SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
Baixar para ler offline
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
127
MONOGRAFIA
RESUMO – Este artigo se propõe a levantar as contribuições da
Psicopedagogia para o Atendimento Pedagógico Hospitalar. Para tanto,
foram realizados estudos sobre o processo de hospitalização infantil e
a forma de aprendizagem neste contexto, as atribuições e legislações
sobre Classe Hospitalar, assim como a Psicopedagogia Institucional como
abordagem para atender tal demanda. Foi realizada uma entrevista com
uma psicopedagoga que atua em uma Classe Hospitalar, no intuito de
compreender a realidade deste tipo de atendimento. O estudo revela que
a Psicopedagogia, por meio de uma visão institucional e sistêmica, pode
contribuir significativamente com o atendimento pedagógico hospitalar,
não somente em casos de possíveis dificuldades de aprendizagem, mas,
principalmente, no planejamento das atividades e na formação dos
educadores.
UNITERMOS: Atendimento pedagógico hospitalar. Psicopedagogia
institucional. Hospitalização infantil.
A Psicopedagogia e o atendimento pedagó-
gico hospitalar
Michele Oristina Carioca de Lima - Psicóloga com
Especialização em Psicopedagogia pela Universidade
Cidade de São Paulo.
Maria Cristina Natel - Pedagoga, Psicopedagoga,
Especialista em P E I - Programa de Enriquecimento
Instrumental (nível 1 e 2) e Especialista em LPAD -
Evalucion Dinâmica Del Potencial de Aprendizaje
(nível 1). Membro do Conselho da Associação
Brasileira de Psicopedagogia - ABPp da Diretoria
da ABPp - Seção São Paulo e Docente em Cursos de
Psicopedagogia.
Correspondência	
Michelle Cristina Carioca de Lima
Rua Alexandre Levi, 202 Apto. 34 A – Cambuci – São
Paulo, SP - CEP 01520-000
E-mail: psicologia_michelle@yahoo.com.br
Michelle Cristina Carioca de Lima; Maria Cristina Natel
Lima MCC & Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
128
INTRODUÇÃO
O acompanhamento pedagógico hospitalar
já é uma realidade em muitos hospitais pelo
Brasil. Pode-se entender que é uma das ferra-
mentas da humanização hospitalar existentes,
além de propiciar a continuidade ao direito de
escolaridade das crianças, independente de
sua situação.
A atuação de professores e demais profis-
sionais da Educação deve levar em conta o
contexto da hospitalização infantil, com todo o
impacto no cotidiano, na convivência familiar
e sentimentos de angústia e temor vivenciados
pelas crianças a serem acompanhadas. Estes
fatores podem estar presentes em possíveis
dificuldades de aprendizagem já que, para
ocorrer sucesso na aprendizagem, é necessário
haver um equilíbrio entre os fatores biológico,
cognitivo, social e emocional.
Frente a esta circunstância, como os profis-
sionais da Educação poderão lidar com o ensino
destes alunos e até mesmo, intervir quando
houver alguma dificuldade de aprendizagem?
Considerando que a Psicopedagogia surge
para lidar com situações de não-aprendizagem,
quais são as contribuições da Psicopedagogia
para o atendimento pedagógico hospitalar?
Estes questionamentos foram os motores para
elaboração deste artigo.
Para responder estas dúvidas, foi realizado
um levantamento teórico sobre a hospitalização
infantil e o processo de aprendizagem dentro
deste contexto, passando pela regulamentação
das Classes Hospitalares e a contribuição do
processo de humanização hospitalar. E para en-
tender como ocorre o atendimento pedagógico
hospitalar, também foi feito um estudo sobre
as atribuições e principais características deste
tipo de atendimento e, por fim, uma explanação
sobre a Psicopedagogia Institucional como a
abordagem mais adequada para aprimorar o
trabalho realizado em uma Classe Hospitalar.
Com o objetivo de levantar as contribuições
do profissional da Psicopedagogia no acompa-
nhamento pedagógico hospitalar, o presente
artigo propõe uma reflexão sobre a atuação
deste profissional em uma instituição – em es-
pecial, uma instituição hospitalar – e também
colabora para delimitar as atribuições de cada
profissional envolvido neste tipo de atendimen-
to, visando sempre uma melhora do quadro da
criança e do adolescente hospitalizado.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A hospitalização infantil e o processo de
aprendizagem
Para que possamos compreender melhor o
público alvo de uma Classe Hospitalar, farei
uma breve explanação sobre a hospitalização
infantil e a interação com a Aprendizagem, no
intuito de entender como a Psicopedagogia
pode contribuir para este tipo de acompanha-
mento pedagógico.
O processo de hospitalização pode ser um
evento traumático para qualquer pessoa. Du-
rante este momento, a pessoa perde sua singu-
laridade e passa a responder aos procedimentos
médicos que muitas vezes são dolorosos. Além
disto, o indivíduo passa a ser identificado por
números, ser reconhecido por sua doença e até
mesmo a vestir-se igual a todos os internados.
Tais procedimentos e regras são adotados para
que os profissionais de saúde possam tratar das
enfermidades de seus pacientes, visando disci-
plina e garantindo, assim, o tratamento correto
e coerente com a cientificidade exigida1
.
Considerando todos estes aspectos, podemos
compreender que uma hospitalização pode ser
ainda mais traumática para uma criança porque
a imagem que temos dela é de um ser que está
no mundo, explorando-o e brincando com toda a
energia possível. Quando hospitalizada, a criança
depara-se com o impedimento de brincar e conti-
nuar a explorar este mundo porque deve cumprir
regras e se submeter a procedimentos médicos.
A hospitalização vem como uma “bruxa mal-
vada”, que retira da criança o seu cotidiano de
fantasias, brincadeiras e explorações e a coloca
em um lugar sombrio, cheio de pessoas doentes
e que pedem ajuda a pessoas vestidas de branco
para aliviar a dor.
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
129
Alguns autores estudam os impactos no de-
senvolvimento infantil quando ocorre uma in-
tervenção hospitalar. Segundo Mitre e Gomes2
,
a hospitalização para uma criança pode levar a
traumas, porque a afasta do seu cotidiano e de
seu ambiente familiar, sendo um momento de
crise que, independente do tempo de duração,
será singular em sua vida. Lerner3
retrata que a
criança vivencia situações angustiantes e assus-
tadoras, como o medo do abandono dos pais e
familiares e o medo do desconhecido. A sensa-
ção de abandono se dá pela regras do hospital:
muitas vezes os pais não podem estar o tempo
todo com a criança porque podem aumentar o
risco de infecções e atrapalhar os procedimentos
hospitalares. E o medo do desconhecido “está
presente (...), pois o hospital é um ambiente
diferente, estranho e ameaçador, sendo que as
fantasias e imagens que as crianças elaboram
a respeito do hospital são fundamentalmente
persecutórias”.
Além destes pontos levantados, podem
ocorrer, ainda, complicações no desenvolvi-
mento físico e psíquico da criança hospitalizada,
dependendo do tempo de internação ou se o
quadro for crônico ou agudo, podendo levar a
um atraso no crescimento e no desenvolvimen-
to psicomotor e também gerar complicações
psíquicas, como depressão e comportamentos
regressivos3
.
Levando-se em conta tais aspectos apontados
sobre a hospitalização infantil, podemos iniciar
uma reflexão sobre o processo de aprendizagem
das crianças que estão enfermas e sob cuidado
constante. Conforme Paín4
, a aprendizagem
possibilita a transmissão da cultura a todos e
também disponibiliza a sua transformação por
intermédio da Educação. O ato de aprender está
presente em nossas vidas desde o momento do
nascimento e nos acompanha até o momento da
morte. Aprendendo, estamos nos adaptando e
adequando o mundo externo às nossas próprias
demandas.
Porto5
salienta que a aprendizagem possui
uma função integradora, estando diretamente
relacionada ao desenvolvimento psicológico,
denotando as possibilidades de interação e
adaptação da pessoa à realidade ao longo da
vida, sofrendo múltiplas influências de fatores
ambientais e individuais.
Esta integração descrita por Porto5
envolve
dois aspectos: o mundo interno e o mundo
externo do indivíduo. Ambos se relacionam
dialeticamente, um alimentando o outro simul-
taneamente. Paín4
considera tais fatores como
inerentes à aprendizagem: o aspecto social
(como fator externo), o orgânico, a condição
cognitiva e a dinâmica do comportamento, sen-
do os últimos retratados como fatores internos.
Desta forma, a autora ressalta a aprendizagem
como um processo dinâmico e que possibilita
um processamento da realidade e, concomitan-
temente, uma alteração no comportamento do
sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade
a qual está inserido.
Se levarmos em conta a perspectiva de que
com a aprendizagem o sujeito poderá atuar em
seu contexto e, por fim, transformá-lo, pode-
mos entender que disponibilizar um momento
para o aprender à uma criança hospitalizada
significará uma retomada à sua condição de
agente de sua realidade. Durante uma ativida-
de, a criança conseguirá explorar o seu meio e
intervir, permitindo assim que seja no mundo,
diferentemente quando está submetida a pro-
cedimentos médicos – neste instante ela age e
não simplesmente, reage.
Para Ceccim6
, manter a aprendizagem por
meio das classes hospitalares possibilita uma
alteração na vivência de hospitalização da
criança, porque resgata os aspectos de saúde
mantidos, mesmo em face da doença, enquanto
respeita e valoriza os processos afetivos e cog-
nitivos de construção de uma inteligência de si,
(...) do mundo, (...) do estar no mundo e inventar
seu problemas e soluções.
Assim sendo, podemos compreender que o
processo de aprendizagem torna-se um fator
terapêutico para criança hospitalizada, já que
“ser e se sentir real dizem respeito essencial-
mente à saúde (...)”7
. Porém, este processo
somente poderá acontecer adequadamente se
Lima MCC  Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
130
o ambiente lhe propiciar condições favoráveis
para sua ação e espontaneidade.
Conforme Winnicott8
, uma criança somente
pode voltar-se para o aprender quando se sente
cuidada e com suas necessidades atendidas.
Somente estabelecida a integração, é que o
indivíduo poderá explorar e compreender o
mundo exterior, apropriando-se dele e por fim,
modificando-o. E esta integração somente será
possível com o estabelecimento de um ambiente
suficientemente bom, no qual irá lhe favorecer
e intermediar suas experiências e angústias.
Com isto, a proposta de um atendimento pe-
dagógico hospitalar propõe o estabelecimento
de um espaço adequado para este aprender. As
chamadas classes hospitalares configuram este
lugar adaptado para que a criança hospitalizada
possa explorá-lo e agir da melhor maneira pos-
sível, conforme suas demandas internas.
Esta adequação do ambiente hospitalar
contribui para uma melhora significativa da
experiência de uma internação. É com este en-
foque que o próximo tópico será relatado, para
que possamos compreender o contexto ao quais
as recentes classes hospitalares estão inseridas.
A humanização hospitalar e a legalização
das classes hospitalares
O acompanhamento pedagógico hospitalar
já é realidade em muitos hospitais brasileiros.
Porém, este tipo de intervenção é recente e,
no intuito de entendermos como ocorreu esta
conquista, será necessário voltarmos no tempo.
Ao realizarmos um breve retrospecto do
histórico do ambiente hospitalar, notaremos
que este ambiente, antes caracterizado por uma
função de assistência e exclusão, sofreu trans-
formações e se constituiu em uma instituição
médica com uma função terapêutica, chegando
hoje a compor um ambiente institucional que
se preocupa com as relações humanas de aten-
dimento e não somente com o tratamento e a
cura da doença1
.
Visando uma cura efetiva, os hospitais en-
xergaram novas demandas de atuação de outros
profissionais além dos médicos, já que apenas
a cura física não estava sendo eficaz no trata-
mento terapêutico e que havia a necessidade de
um olhar mais individualizado e singular para
cada paciente.
Esse olhar implica em um processo de huma-
nização no ambiente hospitalar, sendo o termo
“humanização” mais antigo do que parece. A
ideia desse conceito vem da época hipocrática,
na qual imperava o discurso de que o médico
deveria ser o conhecedor da alma humana e da
cultura em que estava inserida; a cura era um
processo que envolvia o indivíduo doente em
sua totalidade, isto é, que o compreendia de
maneira biopsicossocial9
.
De acordo Manzano e Lima1
, atualmente
na área da saúde, o tema é bastante difundido,
principalmente após o lançamento do Projeto
Piloto de Humanização Hospitalar, em 2000,
pelo Ministério da Saúde. Tal projeto de hu-
manização das relações hospitalares teve como
objetivo criar uma nova cultura de relações
entre os trabalhadores de saúde e os usuários,
na busca da valorização da vida humana. Por
isso, podemos pensar que no campo da saúde
os relacionamentos não devem ficar somente
no campo do conhecimento e da linguagem
técnica.
Após este projeto inicial, o Ministério da
Saúde lançou em 2002 uma Política Nacional
de Humanização (PNH) que tem como foco
a atenção e gestão no Sistema Único de Saú-
de (SUS). A campanha de humanização dos
ambientes hospitalares ganha então o nome
de “HumanizaSUS”10
. Esta política tem como
objetivo a integralidade, a universalidade, o
aumento da equidade (igualdade na assistência
à saúde) e a incorporação de novas tecnologias e
especialização dos saberes presentes no campo
da Saúde.
Os gestores desta política compreendem a
humanização como a valorização dos usuários,
profissionais e gestores de saúde que participam
deste contexto, visando ao desenvolvimento da
autonomia entre os indivíduos, estabelecendo
responsabilidades mútuas e criação de vínculos
solidários, contando com a participação coletiva
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
131
nas ações tomadas e não atribuindo responsabi-
lidade ou especificações às diferentes funções e
profissões embora influencie todas elas.
A operacionalização deste programa pre-
visto pelo Ministério da Saúde ocorre com uma
troca e construção de saberes provindos de um
trabalho de equipe multiprofissional, com a
construção de redes solidárias e que interagem
com o SUS de forma participativa e protagonista
de muitas ações, com a valorização do subjetivo
e do social nas práticas de atenção à saúde e
também na gestão do SUS, fortalecendo assim
a autonomia e o protagonismo dos sujeitos
envolvidos.
Humanizar é, portanto, o ato de tornar huma-
no. E deve ser entendido em saúde como uma
valorização do respeito à vida e das condições
humanas, considerando os aspectos individuais
e particulares de cada pessoa, como a história
de vida deste indivíduo, os seus medos, suas an-
gústias, suas crenças e sonhos, os seus anseios
e demais singularidades.
Partindo destes princípios, podemos con-
siderar que a proposta de acompanhamento
pedagógico hospitalar pode contribuir consi-
deravelmente para a manutenção deste pro-
jeto de humanização. E acompanhando todo
este movimento para regulamentação de uma
política nacional de humanização, as classes
hospitalares também surgem como mais uma
ferramenta a ser implementada pelos hospitais.
Segundo Fonseca11
, em 1995, há um reco-
nhecimento pela legislação brasileira acerca
do direito da continuidade de escolarização às
crianças e adolescentes hospitalizados e no ano
anterior, no documento do MEC, há a denomi-
nação de classes hospitalares, sendo aquelas
que “objetivam atender pedagógico-educacio-
nalmente às necessidades do desenvolvimento
psíquico e cognitivo de crianças e jovens que
(...) se encontram impossibilitados de partilhar
