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Para tratar do tema “Esporte Escolar”, serão citados alguns termos que, talvez, não
sejam tão familiares àqueles cuja formação profissional esteja direcionada para a Licenciatura
em Educação Física. Assim como muitas das críticas atuais que se levantam em respeito ao
ESPORTE NA/DA ESCOLA (conforme Vago e Bracht).
       Caso reste alguma dúvida, para maiores esclarecimentos, sugiro que perguntem, ao
longo da apresentação, ou ao final da mesma.
       Tenho um passado muito intenso no Esporte, pois tive oportunidade de vivenciar o
Esporte Competitivo em suas diversas facetas: fui atleta, fui árbitro, fui técnica e professora
em instituição de ensino. Desta forma, posso transparecer uma tendência a favor do Esporte,
embora o conteúdo de minha fala não pretenda enveredar por este caminho, mas
simplesmente revelar aquilo o que meus olhos têm presenciado no cotidiano do ESPORTE e
ESCOLA.
       Para mim, que atualmente atuo no Esporte, enquanto formação profissional, preocupa-
me, sobremaneira, os rumos da prática esportiva, em todos os níveis, mas, em especial, o
Esporte que se faz na escola.
       É fato que o Esporte “invadiu” a escola e não demonstra sinais de deixá-la tão cedo.
Mas é preciso conhecer, historicamente, as raízes e as razões que motivaram esta situação,
das crises e lises que passou e passa a EFE e das conseqüentes críticas que não são poucas
em respeito à ESPORTIVIZAÇÃO DA ESCOLA.
       Antes de prosseguir a fala, pergunto a vcs: Quem praticou alguma modalidade
esportiva no período escolar? Como foi? O que restou destas experiências? Vcs
considerariam positivas ou negativas? Na posição de Educador Físico, vcs reproduziriam
estes modelos com seus alunos?
       Estas, entre tantas outras questões poderiam esgotar as discussões sobre Esporte e
Escola, mas me permitam levantar algumas outras polêmicas.
       Ao final, não esperem que eu levante uma receita de como deva ser ou não o Esporte
na/da Escola. Mas, estarei por demais satisfeita se puder conseguir fazê-los refletir sobre a
questão e aguçar sua curiosidade e interesse em aprofundar sobre o tema.




                                               1
Do ponto de vista histórico
       A EF por si só tem uma base histórica militar e, portanto, altamente elitista. Seus
principais objetivos eram garantir a saúde física e vigor daqueles que foram designados a
defender a nação de prováveis invasões ou colonização.
       Quando esta adentra o sistema escolar, em princípio, não perdeu o viés elitista e tão
pouco militar em respeito às normas e condutas. O caráter autoritário e meritocrático tiveram
ênfase nas ações dos educadores por muito tempo.
       Por volta das décadas de 60 e 70, o Esporte é incentivado na Escola pelas conquistas
do futebol brasileiro na Copa do Mundo. Na época, acreditava-se que o sistema escolar seria
o espaço ideal para descobrir os futuros atletas. Assim, os torneios esportivos escolares
“Jogos Escolares” são amplamente incentivados entre as crianças.
       A suposta “consolidação” das práticas esportivas na escola foi de tal proporção que por
volta da década de 80, houve uma “hegemonia” do Esporte na EFE e este, muitas vezes, era
referido como sinônimo de EFE.
       Assim, ao invés de ser parte da EFE, o Esporte passa a ser a própria EFE. Podemos
observar o fato nos currículos de EFE, em que as modalidades esportivas eram desenvolvidas
em todos os ciclos escolares, algumas selecionadas a partir da afinidade dos professores,
outras ditas para as meninas e para os meninos.
       A partir da constatação da quase absoluta predominância do Esporte na EFE, surgem
diversas propostas de re-estruturação do conteúdo da EFE, como aquelas defendidas por
Betti, Bracht, Coletivo de autores, Freire, etc.
       O objetivo destas propostas era resgatar aqueles objetivos e valores da EF, uma
disciplina curricular que abrangesse outras dimensões da cultura corporal, entendendo que o
Esporte seria uma delas e não a única.
       No meu entender, estas propostas procuraram amenizar o caráter mecanicista (o fazer
pelo fazer, sem saber as razoes para) e biológico (ênfase sobre as capacidades físicas) da
EFE vigente até então. A idéia que transparece nestas propostas é a de que, enquanto
CULTURA CORPORAL, o Esporte deveria ser construído (participação coletiva e inserida no
contexto) e não imposta (regras, técnicas e táticas).



                                                   2
Em certa medida, estas propostas foram assimiladas, as quais são visíveis a partir da
elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais e Referenciais Curriculares Nacionais e os
esclarecimentos destas propostas concretas através da publicação de material bibliográfico.
      Mas, podemos dizer que, na grande maioria das escolas, ainda paira a dúvida sobre o
papel do Esporte na EFE. Acredito que, a partir destas dúvidas é que diversas críticas têm
surgido, desde aquelas que se propõem a excluir totalmente o Esporte do contexto da escola,
àquelas que acreditam que o Esporte salvou e continuará salvando o quase fim da EF na
escola.
