O documento discute o extermínio de periquitos em Manaus e as causas maiores desse problema, incluindo o desequilíbrio ambiental e mental causado pelo desenvolvimento urbano desordenado. Argumenta que, assim como os periquitos perderam seu habitat natural, as pessoas da cidade também sofrem com a falta de serviços básicos e planejamento urbano. Conclui que, em vez de culpar os periquitos, é preciso resolver os problemas estruturais por trás do incidente.
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Defesa dos direitos dos periquitos de Manaus à vida e habitat natural
1. elymacuxi@hotmail.com
GENTE E PERIQUITOS:
“Papagaio come milho e periquito leva a culpa”
Por: Ely Macuxi
Há dias venho acompanhando o desenrolar da história de extermínio de Periquitos na
cidade de Manaus, com ampla divulgação nas mídias sociais em todo o Brasil. A ação é um
escândalo sem precedentes, exigindo do poder público, medidas severas, exemplar para os
autores deste crime de lesa/natureza. Porém, o episódio da morte dos periquitos pode
também nos ajudar a pensar sobre as causas do desequilíbrio ambiental e mentais que ora
atingem “gente e periquitos” nesta que já foi considerada a cidade das selvas; reflexões
sobre as formas de ocupações dos espaços, buscando compreender como os processos de
urbanização vêm interferindo nas relações e nos comportamentos de pessoas e animais em
plena natureza Amazônica.
“Papagaio come milho e periquito leva a culpa” é uma alegoria bem antiga, mas que
serve para ilustrar o referido caso do extermínio dos pássaros em Manaus - aves silvestres
da família brotogeres versicolurus, conhecido popularmente como Piriquito ou Periquito, “um
papagaio anão”, brincava o saudoso Chico Preto, que alimentava e cuidava daqueles que
circundavam sua casa.
A primeira ideia que vem a mente, tentando entender o caso, é imaginar que as
pessoas estavam se sentindo prejudicadas pelo excesso de barulho feito pelas aves nos
arredores de suas casas. E quem já viu e ouviu, sabe que realmente são infernais os
Chalrear (vozes) dos pequenos pássaros, por dez minutos que seja; porém, a solução
encontrada pelos moradores para afastar os pequenos e indefesos animais, não foi a mais
feliz: exterminar os pobres coitados.
Imagina-se que se todas as vezes que sejamos incomodados pudéssemos resolver
rapidamente o problema com violência e extermínio. Não sobraria pedra sobre pedra para se
contar outras histórias, dado a imprevisibilidade dos seres humanos. Pois, nas narrativas
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2. das loucuras, o homem sempre fez mais guerra do que amor, exterminando seus desafetos.
Embora continuamente estejamos falando sempre em tolerância, cooperação entre os seres.
Mas, a história tem demonstrado que as relações estabelecidas por homens e
mulheres se reduziram a fracassos, uma vez que inteligência só lhes permitiu pensar em
formas de proteção de si e de seu grupo, retirando os ideários coletivistas de seus manuais.
Essa infeliz opção de humanidade centralizadora, reduziu tudo e a todos a materialidade e a
racionalidade enquanto forma de exploração, o consumismo como forma de permanências e
controle, tornando-os insensível à preservação das demais espécies e da natureza como um
todo.
Aos moldes capitalistas, dizem: é preciso explorar, gerar riquezas, emprego e renda.
Facilitar os negócios, abrir estradas e gerar energia para melhor produzir, vender, consumir.
Os ideólogos capitalistas mais recentes justificarão que toda destruição gerada pelo excesso
de produção, é um mal necessário, mesmo que isso implique em destruir florestas, poluir os
rios, matar animais, destruir ecossistemas inteiros. Para mascarar inventam termos
paradoxais, nem sempre compreensíveis, o tal “desenvolvimento sustentável”. É na formula
da natureza deles, os mais fortes sobrevivem... A abertura das fronteiras,
transnacionalizações, mercados, comedirdes, tecnologias e automação reativaram o
xenofobismo.
O resultado desse processo de agressão as naturezas e seus ecossistemas é do
conhecimento de todos, melhor, sentido por todos até aqui em nossa Manaus, como
excesso de calor, chuva cada vez mais torrenciais, alagações ou secas excessivas... No
mundo agora apelidado de global acompanhamos os sucessivos "fenômenos naturais”,
como os maremotos, tsunamis, terremotos. É a Natureza reagindo às sucessivas agressões
que vem sofrendo...
Mas, os periquitos de Manaus não tem como reagir às ataques sofridos... Destruíram
seus ecossistemas, derrubaram as árvores, poluíram os rios, abriram estradas, construindo
prédios, pelaram tudo, não sobrou nada; apenas cimentos, ruas, asfaltos por onde circulam
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3. carros mais velozes que seus rasantes voos. Porém, pelo que se vê - toda essa destruição
ambiental não foi suficiente para exterminá-los, como ocorreu com tantos outros animais e
povos... Ao contrário, quando mais se mata, mais aparecem. Mata-se um, aparecem dois,
mata três ou quatro, surgem oito, dezesseis, são centenas, certamente chegam aos milhares
de periquitos e os danados não desaparecem. Malditos periquitos, que como a fênix
mitológica, ressurgem sobrevoando os céus ensolarados de nossa Manaus.
