Desde que em 2011 na Feira de Hannover – Hannover- Messe, na Alemanha, foi (re)lançado o termo Indústria 4.0, que esta expressão entrou no léxico dos empresários, dos decisores de política pública, e mesmo da população em geral. - Ana Teresa Lehmann, Professora Universitária.
Conferência SC 24 | Gestão logística para redução de custos e fidelização
Portugal Business 4.0 Exports
1. 10Portugal Business on the Way
Ever since the term Industry 4.0 was (re)launched in 2011,
at the HannoverMesse fair in Germany, the expression has
entered the vocabulary of businessmen and policy makers,
as well as the general population.
Normally, “4.0” is associated to the manufacturing and
productive dimension of a company, aggregating and con-
solidating a series of interconnected digital technologies,
from robotics to automation, including the Internet of
Things (IoT), big data, artificial intelligence and 3D print-
ing – in a convergence of technological possibilities which
promotes the fusion of cyber-physical systems, significant-
ly improving efficiency, as well as industrial productivity
and corporate competition.
However, it would be very narrow to keep Industry 4.0
restricted to the factory. Or to the warehouse. Or even
to supply. Digitalisation has to be a 360º concept, it has
to go from conception/design to post-sale service. In this
regard, the digitalisation of small and medium sized com-
panies, given their smaller size and financial, human and
technological resources, is a big challenge. Especially for
Portugal, a country where 99.7% of companies are small
or medium sized. However, and from a positive perspec-
tive, companies are indeed adopting 4.0 technology, or
at least taking an interest in them; they are not showing
much resistance to change. From the larger corporations
to micro-companies, they have grasped that the future lies
in digitalisation.
If this much is true within the factories or the ware-
houses, it does not yet fully apply to trade and exports,
which is why the subject of this edition of BOW magazine,
Exports 4.0, is so appropriate.
For several reasons, we are at the back of the European
pack in terms of e-commerce (and, in this respect, the
most important dimension of it, which is international);
Desde que em 2011 na Feira de Hannover – Hannover-
Messe, na Alemanha, foi (re)lançado o termo Indústria
4.0, que esta expressão entrou no léxico dos empresários,
dos decisores de política pública, e mesmo da população
em geral.
Normalmente, o “4.0” é associado à dimensão fabril
e produtiva da empresa: agregando e consolidando um
conjunto de tecnologias digitais conectadas que vão des-
de a robótica até à automação, passando pela Internet das
Coisas (IoT), big data, inteligência artificial, impressão 3D
– numa convergência de possibilidades tecnológicas que
promove a fusão de sistemas ciberfísicos, melhorando sig-
nificativamente a eficiência e, bem assim, a produtividade
industrial e a competitividade das empresas.
No entanto, seria redutor encerrar a Indústria 4.0 na
fábrica. Ou no armazém. Ou do lado da oferta. Digita-
lização tem de ser um conceito 360º, tem de ir desde a
conceção/design até ao serviço pós venda. Neste âmbito, a
digitalização das PME, pela sua menor dimensão e recur-
sos (financeiros, humanos e tecnológicos) mais reduzidos,
é o grande desafio. Sobretudo para Portugal, um país onde
99,7% do número de empresas são PME. Contudo, e de
forma muito positiva, as empresas estão a acolher as tec-
nologias 4.0 ou pelo menos a interessar-se por elas; não
exibem grande resistência à mudança. Das grandes cor-
porações às microempresas, percebem que o futuro passa
pela digitalização.
Se tal é verdade dentro das fábricas ou dos armazéns,
não é ainda tão verdade quando o produto deles sai – no
comércio, na exportação. Daí que o mote desta edição da
revista BOW (Exportação 4.0) seja totalmente apropriado.
Por diversas razões, estamos na cauda da Europa em
termos de comércio eletrónico (e, neste, a vertente que
mais interessa é a internacional); e a Europa está bem atrás
Ana Teresa Lehmann
Professora Universitária
University Professor
Foto:DR
Digitalização tem de contaminar
toda a cadeia de valor
Digitalisation has to penetrate
the entire value chain
2. 11 Portugal Business on the Way
comparando, por exemplo, com os Estados Unidos. Em
Portugal, temos uma relação bipolar com as tecnologias
digitais: se lideramos o uso de internet para aceder às re-
des sociais (86% dos consumidores face à média europeia
de 57%), no âmbito do recurso ao digital para fazer com-
pras estamos entre os três últimos da UE. Estima-se que
17% das empresas tenham presença (em geral incipiente)
no comércio eletrónico. Não podemos desperdiçar a opor-
tunidade de digitalizar o comércio. Porque abre mercado e
reduz custos e riscos. Mas implica uma transição que nem
sempre é fácil.