      Na minha opinião, os equívocos são, pois, gerados a partir da apropriação “errônea” do
Esporte e de todas as suas finalidades no contexto escolar, e não necessariamente sobre o
Esporte em si e sua própria essência.
      O Esporte tem uma história muito mais antiga do que a própria EF e, embora tenha
recebido diversas conceituações e definições ao longo do tempo, não é por si bom ou ruim.
Eu diria que tem muito mais aspectos positivos que negativos, mas depende de como suas
práticas e objetivos são conduzidos.
      Entre as muitas críticas que se faz sobre o Esporte na EFE, podemos destacar:
      - elitismo: ou seja, a oportunidade de desenvolver o potencial não é igualitário entre
          os alunos, havendo privilégio daqueles ditos mais talentosos;
      - meritocracia: ou seja, valorizar resultados e utilizá-los como parâmetros para
          avaliação;
      - celeiro: ou seja, acreditar que a escola sirva ao papel de revelar talentos para o
          esporte de alto nível, a base do mesmo;
      - panacéia: ou seja, acreditar que o Esporte, por si só, pode resolver todos os
          problemas que afligem e desafiam a sociedade contemporânea, como o uso de
          drogas entre as crianças e os jovens, a marginalidade, os desvios
          comportamentais, a miséria, a desigualdade social, a exclusão social, os níveis de
          saúde, etc.;
      Talvez, pudéssemos apresentar outros tantos problemas que, supostamente, o Esporte
poderia resolver. Mas, estes ora apresentados, bastam para perceber que as críticas têm
sentido quando o Esporte é visto sob esta ótica na EFE.

                                              3
A partir da concepção de ESCOLA, EDUCAÇÃO e ESPORTE, podemos perceber que
estes estão, intrinsecamente, inter-relacionados e o Esporte pode e deveria ser visto como
uma AÇÃO EDUCATIVA E FORMADORA que, em certa medida, complementaria a Educação
Formal. Assim, pois, deveria integrar o conteúdo da EFE, mas com propósitos diferentes
daqueles definidos para o Esporte Competitivo e de Alto Rendimento.
       Estas críticas que ora levanto, fazem sentido quando se visa integrar o Esporte de Alto
Rendimento à EFE.
       É redundante frisar que esta manifestação do Esporte não se enquadra ao contexto da
Escola, pois este é um espaço democrático, de oportunidades para o desenvolvimento do
potencial de todos os participantes.
       O Esporte de Alto Rendimento presta-se a desenvolver o potencial daqueles com perfil
e desejo para tal, mas que devem buscar outras instituições designadas para este fim. Pois,
esta manifestação não é errada em sua essência, mas é privilégio e objetivo de poucos. Se
perguntarmos às crianças e aos jovens o motivo de sua participação no Esporte,
provavelmente poucas responderam que querem seguir a carreira esportiva e defender a
camisa do clube, do Estado ou do País.
       É, pois, difícil para aos adultos (pais, professores e técnicos) entender que o prazer, a
participação, o convívio social sejam suficientes para a participação das crianças no Esporte.
       Mas, atualmente, a força da mídia, em especial, tem enfatizado a imagem dos ídolos
do Esporte de Alto Rendimento à fama, ao poder, ao sucesso, à fortuna, à prosperidade e,
estes, acabam tendo impacto significativo sobre as crianças e os jovens.
       Também não podemos deixar de citar o viés mercadológico que o Esporte assumiu na
sociedade atual. Há dados que apontam sobre os lucros exorbitantes das duas maiores
“indústrias de cifras” que são o Entretenimento e o Esporte. Mesmo as famílias com menos
condições econômicas são consumidoras destes produtos e não medem esforços para
“satisfazer” seus filhos.
       E, enquanto a “febre” do Esporte se mantiver elevada esta indústria renderá muitos e
muitos lucros para aqueles que, sequer, um dia chegaram a refletir sobre este consumismo
inconseqüente.



                                               4
Da mesma forma, podemos observar o número crescente de ESCOLAS DE ESPORTE
no contexto escolar privado. Muitas se tornaram os verdadeiros substitutos da EFE e chegam
a “jogar em tempo integral”, assumindo o papel desta. Em muitos casos, são as “âncoras” das
instituições de ensino e muitos pais e crianças são justamente atraídos pela oferta de práticas
esportivas, e cada vez menos pela qualidade do ensino como um todo.
       Ou indo um pouco mais adiante, as instituições de ensino superior que contratam ex-
atletas de elite para o seu corpo docente, valendo-se do prestígio para atrair os futuros
profissionais.
       Certamente, a visibilidade do Esporte de Alto Rendimento reflete sobre as demais
manifestações, como tem sido o caso da Ginástica Artística, por exemplo, após a aparição
dos ginastas e de suas conquistas internacionais na mídia. É, pois um dos meios de
crescimento do Esporte, mas que não deve ser entendido como o modelo a ser utilizado pela
EFE.
       Em meio a tantas críticas, passo a apresentar a forma como o Esporte poderia ser
abordado na EFE, entendendo que não é uma regra ou modelo, mas um caminho possível
que possa fazer (re) nascer os valores do Esporte na escola.