as experiências sócio-intelectivas de sua família,
de sua escola e de seu grupo social”.
Em 2001, a Câmara de Educação Básica
do Conselho Nacional de Educação instituiu
as Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial e no artigo 13 há uma referência sobre
a escola no ambiente hospitalar, com caráter
obrigatório a partir de 200211
. Conforme o mo-
vimento nacional, cada estado viu-se obrigado
a estabelecer legislação específica para aten-
der esta nova determinação. Segundo Noffs e
Rachman12
, em 2000, o então deputado Milton
Flávio elaborou a lei nº 10.685 que dispõe sobre
o acompanhamento educacional da criança e
do adolescente internados para tratamento de
saúde. Diante a esta nova realidade, o Ministé-
rio da Educação, por intermédio da Secretaria
da Educação Especial, elaborou em 2002 um
documento denominado “Classe Hospitalar e
atendimento pedagógico domiciliar: estratégias
e orientações”.
Assim, concomitantemente à divulgação da
PNH (Política Nacional de Humanização), as
classes hospitalares também obtiveram o respal-
do legal para sua implementação e estruturação
no ambiente hospitalar e, com isso, a autoriza-
ção necessária para possibilitar a continuida-
de do aprendizado e auxiliar na melhoria do
quadro das crianças e adolescentes internados.
Contudo, tais legislações não esclarecem
de forma detalhada e prática a maneira como
cada instituição hospitalar deve implementar
este tipo de acompanhamento pedagógico. Até
por falta de estudos mais apurados, os hospitais
recorrem à Diretoria de Ensino das regiões
correspondentes para buscar não somente os
profissionais capacitados para realizar as ativi-
dades curriculares, mas, também, para seguir
o currículo estipulado para as demais escolas
de aula regular.
E com esta falta de orientação, algumas
adaptações do currículo destinado aos alunos de
grade regular à realidade de um ambiente hos-
pitalar podem tornar-se prejudiciais a este tipo
de intervenção. Conforme Noffs e Rachman12
,
“faz-se necessário esclarecer que tal oferta de
ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada
com cautela, pois não pode ser reduzido à mera
transferência das práticas do ensino regular ao
ensino hospitalar, considerando as diferentes
demandas dos diversos alunos-pacientes”.
Lima MCC  Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
132
Frente a esta situação, encontramos uma
oportunidade para a Psicopedagogia intervir
e auxiliar os professores e demais profissio-
nais destinados a este tipo de acompanha-
mento pedagógico. Por isto, a seguir, tratarei
sobre a rotina e demais características impor-
tantes de uma Classe Hospitalar e entender
como a Psicopedagogia pode contribuir para
a melhoria desta intervenção em franca ex-
pansão.
A Classe Hospitalar e suas principais atri-
buições
Conforme observamos no tópico anterior, a
organização do acompanhamento pedagógico
hospitalar não obedece a uma regra única. Cada
instituição sente-se livre para organizar este
tipo de intervenção, porque ainda não há uma
diretriz clara e precisa sobre o assunto por parte
dos órgãos responsáveis, até mesmo porque esta
atuação encontra-se em um intercâmbio entre
o campo da Educação e da Saúde.
Porém, ao realizarmos uma pesquisa apura-
da sobre a atuação dos profissionais em Classe
Hospitalar, encontramos algumas orientações
em comum que devem ser consideradas. Entre
elas, Noffs e Rachman12
, durante um trabalho
de assessoria psicopedagógica a professoras
que trabalhavam em um hospital geral público
da cidade de São Paulo, apontam as principais
diferenças encontradas entre as classes regu-
lares e as classes hospitalares. Dentre estas
características, destaco tais peculariedades de
uma Classe Hospitalar:
•	 Alunos em séries diferentes;
•	 Número de alunos varia de acordo com a
demanda do setor;
•	 Não há constância e frequência precisa dos
alunos;
•	 A temática planejada deve ser iniciada e
finalizada no mesmo período;
•	 Local em que ocorrem as atividades é de
acordo com a possibilidade da instituição
(brinquedoteca, por exemplo) ou, conforme
possibilidade do aluno, as atividades são
realizadas no próprio leito da criança.
Barros13
revela que, devido à sua caracte-
rística multiseriada, a Classe Hospitalar possui
uma estrutura dinâmica e caracteriza-se por ser
um grupo aberto. Mas, mesmo assim, cabe ao
profissional elaborar um programa com temas
centrais que nortearão a prática pedagógica.
Funghetto et al.14
salientam que o desenvol-
vimento destes temas acontecerá conforme
as fases de desenvolvimento de cada criança
a ser atendida e que a presença de crianças
com idades mistas possibilita uma nova prá-
tica pedagógica porque “às vezes as crianças
mais velhas davam aulas às crianças menores
e desenvolviam atividades de acordo com sua
idade e interesse14
.
Cabe ao educador elaborar e repensar estra-
tégias que estimulem a criança hospitalizada a
continuar com as atividades porque às vezes
este aluno pode se sentir indisposto devido
ao quadro de sua enfermidade. Além deste
aspecto, outros eventos podem interromper
(temporariamente ou não) o acompanhamento
pedagógico, como, por exemplo, a administra-
ção de uma medicação. Segundo Fonseca11
,
tais circunstâncias poderiam ser consideradas
como uma interferência, mas devem ser com-
preendidas como uma dinâmica do cotidiano da
Classe Hospitalar. O profissional deve aprovei-
tar cada momento vivenciado como “ganchos
para dinamizar ou re-estruturar a atividade, (...)
abrindo uma nova janela para o interesse do
aluno e seu desempenho frente às atividades
em desenvolvimento”.
Ao pensar em um planejamento de ativi-
dades, o educador deve estar ciente que sua
programação terá começo, meio e fim no mesmo
dia11
. Isto porque a rotatividade destas crianças
é uma variável não controlada; às vezes, uma
criança poderá participar da Classe Hospitalar
somente em um dia porque o seu quadro clínico
agravou ou então porque recebeu alta. Sendo
assim, antes de iniciar o acompanhamento, o
profissional deverá ler o prontuário de cada
criança internada para ter conhecimento da
situação real e ter tempo hábil para fazer qual-
quer tipo de adequação em seu planejamento.
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
133
Outra adaptação que o profissional da Edu-
cação deverá realizar se refere ao ambiente em
que ocorrerão as atividades. Dependerá dos
recursos disponíveis da Instituição: em alguns
casos, o hospital dispõe um leito desativado ou
um espaço inutilizado para que uma estrutura
com mesas e cadeiras possa ser montada; em ou-
tros, a brinquedoteca é o local disponibilizado.
Mas, conforme a realidade, poderá acontecer
o acompanhamento na enfermaria, no próprio
leito, em um refeitório ou outro local em que
haja uma mesa e uma cadeira11
.
Partindo desta rápida descrição da rotina de
uma Classe Hospitalar, podemos refletir que o
educador envolvido neste tipo de intervenção
deverá possuir uma boa habilidade de adapta-
ção, sensibilidade e disposição para contribuir
com seu trabalho para uma melhora – muitas
vezes, sutil – do quadro clínico de uma criança
hospitalizada15
. A relação com outros profissio-
nais da área da saúde também faz parte do co-
tidiano deste educador e com eles, é necessário
manter um bom relacionamento e cultivar uma
boa comunicação para que o trabalho como um
todo seja eficaz.
O comprometimento também é fundamental
durante a atuação deste educador. Segundo
Fonseca11
, “é imprescindível ao professor tentar
manter os horários e a frequência de atendi-
mento aos seus alunos, uma vez que a criança
hospitalizada já vive muitas incertezas do ponto
de vista médico (...)”. Considerando tudo isto, o
professor não pode ser mais uma incerteza na
vida da criança.
O educador da Classe Hospitalar também
deve ter uma ótima observação, que, conforme
Fonseca11
, é um instrumento muito importante.
Observando todas as variáveis que compõem o
acompanhamento e aliando a um registro sobre
o desempenho das crianças, este profissional
poderá compreender possíveis demandas de um
atendimento mais específico a algum paciente
ou, então, renovar e planejar outras atividades
que atendam as demandas destas crianças.
Todo este quadro apresentado me remete a
uma indagação: como a Psicopedagogia pode
auxiliar este educador a realizar suas atribui-
ções da melhor forma possível e, ainda, ajudar
no diagnóstico e na intervenção de prováveis
dificuldades de aprendizagem de uma criança
hospitalizada? O Psicopedagogo pode ser o
profissional que atenderá às demandas de re-
flexão e compreensão por parte do professor a
respeito deste aluno tão particular? Para tentar
responder tais questões, irei recorrer a uma
breve explanação sobre a Psicopedagogia Ins-
titucional, considerando-a como o olhar mais
adequado para este tipo de acompanhamento
pedagógico.
A Psicopedagogia institucional e o atendi-
mento pedagógico hospitalar
Até o momento, realizei uma rápida des-
crição dos componentes envolvidos em um
Acompanhamento Pedagógico Hospitalar,
iniciando pelo público atendido, a aprendiza-
gem neste espaço, levantando dados sobre a
contextualização desta abordagem, assim como
a legislação envolvida e as características deste
tipo de atuação.
Diante deste cenário, encontro na Psico-
pedagogia um olhar específico para abordar
questões não somente dos alunos (as crianças
hospitalizadas) e suas possíveis dificuldades,
mas também, de forma mais ampla, todo o am-
biente envolvido neste aprender.
Conforme Porto5
, a Psicopedagogia ainda
é uma ciência nova e que está em plena cons-
trução. Ela surge para atender uma demanda
específica: “(...) para auxiliar a intervenção e
prevenção dos problemas de aprendizagem5
”.
Considerando o caráter preventivo, o psicope-
dagogo realiza uma investigação institucional,
avaliando os processos didáticos e metodológi-
cos aplicados, além de analisar toda a dinâmica
existente dos profissionais desta instituição,
para assim encontrar os possíveis problemas
e propiciar a intervenção adequada para uma
reestruturação deste ambiente5
.
Esta análise, ainda segundo a autora, é rea-
lizada por meio de uma abordagem sistêmica e
crítica. Com isto, a Psicopedagogia Institucional
Lima MCC  Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
134
renova a forma de atuar dentro das instituições
escolares ou em qualquer outra instituição onde
possa ocorrer a aprendizagem – como no caso
de um hospital. Levando em conta a relação
existente entre a instituição e o aprender, o
psicopedagogo pode contribuir para uma ade-
quação das interações existentes entre aquele
que ensina e aprende. Porto5
reforça que “a
reflexão sobre o individual e o coletivo traz a
possibilidade da tomada de consciência e da
inovação por meio da criação de novos espaços
de reflexão com a aprendizagem”.
Apesar de seu surgimento estar relacionado
com as dificuldades de aprendizagem, a Psico-
pedagogia tem como objeto de estudo todo o
processo de aprendizagem. Gasparian16
ressalta
que, dentre as características da aprendizagem,
o psicopedagogo também deve estar atento às
relações de todos os elementos que compõem
um ambiente em que ocorra o aprender. E
pensando em uma Classe Hospitalar, é possível
entender que o olhar do profissional deverá
abranger a instituição hospitalar e todas suas
características.
Retomando o capítulo anterior sobre as atri-
buições de uma Classe Hospitalar e relembrando
as responsabilidades dos educadores, podemos
entender que oferecer um espaço de escuta e
reflexão a estes profissionais poderá garantir a
autonomia necessária para que possam desem-
penhar da melhor forma este tipo de acompanha-
mento pedagógico. Noffs e Rachman12
reforçam
que, propiciando este lugar, o educador poderá
também estimular a autonomia do aluno, per-
cebendo que a possibilidade de tomar decisão
é um aspecto saudável. Além disto, outro ponto
destacado pelas autoras é a necessidade de for-
mar os educadores contratados para trabalhar em
um ambiente hospitalar, adequando as propostas
didáticas à rotina da internação. Como tais profis-
sionais, em sua maioria, não possuem formação
específica em Pedagogia Hospitalar, podem ocor-
rer muitas confusões quando o professor resolve,
por exemplo, aplicar um currículo de uma classe
regular sem realizar as adaptações necessárias
para a aplicação em uma Classe Hospitalar.
Uma formação adequada deste educador
possibilitará uma melhora na maneira como irá
realizar este acompanhamento. Noffs e Rach-
man12
identificaram esta demanda de apoio e
afirmam que tal necessidade possibilita a atu-
ação do psicopedagogo, já que pode contribuir
para a formação específica e também para uma
formação pessoal.
No primeiro tipo de formação, o psicope-
dagogo auxilia o educador a refletir sobre o
seu papel em uma Classe Hospitalar e saber
que a sua atuação é diferente de um professor
de uma classe regular e também, de um pro-
fessor particular. Quanto à formação pessoal,
Noffs e Rachman12
consideram como o apoio
a ser feito com maior ênfase porque irá ofe-
recer recursos a estes profissionais para que
possam lidar com as crianças hospitalizadas
e descobrir o aspecto saudável das mesmas.
Ao identificar a potencialidade de uma criança
internada, o educador poderá utilizá-la como
ponto de partida para seu trabalho e contribuir
para sua melhora.
Ainda sobre a necessidade de um apoio aos
professores, Fighera15
salienta que “(...) compe-
te ao sistema educacional e serviços de saúde
oferecerem assessoramento permanente ao pro-
fessor, bem como inseri-lo na equipe de saúde
que coordena o projeto terapêutico individual.”
Porto5
reforça que o psicopedagogo, quando
em intervenção institucional, utiliza técnicas e
atividades como reuniões e discussões, para
conseguir a ressignificação do educador em
relação ao aprender. Para a autora, esta ação
é coletiva e torna-se a peça-chave para o seu
sucesso.
Além do aspecto de apoio aos professores,
o psicopedagogo também poderá compreender
como se dá a aprendizagem das crianças da ins-
tituição analisada e, assim, contribuir com mais
dados aos educadores, para que possam realizar
um planejamento de trabalho mais condizente
com a demanda existente.
A leitura psicopedagógica possibilita a iden-
tificação do significado da aprendizagem para
cada aluno, bem como da sua modalidade de
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
135
aprendizagem, da etapa operatória do pensa-
mento, das suas dificuldades e possibilidades.
A organização de um modelo sadio de ensino-
aprendizagem no espaço escolar implica a
ressignificação do conhecimento e o respeito ao
processo cognitivo e às pulsões epistemofílicas
do aluno5
.
Com a explanação teórica feita até o momen-
to, iniciamos uma visualização dos elementos
existentes na Psicopedagogia que auxiliam o
atendimento pedagógico das crianças e ado-
lescentes hospitalizados. As possibilidades
de intervenção com um enfoque institucional
revelam-se necessárias para o bom andamento
do trabalho. Porém, para que possamos fechar
esta pesquisa, é preciso olhar para o cotidiano
deste tipo de atendimento.
Sendo assim, na sequência veremos os da-
dos coletados em uma entrevista realizada com
uma psicopedagoga que atua em uma Classe
Hospitalar e seguiremos neste caminho com o
objetivo de entender como a Psicopedagogia
pode contribuir com o Atendimento Pedagógico
Hospitalar.
MÉTODO DA PESQUISA
Para levantar os dados de análise desta
pesquisa, foi utilizada a abordagem qualitativa
porque esta permite uma melhor compreensão
do fenômeno estudado já que, conforme Chizzot-
ti17
, existe uma interdependência entre o objeto
de estudo e a subjetividade do sujeito analisado
que é inseparável. A partir desta abordagem,
foi escolhida a técnica de estudo de caso que
