O documento discute o significado e a importância da kipá, o chapéu tradicional usado por homens judeus. A kipá serve como lembrete constante da presença de Deus e da humildade diante de Sua majestade. Também representa que há algo acima de nossa cabeça e intelecto, que é Deus. Cobrir a cabeça é um costume judaico antigo que demonstra respeito a Deus em todos os momentos.
1. A Kipá
O significado da palavra kipá é "arco", que fica compreensível quando
pensamos em seu formato.
A kipá é um lembrete constante da presença de D'us. Relembra o homem de
que existe alguém acima dele, de que há Alguém Maior que o está acompanhando em todos
os lugares e está sempre o protegendo, como o arco, e o guiando. Onde quer que vá, o judeu
estará sempre acompanhado de D'us.
Nossos sábios afirmam que cobrir a cabeça também está associado à
humildade, pois nos lembra que existe algo acima de nossa cabeça (nosso intelecto): D'us.
A kipá deve estar sempre sobre a cabeça, lembrando que há alguém acima de
nós observando todos nossos atos. Isso faz com que reflitamos mais sobre nosso
comportamento e nossas ações.
O Talmud, no tratado de Shabat, traz a passagem, "Hicon licrat Elokecha
Yisrael", "Prepare-te diante de seu D'us, Israel".
Baseado nesse versículo, nossos Sábios costumavam preparar-se no momento
da prece demonstrando que estavam prestes a ter um encontro com o Rei dos Reis. O Talmud
também ilustra este assunto trazendo a história de um menino que era cleptomaníaco. Porém
pelo mérito de manter a cabeça sempre coberta e por ser muito zeloso seu mau instinto não
conseguia se impor. Entretanto, quando, certa vez, o vento arrancou seu solidéu,
imediatamente tornou-se vítima de sua cleptomania.
Isto pode ser aplicado em dois sentidos. Tanto numa situação em que o homem
está prestes a fazer algo errado, a kipá está lá - mesmo que no fundo de sua consciência -
lembrando que irá ter de prestar contas pelo seu ato. O mesmo ocorre numa situação em que a
pessoa está em apuros: a kipá lhe relembra que Alguém está com ele, por mais perdido que se
sinta.
• É costume judaico desde os primórdios um homem manter sua cabeça coberta
o tempo todo, demonstrando com isso humildade perante D'us.
• É expressamente proibido entrar numa sinagoga, mencionar o nome Divino,
recitar uma prece ou bênção, estudar Torá ou realizar qualquer ato religioso de cabeça
descoberta.
Por que Cobrir a Cabeça
Por Aron Moss
Pergunta:
Eu gostaria de fazer-lhe uma pergunta sobre cobrir a cabeça com uma kipá ou
um chapéu. Deixe-me primeiro dizer que não pretendo ser desrespeitoso. Minha pergunta é a
seguinte: se eu sei que cobrir a cabeça significa reconhecer que D’us está acima de mim, por
que preciso realmente cobrir a cabeça, pois já sei que Ele está acima de mim em minha mente
e coração?
Resposta:
Primeiro, fazer uma pergunta sincera jamais é desrespeitoso.
A kipá é um pouco como uma aliança de casamento. A aliança é um sinal de
que você pertence a alguém. Então, se você pensa no seu ente querido o tempo todo, não
2. precisa mais usar a aliança? A aliança é usada somente até um amar o outro o bastante para
não precisar de um lembrete? Claro que não, porque:
1 – Só porque você "sabe" que é casado, isso não significa que você não vai
"esquecer" quando as tentações surgirem.
2 – O anel não é apenas um símbolo para quem o usa. Também transmite uma
mensagem a todos que o veem. Todos devem saber que esta pessoa pertence a uma outra.
3 – Se você vê o casamento como um fardo, então você usa a aliança como
uma bola com corrente no pé. Mas se você está em um relacionamento profundo e verdadeiro,
então você usa o anel com orgulho, porque a própria existência do anel significa que existe
alguém que o ama mais que tudo no mundo.