       Em primeiro lugar, acredito essencial a compreensão de que o Esporte é uma das
manifestações da CULTURA CORPORAL, ao lado da ginástica, dos jogos, da dança, da
capoeira, das lutas, etc.
       Assim sendo, a cultura é um patrimônio histórico a ser preservado e a que todos
deveriam ter acesso.
       Enquanto papel educativo e formador, qualquer uma destas manifestações da
CULTURA CORPORAL deve sobrepor à segregação ou elitismo, aos interesses individuais,
mas consagrar-se em uma prática corporal que desenvolva todas dimensões do ser humano,
a prática da cidadania, o respeito, a moralidade e a ética, o interesse coletivo e,
principalmente, a participação coletiva nas ações e nas decisões que venham ser
estabelecidas.
       Em respeito ao Esporte, esta vivência prática não pode se esgotar nos fundamentos,
habilidades, técnicas e táticas características da modalidade esportiva, mas do resgate
histórico, da construção de regras adaptadas aos interesses e objetivos coletivos e, quando a

                                               5
competição existir (até porque é essência do Esporte), esta deve estar pautada na
cooperação e no respeito mútuo e deve levar ao desenvolvimento da capacidade de lidar com
frustrações, decepções, derrotas, sucesso e vitória. O resultado em si, não deve ser
valorizado, ou seja, não importa quantas cestas, quantos gols, quantos pontos ou quem
venceu, mas a participação em si e de todos os aspectos educativos e formadores que dela
emergirem. Por exemplo, a ética, o cumprimento às regras, a capacidade de aplicar os
esforços, a divisão de tarefas, as risadas entre tantos furos e tropeços, o prazer de dividir e de
compartilhar um momento tão especial devem se sobrepor às vitórias.
       Ao contrário do que muitos adultos pensam, as crianças não estarão tão preocupadas
com os resultados se assim não estiverem os adultos. As pressões que as crianças sentem,
são, em sua maioria, gerada pelas expectativas dos adultos sobre a sua performance e
resultados. Quantas vezes as crianças chegam em casa após um torneio interno na escola e
os pais vão logo perguntado: Vocês ganharam? Quantas cestas, quantos pontos vc fez?
Sequer se lembram de perguntar se foi divertido, ou o que aprenderam com esta experiência?
       Pois, a criança incorpora as expectativas da sociedade: “Ser o melhor”, “Ser o mais
rápido”, “Ser o mais forte”... quando na verdade a criança quer é ser criança.


       Formação Profissional: a raiz do problema?
       Quando desenvolvi minha tese de doutorado, tratei da questão da Formação
Profissional entendendo que aí estaria o cerne de todo o problema que vivia a modalidade
esportiva Ginástica Artística.
       Assim como não cabe à prática esportiva resolver todos os problemas da sociedade
contemporânea, a qualidade da Formação Profissional também não é a única responsável
pelos problemas vividos pelo Esporte na/da Escola.
       Mas, penso que alguns destes problemas têm base nos equívocos apresentados neste
campo.
       Outrora deparávamos com uma formação altamente tecnicista e biológica, e com o
currículo fortemente pautado nas modalidades esportivas, ainda que fosse a Licenciatura. O
Esporte era visto sobre suas regras, habilidades, técnicas, táticas e exercícios aplicados
visando desenvolver situações de jogos ou habilidades específicas. Todo, ou quase todo, o

                                                6
contexto pedagógico das modalidades não era abordado. Assim, os futuros profissionais
acreditavam que era assim que o Esporte deveria ser desenvolvido nas escolas. Passaram se
anos e muito disso ainda é observado no cotidiano do ensino superior e, conseqüentemente,
na EFE. Pior, diria, se o profissional teve vivência no Esporte de Alto Nível, pois, muitas
vezes, este acaba reproduzindo este modelo e utilizando os resultados da performance para
avaliar o rendimento e aproveitamento na disciplina EFE. Incoerente, pois, falar em
aproveitamento se pensarmos em quantas vezes ele ficou de fora, pois não era habilidoso ou
não foi selecionado pelo capitão do time. Ou não teve oportunidade de sequer tocar na
“redondinha” pois não tinha habilidade e destreza suficiente, como é que podemos falar em
aproveitamento?
       Por outro lado, a depender da formação profissional ou da abordagem do Esporte no
ensino superior, muitos vão partir para o campo de trabalho acreditando que o Esporte NÂO
deve fazer parte da EFE, e adota uma postura reversa: exclui qualquer prática que possa
vincular-se ao Esporte.
       Esta postura maniqueísta ainda recorrente na nossa área requer profundas
considerações. Como tratei anteriormente, não é o Esporte em si que é ruim ou negativo, mas
a forma como ele é abordado e conduzido nas escolas.
       Abolir o Esporte na escola é deixar de atender a uma das expectativas e necessidades
das crianças e dos jovens, pois acreditem ou não, ele são loucos pelo Esporte. É tirar a
oportunidade única de muitas crianças que não poderiam arcar com custos extras para a
prática esportiva.
