denotaremos a
subsequˆencia pela mesma nota¸c˜ao (ϕn).
Como temos a sequˆencia uniformemente limitada ( logo simplesmente limitada)
e equicont´ınua, podemos aplicar o teorema de Arzel´a-Ascoli, garantindo a existˆencia
de uma subsequˆencia uniformemente convergente em C([a, b], Bb) para uma fun¸c˜ao
ϕ.
Afirmamos que ϕ ´e uma solu¸c˜ao do problema original. De fato , para cada n ≥ n0
temos que
ϕn(t) = x0 +
t
t0
pn(s, ϕn(s))ds
sabemos que ϕn →u ϕ, queremos mostrar que temos convergˆencia para
ϕ(t) = x0 +
t
t0
f(s, ϕ(s))ds.
33. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 32
Para isso, iremos mostrar que pn(s, ϕn(s)) →u f(s, ϕ(s)).
|pn(s, ϕn(s)) − f(s, ϕ(s))| ≤ |pn(s, ϕn(s)) − f(s, ϕn(s))| + |f(s, ϕn(s)) − f(s, ϕ(s))| ≤
≤ |pn − f|∞
norma do sup
+|f(s, ϕn(s)) − f(s, ϕ(s))|
pela continuidade de f, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que se |(s1, x1) − (s2, x2)| < δ ⇒
|f(s1, x1) − f(s2, x2)| <
ε
2
, e dado tal δ > 0, existe n1 ∈ N tal que n ≥ n1
|ϕn(s) − ϕ(s)| ≤ δ ∀ s ∈ Iα
por convergˆencia uniforme de ϕn. Assim n ≥ n1 temos que
|f(s, ϕn(s)) − f(s, ϕ(s))| <
ε
2
por outro lado temos que existe n2 ∈ N tal que n ≥ n2 implica |pn − f|∞ <
ε
2
, logo
para n ≥ max{n1, n2} tem-se
|pn(s, ϕn(s)) − f(s, ϕ(s))| <
ε
2
+
ε
2
= ε
como quer´ıamos demonstrar.
1.5 Solu¸c˜oes m´aximas
Defini¸c˜ao 11 (Solu¸c˜ao m´axima). Uma solu¸c˜ao ϕ de
(1)
x = f(t, x)
x(t0) = x0
´e dita m´axima, definida em I , intervalo, chamado de intervalo m´aximo , se toda
solu¸c˜ao de (1), θ, definida em J com I ⊂ J e θ|I = ϕ implica que J = I. ϕ ´e m´axima
se n˜ao admite extens˜ao que tamb´em ´e solu¸c˜ao de (1).
34. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 33
Propriedade 29. Seja f cont´ınua em Ω ⊂ R×Rn
, tal que para todo (t0, x0) ∈
Ω exista uma ´unica solu¸c˜ao de x = f(t, x), x(t0) = x0. Definida em um intervalo
aberto I = I(t0, x0) (por exemplo se f ´e localmente lipschitz na segunda vari´avel
), ent˜ao para todo (t0, x0) ∈ Ω existe uma ´unica solu¸c˜ao ϕ = ϕ(t, t0, x0) de x =
f(t, x), x(t0) = x0, definida em um intervalo M(t0, x0) = (w−(t0, x0), w+(t0, x0))
tal que toda solu¸c˜ao ψ de x = f(t, x), x(t0) = x0 em I, satisfaz I ⊂ M(t0, x0) e
ψ = ϕ|I, isto ´e, a equa¸c˜ao diferencial possui uma solu¸c˜ao m´axima.
Demonstra¸c˜ao. Tomamos M(t0, x0) = Iψ onde Iψ ´e o intervalo de defini¸c˜ao
de alguma solu¸c˜ao ψ de x = f(t, x), x(t0) = x0. Perceba que isso implica que para
qualquer solu¸c˜ao ϕ temos ϕ(t0) = x0 logo elas sempre possuem algum ponto em
comum no dom´ınio.
Se t ∈ Iψ, definimos ϕ(t) = ψ(t), tal defini¸c˜ao n˜ao depende da ϕ usada, pois se
existem ψ1 e ψ2 que assumem mesmo valor para o mesmo t consideramos o conjunto
B = {t ∈ Iψ1
∩ Iψ2
| ψ1(t) = ψ2(t)}
que ´e fechado por ser (ψ1 −ψ2)−1
(0), imagem inversa de fechado por fun¸c˜ao cont´ınua
´e fechado. B ainda ´e aberto, pois para todo ponto t nele cont´em I(t , ψ1(t )) ∩ B ,
pela existˆencia e unicidade das solu¸c˜oes pois dado t ∈ B por hip´otese existe uma
´unica solu¸c˜ao de x = f(t, x), x(t ) = ϕ1(t ) = ϕ2(t ) logo existe um intervalo aberto
I com t no centro tal que ϕ1|I = ϕ2|I e I ⊂ B. Como Iψ1
∩ Iψ2 ´e conexo, por ser
intervalo B ´e um conjunto fechado e aberto em Iψ1
∩ Iψ2
, logo vale que
B = Iψ1
∩ Iψ2
.
Portanto a fun¸c˜ao est´a bem definida. A uni˜ao Iψ := M ´e um intervalo pois os
intervalos dos quais estamos tomando a uni˜ao Iψ s˜ao n˜ao disjuntos.
Sejam x, y em M com x < y, vamos mostrar que z tal que x < z < y tamb´em
pertence `a M. Caso x < y < t0 temos um intervalo Iψ1
com x ∈ Iψ1
mas t0 pertence a
todos esses intervalos, logo (x, t0) ∈ Iψ1
isso implica que z entre x e y tamb´em, neste
caso. Se temos t0 < x < y ent˜ao existe Iψ1
com (t0, y) ∈ Iψ2
logo z tamb´em.
O ´ultimo caso ´e x < t0 < y, temos x ∈ Iψ e y ∈ Iψ por´em t0 pertence a ambos
intervalos, logo ao primeiro est´a contido (x, t0] o segundo [t0, y) portanto (x, y) ⊂ M.
35. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 34
Disso segue que M ´e intervalo, por ser uni˜ao de abertos ´e um aberto, portanto M ´e
um intervalo aberto.
Propriedade 30 (Solu¸c˜ao escapa de compacto). Seja f : U ⊂ R × Rn
→ Rn
,
cont´ınua, U aberto e ϕ uma solu¸c˜ao maximal ´unica de x = f(t, x) definida em
(w−, w+) = M definimos g : M → U com g(t) = (t, ϕ(t)), nessas condi¸c˜oes
g(t) → ∂U (se aproxima da borda de U) quando t → w±. Dito de outro modo,
para todo compacto K ⊂ U, existe uma vizinhan¸ca V de w± tal que ∀ t ∈ V tem-se
g(t) /∈ K. A fun¸c˜ao escapa de compacto .
