SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 91
A SEXUALIDADE NO
BRASIL COLONIAL
Mary Del Priore
Capítulo 1:
Da Colônia ao Império
O corpo, a Igreja e o pecado
Para enxergar como nossos antepassados se
relacionavam, precisamos olhar pelas “frestas dos
muros”, “das rachaduras das portas”.
 O Brasil na época da colonização era POBRE.
 Noção de intimidade (Séculos XVI e XVIII):
Fazer sexo, andar nu ou ter reações eróticas
eram práticas que correspondiam a ritos
estabelecidos pelo grupo no qual se estava
inserido. Regras, regulavam condutas. Leis
eram interiorizadas. O sentimento de
coletividade se sobrepunha ao de
individualidade.
 Diferentes noções de Pudor.
No início, era o Paraíso
 1500 – Pleno desabrochar do Renascimento na
Europa e chegada dos “alfacinhas” ao Brasil.
 1566 – A palavra “erótico” é dicionarizada na
França. É “o que tiver relação com o amor ou
proceder dele”.
 “Nu” na época da Colônia não era sinônimo de
erotismo.
 Para os portugueses e europeus em geral, a
nudez dos nativos americanos não era sinal de
sensualidade, mas sim de pureza.
 Para os portugueses, gordura e pelos eram
sinônimos de beleza. Logo, as índias “eram
pobres” nesse sentido.
 Além da magreza e da nudez, o retrato das
“americanas” ostentava também os ossos
daqueles que tinham sido devorados nos
banquetes antropofágicos.
 Daí as interpretações passaram da pureza
para a pobreza, em seguida, da pobreza para
o horror ... horror dessa gente que comia
gente.
 Desde o início da colonização lutou-se contra a
nudez e aquilo que ela representava.
 Padres jesuítas, como o Padre Manoel de
Nóbrega, mandaram buscar na Europa, tecidos
de algodão para vestir as crianças.
 Vestir o índio era afastá-lo do mal e do pecado.
 Queixa do Padre Anchieta: “além de andar
peladas, as indígenas não se negavam a
ninguém”.
 A associação entre nudez e luxúria provocavam
os castigos divinos.
Os seios
 Não eram vistos como sensuais, mas como
instrumento de trabalho de um sexo que devia
recolher-se ao pudor e a maternidade.
E depois, o Inferno
 A sexualidade, as funções corporais e a nudez.
Europeus x Nativos
“Os selvagens não tinham sido ungidos pela
graça divina”.
 E seria ofensivo colocar em dúvida o
comportamento cristão para seguir o exemplo
dos índios.
 Banhos: Nas civilizações antigas estava
associado ao prazer. Por diversas vezes
tentaram acabar com os “banhos bordeis”.
 Dessa forma, o banho era considerado coisa de
impuros, e ficou proibido aos religiosos, até a
Idade Média, e tiveram-se vestígios de
repressão do banho na Idade Moderna.
O Banho
 A sociedade brasileira se formou, portanto, com
a colaboração de quatro grupos básicos: índios,
colonizadores, negros e imigrantes. Os grupos
foram se misturando e cada um deixou uma
importante herança para a cultura brasileira.
Os missionários e as tentativas de
vestir os índios
“os índios da terra de ordinário andam nus e
quando muito vestem alguma roupa de
algodão ou de pano de baixo e nisto usam de
primores a seu modo, por que um dia saem
com gorro, carapuça ou chapéu na cabeça e o
mais nu. [...] e se vão passear somente com o
gorro na cabeça sem outra roupa e lhes
parece que vão assim mui galantes.”
- Padre Anchieta
O cheiro do Prazer
 Higiene associada ao prazer físico era inexistente;
 Segundo John Luccock os banhos frequentes não
eram nada apreciados pelos homens.
 Almíscar: secreção de forte odor extraída de uma
glândula animal.
 âmbar cinza: Em fresco tem cheiro fecal.
 Gregório de Matos e sua preferência peculiar ao
cheiro natural.
 Baltazar Dias e o pedaço de sabão.
Gregório de Matos
 Gregório de Matos Guerra - vulgo Boca do
Inferno.
- Nascimento: 23 de dezembro de 1636, Salvador,
Bahia (capitania da Baía, Brasil colonial).
- Morte: 26 de novembro de 1696, Recife,
Pernambuco (Capitania de Pernambuco, Brasil
colonial).
- Ocupação: Advogado e poeta.
Preferência do poeta Gregório de
Matos
“Lavai-vós quando o sujeis
E porque vos fique o ensaio
Depois de foder lavai-o
Mas antes não o laveis”
E ainda reclamava se lavassem
“Lavar a carne é desgraça
Em toda parte do Norte
Porque diz, que dessa sorte
Perde a carne o sal, a graça;
E se vós por essa traça
Lhes tirais o passarete
O sal, a graça, o cheirete,
Em pouco a duvida topa
Se me quereis dar a sopa
Daí-me com todo o sainete.”
Divórcio pelo mau cheiro
 Em São Paulo, na segunda metade do século
XVIII, Ana Luísa Meneses acusava o cônjuge
de “pitar tabaco de fumo”, que lhe conferia um
“terrível hálito que se faz insuportável a quem
dele participa”.
Deitar onde?
 “As casas têm em geral três ou quatro andares.
Internamente, essas residências são muito mal
mobiliadas, ainda que muitas delas tenham
quartos adornados com bonitas pinturas.”
 Questão da limpeza das casas e do lugar da
intimidade.
 Asseio e regras de civilidade:
“Os moradores da Colônia ainda estavam muito
próximos de comportamentos julgados
selvagens na Europa.”
Gregório de Matos
 “A uma mulher que se borrou na igreja em
quinta-feira de Endoenças.”
 “A uma mulher corpulenta que em noite de
Natal soltou um traque para chegar ao
confessionário.”
 Relato A Voyage to Conchinchina in the Years
of 1792 and 1793
Onde se esconde o desejo
 “Moura encantada”: tipo delicioso de mulher
morena de olhos pretos;
- Segundo Freyre, envolta em misticismo sexual –
sempre de encarnado, sempre penteando os
cabelos e banhando-se nos rios.
- Os europeus viam de inicio a moura encantada
nas indígenas.
 “O que mais se esconde mais se quer ver”.
 O pé como isca para o despertar do desejo.
 A mulher, perigosa por sua beleza e sexualidade.
“porém vendo sair d’entre o vestido
Um lascivo pezinho torneado”
Bocage
Querida serpente
 A mulher e o pecado
 Melhorar a aparência ou modificá-la era
pecado.
 Cuidados com a beleza e com a roupa
 Como tratar (ou se curar) do amor?!
O obscuro objeto de desejo
 A mulher afastada de seu corpo.
 A mulher demonizada.
“Porta do inferno e entrada do diabo, pela qual os
luxuriosos gulosos de seus mais ardentes e libidinosos
desejos descem ao inferno”.
 A mulher apenas como reprodutora.
 Renaldus Colombo e o “amor Veneris dulcedo
appeletur”.
A mulher descente
 As “descentes” costumavam depilar ou raspar
as partes pudendas para destituí-las de
qualquer valor erótico.
Menoridade física da mulher
 A vagina era considerada um pênis interior, o útero,
uma bolsa escrotal; os ovários, testículos.
 O útero e o saco escrotal, para Alberto Grande,
estava associado a bolsa:
- Masculino: bolsa com significado social e
econômico ( banqueiros, comerciantes);
- Feminino: bolsa com significado de espaço de
espera, imobilidade e gestação;
Um “animal” perigoso
 A mulher reduzida a sua bestialidade.
 Para Bernado Pereira, o útero era capaz de
deslocar-se no interior do corpo da mulher,
subindo até sua garganta e causando-lhe
asfixia.
 Características do útero.
“A mulher não pode viver sem o
homem.”
 A partir do momento que nascesse, sua vida
estaria para sempre subjugada ao homem.
Primeiro estava submissa ao pai que era seu
responsável e a preservava até seu casamento,
a partir daí, o marido ocupava o lugar, e ela
como mulher virtuosa, lhe devia obediência.
O prazer maldito
 “As fêmeas dos animais fogem dos machos tão
logo são fecundadas; o contrário acontece as
mulheres; pois elas os desejam para a
deleitação e não somente para a multiplicação
da espécie”.
 A mulher como ninho de pecados.
 Ao mesmo tempo desejada pelos homens. eram
repudiadas.
 Seu corpo como espaço impuro.
 Venenosa e traiçoeira.
Afrodisia ou como despertar o
apetite
 O prazer
 Gastronomia afrodisíaca
 Impotência sexual
 Necessidade do aumento de apetite sexual
Gastronomia afrodisíaca
 Sopas de testículos de ovelhas, omeletes de
testículos de galo, cebolas cruas, pinhões,
trufas, entre outros ingredientes encarregados
de estimular o desejo.
Remédios para os “Jogos de Amor”
 Garcia da Orta: Cronista que se dedicou ao
estudo da farmacopeia oriental.
Afrodisíacos:
• Cannabis sativa
• Ópio
• Bétel
 Guilherme Piso: Primeiro a registrar algumas
plantas afrodisíacas do Brasil.
• Bacopa
• Banana
• Amendoim
 O chocolate, por provocar excesso de calor,
foi condenado pela Igreja. Em seu lugar, surgiu
o café.
Pecados abaixo do Equador
“abaixo do equador não há pecado”
 “que nenhuma mulher, desejasse o lugar de
amante de seu marido”.
- Aristóteles
 Namoro de bufarinheiro: piscadelas de olho,
gestos recatados com as mãos e bocas para as
mulheres que estavam na janela.
 Namoro de escarrinho: ficava fungando como
quem estivesse resfriado, encostado na janela, se
ela o quisesse respondia com tosses, assoar de
nariz, e cuspes no chão.
Sedução ousada
 “chupar a língua”, “enfiar a língua na boca”.
 “pegar nos peitos” e “apalpar as partes
pudendas”.
Vocabulário sem pudor
• ALCATREIRA: bunduda
• ARREITAR: excitar
• BIMBA: pênis pequeno
• CRICA: vagina
• Cu: bunda
• PACHOCHO: genitália feminina
• PÍVIA: masturbação
• TROMBICAR: foder
• VIR-SE: gozar
• SESSO: ânus
“Tal fogo em mim senti, que de improviso
Sem nada lhe dizer me fui despindo
Te ficar nu em pelo, e o membro feito
[…]
Nise cheia de susto e casto pejo
Junto a mim sentou-se sem resolver-se
Eu mesmo a fui despindo, e fui tirando
Quanto cobria seu airoso corpo
Era feito de neve: os ombros altos
O colo branco, o cu roliço e branco
A barriga espaçosa, o cono estreito
O pentelho mui denso, escuro e liso
Coxas piramidais, pernas roliças
O pé pequeno… oh céus! Como és formosa”
- Bocage
 “ um levantar de saias, e abaixar de calças”
O sexo proibido
 Proibições durante o sexo
 O Beijo era controlado por sua “deleitação
natural e sensitiva”, sendo considerado “pecado
grave porque é tão indecente e perigoso”.
Casamento
 Jovens que se negaram a “consumar” o
casamento - Caso de Escolástica Garcia
 Como funcionava o casamento
“Vamos deitar”
 Racismo e machismo
- Gilberto Freyre: “branca pra casar, mulata pra
foder e nega pra trabalhar”.
 Degradação sexual
 Gregório de Matos
 Rituais de sedução dos afro-descendentes
 Palavras de origem banto e iorubá
Gregório de Matos
 “anca de vaca”, “peito derribado”, “horrível
odre”, “vaso atroz”, “puta canalha”.
Trecho de uma conversa, para
práticas sexuais
- UHÁMIMELAMHI: vamos deitar-nos
- NHIMÁDOMHÃ: eu não vou lá
- GUIDÁSUCAM: tu tens amigos? (machos)
- HUMDÁSUCAM: eu tenho amigos (macho)
- NHIMÁCÓHINHÍNUM: eu ainda não sei dos seus negócios
- NHITIMCAM: eu tenho hímen
- SÓHÁ MÁDÉNAUHE: dê cá que eu to tirarei
- GUIGÉROUME: tu me queres?
- GUITIM A SITÓH: vosmicê tem sua amiga (mulher)
- GUI HINHÓGAMPÈ GUÀSUHÉ: tu é mais formosa do que ela
(mulher)
Palavras de origem banto e iorubá
 Xodó: namorado, amante, paixão, amante
 Nozdo: amor e desejo
 Naborodô: fazer amor
 Caxuxa: nome afetuoso para mulher jovem
 Enxodozado: apaixonado
 Indumba: adulterio
 Kukungola: jovem solteira que perdeu a virgindade
 Dengue, candongo e handonga: bem-querer, benzinho,
amor
 Binga: homem chifrudo
 Huhádumi: venha me comer/foder
A recusa do prazer
 De um lado, os sentimentos, do outro, a
sexualidade.
 Cerimônias religiosas como ocasião de jovens
se encontrarem.
 Carta Pastoral de Dom Alexandre Marques,
de 1732: Proibia a entrada nas igrejas de
pessoas casadas e que estivessem
desacompanhadas de seu par.
 “Lugar de culto, lugar público, a igreja seria,
então, também um lugar de sedução e de
prazer. Onde, vez por outra, Deus dava lugar
ao Diabo.”
O diabo no confessionário
• O caso de Marciana Evangelha.
• Pe. Custódio Bernardo Fernandes e Catarina
Vitória de Jesus.
 Dificuldades da efetivação da Reforma
Católica
Gregório de Matos
“ o casado de enfadado
Por não ter a quem lhe aplique
Anda já tão desleixado
Que inda depois de deitado
Não faz senão o trique-trique”
----------------------------------------------------------------
“o amor é finalmente
Um embaraço de pernas
Uma união de barrigas
Um breve temor de artérias
Uma confusão de bocas
Uma batalha de veias,
Um rebuliço de ancas
Quem diz outra coisa é besta”
Ronaldo Vainfas
Capítulo 5:
O nefando e a colônia
“Os que se surpreendem na prática da sodomia são
obrigados a levar, por dois dias, o calçado preso ao
pescoço, punição que indica terem eles invertido a ordem
natural das coisas, pondo os pés sobre a cabeça.”
T. Campanella. A cidade do sol
Entre os atos e o caráter
 Michel Foucault em “A vontade de saber”:
Conceito de Homossexualismo.
 Distinção entre o sodomita e o homossexual
Sodomia - Origem
 Antigo Testamento – livro de Gênesis –
destruição de Sodoma.
 Visão do Cristianismo – a sodomia passou a
confundir-se a ideia de luxúria e a noção de
fornicação.
 Séculos XI e XII
 “Cura para a sodomia”
 Na crônica popular as mulheres eram tratadas por
“machos” se agissem como homens.
“soys e não soys dama”, “soys macho”. – Dom João de
Menezes (No Cancioneiro geral de Garcia de Resende)
“que rendidos homens queres / Que por amores te tomam?
Se és mulher, não para homem / E és homem para
mulheres?” – Gregório de Matos (“a uma dama que
