O documento discute os processos de integração e inclusão na educação. A integração envolve a inserção parcial de alunos com deficiência no ensino regular e especial, sem mudanças no sistema. Já a inclusão baseia-se na igualdade de direitos e requer que a escola se organize para atender a todos sem discriminação. Implementar a inclusão de fato é um desafio que exige mudança de paradigmas e gera inseguranças, mas é necessário para assegurar a todos o direito igualitário à educação.
2. Liberty Ensino
• Para uma maior compreensão das polêmicas que envolvem
a ideia dos processos de integração ao processo de inclusão,
Mantoan (2003, p. 22)sugere importantes reflexões que
podem favorecer uma melhor compreensão desses
paradigmas educacionais. A discussão sobre integração e
inclusão provocadúvidas devido aos significados
semelhantes, porém, ambos se referem à situações de
inserção no ensino regular de maneiras diferentes e se
divergem nos fundamentos teórico-metodológicos.Para
iniciar a discussão ela faz o seguinte registro sobre o
processo de integração escolar:
Os movimentosem favor da integração de crianças com
deficiência surgiu nos Países Nórdicos, em 1969, quando se
questionaram as práticas sociais e escolares de segregação. Sua
noção de base é o princípiode normalização,que não sendo
específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações
e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas,
sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade
ou inadaptação.
3. No processo de integraçãoescolar o aluno participadasatividadesescolares na sala de aula do ensino regular e tambémdo ensino de escolas especiais.Assim sendo, esse aluno transitano
sistemaescolar regular e especial, em todos os tipos de atendimento, ouseja, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante,sala de recursos, classes hospitalares,ensino domiciliare
outros.
Nestesentido, o aluno é submetidoa um processo parcialde inserção, pois o sistemasegrega quandooferece serviços educacionaisde forma diferenciadaparaalguns em lugares especiais,ou
seja, a escola não muda como um todo, mas os alunos precisamse deslocar, e mudarpara se adaptaremàsexigências de um sistemaque primapela homogeneizaçãoe nivelamentoda
aprendizagem.Assim sendo, o processo de integraçãotem por objetivo inserir um aluno ou um grupo de alunos, quejá foi anteriormente excluído.
O sistemade integraçãona escola denota situaçõesde seleção e discriminação,poisnem todos os alunos com deficiênciacabem nas turmasde ensino regular. Há, infelizmente,resistênciaspor
partede algumasescolas em aceitara presença de pessoasque possuem característicasmarcantes, sejam elas físicasou mentais.E a situaçãoé maisconstrangedora, ainda,quando a escola
nem se quer avalia as reaiscondições do aluno de participardasatividadescotidianasdoespaço educativo.Considerandoesta situação,percebe-se que a escola não muda, não avaliasuas
estruturas, não mexeno sistema que já se encontra enraizadoem ideiasinflexíveise rigidamenteregistradasnum modelo cultural que parece se apresentar resistentea mudanças.
Em situações onde a integraçãoescolar é o único caminhoquea escola adota,concebe-se uma proposta de trabalhomenos holística, pois os objetivos educacionaissão reduzidos para
compensaras dificuldadesde aprendizagem,os currículos são adaptadose asavaliaçõessão especiaislimitandoa capacidadede transgressãodos limitesindividuais,ou seja, é predeterminada
a quantidadedeconhecimentos que o aluno consegue aprender. Com base nesta afirmação, pode-seentenderque num sistemade ensino no qualnão se acreditana capacidadedoser
humanode ser maise de aprender semprefica clara a situaçãode exclusão.
A integração escolar pode ser entendida como o “especial na educação”, ou seja, a justaposição do ensino especial ao regular, ocasionando um inchaço, desta modalidade, pelo deslocamento de profissionais,
recursos, métodos e técnicas da educação especial às escolas regulares. (MANTOAN, 2003,p. 23)
4. A ideia acimarevela que o objetivoda integraçãoescolar se limita a inserir o aluno na escola regular sem mudançase aboliçãodos serviços segregados da educação especial.Além disso, essa
modalidadeexigeque o aluno é que se adapteàs exigências do sistemaque já encontra alojado.
No caso da inclusão escolar, o tratamentodasdiferençastem uma políticade organizaçãoque se baseia no princípioda igualdade.Esta no sentidode favorecer o direitoa ter direitos iguais.Pois a
ConstituiçãoFederal prescreve no seu Art. 5º que todos são iguaisperantea lei, sem distinçãode qualquernatureza, garantindo-seaos brasileirose aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidadedodireito à vida, à liberdade, à igualdade,à segurança e à propriedade.
O registro deste artigo é claro e objetivo no que se refere aos direitos de qualquer cidadãoter os mesmos direitos. Nestesentido, caberia a qualquerescola investirna organizaçãode seu sistema
de ensino pautadona ideia de inclusão. Sobre a questãoda inclusãoescolar, Mantoan(2003) tambémsugere uma importantecontribuiçãopara as escolas brasileiras,no momentoem que discute
conceitos, alternativas de melhoria da qualidadedo ensino e favorece um novo olhar sobre a questão da valorizaçãodas diferenças individuaisno espaço da sala de aula e na escola. Ela enfatiza
que para a escola ser inclusiva precisa partirde um bom projeto pedagógicoque começa pela reflexão.
Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiênciasanteriores da turma.Os alunos precisamde liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale
para os estudantes com deficiênciaou não. O processo de educaçãoinclusiva exige de fatomudançade paradigmaeducacional.Exige quechegue ao fim a subdivisãodo ensino especial e ensino
regular. Poisé direitode qualquerpessoa, ocupar um espaçona escola pública,e ou, na sociedade,seja em qualquertempoou espaço, considerandoas normativas instituídasem lei.
A partirdo momentoquese instauraa educaçãoinclusiva no meioeducativohaverá obstáculos reais a serem transpostos, pois os impactos da inclusão numa cultura já instaladapodem provocar
insegurança, insatisfação,medoe aversãoaoprocesso. Além disso, essa nova visãoinclusiva de trabalho vai abalara rotina da massificaçãodosprogramas prontos e indiscutíveisedas classes
especiaisnas escolas quepassarãoa não existirmais.Assim sendo, todas asturmas da escola inclusiva se constituirãoem espaços da diversidade.Espaçopara as trocas culturais, para o respeito à
capacidadedecada aluno para aprender dentro do seu tempo..
5. Tais afirmações podem gerar insegurança e até mesmo descrédito de alguns professores que não
acreditam neste modelo de educação. A educação inclusiva vai, com certeza, mexer com conceitos,
paradigmase culturas cristalizadas de que não é possível trabalhar na perspectiva da igualdade.
Mitler (2003) apud Cláudia Werneck que salienta com propriedade a seguinte contribuição “Traga
dúvidas e incertezas, doses de ansiedade, construa e desconstrua hipóteses, pois aí reside a base
do pensamento científico do novo século. Um século cansado de verdades, mas sedento de
caminhos.” Nessa reflexão presencia-se a emergência de mudanças, de posturas científicas e
complexas. O sujeito dessa sociedade atual não pode mais conviver com verdades prontas e
incontestáveis. É preciso caminhar parafrente em busca de novas ideias e resolução paraos
problemas que afligem.
A realidade atual requer mudança de antigos para novos paradigmas. A transição do processo de
integração e inclusão passa por momentos de desafios, incertezas, conflitos, medos e acima de
tudo insegurança de se lançar ao novo. Neste sentido, Mitler (2003) apud Morin (2000), que
sugere com pertinência a seguinte ideia que poderia servir de relação com essa transição de
processos:
Estamosnuma época em que temos um velho
paradigma, umvelho princípioque nos obriga a
disjuntar, a simplificar,a reduzir, a formalizarsem
poder comunicaraquiloque está disjuntoe sem
poder conceber os conjuntos ou a complexidadedo
real. Estamosnum período “entre doismundos”:
um queestá prestes a morrer, masque não
morreu ainda, e outro, que quer nascer, masque
não nasceu ainda.Estamosnuma grande confusão,
num desses períodos angustiantes,de nascimentos
que se assemelhamaos períodos de agonia, de
mortes.
6. A atualidade da era do conhecimento, da globalização e da complexidade imprime muitos desafios paraa escola. Sem contar a questão da diversidade cultural que a cada dia evolui com as novas
ideias, com as experiências e com as transformações que ocorrem na sociedade de maneira muito rápida. Toda essa mudança tende a provocar certa angústia nos professores que se sentem como
se estivessem sempre defasados diante da sala de aula. Mantoan (2003) apud Mitler (2000), salienta que os professores do ensino regular se consideram despreparados e incompetentes para
lidar com as diferenças nas salas de aula, especialmente, ao atendimento de alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esses
atendimentos e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos.
De acordo com a autora pode-se analisar que há por parte dos professores certa insegurança para lidar com situações que fogem da normalidade da prática comum do cotidiano. O fato dos
colegas especializados exagerar na excelência da sua prática acaba favorecendo aos professores da escola regular de ensino o sentimento de incompetência.
Vale a pena lembrar que mesmo a partir de alguns acontecimentos como seminários e congressos destinados a discutir a educação inclusiva percebe-se que a prática da inclusão total e irrestrita
é incipiente nas escolas regulares. Muitas tentativas de inclusão escolar se tornam experiências frustrantes devido a ações que não encontram novas alternativas de mudanças que favoreçam uma
real educação inclusiva.
A importância central em torno desta discussão está no fato de que a exclusão e a discriminação devem ser extintas da escola. Todos os alunos devem ter as mesmas chances de acesso aos
conhecimentos e às atividades realizadas pela escola. É preciso que se reconheça que a igualdade é direito de todos. Que a inclusão é dever da escola e que os profissionais que atuam no espaço
educativo reconheçam que as diferenças existem e que elas devem ser incluídas dentro da escola para favorecer a riqueza da multiplicidade cultural e dos princípios éticos da valorização humana.