       E, já que é para se ensinar a cultura esportiva, que esta seja bem feita. Conforme
Freire, que ensinem bem o Esporte a todos e que sejamos capazes de fazer com que todas
elas gostem do Esporte.
       Arrisco-me a dizer que, se a criança ou o jovem não gosta de Esporte, é porque suas
experiências não foram significativas ou positivas, ou ambas.
       A criança e o jovem devem ser o centro e o sujeito do processo educativo no Esporte,
e não o objetivo de cobiças, prestígios ou de satisfação de interesses de terceiros, conforme
citou Bento.



                                              7
A condição humana, o bem-estar, a vida social, as individualidades, o equilíbrio, a
participação, a ludicidade e a formação devem nortear as ações educativas do Esporte na
EFE. O professor deve ser um elemento com bom senso e responsabilidade dentro do
processo educativo. Deve ser altamente motivador e incentivador da participação.
       Há muitos meandros e tentações dentro do Esporte e o profissional não deve se
sucumbir a ele. Deve, pois, lutar e se esforçar para que seja realmente uma experiência
inesquecível de modo que reflita positivamente sobre a vida das crianças e jovens.
       O profissional não deve ter uma visão determinista do Esporte na EFE, ou seja, traçar
objetivos de rendimento, desenvolver ações que levem única e exclusivamente ao
aprendizado técnico visando obter resultados.
       Por ora, pode transparecer a idéia de que sou contra o Esporte de Alto Rendimento.
Certamente, este tem merecido críticas e considerações, mas não sou e nunca serei
contrária, pois acredito que ele tem seus valores e contexto próprio e que, se bem orientado,
também poderá ter viés altamente educativo e formador. Mas, a partir do exposto, tentei
demonstrar que o Esporte de Alto Nível não se enquadra nos ideais da EFE.
       Mas, aquele Esporte entendido como uma das manifestações culturais, que é
acessível a todos, sem distinções ou discriminações, que é capaz de acomodar as diferenças
individuais e ainda assim ser praticada por todos, certamente é o ideal desejado para a EFE.
       Assim, acredito que para podermos aproveitar todo o potencial educativo e formativo
que o Esporte pode assumir, é preciso, justamente, valorizar este conteúdo e não
simplesmente descartá-lo do currículo e entendê-lo como um conteúdo negativo.
       O que necessita ser esclarecido é que o Esporte de Alto Rendimento, sem desmerecer
seu objetivo, não se enquadra no sistema escolar.
       Ao invés de buscarmos argumentos para excluí-lo da EFE é preciso refletir sobre o
Esporte que se deveria ser conduzido no sistema escolar, e este papel é, sobremaneira, do
profissional de EF.
       Para ser reflexivo e crítico em respeito ao que se tem feito com o Esporte na EFE é
preciso ter coragem e vontade de ousar e transformar o cotidiano, ao invés de se prender aos
modelos tradicionais, ou àquilo que o mercado ou a mídia desejam.



                                                8
Outro aspecto que considero essencial é assumir uma postura crítica em respeito ao
modelo atual ao qual o Esporte de Alto Rendimento tem se apresentado, pois este tem
impacto expressivo sobre os interesses e expectativas das crianças.
       Se as crianças vêem os ídolos burlarem as regras do jogo e ainda se vangloriarem de
ter tirado vantagem de uma situação, ou de demonstrarem comportamento agressivo devido a
uma punição, provavelmente estas imagens ficarão vivas em suas memórias e poderão
conduzir as suas ações.
       Se a mídia veicula a imagem do atleta à fortuna, à fama, ao prestígio, certamente
muitas delas também serão movidas pelo mesmo desejo.
       Se pais e adultos elogiam somente as vitórias, os gols, os pontos, e não apóiam as
crianças em momentos de derrotas e insucessos, certamente a criança acreditará que é
preciso vencer para merecer reconhecimento e atenção.
       A experiência negativa no Esporte pode definir o futuro de muitas crianças em respeito
ao gosto pelas práticas corporais. Quando positivas, estas alimentam suas motivações e
podem acompanhar a criança ao longo da vida. Quando negativas, destroem o prazer e o
interesse pelo envolvimento prolongado nestas práticas.
       A partir do exposto espero ter sido esclarecedora e polêmica o suficiente de modo que
eu tenha conseguido fazê-los refletir sobre o Esporte na/da Escola e, quiçá, aguçado seu
interesse em enveredar uma carreira profissional, ao mesmo desafiadora, mas altamente
apaixonante.
       Já ouvi veicular entre a comunidade em geral de que ensinar Esporte é tarefa de
atletas, pois SÓ eles têm essa experiência que ninguém teve. Ou de que ensinar Esporte é
fácil. Ou até de que não é preciso ensinar Esporte às crianças, pois é inato.
       Se assim fosse, não necessitaríamos despender horas, dias, semanas e anos de
estudos, perder horas de sono, “quebrar a cabeça” para elaborar um programa. Mas,
certamente, é uma das profissões mais complexas que pode existir, pois lidamos com seres
humanos, envolvidos de emoções, necessidades, desejos, expectativas, valores, princípios,
experiências e reações diversas. E a complexidade se amplia, quando percebemos que não é
um único indivíduo envolvido, mas muitos deles.