mancheava outras mulheres”)
Da tolerância a hostilidade
 Séculos XV e XVI – os Estados europeus
reforçaram sua hostilidade jurídica contra os
culpados de sodomia.
 Punição dos nefandos em Portugal
 Caso de um padeiro da Valência moderna, acusado
de sodomia e que fora absolvido por falta de
provas.
“Guetos” nefandos, amores lésbicos
“A história da homossexualidade é muito mais do
que a história do sexo: ela revela atitudes e práticas
sociais, vínculos de amizade, emoções e desejos”.
(ALDRICH, 1983)
 Perseguição desigual
- A elite praticava a sodomia tão igual as classes
baixas.
 Moderna Sodoma e o “vicio italiano”
- Número menor de mortes por práticas de sodomia.
 Meios para diminuir a sodomia:
- ÓNESTA
- Tamburi
Homossexualidade nas elites
 França ( beau vice)
- Homossexualidade vista como um charme dos nobres
franceses.
- Confraria
- Artigo 4°
 Valencia, segundo Rafael Cardoso:
- guetos, com a própria linguagem.
 Portugal
- Onde D. Pedro amava seu escudeiro Afonso Madeira, mais
do que se tem registros.
- Lisboa: Se misturava a prostituição aberta.
 Guetos: Locais onde haviam grupos que se
concentravam por medo do castigo
eclesiástico.
“bordeis” homossexuais, por Luiz
Mott
 A casa do padre Santos de Almeida
 Padre Pedro Furtado
 Leigos ou clérigos, ostentavam nomes de
gênero oposto.
Homossexuais femininas
 Em Lisboa, 1574: duas freiras pegas pela
Inquisição por relações “quase nefandas”, a mais
velha dizia-se mãe da mais nova, e a dava o peito
“para mamar”.
 Benedetta Carlini de Vellano, seduziu sua
“escudeira” Bartolomea Crivelli, dizendo ser o anjo
Splenditello tocando em seus seios, beijando seu
pescoço e prometendo fidelidade eterna em “voz
celestial”.
Somítigos e fanchonos
 Brasil colônia – favorecia certa tolerância aos
homossexuais.
 Gilberto Freyre – era para “as mãos de indivíduos
bissexuais ou bissexualizados pela idade” que em geral
recaia os poderes e as funções de místicos ou
curandeiros (pajés).
 Fanchonos e somíticos tiveram que adaptar seus
amores a promiscuidade característica de toda a
Colônia.
Sociologia dos nefandos coloniais
 “não há galinhas que não ponha ovos, nem
criado que não fosse pra cometer sodomia”.
 22%: pertenciam a camada de homens livres
 15%: artesãos e trabalhadores livres
 3%: padres
 22%: autoridades, grandes mercadores, donos
de engenho...
Cor da pele
As práticas sodomitas não era raram entre
escravos.
 46%: brancos
 25%: negros
 14%: índios
 14%: mestiços, mulatos ou mamelucos
 Baltazar de Lomba, homem branco, 50 anos.
Mudou-se para a aldeia de guaramane, em
Pernambuco, em busca de aventuras nefandas
com os índios.
Idade
 De 65 rapazes (54%):
- 30 rapazes (25%) tinham menos de 20 anos;
 Não se pode chamar todos de nefandos ou
homossexuais.
 Haviam os mais velhos:
- acima de 25 anos até 50
- Desde meninos buscavam prazer em homens
 E os mais velhos ainda com mais de 50 anos
Acima de 50 anos
 Padre Frutoso, 68 anos, beijava, abraçava e
masturbava jovens de várias cores e idades.
Personagens, desejos e amores
 Travestis
 e os que não se travestiam
 Padres:
- O padre Furtado, conhecido como “dona Paula de
Lisboa” ainda em Portugal, seduziu um jovem de
23 anos, chamado Manuel de Brito, com quem
manteve cerca de 200 cópulas anais durante um
ano e meio, sendo sempre “paciente”(passivo). E
mais ainda dizia que seu ânus era vaso de mulher,
e o sangue que as vezes saia era menstruo.
Personagens singulares
 Francisco Congo,escravo de um sapateiro na
Bahia do século XVI, se travestia de mulher no
dia a dia e se recusava a usar roupas de homem
dada por seu senhor afirmando ser da cultura
de seu país.
 Antônio durante o dia, “negra vitoria” ao
anoitecer, se passava por prostituta, foi
denunciado por um cliente.
 Miguel Fonseca, cristão-novo, solteiro, praticava
o ato de forma violenta.
 João batista, 33 anos, judeu recém convertido
ao cristianismo, praticava o ato tanto com
homens quanto com mulheres negras.
 Salvador Romeiro, 45 anos, tinha pouco mais
de 20 anos quando casou com a mulata Ana
Fernandes, praticava a sodomia com outros
rapazes, foi denunciado e degredado, e
continuou a praticar. Se casou novamente.
- Processado novamente, só que agora, também
por bigamia.
 Luis Delgado, manteve atos nefandos enquanto
estava preso com o irmão de sua prometida. Ele
tinha 10 ou 12 anos, foi preso, e solto
novamente. Continuou a se relacionar com
rapazes. Era rico e casado.
O outro lado da sodomia: relações,
violências, miséria
 Mercador Fulgêncio Cardoso e Bartolomeu
Cardoso.
 Antônio e Bastião de Aguiar.
 As relações nefandas nada mais eram do que
desdobramentos de escravidão, do abuso de poder
e da miséria colonial.
Mulheres nefandas
 Poucos registros
- Brasil, 29 casos.
 Falta de interesse sobre a vida das mulheres
 Confissões do passado
Mulheres nefandas
 Madalena Pimentel, 46 anos, viúva de um
fazendeiro, admitiu ter vivido quando moça
“amizade tola e de pouco saber com outras moças
de sua mesma idade”, incluindo “contatos carnais”.
 Catarina Baroa, antes de se casar aos 15 anos,
estava sempre a namorar meninas de dez anos ou
menos. Relatado por Isabel Marques, com quem
Catarina manteve “namoricos”.
 Se relacionar com mulheres quando jovem não
significava que era lésbica.
 Praticamente todas se casavam com homens
no fim das contas.
O casamento e a preferência por
mulheres
 Maria de Lucena, mameluca, 25 anos, não era
mais virgem, iria se casar, apaixonada por
Magayda e Vitória. Ambas eram índias.
 Paula de Siqueira, 38 anos, casada, e sabia ler,
apaixonada pelo livro Diana, trocava beijos com
Felipa de Souza, e passaram um dia inteiro
praticando atos sexuais.
Felipa de Souza
 Marcante por “grande amor e afeição carnal que
sentia” pelas mulheres.
 Foi denunciada por grande parte de suas
amantes
 Recebeu a mais dura pena vista até então:
açoites e degredo perpétuo para fora da
capitania.
“O lesbianismo talvez fosse, na época, a única
saída para as mulheres saberem o que era o
amor não brutalizado.”
Bibliografia
 PRIORE, Mary Del. Da Colônia ao Império.
Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na
História do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil,
2011, p. 11-53.
 VAINFAS, Ronaldo. O nefando e a colônia.
Trópico dos Pecados: moral, sexualidade e
Inquisição no Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Campus, 1989, p. 191-241.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Sexualidade no Brasil Colonial

