SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
Jean Giono
IV
https://www.educaplay.com/learning-resources/7528915-o_homem_que_plantava_arvores.html
IV
A partir de 1920, nunca estive mais de um ano sem visitar Elzéard Bouffier. Nunca o vi esmorecer nem duvidar. E, no
entanto, só Deus sabe os obstáculos que ultrapassou! Não fiz contas às suas contrariedades. Mas pode-se facilmente
imaginar que, para alcançar tal proeza, tenha sido preciso vencer a adversidade; que, para alcançar o sucesso de uma tão
grande paixão, tenha sido preciso lutar contra o desespero. Tinha plantado, durante um ano, mais de dez áceres. Morreram
todos. No ano seguinte, abandonou os áceres para retomar as faias, que se deram ainda melhor que os carvalhos.
Para se ter uma ideia mais ou menos exata do seu caráter excecional é preciso não esquecer que se manifestava numa
solidão total; tão total que, para o final da vida, tinha perdido o hábito de falar. Ou poderia apenas não ver nisso necessidade?
Em 1933 recebeu a visita de um guarda-florestal muito peculiar. O funcionário intimou-o a não fazer lume fora da casa, por
poder pôr em perigo o crescimento daquela floresta natural. Era a primeira vez, disse-lhe esse homem ingénuo, que se via
uma floresta crescer sozinha.
Ácer (bordo) - é um género botânico pertencente à família Aceraceae. O seu porte pode ser arbóreo ou arbustivo. Existem aproximadamente 128 espécies, na
sua maioria nativas da Ásia, mas algumas também ocorrem na Europa, África Setentrional e América do Norte
Nessa altura, ele ia plantar faias a doze quilómetros de casa. Para evitar as idas e vindas – uma vez que já tinha setenta e
cinco anos – estava a pensar construir uma cabana de pedra junto ao local das plantações. Foi o que fez no ano seguinte.
Em 1935, uma verdadeira delegação administrativa veio observar a floresta natural. Havia uma alta personalidade das
Águas e Florestas, um deputado, técnicos. Pronunciaram-se muitas palavras inúteis.
Decidiu-se fazer qualquer coisa e, felizmente, não se fez nada, a não ser a única coisa útil: pôr a floresta sob a proteção do
Estado e proibir que os carvoeiros cortassem árvores.
Era impossível não se ficar subjugado pela beleza dessas jovens árvores em pleno vigor. Elas exerceram o seu poder de
sedução sobre o próprio deputado.
Tinha um amigo entre os chefes da guarda-florestal na delegação.
Expliquei-lhe o mistério.
Num dia da semana seguinte fomos os dois à procura de Elzéard Bouffier.
Encontrámo-lo em pleno trabalho, a vinte quilómetros do local que a delegação tinha visitado.
Este chefe da guarda-florestal não era meu amigo por acaso. Ele conhecia o valor das coisas. Soube manter silêncio.
Ofereci-lhes os ovos que tinha trazido, dividimos a merenda pelos três e ali passámos algumas horas em contemplação
silenciosa da paisagem.
A encosta por onde tínhamos vindo estava coberta de árvores com seis a sete metros de altura. Recordei o aspeto da região
em 1913, um deserto…
O trabalho pacífico e regular, o ar revigorante das montanhas, a frugalidade e, sobretudo, a serenidade da sua alma tinham
dado àquele ancião uma saúde quase solene. Era um atleta de Deus.
Perguntei-me quantos hectares ele iria ainda cobrir de árvores.
Antes de nos irmos embora, o meu amigo fez apenas uma breve sugestão sobre certas espécies às quais o terreno parecia
convir. Mas não insistiu. "Pela simples razão” - disse-me depois – “que esse homem sabe mais do que eu". Ao fim de uma
hora de caminhada, já depois de deixar amadurecer em si mesmo a questão, acrescentou: "Ele sabe muito mais do que todos
nós. Encontrou uma bela maneira de ser feliz!"
Foi graças ao meu amigo que, não apenas a floresta, mas também a felicidade daquele homem se viram protegidas. Fez
nomear três guardas-florestais para fazerem a proteção da floresta e aterrorizou-os de tal forma que se mantiveram
insensíveis a qualquer suborno que os lenhadores lhes pudessem propor.
A obra não correu risco grave até à guerra de 1939. Os automóveis andavam a gasogénio e a madeira nunca era demais.
Ainda começaram a cortar os carvalhos de 191O, mas as zonas onde estavam ficavam tão longe das estradas que o
empreendimento se tornou financeiramente inviável e foi abandonado.
O pastor não viu nada disto. Estava a trinta quilómetros dali, prosseguindo tranquilamente a sua tarefa, ignorando a
