1. O GLOBO ● SEGUNDO CADERNO ● PÁGINA 4 - Edição: 7/04/2012 - Impresso: 6/04/2012 — 22: 31 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
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● SEGUNDO CADERNO O GLOBO Sábado, 7 de abril de 2012
PERFIL
Fabio Rossi
RODRIGO VIEIRA, o Marechal,
O Marec
no estúdio onde produz
o independente “Vamos voltar
à realidade”, na Urca:
previsto para agosto, seu
hal do r
primeiro CD terá
participações de Hyldon
e Nelson Sargento
ap
Depois
dos paulist
anos E
micida
e Criol
Carlos Albuquerque
o, MC
carlos.albuquerque@oglobo.com.br de Nit
erói su
A
cena, que pode ser tado como um dos mais cria- rge como
vista no YouTube, é tivos e promissores rappers
o nom
de arrepiar. Durante o do país, o MC de Niterói co- e da v
programa de rádio de meça a gravar o seu espera- MCs, que muitas vezes se ez e gr
Tim Westwood, um dos mais do primeiro disco. Coprodu- transformam em meros due- ava di
concorridos da BBC, o rapper zido por ele e pelo produtor los de egos, o conteúdo é o sco cercad
britânico Akala passa o micro- musical Bid, e tendo partici- que importa. Com diversas banda: Consciência Armada. o de e
fone para uma figura longilí- pações de figuras de outras edições já realizadas entre — A gente queria montar xpecta
nea, barba por fazer, que sai patentes, como Hyldon e Rio e São Paulo, o evento traz um exército do rap. Era todo tivas
improvisando, em português, Nelson Sargento, o indepen- exibições de filmes (na maior mundo muito moleque. E cada pegou o microfone, meio tími-
ao vivo: “Os verdadeiros sa- dente “Vamos voltar à reali- parte, documentários, como um foi inventando um nome. do, de cabeça baixa, boné es-
bem de onde eu vim/ Reco- dade” pode transformar o “Ônibus 174”, de José Padi- Como eu criei o grupo, falei condendo os olhos, e mandou
nhecem quando os versos são garoto que começou fazen- lha) seguidas por debates e, que ia ser o Marechal. E o ape- ver no improviso. Quando vi, pela primeira vez, quando ele
de coração/ Não rendo pra do rimas em festas na Lapa, por fim, pelas batalhas, moti- lido pegou — explica ele, bu- estava todo mundo ligado ne- ainda fazia parte do Quinto
gravadora/ Quer me pôr sob aos 17 anos, em uma estrela vadas por temas levantados dista, vegetariano e avesso a le. Pensei na hora: “Achei meu Andar, não gostei muito do
pressão/ Não sei fazer o som de primeira grandeza do rap no evento. álcool ou qualquer substância MC.” O Marechal é um desses som — confessa Emicida, que
do momento/ Faço do mo- nacional, à semelhança dos — A ideia é instruir e gerar alteradora da consciência. talentos raros que surgem se apresenta no Rio no próxi-
mento o som, independente/ seus contemporâneos e par- conhecimento a partir desse Mas o início de Marechal uma vez ou outra na vida. mo dia 14, na festa Xarpi, no
Demora pra lançar, pra fazer, ceiros de microfone, Marce- formato de duelos — conta veio mesmo na Zoeira, festa Circo Voador. — Só depois, ou-
pra tu perceber que estamos lo D2, Emicida e Criolo. ele, sentado numa mesa, em produzida por Elza Cohen, no Parceria com Marcelo D2 vindo com calma, é que come-
juntos/ CD é só matéria.” — Quero botar em prática um estúdio na Urca, cercado fim dos anos 1990. Realizada Entre os amigos que Ma- cei a ver a grandeza da sua
Ao fim do improviso, o que eu falo nos raps. Tal- de livros como “1984”, de numa sinuca na Lapa, impro- rechal fez na Zoeira, estava poesia. Aí coloquei na minha
Westwood, um dos mais reno- vez por isso o disco tenha George Orwell, e “O griot e as visada como pista de dança e o próprio Marcelo D2, que cabeça que, se eu quisesse ser
mados radialistas britânicos, demorado tanto — diz Mare- muralhas”, de Abdias Nasci- palco, ela se tornou um mar- mais tarde o chamaria para alguém nessa merda, tinha
explode em gritos, saudando chal, que esteve em Londres mento. — Meu sonho é con- co no rap carioca, ajudando a participar das músicas “La- que ser no mínimo igual ao
o convidado. “Não entendi o em 2010, a convite do amigo seguir uma sede para o even- revelar nomes como Marcelo pa” (como MC) e “Loadean- Marechal. Tenho muito orgu-
que aconteceu aqui, mas sei Akala. — Durante esse tem- to, com aulas de filosofia, D2, Falcão, Negralha, Aori, do” (como produtor), esta lho de ser contemporâneo de
reconhecer fluidez e paixão”, po, eu amadureci bastante poesia e empreendedorismo. BNegão, John Woo e Nepal. última incluída no disco um artista dessa grandeza.
