SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
PERSONAGEM



LAURINDO DE                                                                       misfério norte, porém, seu nome é
                                                                                  símbolo de brilho e qualidade. Por
                                                                                  lá os especialistas concordam: a pri-
                                                                                  meira vez que escutaram a suave
                                                                                  mistura dos ritmos sincopados da




ALMEIDA
                                                                                  América do Sul com a eterna flexi-
                                                                                  bilidade do jazz foi no violão de Lau-
                                                                                  rindo de Almeida.
                                                                                      O músico nasceu em 2 de setem-
                                                                                  bro de 1917, na cidade paulista de
                                                                                  Prainha, hoje Miracatu. De família
                                                                                  muito pobre, tinha catorze irmãos.
                                                                                  Oito deles morreram. Laurindo foi o
                                                                                  quarto a sobreviver e passou a infân-
                                                                                  cia ouvindo a mãe praticar no piano
                                                                                  peças de Chopin e Mozart.
                                                                                      Durante a Revolução Constitucio-
                                                                                  nalista de 32, assim como todos os
                                                                                  rapazes de sua idade, o músico, en-
                                                                                  tão com quinze anos, alistou-se pa-
                                                                                  ra a guerra. Não chegou porém a ir
                                                                                  aos campos de batalha, já que uma
                                                                                  forte gripe o atirou na cama. Recu-
                                                                                  perando-se no hospital de Santo An-
                                                                                  dré, Laurindo teve a oportunidade
                                                                                  de ouvir o violão de Aníbal de Aze-
                                                                                  vedo, o Garoto, quando este se
                                                                                  apresentou num show especial para
                                                                                  os doentes. Laurindo ficou fascina-
                                                                                  do pelo talento de Garoto e não per-
                                                                                  deu a oportunidade. Tratou de fa-
                                                                                  zer amizade com o músico que, por
                                                                                  sua vez, deu a grande dica para o jo-
                                                                                  vem aspirante a violonista: o negó-
                                                                                  cio era ir para o Rio de Janeiro, on-
                                                                                  de as coisas estavam acontecendo.
                                                                                      Três anos depois, Laurindo bai-
                                                                                  xava em terras cariocas. Passou fo-
                                                                                  me, dormiu em bancos de praças.
                                                                                  Conseguiu o primeiro emprego na
                                                                                  rádio Mayrink Veiga, onde também
                                                                                  começavam a despontar talentos co-
                                                                                  mo Cármen Miranda e Sílvio Cal-
                                                                                  das. Depois, Laurindo passou a to-
                                                                                  car, com muito sucesso, nas noita-
                                                                                  das do Cassino da Urca. Tudo pa-
                                                                                  recia ir muito bem, até que em
Laurindo de Almeida construiu uma carreira de sucesso nos Estados Unidos.         1946, um decreto moralista, assina-