permite coletar e registrar dados a partir de um
caso particular e como instrumento de coleta
de dados, foi utilizada a entrevista não diretiva.
Todos os cuidados éticos foram tomados
nesta pesquisa e, para garantir o sigilo do pro-
fissional entrevistado, foi elaborado um termo
de consentimento livre e esclarecido com lin-
guagem clara e objetiva, solicitando a possibi-
lidade de gravação da entrevista para posterior
transcrição, explicando o intuito do trabalho,
garantindo o sigilo dos dados coletados e o
anonimato do psicopedagogo participante.
Ao definir o critério de escolha do profis-
sional participante, foi decidido que seria um
psicopedagogo e que a faixa etária e sexo não
seriam relevantes na escolha, porém, o fator
determinante seria a experiência profissional
junto à área hospitalar e ao atendimento pe-
dagógico hospitalar. E, conforme este critério,
a psicopedagoga escolhida é uma profissional
que atua na área desde 2005 e que receberá
neste artigo o nome fictício de Helena. Ela
trabalha em um hospital particular especiali-
zado no tratamento oncológico e localizado na
cidade de São Paulo.
A entrevista ocorreu no hospital, onde He-
lena trabalha, em um local destinado ao aten-
dimento pedagógico das crianças internadas
e que está localizado no andar da Pediatria.
Durante a entrevista, uma pedagoga estava
terminando um trabalho e, por um momento,
a entrevista foi interrompida para que Helena
pudesse atender a um telefonema. A entrevista
durou 40 minutos.
RESULTADOS E ANÁLISE
Os resultados obtidos serão analisados com
base na fundamentação teórica apresentada
anteriormente e com o intuito de compreender
como a Psicopedagogia contribui para o aten-
dimento pedagógico hospitalar.
Para tanto, a entrevista foi transcrita. As
falas de Helena foram separadas em cate-
gorias para uma análise adequada e que
respondesse os questionamentos levantados
durante a explanação teórica. As categorias
encontradas foram: 1) A importância da Psi-
copedagogia para o Atendimento Pedagógico
Hospitalar; 2) Atuação do psicopedagogo
na Classe Hospitalar; 3) Formação dos pro-
fessores da Classe Hospitalar; 4) Relaciona-
mento com a equipe médica; 5) Legislação
da Classe Hospitalar. Vale ressaltar que esta
categorização foi feita para fins didáticos e
para facilitar a leitura dos dados coletados.
Abaixo seguem as análises das categorias
acima descritas e as falas da profissional
estão destacadas em itálico.
Lima MCC  Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
136
A importância da Psicopedagogia para o
atendimento pedagógico hospitalar
Nesta categoria é possível entender como
a Psicopedagogia contribui para o trabalho
realizado em uma Classe Hospitalar. Na visão
da entrevistada, a contribuição da Psicopeda-
gogia está na maneira diferenciada em avaliar
as necessidades dos pacientes: “(...) para poder
intervir, para avaliar, para identificar onde está a
dificuldade do aluno, se é com relação à família,
se é com relação ao tratamento, se é com relação
ao retorno à escola (...).”.
Esta citação nos remete à possibilidade que
a Psicopedagogia Institucional oferece aos
profissionais da Educação: um olhar amplo
sobre o processo de ensino-aprendizagem, con-
siderando todos os aspectos envolvidos e que
estão interligados fortemente. Ao avaliar uma
dificuldade de aprendizagem, o psicopedagogo
que atua em uma Classe Hospitalar utilizará
uma abordagem sistêmica e levará em consi-
deração o vínculo estabelecido do aluno com
a instituição, o impacto do tratamento no seu
desempenho assim como a própria relação fa-
miliar e também, após o período de internação,
o seu retorno ao ambiente escolar.
Outro ponto trazido por Helena é a necessi-
dade de se ter um apoio psicopedagógico nas
reuniões realizadas com os professores do local:
“nem que fosse para dar assessoria, mas tem
que ter, porque é um olhar complementar e a
gente precisa disso. É uma diversidade muito
grande, são muitas dificuldades (...) da doença,
da situação crítica, por tudo que a criança passa
que a família passa as dificuldades dos profes-
sores também”.
Isto reflete a necessidade de se oferecer um
espaço de escuta e reflexão a estes profissionais,
conforme divulgado por Noffs e Rachman12
. Ao
discutir o cotidiano de suas atividades, os pro-
fissionais da Classe Hospitalar podem refletir
suas ações, o seu papel neste tipo de acompa-
nhamento e também, conseguirão desenvolver
autonomia na abordagem escolhida que irá
atender as necessidades do paciente da melhor
forma possível.
Atuação do Psicopedagogo na Classe Hos-
pitalar
Com este tópico podemos compreender,
baseando-se na rotina desta instituição, como o
Psicopedagogo atua em uma Classe Hospitalar.
Helena revela que “(...) quando a criança é aten-
dida pedagogicamente (...) fazendo uma ativi-
dade lúdica, escolar ou pedagógica e a gente
percebe que nos diferentes espaços essa criança
apresenta uma dificuldade ou não consegue fa-
zer uma atividade ou até de brincar (...) ou tem
uma alteração muito grande daquela atividade
que a gente está pedindo a gente então elege a
criança para fazer uma discussão de caso (...) e
a gente fala ‘ah, vamos encaminhar para fazer
uma avaliação psicopedagógica’(...)”.
Nesta citação é possível perceber que a
Psicopedagogia ganha espaço nas instituições
quando uma dificuldade de aprendizagem
fica evidente. Antes, durante o planejamento
das atividades ela não está presente porque,
conforme visto anteriormente, é uma ciência
recente e que está em processo de construção
e reconhecimento entre os demais profissionais.
Sendo assim, a Psicopedagogia é geralmente
acionada quando a dificuldade fica explícita e se
torna necessária uma avaliação para entender
o quadro encontrado.
Esta expectativa de se realizar uma avaliação
psicopedagógica somente quando um sintoma
é retratado também está presente entre os pro-
fissionais da equipe médica: “(...) às vezes até
a equipe médica, de uns dois anos pra cá, vem
ocorrendo de encaminharem um ou outro pa-
ciente que apresenta uma dificuldade específica
duradoura de aprendizagem (...).”.
Com este dado podemos compreender que a
Psicopedagogia está vinculada exclusivamente
ao tratamento de uma dificuldade já existente,
principalmente entre a equipe médica.
FormaçãodosprofessoresdaClasseHospitalar
A formação dos professores que atuam em
uma Classe Hospitalar também foi discutida du-
rante a entrevista com Helena. Nesta categoria
podemos entender quais são as especializações
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
137
necessárias para este tipo de atuação. Para
Helena, “não dá para trabalhar sem ter Peda-
gogia e sem ter especializações na área, por
exemplo, Psicopedagogia, Educação Especial
ou especializações de deficiências outras. Ela
complementa ainda dizendo que “formação
nunca é demais, (...) porque as pessoas mudam
muito rápidas e o professor está sempre queren-
do fazer alguma coisa diferente (...).”.
Portanto, a formação constante destes pro-
fissionais se torna um ponto obrigatório para
uma atuação adequada. Conforme vimos, o
comprometimento do educador é o norte que
fará com que busque maiores informações
e fundamentações teóricas para que sua
prática se renove a cada dia e a cada aluno
atendido.
Outro ponto levantado por Helena é que
o Hospital possui uma parceria com a Secre-
taria Municipal de Educação de São Paulo e
oferece cursos de aperfeiçoamento na área de
Atendimento Pedagógico Hospitalar. E, por
conta destes cursos, os professores da própria
Classe Hospitalar da instituição participam do
planejamento e da elaboração de materiais:
“outra coisa que proporcionou uma troca de
saberes muito grande para gente foi quando a
gente começou a fazer estes cursos de formação,
porque isso de preparar aula junto, (...) a gente
troca muito.”.
Ou seja, durante esta preparação de cursos,
os próprios professores repensam suas práticas
e realizam uma reflexão bastante produtiva de
suas atribuições neste tipo de atendimento.
Relacionamento com a equipe médica
Além do aspecto de formação dos profes-
sores, os cursos também proporcionaram um
melhor entendimento por parte da equipe
médica do hospital sobre o trabalho realizado
na Classe Hospitalar. Helena revela que “até
dois anos atrás a gente está contextualizado na
Pediatria, mas não tinha contato direto com os
médicos. Depois dos cursos a gente começou
a receber um ou outro encaminhamento dos
médicos (...).”.
Isto denota que o trabalho realizado em uma
Classe Hospitalar, até pouco tempo, não era
valorizado pela equipe médica porque o foco
da atuação destes profissionais como exposto
na fundamentação teórica, é tratar com a maior
cientificidade possível o quadro enfermo dos
pacientes, principalmente nos casos de câncer.
Com as mudanças propostas pelo processo de
humanização hospitalar, este tipo de olhar está
sendo alterado e ações que visam um tratamen-
to mais amplo estão ganhando espaço dentro
da instituição.
Legislação da Classe Hospitalar
Por fim, esta última categoria nos possibilita
compreender que a regularização do atendi-
mento pedagógico hospitalar ainda necessita de
adequações. Helena salienta que a legislação
existente “é muito frágil, ela não coloca quem
deve dar este atendimento, em que hospitais,
ela não coloca se é fundamental I e II, ela não
diz nada”.
Esta falta de orientação mais específica
possibilita falha no decorrer do atendimento
pedagógico hospitalar. E, como vimos anterior-
mente, a mais comum é a de utilizar o currículo
estipulado para escolas de aula regular em uma
Classe Hospitalar, sem fazer as devidas adapta-
ções já que este tipo de classe é caracterizado
por ser multiseriada. Sendo assim, um olhar
especializado se faz necessário para coordenar
este tipo de atendimento em uma instituição
hospitalar.
CONCLUSÃO
Valendo-se de tudo o que foi exposto até o
momento e contando com a entrevista realizada,
é possível atingir o objetivo do presente artigo,
compreendendo como a Psicopedagogia pode
contribuir para o Atendimento Pedagógico
Hospitalar.
A entrevistada reforça a concepção de que
um olhar institucional para este tipo de acom-
panhamento se faz necessário porque todos os
elementos fazem parte do processo de aprendi-
zagem – a enfermidade da criança, a instituição
Lima MCC  Natel MC
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
138
hospitalar e seu cotidiano, as relações familia-
res – enfim, o contexto no qual este aluno está
inserido pede um olhar mais amplo e atento às
suas necessidades e às suas potencialidades.
E, para tanto, a Psicopedagogia Institucional
revela-se a abordagem mais apropriada para
este tipo de intervenção.
Outro ponto a concluir seria sobre o espaço
que este tipo de atendimento tem hoje nos hos-
pitais. Como vimos, por intermédio do processo
de humanização hospitalar, intervenções como
a Classe Hospitalar ganham força dentro da
instituição, com o reconhecimento dos demais
profissionais de saúde.
A atuação da Psicopedagogia em um am-
biente hospitalar adquire forma e durante este
processo de estruturação, ainda existe um pres-
suposto de que esta ciência trabalhe somente
com as dificuldades de aprendizagem. É preciso
demonstrar aos demais profissionais – e refor-
çar entre os próprios psicopedagogos – que a
Psicopedagogia deve estar presente em todos
os momentos em que ocorra a aprendizagem,
desde o planejamento de uma atividade, pas-
sando pela formação e discussão de casos com
os educadores e por fim, intervindo em possíveis
dificuldades de aprendizagem.
Considerando este ponto de vista e adotando
uma visão institucional, o psicopedagogo poderá
contribuir com o seu conhecimento de todo pro-
cesso de aprendizagem para a atuação em uma
Classe Hospitalar e, assim, aprimorar este tipo
de atendimento pedagógico tão essencial para as
crianças e os adolescentes hospitalizados.
SUMMARY
Psychopedagogy and service educational hospital
This article aims to raise the contributions from Psychopedagogy to
Service Educational Hospital. Therefore, studies were performed on the
process of child hospitalization and form of learning in this context, the
functions and laws about class and the Hospital Institutional Psychoeducation
as an approach to meet this demand. We carried out an interview with a
professional which operates in a Class Hospital in order to understand the
reality of this type of care. The study shows that Psychopedagogy through
an institutional vision and systemic, can contribute significantly to the care
teaching hospital, not only in cases of possible learning difficulties, but
mainly in planning activities and training of educators.
KEY WORDS: Care teaching hospital. Institutional psychopedagogy.
Child hospitalization.
A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39
139
REFERÊNCIAS
	 1.	 Manzano DK, Lima MCC. A relação do psi-
cólogo com a criança hospitalizada sob um
olha winnicottiano [Monografia apresen-
tada à disciplina Trabalho de Conclusão
de Curso, do curso de Graduação em Psi-
cologia]. São Paulo:Universidade São Mar-
cos;2005.
	 2.	 Mitre RMA, Gomes R. A promoção do brin-
car no contexto da hospitalização infantil
como ação de saúde. Ciência Saúde Coleti-
va. [on line]. 2004;9(1):147-54
	 3.	 Lerner EMN. A psicologia no hospital:
o impacto da hospitalização nas crian-
ças, nos adolescentes e no psicólogo hos-
pitalar [Dissertação de Mestrado]. São
Paulo:Universidade São Marcos;2002.
	 4.	 Paín S. Diagnóstico e tratamento dos
problemas de aprendizagem. Porto
Alegre:Artmed;1985.
	 5.	 Porto O. Psicopedagogia institucional: teo-
ria, prática e assessoramento psicopedagó-
gico. São Paulo:Wak Editora;2007.
	 6.	 Ceccim RB. Classe hospitalar: encontros da
educação e da saúde no ambiente hospita-
lar. Pátio. 1999;Ano III Nº 10.
	 7.	 Winnicott DW. Tudo começa em casa. 3ª ed.
São Paulo:Martins Fontes;1999. 282p.
	 8.	 Winnicott DW. A família e o desenvolvi-
mento individual. São Paulo:Martins Fon-
tes;2001. 247p.
	 9.	 Souza MLR. O hospital: um espaço terapêu-
tico? Percurso. 1992;9(2):22-8.
	10.	 Ministério da Saúde. Política Nacional de Hu-
manização da atenção e gestão no Sistema
Único de Saúde – HumanizaSUS. Disponível
em www.saude.gov.br. Acesso em 6/5/2005.
	11.	 Fonseca ES. Atendimento escolar no am-
biente hospitalar. São Paulo:Memnon;2003.
	12.	 Noffs NA, Rachman VCB. Psicopedagogia e
saúde: reflexões sobre a atuação psicopeda-
gógica no contexto hospitalar. Revista Psi-
copedagogia, 2007.
	13.	 Barros ASS. Contribuições da educação
profissional em saúde à formação para o
trabalho em Classe Hospitalar. Caderno
CEDES. 2007;27. Disponível no site http://
www.scielo.br. Acesso em 12/5/2008.
	14.	 Funghetto SS, Freitas SN, Oliveira VF. Clas-
se hospitalar: uma vivência através do lúdi-
co. Pátio. 1999;Ano III Nº 10.
	15.	 Fighera TM. Pedagogia hospitalar: o pa-
ciente frente a uma nova abordagem de
ensino. Disponível no site http://www.psi-
copedagogia.com.br. Acesso em 15/5/2008.
	16.	 Gasparian MCC. Psicopedagogia institu-
cional sistêmica. São Paulo:Abril Cultu-
ral;1997.
	17.	 Chizzotti A. Pesquisa em Ciências Huma-
nas e Sociais. 5ª ed. São Paulo:Cortez;2001.
Artigo recebido: 1/10/2009
Aceito: 12/12/2009
Trabalho realizado na Universidade Cidade de
São Paulo, São Paulo, SP. Artigo apresentado ao
módulo Pesquisa em Psicopedagogia, do curso
de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia
Clínica e Institucional, sob orientação da professora
Maria Cristina Natel.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A intervenção psicopedagógica em casos de autismo
A intervenção psicopedagógica em casos de autismoA intervenção psicopedagógica em casos de autismo
A intervenção psicopedagógica em casos de autismoRosane Domingues
 