O mesmo ocorre com a kipá.
1 – Somente uma pessoa muito sagrada poderia estar consciente de D’us o
tempo todo. O restante de nós (homens) precisa de algo muito concreto para nos lembrar que
Ele está sempre ali.
2 – Serve também para nos identificar como judeus aos olhos de todos ao nosso
redor, de que "pertencemos" a algo e a Alguém.
3 – E nós o usamos com orgulho, porque o povo judeu tem um relacionamento
profundo e amoroso com D’us. O verdadeiro amor está com você o tempo todo. E você quer
contar ao mundo!
Pergunta:
Gostei da explicação sobre a kipá, mas porque então somente os homens usam
kipot? Como as mulheres se identificam como judias aos olhos daqueles em volta?
Rabi Moss:
No e-mail, eu enfatizei a beleza de usar uma kipá. Mas no final, é um sinal de
fraqueza. Somente porque a espiritualidade é alheia a nós, precisamos de um lembrete
concreto dela. Segundo a Cabalá, a alma feminina está mais sintonizada com estas coisas e
portanto não precisa de algo tão superficial para lembrá-la de sua conexão inata com D’us. É
por isso que os homens precisam de mais cerimônia e rituais que as mulheres (como talit,
tefilin, chamadas à Torá). Os homens são mais físicos e grosseiros (concorda?). Sem o ritual,
a espiritualidade é abstrata demais para os homens entenderem. Uma mulher é mais sensível
àquilo que é sagrado e sublime, e portanto não precisa de tantos rituais para expressar sua
conexão de alma.
A propósito, isso não é uma tentativa de proteger mulheres ou de mudar ideias
judaicas para serem mais modernas e aceitáveis. É um conceito antigo, escrito pelos místicos
há milhares de anos.
Pergunta:
Muito interessante, sua explicação. E de forma alguma achei que estava
protegendo as mulheres. Na verdade, foi o oposto. O estudo da Lei Judaica abriu meus olhos
para o grande respeito que o Judaísmo tem pelas mulheres.
Mas você também escreveu que a kipá serve para nos identificar como judeus
aos olhos dos outros. Se eu não estiver usando algo visível, como aqueles ao meu redor
perceberão isso?
Rabi Moss:
Bem lembrado. Um homem precisa "anunciar" seu Judaísmo não tanto para as
pessoas ao redor como para si mesmo. A espiritualidade masculina é agressiva e visível, e
3. precisa ser mostrada. Esta é uma maneira de refinar o ego masculino. A espiritualidade
feminina é mais interior e sutil, e seria comprometida se fosse anunciada.
Uma Perspectiva Filosófica
Por J. Immanuel Schochet
A cobertura para a cabeça é parte da vestimenta masculina. Seria útil primeiro
considerar a origem e significado da veste humana em geral, antes de discutir a questão de
cobrir a cabeça.
Segundo a opinião de muitos cientistas, a vestimenta humana originou-se por
dois motivos: a) como uma proteção contra as condições climáticas (calor, frio, chuva, etc.), e
subsequentemente também para b) propósitos decorativos.
Numa investigação mais profunda, no entanto, poderia parecer que esta opinião
"científica" é bastante questionável. Tendo em vista que o berço da raça humana foi um lugar
onde as condições climáticas eram ideais, e mesmo assim as roupas eram usadas naqueles
dias, o motivo do clima não parece aceitável.
Segundo a Torá, as roupas têm uma origem bem diferente. Somos informados
pela Torá (Bereshit, cap. 3) que quando os primeiros seres humanos, Adam e Eva, foram
criados, eles não precisaram de roupas e não "estavam envergonhados". Porém depois de seu
pecado com a Árvore do Conhecimento, "eles souberam que estavam nus", e prepararam
roupas para cobrir o corpo.
