Este documento discute os desafios da inclusão para profissionais de educação física escolar no Brasil. Apresenta uma discussão sobre dualismos do corpo e sua influência na educação, e analisa as contradições entre os discursos e práticas da Atividade Motora Adaptada e a escola inclusiva.
2. O objetivo deste texto é situar, discutir e analisar no
quadro social e educacional brasileiro os desafios
postos pela política de inclusão aos profissionais que
trabalham com Atividade Motora Adaptada (AMA) ou,
mais especificamente, com educação física escolar
3. Este trabalho está dividido em duas partes distintas,
porém interligadas. Na primeira trabalhamos com os
dualismos do corpo e suas implicações na Educação.
Na segunda, analisamos as contradições existentes
entre os discursos veiculados pela AMA e suas práticas
educativas na ótica da escola inclusiva.
4. DUALISMOS DO CORPO E A EDUCAÇÃO
Um dos problemas históricos do corpo e , por
conseguinte, da diversidade humana reside no
dualismo psicofísico no qual o corpo (material) está
separado da alma (espiritual e consciente). Essa
concepção está presente entre os homens desde o
século V a.C. Nessa época Platão acreditava que “... A
alma, antes de se encarnar, teria vivido a contemplação
do mundo das ideias onde tudo conheceu por simples
intuição, ou seja, por conhecimento intelectual direto
e imediato, sem precisar utilizar os sentidos...”.
5. Ainda segundo Platão, a alma, quando por necessidade natural ou
expiação de culpa, se une ao corpo, ela se degrada, pois se torna
prisioneira dele. “ Além disso, quando isto ocorre, a alma humana passa
a se compor de duas partes: uma superior (alma) e outra inferior (alma
do corpo). E todo o drama humano consiste em fazer com a que a alma
superior domine a alma inferior...”
E você deve estar se perguntando: mas afinal, qual é a importância
desta discussão para o entendimento das questões históricas e
filosóficas que envolvem a inclusão, a diversidade humana e a AMA?
Esta discussão é de suma importância, pois a prática social do professor
e do gestor público depende da forma como apreendem e vêem a
realidade
6. ATIVIDADE MOTORA ADAPTADA E A
ESCOLA INCLUSIVA
A prática social que a AMA vem desenvolvendo no
Brasil apontam duas tendências: uma voltada para a
prevenção e reabilitação pelo esporte e lazer e outra
preocupada com a formação de atletas, em diferentes
modalidades esportivas adaptadas, para participarem
de eventos nacionais e internacionais.
7. Atualmente as pessoas deficientes que tiveram acesso aos
esportes atingiram um razoável estágio em termos de
participação e desenvolvimento físico e desportivo. Basta
olhar a quantidade de atletas existentes, o número de
disciplinas voltadas para esse fim nos cursos de graduação
de Educação Física e o contingente de professores atuando
na área que teremos as mais claras respostas.
Na relação AMA e a política de inclusão um ponto merece
destaque: os conhecimentos disponíveis e utilizados pela
AMA no processo de inclusão social e escolar.
8. Resta, entretanto questionar: os conhecimentos que a AMA
tem utilizado para o trabalho com as pessoas e atletas
deficientes, no campo segregado, possibilita trabalhar a
diversidade humana no mesmo espaço da escola regular ou
fora dela? As atividades motoras, jogos e esportes para os
deficientes têm de ser necessariamente adaptados? Que
alternativa a AMA tem apontado para os professores de
Educação Física diante da política de inclusão?
O mais interessantes de tudo é que os defensores da AMA,
ao mesmo tempo que realizam práticas segregadoras,
defendem e apóiam as políticas exclusivistas. Com isso, as
políticas segregadoras e exclusivistas, mesmo sendo
contraditórias, se identificam.
9. Diante dessa contradição, os profissionais da AMA têm
preferido práticas e discursos adaptativos, reorganizadores,
maquiadores do real, na tentativa de darem uma “nova”
feição, uma “nova” aparência a essa realidade. Com isso, o
homem concreto, desigual, e diferente continua sendo
tratado como homem sendo abstratamente igual.
Em meio a essa contradição, todas as ações políticas
centradas nas adaptações tendem a conduzir os parâmetros
avaliativos e os resultados esperados dos atletas deficientes
para o mais próximo possível dos resultados preconizados
pela base igualitária dos atletas ditos “normais”.