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PERSONAGEM



B. B.
KlNG
M,ississípi, 16 dehaver local mais
    L
1925. Não poderia
                    setembro de

apropriado para o nascimento de Ri-
ley B. King do que a cidade que ser-
viu de berço ao blues. Nascido no
coração da região algodoeira do del-
ta do rio, o garoto viria a se tornar
mundialmente conhecido como B.
B. King. Embora abandonasse mais
tarde o nome de batismo, King, co-
mo todo bom bluesman, jamais es-
queceu as tradições artísticas de sua
terra natal. Além de incorporá-las ao
seu estilo extremamente pessoal de
interpretação, misturou à crueza do
som dos negros sulistas elementos
do jazz, do sou! e do funk, fazendo
com que o lamento do blues encon-
trasse eco em todas as partes do
mundo.
   Na infância, King já trabalhava em
tempo integral: arava campos, colhia
algodão e ordenhava vacas. Tudo is-
so por um salário de apenas 15 dó-
lares. Seu pai abandonou a família
cedo e Riley foi criado com a mãe,
que o levava com frequência à igre-
ja. E foi nas missas dominicais que
o garoto teve seu primeiro contato
com a música, participando do coro
que entoava os hinos gospel.
   Quando sua mãe morreu, King ti-
nha apenas dez anos de idade, e
passou então a morar com o pai.
Nessa época, era obrigado a andar
6 quilómetros todos os dias para ir
ã escola — um pequeno galpão,
com apenas uma sala de aula, um
professor e 86 alunos. Mas seu inte-
resse principal já se voltava para a
guitarra, que ele ouvia executada
por gente como Blind Lemon Jeffer-
son, T-Bone Walker e Lonnie John-
son. Aos catorze anos de idade,         B. B. King: solos simples, com o mínimo de notas e o máximo de sentimento.
PERSONAGEM
 comprou seu primeiro instrumento.                                                    mento, mas o galpão já começara a
    Durante a guerra, o guitarrista foi                                               desabar. Depois, ficou sabendo que
 convocado para o serviço militar,                                                    toda a confusão havia acontecido
 cumprindo boa parte dessa obriga-                                                    por causa de uma garota chamada
 ção no Estado do Mississipi como                                                     Lucille. A partir de então, passou a
 motorista, dirigindo um trator numa                                                  chamar todas suas guitarras por es-
 imensa plantação. Ao final da guer-                                                  se nome, lembrando sempre: "É a
 ra, King já tinha amadurecido o de-                                                  única garota da qual posso de-
 sejo de se tornar músico profissional.                                               pender".
 Assim, em 1946, partiu para o Es-                                                        O instrumento que ele toca atual-
 tado de Memphis, no Tennessee,                                                       mente é feito sob encomenda, pela
 onde morava seu primo Bukka Whi-                                                     Gibson. Baseia-se numa 335, mas
te, famoso na cidade como grande                                                      tem caixa fechada, sem as bocas em
 intérprete de blues rural. Bukka tra-                                                "F", a fim de reduzir a quantidade
tou de passar ao jovem todo o seu                                                     de feed-back descontrolado.
conhecimento técnico. Além de                                                            O guitarrista é um grande colecio-
ensinar-lhe os macetes da guitarra e                                                  nador de discos — possui uma disr
os clichés do blues, conseguiu arran-                                                 coteca com mais de 30 mil LPs —
jar-lhe também o primeiro emprego,                                                    e sempre foi um grande fã de Char-
numa churrascaria. King tocava cin-                                                   lie Christian e de Django Reinhardt.
co vezes por semana. Por sorte, nu-                                                   Também escuta com atenção a mú-
ma dessas noites, estavam na casa         King toca sua guitarra Gibson, "Lucille".   sica clássica, principalmente Bach.
algumas pessoas ligadas à radio                                                       Quando perguntado sobre qual se-
WDIA. Não só gostaram do estilo do        morning", "Sweet little angel" e            ria o grande génio das cordas, sem-
guitarrista como acharam também           "Eyesight to the blind".                    pre cita o violonista espanhol Andrés
que seria a figura ideal para cantar         Mas as músicas de King tocavam           Segovia. B. B. King combinou al-
num comercial de remédio para gri-        apenas nas rádios negras, pois a            guns dos elementos rústicos do blues
pe, a ser veiculado pela estação. O       América racista ainda encarava seu          com a abordagem mais limpa, con-
garoto do Mississipi topou o desafio      som com preconceito. Essa barreira          cisa e melódica dos músicos de jazz.
e saiu-se muito bem. De presente,         só veio a ser quebrada nos anos 60,         Costuma afirmar que só sabe solar,
ganhou um programa de 10 minu-            época em que os músicos dos Rol-            nota por nota, e diz que nunca to-
tos na WDIA, onde atuava como             ling Stones e Beatles, assim como o         cou ritmo. Também acha impossível
disc-jockey.                              guitarrista Eric Clapton, passaram a        executar sua "Lucille" e cantar ao
    Essa fase foi muito importante na     admitir publicamente suas influências       mesmo tempo.