Psicologia e pediatria ii
Psicologia e pediatria iiPsicologia e pediatria ii
Psicologia e pediatria iiPsicologia_2015
 
Projeto Permanente de Extensão em Pdf
Projeto Permanente de Extensão em PdfProjeto Permanente de Extensão em Pdf
Projeto Permanente de Extensão em PdfGPSPSM
 
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10Antonio Franklin Ritton
 
Psicologia e clinica medica
Psicologia e clinica medicaPsicologia e clinica medica
Psicologia e clinica medicaPsicologia_2015
 
Psicologia escolar e Educacional
Psicologia escolar e EducacionalPsicologia escolar e Educacional
Psicologia escolar e Educacionalmluisavalente
 
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogos
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogosA saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogos
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogosRenatbar
 
Patricia cabral duarte aprovada em 04 de outubro
Patricia cabral duarte   aprovada em 04 de outubroPatricia cabral duarte   aprovada em 04 de outubro
Patricia cabral duarte aprovada em 04 de outubroPatricia Duarte
 
Pe como era e como deve ser
Pe como era e como deve serPe como era e como deve ser
Pe como era e como deve sermpsmarques
 
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yoga
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yogaMarcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yoga
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yogaDANIELAMORONI2
 
A atuaçao do psicologo no parana
A atuaçao do psicologo no paranaA atuaçao do psicologo no parana
A atuaçao do psicologo no paranaTati Souza
 
Programacao completa para site psicologia
Programacao completa para site psicologiaProgramacao completa para site psicologia
Programacao completa para site psicologiaRafaelFelicianoSilva
 
2019 sbp -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas
2019 sbp  -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas2019 sbp  -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas
2019 sbp -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticasgisa_legal
 

Mais procurados (18)

Psicologia e uti ii
Psicologia e uti iiPsicologia e uti ii
Psicologia e uti ii
 
A intervenção psicopedagógica em casos de autismo
A intervenção psicopedagógica em casos de autismoA intervenção psicopedagógica em casos de autismo
A intervenção psicopedagógica em casos de autismo
 
Psicologia e pediatria ii
Psicologia e pediatria iiPsicologia e pediatria ii
Psicologia e pediatria ii
 
