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Barroco no Brasil: principais
autores.
Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira
Gregório de Matos
• Gregório de Matos Guerra nasceu na então capital do
Brasil, Salvador, Bahia, em 20 de dezembro de 1636 e
faleceu no Recife, Pernambuco, em 1695. É o patrono da
cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Como poeta, destacou-se como grande sátiro do governo,
da nobreza e do clero. De sua crítica não escaparam os
padres corruptos, os degredados, os mulatos e emboabas,
os “caramurus”, os arrivistas e os novos-ricos, toda uma
burguesia exploradora da colônia. Seu forte senso crítico
rendeu-lhe o epiteto de “Boca do Inferno”. Gregório de
Matos compôs quatro vertentes de poesia: amorosa,
filosófica, religiosa e satírica.
Poesia amorosa
Caracterizada pelo dualismo carne/espírito, o
que resulta em um sentimento de culpa.
• Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela
• Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.
Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Saiba o mundo, e tanto exagerar-me.
Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
Poesia filosófica
• Caracterizada pelo sentimento de frustração diante da realidade e
pela consciência da transitoriedade da vida e do tempo. O soneto a
seguir exemplifica a consciência da efemeridade dessas duas
noções.
•
• Inconstância das coisas do mundo!
• Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
• Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
• Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
• Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
Poesia religiosa
• Caracterizada pelas constantes referências a Deus, ao sentimento
de arrependimento, ao pecado, ao perdão, ou seja, a elementos
bíblicos. Observe o soneto a seguir, ilustrativo dessa vertente:
•
• A Jesus Cristo Nosso Senhor
• Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
• Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
• Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
• Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Poesia satírica
• Caracterizada pelo humor ácido e pela ironia, destina-se a
ridicularizar o governo e a sociedade hipócrita da época. Veja o
soneto a seguir, em que o teor crítico satírico faz-se evidente:
•
• Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes
• Que me quer o Brasil que me persegue?
Que me querem pagastes que me invejam?
Não veem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
• Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios que motejam?
Se quando os néscios por meu mal mourejam
Fazem os sábios que a meu mal me entregue.
• Isto posto, ignorantes e canalha,
Se ficam por canalha e ignorantes
No sol das bestas a roerem a palha:
• E se os Senhores nobres e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.
Padre Antônio Vieira
• Missionário, teólogo, diplomata e orador, Padre Antônio Vieira nasceu em
Lisboa, Portugal, em 1608. Com seis anos de idade, veio para a Bahia,
onde ingressou pouco tempo depois no Colégio dos Jesuítas. Iniciou sua
carreira de pregador em 1633. Posteriormente retornou a Portugal, onde
participou ativamente da vida política, colocando-se em defesa dos cristãos-
novos e despertando o ódio da Inquisição, o que resultou em sua prisão.
• Regressou ao Brasil e estabeleceu-se no Maranhão, dedicando-se
à evangelização dos índios, defendendo-os dos colonos. Esse conflito
resultou em sua expulsão e de toda a Companhia. Retornou a Portugal,
onde foi perseguido e processado pela Inquisição; após o perdão, foi para
Roma, onde pregou durante alguns anos. Em 1861, Padre Antônio Vieira
retornou ao Brasil, momento em que organizou seus sermões para
publicação. Morreu em 1697, no Colégio da Bahia.
• Obras de Padre Antônio Vieira
• Sermões
• Sermão do bonsucesso das armas de Portugal contra os de
Holanda (Bahia, 1640);
• Sermão da sexagésima (Lisboa, 1655);
• Sermão de Santo Antonio aos peixes (Maranhão, 1653);
• Sermão da Primeira Dominga da Quaresma (Maranhão, 1653);
• Sermão do mandato (Lisboa, 1643);
• Sermão do rosário (Bahia, 1633).
• O sermão da sexagenária
• Pregado inicialmente em Lisboa, em 1655, O sermão da sexagenária é
um dos mais importantes do gênero e um dos mais importantes de Padre
Antônio Vieira. Dividido em 10 capítulos, esse sermão discute a
pregação católica e o modo como deveria ser realizada a fim de atingir o
seu objetivo evangelizador. Fazendo uso da metáfora, figura de
linguagem muito apreciada pelo barroco, o autor relaciona “pregar” a
“semear”, expondo os motivos pelos quais a palavra de Deus não estava
colhendo muitos frutos.