Por outro lado, digitalização é um desafio que não se es-
gota no lado da oferta: se é evidente que, por via das tecno-
logias, da melhoria da capacidade produtiva, da eficiência,
é intrinsecamente ligada à oferta, também e cada vez mais
é um fenómeno definidor para a procura. Hoje em dia, o
consumidor também se digitalizou; gosta de fazer as suas
compras do conforto de casa, do seu smartphone ou tablet –
onde quer que esteja, e de forma imediata. Mais, o novo
consumidor não se limita a ser um comprador do que já
existe; quer participar, quer desenhar, quer personalizar,
quer co-criar. Daí que a interface empresa-consumidor (o
lado da procura) terá de ser também digital. Naturalmen-
te, este facto não retira importância, em alguns casos, ao
contacto humano e à existência de lojas físicas – mas reduz
a sua necessidade.
A digitalização da cadeia de valor, e em particular a
utilização de plataformas de comércio eletrónico em subs-
tituição de lojas físicas, mormente na exportação, tem
uma consequência muito clara, que as empresas podem e
devem explorar em proveito próprio: permitem poupar
muito em investimento, aliviando a estrutura, quer em
termos de custos fixos, quer variáveis. Permitem que uma
microempresa sem grandes recursos e sem capital para se
internacionalizar através de investimento direto estrangei-
ro (IDE) possa exportar através de um website ou de uma
plataforma online. Possa ser uma born global.
Naturalmente, a mudança do comércio físico para o co-
mércio eletrónico não é isenta de riscos e fricções; pode
ser difícil e arriscado. Levanta questões próprias que têm
de ser ultrapassadas.
Mas é uma necessidade, porque o consumidor contem-
porâneo cada vez menos irá às lojas físicas: estas tornar-
se-ão locais de teste, de estudo, continuarão a existir mas
muito menos. E até nestas lojas “analógicas” o digital en-
trará cada vez mais em força, no apoio à identificação de
peças, na personalização, na gestão dos stocks, nos arma-
zéns, nas montras digitais, nas simulações e nas experiên-
cias que terão de ser disponibilizadas ao consumidor nas
lojas do futuro. Se isto é verdade no comércio local, mais
pronunciada será a tendência na exportação, fazendo que
esta seja cada vez mais 4.0.
and Europe itself is still far behind the United States, for
instance. Portugal has somewhat of a bipolar relationship
with digital technology: we are leaders in the use of inter-
net to access social media (86% of consumers, compared
to a European average of 57%), but in terms of using it for
shopping we are among the bottom three countries of the
European Union. The estimate is that 17% of companies
have a (generally still budding) presence in e-commerce.
We cannot waste the opportunity to digitalise trade, since
it opens up the market and reduces costs and risks. But it
does imply a transition which is not always easy to accom-
plish.
On the other hand, digitalisation is a challenge which
goes beyond supply: obviously it is intrinsically connected
to supply, due to the technology, improvement in produc-
tivity and efficiency, but it is also an increasingly defining
feature for demand. Nowadays, the consumer has become
digitalised as well, he likes to shop from the comfort of
his home, using his smartphone or tablet – wherever he
is, whenever he wants. Furthermore, the consumer is not
content to buy what already exists, he wants to design,
customise and co-create. That is why the company-con-
sumer interface – on the side of demand – will have to be
digital as well. Naturally, this does not make human con-
tact and the existence of physical spaces less important, it
just makes them less necessary.
Digitalisation of the value chain, and especially the use
of e-commerce platforms instead of physical shops, espe-
cially for exporting, has a very clear consequence, which
companies can, and should, take advantage of: it allows
for savings in investment, relieving the structure, both in
terms of fixed and of variable costs. It also allows a mi-
cro-company with fewer resources, and unable to resort
to direct foreign investment (IDE) to internationalise and
to export, using an online platform or website, and to go
global.
Naturally, there are also risks and frictions involved in
switching from physical commerce to e-commerce, it can
be difficult and risky, and it raises questions that must be
dealt with.
But it is a necessity, because the trend is for the con-
sumer to visit shops less and less, and for these to become
testing and survey grounds, which will continue to exist,
but in smaller numbers. And even these “analogical” shops
will be increasingly digitalised, with technology used to
identify parts, customise, manage stock and warehouses,
digital displays, simulations and experiences which will be
made available to shoppers in future stores. And if this is
true for local trade, then it will be even more so for trends
in exports, making this an increasingly 4.0 reality.