Demonstra¸c˜ao.
Suponha que exista K ⊂ U compacto e (tn) ∈ R tal que tn → w+ e g(tn) ∈
K ∀ n, com isso temos uma sequˆencia em um compacto, que possui subsequˆencia
convergente, passando a subsequˆencia convergente (mantendo a mesma nota¸c˜ao),
temos que
g(tn) = (tn, f(tn)) → (w+, x0)
onde x0 = lim f(tn) por defini¸c˜ao. Considere o problema
x = f(t, x), x(w+) = x0
pelo teorema de Peano, existe uma solu¸c˜ao de tal problema em Iα[w+] × Bb[x0],
considere V = Iα
3
[w+] × Bb
3
[x0] logo para qualquer (t0, x0) ∈ V, existe uma solu¸c˜ao
definida em Iα
2
[t0] × Bb
2
[x0] e como g(tn) → (w+, x0) ent˜ao para n grande g(tn) ∈ V .
Consideremos o problema
x = f(t, x), x(tn) = ϕ(tn)
pela observa¸c˜ao anterior existe uma solu¸c˜ao em Iα
2
[tn] × Bb
2
[ϕ(tn)], logo ϕ ´e prolon-
gada at´e
tn +
α
2
≥ (w+ −
α
2
) +
α
2
> w+
pois tn ∈ [w+ −
α
3
, w+ +
α
3
] o que gera contradi¸c˜ao pois (w−, w+) ´e intervalo maximal
de solu¸c˜oes.
36. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 35
Propriedade 31. Dada f : U ⊂ R × Rn
→ Rn
, cont´ınua, U aberto , f limitada.
Se w+ < ∞ e w− > −∞ temos que lim
t→w±
g(t) existe.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 32. Se U = Rn
e |f(x)| < c ∀ x ∈ Rn
ent˜ao Ix = R∀ x ∈ Rn
,
nas condi¸c˜oes da propriedade de escapar de compacto . Isto ´e, as equa¸c˜oes com
campo limitado possuem solu¸c˜ao maximal definida em toda reta.
Demonstra¸c˜ao. Suponha que w+(x) < ∞ para algum x ∈ R, como
|x − ϕt(x)| = |
t
0
f(ϕt(s))|ds ≤ ct ≤ c+(x)
disso resulta que para todo t ∈ [0, w+(x)] ϕt(x) est´a em Bcw+(x)[x]. O que contradiz a
propriedade de escapar de compacto, logo w+(x) = ∞ ∀ x ∈ Rn
do mesmo modo se
prova que w− = −∞ ∀ x ∈ Rn
.
Propriedade 33. Se ϕ ´e uma solu¸c˜ao de X = f(x) definida no intervalo
m´aximo I e ϕ(t1) = ϕ(t2) para t1 = t2 ent˜ao I = R e ϕ(t + c) = ϕ(t) ∀ t onde
c = t2 − t1, isto ´e, ϕ ´e peri´odica .
Demonstra¸c˜ao.
1.6 Classifica¸c˜ao de sistemas planares
Nesta se¸c˜ao trabalharemos em geral com equa¸c˜oes da forma x = Ax onde x : R →
R2
, caso contr´ario citaremos ao longo do texto.
Defini¸c˜ao 12 ( ´Orbita). A ´orbita de x : R → Rn
´e o conjunto
{(x1(t), x2(t), · · · , xn(t)), t ∈ R}
com t variando de −∞ at´e ∞, essa varia¸c˜ao ´e dita orienta¸c˜ao ou sentido do
37. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 36
percurso.
Corol´ario 11. Pela unicidade de solu¸c˜oes por cada ponto do espa¸co Rn
passa
uma ´unica ´orbita de x = Ax, A ∈ Mn.
Veremos a classifica¸c˜ao por casos.
Caso 1)
A possui dois autovalores reais distintos, λ1 < λ2, passamos a discuss˜ao para a
matriz diagonalizada, com equa¸c˜ao de solu¸c˜ao
x(t) = (l1eλ1t
, l2eλ2t
).
Caso 1a)
Ambos autovalores negativos. Consideramos a condi¸c˜ao inicial positiva em cada
coordenada. Temos que
lim
t→∞
x(t) = 0
lim
t→−∞
x(t) = ∞
pois cada coordenada apresenta tal comportamento.
Neste caso, um campo com esse comportamento ´e dito um atrator linear (as
solu¸c˜oes se aproximam de zero), que a origem ´e um po¸co ou um n´o est´avel.
As curvas definidas pelas solu¸c˜oes vˆem desde o infinito at´e a origem do plano.
Caso 1b)
Ambos autovalores positivos. Consideramos a condi¸c˜ao inicial positiva em cada
coordenada. o retrato de fase ´e como no caso anterior, trocando t po −t.
lim
t→∞
x(t) = ∞
lim
t→−∞
x(t) = 0.
O campo linear com esse comportamento ´e um repulsor linear, que a origem ´e
uma fonte (as solu¸c˜oes saem do ponto) ou n´o inst´avel .
38. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 37
1.6.1 Classifica¸c˜ao por conjuga¸c˜ao topol´ogica
Defini¸c˜ao 13 (Matriz hiperb´olica). A ∈ Mn ´e hiperb´olica se a parte real de
seus autovalores ´e n˜ao nula.
Defini¸c˜ao 14 (Atrator). Um retrato de fase de um sistema linear x = Ax ´e
Atrator se os autovalores de A possuem parte real negativa.
Defini¸c˜ao 15 (Atrator). Um retrato de fase de um sistema linear x = Ax ´e
Atrator se os autovalores de A possuem parte real negativa.
Defini¸c˜ao 16 (Repulsor). Um retrato de fase de um sistema linear x = Ax
´e repulsor se os autovalores de A possuem parte real positiva.
Defini¸c˜ao 17 (Sela). Um retrato de fase de um sistema linear x = Ax, A
de ordem 2 ´e sela se os autovalores de A possuem, um parte real positiva e outro
negativa.
Defini¸c˜ao 18 (Fluxo contrativo). O fluxo etA
de A ´e contrativo se existem
constantes positivas c e r tais que
|etA
| ≤ ce−rt
|x| ∀ t ≥ 0, x ∈ Rn
.