                                                                                  do pelo presidente Dutra, proibiu o
44                                                                                jogo no país.
     B)ossa nova? Conheço essa his-       de 1947 instalado de bagagens e ar-         A saída para o violonista foi o
tória muito bem. Tudo começou co-         mas, quer dizer, talento e violão, em   porto. Pegou o primeiro vapor em
migo, uns trinta anos atrás, lá nos       plagas norte-americanas. No Brasil,     direção à Europa. Pagou a passa-
Estados Unidos..." Não existe arro-       Laurindo de Almeida é um nome           gem divertindo com sua música os
gância no comentário do cidadão           conhecido apenas nos círculos res-      passageiros e tripulantes. Apresen-
paulista Laurindo de Almeida, des-        tritos dos iniciados no jazz. No he-    tou-se em Portugal, Espanha, Fran-
PERSONAGEM
ca, Bélgica, Holanda e Alemanha.
    Quando já pensava seriamente
em fazer do Velho Continente a sua
morada definitiva, recebeu um pol-
pudo cheque da gravadora RCA,
pelos direitos autorais da música "Al-
deia de roupa branca", composição
sua desconhecida no Brasil, mas um
grande sucesso nas rádios norte-
americanas. Não pensou duas vezes:
fez as malas e partiu para os Estados
Unidos.
    Em Los Angeles, a pátria univer-
sal do sucesso, Laurindo estrearia no
cinema com um solo no filme A
Song is Bom, onde também faz uma
pequena ponta como figurante. Per-
cebeu que, participando de trilhas
sonoras, poderia engordar sua con-
ta bancária. Como compositor ou in-
térprete emprestou seu talento a
centenas de filmes, geralmente de
classe B. Também temperou com o          O violonista brasileiro apresentou-se, em 1987, no Free Jazz Festival.
som de seu violão a trilha sonora de
Bonanza, um célebre seriado-wes-         nacional da Canção, promovido pe-            pa e até da América do Sul, como
tern para a TV.                          la Rede Globo. Não foi feliz. Como           a Argentina, por exemplo. "Do Bra-
    Fez amizade com o baixista Harry     não o conhecia, o público prestou            sil recebo muito pouco", lamenta.
Babasin, com o qual concebeu um          pouca atenção a seu violão. Em                   Laurindo de Almeida só veio a
modo de tocar diferente de tudo o        1978, nem sequer o convidaram pa-            ser convidado a participar do princi-
que se fazia na ocasião. Não cedeu       ra o Festival de Jazz de São Paulo,          pal evento de jazz de seu país — o
à tentação do som eletrificado e co-     embora tivesse sido contratado pa-           Free Jazz Festival — em 1987, mes-
meçou a destacar das massas musi-        ra a série de apresentações o baixis-        mo assim porque Tom Jobim, ini-
cais os improvisos instigantes, funda-   ta Ray Brown, na época um inte-              cialmente contratado pelos organiza-
mentados nas linhas rítmicas dos         grante de seu conjunto.                      dores, desistiu das apresentações.
choros, baiões, sambas e até mesmo          Os norte-americanos, no entan-            Humildemente, o instrumentista as-
meros batuques.                          to, souberam valorizar o talento de          sumiu seu lugar. Na noite de estreia
    Integrante da big band do consa-     Laurindo, concedendo-lhe nada                em São Paulo, a locutora do even-
grado arranjador e compositor Stan       menos do que cinco prémios                   to anunciou: "Com vocês, o grande
Kenton, Laurindo de Almeida rapi-        Grammy, o Oscar da indústria fono-           violonista Laurindo de Oliveira
damente firmou seu prestígio num         gráfica. Somente nos Estados Uni-            (sic)". O músico deu pouca atenção
país de génios como Charlie Chris-       dos é que o violonista teve a chance         à gafe, e explicou: "Há um certo
tian, Johnny St. Cyr, Lonnie John-       de gravar regularmente.                      desdém do povo brasileiro, que não
son, Freddie Green, Eddie Lang ou           No Brasil, seus LPs são uma rari-         dá muita importância aos seus pró-
Eddie Condon.                            dade. Um dos últimos lançados no             prios valores. A história está cheia de
    No despertar da década de 50,        país, em 1982, pelo selo Eldorado,           exemplos: a pianista Guiomar No-
com Babasin e o saxofonista Bud          quase não inclui amostras do reper-          vaes e a cantora Bidu Sayão, prati-
Shank, Laurindo gravou dois LPs          tório nacional: só a "Insensatez", de        camente ignoradas em seu próprio
onde já apareciam sugestões daqui-       Tom e Vinícius, e um medley do fil-          país, foram tratadas como deusas lá
lo que seriam as características har-    me Or/eu do Carnaval. No mais,               fora. E, se retrocedermos um pou-
mónicas da bossa nova: "Brazillian-      Laurindo de Almeida toca desde               co mais, temos o caso de Santos Du-
ce n° l" e "Brazilliance n° 2".          Gershwin até o tradicional "Concier-         mont, que teve de ir à França para
    Gorducho, careca, de jeito man-      to de Aranjuez", de Rodrigo.                 inventar o avião. Não quero meter
 so e hábitos discretos, Laurindo de        Naturalizado norte-americano, o           o pau no meu país, mas esta é que
Almeida testou várias vezes sua po-      violonista conta que nas listas que re-      é a verdade. Eu adoro os brasileiros,
pularidade em terras brasileiras de-     cebe da ASCAP (entidade que re-              mas sinceramente não sei quando é
pois de sua partida. Apresentou-se       colhe os direitos autorais dos músi-         que eles vão começar a apreciar o
 em 1967 durante o I Festival Inter-     cos) constam países da Ásia, Euro-           que é seu".