Projeto Permanente de Extensão em Pdf
Projeto Permanente de Extensão em PdfProjeto Permanente de Extensão em Pdf
Projeto Permanente de Extensão em Pdf
 
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10
Introducao a psicopedagogia_definicao_14-08-10
 
Psicologia e clinica medica
Psicologia e clinica medicaPsicologia e clinica medica
Psicologia e clinica medica
 
Psicologia uti
Psicologia utiPsicologia uti
Psicologia uti
 
Relatório
RelatórioRelatório
Relatório
 
Psicologia escolar e Educacional
Psicologia escolar e EducacionalPsicologia escolar e Educacional
Psicologia escolar e Educacional
 
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogos
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogosA saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogos
A saúde mental está doente! a síndrome de burnout em psicólogos
 
História da psicopedagogia
História da psicopedagogiaHistória da psicopedagogia
História da psicopedagogia
 
Patricia cabral duarte aprovada em 04 de outubro
Patricia cabral duarte   aprovada em 04 de outubroPatricia cabral duarte   aprovada em 04 de outubro
Patricia cabral duarte aprovada em 04 de outubro
 
A Pesquisa Em Psicopedagogia
A Pesquisa Em PsicopedagogiaA Pesquisa Em Psicopedagogia
A Pesquisa Em Psicopedagogia
 
Pe como era e como deve ser
Pe como era e como deve serPe como era e como deve ser
Pe como era e como deve ser
 
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yoga
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yogaMarcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yoga
Marcella barbosa neuman disssertcao usp sobre eficaccia da yoga
 
A atuaçao do psicologo no parana
A atuaçao do psicologo no paranaA atuaçao do psicologo no parana
A atuaçao do psicologo no parana
 
Programacao completa para site psicologia
Programacao completa para site psicologiaProgramacao completa para site psicologia
Programacao completa para site psicologia
 
2019 sbp -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas
2019 sbp  -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas2019 sbp  -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas
2019 sbp -consulta_adolescente_-_abordclinica_orienteticas
 

Semelhante a 5 psicopedagogia hospitalr

Autismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilAutismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilRosane Domingues
 
Autismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilAutismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilRosane Domingues
 
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalar
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalarPrática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalar
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalarTelma Varelo Cruz
 
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório Elisângela Feitosa
 
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTILINTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTILDaniela636268
 
A atuação do psicólogo escolar multirreferencialidade, implicação e escuta ...
A atuação do psicólogo escolar   multirreferencialidade, implicação e escuta ...A atuação do psicólogo escolar   multirreferencialidade, implicação e escuta ...
A atuação do psicólogo escolar multirreferencialidade, implicação e escuta ...Thiago Cardoso
 
Artigo sala de espera
Artigo sala de esperaArtigo sala de espera
Artigo sala de esperaStefaneThais
 
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)William Silva
 
Artigo orientação da queixa escolar
Artigo orientação da queixa escolarArtigo orientação da queixa escolar
Artigo orientação da queixa escolarPatricia Rodrigues
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental InfantojuveniCENAT Cursos
 
Hospitalização infantil de 0 a 17 anos
Hospitalização infantil de  0 a 17 anosHospitalização infantil de  0 a 17 anos
Hospitalização infantil de 0 a 17 anosMichelle Santos
 
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidade
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidadeIntegracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidade
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidadeJacinto Alves
 

Semelhante a 5 psicopedagogia hospitalr (20)

PEDAGOGIA HOSPITALAR.
PEDAGOGIA HOSPITALAR.PEDAGOGIA HOSPITALAR.
PEDAGOGIA HOSPITALAR.
 
PEDAGOGIA HOSPITALAR.
PEDAGOGIA HOSPITALAR.PEDAGOGIA HOSPITALAR.
PEDAGOGIA HOSPITALAR.
 
O desenvolvimento da aprendizagem de uma jovem adulta no ensino fundamental
O desenvolvimento da aprendizagem de uma jovem adulta no ensino fundamentalO desenvolvimento da aprendizagem de uma jovem adulta no ensino fundamental
O desenvolvimento da aprendizagem de uma jovem adulta no ensino fundamental
 
01. manual do psi. escolar
01. manual do psi. escolar01. manual do psi. escolar
01. manual do psi. escolar
 
Autismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilAutismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantil
 
Autismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantilAutismo e inclusão na educação infantil
Autismo e inclusão na educação infantil
 
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalar
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalarPrática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalar
Prática docente de um pedagogo em uma área no ambiente hospitalar
 
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório
DISCALCULIA NO ENSINO MÉDIO: DAS CONDIÇÕES DE CONTORNAR O DISTÚRBIO - Relatório
 
Histórico da pedagogia hospitalar
Histórico da pedagogia hospitalarHistórico da pedagogia hospitalar
Histórico da pedagogia hospitalar
 
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTILINTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INTENVENÇÃO PSICOLOGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
 
Rosana rosimara erika
Rosana rosimara erikaRosana rosimara erika
Rosana rosimara erika
 
A atuação do psicólogo escolar multirreferencialidade, implicação e escuta ...
A atuação do psicólogo escolar   multirreferencialidade, implicação e escuta ...A atuação do psicólogo escolar   multirreferencialidade, implicação e escuta ...
A atuação do psicólogo escolar multirreferencialidade, implicação e escuta ...
 
Artigo carolinakopschina
Artigo carolinakopschinaArtigo carolinakopschina
Artigo carolinakopschina
 
Artigo sala de espera
Artigo sala de esperaArtigo sala de espera
Artigo sala de espera
 
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)
Apostila de psicologia da educaã‡ãƒo (1)
 
Artigo orientação da queixa escolar
Artigo orientação da queixa escolarArtigo orientação da queixa escolar
Artigo orientação da queixa escolar
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
 
Hospitalização infantil de 0 a 17 anos
Hospitalização infantil de  0 a 17 anosHospitalização infantil de  0 a 17 anos
Hospitalização infantil de 0 a 17 anos
 
Nb m07t11 adriana_m_machado
Nb m07t11 adriana_m_machadoNb m07t11 adriana_m_machado
Nb m07t11 adriana_m_machado
 
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidade
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidadeIntegracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidade
Integracao familia escola - a experiencia de um estagio em educacao e comunidade
 

Último

PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 

Último (20)

PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 

5 psicopedagogia hospitalr

  • 1. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 127 MONOGRAFIA RESUMO – Este artigo se propõe a levantar as contribuições da Psicopedagogia para o Atendimento Pedagógico Hospitalar. Para tanto, foram realizados estudos sobre o processo de hospitalização infantil e a forma de aprendizagem neste contexto, as atribuições e legislações sobre Classe Hospitalar, assim como a Psicopedagogia Institucional como abordagem para atender tal demanda. Foi realizada uma entrevista com uma psicopedagoga que atua em uma Classe Hospitalar, no intuito de compreender a realidade deste tipo de atendimento. O estudo revela que a Psicopedagogia, por meio de uma visão institucional e sistêmica, pode contribuir significativamente com o atendimento pedagógico hospitalar, não somente em casos de possíveis dificuldades de aprendizagem, mas, principalmente, no planejamento das atividades e na formação dos educadores. UNITERMOS: Atendimento pedagógico hospitalar. Psicopedagogia institucional. Hospitalização infantil. A Psicopedagogia e o atendimento pedagó- gico hospitalar Michele Oristina Carioca de Lima - Psicóloga com Especialização em Psicopedagogia pela Universidade Cidade de São Paulo. Maria Cristina Natel - Pedagoga, Psicopedagoga, Especialista em P E I - Programa de Enriquecimento Instrumental (nível 1 e 2) e Especialista em LPAD - Evalucion Dinâmica Del Potencial de Aprendizaje (nível 1). Membro do Conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp da Diretoria da ABPp - Seção São Paulo e Docente em Cursos de Psicopedagogia. Correspondência Michelle Cristina Carioca de Lima Rua Alexandre Levi, 202 Apto. 34 A – Cambuci – São Paulo, SP - CEP 01520-000 E-mail: psicologia_michelle@yahoo.com.br Michelle Cristina Carioca de Lima; Maria Cristina Natel
  • 2. Lima MCC & Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 128 INTRODUÇÃO O acompanhamento pedagógico hospitalar já é uma realidade em muitos hospitais pelo Brasil. Pode-se entender que é uma das ferra- mentas da humanização hospitalar existentes, além de propiciar a continuidade ao direito de escolaridade das crianças, independente de sua situação. A atuação de professores e demais profis- sionais da Educação deve levar em conta o contexto da hospitalização infantil, com todo o impacto no cotidiano, na convivência familiar e sentimentos de angústia e temor vivenciados pelas crianças a serem acompanhadas. Estes fatores podem estar presentes em possíveis dificuldades de aprendizagem já que, para ocorrer sucesso na aprendizagem, é necessário haver um equilíbrio entre os fatores biológico, cognitivo, social e emocional. Frente a esta circunstância, como os profis- sionais da Educação poderão lidar com o ensino destes alunos e até mesmo, intervir quando houver alguma dificuldade de aprendizagem? Considerando que a Psicopedagogia surge para lidar com situações de não-aprendizagem, quais são as contribuições da Psicopedagogia para o atendimento pedagógico hospitalar? Estes questionamentos foram os motores para elaboração deste artigo. Para responder estas dúvidas, foi realizado um levantamento teórico sobre a hospitalização infantil e o processo de aprendizagem dentro deste contexto, passando pela regulamentação das Classes Hospitalares e a contribuição do processo de humanização hospitalar. E para en- tender como ocorre o atendimento pedagógico hospitalar, também foi feito um estudo sobre as atribuições e principais características deste tipo de atendimento e, por fim, uma explanação sobre a Psicopedagogia Institucional como a abordagem mais adequada para aprimorar o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar. Com o objetivo de levantar as contribuições do profissional da Psicopedagogia no acompa- nhamento pedagógico hospitalar, o presente artigo propõe uma reflexão sobre a atuação deste profissional em uma instituição – em es- pecial, uma instituição hospitalar – e também colabora para delimitar as atribuições de cada profissional envolvido neste tipo de atendimen- to, visando sempre uma melhora do quadro da criança e do adolescente hospitalizado. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A hospitalização infantil e o processo de aprendizagem Para que possamos compreender melhor o público alvo de uma Classe Hospitalar, farei uma breve explanação sobre a hospitalização infantil e a interação com a Aprendizagem, no intuito de entender como a Psicopedagogia pode contribuir para este tipo de acompanha- mento pedagógico. O processo de hospitalização pode ser um evento traumático para qualquer pessoa. Du- rante este momento, a pessoa perde sua singu- laridade e passa a responder aos procedimentos médicos que muitas vezes são dolorosos. Além disto, o indivíduo passa a ser identificado por números, ser reconhecido por sua doença e até mesmo a vestir-se igual a todos os internados. Tais procedimentos e regras são adotados para que os profissionais de saúde possam tratar das enfermidades de seus pacientes, visando disci- plina e garantindo, assim, o tratamento correto e coerente com a cientificidade exigida1 . Considerando todos estes aspectos, podemos compreender que uma hospitalização pode ser ainda mais traumática para uma criança porque a imagem que temos dela é de um ser que está no mundo, explorando-o e brincando com toda a energia possível. Quando hospitalizada, a criança depara-se com o impedimento de brincar e conti- nuar a explorar este mundo porque deve cumprir regras e se submeter a procedimentos médicos. A hospitalização vem como uma “bruxa mal- vada”, que retira da criança o seu cotidiano de fantasias, brincadeiras e explorações e a coloca em um lugar sombrio, cheio de pessoas doentes e que pedem ajuda a pessoas vestidas de branco para aliviar a dor.
  • 3. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 129 Alguns autores estudam os impactos no de- senvolvimento infantil quando ocorre uma in- tervenção hospitalar. Segundo Mitre e Gomes2 , a hospitalização para uma criança pode levar a traumas, porque a afasta do seu cotidiano e de seu ambiente familiar, sendo um momento de crise que, independente do tempo de duração, será singular em sua vida. Lerner3 retrata que a criança vivencia situações angustiantes e assus- tadoras, como o medo do abandono dos pais e familiares e o medo do desconhecido. A sensa- ção de abandono se dá pela regras do hospital: muitas vezes os pais não podem estar o tempo todo com a criança porque podem aumentar o risco de infecções e atrapalhar os procedimentos hospitalares. E o medo do desconhecido “está presente (...), pois o hospital é um ambiente diferente, estranho e ameaçador, sendo que as fantasias e imagens que as crianças elaboram a respeito do hospital são fundamentalmente persecutórias”. Além destes pontos levantados, podem ocorrer, ainda, complicações no desenvolvi- mento físico e psíquico da criança hospitalizada, dependendo do tempo de internação ou se o quadro for crônico ou agudo, podendo levar a um atraso no crescimento e no desenvolvimen- to psicomotor e também gerar complicações psíquicas, como depressão e comportamentos regressivos3 . Levando-se em conta tais aspectos apontados sobre a hospitalização infantil, podemos iniciar uma reflexão sobre o processo de aprendizagem das crianças que estão enfermas e sob cuidado constante. Conforme Paín4 , a aprendizagem possibilita a transmissão da cultura a todos e também disponibiliza a sua transformação por intermédio da Educação. O ato de aprender está presente em nossas vidas desde o momento do nascimento e nos acompanha até o momento da morte. Aprendendo, estamos nos adaptando e adequando o mundo externo às nossas próprias demandas. Porto5 salienta que a aprendizagem possui uma função integradora, estando diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais. Esta integração descrita por Porto5 envolve dois aspectos: o mundo interno e o mundo externo do indivíduo. Ambos se relacionam dialeticamente, um alimentando o outro simul- taneamente. Paín4 considera tais fatores como inerentes à aprendizagem: o aspecto social (como fator externo), o orgânico, a condição cognitiva e a dinâmica do comportamento, sen- do os últimos retratados como fatores internos. Desta forma, a autora ressalta a aprendizagem como um processo dinâmico e que possibilita um processamento da realidade e, concomitan- temente, uma alteração no comportamento do sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade a qual está inserido. Se levarmos em conta a perspectiva de que com a aprendizagem o sujeito poderá atuar em seu contexto e, por fim, transformá-lo, pode- mos entender que disponibilizar um momento para o aprender à uma criança hospitalizada significará uma retomada à sua condição de agente de sua realidade. Durante uma ativida- de, a criança conseguirá explorar o seu meio e intervir, permitindo assim que seja no mundo, diferentemente quando está submetida a pro- cedimentos médicos – neste instante ela age e não simplesmente, reage. Para Ceccim6 , manter a aprendizagem por meio das classes hospitalares possibilita uma alteração na vivência de hospitalização da criança, porque resgata os aspectos de saúde mantidos, mesmo em face da doença, enquanto respeita e valoriza os processos afetivos e cog- nitivos de construção de uma inteligência de si, (...) do mundo, (...) do estar no mundo e inventar seu problemas e soluções. Assim sendo, podemos compreender que o processo de aprendizagem torna-se um fator terapêutico para criança hospitalizada, já que “ser e se sentir real dizem respeito essencial- mente à saúde (...)”7 . Porém, este processo somente poderá acontecer adequadamente se
  • 4. Lima MCC Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 130 o ambiente lhe propiciar condições favoráveis para sua ação e espontaneidade. Conforme Winnicott8 , uma criança somente pode voltar-se para o aprender quando se sente cuidada e com suas necessidades atendidas. Somente estabelecida a integração, é que o indivíduo poderá explorar e compreender o mundo exterior, apropriando-se dele e por fim, modificando-o. E esta integração somente será possível com o estabelecimento de um ambiente suficientemente bom, no qual irá lhe favorecer e intermediar suas experiências e angústias. Com isto, a proposta de um atendimento pe- dagógico hospitalar propõe o estabelecimento de um espaço adequado para este aprender. As chamadas classes hospitalares configuram este lugar adaptado para que a criança hospitalizada possa explorá-lo e agir da melhor maneira pos- sível, conforme suas demandas internas. Esta adequação do ambiente hospitalar contribui para uma melhora significativa da experiência de uma internação. É com este en- foque que o próximo tópico será relatado, para que possamos compreender o contexto ao quais as recentes classes hospitalares estão inseridas. A humanização hospitalar e a legalização das classes hospitalares O acompanhamento pedagógico hospitalar já é realidade em muitos hospitais brasileiros. Porém, este tipo de intervenção é recente e, no intuito de entendermos como ocorreu esta conquista, será necessário voltarmos no tempo. Ao realizarmos um breve retrospecto do histórico do ambiente hospitalar, notaremos que este ambiente, antes caracterizado por uma função de assistência e exclusão, sofreu trans- formações e se constituiu em uma instituição médica com uma função terapêutica, chegando hoje a compor um ambiente institucional que se preocupa com as relações humanas de aten- dimento e não somente com o tratamento e a cura da doença1 . Visando uma cura efetiva, os hospitais en- xergaram novas demandas de atuação de outros profissionais além dos médicos, já que apenas a cura física não estava sendo eficaz no trata- mento terapêutico e que havia a necessidade de um olhar mais individualizado e singular para cada paciente. Esse olhar implica em um processo de huma- nização no ambiente hospitalar, sendo o termo “humanização” mais antigo do que parece. A ideia desse conceito vem da época hipocrática, na qual imperava o discurso de que o médico deveria ser o conhecedor da alma humana e da cultura em que estava inserida; a cura era um processo que envolvia o indivíduo doente em sua totalidade, isto é, que o compreendia de maneira biopsicossocial9 . De acordo Manzano e Lima1 , atualmente na área da saúde, o tema é bastante difundido, principalmente após o lançamento do Projeto Piloto de Humanização Hospitalar, em 2000, pelo Ministério da Saúde. Tal projeto de hu- manização das relações hospitalares teve como objetivo criar uma nova cultura de relações entre os trabalhadores de saúde e os usuários, na busca da valorização da vida humana. Por isso, podemos pensar que no campo da saúde os relacionamentos não devem ficar somente no campo do conhecimento e da linguagem técnica. Após este projeto inicial, o Ministério da Saúde lançou em 2002 uma Política Nacional de Humanização (PNH) que tem como foco a atenção e gestão no Sistema Único de Saú- de (SUS). A campanha de humanização dos ambientes hospitalares ganha então o nome de “HumanizaSUS”10 . Esta política tem como objetivo a integralidade, a universalidade, o aumento da equidade (igualdade na assistência à saúde) e a incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes presentes no campo da Saúde. Os gestores desta política compreendem a humanização como a valorização dos usuários, profissionais e gestores de saúde que participam deste contexto, visando ao desenvolvimento da autonomia entre os indivíduos, estabelecendo responsabilidades mútuas e criação de vínculos solidários, contando com a participação coletiva