guerra de 1939 como antes tinha ignorado a guerra de 1914.
Automóveis a gasogénio: possuíam um
equipamento que produzia gás
combustível para alimentar motores de
combustão interna. Convertia matérias-
primas sólidas e líquidas em gás.
V
https://www.educaplay.com/learning-resources/7529688-sabes_o_que_e.html
Vi Elzéard Bouffier pela última vez em Junho de 1945. Tinha então oitenta e sete anos.
Tinha retomado o caminho daquelas terras, mas desta vez, apesar das más condições em que a guerra
tinha deixado o país, havia uma camioneta que fazia o transporte de passageiros entre o vale de Durance
e a montanha.
Atribuí àquele transporte relativamente rápido o facto de não reconhecer os lugares das minhas últimas
caminhadas. Pareceu-me também que o itinerário me fazia passar por sítios novos.
Precisei de ver o nome de uma aldeia para concluir que estava mesmo naquela região outrora desolada e em
ruínas.
A camioneta deixou-me em Vergons. Em 1913,
esse lugarejo com dez ou doze casas tinha três
habitantes. Eram autênticos selvagens, detestavam-
se, viviam da caça com armadilhas, mais ou menos no
estado físico e moral dos homens da pré-história. As
urtigas devoravam, a toda a sua volta, as casas
abandonadas. A sua condição era sem esperança. A
única coisa que lhes restava era esperar a morte: uma
situação que não predispõe à virtude.
Vergons por volta de 1910 - a montanha é praticamente sem floresta
Mas agora tudo estava mudado. Até o próprio ar. Em vez das
rajadas de vento secas e violentas que sopravam no passado,
acolheu-me uma brisa suave carregada de aromas. Um som
semelhante ao da água a correr vinha do alto: era o vento da
floresta.
Finalmente, para meu espanto, ouvi o barulho de água a cair para
uma bacia. Vi que tinham feito uma fonte e, o que mais me tocou,
perto dela tinham plantado uma tília, aparentando ter uns quatro
anos, mas já forte, símbolo incontestável de um renascimento.
Além disso, Vergons mostrava sinais de um trabalho para o qual a
esperança é necessária.
A esperança voltara, portanto.
Vergons por volta de 2010
Acabaram com as ruínas, demoliram os muros estragados e reconstruíram cinco casas. O lugar contava agora
vinte e oito habitantes incluindo quatro jovens casais. As casas novas, rebocadas de fresco, tinham em volta jardins
onde cresciam, misturados, mas ordenados, os legumes e as flores, as couves e as roseiras, os alhos-porros e as
bocas-de-leão, o aipo e as anémonas. Era agora um lugar onde apetecia viver.
A partir dali fiz o meu caminho a pé. A guerra de que mal acabávamos de sair não permitira o desenvolvimento
pleno da vida, mas Lázaro já tinha saído do túmulo.
Nas encostas mais baixas da montanha, podia observar pequenos campos de cevada e centeio em crescimento; no
fundo dos vales estreitos, alguns prados floresciam.
Bastaram os oito anos que nos separam dessa época para que toda a região florescesse em saúde e bem-estar.
No lugar das ruínas que eu vira em 1913 elevavam-se agora quintas bem cuidadas, sinal de uma vida feliz e confortável. As
velhas nascentes alimentadas pela chuva e pela neve retidas pela floresta, voltaram a correr. Canalizaram-se as suas águas.
Ao lado de cada quinta, em bosques de áceres, as pias das fontes transbordam sobre tapetes de menta fresca.
As aldeias foram reconstruídas a pouco e pouco. Pessoas vindas das planícies, onde a terra é mais cara, fixaram-se na
região, trazendo juventude, movimento e espírito de aventura. Encontrámos pelos caminhos homens e mulheres de ar
saudável, rapazes e raparigas que sabem rir e que voltaram a tomar o gosto pelas festas tradicionais do campo. Se contarmos
com a antiga população, irreconhecível desde que vive sem dificuldades, e com os recém-chegados, mais de dez mil pessoas
devem a sua felicidade a Elzéard Bouffier.
Quando penso que um único homem, reduzido aos seus simples recursos físicos e morais, foi suficiente para fazer
surgir do deserto esta terra de Canaã, acho que, apesar de tudo, a condição humana é admirável. Mas quando faço
contas a tudo aquilo que foi necessário de constância, de grandeza de alma, de persistência, de generosidade, para
alcançar este resultado, sou tomado de um imenso respeito por este velho homem do campo sem cultura que soube
levar a cabo esta obra digna de Deus.
Elzéard Bouffier morreu tranquilamente em 1947, no asilo de Banon.
Floresta: sinónimo de água e vida?