Antes, seus chalrear anunciava o tempo das chuvas, águas para molhar e refrescar,
fazer germinar, amadurecer os frutos; um importante ciclo da vida, da reprodução, da alegria
dos curumins, tempo da manga e goiabas, encontro embaixo das árvores, dos folclores e
anedotas sobre quem nasceu primeiro: “o papagaio ou periquito”; da alimentação de bico ao
bico realizado nas festas dos padroeiros, numa aproximação saudável entre o ser humano e
o periquito.
Mas, os tempos são outros, onde muito se fala nos direitos humanos e até dos
animais, inclusive dos periquitos. E este é sem duvida o ponto mais interessante a destacar
neste pequeno ensaio: Direito a Vida.
Em recente dados da UNESCO, Manaus está entre as capitais mais pobres
socialmente do Brasil, apesar – destaca o documento – ser uma das capitais de estado mais
rica do país. Ou seja, tem muita grana e muitos pobres. Isso revela que historicamente que
os gestores municipais, ao longo do tempo, foram completamente descuidados com as
riquezas produzidas que deveria ser distribuídas igualmente entre todos. Um bando de
loucos diria a torcida das Corinthians... Uma cidade desordenada, sem plano diretor
propositivo que aponte formas de urbanização equilibrada, moradia digna, saneamento de
água e esgoto com qualidade, água tratada e constante para todos, mobilidade urbana
confiável e segura, projetos de reflorestamento e conservação de áreas de conservação e
biomas, mananciais e áreas de convivências; para, além disso, educação, saúde e cultura
para todos e de qualidade. Juntamente com isso, emprego e renda para que as pessoas
possam ter o mínimo para se alimentarem decentemente.
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4. Certamente, os atropelos de se viver nas cidades têm provocado distúrbios de todas
as ordens, levando muito gente ao extremo do estresse, desequilíbrios e até mesmo
loucuras. Será, que devido os responsáveis pelos desconfortos urbanos estarem tão longe e
os periquitos perto, foi mais fácil atacá-los? Quem sabe.
Mas, a inteligência e a racionalidade poderiam abrir um parêntese para imaginar que
os pequenos pássaros verdes, em seus alaridos, apenas estão protestando contra as
agressões e abandonos que eles vêm sofrendo em Manaus e em outras capitais desse
Brasil verde e amarelo. Como as pessoas, as aves estão sem abrigo, sem moradias, sem
seguranças, sem alimentação digna e locomoção descente. Não existem mais árvores,
estão pelando tudo em nome das especulações imobiliárias, quando se constrói, às áreas
dos pássaros, não são preservadas, não há mais verdes, sombras, frutos.
Quem sabe a nossa revolução comece com a revolução dos bichos, como apontou o
escritor inglês George Orwell em sua sátira contra o poder autoritário que se estabeleceu na
Rússia Stanilista, que teria traído os ideais da revolução de 1917. Só que ao invés de um
porco (Bola de Neve), temos os periquitos e periquitas de cores verde, amarela e branca...
Quantos políticos são eleitos em Manaus que, posteriormente, não cumprem suas
promessas de campanha? Já pensou se tivéssemos que dá a eles o mesmo tratamento que
deram aos periquitos? Infelizmente, estes, também, voltam das cinzas.
Mas, foi nos ensinado que devemos acreditar sempre. Afinal, ninguém quer morrer e,
enquanto há vida, temos que ter esperança. Quem sabe o episódio das mortes em nossa
cidade, haja o espaço para aprendizagem, consequentemente para a decência. Aprender
com a simplicidade dos pássaros a ser mais corretos e equilibrados em nossos atos, mais
ética e moralidade; com seus rasantes voos aprendamos a ter coragem de intervir e
participar de ações em promoção e defesa da vida e dos ecossistemas que favorecem a
todos; com os coloridos de suas plumas, pintar um mundo mais igual, permitindo paisagens
com o colorido das diversidades; com seus palrar (gritos) e alvoroços coletivos, nos
juntemos para gritar, alarmar, espernear por melhores condições de vida - para nós e para
os periquitos.
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5. Se tivermos que silenciar ou controlar os “Krre-krre” dos periquitos, vamos também
controlar outros sons que beira a demência e alienação, como os sons constantes dos
celulares, sons de motores e buzinas de carros, som de bares e discotecas, igrejas e
similares. Ora bolas, porque querem colocar a culpa somente nos periquitos?
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6. Se tivermos que silenciar ou controlar os “Krre-krre” dos periquitos, vamos também
controlar outros sons que beira a demência e alienação, como os sons constantes dos
celulares, sons de motores e buzinas de carros, som de bares e discotecas, igrejas e
similares. Ora bolas, porque querem colocar a culpa somente nos periquitos?
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