O documento analisa os desafios enfrentados por assistentes sociais e psicólogas em um Núcleo Psicossocial em Rondônia. As profissionais enfrentam altos volumes de trabalho e processos burocráticos que dificultam o trabalho interdisciplinar. Elas desejam mais tempo para planejamento de atividades e discussão de casos, mas falta estrutura para isso.
Semelhante a ENTRE TRAMAS E DRAMAS: o fazer, o pensar e o sentir de Assistentes Sociais e Psicólogas de um núcleo psicossocial em uma cidade de Rondônia
Semelhante a ENTRE TRAMAS E DRAMAS: o fazer, o pensar e o sentir de Assistentes Sociais e Psicólogas de um núcleo psicossocial em uma cidade de Rondônia (20)
ENTRE TRAMAS E DRAMAS: o fazer, o pensar e o sentir de Assistentes Sociais e Psicólogas de um núcleo psicossocial em uma cidade de Rondônia
1. ENTRE TRAMAS E DRAMAS: O FAZER, O
PENSAR E O SENTIR DE ASSISTENTES SOCIAIS E
PSICÓLOGAS DE UM NÚCLEO PSICOSSOCIAL EM UMA
CIDADE DE RONDÔNIA
Acadêmico: Locimar Massalai
Orientadora: Profª. Msc. Dalva Felipe de Oliveira.
6. DA FINALIDADE
Analisar os desafios enfrentados pelas assistentes
sociais e psicólogas no Núcleo Psicossocial para
trabalhar na perspectiva da interdisciplinaridade.
7. Questão Norteadora
A presença das assistentes
sociais e psicólogas
juntamente com seus
paradigmas no organograma
e na estrutura do fórum é
suficiente para caracterizar-
se como um trabalho
interdisciplinar junto aos
usuários?
8. APROXIMAÇÃO COM A REALIDADE
Método de procedimento: estudo de caso (Yin, 2005).
Técnica de coleta de dados: Observação participante (
Haguette, 1987) e Entrevista semi-estruturada
(Negrine, 1991).
Método de análise: análise de conteúdo (Bardin,
2009).
9. BASE TEÓRICA
Foucault (1985; 1987; 1997; 2002; 2009)
– discurso, verdade e poder.
O discurso nada mais é do que a reverberação de uma
verdade nascendo diante de seus próprios olhos, quando
tudo pode, enfim, tomar a forma do discurso, quando tudo
pode ser dito e o discurso pode ser dito a propósito de tudo,
isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado e
intercambiado seu sentido, podem voltar à interioridade
silêncio da consciência de si (FOUCAULT, 2002, p.19).
Todo sistema de educação é uma maneira política de
manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com
os saberes e os poderes que eles trazem consigo
(FOUCAULT, 2002, p.5)
10. BOURDIEU (2004) – VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
A violência simbólica se funda na fabricação
contínua de crenças no processo de
socialização, que induzem o indivíduo a se
posicionar no espaço social seguindo critérios
e padrões do discurso dominante. Devido a
este conhecimento do discurso dominante, a
violência simbólica é manifestação deste
conhecimento através do reconhecimento da
legitimidade deste discurso dominante.
11. BASES CONCEITUAIS
Interdisciplinaridade: Fazenda (1993;1996;2008)
A interdisciplinaridade na formação profissional requer
competências relativas às formas de intervenção solicitadas
e às condições que concorrerem para o seu melhor
exercício. Neste caso, o desenvolvimento das
competências necessárias requer a conjugação de
diferentes saberes disciplinares. Entenda-se por saberes
disciplinares: saberes da experiência, saberes técnicos e
saberes teóricos interagindo de forma dinâmica sem
nenhuma linearidade ou hierarquização que subjugue os
profissionais participantes (FAZENDA, 2008, p.23).
12. HILTON JAPIASSU (1976; 1990; 1992).
Japiassu (1976 e 1992) ressalta que a
interdisciplinaridade é algo a ser vivido,
enquanto atitude de espírito. Tal atitude
necessita da curiosidade, de abertura,
do senso de aventura e descoberta para
realizar um movimento epistemológico
do olhar que seja capaz de intuir
relações. Então se pode dizer que é uma
prática individual e prática coletiva, na
qual os sujeitos expressam uma atitude
de abertura para o diálogo com outras
disciplinas, por este prisma reconhecem
a necessidade de aprender com outras
áreas do conhecimento.
13. MARIA LÚCIA RODRIGUES ON (2001)
A interdisciplinaridade enriquece-o e flexiona-o, no
sentido de romper com a univocidade de discurso, de
teoria para abrir-se à interlocução com outros. Isto
significa romper com dogmatismos, muitas vezes
cultivados no interior da profissão. A absolutização de
idéias – até mesmo quando consideradas de vanguarda
ou até “de ponta” – forja pretensiosas atitudes de
conservadorismo e dominação intelectual. Sentimos
dificuldade em conviver com as diferenças, com o
múltiplo e, certamente, tal postura interdisciplinar
esbarrará na necessidade de revermos a condição ética
na própria profissão, buscando um amadurecimento
profissional que se reverta em um novo saber ético e
social (Rodrigues On, (2001, p.119)
14. FORMAÇÃO PROFISSIONAL - IAMAMOTO (1985; 1997;
2007; 2010).