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Heraldo do Monte
Heraldo do MonteHeraldo do Monte
Heraldo do MonteAlisson S.
 
Perfil lenora de barros
Perfil lenora de barrosPerfil lenora de barros
Perfil lenora de barrosSergyo Vitro
 
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011ZecaZines
 
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!lucas_vinicius2012
 
Perfil claudio jorge
Perfil claudio jorgePerfil claudio jorge
Perfil claudio jorgeSergyo Vitro
 
Dilermando Reis
Dilermando ReisDilermando Reis
Dilermando ReisAlisson S.
 
Art com v1_ed1_220809
Art com v1_ed1_220809Art com v1_ed1_220809
Art com v1_ed1_220809ADNG DIVING
 
Perfil dani barros e charles fricks
Perfil dani barros e charles fricksPerfil dani barros e charles fricks
Perfil dani barros e charles fricksSergyo Vitro
 
Perfil waltel branco
Perfil waltel brancoPerfil waltel branco
Perfil waltel brancoSergyo Vitro
 
Perfil iris lettieri
Perfil iris lettieriPerfil iris lettieri
Perfil iris lettieriSergyo Vitro
 
Django Reinhardt
Django ReinhardtDjango Reinhardt
Django ReinhardtAlisson S.
 
Pág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista FugasPág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista Fugasmrvpimenta
 
Perfil maria ribeiro
Perfil maria ribeiroPerfil maria ribeiro
Perfil maria ribeiroSergyo Vitro
 
8°série ef tarde
8°série ef tarde8°série ef tarde
8°série ef tardeBreno Fostek
 

Mais procurados (20)

Heraldo do Monte
Heraldo do MonteHeraldo do Monte
Heraldo do Monte
 
Perfil lenora de barros
Perfil lenora de barrosPerfil lenora de barros
Perfil lenora de barros
 
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011
Massafeira 30 anos jornaldo comércio portoalegre_31012011
 
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!
"Perfeição" - 28º - Vilã VS Mocinha... Ester invade apê de Lisa e a humilha!
 
Perfil claudio jorge
Perfil claudio jorgePerfil claudio jorge
Perfil claudio jorge
 
Dilermando Reis
Dilermando ReisDilermando Reis
Dilermando Reis
 
Art com v1_ed1_220809
Art com v1_ed1_220809Art com v1_ed1_220809
Art com v1_ed1_220809
 
Perfil dani barros e charles fricks
Perfil dani barros e charles fricksPerfil dani barros e charles fricks
Perfil dani barros e charles fricks
 
Fernanda takai no FILO
Fernanda takai no FILOFernanda takai no FILO
Fernanda takai no FILO
 
O Bandeirante - n.238 - 092012
O Bandeirante - n.238 - 092012O Bandeirante - n.238 - 092012
O Bandeirante - n.238 - 092012
 
Perfil waltel branco
Perfil waltel brancoPerfil waltel branco
Perfil waltel branco
 
Perfil iris lettieri
Perfil iris lettieriPerfil iris lettieri
Perfil iris lettieri
 
Revolver Ii
Revolver IiRevolver Ii
Revolver Ii
 
Lendas do Rock
Lendas do RockLendas do Rock
Lendas do Rock
 
Django Reinhardt
Django ReinhardtDjango Reinhardt
Django Reinhardt
 
Pág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista FugasPág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista Fugas
 
Comunidade abril-2009
Comunidade   abril-2009Comunidade   abril-2009
Comunidade abril-2009
 
"Perfeição" - Cap. 27
"Perfeição" - Cap. 27"Perfeição" - Cap. 27
"Perfeição" - Cap. 27
 
Perfil maria ribeiro
Perfil maria ribeiroPerfil maria ribeiro
Perfil maria ribeiro
 
8°série ef tarde
8°série ef tarde8°série ef tarde
8°série ef tarde
 

Destaque

A escola de zé menezes partituras-cbm
A escola de zé menezes partituras-cbmA escola de zé menezes partituras-cbm
A escola de zé menezes partituras-cbmCamerata de Violões
 
