O documento discute a inclusão escolar de alunos com deficiência no ensino regular. Ele define inclusão como um movimento mundial de luta pelos direitos das pessoas com deficiência e destaca que a inclusão só é possível quando há mudanças nas escolas para atender às necessidades de todos os alunos. Além disso, o texto resume pesquisas que apontam benefícios da inclusão tanto para alunos com deficiência quanto para os demais, como maior desenvolvimento social e acadêmico.
2. A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido
muito distorcido e um movimento muito polemizado
pelos mais diferentes segmentos educacionais e
sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda
ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou
menos severos no ensino regular nada mais é do que
garantir o direito de todos à educação - e assim diz a
Constituição !
Inovar não tem necessariamente o sentido do
inusitado. As grandes inovações estão, muitas vezes
na concretização do óbvio, do simples, do que é
possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para
que possa ser compreendido por todos e aceito sem
outras resistências, senão aquelas que dão brilho e
vigor ao debate das novidades.
3. UMA EDUCAÇÃO PARA
TODOS
O princípio democrático da educação para
todos só se evidencia nos sistemas educacionais
que se especializam em todos os alunos, não
apenas em alguns deles, os alunos com
deficiência. A inclusão, como conseqüência de
um ensino de qualidade para todos os alunos
provoca e exige da escola brasileira novos
posicionamentos e é um motivo a mais para que o
ensino se modernize e para que os professores
aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação
que implica num esforço de atualização e
reestruturação das condições atuais da maioria
de nossas escolas de nível básico.
4. O motivo que sustenta a luta pela inclusão
como uma nova perspectiva para as pessoas com
deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino
nas escolas públicas e privadas, de modo que se
tornem aptas para responder às necessidades de
cada um de seus alunos, de acordo com suas
especificidades, sem cair nas teias da educação
especial e suas modalidades de exclusão.
5. O sucesso da inclusão de alunos com
deficiência na escola regular decorre, portanto, das
possibilidades de se conseguir progressos
significativos desses alunos na escolaridade, por
meio da adequação das práticas pedagógicas à
diversidade dos aprendizes.
E só se consegue atingir esse sucesso,
quando a escola regular assume que as dificuldades
de alguns alunos, não são apenas deles, mas
resultam em grande parte do modo como o ensino é
ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada.
Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas
também as que são pobres, as que não vão às aulas
porque trabalham, as que pertencem a grupos
discriminados, as que de tanto repetir desistiram de
estudar.
6. A inclusão escolar visa reverter o percurso de
exclusão de qualquer natureza e ampliar as
possibilidades de inserção de crianças, jovens e
adultos em escolas regulares. O movimento
mundial por uma educação para todos vem se
fortalecendo, sobretudo, a partir das últimas
décadas.
7. A inclusão é um movimento mundial de luta das pessoas
com deficiências e seus familiares na busca dos seus
direitos e lugar na sociedade.
Mas o que é de fato a inclusão? O que leva as pessoas a
terem entendimentos e significados tão diferentes? Cabe
aqui tecer algumas reflexões, pois dessa forma estaremos
contribuindo para uma prática menos segregacionista e
menos preconceituosa.
O adjetivo ”inclusivo" é usado quando se busca qualidade
para todas as pessoas com ou sem deficiência.
8. O termo inclusão já trás implícito a idéia de
exclusão, pois só é possível incluir alguém que já foi
excluído. A inclusão está respaldada na dialética
inclusão/ exclusão, com a luta das minorias na defesa
dos seus direitos.
Para falar sobre inclusão escolar é preciso repensar o
sentido que se está atribuindo à educação, além de
atualizar nossas concepções e resignificar o processo de
construção de todo o indivíduo, compreendendo a
complexidade e amplitude que envolve essa temática.
9. A idéia de uma sociedade inclusiva se
fundamenta numa filosofia que reconhece e valoriza
a diversidade, como característica inerente à
constituição de qualquer sociedade. Partindo desse
principio e tendo como horizonte o cenário ético dos
Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se
garantir o acesso e a participação de todos, a todas
as oportunidades, independentemente das
peculiaridades de cada individuo.