a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfa-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfFrankyleneBarros
 
A hereditariedade, a educação e o meio em os maias
A hereditariedade, a educação e o meio em os maiasA hereditariedade, a educação e o meio em os maias
A hereditariedade, a educação e o meio em os maiasMaria Rodrigues
 
Pombagira e as faces inconfessas do brasil reginaldo pra-
Pombagira e as faces inconfessas do brasil   reginaldo pra-Pombagira e as faces inconfessas do brasil   reginaldo pra-
Pombagira e as faces inconfessas do brasil reginaldo pra-Patrys Gen
 
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De AndradeO Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andradecatiasgs
 
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.Glauco Ricciele
 
Paper sobre Sincretismo Afro Brasileiro
Paper sobre Sincretismo Afro BrasileiroPaper sobre Sincretismo Afro Brasileiro
Paper sobre Sincretismo Afro BrasileiroEdson L
 
A Profecia em Cantares de Salomão
A Profecia em Cantares de SalomãoA Profecia em Cantares de Salomão
A Profecia em Cantares de Salomãowelingtonjh
 
Parábola do mau rico e lázaro
Parábola do mau rico e lázaroParábola do mau rico e lázaro
Parábola do mau rico e lázaroHelio Cruz
 

Semelhante a Sexualidade no Brasil Colonial (20)

O cortiço
O cortiçoO cortiço
O cortiço
 
Sexo e poder
Sexo e poderSexo e poder
Sexo e poder
 
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfa-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
 
Auto da Barca do Inferno 3ª A - 2011
Auto da Barca do Inferno     3ª  A  - 2011Auto da Barca do Inferno     3ª  A  - 2011
Auto da Barca do Inferno 3ª A - 2011
 
Auto da Barca do Inferno 3ª A - 2011
Auto da Barca do Inferno     3ª  A  - 2011Auto da Barca do Inferno     3ª  A  - 2011
Auto da Barca do Inferno 3ª A - 2011
 
Barroco 2011
Barroco 2011Barroco 2011
Barroco 2011
 
As mirongas-de-umbanda
As mirongas-de-umbandaAs mirongas-de-umbanda
As mirongas-de-umbanda
 
A hereditariedade, a educação e o meio em os maias
A hereditariedade, a educação e o meio em os maiasA hereditariedade, a educação e o meio em os maias
A hereditariedade, a educação e o meio em os maias
 
Pombagira e as faces inconfessas do brasil reginaldo pra-
Pombagira e as faces inconfessas do brasil   reginaldo pra-Pombagira e as faces inconfessas do brasil   reginaldo pra-
Pombagira e as faces inconfessas do brasil reginaldo pra-
 
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De AndradeO Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade
O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade
 
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.
Educação para as relações étnico-raciais e ensino de cultura Afro brasileira.
 