                                               9
Finalizo pois, afirmando que ESPORTE e ESCOLA é uma integração possível, um
casamento que pode resultar em muitos benefícios para os protagonistas do processo
educativo.




                                        10

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O Esporte na Escola: entre críticas e possibilidades

  • 1. Para tratar do tema “Esporte Escolar”, serão citados alguns termos que, talvez, não sejam tão familiares àqueles cuja formação profissional esteja direcionada para a Licenciatura em Educação Física. Assim como muitas das críticas atuais que se levantam em respeito ao ESPORTE NA/DA ESCOLA (conforme Vago e Bracht). Caso reste alguma dúvida, para maiores esclarecimentos, sugiro que perguntem, ao longo da apresentação, ou ao final da mesma. Tenho um passado muito intenso no Esporte, pois tive oportunidade de vivenciar o Esporte Competitivo em suas diversas facetas: fui atleta, fui árbitro, fui técnica e professora em instituição de ensino. Desta forma, posso transparecer uma tendência a favor do Esporte, embora o conteúdo de minha fala não pretenda enveredar por este caminho, mas simplesmente revelar aquilo o que meus olhos têm presenciado no cotidiano do ESPORTE e ESCOLA. Para mim, que atualmente atuo no Esporte, enquanto formação profissional, preocupa- me, sobremaneira, os rumos da prática esportiva, em todos os níveis, mas, em especial, o Esporte que se faz na escola. É fato que o Esporte “invadiu” a escola e não demonstra sinais de deixá-la tão cedo. Mas é preciso conhecer, historicamente, as raízes e as razões que motivaram esta situação, das crises e lises que passou e passa a EFE e das conseqüentes críticas que não são poucas em respeito à ESPORTIVIZAÇÃO DA ESCOLA. Antes de prosseguir a fala, pergunto a vcs: Quem praticou alguma modalidade esportiva no período escolar? Como foi? O que restou destas experiências? Vcs considerariam positivas ou negativas? Na posição de Educador Físico, vcs reproduziriam estes modelos com seus alunos? Estas, entre tantas outras questões poderiam esgotar as discussões sobre Esporte e Escola, mas me permitam levantar algumas outras polêmicas. Ao final, não esperem que eu levante uma receita de como deva ser ou não o Esporte na/da Escola. Mas, estarei por demais satisfeita se puder conseguir fazê-los refletir sobre a questão e aguçar sua curiosidade e interesse em aprofundar sobre o tema. 1
  • 2. Do ponto de vista histórico A EF por si só tem uma base histórica militar e, portanto, altamente elitista. Seus principais objetivos eram garantir a saúde física e vigor daqueles que foram designados a defender a nação de prováveis invasões ou colonização. Quando esta adentra o sistema escolar, em princípio, não perdeu o viés elitista e tão pouco militar em respeito às normas e condutas. O caráter autoritário e meritocrático tiveram ênfase nas ações dos educadores por muito tempo. Por volta das décadas de 60 e 70, o Esporte é incentivado na Escola pelas conquistas do futebol brasileiro na Copa do Mundo. Na época, acreditava-se que o sistema escolar seria o espaço ideal para descobrir os futuros atletas. Assim, os torneios esportivos escolares “Jogos Escolares” são amplamente incentivados entre as crianças. A suposta “consolidação” das práticas esportivas na escola foi de tal proporção que por volta da década de 80, houve uma “hegemonia” do Esporte na EFE e este, muitas vezes, era referido como sinônimo de EFE. Assim, ao invés de ser parte da EFE, o Esporte passa a ser a própria EFE. Podemos observar o fato nos currículos de EFE, em que as modalidades esportivas eram desenvolvidas em todos os ciclos escolares, algumas selecionadas a partir da afinidade dos professores, outras ditas para as meninas e para os meninos. A partir da constatação da quase absoluta predominância do Esporte na EFE, surgem diversas propostas de re-estruturação do conteúdo da EFE, como aquelas defendidas por Betti, Bracht, Coletivo de autores, Freire, etc. O objetivo destas propostas era resgatar aqueles objetivos e valores da EF, uma disciplina curricular que abrangesse outras dimensões da cultura corporal, entendendo que o Esporte seria uma delas e não a única. No meu entender, estas propostas procuraram amenizar o caráter mecanicista (o fazer pelo fazer, sem saber as razoes para) e biológico (ênfase sobre as capacidades físicas) da EFE vigente até então. A idéia que transparece nestas propostas é a de que, enquanto CULTURA CORPORAL, o Esporte deveria ser construído (participação coletiva e inserida no contexto) e não imposta (regras, técnicas e táticas). 2