Metodo+carcassi
Metodo+carcassiMetodo+carcassi
Metodo+carcassiauremant
 
O problema do plágio e como fazer citação de texto.
O problema do plágio e como fazer citação de texto.O problema do plágio e como fazer citação de texto.
O problema do plágio e como fazer citação de texto.Marcelo Augusto Mascarenhas
 
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)Cristina Ramos
 
Ofício de Poeta - Gênero Poesia
Ofício de Poeta - Gênero PoesiaOfício de Poeta - Gênero Poesia
Ofício de Poeta - Gênero Poesiaraikabarreto
 
Versificação
VersificaçãoVersificação
VersificaçãoISJ
 
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz   mel bay publicationsAntonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz   mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz mel bay publicationsauremant
 
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarra
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarraFerdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarra
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarraAbimael Lopez
 
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz   mel bay publicationsAntonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz   mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz mel bay publicationsauremant
 
Album 16 peças de autores celebres - arr-1. i. savio
Album   16 peças de autores celebres - arr-1. i. savioAlbum   16 peças de autores celebres - arr-1. i. savio
Album 16 peças de autores celebres - arr-1. i. savioMarco Leal
 
Classical guitar-method-one-2014
Classical guitar-method-one-2014Classical guitar-method-one-2014
Classical guitar-method-one-2014Evaldo Correa
 
João pernambuco 11 choros famosos
João pernambuco   11 choros famososJoão pernambuco   11 choros famosos
João pernambuco 11 choros famososluiz antonio
 
Curso completo de violão. prrsoares
Curso completo de violão. prrsoaresCurso completo de violão. prrsoares
Curso completo de violão. prrsoaresSeduc MT
 
Apostila violão clássico
Apostila violão clássicoApostila violão clássico
Apostila violão clássicomagiadascordas
 
60 Solos de Guitarra Clasica
60 Solos de Guitarra Clasica60 Solos de Guitarra Clasica
60 Solos de Guitarra ClasicaBerto Luthier
 
Kalinchita las 100 mejores romantica
Kalinchita las 100 mejores romanticaKalinchita las 100 mejores romantica
Kalinchita las 100 mejores romanticaSaul Aquino
 

Destaque (19)

A escola de zé menezes partituras-cbm
A escola de zé menezes partituras-cbmA escola de zé menezes partituras-cbm
A escola de zé menezes partituras-cbm
 
Natalia antonio lauro
Natalia   antonio lauroNatalia   antonio lauro
Natalia antonio lauro
 
Metodo+carcassi
Metodo+carcassiMetodo+carcassi
Metodo+carcassi
 
Maria luisa lauro
Maria luisa   lauroMaria luisa   lauro
Maria luisa lauro
 
O problema do plágio e como fazer citação de texto.
O problema do plágio e como fazer citação de texto.O problema do plágio e como fazer citação de texto.
O problema do plágio e como fazer citação de texto.
 
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)
Versos e seus recursos musicais (1º ano do Ensino Médio)
 
Ofício de Poeta - Gênero Poesia
Ofício de Poeta - Gênero PoesiaOfício de Poeta - Gênero Poesia
Ofício de Poeta - Gênero Poesia
 
Versificação
VersificaçãoVersificação
Versificação
 
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz   mel bay publicationsAntonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz   mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.2 ,arr.alirio diaz mel bay publications
 
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarra
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarraFerdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarra
Ferdinando+carulli+ +metodo+completo+per+lo+studio+della+chitarra
 
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz   mel bay publicationsAntonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz   mel bay publications
Antonio lauro complete works vol.1 ,arr.alirio diaz mel bay publications
 
Chorinho2
Chorinho2Chorinho2
Chorinho2
 
Album 16 peças de autores celebres - arr-1. i. savio
Album   16 peças de autores celebres - arr-1. i. savioAlbum   16 peças de autores celebres - arr-1. i. savio
Album 16 peças de autores celebres - arr-1. i. savio
 
Classical guitar-method-one-2014
Classical guitar-method-one-2014Classical guitar-method-one-2014
Classical guitar-method-one-2014
 
João pernambuco 11 choros famosos
João pernambuco   11 choros famososJoão pernambuco   11 choros famosos
João pernambuco 11 choros famosos
 