Antologia poética
Antologia poéticaAntologia poética
Antologia poética
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Ramatis umbanda
Ramatis umbandaRamatis umbanda
Ramatis umbanda
 
Biografia de Yvonne do Amaral Pereira
Biografia de Yvonne do Amaral PereiraBiografia de Yvonne do Amaral Pereira
Biografia de Yvonne do Amaral Pereira
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Falando de-axe
Falando de-axeFalando de-axe
Falando de-axe
 
Paper sobre Sincretismo Afro Brasileiro
Paper sobre Sincretismo Afro BrasileiroPaper sobre Sincretismo Afro Brasileiro
Paper sobre Sincretismo Afro Brasileiro
 
A Profecia em Cantares de Salomão
A Profecia em Cantares de SalomãoA Profecia em Cantares de Salomão
A Profecia em Cantares de Salomão
 
Parábola do mau rico e lázaro
Parábola do mau rico e lázaroParábola do mau rico e lázaro
Parábola do mau rico e lázaro
 

Mais de UNIFACIG

A Mulher nas MG
A Mulher nas MGA Mulher nas MG
A Mulher nas MGUNIFACIG
 
Sociologia
SociologiaSociologia
SociologiaUNIFACIG
 
Ditadura Militar
Ditadura MilitarDitadura Militar
Ditadura MilitarUNIFACIG
 
Brasil na Segunda Guerra Mundial
Brasil na Segunda Guerra MundialBrasil na Segunda Guerra Mundial
Brasil na Segunda Guerra MundialUNIFACIG
 
Os Clássicos da Política: Stuart Mill
Os Clássicos da Política: Stuart MillOs Clássicos da Política: Stuart Mill
Os Clássicos da Política: Stuart MillUNIFACIG
 
Educação no Período Militar
Educação no Período MilitarEducação no Período Militar
Educação no Período MilitarUNIFACIG
 

Mais de UNIFACIG (8)

A Mulher nas MG
A Mulher nas MGA Mulher nas MG
A Mulher nas MG
 
Sociologia
SociologiaSociologia
Sociologia
 
Libras
LibrasLibras
Libras
 
Enem
EnemEnem
Enem
 
Ditadura Militar
Ditadura MilitarDitadura Militar
Ditadura Militar
 
Brasil na Segunda Guerra Mundial
Brasil na Segunda Guerra MundialBrasil na Segunda Guerra Mundial
Brasil na Segunda Guerra Mundial
 
Os Clássicos da Política: Stuart Mill
Os Clássicos da Política: Stuart MillOs Clássicos da Política: Stuart Mill
Os Clássicos da Política: Stuart Mill
 
Educação no Período Militar
Educação no Período MilitarEducação no Período Militar
Educação no Período Militar
 

Último

Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memorialgrecchi
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 

Último (20)

Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 

Sexualidade no Brasil Colonial

  • 2.
  • 5. O corpo, a Igreja e o pecado Para enxergar como nossos antepassados se relacionavam, precisamos olhar pelas “frestas dos muros”, “das rachaduras das portas”.  O Brasil na época da colonização era POBRE.
  • 6.  Noção de intimidade (Séculos XVI e XVIII): Fazer sexo, andar nu ou ter reações eróticas eram práticas que correspondiam a ritos estabelecidos pelo grupo no qual se estava inserido. Regras, regulavam condutas. Leis eram interiorizadas. O sentimento de coletividade se sobrepunha ao de individualidade.
  • 8. No início, era o Paraíso  1500 – Pleno desabrochar do Renascimento na Europa e chegada dos “alfacinhas” ao Brasil.  1566 – A palavra “erótico” é dicionarizada na França. É “o que tiver relação com o amor ou proceder dele”.  “Nu” na época da Colônia não era sinônimo de erotismo.
  • 9.  Para os portugueses e europeus em geral, a nudez dos nativos americanos não era sinal de sensualidade, mas sim de pureza.  Para os portugueses, gordura e pelos eram sinônimos de beleza. Logo, as índias “eram pobres” nesse sentido.
  • 10.  Além da magreza e da nudez, o retrato das “americanas” ostentava também os ossos daqueles que tinham sido devorados nos banquetes antropofágicos.  Daí as interpretações passaram da pureza para a pobreza, em seguida, da pobreza para o horror ... horror dessa gente que comia gente.
  • 11.  Desde o início da colonização lutou-se contra a nudez e aquilo que ela representava.  Padres jesuítas, como o Padre Manoel de Nóbrega, mandaram buscar na Europa, tecidos de algodão para vestir as crianças.
  • 12.  Vestir o índio era afastá-lo do mal e do pecado.  Queixa do Padre Anchieta: “além de andar peladas, as indígenas não se negavam a ninguém”.  A associação entre nudez e luxúria provocavam os castigos divinos.
  • 13. Os seios  Não eram vistos como sensuais, mas como instrumento de trabalho de um sexo que devia recolher-se ao pudor e a maternidade.
  • 14. E depois, o Inferno  A sexualidade, as funções corporais e a nudez. Europeus x Nativos “Os selvagens não tinham sido ungidos pela graça divina”.  E seria ofensivo colocar em dúvida o comportamento cristão para seguir o exemplo dos índios.
  • 15.  Banhos: Nas civilizações antigas estava associado ao prazer. Por diversas vezes tentaram acabar com os “banhos bordeis”.  Dessa forma, o banho era considerado coisa de impuros, e ficou proibido aos religiosos, até a Idade Média, e tiveram-se vestígios de repressão do banho na Idade Moderna.
  • 16. O Banho  A sociedade brasileira se formou, portanto, com a colaboração de quatro grupos básicos: índios, colonizadores, negros e imigrantes. Os grupos foram se misturando e cada um deixou uma importante herança para a cultura brasileira.
  • 17. Os missionários e as tentativas de vestir os índios “os índios da terra de ordinário andam nus e quando muito vestem alguma roupa de algodão ou de pano de baixo e nisto usam de primores a seu modo, por que um dia saem com gorro, carapuça ou chapéu na cabeça e o mais nu. [...] e se vão passear somente com o gorro na cabeça sem outra roupa e lhes parece que vão assim mui galantes.” - Padre Anchieta
  • 18. O cheiro do Prazer  Higiene associada ao prazer físico era inexistente;  Segundo John Luccock os banhos frequentes não eram nada apreciados pelos homens.  Almíscar: secreção de forte odor extraída de uma glândula animal.  âmbar cinza: Em fresco tem cheiro fecal.  Gregório de Matos e sua preferência peculiar ao cheiro natural.  Baltazar Dias e o pedaço de sabão.
  • 19. Gregório de Matos  Gregório de Matos Guerra - vulgo Boca do Inferno. - Nascimento: 23 de dezembro de 1636, Salvador, Bahia (capitania da Baía, Brasil colonial). - Morte: 26 de novembro de 1696, Recife, Pernambuco (Capitania de Pernambuco, Brasil colonial). - Ocupação: Advogado e poeta.
  • 20. Preferência do poeta Gregório de Matos “Lavai-vós quando o sujeis E porque vos fique o ensaio Depois de foder lavai-o Mas antes não o laveis” E ainda reclamava se lavassem “Lavar a carne é desgraça Em toda parte do Norte Porque diz, que dessa sorte Perde a carne o sal, a graça; E se vós por essa traça Lhes tirais o passarete O sal, a graça, o cheirete, Em pouco a duvida topa Se me quereis dar a sopa Daí-me com todo o sainete.”
  • 21. Divórcio pelo mau cheiro  Em São Paulo, na segunda metade do século XVIII, Ana Luísa Meneses acusava o cônjuge de “pitar tabaco de fumo”, que lhe conferia um “terrível hálito que se faz insuportável a quem dele participa”.
  • 22. Deitar onde?  “As casas têm em geral três ou quatro andares. Internamente, essas residências são muito mal mobiliadas, ainda que muitas delas tenham quartos adornados com bonitas pinturas.”  Questão da limpeza das casas e do lugar da intimidade.
  • 23.  Asseio e regras de civilidade: “Os moradores da Colônia ainda estavam muito próximos de comportamentos julgados selvagens na Europa.”
  • 24. Gregório de Matos  “A uma mulher que se borrou na igreja em quinta-feira de Endoenças.”  “A uma mulher corpulenta que em noite de Natal soltou um traque para chegar ao confessionário.”
  • 25.  Relato A Voyage to Conchinchina in the Years of 1792 and 1793
  • 26. Onde se esconde o desejo  “Moura encantada”: tipo delicioso de mulher morena de olhos pretos; - Segundo Freyre, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado, sempre penteando os cabelos e banhando-se nos rios. - Os europeus viam de inicio a moura encantada nas indígenas.  “O que mais se esconde mais se quer ver”.  O pé como isca para o despertar do desejo.  A mulher, perigosa por sua beleza e sexualidade.
  • 27. “porém vendo sair d’entre o vestido Um lascivo pezinho torneado” Bocage
  • 28. Querida serpente  A mulher e o pecado  Melhorar a aparência ou modificá-la era pecado.  Cuidados com a beleza e com a roupa
  • 29.  Como tratar (ou se curar) do amor?!
  • 30. O obscuro objeto de desejo  A mulher afastada de seu corpo.  A mulher demonizada. “Porta do inferno e entrada do diabo, pela qual os luxuriosos gulosos de seus mais ardentes e libidinosos desejos descem ao inferno”.  A mulher apenas como reprodutora.  Renaldus Colombo e o “amor Veneris dulcedo appeletur”.
  • 31. A mulher descente  As “descentes” costumavam depilar ou raspar as partes pudendas para destituí-las de qualquer valor erótico.
  • 32. Menoridade física da mulher  A vagina era considerada um pênis interior, o útero, uma bolsa escrotal; os ovários, testículos.  O útero e o saco escrotal, para Alberto Grande, estava associado a bolsa: - Masculino: bolsa com significado social e econômico ( banqueiros, comerciantes); - Feminino: bolsa com significado de espaço de espera, imobilidade e gestação;