10. O paradigma da inclusão vem ao longo dos
anos, buscando a não exclusão escolar e propondo
ações que garantam o acesso e permanência do
aluno com deficiência no ensino regular. No entanto,
o paradigma da segregação é forte e enraizado nas
escolas e com todas as dificuldades e desafios a
enfrentar, acabam por reforçar o desejo de mantê-
los em espaços especializados.
11. O Que deve ser feito para que a inclusão
aconteça ?
Mas temos que pensar que para que a
inclusão se efetue, não basta estar garantido na
legislação, mas demanda modificações profundas e
importantes no sistema de ensino. Essas mudanças
deverão levar em conta o contexto sócio.
econômico, além de serem gradativos, planejadas e
contínuas para garantir uma educação de ótima
qualidade
12. Portanto a inclusão depende de mudança de
valores da sociedade e a vivência de um novo
paradigma que não se faz com simples recomendações
técnicas, como se fossem receitas de bolo, mas com
reflexões dos professores, direções, pais, alunos e
comunidade. Contudo essa questão não é tão simples,
pois, devemos levar em conta as diferenças. Como
colocar no mesmo espaço demandas tão diferentes e
específicas se muitas vezes, nem a escola especial
consegue dar conta desse atendimento de forma
adequada, já que lá também temos demandas
diferentes?
13. Kunc (1992), fala sobre inclusão: "o principio
fundamental da educação inclusiva é a
valorização da diversidade e da comunidade
humana. Quando a educação inclusiva é
totalmente abraçada, nós abandonamos a idéia
de que as crianças devem se tornar normais para
contribuir para o mundo".
14. Temos que diferenciar a integração da inclusão,
na qual na primeira, tudo depende do aluno e ele é que
tem que se adaptar buscando alternativas para se
integrar, ao passo que na inclusão, o social deverá
modificar-se e preparar-se para receber o aluno com
deficiência.
A inclusão também passa por mudanças na constituição
psíquica do homem, para o entendimento do que é a
diversidade humana. Também é necessário considerar a
forma como nossa sociedade está organizada, onde o
acesso aos serviços é sempre dificultado pelos mais
variados motivos.
15. Jamais haverá inclusão se a sociedade se sentir
no direito de escolher quais os deficientes poderão ser
incluídos. É preciso que as pessoas falem por si
mesmas, pois sabem do que precisam, de suas
expectativas e dificuldades como qualquer cidadão. Mas
não basta ouvi-los, é necessário propor e desenvolver
ações que venham modificar e orientar as formas de se
pensar na própria inclusão.
16. Como se baseia a pedagogia da
inclusão?
A pedagogia de inclusão baseia-se em dois importantes
argumentos. Primeiramente, inclusão mostrou-se ser beneficial
para a educação de todos os alunos independente de suas
habilidades ou dificuldades. Pesquisas realizadas nos Estados
Unidos, revelaram que crianças em demanda por serviços
especiais de atendimento apresentaram um progresso acadêmico e
social maior que outras crianças com as mesmas necessidades de
serviços especiais mas educadas em salas de aula segregadas
(Snell, 1996; Downing, 1996; Hunt, et.al., 1994). Isso pode
justificar-se pela diversidade de pessoas e metodologias
educacionais existentes em sala de aula regulares, pela interação
social com crianças sem diagnóstico de necessidade especial, pela
possibilidade de construir ativamente conhecimentos, e pela
aceitação social e o conseqüente aumento da auto-estima das
crianças identificadas com "necessidades especiais".
17. O Que as Pesquisas Tem a Dizer sobre a
Inclusão de Alunos com "Necessidades
Especiais" nas Salas de Aula Regulares .