Curso completo de violão. prrsoares
Curso completo de violão. prrsoaresCurso completo de violão. prrsoares
Curso completo de violão. prrsoares
 
Apostila violão clássico
Apostila violão clássicoApostila violão clássico
Apostila violão clássico
 
60 Solos de Guitarra Clasica
60 Solos de Guitarra Clasica60 Solos de Guitarra Clasica
60 Solos de Guitarra Clasica
 
Kalinchita las 100 mejores romantica
Kalinchita las 100 mejores romanticaKalinchita las 100 mejores romantica
Kalinchita las 100 mejores romantica
 

Semelhante a Laurindo de Almeida

Charlie Christian
Charlie ChristianCharlie Christian
Charlie ChristianAlisson S.
 
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua Aldeia
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua AldeiaTom Zé: Um Tropicalista e Sua Aldeia
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua AldeiaPortal Iraraense
 
6.ernestonazarethanacletomedeiros
6.ernestonazarethanacletomedeiros6.ernestonazarethanacletomedeiros
6.ernestonazarethanacletomedeirosClaudio Sant Ana
 
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.barbeiroze
 
Revista fever 1 edição
Revista fever 1 ediçãoRevista fever 1 edição
Revista fever 1 ediçãotherevistafever
 
Book de captação Graziela Santos
Book de captação Graziela Santos Book de captação Graziela Santos
Book de captação Graziela Santos Realize Eventos
 
Parcerias zuza homem de mello
Parcerias   zuza homem de melloParcerias   zuza homem de mello
Parcerias zuza homem de mellorenatomartins13
 

Semelhante a Laurindo de Almeida (11)

Charlie Christian
Charlie ChristianCharlie Christian
Charlie Christian
 
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua Aldeia
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua AldeiaTom Zé: Um Tropicalista e Sua Aldeia
Tom Zé: Um Tropicalista e Sua Aldeia
 
6.ernestonazarethanacletomedeiros
6.ernestonazarethanacletomedeiros6.ernestonazarethanacletomedeiros
6.ernestonazarethanacletomedeiros
 
Projeto cartola
Projeto cartola Projeto cartola
Projeto cartola
 
10.1920 1928
10.1920 192810.1920 1928
10.1920 1928
 
8.1906 1916
8.1906 19168.1906 1916
8.1906 1916
 
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.
Zé Barbeiro, O Tremendão do Choro. Jornal Alagoas.
 
Revista fever
Revista feverRevista fever
Revista fever
 
Revista fever 1 edição
Revista fever 1 ediçãoRevista fever 1 edição
Revista fever 1 edição
 
Book de captação Graziela Santos
Book de captação Graziela Santos Book de captação Graziela Santos
Book de captação Graziela Santos
 
Parcerias zuza homem de mello
Parcerias   zuza homem de melloParcerias   zuza homem de mello
Parcerias zuza homem de mello
 

Mais de Alisson S.

Egberto Gismonti
Egberto GismontiEgberto Gismonti
Egberto GismontiAlisson S.
 
Paulinho Nogueira
Paulinho NogueiraPaulinho Nogueira
Paulinho NogueiraAlisson S.
 
Andrés Segovia
Andrés SegoviaAndrés Segovia
Andrés SegoviaAlisson S.
 
Dicionário de Acordes II
Dicionário de Acordes IIDicionário de Acordes II
Dicionário de Acordes IIAlisson S.
 
Dicionário de Acordes I
Dicionário de Acordes IDicionário de Acordes I
Dicionário de Acordes IAlisson S.
 
Lógica - Immanuel Kant
 Lógica - Immanuel Kant Lógica - Immanuel Kant
Lógica - Immanuel KantAlisson S.
 