Propriedade 34. O fluxo de x = Ax ´e contrativo se todas as solu¸c˜oes
convergem para a origem uniforme e exponencialmente.
Demonstra¸c˜ao.
39. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 38
Propriedade 35. Seja A ∈ Mn um campo linear, s˜ao equivalentes
• A origem ´e um po¸co para A.
• A ´e um atrator .
• O fluxo de A ´e contrativo .
Para verificar que o fluxo de um campo linear em Rn
´e contrativo, basta veri-
ficar se todos os autovalores do campo possuem parte real negativa.
Demonstra¸c˜ao.
1.7 EDO e sistemas dinˆamicos
Defini¸c˜ao 19 (Difeomorfismos). F : U ⊂ Rn
→ Rn
´e um difeomorfismo de U
aberto em F(U) se F ´e deriv´avel e possui inversa deriv´avel.
Um C1
difeomorfismo ´e um difeomorfismo F : U ⊂ Rn
→ Rn
, tais que F −1
e F
s˜ao cont´ınuas, de maneira semelhante para Cn
difeomorfismo .
Defini¸c˜ao 20. Denotaremos o conjunto dos difeormorfismo de Rn
em Rn
por
Dif(n).
Propriedade 36. Dif(n) ´e um grupo com a composi¸c˜ao de aplica¸c˜oes.
Demonstra¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 21 (Sistema dinˆamico). Um sistema dinˆamico agindo em Rn
´e um
homomorfismo de grupos ϕ : R → Diff(n), isto ´e,
ϕ(t + s) = ϕ(t) ◦ ϕ(s).
40. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 39
A cada real associamos um difeomorfismo.
Defini¸c˜ao 22. Nas condi¸c˜oes da defini¸c˜ao anterior, dizemos que
{ϕ(t)}t∈R
´e um grupo a um parˆametro de difeomorfismos.
Propriedade 37. Dada A ∈ Mn, eAt
´e um difeomorfismo.
Demonstra¸c˜ao.
1.8 Dependˆencia das solu¸c˜oes em rela¸c˜ao as condi¸c˜oes
iniciais e parˆametros
Para o primeiro teorema usaremos um lema
♣ Lema 1. Seja (ϕn) equicont´ınua , pontualmente limitada, ϕn : X → R, X espa¸co
m´etrico compacto. Se toda subsequˆencia de (ϕn) uniformemente convergente possuir
o mesmo limite ϕ, ent˜ao ϕn →u ϕ
Demonstra¸c˜ao. Suponha que (ϕn) n˜ao converge uniformemente para ϕ ent˜ao
existem ε > 0 , (tk) em X e (ϕnk
) subsequˆencia de (ϕn) tal que
|ϕnk
(tk) − ϕ(tk)| ≥ ε.
(ϕnk
) ´e equicont´ınua e pontualente limitada, o teorema de Arzel´a-Ascoli implica que
(ϕnk
) possui subsequˆencia (ϕnp ) uniformemente convergente para ϕ , mas isso ´e um
absurdo pois
|ϕnp (tp) − ϕ(tp)| ≥ ε.
41. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 40
Propriedade 38. Sejam fn : Ω → Rm
, (fn) cont´ınua em Ω aberto de R × Rm
,
fn →u f0 em cada parte compacta de Ω, (tn, xn) sequˆencia em Ω com (tn, xn) →
(t0, x0), supondo que
x = fn(t0, x0), x(tn) = xn, n ∈ N,
possui uma ´unica solu¸c˜ao m´axima ϕn em In = (w−(n), w+(n)), seja [a, b] ⊂ I0 =
(w−(0), w+(0)) ent˜ao existe n0 = n0(a, b) tal que para n > n0, In ⊃ [a, b] e
ϕn|[a,b] →u ϕ0|[a,b].
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 39 (Continuidade nas condi¸c˜oes iniciais). Sejam f cont´ınua
em Ω aberto em R × Rn
× A ,A ´e um espa¸co euclidiano, para cada (t0, x0, λ) ∈ Ω
o problema com condi¸c˜oes iniciais
x = f(t, x, λ), x(t0) = x0
λ fixo, possua uma ´unica solu¸c˜ao
ϕ = ϕ(t, t0, x0, λ)
definida no seu intervalo m´aximo (w,w+), w± = w±(t0, x0, λ), ent˜ao
1.
D = {(t, t0, x0, λ) | (t0, x0, λ) ∈ Ω, t ∈ (w,w+)}
´e aberto em R × Ω
2. ϕ ´e cont´ınua em D.
Demonstra¸c˜ao.
♣ Lema 2 (Lema de Gronwall). Sejam u, v fun¸c˜oes cont´ınuas n˜ao negativas em
42. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 41
[a, b] tais que para α ≥ 0
u(t) ≤ α +
t
a
v(s)u(s)ds, t ∈ [a, b]
ent˜ao
u(t) ≤ αe
t
a v(s)ds
em especial se α = 0 ent˜ao u = 0.
Demonstra¸c˜ao. Se α > 0, seja w(t) = α +
t
a
v(s)u(s)ds, temos w(a) = α,
w(t) ≥ α > 0 pois integral de n˜ao negativas ´e n˜ao negativa, de
w (t) = v(t)u(t) ≤ v(t)w(t)
temos
w (t)
w(t)
≤ v(t)
aplicando
t
a
obtemos
ln(
w(t)
w(a)
α
) ≤
t
a
v(s)ds ⇒
w(t)
α
≤ e
t
a v(s)ds
⇒
u(t) ≤ w(t) ≤ αe
t
a v(s)ds
Propriedade 40. Seja K a constante de Lipschitz na segunda coordenada de
f (cont´ınua) , para t ∈ I(t0,x0) ∩ I(t0,y0) temos
|ϕ(t, t0, x0) − ϕ(t, t0, y0)| ≤ ek|t−t0|
|x0 − y0|
sendo ϕ(t, t0, x0) solu¸c˜ao de x (t) = f(t, x), x(t0) = x0.
Demonstra¸c˜ao. Sejam ϕ(t) = ϕ(t, t0, x0), ψ(t) = ψ(t) = ϕ(t, t0, y0), ent˜ao
ϕ(t) − ψ(t) = x0 − y0 +
t
t0
[f(s, ϕ(s) − f(s, ψ(s))]ds,
de onde segue por condi¸c˜ao de Lipschtiz e desigualdade de integral que
|ϕ(t) − ψ(t)| ≤ |x0 − y0| + |
t
t0
K|ϕ(s) − ψ(s)|ds|
43. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 42
se t ≥ t0 o resultado decorre do Lema de Gronwall com α = |x0 − y0|, u(t) =
|ϕ(t) − ψ(t)| e v(t) = K.