O resultados destas entrevistas apontaram para o
fato de que os alunos, antes educados em segregadas-especiais
salas de aulas, desenvolveram mais amizades na sala de aula
regular e construíram um círculo de amigos que os ajudavam e
ajudavam aos professores também na inclusão de todos os alunos
nas atividades da sala de aula. Downing, Eichinger e Williams
(1996) entrevistaram nove professores de educação regular e nove
professores de educação especial sobre a percepção deles dos
benefícios de inclusão para todos os alunos. Os professores neste
estudo afirmaram que o ambiente rico em situações de
aprendizagem característico das salas de aula regulares
possibilitaram os alunos com profundo retardamento mental a
construírem comportamentos socialmente apropriados, a fazerem
amizades com as crianças normalmente educadas em classes
regulares e a desenvolverem habilidades de participação ativa em
atividades escolares.
18. Na Perspectiva do Aluno:
York et al. (1992) entrevistaram alunos de
quarta e quinta séries que tinham colegas com
"necessidades especiais" nas suas salas de aula.
Esses alunos afirmaram que em um ano os alunos
com "necessidades especiais" tinham se tornado
mais sociais, mais comunicativos e tinham reduzido
significantemente os comportamentos considerados
inapropriados para a cooperativa participação na
sala de aula regular, como por exemplo balançar o
corpo ou as mão ou fazer sons e ruídos
19. Na Perspectiva dos Pais:
Davern (1994) entrevistou vinte e um pais de alunos com
profunda e leve deficiência que estavam sendo educados em
classes regulares. Estes pais reportaram que os benefícios da
inclusão dos seus filhos eram visíveis na comunicação e
sociabilidade ques eles passaram a demonstrar. Os pais neste
estudo também disseram que se sentiram muito mais
encorajados pela escola à participar da educação de seus filhos
quando estes foram incluídos em salas de aulas regulares. Em
um outro estudo desenvolvido por Ryndack e seus colegas
(1995) entrevistas com treze pais de alunos com profunda física-
motora e mental deficiências educados em classes regulares,
indicaram que estes alunos desenvolveram habilidades sociais,
acadêmicas e comunicativas, como também um senso de auto-
aceitação e auto-valorização.
20. Todos estes estudos nos mostram que inclusão é possível e que inclusão
aumenta as possibilidades dos indivíduos identificados com necessidades
especiais de estabelecer significativos laços de amizade, de desenvolverem-se
físico e cognitivamente e de serem membros ativos na construção de
conhecimentos. Portanto, a pergunta inicial deste texto -"Por que Inclusão?" -
pode ser respondida simplesmente desta forma: "Porque inclusão
funciona." O principal ponto da pedagogia de inclusão é que todas os indivíduos
podem aprender uma vez que nós professores identificamos o quê estes
indivíduos sabem, planejamos em torno deste prévio conhecimento, e
conhecemos o estilo de aprender e as necessidades individuais dos
nossos alunos. Todos os alunos podem se beneficiar das metodologias de
inclusão e todos podem descobrir juntos que existem diferentes ingredientes para
diferentes bôlos. Escolas devem se torna um lugar de aprendizagem para todos.
Nós não podemos nos dar ao luxo de criar currículos e programas educacionais
que somente favorecem uma parcela privilegiada da sociedade, seja em termos
econômicos ou em termos de abilidades físicas e cognitivas. Nós precisamos ter
currículos e programas que proporcionem uma educação de qualidade para todos.
Aos educadores devem ser dados os instrumentos necessários para que eles
possam ver a todos os alunos, incluindo os alunos com deficiência, com um
potencial ilimitado de aprender.
21. A inclusão escolar só será viável se
o professor e toda sociedade mudarem
seu jeito de lidar com as diferenças, via
aceitação de forma relacionais de
afetividade, de escuta e compreensão,
suspendo juízos de valores como pena
,repulsa e descrença . Uma mudança
como desejo interior, por que algo
anterior nos diz que vale a pena mudar.
Só assim teremos a verdadeira inclusão
escolar aquele em que devemos viver
juntos o conviver.
22. "Inclusãoé sair das escolas dos
diferentes e promover a escola das
diferenças"(Mantoan)