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Virginia woolf, a viúva e o papagaio
Virginia woolf, a viúva e o papagaioVirginia woolf, a viúva e o papagaio
Virginia woolf, a viúva e o papagaioCarlaLaurencio
 
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)Alice Lirio
 
Razão e Sensibilidade e os Monstros Marinhos
Razão e Sensibilidade e os Monstros MarinhosRazão e Sensibilidade e os Monstros Marinhos
Razão e Sensibilidade e os Monstros MarinhosAdriana Sales Zardini
 
C:\Fakepath\Lendas
C:\Fakepath\LendasC:\Fakepath\Lendas
C:\Fakepath\LendasConsultua
 
Andre luiz chico xavier - libertação
Andre luiz   chico xavier - libertaçãoAndre luiz   chico xavier - libertação
Andre luiz chico xavier - libertaçãohavatar
 
E-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azulE-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azulCarla Crespo
 
7 libertacao-1949
7 libertacao-19497 libertacao-1949
7 libertacao-1949paulasa pin
 
Lendas de-portugal
Lendas de-portugalLendas de-portugal
Lendas de-portugalJWM V.
 
Era uma vez uma praia atlântica
Era uma vez uma praia atlânticaEra uma vez uma praia atlântica
Era uma vez uma praia atlânticaFilipa Julião
 
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-revAngelica Moreira
 
Chico Xavier - Andre Luiz - Libertação
Chico Xavier - Andre Luiz - LibertaçãoChico Xavier - Andre Luiz - Libertação
Chico Xavier - Andre Luiz - Libertação. Sobrenome
 
Lendas das regiões autónomas de Portugal
Lendas das regiões autónomas de PortugalLendas das regiões autónomas de Portugal
Lendas das regiões autónomas de Portugalguest1b247a
 
Lendas de alguns distritos de Portugal
Lendas de alguns distritos de PortugalLendas de alguns distritos de Portugal
Lendas de alguns distritos de Portugalguest1b247a
 
A arca perdida da alianca tudor parfitt
A arca perdida da alianca   tudor parfittA arca perdida da alianca   tudor parfitt
A arca perdida da alianca tudor parfittpauloweimann
 
Lendas de Portugal Gentil Marques
Lendas de Portugal Gentil MarquesLendas de Portugal Gentil Marques
Lendas de Portugal Gentil MarquesFernanda Sousa
 
Resumo da obra
Resumo da obraResumo da obra
Resumo da obramanuela016
 

Mais procurados (19)

Virginia woolf, a viúva e o papagaio
Virginia woolf, a viúva e o papagaioVirginia woolf, a viúva e o papagaio
Virginia woolf, a viúva e o papagaio
 
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)
Historias infantis para evangelizacao espirita (autores diversos)
 
Razão e Sensibilidade e os Monstros Marinhos
Razão e Sensibilidade e os Monstros MarinhosRazão e Sensibilidade e os Monstros Marinhos
Razão e Sensibilidade e os Monstros Marinhos
 
A carne humana
A carne humanaA carne humana
A carne humana
 
C:\Fakepath\Lendas
C:\Fakepath\LendasC:\Fakepath\Lendas
C:\Fakepath\Lendas
 
Andre luiz chico xavier - libertação
Andre luiz   chico xavier - libertaçãoAndre luiz   chico xavier - libertação
Andre luiz chico xavier - libertação
 
Libertação andré luiz
Libertação   andré luizLibertação   andré luiz
Libertação andré luiz
 
E-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azulE-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azul
 