Esta mudança radical de comportamento nos primeiros seres humanos é
explicada por Maimônides (Guia dos Perplexos, parte I, cap. 2). Sua explicação é citada na
literatura Chabad, que lança mais luz sobre o assunto. Em resumo, é isso:
O homem foi criado todo bom, sem qualquer mal dentro dele. Não tinha más
inclinações nem conhecia a tentação pelos prazeres físicos. Consequentemente, todos os
órgãos e partes do corpo eram iguais para ele, cada qual desempenhando sua parte no
cumprimento da missão Divina do homem nesta terra. Em sua pureza de mente, o sentimento
de vergonha era alheio a ele. Assim como não haveria motivo para ter vergonha de ensinar a
Torá para alguém, um ato que é comparado a gerar espiritualmente um filho, também não
haveria motivo para ter vergonha de gerar um filho fisicamente, pois aqui, também o homem
estava cumprindo a ordem Divina de "Deem frutos e se multipliquem". Nos dois casos, a
indulgência no prazer físico foi deixada de lado, havendo apenas uma consideração: o
cumprimento da vontade Divina.
Depois do pecado com a Árvore do Conhecimento, nasceu no homem a
consciência do prazer físico, do qual ele antes não era cônscio, quando seu ser espiritual
predominava totalmente. O bem não era mais puramente bom em sua mente contaminada. Ele
viu que determinadas partes do corpo estavam mais diretamente associadas com a sensação de
prazer físico. A exposição daquelas partes do corpo agora provocava nele uma sensação de
vergonha por dois motivos: primeiro, porque estas partes do corpo eram um lembrete da
humilhante queda do homem ao poder da luxúria, e segundo, porque elas eram uma fonte de
tentação. Por estes motivos, o homem sentiu vergonha de sua nudez e desejou cobrir o corpo.
Sob este ponto de vista, poderia parecer que esta sensação de vergonha não se
aplica à cabeça, a base do intelecto, o bem mais elevado do ser humano, que o distingue das
espécies inferiores de animais. Pois não é o intelecto o zênite de toda a criação?
4. De fato, o homem que pensa que não há nada mais elevado no universo que o
seu intelecto consideraria uma contradição cobrir a cabeça, a base de seu intelecto, seu
orgulho e bem mais valioso.
No entanto, o homem que acredita em D’us tem uma concepção diferente do
status humano. Sabemos que apesar da capacidade do homem, ele é um ser muito humilde;
percebemos que o intelecto, infelizmente, longe de nos afastar da tentação, com frequência é
influenciado por ela, e age como um acessório. Mesmo aquele que não pertence a esta
categoria, mesmo assim sente vergonha pela insignificância do intelecto perante o Divino.
Portanto, não apenas as partes inferiores do corpo são testemunhas da queda do
homem, mas até a cabeça, que abriga o intelecto, e talvez mais ainda. Eu digo "mais ainda"
porque a falha do intelecto é a maior falha do homem. Pois embora uma criança imatura
talvez não seja plenamente responsável por suas ações, a pessoa adulta não tem desculpa.
Assim é no que tange às próprias faculdades do homem: a falha do mais elevado é a maior
falha.
Quanto mais alguém está consciente de sua responsabilidade intelectual, maior
deve ser a sensação de vergonha quando não consegue cumpri-la. O intelecto e o
conhecimento, longe de darem ao judeu uma sensação de orgulho, lhe dão um senso de
humildade, pois foram dados a ele por D’us com propósitos elevados e sagrados. Se ele não
corresponde plenamente a estes propósitos, o homem médio deve ficar repleto de vergonha.
Mesmo o homem justo não pode se livrar de uma sensação de vergonha, pois, sendo mais
consciente da presença de D’us, cada passo intelectual à frente o aproxima mais da percepção
de quão insignificante é seu intelecto na presença do Infinito. Pois "o ponto culminante do
conhecimento (no conhecimento de D’us) é perceber aquilo que não sabemos."