  • 33. Um “animal” perigoso  A mulher reduzida a sua bestialidade.  Para Bernado Pereira, o útero era capaz de deslocar-se no interior do corpo da mulher, subindo até sua garganta e causando-lhe asfixia.  Características do útero.
  • 34. “A mulher não pode viver sem o homem.”  A partir do momento que nascesse, sua vida estaria para sempre subjugada ao homem. Primeiro estava submissa ao pai que era seu responsável e a preservava até seu casamento, a partir daí, o marido ocupava o lugar, e ela como mulher virtuosa, lhe devia obediência.
  • 35. O prazer maldito  “As fêmeas dos animais fogem dos machos tão logo são fecundadas; o contrário acontece as mulheres; pois elas os desejam para a deleitação e não somente para a multiplicação da espécie”.
  • 36.  A mulher como ninho de pecados.  Ao mesmo tempo desejada pelos homens. eram repudiadas.  Seu corpo como espaço impuro.  Venenosa e traiçoeira.
  • 37. Afrodisia ou como despertar o apetite  O prazer  Gastronomia afrodisíaca  Impotência sexual  Necessidade do aumento de apetite sexual
  • 38. Gastronomia afrodisíaca  Sopas de testículos de ovelhas, omeletes de testículos de galo, cebolas cruas, pinhões, trufas, entre outros ingredientes encarregados de estimular o desejo.
  • 39. Remédios para os “Jogos de Amor”  Garcia da Orta: Cronista que se dedicou ao estudo da farmacopeia oriental. Afrodisíacos: • Cannabis sativa • Ópio • Bétel
  • 40.  Guilherme Piso: Primeiro a registrar algumas plantas afrodisíacas do Brasil. • Bacopa • Banana • Amendoim
  • 41.  O chocolate, por provocar excesso de calor, foi condenado pela Igreja. Em seu lugar, surgiu o café.
  • 42. Pecados abaixo do Equador “abaixo do equador não há pecado”  “que nenhuma mulher, desejasse o lugar de amante de seu marido”. - Aristóteles
  • 43.  Namoro de bufarinheiro: piscadelas de olho, gestos recatados com as mãos e bocas para as mulheres que estavam na janela.  Namoro de escarrinho: ficava fungando como quem estivesse resfriado, encostado na janela, se ela o quisesse respondia com tosses, assoar de nariz, e cuspes no chão.
  • 44. Sedução ousada  “chupar a língua”, “enfiar a língua na boca”.  “pegar nos peitos” e “apalpar as partes pudendas”.
  • 45. Vocabulário sem pudor • ALCATREIRA: bunduda • ARREITAR: excitar • BIMBA: pênis pequeno • CRICA: vagina • Cu: bunda • PACHOCHO: genitália feminina • PÍVIA: masturbação • TROMBICAR: foder • VIR-SE: gozar • SESSO: ânus
  • 46. “Tal fogo em mim senti, que de improviso Sem nada lhe dizer me fui despindo Te ficar nu em pelo, e o membro feito […] Nise cheia de susto e casto pejo Junto a mim sentou-se sem resolver-se Eu mesmo a fui despindo, e fui tirando Quanto cobria seu airoso corpo Era feito de neve: os ombros altos O colo branco, o cu roliço e branco A barriga espaçosa, o cono estreito O pentelho mui denso, escuro e liso Coxas piramidais, pernas roliças O pé pequeno… oh céus! Como és formosa” - Bocage
  • 47.  “ um levantar de saias, e abaixar de calças”
  • 48. O sexo proibido  Proibições durante o sexo  O Beijo era controlado por sua “deleitação natural e sensitiva”, sendo considerado “pecado grave porque é tão indecente e perigoso”.
  • 49. Casamento  Jovens que se negaram a “consumar” o casamento - Caso de Escolástica Garcia  Como funcionava o casamento
  • 50. “Vamos deitar”  Racismo e machismo - Gilberto Freyre: “branca pra casar, mulata pra foder e nega pra trabalhar”.  Degradação sexual  Gregório de Matos  Rituais de sedução dos afro-descendentes  Palavras de origem banto e iorubá
  • 51. Gregório de Matos  “anca de vaca”, “peito derribado”, “horrível odre”, “vaso atroz”, “puta canalha”.
  • 52. Trecho de uma conversa, para práticas sexuais - UHÁMIMELAMHI: vamos deitar-nos - NHIMÁDOMHÃ: eu não vou lá - GUIDÁSUCAM: tu tens amigos? (machos) - HUMDÁSUCAM: eu tenho amigos (macho) - NHIMÁCÓHINHÍNUM: eu ainda não sei dos seus negócios - NHITIMCAM: eu tenho hímen - SÓHÁ MÁDÉNAUHE: dê cá que eu to tirarei - GUIGÉROUME: tu me queres? - GUITIM A SITÓH: vosmicê tem sua amiga (mulher) - GUI HINHÓGAMPÈ GUÀSUHÉ: tu é mais formosa do que ela (mulher)
  • 53. Palavras de origem banto e iorubá  Xodó: namorado, amante, paixão, amante  Nozdo: amor e desejo  Naborodô: fazer amor  Caxuxa: nome afetuoso para mulher jovem  Enxodozado: apaixonado  Indumba: adulterio  Kukungola: jovem solteira que perdeu a virgindade  Dengue, candongo e handonga: bem-querer, benzinho, amor  Binga: homem chifrudo  Huhádumi: venha me comer/foder
  • 54. A recusa do prazer  De um lado, os sentimentos, do outro, a sexualidade.  Cerimônias religiosas como ocasião de jovens se encontrarem.  Carta Pastoral de Dom Alexandre Marques, de 1732: Proibia a entrada nas igrejas de pessoas casadas e que estivessem desacompanhadas de seu par.
  • 55.  “Lugar de culto, lugar público, a igreja seria, então, também um lugar de sedução e de prazer. Onde, vez por outra, Deus dava lugar ao Diabo.”
  • 56. O diabo no confessionário • O caso de Marciana Evangelha. • Pe. Custódio Bernardo Fernandes e Catarina Vitória de Jesus.  Dificuldades da efetivação da Reforma Católica
  • 57. Gregório de Matos “ o casado de enfadado Por não ter a quem lhe aplique Anda já tão desleixado Que inda depois de deitado Não faz senão o trique-trique” ---------------------------------------------------------------- “o amor é finalmente Um embaraço de pernas Uma união de barrigas Um breve temor de artérias Uma confusão de bocas Uma batalha de veias, Um rebuliço de ancas Quem diz outra coisa é besta”
  • 58.
  • 60. Capítulo 5: O nefando e a colônia
  • 61. “Os que se surpreendem na prática da sodomia são obrigados a levar, por dois dias, o calçado preso ao pescoço, punição que indica terem eles invertido a ordem natural das coisas, pondo os pés sobre a cabeça.” T. Campanella. A cidade do sol
  • 62. Entre os atos e o caráter  Michel Foucault em “A vontade de saber”: Conceito de Homossexualismo.  Distinção entre o sodomita e o homossexual
  • 63. Sodomia - Origem  Antigo Testamento – livro de Gênesis – destruição de Sodoma.
  • 64.  Visão do Cristianismo – a sodomia passou a confundir-se a ideia de luxúria e a noção de fornicação.  Séculos XI e XII  “Cura para a sodomia”
  • 65.  Na crônica popular as mulheres eram tratadas por “machos” se agissem como homens. “soys e não soys dama”, “soys macho”. – Dom João de Menezes (No Cancioneiro geral de Garcia de Resende) “que rendidos homens queres / Que por amores te tomam? Se és mulher, não para homem / E és homem para mulheres?” – Gregório de Matos (“a uma dama que mancheava outras mulheres”)