Se t ≤ t0, a propriedade resulta do Lema de Gronwall aplicado a x = −f(−t, x),
cuja solu¸c˜ao por (−t0, x0) ´e ψ(t, −t0, x0) (continuar depois n˜ao entendi a outra parte)
1.8.1 Diferenciabilidade
♣ Lema 3. Seja f cont´ınua em (a, b) × K onde K ´e um aberto convexo de Rn
.
Se f admite derivada parcial D2f cont´ınua em (a, b) × K ent˜ao existe uma fun¸c˜ao
h(a, b) × K × K → L(Rn
) cont´ınua tal que
1. h(t, x, x) = D2f(t, x), (t, x) ∈ (a, b) × K
2. f(t, x2) − f(t, x1) = h(t, x1, x2)(x2 − x1).
L(E) denota o espa¸co de aplica¸c˜oes lineares de E em E, isomorfo `a Rn
.
Demonstra¸c˜ao. Definimos
h(t, x1, x2) =
1
0
D2f(t, ux2 + (1 − u)x1)du
que ´e integr´avel pois D2f ´e cont´ınua, podemos tomar ux2+(1−u)x1 com u variando em
[0, 1] pois K, conjunto onde f toma a segunda coordenada ´e convexo . A continuidade
de h resulta da continuidade de D2f .Basta tomar a diferen¸ca das integrais e usar
continuidade de D2f. Existe δ1 > 0 tal que |(t − t , x1 − x1, x2 − x2)| < δ1 implica
|(t − t , ux2 + (1 − u)x1 − ux2 + (1 − u)x1)| < δ e por continuidade |D2f(t, ux2 + (1 −
u)x1) − D2f(t, ux2 + (1 − u)x1)| < ε da´ı
|h(t, x1, x2) − h(t, x1, x2)| ≤
1
0
|D2f(t, ux2 + (1 − u)x1) − D2f(t, ux2 + (1 − u)x1)|du ≤ ε
logo a fun¸c˜ao ´e cont´ınua.
1.
h(t, x, x) =
1
0
D2f(t, ux + (1 − u)x)du =
1
0
D2f(t, x)du = D2f(t, x)
como quer´ıamos demonstrar.
44. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 43
2. Pelo teorema fundamental do c´alculo temos
f(t, x2) − f(t, x1) =
1
0
d
du
[f(t, ux2 + (1 − u)x1)]du =
(por regra da cadeias(?) segue que)
=
1
0
D2f(t, ux2 + (1 − u)x1)(x2 − x1)du
como quer´ıamos mostrar.
Teorema 4 (Dependˆencia diferenci´avel com respeito as condi¸c˜oes iniciais).
Seja f : U ⊂ R × Rn
cont´ınua no aberto U, f(t, x), t ∈ R, x ∈ Rn
, diferenci´avel com
rela¸c˜ao `a vari´avel x, sendo
∂f
∂x
cont´ınua em U.
Como consequˆencia do teorema de Picard, temos que ∀ (t0, x0) ∈ U o problema
de Cauchy x = f(t, x), x(t0) = x0 admite uma ´unica solu¸c˜ao maximal ϕ =
ϕ(t, t0, x0) com t tomando valores em um intervalo maximal I(t0, x0). Seja D o
aberto (ver), tal que ϕ : D → U, ent˜ao existe e ´e cont´ınua a derivada ∂x0
ϕ(t, t0, x0),
∂x0
ϕ : D → L(Rn
). Al´em disso tal derivada ´e a solu¸c˜ao da seguinte equa¸c˜ao
diferencial ordin´aria matricial linear
Z =
∂f(t, ϕ(t, t0x0))
∂x
Z
Z(t0) = I Identidade n × n.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 41. Seja f cont´ınua em Ω aberto de R × Rn
× Rm
, com
D2f cont´ınua em Ω. Ent˜ao para λ fixo, a solu¸c˜ao ϕ = ϕ(t, t0, x0, λ) de x =
f(t, x, λ), x(t0) = x0 ´e ´unica e admite derivada parcial D3ϕ com rela¸c˜ao `a x0, a
aplica¸c˜ao µ com x(t, t0, x0, λ) = D3ϕ(t, t0, x0, λ) ´e cont´ınua no seu dom´ınio
D = {(t, t0, x0, λ) | (t0, x0, λ) ∈ Ω, w(t0, x0, λ) < t < w+(t0, x0, λ)}
45. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 44
e
x(t) = D3ϕ(t, t0, x0, λ)ek =
∂ϕ
∂xk
0
(t, t0, x0, x)
xk
0 para simbolizar k-´esima, para todo 1 ≤ k ≤ dimE sendo solu¸c˜ao de
x = J(t)x, x(t0) = ek
onde J(t) = J(t, t0, x0, λ) =2 f(t, ϕ(t, t0, x0, λ), λ).
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 42. Se al´em das hip´oteses do teorema anterior f ´e diferenci´avel
em rela¸c˜ao `a λ e D3f ´e cont´ınua em Ω, ent˜ao ϕ ´e diferenci´avel em rela¸c˜ao `a λ e
D4ϕ(ek) =
∂ϕ
∂λk ´e cont´ınua em D.
Al´em disso, x(t) =
∂ϕ
∂λk
(t, t0, x0, λ) ´e solu¸c˜ao de x = j(t)X + b(t), x(t0) = 0
onde
b(t) = B(t)ek
B(t) = D3f(t, ϕ(t, t0, x0, λ), λ).