sua carreira, pois deu-lhe a oportu-      musicais: era no estilo daquele ne-            Costuma-se aceitar que ele seja o
nidade de ouvir e executar os mais        gro do Mississipi que os novos pop-         criador da técnica de vibrato carac-
variados tipos de sons, definindo um      stars tinham se inspirado. Com isso,        terizada pela movimentação dos de-
estilo versátil de tocar, sempre aber-    passou-se a prestar mais atenção ao         dos em pequenos movimentos late-
to a incorporar novos elementos ao        som de B. B. King. Em 1969, na              rais. Foi também um dos pioneiros
velho blues. Ao sair da rádio, Xing       turnê norte-americana dos Stones,           nas técnicas de distorção de notas,
já levava agregadas a seu nome as         o músico abriu com sucesso os ca-           concebidas originalmente para simu-
iniciais B. B. O apelido surgiu na        torze shows do conjunto, sempre             lar o estilo bottleneck de músicos co-
própria WDIA, quando o disc-jockey        acompanhado de sua guitarra,                mo Elmore James. Hoje, essas téc-
Don Kearn passou a chamá-lo de            "Lucille".                                  nicas 530 amplamente utilizadas.
"The Beale Street Blues Boy" {Bea-           A origem desse nome é uma ver-              O grande músico do Mississipi gra-
le Street era a rua onde ficavam os       dadeira lenda. Tudo aconteceu em            vou mais de cinquenta discos duran-
barzinhos de blues). Assim, já como       Twist, Arkansas. King tocava num            te sua carreira, colecionou alguns
B. B. King, gravou o primeiro dis-        galpão na cidade, onde o aqueci-            Grammy e pisou em palcos de vá-
co, "Miss Martha King", pela marca        mento era feito por meio de latões          rios países, onde a plateia teve a
Bullete, em 1949. No ano seguinte,        de querosene. Durante o show, dois          oportunidade de conferir sua perfor-
teve seu primeiro hit nas paradas:        rapazes começaram a brigar e, no            mance eletrizarvte. Certa ocasião,
um número chamado "Three o' clock         meio do tumulto, um dos latões de           num comentário a respeito de uma
blues". Na interpretação do guitar-       querosene foi derrubado, originan-          apresentação do guitarrista, um crí-
rista do Mississipi, a velha canção de    do um grande incêndio. Após ter fu-         tico observou que, depois de cantar,
Lowell Fulson permaneceu dezoito          gido do local, B. B. King percebeu          o músico fazia sua "Lucille" cantar.
semanas nas paradas. Seus sucessos        que havia esquecido sua guitarra.           King considerou isso o maior de to-
seguintes incluíram "Woke up this         Tentoujroltar para resgatar o instru-       dos os elogios.

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B. B. King

  • 1. PERSONAGEM B. B. KlNG M,ississípi, 16 dehaver local mais L 1925. Não poderia setembro de apropriado para o nascimento de Ri- ley B. King do que a cidade que ser- viu de berço ao blues. Nascido no coração da região algodoeira do del- ta do rio, o garoto viria a se tornar mundialmente conhecido como B. B. King. Embora abandonasse mais tarde o nome de batismo, King, co- mo todo bom bluesman, jamais es- queceu as tradições artísticas de sua terra natal. Além de incorporá-las ao seu estilo extremamente pessoal de interpretação, misturou à crueza do som dos negros sulistas elementos do jazz, do sou! e do funk, fazendo com que o lamento do blues encon- trasse eco em todas as partes do mundo. Na infância, King já trabalhava em tempo integral: arava campos, colhia algodão e ordenhava vacas. Tudo is- so por um salário de apenas 15 dó- lares. Seu pai abandonou a família cedo e Riley foi criado com a mãe, que o levava com frequência à igre- ja. E foi nas missas dominicais que o garoto teve seu primeiro contato com a música, participando do coro que entoava os hinos gospel. Quando sua mãe morreu, King ti- nha apenas dez anos de idade, e passou então a morar com o pai. Nessa época, era obrigado a andar 6 quilómetros todos os dias para ir ã escola — um pequeno galpão, com apenas uma sala de aula, um professor e 86 alunos. Mas seu inte- resse principal já se voltava para a guitarra, que ele ouvia executada por gente como Blind Lemon Jeffer- son, T-Bone Walker e Lonnie John- son. Aos catorze anos de idade, B. B. King: solos simples, com o mínimo de notas e o máximo de sentimento.