Assim, nossa atitude de cobrir a cabeça, sempre, é uma demonstração de nossa
percepção de que existe algo que está infinitamente acima de nosso intelecto, e simboliza
nossa humildade e senso de vergonha na presença de D’us (Yirat Shamaim).
Algumas leis sobre cobrir a cabeça
1 – Não se deve caminhar com a cabeça nua (a distância de) quatro cúbitos.
2 – Atualmente existe uma proibição adicional, não apenas de caminhar uma
curta distância, mas até mesmo sentar dentro de casa sem cobrir a cabeça.
3 – A kipá deve ser usada até quando se estiver dormindo à noite.
4 – Crianças pequenas devem ser criadas cobrindo a cabeça.
Notas:
1 – Shulchan Aruch Orach Chayim, final do capítulo 2.
2 – Mogen David (TAZ) um dos principais exponentes do Shulchan Aruch, e
um dos Poskim Achronim (últimos codificadores), Shulchan Aruch, Orach Chayim, cap. 8.
3 – Shalô, citado na Mishná Berura, comentada no Shulchan Aruch.
4 – Mogen Avraham, um dos principais exponentes do Shulchan Aruch, e um
dos Poskim Achronim, Shulchan Aruch, Orach Chayim, final do cap. 2.
5. A Base de Todos os Preceitos
Por J. Immanuel Schochet
Desde os dias de antanho é costume judaico cobrir a cabeça o tempo todo.
Assim, a kipá tornou-se uma parte familiar na vestimenta do judeu.
Geralmente, os judeus aceitam que a cabeça seja coberta quando estão em
locais sagrados, como a sinagoga, ou envolvidos numa ocupação sagrada, como o estudo de
Torá, recitando preces, participando de refeições, e similares. Na verdade, não há um tempo
na vida do judeu em que ele não esteja na presença de D’us, nem qualquer parte de sua vida
que esteja livre do serviço a D’us.
Pouco antes do falecimento de Rabi Yossef Y. Schneersohn, de abençoada
memória, foi-lhe feita uma pergunta por um importante cavalheiro judeu, sobre a importância
de manter a cabeça coberta. A resposta do Rabi, mais tarde complementada por seu sucessor,
Rabi Menachem Mendel Schneerson, forma a base desta breve explanação sobre a prática de
cobrir a cabeça.
O Rabino, de abençoada memória, prefacia sua resposta com uma referência ao
dito do Talmud: "Por que a porção do Shemá foi colocada antes da porção de ‘E isto passará,
se ouvires diligentemente, etc.?’ Porque a pessoa deve primeiro aceitar o jugo do reino dos
Céus e depois aceitar o jugo de seus preceitos." (Berachot, 1ª Mishná, cap. 2).
As palavras da Mishná são claras, dizendo que a submissão do judeu ao reino
de D’us e sua aceitação dos preceitos deve ser de maneira e condição de um "jugo", não
precisando basicamente de explicação intelectual, mas somente de um reconhecimento de que
é o decreto da vontade de D’us. Para ter certeza, eruditos, sábios e filósofos judeus
escreveram volumes sobre o significado e importância das várias mitsvot. Mas sejam quais
forem os motivos intelectuais para explicar qualquer mitsvá em particular, eles são realmente
imateriais, e de maneira alguma representam todo o verdadeiro significado da mitsvá; pois a
mitsvá é essencialmente um "decreto" Divino, que está acima da razão.
Na prática, vemos que aqueles que observam estes preceitos porque são ordens
de D’us, decretados pela Sua vontade – cumprem-nos fielmente o tempo todo, e em todos os
lugares; porém aqueles que seriam guiados por ‘explicação" com frequência incorrem em
erro, pois o intelecto humano é limitado, ao passo que os preceitos são dados por D’us, cuja
sabedoria é infinita.