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais
variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as
experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde,
na assistência social pública, etc. Questão social que sendo
desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam
as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou
deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] ... a questão
social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano
do assistente social (IAMAMOTO, 1997, p. 14).
A massificação e a perda de qualidade da formação universitária
estimulam o reforço de mecanismos ideológicos que facilitam a
submissão dos profissionais às “normas do mercado”, redundando
em um processo de despolitização da categoria, favorecido pelo
isolamento vivenciado no ensino à distância e na falta de experiências
estudantis coletivas na vida universitária (IAMAMOTO, 2010).
15. RECONHECENDO DIFICULDADES E LIMITES
“A gente faz uma colcha de retalhos e não senta
para conversar. Porque ela tem que encaixar o
atendimento dela ali”.
16. OS GRITOS
“Esses processos que batem e voltam é que
acabam com a gente. Não consigo me organizar.
Não sei o que fazer”.
“É das políticas de rede que não funcionam. Estou
cansada emocionalmente. É frustrante, pois
cobram da gente coisa que não podemos dar.
Estou me questionando muito”.
“Não estudamos nada hoje. Até que eu gostaria de
estudar, mas tenho que despachar este processo.
Nosso trabalho aqui é deixar mastigadinho, tudo
triturado para eles.
“Ás vezes isto desestimula tanto. Me sinto
amarrada com estes processos todos”.
“A gente poderia fazer umas palestras, mas
quando?”
17. DO DESEJO DE VIVENCIAR UMA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR
“Não, não temos o espaço adequado. É uma
necessidade assim que até a gente reconhece que
precisa mesmo, mas pelas demandas, pelo volume
mesmo de trabalho a gente não tem se permitido,
mas a gente tem assim a intenção realmente de
criar um espaço, criar um, preparar um tempo por
conta que a gente sabe que é muito importante. Eu
acredito digamos, dentre cinco pessoas, eu acredito
que três de nós tem uma intenção maior de fazer
isto.”
“A gente teria que trocar mais as figurinhas, quem
vai sair pergunta sobre os processos das outras.”
“Não, instituído não! A gente faz isto aleatoriamente
no cotidiano e em conversas no ambiente de
trabalho para a gente discutir os casos que a gente
tem. Mas de sentar para construir propostas de
alternativas para o trabalho, isto não tem.”
“A gente pode reservar uma tarde para estudos.
Todos juntos, nós e as psicólogas. Assim a
gente se anima mais, você participa?”
18. DESAFIOS
“Quando eu cheguei eu achei assim o espaço do
Núcleo e o entendimento do trabalho do núcleo muito
inferior do que de fato pode ser. Do que de fato a gente
pode fazer de resultado positivo mesmo em responder
a processos, mesmo em simplesmente dar alternativas
a processos visto que é o básico do que a gente faz. Eu
acho que ainda o entendimento do que a gente faz é
muito pequeno que a gente poderia ter muito mais
espaço e em bem melhores condições para dar
alternativas mais efetivas, resultados mais positivos.”
“O que precisa é que a gente assumisse um movimento
conjunto do núcleo para a gente conseguir, porque
como a gente faz, apesar de a gente fazer todas as
abordagens de aproximação como, por exemplo, uma
visita domiciliar, um acompanhamento, que a gente faz
mas isto tudo se transforma em papel depois. Fica
registrado e todo esse contato, essa abordagem quando
vira papel se transforma na informação legal dentro de
um processo. A gente precisa fazer um movimento,
fazer com que essas informações que estão impressas
no que a gente escreve, elas tenham mais expressão
dentro da vida das pessoas, daquilo que as pessoas
estão vivendo e que vejam o que a gente escreve que
vejam a vida das pessoas mesmo”.
19. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dificuldade de sentar para planejar as atividades e, consequentemente de
avaliá-las é que geram tantos desgastes conforme constatado nas falas.
Quando as assistentes sociais esgotam seu trabalho na operacionalização de
serviços aos usuários, perdem ricas oportunidades de compreender a dinâmica
de suas intervenções e as contradições das mesmas em suas ações cotidianas
O diálogo não pode ser compreendido sem as contradições de uma prática que
deseja ser interdisciplinar e como tal potencialmente caracterizada por conflitos
na convivência de todos os dias.
O desafio está em apreender e desvelar os limites e as possibilidades
potenciais presentes na dinâmica da vida cotidiana profissional.
Esta vida que está alicerçada em pequenos e grandes projetos e se não
retomada pode alienar e perder sua graça, seu vigor e o seu saber.
As profissionais do Núcleo Psicossocial começam a desenvolver o hábito de
ter encontros semanais provocadas a partir de situações específicas do seu
fazer.
20. REFERENCIAIS
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Acesso em 05 de out. de 2010.
Carta Aberta aos Estudantes Trabalhadores dos Cursos de Graduação a Distância
em Serviço Social no Brasil, (2009). Disponível em:
http://www.cfess.org.br/noticias_res.php?id=305> Acesso em 05 de nov. de 2010.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
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São Paulo: Cortez, 1996.
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2002.
21. HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1987.
IAMAMOTO, Marilda V. & CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma
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IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 11ª ed.
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______________________. O serviço social na cena contemporânea. 2010. Disponível em:
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JAPIASSU, Hilton, MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
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