7 libertacao-1949
7 libertacao-19497 libertacao-1949
7 libertacao-1949
 
Lendas de-portugal
Lendas de-portugalLendas de-portugal
Lendas de-portugal
 
Era uma vez uma praia atlântica
Era uma vez uma praia atlânticaEra uma vez uma praia atlântica
Era uma vez uma praia atlântica
 
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev
50560569 clarice-lispector-como-nasceram-as-estrelas-pdf-rev
 
Chico Xavier - Andre Luiz - Libertação
Chico Xavier - Andre Luiz - LibertaçãoChico Xavier - Andre Luiz - Libertação
Chico Xavier - Andre Luiz - Libertação
 
Lendas das regiões autónomas de Portugal
Lendas das regiões autónomas de PortugalLendas das regiões autónomas de Portugal
Lendas das regiões autónomas de Portugal
 
Lendas de alguns distritos de Portugal
Lendas de alguns distritos de PortugalLendas de alguns distritos de Portugal
Lendas de alguns distritos de Portugal
 
A arca perdida da alianca tudor parfitt
A arca perdida da alianca   tudor parfittA arca perdida da alianca   tudor parfitt
A arca perdida da alianca tudor parfitt
 
Lendas de Portugal Gentil Marques
Lendas de Portugal Gentil MarquesLendas de Portugal Gentil Marques
Lendas de Portugal Gentil Marques
 
Book saga
Book sagaBook saga
Book saga
 
Resumo da obra
Resumo da obraResumo da obra
Resumo da obra
 

Semelhante a Ohomemqueplantavarvores iv e v caps

6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORESSandra Pratas
 
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORESPOEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORESSandra Pratas
 
A maior flor do mundo jose saramago
A maior flor do mundo  jose saramagoA maior flor do mundo  jose saramago
A maior flor do mundo jose saramagovanessauerj
 
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus Contrastes
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus ContrastesUm olhar sobre a história de São João do Caru e seus Contrastes
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus ContrastesAdilson P Motta Motta
 
Historia da provincia
Historia da provinciaHistoria da provincia
Historia da provinciapegelson
 
Histórias da avozinha
Histórias da avozinhaHistórias da avozinha
Histórias da avozinhaLuzia Ester
 
Carta do cacique seattle
Carta do cacique seattleCarta do cacique seattle
Carta do cacique seattleErcio Novaes
 
Caminhonete do senhor filomeno
Caminhonete do senhor filomenoCaminhonete do senhor filomeno
Caminhonete do senhor filomenoPitágoras
 
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinha
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinhaAlberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinha
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinhaOnésimo Remígio
 
Histórias da avozinha
Histórias da avozinhaHistórias da avozinha
Histórias da avozinhaMarisa Seara
 
Historia da Província de Campo Grande
Historia da Província de Campo GrandeHistoria da Província de Campo Grande
Historia da Província de Campo Grandepegelson
 
Ae plv5 teste_avancado3
Ae plv5 teste_avancado3Ae plv5 teste_avancado3
Ae plv5 teste_avancado3Ana Ferreira
 

Semelhante a Ohomemqueplantavarvores iv e v caps (20)

6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
6.º F_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
 
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORESPOEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
POEMAS 6.º A_O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES
 
Dean r. koontz intrusos
Dean r. koontz   intrusosDean r. koontz   intrusos
Dean r. koontz intrusos
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
A maior flor do mundo jose saramago
A maior flor do mundo  jose saramagoA maior flor do mundo  jose saramago
A maior flor do mundo jose saramago
 
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus Contrastes
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus ContrastesUm olhar sobre a história de São João do Caru e seus Contrastes
Um olhar sobre a história de São João do Caru e seus Contrastes
 
Historia da provincia
Historia da provinciaHistoria da provincia
Historia da provincia
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
Histórias da avózinha
Histórias da avózinhaHistórias da avózinha
Histórias da avózinha
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
Histórias da avozinha
Histórias da avozinhaHistórias da avozinha
Histórias da avozinha
 
Carta do cacique seattle
Carta do cacique seattleCarta do cacique seattle
Carta do cacique seattle
 
Caminhonete do senhor filomeno
Caminhonete do senhor filomenoCaminhonete do senhor filomeno
Caminhonete do senhor filomeno
 
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinha
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinhaAlberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinha
Alberto figueiredo-pimentel-historias-da-avozinha
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
Histórias da avozinha
Histórias da avozinhaHistórias da avozinha
Histórias da avozinha
 