  • 3. Em certa medida, estas propostas foram assimiladas, as quais são visíveis a partir da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais e Referenciais Curriculares Nacionais e os esclarecimentos destas propostas concretas através da publicação de material bibliográfico. Mas, podemos dizer que, na grande maioria das escolas, ainda paira a dúvida sobre o papel do Esporte na EFE. Acredito que, a partir destas dúvidas é que diversas críticas têm surgido, desde aquelas que se propõem a excluir totalmente o Esporte do contexto da escola, àquelas que acreditam que o Esporte salvou e continuará salvando o quase fim da EF na escola. Na minha opinião, os equívocos são, pois, gerados a partir da apropriação “errônea” do Esporte e de todas as suas finalidades no contexto escolar, e não necessariamente sobre o Esporte em si e sua própria essência. O Esporte tem uma história muito mais antiga do que a própria EF e, embora tenha recebido diversas conceituações e definições ao longo do tempo, não é por si bom ou ruim. Eu diria que tem muito mais aspectos positivos que negativos, mas depende de como suas práticas e objetivos são conduzidos. Entre as muitas críticas que se faz sobre o Esporte na EFE, podemos destacar: - elitismo: ou seja, a oportunidade de desenvolver o potencial não é igualitário entre os alunos, havendo privilégio daqueles ditos mais talentosos; - meritocracia: ou seja, valorizar resultados e utilizá-los como parâmetros para avaliação; - celeiro: ou seja, acreditar que a escola sirva ao papel de revelar talentos para o esporte de alto nível, a base do mesmo; - panacéia: ou seja, acreditar que o Esporte, por si só, pode resolver todos os problemas que afligem e desafiam a sociedade contemporânea, como o uso de drogas entre as crianças e os jovens, a marginalidade, os desvios comportamentais, a miséria, a desigualdade social, a exclusão social, os níveis de saúde, etc.; Talvez, pudéssemos apresentar outros tantos problemas que, supostamente, o Esporte poderia resolver. Mas, estes ora apresentados, bastam para perceber que as críticas têm sentido quando o Esporte é visto sob esta ótica na EFE. 3
  • 4. A partir da concepção de ESCOLA, EDUCAÇÃO e ESPORTE, podemos perceber que estes estão, intrinsecamente, inter-relacionados e o Esporte pode e deveria ser visto como uma AÇÃO EDUCATIVA E FORMADORA que, em certa medida, complementaria a Educação Formal. Assim, pois, deveria integrar o conteúdo da EFE, mas com propósitos diferentes daqueles definidos para o Esporte Competitivo e de Alto Rendimento. Estas críticas que ora levanto, fazem sentido quando se visa integrar o Esporte de Alto Rendimento à EFE. É redundante frisar que esta manifestação do Esporte não se enquadra ao contexto da Escola, pois este é um espaço democrático, de oportunidades para o desenvolvimento do potencial de todos os participantes. O Esporte de Alto Rendimento presta-se a desenvolver o potencial daqueles com perfil e desejo para tal, mas que devem buscar outras instituições designadas para este fim. Pois, esta manifestação não é errada em sua essência, mas é privilégio e objetivo de poucos. Se perguntarmos às crianças e aos jovens o motivo de sua participação no Esporte, provavelmente poucas responderam que querem seguir a carreira esportiva e defender a camisa do clube, do Estado ou do País. É, pois, difícil para aos adultos (pais, professores e técnicos) entender que o prazer, a participação, o convívio social sejam suficientes para a participação das crianças no Esporte. Mas, atualmente, a força da mídia, em especial, tem enfatizado a imagem dos ídolos do Esporte de Alto Rendimento à fama, ao poder, ao sucesso, à fortuna, à prosperidade e, estes, acabam tendo impacto significativo sobre as crianças e os jovens. Também não podemos deixar de citar o viés mercadológico que o Esporte assumiu na sociedade atual. Há dados que apontam sobre os lucros exorbitantes das duas maiores “indústrias de cifras” que são o Entretenimento e o Esporte. Mesmo as famílias com menos condições econômicas são consumidoras destes produtos e não medem esforços para “satisfazer” seus filhos. E, enquanto a “febre” do Esporte se mantiver elevada esta indústria renderá muitos e muitos lucros para aqueles que, sequer, um dia chegaram a refletir sobre este consumismo inconseqüente. 4
  • 5. Da mesma forma, podemos observar o número crescente de ESCOLAS DE ESPORTE no contexto escolar privado. Muitas se tornaram os verdadeiros substitutos da EFE e chegam a “jogar em tempo integral”, assumindo o papel desta. Em muitos casos, são as “âncoras” das instituições de ensino e muitos pais e crianças são justamente atraídos pela oferta de práticas esportivas, e cada vez menos pela qualidade do ensino como um todo. Ou indo um pouco mais adiante, as instituições de ensino superior que contratam ex- atletas de elite para o seu corpo docente, valendo-se do prestígio para atrair os futuros profissionais. Certamente, a visibilidade do Esporte de Alto Rendimento reflete sobre as demais manifestações, como tem sido o caso da Ginástica Artística, por exemplo, após a aparição dos ginastas e de suas conquistas internacionais na mídia. É, pois um dos meios de crescimento do Esporte, mas que não deve ser entendido como o modelo a ser utilizado pela EFE. Em meio a tantas críticas, passo a apresentar a forma como o Esporte poderia ser abordado na EFE, entendendo que não é uma regra ou modelo, mas um caminho possível que possa fazer (re) nascer