Mais de Alisson S. (17)

Paco de Lucia
Paco de LuciaPaco de Lucia
Paco de Lucia
 
Jeff Beck
Jeff BeckJeff Beck
Jeff Beck
 
B. B. King
B. B. KingB. B. King
B. B. King
 
Egberto Gismonti
Egberto GismontiEgberto Gismonti
Egberto Gismonti
 
Chuck Berry
Chuck BerryChuck Berry
Chuck Berry
 
Paulinho Nogueira
Paulinho NogueiraPaulinho Nogueira
Paulinho Nogueira
 
Joe Pass
Joe PassJoe Pass
Joe Pass
 
Frank Zappa
Frank ZappaFrank Zappa
Frank Zappa
 
George Benson
George BensonGeorge Benson
George Benson
 
Eric Clapton
Eric ClaptonEric Clapton
Eric Clapton
 
Andrés Segovia
Andrés SegoviaAndrés Segovia
Andrés Segovia
 
Baden Powell
Baden PowellBaden Powell
Baden Powell
 
Jimi Hendrix
Jimi Hendrix Jimi Hendrix
Jimi Hendrix
 
Dicionário de Acordes II
Dicionário de Acordes IIDicionário de Acordes II
Dicionário de Acordes II
 
Dicionário de Acordes I
Dicionário de Acordes IDicionário de Acordes I
Dicionário de Acordes I
 
Lógica - Immanuel Kant
 Lógica - Immanuel Kant Lógica - Immanuel Kant
Lógica - Immanuel Kant
 