Historia da Província de Campo Grande
Historia da Província de Campo GrandeHistoria da Província de Campo Grande
Historia da Província de Campo Grande
 
vadiao
vadiaovadiao
vadiao
 
Ae plv5 teste_avancado3
Ae plv5 teste_avancado3Ae plv5 teste_avancado3
Ae plv5 teste_avancado3
 

Mais de Maria Manuela Torres Paredes

Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdf
Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdfConcurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdf
Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdfMaria Manuela Torres Paredes
 
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do texto
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do textoAvaliação da fluência da leitura e compreensão do texto
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do textoMaria Manuela Torres Paredes
 

Mais de Maria Manuela Torres Paredes (20)

Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdf
Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdfConcurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdf
Concurso-Nacional-de-Leitura-Regulamento-interno-2022-2023.pdf
 
EM BUSCA DE PAZ.docx
EM BUSCA DE PAZ.docxEM BUSCA DE PAZ.docx
EM BUSCA DE PAZ.docx
 
EM BUSCA DE PAZ.docx
EM BUSCA DE PAZ.docxEM BUSCA DE PAZ.docx
EM BUSCA DE PAZ.docx
 
Food Campaign for Ukraine.2.ppsx
Food Campaign for Ukraine.2.ppsxFood Campaign for Ukraine.2.ppsx
Food Campaign for Ukraine.2.ppsx
 
ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptxALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
 
Au revoir les enfants.pptx
Au revoir les enfants.pptxAu revoir les enfants.pptx
Au revoir les enfants.pptx
 
2. ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
2. ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx2. ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
2. ALISTADESCHINDLER_PPTFINAL.pptx
 
1. Au revoir les enfants.pptx
1. Au revoir les enfants.pptx1. Au revoir les enfants.pptx
1. Au revoir les enfants.pptx
 
Literacia dos média fake news
Literacia dos média   fake newsLiteracia dos média   fake news
Literacia dos média fake news
 
Página de um diário melody
Página de um diário   melodyPágina de um diário   melody
Página de um diário melody
 
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do texto
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do textoAvaliação da fluência da leitura e compreensão do texto
Avaliação da fluência da leitura e compreensão do texto
 
Ficha de trabalho e conto integral
Ficha de trabalho e conto integralFicha de trabalho e conto integral
Ficha de trabalho e conto integral
 
Ficha de trabalho - As emoções
Ficha de trabalho - As emoçõesFicha de trabalho - As emoções
Ficha de trabalho - As emoções
 
A menina do chapelinho vermelho
 A menina do chapelinho vermelho A menina do chapelinho vermelho
A menina do chapelinho vermelho
 
Os sapatinhos encantados
Os sapatinhos encantadosOs sapatinhos encantados
Os sapatinhos encantados
 
Jogo de memória
Jogo de memóriaJogo de memória
Jogo de memória
 
Avaliação fluência e compreensão da leitura
Avaliação fluência e compreensão da leituraAvaliação fluência e compreensão da leitura
Avaliação fluência e compreensão da leitura
 
O rapaz do caixote de madeira
O rapaz do caixote de madeiraO rapaz do caixote de madeira
O rapaz do caixote de madeira
 
Ficha de trabalho - O rapaz do caixote de madeira
Ficha de trabalho  - O rapaz do caixote de madeiraFicha de trabalho  - O rapaz do caixote de madeira
Ficha de trabalho - O rapaz do caixote de madeira
 
Oscar schindler vida+expressão escrita
Oscar schindler   vida+expressão escritaOscar schindler   vida+expressão escrita
Oscar schindler vida+expressão escrita
 

Último

Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfJonathasAureliano1
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 

Último (20)

Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 

Ohomemqueplantavarvores iv e v caps

  • 1. O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES Jean Giono
  • 3. IV A partir de 1920, nunca estive mais de um ano sem visitar Elzéard Bouffier. Nunca o vi esmorecer nem duvidar. E, no entanto, só Deus sabe os obstáculos que ultrapassou! Não fiz contas às suas contrariedades. Mas pode-se facilmente imaginar que, para alcançar tal proeza, tenha sido preciso vencer a adversidade; que, para alcançar o sucesso de uma tão grande paixão, tenha sido preciso lutar contra o desespero. Tinha plantado, durante um ano, mais de dez áceres. Morreram todos. No ano seguinte, abandonou os áceres para retomar as faias, que se deram ainda melhor que os carvalhos. Para se ter uma ideia mais ou menos exata do seu caráter excecional é preciso não esquecer que se manifestava numa solidão total; tão total que, para o final da vida, tinha perdido o hábito de falar. Ou poderia apenas não ver nisso necessidade? Em 1933 recebeu a visita de um guarda-florestal muito peculiar. O funcionário intimou-o a não fazer lume fora da casa, por poder pôr em perigo o crescimento daquela floresta natural. Era a primeira vez, disse-lhe esse homem ingénuo, que se via uma floresta crescer sozinha. Ácer (bordo) - é um género botânico pertencente à família Aceraceae. O seu porte pode ser arbóreo ou arbustivo. Existem aproximadamente 128 espécies, na sua maioria nativas da Ásia, mas algumas também ocorrem na Europa, África Setentrional e América do Norte
  • 4. Nessa altura, ele ia plantar faias a doze quilómetros de casa. Para evitar as idas e vindas – uma vez que já tinha setenta e cinco anos – estava a pensar construir uma cabana de pedra junto ao local das plantações. Foi o que fez no ano seguinte. Em 1935, uma verdadeira delegação administrativa veio observar a floresta natural. Havia uma alta personalidade das Águas e Florestas, um deputado, técnicos. Pronunciaram-se muitas palavras inúteis. Decidiu-se fazer qualquer coisa e, felizmente, não se fez nada, a não ser a única coisa útil: pôr a floresta sob a proteção do Estado e proibir que os carvoeiros cortassem árvores. Era impossível não se ficar subjugado pela beleza dessas jovens árvores em pleno vigor. Elas exerceram o seu poder de sedução sobre o próprio deputado. Tinha um amigo entre os chefes da guarda-florestal na delegação. Expliquei-lhe o mistério.
  • 5. Num dia da semana seguinte fomos os dois à procura de Elzéard Bouffier. Encontrámo-lo em pleno trabalho, a vinte quilómetros do local que a delegação tinha visitado. Este chefe da guarda-florestal não era meu amigo por acaso. Ele conhecia o valor das coisas. Soube manter silêncio. Ofereci-lhes os ovos que tinha trazido, dividimos a merenda pelos três e ali passámos algumas horas em contemplação silenciosa da paisagem. A encosta por onde tínhamos vindo estava coberta de árvores com seis a sete metros de altura. Recordei o aspeto da região em 1913, um deserto… O trabalho pacífico e regular, o ar revigorante das montanhas, a frugalidade e, sobretudo, a serenidade da sua alma tinham dado àquele ancião uma saúde quase solene. Era um atleta de Deus.
  • 6. Perguntei-me quantos hectares ele iria ainda cobrir de árvores. Antes de nos irmos embora, o meu amigo fez apenas uma breve sugestão sobre certas espécies às quais o terreno parecia convir. Mas não insistiu. "Pela simples razão” - disse-me depois – “que esse homem sabe mais do que eu". Ao fim de uma hora de caminhada, já depois de deixar amadurecer em si mesmo a questão, acrescentou: "Ele sabe muito mais do que todos nós. Encontrou uma bela maneira de ser feliz!" Foi graças ao meu amigo que, não apenas a floresta, mas também a felicidade daquele homem se viram protegidas. Fez nomear três guardas-florestais para fazerem a proteção da floresta e aterrorizou-os de tal forma que se mantiveram insensíveis a qualquer suborno que os lenhadores lhes pudessem propor.
  • 7. A obra não correu risco grave até à guerra de 1939. Os automóveis andavam a gasogénio e a madeira nunca era demais. Ainda começaram a cortar os carvalhos de 191O, mas as zonas onde estavam ficavam tão longe das estradas que o empreendimento se tornou financeiramente inviável e foi abandonado. O pastor não viu nada disto. Estava a trinta quilómetros dali, prosseguindo tranquilamente a sua tarefa, ignorando a guerra de 1939 como antes tinha ignorado a guerra de 1914. Automóveis a gasogénio: possuíam um equipamento que produzia gás combustível para alimentar motores de combustão interna. Convertia matérias- primas sólidas e líquidas em gás.