• No início do sermão, ainda no primeiro capítulo, é utilizada como exemplo
a “Parábola do semeador”, retirada do “Livro de Lucas”, capítulo 8, que
conta que, apesar das adversidades, o semeador colheu seu fruto. Ao
longo do sermão, são apresentados diversos motivos que justificam
os maus resultados dos pregadores, como se percebe no trecho a
seguir:
• “Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos
pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como
é tão pouco o fruto? [...] Assim como Deus não é hoje menos
omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que
dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de
Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos hoje nenhum fruto
da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a
matéria do sermão. […]
• O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se
com a mão. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração,
são necessárias obras. [...] A razão disto é porque as palavras ouvem-se,
as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram
pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos
ouvidos.”
• Obras de profecia
• Esperanças de Portugal (1659);
• História do futuro (1718);
• Clavis prophetarum (obra inédia e só traduzida e publicada em
2000).
• Principais aspectos temáticos:
• conflito entre o antropocentrismo e o teocentrismo;
• oposição entre o mundo material e o mundo espiritual;
• visão trágica da vida;
• conflito entre fé e razão;
• cristianismo;
• Morbidez; as pessoas sempre sente falta de algo.
• idealização amorosa;
• sensualismo e sentimento de culpa cristão;
• consciência da efemeridade do tempo;
• apreço por raciocínios complexos, construídos em parábolas e narrativas
bíblicas;
• carpe diem.
• Principais aspectos formais:
• predomínio do soneto;
• emprego da medida nova na poesia;
• recorrência de inversões e de construções sintáticas complexas;
• frequente uso de figuras de linguagem, como a antítese, o
paradoxo, a metáfora e a metonímia.
• alerta que a vida é breve e deve ser aproveitada intensamente
a todo momento.
FIM

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Barroco no Brasil: Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira

  • 1. Barroco no Brasil: principais autores. Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira
  • 3. • Gregório de Matos Guerra nasceu na então capital do Brasil, Salvador, Bahia, em 20 de dezembro de 1636 e faleceu no Recife, Pernambuco, em 1695. É o patrono da cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Como poeta, destacou-se como grande sátiro do governo, da nobreza e do clero. De sua crítica não escaparam os padres corruptos, os degredados, os mulatos e emboabas, os “caramurus”, os arrivistas e os novos-ricos, toda uma burguesia exploradora da colônia. Seu forte senso crítico rendeu-lhe o epiteto de “Boca do Inferno”. Gregório de Matos compôs quatro vertentes de poesia: amorosa, filosófica, religiosa e satírica.
  • 4. Poesia amorosa Caracterizada pelo dualismo carne/espírito, o que resulta em um sentimento de culpa. • Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela • Não vi em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia, E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura. Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma Mulher, que em Anjo se mentia, De um Sol, que se trajava em criatura. Me matem (disse então vendo abrasar-me) Se esta a cousa não é, que encarecer-me. Saiba o mundo, e tanto exagerar-me. Olhos meus (disse então por defender-me) Se a beleza hei de ver para matar-me, Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
  • 5. Poesia filosófica • Caracterizada pelo sentimento de frustração diante da realidade e pela consciência da transitoriedade da vida e do tempo. O soneto a seguir exemplifica a consciência da efemeridade dessas duas noções. •
  • 6. • Inconstância das coisas do mundo! • Nasce o Sol e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas e alegria. • Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? • Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se a tristeza, • Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza. A firmeza somente na inconstância.
  • 7. Poesia religiosa • Caracterizada pelas constantes referências a Deus, ao sentimento de arrependimento, ao pecado, ao perdão, ou seja, a elementos bíblicos. Observe o soneto a seguir, ilustrativo dessa vertente: •
  • 8. • A Jesus Cristo Nosso Senhor • Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. • Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido; Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. • Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, • Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.