Sistema Solar
Sistema SolarSistema Solar
Sistema Solar
 

Laurindo de Almeida

  • 1. PERSONAGEM LAURINDO DE misfério norte, porém, seu nome é símbolo de brilho e qualidade. Por lá os especialistas concordam: a pri- meira vez que escutaram a suave mistura dos ritmos sincopados da ALMEIDA América do Sul com a eterna flexi- bilidade do jazz foi no violão de Lau- rindo de Almeida. O músico nasceu em 2 de setem- bro de 1917, na cidade paulista de Prainha, hoje Miracatu. De família muito pobre, tinha catorze irmãos. Oito deles morreram. Laurindo foi o quarto a sobreviver e passou a infân- cia ouvindo a mãe praticar no piano peças de Chopin e Mozart. Durante a Revolução Constitucio- nalista de 32, assim como todos os rapazes de sua idade, o músico, en- tão com quinze anos, alistou-se pa- ra a guerra. Não chegou porém a ir aos campos de batalha, já que uma forte gripe o atirou na cama. Recu- perando-se no hospital de Santo An- dré, Laurindo teve a oportunidade de ouvir o violão de Aníbal de Aze- vedo, o Garoto, quando este se apresentou num show especial para os doentes. Laurindo ficou fascina- do pelo talento de Garoto e não per- deu a oportunidade. Tratou de fa- zer amizade com o músico que, por sua vez, deu a grande dica para o jo- vem aspirante a violonista: o negó- cio era ir para o Rio de Janeiro, on- de as coisas estavam acontecendo. Três anos depois, Laurindo bai- xava em terras cariocas. Passou fo- me, dormiu em bancos de praças. Conseguiu o primeiro emprego na rádio Mayrink Veiga, onde também começavam a despontar talentos co- mo Cármen Miranda e Sílvio Cal- das. Depois, Laurindo passou a to- car, com muito sucesso, nas noita- das do Cassino da Urca. Tudo pa- recia ir muito bem, até que em Laurindo de Almeida construiu uma carreira de sucesso nos Estados Unidos. 1946, um decreto moralista, assina- do pelo presidente Dutra, proibiu o 44 jogo no país. B)ossa nova? Conheço essa his- de 1947 instalado de bagagens e ar- A saída para o violonista foi o tória muito bem. Tudo começou co- mas, quer dizer, talento e violão, em porto. Pegou o primeiro vapor em migo, uns trinta anos atrás, lá nos plagas norte-americanas. No Brasil, direção à Europa. Pagou a passa- Estados Unidos..." Não existe arro- Laurindo de Almeida é um nome gem divertindo com sua música os gância no comentário do cidadão conhecido apenas nos círculos res- passageiros e tripulantes. Apresen- paulista Laurindo de Almeida, des- tritos dos iniciados no jazz. No he- tou-se em Portugal, Espanha, Fran-
  • 2. PERSONAGEM ca, Bélgica, Holanda e Alemanha. Quando já pensava seriamente em fazer do Velho Continente a sua morada definitiva, recebeu um pol- pudo cheque da gravadora RCA, pelos direitos autorais da música "Al- deia de roupa branca", composição sua desconhecida no Brasil, mas um grande sucesso nas rádios norte- americanas. Não pensou duas vezes: fez as malas e partiu para os Estados Unidos. Em Los Angeles, a pátria univer- sal do sucesso, Laurindo estrearia no cinema com um solo no filme A Song is Bom, onde também faz uma pequena ponta como figurante. Per- cebeu que, participando de trilhas sonoras, poderia engordar sua con- ta bancária. Como compositor ou in- térprete emprestou seu talento a centenas de filmes, geralmente de classe B. Também temperou com o O violonista brasileiro apresentou-se, em 1987, no Free Jazz Festival. som de seu violão a trilha sonora de Bonanza, um célebre seriado-wes- nacional da Canção, promovido pe- pa e até da América do Sul, como tern para a TV. la Rede Globo. Não foi feliz. Como a Argentina, por exemplo. "Do Bra- Fez amizade com o baixista Harry não o conhecia, o público prestou sil recebo muito pouco", lamenta. Babasin, com o qual concebeu um pouca atenção a seu violão. Em Laurindo de Almeida só veio a modo de tocar diferente de tudo o 1978, nem sequer o convidaram pa- ser convidado a participar do princi- que se fazia na ocasião. Não cedeu ra o Festival de Jazz de São Paulo, pal evento de jazz de seu país — o à tentação do som eletrificado e co- embora tivesse sido contratado pa- Free Jazz Festival — em 1987, mes- meçou a destacar das massas musi- ra a série de apresentações o baixis- mo assim porque Tom Jobim, ini- cais os improvisos instigantes, funda- ta Ray Brown, na época um inte- cialmente contratado pelos organiza- mentados nas linhas rítmicas dos grante de seu conjunto. dores, desistiu das apresentações. choros, baiões, sambas e até mesmo Os norte-americanos, no entan- Humildemente, o instrumentista as- meros batuques. to, souberam valorizar o talento de sumiu seu lugar. Na noite de estreia Integrante da big band do consa- Laurindo, concedendo-lhe nada em São Paulo, a locutora do even- grado arranjador e compositor Stan menos do que cinco prémios to anunciou: "Com vocês, o grande Kenton, Laurindo de Almeida rapi- Grammy, o Oscar da indústria fono- violonista Laurindo de Oliveira damente firmou seu prestígio num gráfica. Somente nos Estados Uni- (sic)". O músico deu pouca atenção país de génios como Charlie Chris- dos é que o violonista teve a chance à gafe, e explicou: "Há um certo tian, Johnny St. Cyr, Lonnie John- de gravar regularmente. desdém do povo brasileiro, que não son, Freddie Green, Eddie Lang ou No Brasil, seus LPs são uma rari- dá muita importância aos seus pró- Eddie Condon. dade. Um dos últimos lançados no prios valores. A história está cheia de No despertar da década de 50, país, em 1982, pelo selo Eldorado, exemplos: a pianista Guiomar No- com Babasin e o saxofonista Bud quase não inclui amostras do reper- vaes e a cantora Bidu Sayão, prati- Shank, Laurindo gravou dois LPs tório nacional: só a "Insensatez", de camente ignoradas em seu próprio onde já apareciam sugestões daqui- Tom e Vinícius, e um medley do fil- país, foram tratadas como deusas lá lo que seriam as características har- me Or/eu do Carnaval. No mais, fora. E, se retrocedermos um pou- mónicas da bossa nova: "Brazillian- Laurindo de Almeida toca desde co mais, temos o caso de Santos Du- ce n° l" e "Brazilliance n° 2". Gershwin até o tradicional "Concier- mont, que teve de ir à França para Gorducho, careca, de jeito man- to de Aranjuez", de Rodrigo. inventar o avião. Não quero meter so e hábitos discretos, Laurindo de Naturalizado norte-americano, o o pau no meu país, mas esta é que Almeida testou várias vezes sua po- violonista conta que nas listas que re- é a verdade. Eu adoro os brasileiros, pularidade em terras brasileiras de- cebe da ASCAP (entidade que re- mas sinceramente não sei quando é pois de sua partida. Apresentou-se colhe os direitos autorais dos músi- que eles vão começar a apreciar o em 1967 durante o I Festival Inter- cos) constam países da Ásia, Euro- que é seu".