  • 66. Da tolerância a hostilidade  Séculos XV e XVI – os Estados europeus reforçaram sua hostilidade jurídica contra os culpados de sodomia.  Punição dos nefandos em Portugal  Caso de um padeiro da Valência moderna, acusado de sodomia e que fora absolvido por falta de provas.
  • 67. “Guetos” nefandos, amores lésbicos “A história da homossexualidade é muito mais do que a história do sexo: ela revela atitudes e práticas sociais, vínculos de amizade, emoções e desejos”. (ALDRICH, 1983)
  • 68.  Perseguição desigual - A elite praticava a sodomia tão igual as classes baixas.  Moderna Sodoma e o “vicio italiano” - Número menor de mortes por práticas de sodomia.  Meios para diminuir a sodomia: - ÓNESTA - Tamburi
  • 69. Homossexualidade nas elites  França ( beau vice) - Homossexualidade vista como um charme dos nobres franceses. - Confraria - Artigo 4°  Valencia, segundo Rafael Cardoso: - guetos, com a própria linguagem.  Portugal - Onde D. Pedro amava seu escudeiro Afonso Madeira, mais do que se tem registros. - Lisboa: Se misturava a prostituição aberta.
  • 70.  Guetos: Locais onde haviam grupos que se concentravam por medo do castigo eclesiástico.
  • 71. “bordeis” homossexuais, por Luiz Mott  A casa do padre Santos de Almeida  Padre Pedro Furtado  Leigos ou clérigos, ostentavam nomes de gênero oposto.
  • 72. Homossexuais femininas  Em Lisboa, 1574: duas freiras pegas pela Inquisição por relações “quase nefandas”, a mais velha dizia-se mãe da mais nova, e a dava o peito “para mamar”.  Benedetta Carlini de Vellano, seduziu sua “escudeira” Bartolomea Crivelli, dizendo ser o anjo Splenditello tocando em seus seios, beijando seu pescoço e prometendo fidelidade eterna em “voz celestial”.
  • 73. Somítigos e fanchonos  Brasil colônia – favorecia certa tolerância aos homossexuais.  Gilberto Freyre – era para “as mãos de indivíduos bissexuais ou bissexualizados pela idade” que em geral recaia os poderes e as funções de místicos ou curandeiros (pajés).  Fanchonos e somíticos tiveram que adaptar seus amores a promiscuidade característica de toda a Colônia.
  • 74. Sociologia dos nefandos coloniais  “não há galinhas que não ponha ovos, nem criado que não fosse pra cometer sodomia”.  22%: pertenciam a camada de homens livres  15%: artesãos e trabalhadores livres  3%: padres  22%: autoridades, grandes mercadores, donos de engenho...
  • 75. Cor da pele As práticas sodomitas não era raram entre escravos.  46%: brancos  25%: negros  14%: índios  14%: mestiços, mulatos ou mamelucos
  • 76.  Baltazar de Lomba, homem branco, 50 anos. Mudou-se para a aldeia de guaramane, em Pernambuco, em busca de aventuras nefandas com os índios.
  • 77. Idade  De 65 rapazes (54%): - 30 rapazes (25%) tinham menos de 20 anos;  Não se pode chamar todos de nefandos ou homossexuais.  Haviam os mais velhos: - acima de 25 anos até 50 - Desde meninos buscavam prazer em homens  E os mais velhos ainda com mais de 50 anos
  • 78. Acima de 50 anos  Padre Frutoso, 68 anos, beijava, abraçava e masturbava jovens de várias cores e idades.
  • 79. Personagens, desejos e amores  Travestis  e os que não se travestiam  Padres: - O padre Furtado, conhecido como “dona Paula de Lisboa” ainda em Portugal, seduziu um jovem de 23 anos, chamado Manuel de Brito, com quem manteve cerca de 200 cópulas anais durante um ano e meio, sendo sempre “paciente”(passivo). E mais ainda dizia que seu ânus era vaso de mulher, e o sangue que as vezes saia era menstruo.
  • 80. Personagens singulares  Francisco Congo,escravo de um sapateiro na Bahia do século XVI, se travestia de mulher no dia a dia e se recusava a usar roupas de homem dada por seu senhor afirmando ser da cultura de seu país.  Antônio durante o dia, “negra vitoria” ao anoitecer, se passava por prostituta, foi denunciado por um cliente.
  • 81.  Miguel Fonseca, cristão-novo, solteiro, praticava o ato de forma violenta.  João batista, 33 anos, judeu recém convertido ao cristianismo, praticava o ato tanto com homens quanto com mulheres negras.
  • 82.  Salvador Romeiro, 45 anos, tinha pouco mais de 20 anos quando casou com a mulata Ana Fernandes, praticava a sodomia com outros rapazes, foi denunciado e degredado, e continuou a praticar. Se casou novamente. - Processado novamente, só que agora, também por bigamia.
  • 83.  Luis Delgado, manteve atos nefandos enquanto estava preso com o irmão de sua prometida. Ele tinha 10 ou 12 anos, foi preso, e solto novamente. Continuou a se relacionar com rapazes. Era rico e casado.
  • 84. O outro lado da sodomia: relações, violências, miséria  Mercador Fulgêncio Cardoso e Bartolomeu Cardoso.  Antônio e Bastião de Aguiar.  As relações nefandas nada mais eram do que desdobramentos de escravidão, do abuso de poder e da miséria colonial.
  • 85. Mulheres nefandas  Poucos registros - Brasil, 29 casos.  Falta de interesse sobre a vida das mulheres  Confissões do passado
  • 86. Mulheres nefandas  Madalena Pimentel, 46 anos, viúva de um fazendeiro, admitiu ter vivido quando moça “amizade tola e de pouco saber com outras moças de sua mesma idade”, incluindo “contatos carnais”.  Catarina Baroa, antes de se casar aos 15 anos, estava sempre a namorar meninas de dez anos ou menos. Relatado por Isabel Marques, com quem Catarina manteve “namoricos”.
  • 87.  Se relacionar com mulheres quando jovem não significava que era lésbica.  Praticamente todas se casavam com homens no fim das contas.
  • 88. O casamento e a preferência por mulheres  Maria de Lucena, mameluca, 25 anos, não era mais virgem, iria se casar, apaixonada por Magayda e Vitória. Ambas eram índias.  Paula de Siqueira, 38 anos, casada, e sabia ler, apaixonada pelo livro Diana, trocava beijos com Felipa de Souza, e passaram um dia inteiro praticando atos sexuais.
  • 89. Felipa de Souza  Marcante por “grande amor e afeição carnal que sentia” pelas mulheres.  Foi denunciada por grande parte de suas amantes  Recebeu a mais dura pena vista até então: açoites e degredo perpétuo para fora da capitania.
  • 90. “O lesbianismo talvez fosse, na época, a única saída para as mulheres saberem o que era o amor não brutalizado.”
  • 91. Bibliografia  PRIORE, Mary Del. Da Colônia ao Império. Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011, p. 11-53.  VAINFAS, Ronaldo. O nefando e a colônia. Trópico dos Pecados: moral, sexualidade e Inquisição no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 191-241.