ele diz. Nos comentários, pos- em termos musicais e espiri- Estudei só até a sexta série, Foi a partir da Zoeira que Ma- “Em busca da batida perfei- No estúdio na Urca, de pro-
tados depois, alguém resume tuais. Quero mostrar tudo mas aprendi muito com a mú- rechal gravou suas primeiras ta” (de 2003) e transforma- priedade de Nilo Romero, Ma-
o que se passou no estúdio: isso no disco. Não quero ser sica. É importante passar is- músicas, como parte da cole- da em hit nacional. rechal sorri ao saber dos elo-
“Vim aqui para ouvir Akala, só mais um falador. Gosto de so para o público mais novo tânea “Zoeira Hip Hop”, en- — O sucesso de “Loadean- gios de Emicida, mas logo vol-
mas o outro cara é incrível.” passar uma informação que que tem frequentado a Bata- cartada numa edição da re- do” me ajudou muito, em to- ta sua atenção para a mesa de
O “outro cara” se chama seja relevante. lha do Conhecimento. vista “Trip”, em 2000. dos os sentidos. O Marcelo é som, de onde dispara algu-
Marechal e ele vai, enfim, ser Isso rima com a Batalha do — Conheci o Marechal nu- um cara que sempre me deu mas das bases do disco. En-
promovido. Depois de mais Conhecimento, um projeto ‘Exército do rap’ ma loja de discos do Centro força e por quem eu tenho o tre elas, “Nossos caminhos”,
de uma década sendo apon- criado por Marechal (Rodri- O aprendizado do pró- da cidade. No início, ele me maior respeito — afirma Ma- um balanço sinuoso com a
go Vieira, 31 anos) em 2007. prio Marechal — que che- disse que era DJ, e eu o con- rechal, que fez parte do (já participação de Hyldon, e
Nele, em vez das tradicionais gou a jogar basquete pelo videi para aparecer na festa — extinto) grupo de rap Quinto “Dia de samba”, um doce due-
e incendiárias batalhas de Canto do Rio e pelo Botafo- lembra Elza, que hoje mora Andar, ao lado de De Leve e to com Nelson Sargento. Por
“
go — começou aos 13 anos, em São Paulo e trabalha como Shawlin. cima delas, mostra as rimas
quando criou, com um gru- fotógrafa. — A Zoeira já tinha Outro parceiro de rimas de que vai gravar em “Vamos
po de amigos, sua primeira três dos chamados quatro ele- Marechal é Emicida, que gra- voltar à realidade”, previsto
mentos do hip-hop: DJs, dan- vou, em 2010, o EP “Sua mina para ser lançado em agosto.
çarinos e grafiteiros. Mas fal- ouve o meu rap”, nome de — Essas duas músicas de-
tava o MC. Aí, uma noite ele uma música feita pela dupla. vem puxar o disco, cuja pro-
— O Marechal é um dos dução está me entusiasman-
maiores MCs do Brasil, mas do muito — conta Bid. — Afi-
curiosamente, quando o ouvi nal, o Marechal é um dos três
O Marechal é um dos maiores MCs do Brasil (...). Ouvindo com calma, melhores rappers do Brasil.
comecei a ver a grandeza da sua poesia. Aí coloquei na cabeça que, se Só não me arrisco a dizer
quais são os outros dois. ■
eu quisesse ser alguém nessa merda, tinha que ser no mínimo igual a ele
Emicida, rapper