A prece do Shemá forma o tema central de nossas preces matinais e noturnas.
O Shemá consiste de três capítulos, extraídos da Torá.
Na primeira porção do Shemá proclamamos a unidade de D’us e Sua
Soberania; Ele é Um, o Criador e Senhor de todo o universo. Ao mesmo tempo, professamos
nossa completa e absoluta submissão ao reino de D’us, com um amor maior e mais forte que
qualquer outra coisa que tenhamos, incluindo nossa própria vida.
A segunda porção do Shemá fala das ordens de D’us, as mitsvot: D’us é o
Supremo Juiz, recompensando o cumprimento de Suas ordens, e advertindo sobre eventuais
retribuições para o não cumprimento.
A terceira porção foi acrescentada para sua menção da mitsvá do tsitsit e da
libertação do Egito.
Os primeiros dois capítulos do Shemá formam o tema de nossa discussão.
Nossos Sábios, como foi citado na carta do Rabi, observam que a ordem das
primeiras duas porções do Shemá não é acidental, mas lógica e proposital. Ela nos diz, antes
de mais nada, que tanto no caso de nossa submissão ao reinado do Céu quanto de nossa
6. aceitação das mitsvot, elas devem ser de maneira similar a um "jugo". Em segundo lugar, que
o primeiro pré-requisito de observar os preceitos e praticar nossa religião é a aceitação da
Soberania Divina com absoluta resignação e submissão.
Na presença do Ser Supremo devemos reconhecer nossa incompetência
intelectual. Esta idéia é transmitida pela expressão "jugo". A analogia não é utilizada para
sugerir um fardo; longe disso. É usada no sentido de que: a) o animal não tem idéia do que
está por trás da vontade de seu amo; b) a submissão absoluta do animal; c) o jugo é um meio
de possibilitar que o animal cumpra suas funções.
Nossa fé é baseada na Divina revelação e na outorga da Torá no Monte Sinai.
Aceitamos a Torá no espírito de "Cumpriremos" (primeiro e (depois) "entenderemos" (Naassê
v’nishmá). A última palavra, como também no caso do Shemá, não significa apenas "ouvir"
ou "obedecer", mas também "entender". Em outras palavras, aceitamos a prática de nossos
preceitos como decretos do Supremo Mestre do Universo, na total percepção de que nosso
intelecto humano é limitado, e não consegue apreender a infinita sabedoria de D’us. Nós não
sabemos, nem podemos saber, o efeito total do cumprimento das mitsvot, o que fazem por nós
e para o mundo à nossa volta.
Quaisquer explicações ou significados que possam ser atribuídos a qualquer
mitsvá deve ser considerado incidental e incompleto.
O método científico é o primeiro a estabelecer os fatos e então procurar
explicá-los. Se uma explanação satisfatória é encontrada, muito bem; caso contrário, os fatos
ainda continuam válidos, mesmo que o segredo de sua origem não tenha sido descoberto.
É um fato estabelecido na vida judaica que onde os preceitos, costumes e
tradições judaicos são observados com verdadeira submissão à sabedoria e vontade Divinas
num espírito de humildade e fé, estes preceitos, costumes e tradições são preservados e
perpetuados. Porém onde eles não são aceitos neste espírito, e são sujeitos ao escrutínio
intelectual numa busca incessante por uma explicação, e aceitos porque apelam à razão ou à
fantasia, ali os próprios alicerces do Judaísmo são minados (i.e., durante as perseguições
religiosas na época das Cruzadas os judeus da Alemanha não puderam ser convertidos à força;
eles morreram para santificar o nome de D’us ("Al Kidush Hashem"). Na Espanha, porém,
onde a Inquisição pôs fim a uma era dourada de filosofia e pesquisa teológica, as perseguições
religiosas levaram a, comparativamente, numerosas conversões).