os valores do Esporte na escola. Em primeiro lugar, acredito essencial a compreensão de que o Esporte é uma das manifestações da CULTURA CORPORAL, ao lado da ginástica, dos jogos, da dança, da capoeira, das lutas, etc. Assim sendo, a cultura é um patrimônio histórico a ser preservado e a que todos deveriam ter acesso. Enquanto papel educativo e formador, qualquer uma destas manifestações da CULTURA CORPORAL deve sobrepor à segregação ou elitismo, aos interesses individuais, mas consagrar-se em uma prática corporal que desenvolva todas dimensões do ser humano, a prática da cidadania, o respeito, a moralidade e a ética, o interesse coletivo e, principalmente, a participação coletiva nas ações e nas decisões que venham ser estabelecidas. Em respeito ao Esporte, esta vivência prática não pode se esgotar nos fundamentos, habilidades, técnicas e táticas características da modalidade esportiva, mas do resgate histórico, da construção de regras adaptadas aos interesses e objetivos coletivos e, quando a 5
  • 6. competição existir (até porque é essência do Esporte), esta deve estar pautada na cooperação e no respeito mútuo e deve levar ao desenvolvimento da capacidade de lidar com frustrações, decepções, derrotas, sucesso e vitória. O resultado em si, não deve ser valorizado, ou seja, não importa quantas cestas, quantos gols, quantos pontos ou quem venceu, mas a participação em si e de todos os aspectos educativos e formadores que dela emergirem. Por exemplo, a ética, o cumprimento às regras, a capacidade de aplicar os esforços, a divisão de tarefas, as risadas entre tantos furos e tropeços, o prazer de dividir e de compartilhar um momento tão especial devem se sobrepor às vitórias. Ao contrário do que muitos adultos pensam, as crianças não estarão tão preocupadas com os resultados se assim não estiverem os adultos. As pressões que as crianças sentem, são, em sua maioria, gerada pelas expectativas dos adultos sobre a sua performance e resultados. Quantas vezes as crianças chegam em casa após um torneio interno na escola e os pais vão logo perguntado: Vocês ganharam? Quantas cestas, quantos pontos vc fez? Sequer se lembram de perguntar se foi divertido, ou o que aprenderam com esta experiência? Pois, a criança incorpora as expectativas da sociedade: “Ser o melhor”, “Ser o mais rápido”, “Ser o mais forte”... quando na verdade a criança quer é ser criança. Formação Profissional: a raiz do problema? Quando desenvolvi minha tese de doutorado, tratei da questão da Formação Profissional entendendo que aí estaria o cerne de todo o problema que vivia a modalidade esportiva Ginástica Artística. Assim como não cabe à prática esportiva resolver todos os problemas da sociedade contemporânea, a qualidade da Formação Profissional também não é a única responsável pelos problemas vividos pelo Esporte na/da Escola. Mas, penso que alguns destes problemas têm base nos equívocos apresentados neste campo. Outrora deparávamos com uma formação altamente tecnicista e biológica, e com o currículo fortemente pautado nas modalidades esportivas, ainda que fosse a Licenciatura. O Esporte era visto sobre suas regras, habilidades, técnicas, táticas e exercícios aplicados visando desenvolver situações de jogos ou habilidades específicas. Todo, ou quase todo, o 6
  • 7. contexto pedagógico das modalidades não era abordado. Assim, os futuros profissionais acreditavam que era assim que o Esporte deveria ser desenvolvido nas escolas. Passaram se anos e muito disso ainda é observado no cotidiano do ensino superior e, conseqüentemente, na EFE. Pior, diria, se o profissional teve vivência no Esporte de Alto Nível, pois, muitas vezes, este acaba reproduzindo este modelo e utilizando os resultados da performance para avaliar o rendimento e aproveitamento na disciplina EFE. Incoerente, pois, falar em aproveitamento se pensarmos em quantas vezes ele ficou de fora, pois não era habilidoso ou não foi selecionado pelo capitão do time. Ou não teve oportunidade de sequer tocar na “redondinha” pois não tinha habilidade e destreza suficiente, como é que podemos falar em aproveitamento? Por outro lado, a depender da formação profissional ou da abordagem do Esporte no ensino superior, muitos vão partir para o campo de trabalho acreditando que o Esporte NÂO deve fazer parte da EFE, e adota uma postura reversa: exclui qualquer prática que possa vincular-se ao Esporte. Esta postura maniqueísta ainda recorrente na nossa área requer profundas considerações. Como tratei anteriormente, não é o Esporte em si que é ruim ou negativo, mas a forma como ele é abordado e conduzido nas escolas. Abolir o Esporte na escola é deixar de atender a uma das expectativas e necessidades das crianças e dos jovens, pois acreditem ou não, ele são loucos pelo Esporte. É tirar a oportunidade única de muitas crianças que não poderiam arcar com custos extras para a prática esportiva. E, já que é para se ensinar a cultura esportiva, que esta seja bem feita. Conforme Freire, que ensinem bem o Esporte a todos e que sejamos capazes de fazer com que todas elas gostem do Esporte. Arrisco-me a dizer que, se a criança ou o jovem não gosta de Esporte, é porque suas experiências não foram significativas ou positivas, ou ambas. A criança e o jovem devem ser o centro e o sujeito do processo educativo no Esporte, e não o objetivo de cobiças, prestígios ou de satisfação de interesses de terceiros, conforme citou Bento. 7