  • 9. Poesia satírica • Caracterizada pelo humor ácido e pela ironia, destina-se a ridicularizar o governo e a sociedade hipócrita da época. Veja o soneto a seguir, em que o teor crítico satírico faz-se evidente: •
  • 10. • Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes • Que me quer o Brasil que me persegue? Que me querem pagastes que me invejam? Não veem que os entendidos me cortejam, E que os nobres é gente que me segue? • Com seu ódio a canalha que consegue? Com sua inveja os néscios que motejam? Se quando os néscios por meu mal mourejam Fazem os sábios que a meu mal me entregue. • Isto posto, ignorantes e canalha, Se ficam por canalha e ignorantes No sol das bestas a roerem a palha: • E se os Senhores nobres e elegantes Não querem que o soneto vá de valha, Não vá, que tem terríveis consoantes.
  • 12. • Missionário, teólogo, diplomata e orador, Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, Portugal, em 1608. Com seis anos de idade, veio para a Bahia, onde ingressou pouco tempo depois no Colégio dos Jesuítas. Iniciou sua carreira de pregador em 1633. Posteriormente retornou a Portugal, onde participou ativamente da vida política, colocando-se em defesa dos cristãos- novos e despertando o ódio da Inquisição, o que resultou em sua prisão. • Regressou ao Brasil e estabeleceu-se no Maranhão, dedicando-se à evangelização dos índios, defendendo-os dos colonos. Esse conflito resultou em sua expulsão e de toda a Companhia. Retornou a Portugal, onde foi perseguido e processado pela Inquisição; após o perdão, foi para Roma, onde pregou durante alguns anos. Em 1861, Padre Antônio Vieira retornou ao Brasil, momento em que organizou seus sermões para publicação. Morreu em 1697, no Colégio da Bahia.
  • 13. • Obras de Padre Antônio Vieira • Sermões • Sermão do bonsucesso das armas de Portugal contra os de Holanda (Bahia, 1640); • Sermão da sexagésima (Lisboa, 1655); • Sermão de Santo Antonio aos peixes (Maranhão, 1653); • Sermão da Primeira Dominga da Quaresma (Maranhão, 1653); • Sermão do mandato (Lisboa, 1643); • Sermão do rosário (Bahia, 1633).
  • 14. • O sermão da sexagenária • Pregado inicialmente em Lisboa, em 1655, O sermão da sexagenária é um dos mais importantes do gênero e um dos mais importantes de Padre Antônio Vieira. Dividido em 10 capítulos, esse sermão discute a pregação católica e o modo como deveria ser realizada a fim de atingir o seu objetivo evangelizador. Fazendo uso da metáfora, figura de linguagem muito apreciada pelo barroco, o autor relaciona “pregar” a “semear”, expondo os motivos pelos quais a palavra de Deus não estava colhendo muitos frutos. • No início do sermão, ainda no primeiro capítulo, é utilizada como exemplo a “Parábola do semeador”, retirada do “Livro de Lucas”, capítulo 8, que conta que, apesar das adversidades, o semeador colheu seu fruto. Ao longo do sermão, são apresentados diversos motivos que justificam os maus resultados dos pregadores, como se percebe no trecho a seguir:
  • 15. • “Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? [...] Assim como Deus não é hoje menos omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. […] • O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. [...] A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos.”
  • 16. • Obras de profecia • Esperanças de Portugal (1659); • História do futuro (1718); • Clavis prophetarum (obra inédia e só traduzida e publicada em 2000).
  • 17. • Principais aspectos temáticos: • conflito entre o antropocentrismo e o teocentrismo; • oposição entre o mundo material e o mundo espiritual; • visão trágica da vida; • conflito entre fé e razão; • cristianismo; • Morbidez; as pessoas sempre sente falta de algo. • idealização amorosa; • sensualismo e sentimento de culpa cristão; • consciência da efemeridade do tempo; • apreço por raciocínios complexos, construídos em parábolas e narrativas bíblicas; • carpe diem.
  • 18. • Principais aspectos formais: • predomínio do soneto; • emprego da medida nova na poesia; • recorrência de inversões e de construções sintáticas complexas; • frequente uso de figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora e a metonímia.
  • 19. • alerta que a vida é breve e deve ser aproveitada intensamente a todo momento.
  • 20.
  • 21.
  • 22.
  • 23.
  • 24.
  • 25. FIM