Além disso, dizem nossos Sábios, "Aquele que afirma que esta tradição é boa,
e aquela não tão boa assim, desacredita a Torá (e esta terminará sendo esquecida por ele –
Rashi, Erubin, 64a). Devemos considerar todas as leis com igual santidade, pois elas foram
todas dadas pelo mesmo Legislador, e todas vêm da mesma fonte.
Cobrir a cabeça tem sido observado por todos os judeus. Está declarado no
Talmud que cobrir a cabeça está associado com Yirat Shamaim (piedade). Conta-se a história
de um menino que era cleptomaníaco por natureza, mas em virtude de manter sempre a
cabeça coberta e ser bastante cuidadoso a este respeito, sua má natureza não o dominou. No
entanto, quando o vento certa vez lhe desnudou a cabeça, ele imediatamente se tornou vítima
da cleptomania (Talmud B. Shabat 156b).
Pode-se encontrar algumas inferências simbólicas na observância da prática de
cobrir a cabeça, com base na declaração de nossos Sábios acima mencionada, que cobrir a
cabeça está associado com piedade. Por exemplo, manter a cabeça coberta demonstra e nos
lembra sempre que há alguma coisa "acima" de nossa cabeça. Estas interpretações são úteis
somente se, e enquanto, elas ajudam a preservar o preceito, mas de maneira alguma devem ser
7. consideradas como o motivo para este preceito. O princípio básico em cumprir uma mitsvá é a
percepção de que a cumprimos pela vontade e sabedoria de D’us.
Kipá o Tempo Todo
Por Yanki Tauber
Desejo fazer uma confissão: Eu uso kipá. E não somente na sinagoga, mas o
tempo todo. Até mesmo em situações sociais. Não costumava fazer isso antes. Na verdade,
durante os primeiros 36 anos de minha vida, eu somente a usava na sinagoga. E mesmo assim
era uma raridade.
O fenômeno da mudança de "kipá nunca" para "kipá todos os dias" é registrado
mais indelevelmente pelas reações que você recebe dos amigos, família e colegas de trabalho.
Estas reações variam de "Por que está usando isso? É algum tipo de feriado judaico outra
vez?" a "Ele é um fanático!" até "Ele usa isso para esconder a falta de cabelo no alto da
cabeça!" (Eu gostaria de ter pensando nisso quando minha careca ficou evidente pela primeira
vez há quinze anos!)
Porém minha reação favorita e mais sutil veio de um colega cujos olhos
dardejaram entre minha kipá e eu pelo menos umas cinquenta vezes durante uma conversa de
cinco minutos.
Um dilema marcante deste recém-descoberto "kipadismo" vem quando se
confronta a primeira situação no trabalho usando o "tradicional boné judaico," como um
colega de trabalho o descreveu. Isso envolve encontrar-se com alguém fora da sua atual
empresa e portanto, fora do grupo que assistiu à sua transição gradual de indivíduo secular
para religioso, e que fez todas as perguntas sobre suas novas práticas e parece realmente
interessado nas respostas.
Agora você está se aventurando além da zona de segurança, até a fronteira
final. Kipá ou não kipá? Esta era a questão.
Para mim, este "primeiro contato" veio por ocasião de uma entrevista para um
novo emprego. O que tornou tudo ainda mais difícil é que este era um emprego que eu
realmente queria! Em outras palavras, havia muito em jogo, profissionalmente falando.
Portanto, agora eu tinha que fazer uma opção. A pessoa não tem de usar uma kipá para
trabalhar se isso prejudicará seu cargo de maneira negativa. Então, eu tinha um "álibi" se
desejasse. Mas eu deveria aceitá-lo?
Sempre que tenho estas profundas dúvidas morais, consulto minha mulher. Ela
não apenas é mais inteligente e mais bonita que eu, como também muito mais sábia. Como
sempre, ela teve uma reação brilhantemente perspicaz. "Bem," disse ela, "se você está com
medo de que seu chefe em potencial possa não gostar de judeus ou pessoas religiosas em
geral, é melhor descobrir no estágio da entrevista que depois de você começar a trabalhar para
eles."