  • 8. V https://www.educaplay.com/learning-resources/7529688-sabes_o_que_e.html Vi Elzéard Bouffier pela última vez em Junho de 1945. Tinha então oitenta e sete anos. Tinha retomado o caminho daquelas terras, mas desta vez, apesar das más condições em que a guerra tinha deixado o país, havia uma camioneta que fazia o transporte de passageiros entre o vale de Durance e a montanha. Atribuí àquele transporte relativamente rápido o facto de não reconhecer os lugares das minhas últimas caminhadas. Pareceu-me também que o itinerário me fazia passar por sítios novos. Precisei de ver o nome de uma aldeia para concluir que estava mesmo naquela região outrora desolada e em ruínas.
  • 9. A camioneta deixou-me em Vergons. Em 1913, esse lugarejo com dez ou doze casas tinha três habitantes. Eram autênticos selvagens, detestavam- se, viviam da caça com armadilhas, mais ou menos no estado físico e moral dos homens da pré-história. As urtigas devoravam, a toda a sua volta, as casas abandonadas. A sua condição era sem esperança. A única coisa que lhes restava era esperar a morte: uma situação que não predispõe à virtude. Vergons por volta de 1910 - a montanha é praticamente sem floresta
  • 10. Mas agora tudo estava mudado. Até o próprio ar. Em vez das rajadas de vento secas e violentas que sopravam no passado, acolheu-me uma brisa suave carregada de aromas. Um som semelhante ao da água a correr vinha do alto: era o vento da floresta. Finalmente, para meu espanto, ouvi o barulho de água a cair para uma bacia. Vi que tinham feito uma fonte e, o que mais me tocou, perto dela tinham plantado uma tília, aparentando ter uns quatro anos, mas já forte, símbolo incontestável de um renascimento. Além disso, Vergons mostrava sinais de um trabalho para o qual a esperança é necessária. A esperança voltara, portanto. Vergons por volta de 2010
  • 11. Acabaram com as ruínas, demoliram os muros estragados e reconstruíram cinco casas. O lugar contava agora vinte e oito habitantes incluindo quatro jovens casais. As casas novas, rebocadas de fresco, tinham em volta jardins onde cresciam, misturados, mas ordenados, os legumes e as flores, as couves e as roseiras, os alhos-porros e as bocas-de-leão, o aipo e as anémonas. Era agora um lugar onde apetecia viver. A partir dali fiz o meu caminho a pé. A guerra de que mal acabávamos de sair não permitira o desenvolvimento pleno da vida, mas Lázaro já tinha saído do túmulo. Nas encostas mais baixas da montanha, podia observar pequenos campos de cevada e centeio em crescimento; no fundo dos vales estreitos, alguns prados floresciam. Bastaram os oito anos que nos separam dessa época para que toda a região florescesse em saúde e bem-estar.
  • 12. No lugar das ruínas que eu vira em 1913 elevavam-se agora quintas bem cuidadas, sinal de uma vida feliz e confortável. As velhas nascentes alimentadas pela chuva e pela neve retidas pela floresta, voltaram a correr. Canalizaram-se as suas águas. Ao lado de cada quinta, em bosques de áceres, as pias das fontes transbordam sobre tapetes de menta fresca. As aldeias foram reconstruídas a pouco e pouco. Pessoas vindas das planícies, onde a terra é mais cara, fixaram-se na região, trazendo juventude, movimento e espírito de aventura. Encontrámos pelos caminhos homens e mulheres de ar saudável, rapazes e raparigas que sabem rir e que voltaram a tomar o gosto pelas festas tradicionais do campo. Se contarmos com a antiga população, irreconhecível desde que vive sem dificuldades, e com os recém-chegados, mais de dez mil pessoas devem a sua felicidade a Elzéard Bouffier.
  • 13. Quando penso que um único homem, reduzido aos seus simples recursos físicos e morais, foi suficiente para fazer surgir do deserto esta terra de Canaã, acho que, apesar de tudo, a condição humana é admirável. Mas quando faço contas a tudo aquilo que foi necessário de constância, de grandeza de alma, de persistência, de generosidade, para alcançar este resultado, sou tomado de um imenso respeito por este velho homem do campo sem cultura que soube levar a cabo esta obra digna de Deus. Elzéard Bouffier morreu tranquilamente em 1947, no asilo de Banon. Floresta: sinónimo de água e vida?