  • 8. A condição humana, o bem-estar, a vida social, as individualidades, o equilíbrio, a participação, a ludicidade e a formação devem nortear as ações educativas do Esporte na EFE. O professor deve ser um elemento com bom senso e responsabilidade dentro do processo educativo. Deve ser altamente motivador e incentivador da participação. Há muitos meandros e tentações dentro do Esporte e o profissional não deve se sucumbir a ele. Deve, pois, lutar e se esforçar para que seja realmente uma experiência inesquecível de modo que reflita positivamente sobre a vida das crianças e jovens. O profissional não deve ter uma visão determinista do Esporte na EFE, ou seja, traçar objetivos de rendimento, desenvolver ações que levem única e exclusivamente ao aprendizado técnico visando obter resultados. Por ora, pode transparecer a idéia de que sou contra o Esporte de Alto Rendimento. Certamente, este tem merecido críticas e considerações, mas não sou e nunca serei contrária, pois acredito que ele tem seus valores e contexto próprio e que, se bem orientado, também poderá ter viés altamente educativo e formador. Mas, a partir do exposto, tentei demonstrar que o Esporte de Alto Nível não se enquadra nos ideais da EFE. Mas, aquele Esporte entendido como uma das manifestações culturais, que é acessível a todos, sem distinções ou discriminações, que é capaz de acomodar as diferenças individuais e ainda assim ser praticada por todos, certamente é o ideal desejado para a EFE. Assim, acredito que para podermos aproveitar todo o potencial educativo e formativo que o Esporte pode assumir, é preciso, justamente, valorizar este conteúdo e não simplesmente descartá-lo do currículo e entendê-lo como um conteúdo negativo. O que necessita ser esclarecido é que o Esporte de Alto Rendimento, sem desmerecer seu objetivo, não se enquadra no sistema escolar. Ao invés de buscarmos argumentos para excluí-lo da EFE é preciso refletir sobre o Esporte que se deveria ser conduzido no sistema escolar, e este papel é, sobremaneira, do profissional de EF. Para ser reflexivo e crítico em respeito ao que se tem feito com o Esporte na EFE é preciso ter coragem e vontade de ousar e transformar o cotidiano, ao invés de se prender aos modelos tradicionais, ou àquilo que o mercado ou a mídia desejam. 8
  • 9. Outro aspecto que considero essencial é assumir uma postura crítica em respeito ao modelo atual ao qual o Esporte de Alto Rendimento tem se apresentado, pois este tem impacto expressivo sobre os interesses e expectativas das crianças. Se as crianças vêem os ídolos burlarem as regras do jogo e ainda se vangloriarem de ter tirado vantagem de uma situação, ou de demonstrarem comportamento agressivo devido a uma punição, provavelmente estas imagens ficarão vivas em suas memórias e poderão conduzir as suas ações. Se a mídia veicula a imagem do atleta à fortuna, à fama, ao prestígio, certamente muitas delas também serão movidas pelo mesmo desejo. Se pais e adultos elogiam somente as vitórias, os gols, os pontos, e não apóiam as crianças em momentos de derrotas e insucessos, certamente a criança acreditará que é preciso vencer para merecer reconhecimento e atenção. A experiência negativa no Esporte pode definir o futuro de muitas crianças em respeito ao gosto pelas práticas corporais. Quando positivas, estas alimentam suas motivações e podem acompanhar a criança ao longo da vida. Quando negativas, destroem o prazer e o interesse pelo envolvimento prolongado nestas práticas. A partir do exposto espero ter sido esclarecedora e polêmica o suficiente de modo que eu tenha conseguido fazê-los refletir sobre o Esporte na/da Escola e, quiçá, aguçado seu interesse em enveredar uma carreira profissional, ao mesmo desafiadora, mas altamente apaixonante. Já ouvi veicular entre a comunidade em geral de que ensinar Esporte é tarefa de atletas, pois SÓ eles têm essa experiência que ninguém teve. Ou de que ensinar Esporte é fácil. Ou até de que não é preciso ensinar Esporte às crianças, pois é inato. Se assim fosse, não necessitaríamos despender horas, dias, semanas e anos de estudos, perder horas de sono, “quebrar a cabeça” para elaborar um programa. Mas, certamente, é uma das profissões mais complexas que pode existir, pois lidamos com seres humanos, envolvidos de emoções, necessidades, desejos, expectativas, valores, princípios, experiências e reações diversas. E a complexidade se amplia, quando percebemos que não é um único indivíduo envolvido, mas muitos deles. 9
  • 10. Finalizo pois, afirmando que ESPORTE e ESCOLA é uma integração possível, um casamento que pode resultar em muitos benefícios para os protagonistas do processo educativo. 10