E com isso, a decisão estava tomada. Eu usaria a kipá.
Testando o campo
Cheguei à entrevista alguns minutos adiantado e fui até o toalete dos homens
para checar minha roupa. Eu parecia o mesmo de minhas outras entrevistas de emprego.
Exceto pela adição circular no topo da cabeça. Minha kipá era de bom gosto, mas era também
uma declaração. Uma GRANDE declaração. Portanto, de pé ali no toalete, hesitei por um
momento e pensei: "Você ainda pode tirá-la."
8. Mas então percebi que não usar minha kipá seria uma declaração ainda maior.
Uma declaração que negava aquele que sou. Um judeu. Um judeu religioso. Portanto, para
mim, entrar sem uma kipá seria uma declaração de que sou menos que totalmente
comprometido com aqueles ideais sobre os quais baseio minha vida. Portanto, fui - com a kipá
de bom gosto e tudo.
O homem que me cumprimentou sorriu e apertou minha mão. Nada de olhares
indo da kipá para mim, nenhum queixo caindo até o chão como ocorre nos desenhos
animados. Simplesmente um simpático "Como vai?"
Logo no início da entrevista, ele me perguntou: "Quais são suas paixões?"
"No trabalho ou na vida em geral?" perguntei.
"Na vida em geral" - replicou ele.
Pensei por uma fração de segundo. Eu deveria ser realmente honesto? Deveria
contar-lhe o que realmente anima e motiva minha vida? Ou deveria eu dar-lhe a resposta
padrão comercial que "um trabalho bem feito e sacrificar-me pela companhia é o que me faz
vibrar"?
Optei pela primeira. Achei que, ora bolas, ele já tinha visto a kipá. Eu poderia
ser franco. Vamos lá.
"Minhas paixões são D'us, família, comunidade e trabalho. Nesta ordem."
Tentei suavizar o golpe. "Provavelmente, não é bem isso que um gerente deseja
ouvir! Mas não me entenda mal. Trabalho muito e levo meu emprego a sério. É apenas uma
questão de prioridades."
Esperei sua reação; qualquer sinal de choque ou desapontamento visível. Nada.
Ele simplesmente sorriu e continuou a entrevista. "Quais são suas paixões?"
Nós realmente nos demos bem, e o restante da entrevista foi ótimo. Mas eu não
conseguia deixar de perguntar-me o que ele achara de minha resposta àquela primeira
pergunta. Ao final da entrevista, ele indagou se eu tinha quaisquer perguntas a fazer.
"Somente uma" - disse eu. "Quais são suas paixões na vida?"
(Quando mais tarde contei a meus amigos que lhe perguntara isso, eles ficaram
tão chocados como se eu tivesse perguntado se ele usava ceroulas ou shorts.)
"Bem" - disse ele sorrindo. "É engraçado. Quando ouvi você responder àquela
pergunta, senti como se estivesse ouvindo eu mesmo responder."
Consegui o emprego pouco depois.
Tomar uma posição
No fim, ir à entrevista com uma kipá e responder as perguntas de maneira
honesta mas não politicamente correta não foi um ato heroico. Meus sogros, que
sobreviveram aos campos de concentração nazistas, meu pai que voou em mais de cinquenta
missões de combate durante a Segunda Guerra - estes foram os verdadeiros heróis.
Porém, minha declaração fora corajosa. Defendi algo em que acreditava.
Tornou-se claro para mim que, se sou um judeu religioso apenas em particular, então, o que
sou, na verdade? Se jamais defendo algo, não represento nada.
De fato, talvez tenha sido justamente pela minha kipá e pelas minhas palavras
nas quais eu defendia alguma coisa, que eu tenha me destacado dos outros candidatos e
conseguido o emprego.