  • 2. PERSONAGEM comprou seu primeiro instrumento. mento, mas o galpão já começara a Durante a guerra, o guitarrista foi desabar. Depois, ficou sabendo que convocado para o serviço militar, toda a confusão havia acontecido cumprindo boa parte dessa obriga- por causa de uma garota chamada ção no Estado do Mississipi como Lucille. A partir de então, passou a motorista, dirigindo um trator numa chamar todas suas guitarras por es- imensa plantação. Ao final da guer- se nome, lembrando sempre: "É a ra, King já tinha amadurecido o de- única garota da qual posso de- sejo de se tornar músico profissional. pender". Assim, em 1946, partiu para o Es- O instrumento que ele toca atual- tado de Memphis, no Tennessee, mente é feito sob encomenda, pela onde morava seu primo Bukka Whi- Gibson. Baseia-se numa 335, mas te, famoso na cidade como grande tem caixa fechada, sem as bocas em intérprete de blues rural. Bukka tra- "F", a fim de reduzir a quantidade tou de passar ao jovem todo o seu de feed-back descontrolado. conhecimento técnico. Além de O guitarrista é um grande colecio- ensinar-lhe os macetes da guitarra e nador de discos — possui uma disr os clichés do blues, conseguiu arran- coteca com mais de 30 mil LPs — jar-lhe também o primeiro emprego, e sempre foi um grande fã de Char- numa churrascaria. King tocava cin- lie Christian e de Django Reinhardt. co vezes por semana. Por sorte, nu- Também escuta com atenção a mú- ma dessas noites, estavam na casa King toca sua guitarra Gibson, "Lucille". sica clássica, principalmente Bach. algumas pessoas ligadas à radio Quando perguntado sobre qual se- WDIA. Não só gostaram do estilo do morning", "Sweet little angel" e ria o grande génio das cordas, sem- guitarrista como acharam também "Eyesight to the blind". pre cita o violonista espanhol Andrés que seria a figura ideal para cantar Mas as músicas de King tocavam Segovia. B. B. King combinou al- num comercial de remédio para gri- apenas nas rádios negras, pois a guns dos elementos rústicos do blues pe, a ser veiculado pela estação. O América racista ainda encarava seu com a abordagem mais limpa, con- garoto do Mississipi topou o desafio som com preconceito. Essa barreira cisa e melódica dos músicos de jazz. e saiu-se muito bem. De presente, só veio a ser quebrada nos anos 60, Costuma afirmar que só sabe solar, ganhou um programa de 10 minu- época em que os músicos dos Rol- nota por nota, e diz que nunca to- tos na WDIA, onde atuava como ling Stones e Beatles, assim como o cou ritmo. Também acha impossível disc-jockey. guitarrista Eric Clapton, passaram a executar sua "Lucille" e cantar ao Essa fase foi muito importante na admitir publicamente suas influências mesmo tempo. sua carreira, pois deu-lhe a oportu- musicais: era no estilo daquele ne- Costuma-se aceitar que ele seja o nidade de ouvir e executar os mais gro do Mississipi que os novos pop- criador da técnica de vibrato carac- variados tipos de sons, definindo um stars tinham se inspirado. Com isso, terizada pela movimentação dos de- estilo versátil de tocar, sempre aber- passou-se a prestar mais atenção ao dos em pequenos movimentos late- to a incorporar novos elementos ao som de B. B. King. Em 1969, na rais. Foi também um dos pioneiros velho blues. Ao sair da rádio, Xing turnê norte-americana dos Stones, nas técnicas de distorção de notas, já levava agregadas a seu nome as o músico abriu com sucesso os ca- concebidas originalmente para simu- iniciais B. B. O apelido surgiu na torze shows do conjunto, sempre lar o estilo bottleneck de músicos co- própria WDIA, quando o disc-jockey acompanhado de sua guitarra, mo Elmore James. Hoje, essas téc- Don Kearn passou a chamá-lo de "Lucille". nicas 530 amplamente utilizadas. "The Beale Street Blues Boy" {Bea- A origem desse nome é uma ver- O grande músico do Mississipi gra- le Street era a rua onde ficavam os dadeira lenda. Tudo aconteceu em vou mais de cinquenta discos duran- barzinhos de blues). Assim, já como Twist, Arkansas. King tocava num te sua carreira, colecionou alguns B. B. King, gravou o primeiro dis- galpão na cidade, onde o aqueci- Grammy e pisou em palcos de vá- co, "Miss Martha King", pela marca mento era feito por meio de latões rios países, onde a plateia teve a Bullete, em 1949. No ano seguinte, de querosene. Durante o show, dois oportunidade de conferir sua perfor- teve seu primeiro hit nas paradas: rapazes começaram a brigar e, no mance eletrizarvte. Certa ocasião, um número chamado "Three o' clock meio do tumulto, um dos latões de num comentário a respeito de uma blues". Na interpretação do guitar- querosene foi derrubado, originan- apresentação do guitarrista, um crí- rista do Mississipi, a velha canção de do um grande incêndio. Após ter fu- tico observou que, depois de cantar, Lowell Fulson permaneceu dezoito gido do local, B. B. King percebeu o músico fazia sua "Lucille" cantar. semanas nas paradas. Seus sucessos que havia esquecido sua guitarra. King considerou isso o maior de to- seguintes incluíram "Woke up this Tentoujroltar para resgatar o instru- dos os elogios.