  • 5. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 131 nas ações tomadas e não atribuindo responsabi- lidade ou especificações às diferentes funções e profissões embora influencie todas elas. A operacionalização deste programa pre- visto pelo Ministério da Saúde ocorre com uma troca e construção de saberes provindos de um trabalho de equipe multiprofissional, com a construção de redes solidárias e que interagem com o SUS de forma participativa e protagonista de muitas ações, com a valorização do subjetivo e do social nas práticas de atenção à saúde e também na gestão do SUS, fortalecendo assim a autonomia e o protagonismo dos sujeitos envolvidos. Humanizar é, portanto, o ato de tornar huma- no. E deve ser entendido em saúde como uma valorização do respeito à vida e das condições humanas, considerando os aspectos individuais e particulares de cada pessoa, como a história de vida deste indivíduo, os seus medos, suas an- gústias, suas crenças e sonhos, os seus anseios e demais singularidades. Partindo destes princípios, podemos con- siderar que a proposta de acompanhamento pedagógico hospitalar pode contribuir consi- deravelmente para a manutenção deste pro- jeto de humanização. E acompanhando todo este movimento para regulamentação de uma política nacional de humanização, as classes hospitalares também surgem como mais uma ferramenta a ser implementada pelos hospitais. Segundo Fonseca11 , em 1995, há um reco- nhecimento pela legislação brasileira acerca do direito da continuidade de escolarização às crianças e adolescentes hospitalizados e no ano anterior, no documento do MEC, há a denomi- nação de classes hospitalares, sendo aquelas que “objetivam atender pedagógico-educacio- nalmente às necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que (...) se encontram impossibilitados de partilhar as experiências sócio-intelectivas de sua família, de sua escola e de seu grupo social”. Em 2001, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial e no artigo 13 há uma referência sobre a escola no ambiente hospitalar, com caráter obrigatório a partir de 200211 . Conforme o mo- vimento nacional, cada estado viu-se obrigado a estabelecer legislação específica para aten- der esta nova determinação. Segundo Noffs e Rachman12 , em 2000, o então deputado Milton Flávio elaborou a lei nº 10.685 que dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados para tratamento de saúde. Diante a esta nova realidade, o Ministé- rio da Educação, por intermédio da Secretaria da Educação Especial, elaborou em 2002 um documento denominado “Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações”. Assim, concomitantemente à divulgação da PNH (Política Nacional de Humanização), as classes hospitalares também obtiveram o respal- do legal para sua implementação e estruturação no ambiente hospitalar e, com isso, a autoriza- ção necessária para possibilitar a continuida- de do aprendizado e auxiliar na melhoria do quadro das crianças e adolescentes internados. Contudo, tais legislações não esclarecem de forma detalhada e prática a maneira como cada instituição hospitalar deve implementar este tipo de acompanhamento pedagógico. Até por falta de estudos mais apurados, os hospitais recorrem à Diretoria de Ensino das regiões correspondentes para buscar não somente os profissionais capacitados para realizar as ativi- dades curriculares, mas, também, para seguir o currículo estipulado para as demais escolas de aula regular. E com esta falta de orientação, algumas adaptações do currículo destinado aos alunos de grade regular à realidade de um ambiente hos- pitalar podem tornar-se prejudiciais a este tipo de intervenção. Conforme Noffs e Rachman12 , “faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospitalar, considerando as diferentes demandas dos diversos alunos-pacientes”.
  • 6. Lima MCC Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 132 Frente a esta situação, encontramos uma oportunidade para a Psicopedagogia intervir e auxiliar os professores e demais profissio- nais destinados a este tipo de acompanha- mento pedagógico. Por isto, a seguir, tratarei sobre a rotina e demais características impor- tantes de uma Classe Hospitalar e entender como a Psicopedagogia pode contribuir para a melhoria desta intervenção em franca ex- pansão. A Classe Hospitalar e suas principais atri- buições Conforme observamos no tópico anterior, a organização do acompanhamento pedagógico hospitalar não obedece a uma regra única. Cada instituição sente-se livre para organizar este tipo de intervenção, porque ainda não há uma diretriz clara e precisa sobre o assunto por parte dos órgãos responsáveis, até mesmo porque esta atuação encontra-se em um intercâmbio entre o campo da Educação e da Saúde. Porém, ao realizarmos uma pesquisa apura- da sobre a atuação dos profissionais em Classe Hospitalar, encontramos algumas orientações em comum que devem ser consideradas. Entre elas, Noffs e Rachman12 , durante um trabalho de assessoria psicopedagógica a professoras que trabalhavam em um hospital geral público da cidade de São Paulo, apontam as principais diferenças encontradas entre as classes regu- lares e as classes hospitalares. Dentre estas características, destaco tais peculariedades de uma Classe Hospitalar: • Alunos em séries diferentes; • Número de alunos varia de acordo com a demanda do setor; • Não há constância e frequência precisa dos alunos; • A temática planejada deve ser iniciada e finalizada no mesmo período; • Local em que ocorrem as atividades é de acordo com a possibilidade da instituição (brinquedoteca, por exemplo) ou, conforme possibilidade do aluno, as atividades são realizadas no próprio leito da criança. Barros13 revela que, devido à sua caracte- rística multiseriada, a Classe Hospitalar possui uma estrutura dinâmica e caracteriza-se por ser um grupo aberto. Mas, mesmo assim, cabe ao profissional elaborar um programa com temas centrais que nortearão a prática pedagógica. Funghetto et al.14 salientam que o desenvol- vimento destes temas acontecerá conforme as fases de desenvolvimento de cada criança a ser atendida e que a presença de crianças com idades mistas possibilita uma nova prá- tica pedagógica porque “às vezes as crianças mais velhas davam aulas às crianças menores e desenvolviam atividades de acordo com sua idade e interesse14 . Cabe ao educador elaborar e repensar estra- tégias que estimulem a criança hospitalizada a continuar com as atividades porque às vezes este aluno pode se sentir indisposto devido ao quadro de sua enfermidade. Além deste aspecto, outros eventos podem interromper (temporariamente ou não) o acompanhamento pedagógico, como, por exemplo, a administra- ção de uma medicação. Segundo Fonseca11 , tais circunstâncias poderiam ser consideradas como uma interferência, mas devem ser com- preendidas como uma dinâmica do cotidiano da Classe Hospitalar. O profissional deve aprovei- tar cada momento vivenciado como “ganchos para dinamizar ou re-estruturar a atividade, (...) abrindo uma nova janela para o interesse do aluno e seu desempenho frente às atividades em desenvolvimento”. Ao pensar em um planejamento de ativi- dades, o educador deve estar ciente que sua programação terá começo, meio e fim no mesmo dia11 . Isto porque a rotatividade destas crianças é uma variável não controlada; às vezes, uma criança poderá participar da Classe Hospitalar somente em um dia porque o seu quadro clínico agravou ou então porque recebeu alta. Sendo assim, antes de iniciar o acompanhamento, o profissional deverá ler o prontuário de cada criança internada para ter conhecimento da situação real e ter tempo hábil para fazer qual- quer tipo de adequação em seu planejamento.
  • 7. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 133 Outra adaptação que o profissional da Edu- cação deverá realizar se refere ao ambiente em que ocorrerão as atividades. Dependerá dos recursos disponíveis da Instituição: em alguns casos, o hospital dispõe um leito desativado ou um espaço inutilizado para que uma estrutura com mesas e cadeiras possa ser montada; em ou- tros, a brinquedoteca é o local disponibilizado. Mas, conforme a realidade, poderá acontecer o acompanhamento na enfermaria, no próprio leito, em um refeitório ou outro local em que haja uma mesa e uma cadeira11 . Partindo desta rápida descrição da rotina de uma Classe Hospitalar, podemos refletir que o educador envolvido neste tipo de intervenção deverá possuir uma boa habilidade de adapta- ção, sensibilidade e disposição para contribuir com seu trabalho para uma melhora – muitas vezes, sutil – do quadro clínico de uma criança hospitalizada15 . A relação com outros profissio- nais da área da saúde também faz parte do co- tidiano deste educador e com eles, é necessário manter um bom relacionamento e cultivar uma boa comunicação para que o trabalho como um todo seja eficaz. O comprometimento também é fundamental durante a atuação deste educador. Segundo Fonseca11 , “é imprescindível ao professor tentar manter os horários e a frequência de atendi- mento aos seus alunos, uma vez que a criança hospitalizada já vive muitas incertezas do ponto de vista médico (...)”. Considerando tudo isto, o professor não pode ser mais uma incerteza na vida da criança. O educador da Classe Hospitalar também deve ter uma ótima observação, que, conforme Fonseca11 , é um instrumento muito importante. Observando todas as variáveis que compõem o acompanhamento e aliando a um registro sobre o desempenho das crianças, este profissional poderá compreender possíveis demandas de um atendimento mais específico a algum paciente ou, então, renovar e planejar outras atividades que atendam as demandas destas crianças. Todo este quadro apresentado me remete a uma indagação: como a Psicopedagogia pode auxiliar este educador a realizar suas atribui- ções da melhor forma possível e, ainda, ajudar no diagnóstico e na intervenção de prováveis dificuldades de aprendizagem de uma criança hospitalizada? O Psicopedagogo pode ser o profissional que atenderá às demandas de re- flexão e compreensão por parte do professor a respeito deste aluno tão particular? Para tentar responder tais questões, irei recorrer a uma breve explanação sobre a Psicopedagogia Ins- titucional, considerando-a como o olhar mais adequado para este tipo de acompanhamento pedagógico. A Psicopedagogia institucional e o atendi- mento pedagógico hospitalar Até o momento, realizei uma rápida des- crição dos componentes envolvidos em um Acompanhamento Pedagógico Hospitalar, iniciando pelo público atendido, a aprendiza- gem neste espaço, levantando dados sobre a contextualização desta abordagem, assim como a legislação envolvida e as características deste tipo de atuação. Diante deste cenário, encontro na Psico- pedagogia um olhar específico para abordar questões não somente dos alunos (as crianças hospitalizadas) e suas possíveis dificuldades, mas também, de forma mais ampla, todo o am- biente envolvido neste aprender. Conforme Porto5 , a Psicopedagogia ainda é uma ciência nova e que está em plena cons- trução. Ela surge para atender uma demanda específica: “(...) para auxiliar a intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem5 ”. Considerando o caráter preventivo, o psicope- dagogo realiza uma investigação institucional, avaliando os processos didáticos e metodológi- cos aplicados, além de analisar toda a dinâmica existente dos profissionais desta instituição, para assim encontrar os possíveis problemas e propiciar a intervenção adequada para uma reestruturação deste ambiente5 . Esta análise, ainda segundo a autora, é rea- lizada por meio de uma abordagem sistêmica e crítica. Com isto, a Psicopedagogia Institucional
  • 8. Lima MCC Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 134 renova a forma de atuar dentro das instituições escolares ou em qualquer outra instituição onde possa ocorrer a aprendizagem – como no caso de um hospital. Levando em conta a relação existente entre a instituição e o aprender, o psicopedagogo pode contribuir para uma ade- quação das interações existentes entre aquele que ensina e aprende. Porto5 reforça que “a reflexão sobre o individual e o coletivo traz a possibilidade da tomada de consciência e da inovação por meio da criação de novos espaços de reflexão com a aprendizagem”. Apesar de seu surgimento estar relacionado com as dificuldades de aprendizagem, a Psico- pedagogia tem como objeto de estudo todo o processo de aprendizagem. Gasparian16 ressalta que, dentre as características da aprendizagem, o psicopedagogo também deve estar atento às relações de todos os elementos que compõem um ambiente em que ocorra o aprender. E pensando em uma Classe Hospitalar, é possível entender que o olhar do profissional deverá abranger a instituição hospitalar e todas suas características. Retomando o capítulo anterior sobre as atri- buições de uma Classe Hospitalar e relembrando as responsabilidades dos educadores, podemos entender que oferecer um espaço de escuta e reflexão a estes profissionais poderá garantir a autonomia necessária para que possam desem- penhar da melhor forma este tipo de acompanha- mento pedagógico. Noffs e Rachman12 reforçam que, propiciando este lugar, o educador poderá também estimular a autonomia do aluno, per- cebendo que a possibilidade de tomar decisão é um aspecto saudável. Além disto, outro ponto destacado pelas autoras é a necessidade de for- mar os educadores contratados para trabalhar em um ambiente hospitalar, adequando as propostas didáticas à rotina da internação. Como tais profis- sionais, em sua maioria, não possuem formação específica em Pedagogia Hospitalar, podem ocor- rer muitas confusões quando o professor resolve, por exemplo, aplicar um currículo de uma classe regular sem realizar as adaptações necessárias para a aplicação em uma Classe Hospitalar. Uma formação adequada deste educador possibilitará uma melhora na maneira como irá realizar este acompanhamento. Noffs e Rach- man12 identificaram esta demanda de apoio e afirmam que tal necessidade possibilita a atu- ação do psicopedagogo, já que pode contribuir para a formação específica e também para uma formação pessoal. No primeiro tipo de formação, o psicope- dagogo auxilia o educador a refletir sobre o seu papel em uma Classe Hospitalar e saber que a sua atuação é diferente de um professor de uma classe regular e também, de um pro- fessor particular. Quanto à formação pessoal, Noffs e Rachman12 consideram como o apoio a ser feito com maior ênfase porque irá ofe- recer recursos a estes profissionais para que possam lidar com as crianças hospitalizadas e descobrir o aspecto saudável das mesmas. Ao identificar a potencialidade de uma criança internada, o educador poderá utilizá-la como ponto de partida para seu trabalho e contribuir para sua melhora. Ainda sobre a necessidade de um apoio aos professores, Fighera15 salienta que “(...) compe- te ao sistema educacional e serviços de saúde oferecerem assessoramento permanente ao pro- fessor, bem como inseri-lo na equipe de saúde que coordena o projeto terapêutico individual.” Porto5 reforça que o psicopedagogo, quando em intervenção institucional, utiliza técnicas e atividades como reuniões e discussões, para conseguir a ressignificação do educador em relação ao aprender. Para a autora, esta ação é coletiva e torna-se a peça-chave para o seu sucesso. Além do aspecto de apoio aos professores, o psicopedagogo também poderá compreender como se dá a aprendizagem das crianças da ins- tituição analisada e, assim, contribuir com mais dados aos educadores, para que possam realizar um planejamento de trabalho mais condizente com a demanda existente. A leitura psicopedagógica possibilita a iden- tificação do significado da aprendizagem para cada aluno, bem como da sua modalidade de