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 43. Seja f cont´ınua em Ω aberto em R × Rn
× Rm
× Rp
, se
f(t, x, λ, µ) ´e diferenci´avel em rela¸c˜ao `a x, λ e D2f, D3f s˜ao cont´ınuas em Ω ent˜ao
para λ e µ fixos,
x = f(t, x, λ, µ), x(t0) = x0
possui solu¸c˜ao ´unica ϕ(t, t0, x0, λ, µ) diferenci´avel em rela¸c˜ao `a (t, x0, λ). As de-
rivadas D1ϕ, D3ϕ, D4ϕ, D1D3ϕ, D1D4ϕ s˜ao cont´ınuas em D.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 44. Seja f(t, x, λ, µ) cont´ınua em Ω ⊂ R × Rn
× Rm
× Rp
aberto,
com derivadas parciais de ordem ≤ w relativas `as coordenadas de (x, λ) cont´ınuas,
46. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 45
ent˜ao para λ, µ fixo
x = f(t, x, λ, µ), x(t0) = x0
possui solu¸c˜ao ´unica ϕ = ϕ(t, t0, x0, λ, µ), ϕ definida no aberto
D = {(t, t0, x0, λµ) | (t0, x0, λ, µ) ∈ Ω e w−(t, t0, x0, λ, µ) < t < w+(t0, x0, λ, µ)}
de R × Ω na qual admite todas derivadas parciais da forma
∂
s+
m
k=1
αk+
l
k=1
Bk
ϕ
∂ts
m
k=1
∂(xk
0)αk
l
k=1
∂(λk)Bk
cont´ınuas, com
m
k=1
αk +
l
k=1
Bk ≤ w, s ≤ 1.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 45. Seja f = f(t, x) de classe Cm
em Ω, ent˜ao ϕ = ϕ(t, t0, x0)
possui todas as derivadas parciais de ordem ≤ m com respeito as vari´aveis (t, x0)
cont´ınuas no aberto
D = {(t, t0, x0) | (t0, x0) ∈ Ω, w−(t0, x0) < t < w+(t0, x0)}.
Demonstra¸c˜ao.
1.9 Elementos da teoria qualitativa das equa¸c˜oes di-
ferenciais
1.9.1 Campos vetoriais e fluxos
Defini¸c˜ao 23 (Campo vetorial de classe Ck
). Seja U ⊂ Rn
aberto, um campo
47. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 46
vetorial de classe Ck
, 1 ≤ k ≤ ∞ em U ´e uma aplica¸c˜ao f : U → Rn
de classe Ck
ao qual associamos a equa¸c˜ao diferencial
x = f(x).
Defini¸c˜ao 24 (Trajet´orias-curvas integrais). As solu¸c˜oes ϕ : I → U (I inter-
valo aberto de R) de x = f(x), f campo vetorial de classe Ck
como na defini¸c˜ao
anterior, isto ´e,
dϕ(t)
dt
= f(ϕ(t)) ∀ t ∈ I
s˜ao chamadas de trajet´orias ou curvas integrais de f.
Neste caso o vetor velocidade de ϕ, ϕ (t) coincide com o valor do campo X
em ϕ(t).
Defini¸c˜ao 25 (Ponto singular). x ∈ U ´e dito ponto singular de f se f(x) = 0.
Defini¸c˜ao 26 (Ponto regular). x ∈ U ´e dito ponto regular de f se f(x) = 0.
Propriedade 46. Se x ´e ponto singular de f ent˜ao ϕ(t) = x ∀ t ∈ R ´e solu¸c˜ao
de x = f(x). Se ϕ(t) = x ∀ t ∈ R ´e solu¸c˜ao de x = f(x) ent˜ao x ´e ponto singular
de f .
Demonstra¸c˜ao. ⇒). Temos ϕ (t) = 0 e f(ϕ(t)) = f(x) = 0 portanto
ϕ (t) = f(ϕ(t))
´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial.
⇐).
Temos
ϕ (t) = f(ϕ(t)) = f(x)
por´em ϕ (t) = 0 portanto x ´e ponto singular de f.
48. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 47
Defini¸c˜ao 27 (Curva integral m´axima). Uma curva integral ϕ : I → U de f
chama-se m´axima, se para toda curva integral ψ : J → U com I ⊂ J e ϕ|I ent˜ao
I = J e da´ı ϕ = ψ.
Defini¸c˜ao 28 (Intervalo maximal). I na defini¸c˜ao anterior ´e chamado de
intervalo m´aximo ou maximal.
Propriedade 47. Valem as propriedades
1. Existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes maximais. Para cada x ∈ U existe um
intervalo aberto Ix onde est´a definida a ´unica solu¸c˜ao m´axima ϕx de x = f(x)
tal que ϕx(0) = x.
2. Propriedade de grupo . Se y = ϕx(t) e t ∈ Ix, ent˜ao
Iy = Ix − t = {r − t | r ∈ Ix}
e ϕy(s) = ϕx(t + s) ∀ s ∈ Iy.
3. Diferenciabilidade em rela¸c˜ao `as condi¸c˜oes iniciais. O conjunto
D = {(t, x) | x ∈ U, t ∈ Ix}
´e aberto em Rn+1
e a aplica¸c˜ao ϕ : D → Rn
com ϕ(t, x) = ϕx(t) ´e de classe
Cr
e
D1D2ϕ(t, x) = Df(ϕ(t, x)) ◦ D2ϕ(t, x) ∀ (t, x) ∈ D.
f sendo Cr
.
Demonstra¸c˜ao.
49. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 48
Defini¸c˜ao 29 (Fluxo gerado). ϕ : D → U chama-se fluxo gerador por f.
Tamb´em ´e chamado de fluxo local ou grupo local `a um parˆametro gerado por f .ϕ
satisfaz as rela¸c˜oes da propriedade anterior
ϕ(0, x) = x
ϕ(t + s, x) = ϕ(t, ϕ(s, x)).
1.9.2 Retrato de fase de um campo vetorial
Defini¸c˜ao 30 ( ´Orbita). O conjunto γp = {ϕ(t, p), t ∈ Ip} imagem da curva
integral de f pelo ponto p chama-se ´orbita de f pelo ponto p.
Propriedade 48. q ∈ γp ⇔ γq = γp, duas ´orbitas de f coincidem ou s˜ao
disjuntas, U dom´ınio do campo f fica decomposto numa uni˜ao disjunta de curvas
diferenci´aveis.
Demonstra¸c˜ao. (analisar) Usaremos que ϕ(t, ϕ(s, p)) = ϕ(t + s, p). ⇒). Se
q ∈ yp ent˜ao existe t1 ∈ Ip (intervalo de defini¸c˜ao de ϕ) tal que ϕ(t1, p) = q por outro
lado
ϕ(t, q) = ϕ(t, ϕ(t1, p)) = ϕ(t + t1, p)
logo todo ponto de yq que ´e da forma ϕ(t, q) ´e da forma ϕ(t + t1, p) que pertence `a
yp. Agora um um elemento de yp pode ser escrito como ϕ(t + t1, p) para t escolhido
que ´e igual `a ϕ(t1, q) portanto vale a outra inclus˜ao e os conjuntos s˜ao iguais.
⇐). A volta vale pois yp = yq os conjuntos s˜ao iguais.
Usando o resultado provado acima. Se t ∈ yp ∩ yq ent˜ao yp = yt e yq = yt da´ı
yp = yq, portanto as ´orbitas ou s˜ao disjuntas ou idˆenticas.
