Revolver marcou os Mutantes e inspirou Caetano Veloso
1. E STA D O D E M I N A S ● Q U A R T A - F E I R A , 2 D E A G O S T O D E 2 0 0 6
4 CULTURA
MATÉRIA DE CAPA
‘Revolver’ fez a cabeça dos Mutantes, conquistou Sérgio Dias e inspirou Caetano Veloso a
gravar ‘Eleanor Rigby’ e ‘For no one’. Fãs mineiros levaram um choque ao ouvir o disco
BOB GREISER/1974
Paixão
nacional DANIEL CAMARGOS
Raphael Vilardi, que participou da formação
pular, no sentido de conhecida, do que uma can-
ção de Dorival Caymmi”, compara.
embrionária dos Mutantes, apresentou Revolver PRIMEIRA VEZ Indiferentes a discussões teóricas e
ao guitarrista Sérgio Dias. “O Raphael levou na ca- abstratas, os fãs dos Beatles lembram com gosto o
sa da Rita (Lee) e foi muito emocionante. Lembro primeiro contato com o disco que marcou a histó-
que ele chorou e a Rita ficou encantada com Elea- ria da música. Aos 12 anos, Marcos Krakov se cha-
nor Rigby e Here, there and everywhere”, rememo- teava com as ondas de rádio, que sumiam sem avi-
ra Sérgio. Porém, o que mais conquistou o guitar- so prévio e interrompiam o programa do DJ Big
rista foi a estranheza de Tomorrow never knows – Boy, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Ali ele con-
a composição de John que mistura som de tam- seguia ouvir as músicas antes de os discos chega-
bura, fitas rodando ao contrário e batida inovado- rem às lojas. Lançado no início de agosto na Ingla-
ra de bateria. “Quem questiona o Ringo como ba- terra, Revolver só aportou no Brasil no fim de 1966.
terista pode perceber o talento dele nessa músi- “Quem era fã ficava na expectativa, imaginando co-
ca”, afirma Sérgio. Inspirada no Livro tibetano dos mo seriam todas as músicas e atento a todos os de-
mortos, a letra da canção ganha ares de mantra talhes. Mas as informações eram muito mais raras
com a levada tântrica de Ringo. do que hoje”, afirma Krakov, 40 anos depois.
Mesmo advogando pela causa do baterista, O produtor cultural lembra que comprou Revol-
o mutante tem em George Harrison seu beatle ver na loja de discos que Raul Plasmann – goleiro do
preferido. Revolver é um dos discos prediletos Cruzeiro à época e atualmente comentarista espor-
de Sérgio, pois é o único dos Beatles – com ex- tivo – tinha na Galeria do Ouvidor, no Centro de Be-
ceção do duplo White album – em que George lo Horizonte. “A sensação era outra com o vinil. Reti-
consegue emplacar três composições e cantar rar o lacre, tirar do plástico, ler o encarte e colocar pa-
as três: Taxman, Love you too e I want to tell ra tocar era como se fosse um ritual”, conta.
you. “Ele é o guitarrista mais criativo que conhe- Getúlio Salles tinha 15 anos em 1966. Ao pas-
ço”, afirma Sérgio Dias. sar pela Feira de Amostras, que ficava ao lado do
A influência do Revolver não se restringe às atual Terminal Rodoviário, ouviu um trecho de
bandas de rock brasileiras, como os Mutantes. En- Here, there and everywhere. A melodia saía de
tre as várias regravações, Tom Tavares, professor uma pequena loja. “Foi um choque, mas desses
de música popular brasileira da Universidade Fe- que deixam o ouvido colado”, lembra. No ano se-
deral da Bahia, ressalta a versão que Caetano Velo- guinte, Salles organizou uma banda, os Gam’s, e
so fez para For no one, balada romântica de Paul. tocava nas manhãs de domingo no projeto Do-
Está no disco Qualquer coisa, de 1975, que tam- mingueira, no bairro de Lourdes. Depois, Salles ar-
George Harrison, bém trouxe versão de Eleanor Rigby e Lady Ma- regimentou o fã-clube Abbey Road, que teve 250
com sua famosa donna, com capa inspirada no álbum Let it be. filiados. Coleciona até hoje artefatos alusivos aos
guitarra, Tavares afirma que há preconceito das univer- garotos de Liverpool.
emplacou três sidades em relação à música popular. Para ele, o Na noite de sábado – dia do aniversário de Re-
canções que desprezo se escora em dois pilares: falta de biblio- volver –, no Pau e Pedra (Avenida Getúlio Vargas,
compôs no grafia e desinteresse dos mestres, que não se per- 489, Funcionários), Jô Rocha subirá ao palco para
clássico mitem estudar a música acessível à maioria. Para tocar contrabaixo e repetir as canções de seus ído-
‘Revolver’ Fábio Adour, professor da UFMG, é preciso des- los. Aos 51 anos, Jô é integrante da Sargent Pe-
truir os rótulos e pensar somente na música. pper’s, banda cover mineira considerada umas das
“Uma música de Mozart pode ser muito mais po- melhores do planeta.
CARLOS ALTMAN/8/10/02 DIVULGAÇÃO/CLARISSA LAMBERT/11/05/01
Caetano Veloso fez a releitura Sérgio Dias adora a
verde-amarela de canções dos surpreendente ‘Tomorrow
Beatles no álbum ‘Qualquer coisa’ never knows’
REVOLVER
FAIXA A FAIXA
John Lennon e Paul McCartney costumavam creditar as músicas que compunham,
sozinhos ou em parceria, à dupla. Grande parte dos clássicos, entretanto, foi feita por
apenas um deles, como admitiram em entrevistas.
TAXMAN YELLOW SUBMARINE FOR NO ONE
Composta por George, critica o Letra de Paul cantada por Ringo, Paul compôs, canta, toca baixo, piano e
excesso de impostos cobrados na com naipe de metais e coro dos cravo. Além dele, Ringo toca pandeiro e
Inglaterra. outros três e apoio de toda a turma bateria. Músico da filarmônica de
que estava no estúdio, como Londres, Alan Civil toca trompa. Com
ELEANOR RIGBY George Martin e Patty Harrison, arranjo de George Martin.
Letra e voz de McCartney, com primeira esposa de George.
quatro violinos, duas violas e dois DOCTOR ROBERT
violoncelos. SHE SAID SHE SAID Letra de John, com participação de
De John, que canta brincando com Paul. A voz é de John, que também
I’M ONLY SLEEPING o compasso da música saindo de toca maracas.
Letra com a peculiar ironia de 4/4 para 3/4.
John, que pede que o deixem em I WANT TO TELL YOU
paz. Lennon usa distorção na voz. GOOD DAY SUNSHINE Terceira com letra e voz de George.
de Paul, que canta. Além dos
LOVE YOU TOO quatro tocando os instrumentos GOT TO GET YOU INTO MY LIFE
De George, que também canta e se originais de cada, George Martin De Paul, com órgão tocado por
vale dos instrumentos indianos, toca piano. George Martin e naipe de sopros
como tabla e cítaras. tocado por cinco músicos de estúdio.
AND YOUR BIRD CAN SING
HERE, THERE AND EVERYWHERE Letra e voz de John, com direito TOMORROW NEVER KNOWS
Balada romântica escrita e cantada a solo em dobro da guitarra De John, com cítara tocada por
por Paul. de George. George, efeitos sonoros produzidos
por Paul e piano de George Martin.