  • 9. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 135 aprendizagem, da etapa operatória do pensa- mento, das suas dificuldades e possibilidades. A organização de um modelo sadio de ensino- aprendizagem no espaço escolar implica a ressignificação do conhecimento e o respeito ao processo cognitivo e às pulsões epistemofílicas do aluno5 . Com a explanação teórica feita até o momen- to, iniciamos uma visualização dos elementos existentes na Psicopedagogia que auxiliam o atendimento pedagógico das crianças e ado- lescentes hospitalizados. As possibilidades de intervenção com um enfoque institucional revelam-se necessárias para o bom andamento do trabalho. Porém, para que possamos fechar esta pesquisa, é preciso olhar para o cotidiano deste tipo de atendimento. Sendo assim, na sequência veremos os da- dos coletados em uma entrevista realizada com uma psicopedagoga que atua em uma Classe Hospitalar e seguiremos neste caminho com o objetivo de entender como a Psicopedagogia pode contribuir com o Atendimento Pedagógico Hospitalar. MÉTODO DA PESQUISA Para levantar os dados de análise desta pesquisa, foi utilizada a abordagem qualitativa porque esta permite uma melhor compreensão do fenômeno estudado já que, conforme Chizzot- ti17 , existe uma interdependência entre o objeto de estudo e a subjetividade do sujeito analisado que é inseparável. A partir desta abordagem, foi escolhida a técnica de estudo de caso que permite coletar e registrar dados a partir de um caso particular e como instrumento de coleta de dados, foi utilizada a entrevista não diretiva. Todos os cuidados éticos foram tomados nesta pesquisa e, para garantir o sigilo do pro- fissional entrevistado, foi elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido com lin- guagem clara e objetiva, solicitando a possibi- lidade de gravação da entrevista para posterior transcrição, explicando o intuito do trabalho, garantindo o sigilo dos dados coletados e o anonimato do psicopedagogo participante. Ao definir o critério de escolha do profis- sional participante, foi decidido que seria um psicopedagogo e que a faixa etária e sexo não seriam relevantes na escolha, porém, o fator determinante seria a experiência profissional junto à área hospitalar e ao atendimento pe- dagógico hospitalar. E, conforme este critério, a psicopedagoga escolhida é uma profissional que atua na área desde 2005 e que receberá neste artigo o nome fictício de Helena. Ela trabalha em um hospital particular especiali- zado no tratamento oncológico e localizado na cidade de São Paulo. A entrevista ocorreu no hospital, onde He- lena trabalha, em um local destinado ao aten- dimento pedagógico das crianças internadas e que está localizado no andar da Pediatria. Durante a entrevista, uma pedagoga estava terminando um trabalho e, por um momento, a entrevista foi interrompida para que Helena pudesse atender a um telefonema. A entrevista durou 40 minutos. RESULTADOS E ANÁLISE Os resultados obtidos serão analisados com base na fundamentação teórica apresentada anteriormente e com o intuito de compreender como a Psicopedagogia contribui para o aten- dimento pedagógico hospitalar. Para tanto, a entrevista foi transcrita. As falas de Helena foram separadas em cate- gorias para uma análise adequada e que respondesse os questionamentos levantados durante a explanação teórica. As categorias encontradas foram: 1) A importância da Psi- copedagogia para o Atendimento Pedagógico Hospitalar; 2) Atuação do psicopedagogo na Classe Hospitalar; 3) Formação dos pro- fessores da Classe Hospitalar; 4) Relaciona- mento com a equipe médica; 5) Legislação da Classe Hospitalar. Vale ressaltar que esta categorização foi feita para fins didáticos e para facilitar a leitura dos dados coletados. Abaixo seguem as análises das categorias acima descritas e as falas da profissional estão destacadas em itálico.
  • 10. Lima MCC Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 136 A importância da Psicopedagogia para o atendimento pedagógico hospitalar Nesta categoria é possível entender como a Psicopedagogia contribui para o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar. Na visão da entrevistada, a contribuição da Psicopeda- gogia está na maneira diferenciada em avaliar as necessidades dos pacientes: “(...) para poder intervir, para avaliar, para identificar onde está a dificuldade do aluno, se é com relação à família, se é com relação ao tratamento, se é com relação ao retorno à escola (...).”. Esta citação nos remete à possibilidade que a Psicopedagogia Institucional oferece aos profissionais da Educação: um olhar amplo sobre o processo de ensino-aprendizagem, con- siderando todos os aspectos envolvidos e que estão interligados fortemente. Ao avaliar uma dificuldade de aprendizagem, o psicopedagogo que atua em uma Classe Hospitalar utilizará uma abordagem sistêmica e levará em consi- deração o vínculo estabelecido do aluno com a instituição, o impacto do tratamento no seu desempenho assim como a própria relação fa- miliar e também, após o período de internação, o seu retorno ao ambiente escolar. Outro ponto trazido por Helena é a necessi- dade de se ter um apoio psicopedagógico nas reuniões realizadas com os professores do local: “nem que fosse para dar assessoria, mas tem que ter, porque é um olhar complementar e a gente precisa disso. É uma diversidade muito grande, são muitas dificuldades (...) da doença, da situação crítica, por tudo que a criança passa que a família passa as dificuldades dos profes- sores também”. Isto reflete a necessidade de se oferecer um espaço de escuta e reflexão a estes profissionais, conforme divulgado por Noffs e Rachman12 . Ao discutir o cotidiano de suas atividades, os pro- fissionais da Classe Hospitalar podem refletir suas ações, o seu papel neste tipo de acompa- nhamento e também, conseguirão desenvolver autonomia na abordagem escolhida que irá atender as necessidades do paciente da melhor forma possível. Atuação do Psicopedagogo na Classe Hos- pitalar Com este tópico podemos compreender, baseando-se na rotina desta instituição, como o Psicopedagogo atua em uma Classe Hospitalar. Helena revela que “(...) quando a criança é aten- dida pedagogicamente (...) fazendo uma ativi- dade lúdica, escolar ou pedagógica e a gente percebe que nos diferentes espaços essa criança apresenta uma dificuldade ou não consegue fa- zer uma atividade ou até de brincar (...) ou tem uma alteração muito grande daquela atividade que a gente está pedindo a gente então elege a criança para fazer uma discussão de caso (...) e a gente fala ‘ah, vamos encaminhar para fazer uma avaliação psicopedagógica’(...)”. Nesta citação é possível perceber que a Psicopedagogia ganha espaço nas instituições quando uma dificuldade de aprendizagem fica evidente. Antes, durante o planejamento das atividades ela não está presente porque, conforme visto anteriormente, é uma ciência recente e que está em processo de construção e reconhecimento entre os demais profissionais. Sendo assim, a Psicopedagogia é geralmente acionada quando a dificuldade fica explícita e se torna necessária uma avaliação para entender o quadro encontrado. Esta expectativa de se realizar uma avaliação psicopedagógica somente quando um sintoma é retratado também está presente entre os pro- fissionais da equipe médica: “(...) às vezes até a equipe médica, de uns dois anos pra cá, vem ocorrendo de encaminharem um ou outro pa- ciente que apresenta uma dificuldade específica duradoura de aprendizagem (...).”. Com este dado podemos compreender que a Psicopedagogia está vinculada exclusivamente ao tratamento de uma dificuldade já existente, principalmente entre a equipe médica. FormaçãodosprofessoresdaClasseHospitalar A formação dos professores que atuam em uma Classe Hospitalar também foi discutida du- rante a entrevista com Helena. Nesta categoria podemos entender quais são as especializações
  • 11. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 137 necessárias para este tipo de atuação. Para Helena, “não dá para trabalhar sem ter Peda- gogia e sem ter especializações na área, por exemplo, Psicopedagogia, Educação Especial ou especializações de deficiências outras. Ela complementa ainda dizendo que “formação nunca é demais, (...) porque as pessoas mudam muito rápidas e o professor está sempre queren- do fazer alguma coisa diferente (...).”. Portanto, a formação constante destes pro- fissionais se torna um ponto obrigatório para uma atuação adequada. Conforme vimos, o comprometimento do educador é o norte que fará com que busque maiores informações e fundamentações teóricas para que sua prática se renove a cada dia e a cada aluno atendido. Outro ponto levantado por Helena é que o Hospital possui uma parceria com a Secre- taria Municipal de Educação de São Paulo e oferece cursos de aperfeiçoamento na área de Atendimento Pedagógico Hospitalar. E, por conta destes cursos, os professores da própria Classe Hospitalar da instituição participam do planejamento e da elaboração de materiais: “outra coisa que proporcionou uma troca de saberes muito grande para gente foi quando a gente começou a fazer estes cursos de formação, porque isso de preparar aula junto, (...) a gente troca muito.”. Ou seja, durante esta preparação de cursos, os próprios professores repensam suas práticas e realizam uma reflexão bastante produtiva de suas atribuições neste tipo de atendimento. Relacionamento com a equipe médica Além do aspecto de formação dos profes- sores, os cursos também proporcionaram um melhor entendimento por parte da equipe médica do hospital sobre o trabalho realizado na Classe Hospitalar. Helena revela que “até dois anos atrás a gente está contextualizado na Pediatria, mas não tinha contato direto com os médicos. Depois dos cursos a gente começou a receber um ou outro encaminhamento dos médicos (...).”. Isto denota que o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar, até pouco tempo, não era valorizado pela equipe médica porque o foco da atuação destes profissionais como exposto na fundamentação teórica, é tratar com a maior cientificidade possível o quadro enfermo dos pacientes, principalmente nos casos de câncer. Com as mudanças propostas pelo processo de humanização hospitalar, este tipo de olhar está sendo alterado e ações que visam um tratamen- to mais amplo estão ganhando espaço dentro da instituição. Legislação da Classe Hospitalar Por fim, esta última categoria nos possibilita compreender que a regularização do atendi- mento pedagógico hospitalar ainda necessita de adequações. Helena salienta que a legislação existente “é muito frágil, ela não coloca quem deve dar este atendimento, em que hospitais, ela não coloca se é fundamental I e II, ela não diz nada”. Esta falta de orientação mais específica possibilita falha no decorrer do atendimento pedagógico hospitalar. E, como vimos anterior- mente, a mais comum é a de utilizar o currículo estipulado para escolas de aula regular em uma Classe Hospitalar, sem fazer as devidas adapta- ções já que este tipo de classe é caracterizado por ser multiseriada. Sendo assim, um olhar especializado se faz necessário para coordenar este tipo de atendimento em uma instituição hospitalar. CONCLUSÃO Valendo-se de tudo o que foi exposto até o momento e contando com a entrevista realizada, é possível atingir o objetivo do presente artigo, compreendendo como a Psicopedagogia pode contribuir para o Atendimento Pedagógico Hospitalar. A entrevistada reforça a concepção de que um olhar institucional para este tipo de acom- panhamento se faz necessário porque todos os elementos fazem parte do processo de aprendi- zagem – a enfermidade da criança, a instituição
  • 12. Lima MCC Natel MC Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 138 hospitalar e seu cotidiano, as relações familia- res – enfim, o contexto no qual este aluno está inserido pede um olhar mais amplo e atento às suas necessidades e às suas potencialidades. E, para tanto, a Psicopedagogia Institucional revela-se a abordagem mais apropriada para este tipo de intervenção. Outro ponto a concluir seria sobre o espaço que este tipo de atendimento tem hoje nos hos- pitais. Como vimos, por intermédio do processo de humanização hospitalar, intervenções como a Classe Hospitalar ganham força dentro da instituição, com o reconhecimento dos demais profissionais de saúde. A atuação da Psicopedagogia em um am- biente hospitalar adquire forma e durante este processo de estruturação, ainda existe um pres- suposto de que esta ciência trabalhe somente com as dificuldades de aprendizagem. É preciso demonstrar aos demais profissionais – e refor- çar entre os próprios psicopedagogos – que a Psicopedagogia deve estar presente em todos os momentos em que ocorra a aprendizagem, desde o planejamento de uma atividade, pas- sando pela formação e discussão de casos com os educadores e por fim, intervindo em possíveis dificuldades de aprendizagem. Considerando este ponto de vista e adotando uma visão institucional, o psicopedagogo poderá contribuir com o seu conhecimento de todo pro- cesso de aprendizagem para a atuação em uma Classe Hospitalar e, assim, aprimorar este tipo de atendimento pedagógico tão essencial para as crianças e os adolescentes hospitalizados. SUMMARY Psychopedagogy and service educational hospital This article aims to raise the contributions from Psychopedagogy to Service Educational Hospital. Therefore, studies were performed on the process of child hospitalization and form of learning in this context, the functions and laws about class and the Hospital Institutional Psychoeducation as an approach to meet this demand. We carried out an interview with a professional which operates in a Class Hospital in order to understand the reality of this type of care. The study shows that Psychopedagogy through an institutional vision and systemic, can contribute significantly to the care teaching hospital, not only in cases of possible learning difficulties, but mainly in planning activities and training of educators. KEY WORDS: Care teaching hospital. Institutional psychopedagogy. Child hospitalization.
  • 13. A Psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 127-39 139 REFERÊNCIAS 1. Manzano DK, Lima MCC. A relação do psi- cólogo com a criança hospitalizada sob um olha winnicottiano [Monografia apresen- tada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Graduação em Psi- cologia]. São Paulo:Universidade São Mar- cos;2005. 2. Mitre RMA, Gomes R. A promoção do brin- car no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde. Ciência Saúde Coleti- va. [on line]. 2004;9(1):147-54 3. Lerner EMN. A psicologia no hospital: o impacto da hospitalização nas crian- ças, nos adolescentes e no psicólogo hos- pitalar [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:Universidade São Marcos;2002. 4. Paín S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre:Artmed;1985. 5. Porto O. Psicopedagogia institucional: teo- ria, prática e assessoramento psicopedagó- gico. São Paulo:Wak Editora;2007. 6. Ceccim RB. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospita- lar. Pátio. 1999;Ano III Nº 10. 7. Winnicott DW. Tudo começa em casa. 3ª ed. São Paulo:Martins Fontes;1999. 282p. 8. Winnicott DW. A família e o desenvolvi- mento individual. São Paulo:Martins Fon- tes;2001. 247p. 9. Souza MLR. O hospital: um espaço terapêu- tico? Percurso. 1992;9(2):22-8. 10. Ministério da Saúde. Política Nacional de Hu- manização da atenção e gestão no Sistema Único de Saúde – HumanizaSUS. Disponível em www.saude.gov.br. Acesso em 6/5/2005. 11. Fonseca ES. Atendimento escolar no am- biente hospitalar. São Paulo:Memnon;2003. 12. Noffs NA, Rachman VCB. Psicopedagogia e saúde: reflexões sobre a atuação psicopeda- gógica no contexto hospitalar. Revista Psi- copedagogia, 2007. 13. Barros ASS. Contribuições da educação profissional em saúde à formação para o trabalho em Classe Hospitalar. Caderno CEDES. 2007;27. Disponível no site http:// www.scielo.br. Acesso em 12/5/2008. 14. Funghetto SS, Freitas SN, Oliveira VF. Clas- se hospitalar: uma vivência através do lúdi- co. Pátio. 1999;Ano III Nº 10. 15. Fighera TM. Pedagogia hospitalar: o pa- ciente frente a uma nova abordagem de ensino. Disponível no site http://www.psi- copedagogia.com.br. Acesso em 15/5/2008. 16. Gasparian MCC. Psicopedagogia institu- cional sistêmica. São Paulo:Abril Cultu- ral;1997. 17. Chizzotti A. Pesquisa em Ciências Huma- nas e Sociais. 5ª ed. São Paulo:Cortez;2001. Artigo recebido: 1/10/2009 Aceito: 12/12/2009 Trabalho realizado na Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, SP. Artigo apresentado ao módulo Pesquisa em Psicopedagogia, do curso de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional, sob orientação da professora Maria Cristina Natel.