Defini¸c˜ao 31 (Retrato de fase). O retrato de fase de f : U ⊂ Rn
→ Rn
,
U aberto , f de classe Cr
, r ≥ 1 ´e o conjunto U decomposto pelas ´orbitas de f,
50. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 49
munido de orienta¸c˜ao da curva integral.
Propriedade 49. Toda curva integral ϕ de f : U ⊂ Rn
→ Rn
, U aberto , f de
classe Cr
, r ≥ 1, ϕ solu¸c˜ao m´axima de x = f(x) em I ´e de um dos seguintes tipos
1. ϕ ´e injetora, yp ´e homeomorfa a um intervalo de R.
2. I = R, ϕ ´e constante, nesse caso a ´orbita yp chama-se ponto singular ou
singularidade.
3. yp ´e difeomorfa a um c´ırculo ,ϕ ´e peri´odica, neste caso existe p1 > 0 tal
que ϕ(t + p1) = ϕ(t) ∀ t ∈ R e ϕ(t1) = ϕ(t2) se |t1 − t2| < p1, neste caso yp
chama-se ´orbita peri´odica ou fechada.
Quando as solu¸c˜oes s˜ao peri´odicas ou singulares ent˜ao (w−, w+) = R para as
outras solu¸c˜oes isto pode n˜ao acontecer.
Demonstra¸c˜ao.
1. Se ϕ ´e injetiva ent˜ao temos que a ´orbita ´e imagem pelo intervalo e temos o
primeira caso.
Suponhamos que existem t1 = t2 tal que ϕ(t1) = ϕ(t2) ent˜ao o intervalo m´aximo
´e (w−, w+) = R e para c = t2 − t1 temos ϕ(t) = ϕ(t + c) ∀ t ∈ R, definimos B = {s ∈
R | ϕ(t) = ϕ(t + s) ∀ t ∈ R}, B ´e subgrupo aditivo fechado de R. Sejam a, b ∈ B ent˜ao
a + b ∈ B pois
ϕ(t + a + b) = ϕ((t + a) + b) = ϕ(t + a) = ϕ(t) ∀ t ∈ R.
Se a ∈ B ent˜ao −a ∈ B pois
ϕ(t − a) = ϕ((t − a) + a) = ϕ(t) ∀ t ∈ R.
´E claro tamb´em pela defini¸c˜ao que 0 ∈ B e o grupo ´e associativo adi¸c˜ao . Temos
tamb´em propriedade de fechamento por limite pois se (an) ∈ B com an → a como
an ∈ B∀ n ent˜ao
ϕ(t + a) = ϕ(t + lim an) = lim ϕ(t + an) = lim ϕ(t) = ϕ(t) ∀ t ∈ R,
51. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 50
onde usamos continuidade da fun¸c˜ao ϕ para passar o limite para fora do argumento
da fun¸c˜ao . Um subgrupo aditivo de R ´e da forma kZ (m´ultiplos inteiros de uma cons-
tante) ou denso em R, se B for denso em R temos que a ´orbita ´e uma singularidade
por ϕ ser fechado, se B = kZ ent˜ao ϕ ´e peri´odica de per´ıodo k.
Exemplo 8. Seja f(x) = 1 + x2
com f(0) = 0, x = 1 + x2
, f ´e C1
a solu¸c˜ao ´e
dada por ϕ(t) = tg(t), I0 = (−
π
2
,
π
2
), ϕ ´e injetora, a ´orbita ´e homeomorfa a um
intervalo . Neste caso n˜ao temos a reta toda como intervalo maximal da solu¸c˜ao
.
Propriedade 50. Seja f um campo C1
em R com um n´umero finito de
singularidades, digamos a1 < a2 < · · · < an podemos tomar a0 = −∞, an+1 = ∞
consideramos os intervalos da forma (ak, ak+1) com extremos nos pontos onde f
se anula. f possui o mesmo sinal em cada (ak, ak+1) pois se mudasse de sinal
por continuidade possuiria raiz no intervalo, mas por hip´otese j´a contamos todas
as ra´ızes. Agora suponha que f possui sinal positivo em (ak, ak+1) a solu¸c˜ao de
x = f(x) ´e estritamente crescente no seu intervalo maximal I(x) = (w−, w+) nessas
condi¸c˜oes vale que
1. lim
t→W−(x)
ϕ(t, x) = ak.
2. lim
t→W+(x)
ϕ(t, x) = ak+1.
Demonstra¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 32 (Campos Cr
equivalentes). Dados f1 : U1 ⊂ Rn
→ Rn
e f2 :
U2 ⊂ Rn
→ Rn
, U1, U2 abertos e f1, f2 de classe Cr
, r ≥ 1, dizemos que f1 e f2 s˜ao
Cr
equivalentes se existe h : U1 → U2 difeomorfismo de classe Cr
preservando a
orienta¸c˜ao, com
h(y1(p)) = y2(h(p))
52. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 51
onde y1(p) ´e a ´orbita orientada de f1 passando por p, y2(h(p)) ´e a ´orbita orientada
de f2 passando por h(p). Neste caso h ´e chamado de equivalˆencia diferencial entre
f1 e f2.
Defini¸c˜ao 33 (Campos topologicamente equivalentes). Dados f1 : U1 ⊂ Rn
→
Rn
e f2 : U2 ⊂ Rn
→ Rn
, U1, U2 abertos e f1, f2 de classe Cr
, r ≥ 1, dizemos que
f1 e f2 s˜ao topologicamente equivalentes se existe h : U1 → U2 homeomorfismo
preservando a orienta¸c˜ao, com
h(y1(p)) = y2(h(p))
onde y1(p) ´e a ´orbita orientada de f1 passando por p, y2(h(p)) ´e a ´orbita orientada
de f2 passando por h(p). Nesse caso h ´e chamado de equivalˆencia topol´ogica f1 e
f2.
Defini¸c˜ao 34 (Topologicamente conjugado). Sejam ϕ1 : D1 → Rn
, ϕ2 : D2 →
Rn
fluxos gerados pelos campos f1 : U1 → Rn
, f2 : U2 → Rn
respectivamente. f1 ´e
topologicamente conjugado `a f2 quando existe um homeomorfismo h : U1 → U2
tal que
h(ϕ1(t, x)) = ϕ2(t, h(x)) ∀ (t, x) ∈ D1.
Tem-se necessariamente que I1(x) = I2(h(x)). Nesse caso h chama-se conjuga¸c˜ao
topol´ogica entre f1 e f2 .
Defini¸c˜ao 35 (Cr
- conjugado). Sejam ϕ1 : D1 → Rn
, ϕ2 : D2 → Rn
fluxos
gerados pelos campos f1 : U1 → Rn
, f2 : U2 → Rn
respectivamente. f1 ´e Cr
conjugado
`a f2 quando existe um difeomorfismo Cr
, h : U1 → U2 tal que
h(ϕ1(t, x)) = ϕ2(t, h(x)) ∀ (t, x) ∈ D1.
53. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 52
Tem-se necessariamente que I1(x) = I2(h(x)).Nesse caso h chama-se Cr
conjuga¸c˜ao
entre f1 e f2 .
Propriedade 51. As rela¸c˜oes de equivalˆencia Cr
, topol´ogica e de conjuga¸c˜ao
Cr
e topol´ogica s˜ao rela¸c˜oes de equivalˆencia. Campos Cr
conjugados e topologica-
mente conjugados s˜ao Cr
equivalentes e topologicamente equivalentes respectiva-
mente.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 52. Uma rela¸c˜ao de equivalˆencia h entre f1 e f2 levam pontos
singulares em pontos singulares e ´orbitas peri´odicas em ´orbitas peri´odicas. Se h
for uma conjuga¸c˜ao o per´ıodo das ´orbitas peri´odicas tamb´em ´e preservado.
Demonstra¸c˜ao.
Propriedade 53. Sejam f1U1 → Rn
e f2 : U2 → Rn
campos Cr
e h : U1 → U2
difeomorfismo de classe Cr
, ent˜ao h ´e uma conjuga¸c˜ao entre f1 e f2 ⇔
Dh(p)f1(p) = f2(h(p)) ∀ p ∈ U1.
Demonstra¸c˜ao.
⇐).
Sejam ϕ1 : D1 → U1 e ϕ2 : D2 → U2 os fluxos de f1 e f2 respectivamente, dados
p ∈ U1 seja ψ(t) = h(ϕ1(t, p)) I ∈ I1(p) ent˜ao ψ ´e solu¸c˜ao de x = f2(x) com condi¸c˜ao
inicial ψ(0) = h(ϕ1(0, p)) = h(p), pois derivando a fun¸c˜ao temos
ψ (t) = h (ϕ1(t, p)) ◦ ϕ1(t, p) = h (ϕ1(t, p)) ◦ f1(ϕ1(t, p)) =
= f2(h(ϕ1(t, p))) = f2(ψ(t))
por´em tal equa¸c˜ao x = f2(x) com ψ(0) = h(p) tamb´em ´e satisfeita por ϕ2(t, h(p)),
portanto vale
ϕ2(t, h(p)) = h(ϕ1(t, p))
54. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 53
e da´ı os campos s˜ao conjugados , a igualdade vale por unicidade de solu¸c˜oes.
⇒). Suponha que h seja uma conjuga¸c˜ao. Dado p ∈ U1 tem-se h(ϕ1(t, p)) =
ϕ2(t, h(p)), t ∈ Ip, derivando em rela¸c˜ao `a t tem-se
h (ϕ1(t, p))ϕ1(t, p) = ϕ2(t, h(p)) =
= Dh(ϕ1(t, p))f(ϕ1(t, p)) = f(ϕ2(t, h(p)))
tomando t = 0 tem-se
Dh(p)f(p) = f(h(p))
como quer´ıamos demonstrar.
Defini¸c˜ao 36 (Se¸c˜ao transversal). Sejam f : U → Rn
campo de classe Cr
, r ≥ 1,
U ⊂ Rn
e A ⊂ Rn−1
abertos. Uma aplica¸c˜ao g : A → U de classe Cr
chama-se
se¸c˜ao transversal local de f quando ∀ a ∈ A, Dg(a)(Rn−1
) e f(g(a)) geram Rn
. Seja
Σ = g(A) ⊂ U ⊂ Rn
com topologia induzida. Se f : A → Σ for um homeomorfismo
, diz-se que Σ ´e uma se¸c˜ao transversal de f.
Propriedade 54. Sejam p ∈ U n˜ao singular e {v1, · · · , vn−1, f(p)} uma base de
Rn
, Bδ(0) uma bola de Rn−1
, para δ suficientemente pequeno, g : Bδ(0) → U com
g(x1, · · · , xn−1) = p +
n−1
k=1
xkvk
´e uma se¸c˜ao transversal de f em p.
Demonstra¸c˜ao.
Teorema 5 (Teorema do fluxo tubular). Seja p um ponto n˜ao singular de
f : U → Rn
de classe C2
e g : A → Σ uma se¸c˜ao transversal local de f, g de classe
Cr
com g(0) = p, ent˜ao existe uma vizinhan¸ca V de p em U e um difeomorfismo
h : V → (−ε, ε) × B de classe Cr
onde ε > 0 e B = B(0) ´e uma bola aberta em Rn−1
de centro na origem 0 = g−1
(p) tal que
55. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 54
1. h(Σ ∩ V) = {0} × B
2. h ´e uma Cr
- conjuga¸c˜ao entre f|V e o campo constante Y : (−ε, ε) × B → Rn
,
Y = (1, 0, · · · , 0) ∈ Rn
.
Demonstra¸c˜ao. Sejam ϕ : D → U o fluxo de f, F : DA = {(t, u) | (t, g(w)) ∈
D} → U com F(t, u) = ϕ(t, g(u)). F aplica linhas paralelas em curvas integrais de
f. Vamos mostrar que F ´e um difeomorfismo local em 0 = (0, 0) ∈ R × Rn−1
, pelo
teorema da fun¸c˜ao inversa ´e suficiente provar que DF(0) ´e um isomorfismo. Temos
que
D1F(0) =
d
dt
ϕ(t, f(0))|t=0 = f(ϕ(0, p)) = f(p) = 0
e DjF(0) = Dj−1g(0) para todo j = 2 at´e j = n pois ϕ(0, g(u)) = ϕ(0, g(u)) =
g(u) ∀ u ∈ A. Portanto os vetores DjF(u), j = 1 at´e j = n geram Rn
e DF(0) ´e um
difeomorfismo pelo teorema da fun¸c˜ao inversa, que ainda garante a existˆencia de
ε > 0 e uma bola B em Rn−1
com centro em 0 tal que F|(−ε,ε)×B ´e um difeomorfismo
sobre o aberto V = F((−ε, ε) × B), seja h = (F|(−ε,ε)×B)−1
ent˜ao h(Σ ∩ V) = {0} × B pois
F(0, u) = g(u) ∈ Σ ∀ u ∈ B , isto prova 1). Por outro lado h−1
conjuga Y e f pois
Dh−1
(t, u) ◦ Y(t, u) = DF(t, u) ◦ (1, 0, · · · , 0) =
= D1F(t, u) = X(ϕ(t, g(u))) = X(F(t, u)) = X(h−1
(t, u)) ∀ (t, u) ∈ (−ε, ε) × B,
logo Y e f|V s˜ao conjugados pela condi¸c˜ao de conjuga¸c˜ao por derivada.
Propriedade 55. Seja Σ uma se¸c˜ao transversal de f, para todo p ∈ Σ existe
εp > 0, V vizinhan¸ca de p em Rn
e T : V → R de classe Ck
tais que T(V ∩ Σ) = 0 e
1. ∀ q ∈ V a curva integral ϕ(t, q) de f|V ´e definida e biun´ıvoca em Jq =
(−ε, +T(q), ε + T(q)).
2. n(q) = (ϕ(T(q), q)) ∈ Σ ´e o ´unico ponto onde ϕ(, q)|Jq intercepta a Σ em
particular q ∈ Σ ∩ V ⇔ T(q) = 0.
3. n : V → Σ ´e de classe Ck
e Dn(q) ´e sobrejetora para todo q ∈ V mais ainda
Dn(q)v = 0 ⇔ v = αf(q) para algum α ∈ R.
Demonstra¸c˜ao.
56. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 55
Defini¸c˜ao 37 (Ponto singular hiperb´olico). Um ponto p singular de um
campo f : U ⊂ Rn
→ Rn
de classe Cr
, r ≥ 1 ´e dito singular hiperb´olico se Dx(p) ´e
hiperb´olico, isto ´e, possui todos autovalores com parte real n˜ao nula.
Defini¸c˜ao 38 (´Indice de estabilidade de um ponto singular hiperb´olico).
Como na defini¸c˜ao anterior, p um ponto singular hiperb´olico do campo Cr
, f
possui ´ındice de estabilidade s se Dx(p) possui s autovalores com parte real
negativa.
Propriedade 56. Se X e Y s˜ao C2
conjugados por h ent˜ao se p ´e singular
hiperb´olico de X, h(p) = q ´e singular hiperb´olico de Y.
Demonstra¸c˜ao.
Usaremos que Y(h(p)) = Dh(p)X(p). Como P ´e singular de X ent˜ao
Y(q) = Y(h(p)) = Dh(p)X(p) X(p)
0
= 0
portanto q ´e ponto singular de Y. Temos que
Y(z) = Dh(h−1
(z))X(h−1
(z))
da´ı aplicando D e tomando z = q tem-se
DY(q) = D[Dh(h−1
(q))]X(h−1
(q)) + Dh(h−1
(q))D[X(h−1
(q))] =
onde aplicamos a regra da derivada do produto e agora aplicando a derivada da
composi¸c˜ao segue
= D2
h(h−1
(q))D h−1
(q)
p
X(h−1
(q)) + Dh(p)DX(h−1
(q))Dh−1
(q) =
= Dh(p)DX(h−1
(q))[Dh(p)]−1
onde usamos na ´ultima linha express˜ao de derivada do inverso.
57. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 56
Teorema 6 (Teorema de Hartman). Seja X : U ⊂ Rn
→ Rn
, U aberto, X
campo vetorial de classe C1
, p um ponto singular hiperb´olico de X, ent˜ao existe
uma vizinhan¸ca W de P em Rn
e uma vizinhan¸ca V de 0 em Rn
tal que X|W ´e
topologicamente conjugado `a Dx(p)|V.
Defini¸c˜ao 39 (Aplica¸c˜ao de Poincar´e). Sejam yp = {ϕ(t, p), t ∈ (0, t0)} ´orbita
peri´odica de per´ıodo t0 de um campo X de classe Cr
, r ≥ 1, definido em U ⊂ Rn
aberto, Σ uma se¸c˜ao transversal de X em p. Em virtude da continuidade do fluxo
ϕ de X , ∀ q ∈ Σ pr´oximo de p a trajet´oria ϕ(t, p) permanece pr´oxima `a yp com
t em um intervalo compacto pr´e fixado. Π(q) ´e o primeiro ponto em que a ´orbita
intercepta Σ. Temos por exemplo p ∈ Σ e Π(p) = p.
Dada uma vizinhan¸ca V do ponto ϕ(t, p) obtida pelo teorema do fluxo tubular,
pela dependˆencia cont´ınua de ϕ(t, p), temos que existe Σ0 vizinhan¸ca de p em Σ
tal que ϕ(t, Σ) ⊂ V ent˜ao podemos definir ΠΣ0 → Σ com Π(q) = n(ϕ(t, q)) onde
n : V → Σ com n(z) = ϕ(T(z), z) ´e a fun¸c˜ao Ck
dada na proposi¸c˜ao corol´ario do
Teorema do fluxo Tubular, ent˜ao
Π(q) = n(ϕ(t0, q)) = ϕ(T(ϕ(t0, q), ϕ(t0, q))) = ϕ(t0 + T(ϕ(t0, q), q))
a aplica¸c˜ao Π ´e Cr
por ser composi¸c˜ao de aplica¸c˜oes Cr
´e tamb´em um difeomor-
fismo Cr
. Π nessas condi¸c˜oes ´e a aplica¸c˜ao de Poincar´e. T : V → R ´e o tempo T(x)
que leva a ´orbita por X em V para interceptar Σ. Do teorema da fun¸c˜ao impl´ıcita
T ´e de classe Cr
.
A se¸c˜ao Σ ´e uma hiper superf´ıcie ou uma subvariedade diferenci´avel n − 1-
dimensional de U ⊂ Rn
. Pode-se supor que a variedade Σ ´e um disco de um
subespa¸co vetorial ou afim de Rn
. Π : Σ0 → Σ ´e um difeomorfismo de classe Cr
sobre sua imagem Σ1, como ϕ(t0, p) = p existe uma vizinhan¸ca Σ0 de p em Σ tal
que ϕ(t0, q) ∈ V ∀ q ∈ Σ0
58. CAP´ITULO 1. EQUA ¸C ˜OES DIFERENCIAIS ORDIN ´ARIAS 57
Defini¸c˜ao 40 (Atrator peri´odico ou orbitalmente est´avel). Uma ´orbita peri´odica
yp ´e dita orbitalmente est´avel (ou atrator peri´odico)se
lim
t→∞
d(ϕ(t, q), yp) = 0 ∀ q ∈ Vyp
, isto ´e a distˆancia tende a zero com o tempo para qualquer q numa vizinhan¸ca
de yp.