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O rapaz do caixote de madeira
II GUERRA MUNDIAL
A VIDA NO CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO
Entrada do gueto de Cracóvia
(…) Então, em março de 1943, os nazis
liquidaram todo o gueto. Os que
restaram de nós seriam enviados para
Plaszów. Pelo menos, era o que se
dizia. (…)
Quando saí do gueto, com os seus
muros coroados de lápides, e comecei
a caminhar pelas ruas de Cracóvia,
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
fiquei atónito ao verificar que a vida parecia igual ao que era dantes. Era como se eu estivesse num
túnel do tempo... ou como se o gueto ficasse noutro planeta. Pasmei para as pessoas limpas e bem
vestidas, atarefadas de um lado para o outro. Pareciam tão normais, tão felizes... não saberiam o que
nós tínhamos sofrido, a uns escassos quarteirões de distância? Como podiam não saber? Como
podiam não ter feito nada para nos ajudar? Um elétrico parou e os passageiros embarcaram, alheios à
nossa presença. não manifestaram absolutamente nenhum interesse em quem éramos, para onde
íamos ou porquê. Que a nossa miséria, o nosso confinamento e a nossa dor fossem irrelevantes para
as suas vidas era simplesmente incompreensível.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Quando nos aproximámos do campo de Plaszów, pouco depois, continuava satisfeitíssimo por ter
conseguido sair do gueto. A única coisa que me interessava era estar novamente junto com a minha
família. Quando entrei no caos de Plaszów, vi diante de mim um mundo muito pior do que jamais
poderia ter imaginado, muito pior do que jamais julgara possível. Transpor aqueles portões era como
chegar ao mais profundo círculo do inferno.
A VIDA NO CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO
Plaszów era um mundo alienígena.
Fora construído sobre dois cemitérios
judeus, que os nazis tinham
profanado e destruído. Era estéril,
sombrio, caótico. Pedras, terra,
arame farpado, cães ferozes, guardas
ameaçadores e hectare após hectare
de casernas monótonas, que se
prolongavam até onde a vista
alcançava.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Centenas de prisioneiros em roupas muito coçadas apressavam-se de tarefa em tarefa, sob a
ameaça das armas empunhadas por guardas alemães e ucranianos. No momento em que entrei
nos portões de Plaszów, convenci-me de que não sairia de lá vivo.
(…)
Um dia, ao transportar uma pedra grande, escorreguei numa lápide partida e fiz um golpe
profundo na perna. Tive de ir à enfermaria do campo, para me fazerem um penso. Soube mais
tarde que o comandante do campo de Plaszów, o SS Hauptsturmführer Amon Goeth, havia entrado
na enfermaria pouco depois de eu ter saído e baleara todos os doentes sem exceção, por
nenhuma razão para além do facto de que lhe tinha apetecido.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Se eu lá tivesse permanecido apenas alguns minutos a mais, teria sido executado com os outros.
(…)
No início do inverno de 1943, a ira de Goeth intensificou-se. Eu tinha recebido ordens para limpar
neve com um grupo de homens. Sem roupas de inverno, estava tão enregelado que mal conseguia
segurar na pá. De repente, o Hauptsturmführer Goeth apareceu e, por capricho, exigiu que os guardas
aplicassem vinte e cinco chicotadas a cada um de nós com os seus brutais chicotes de couro. Nenhum
de nós conseguia perceber o que provocara aquilo, mas isso não tinha importância. Como
comandante, Goeth podia fazer o que quisesse, com ou sem razão. (…)
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Fui receber o meu castigo, juntamente com três homens que tinham o dobro da minha idade e
estatura. Os chicotes possuíam pequenos rolamentos na extremidade, intensificando a dor e os danos
que causavam. Deram-nos ordem para contarmos as chicotadas à medida que as sofríamos. Se
fossemos dominados pela dor e falhássemos um número, os guardas recomeçavam do princípio.
(…)
Na noite em que chegámos de Cracóvia, arrastámo-nos para fora dos vagões de gado e formámos num
campo vago. Mandaram-nos despir e deixar as nossas roupas onde estávamos. Fizeram-nos marchar
para os duches. Por essa altura, tínhamos ouvido histórias horripilantes sobre duches que expeliam gás
venenoso, mas, neste caso, apenas escorreu água gelada.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Após o duche, as nossas cabeças foram rapadas e nós fomos enviados de novo para o campo, onde
nos perfilamos nus na noite fria de outubro. Esperámos que algo acontecesse, mas nada se passou. À
medida que as horas se arrastavam, íamos ficando cada vez mais enregelados.
(…)
Nenhum de nós fazia a mais pequena ideia do que a nossa presença em Gross-Rosen significava.
Porque estávamos ali? (…)
À medida que o nosso tempo em Gross-Rosen se prolongava, cada vez nos assemelhávamos mais a
mortos-vivos. Misteriosamente, uma tarde, fomos conduzidos para outro vagão de gado. De manhã,
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Sudetas. VER EXERCÍCIO

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  • 1. O rapaz do caixote de madeira II GUERRA MUNDIAL
  • 2. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Entrada do gueto de Cracóvia (…) Então, em março de 1943, os nazis liquidaram todo o gueto. Os que restaram de nós seriam enviados para Plaszów. Pelo menos, era o que se dizia. (…) Quando saí do gueto, com os seus muros coroados de lápides, e comecei a caminhar pelas ruas de Cracóvia,
  • 3. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO fiquei atónito ao verificar que a vida parecia igual ao que era dantes. Era como se eu estivesse num túnel do tempo... ou como se o gueto ficasse noutro planeta. Pasmei para as pessoas limpas e bem vestidas, atarefadas de um lado para o outro. Pareciam tão normais, tão felizes... não saberiam o que nós tínhamos sofrido, a uns escassos quarteirões de distância? Como podiam não saber? Como podiam não ter feito nada para nos ajudar? Um elétrico parou e os passageiros embarcaram, alheios à nossa presença. não manifestaram absolutamente nenhum interesse em quem éramos, para onde íamos ou porquê. Que a nossa miséria, o nosso confinamento e a nossa dor fossem irrelevantes para as suas vidas era simplesmente incompreensível.
  • 4. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Quando nos aproximámos do campo de Plaszów, pouco depois, continuava satisfeitíssimo por ter conseguido sair do gueto. A única coisa que me interessava era estar novamente junto com a minha família. Quando entrei no caos de Plaszów, vi diante de mim um mundo muito pior do que jamais poderia ter imaginado, muito pior do que jamais julgara possível. Transpor aqueles portões era como chegar ao mais profundo círculo do inferno.
  • 5. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Plaszów era um mundo alienígena. Fora construído sobre dois cemitérios judeus, que os nazis tinham profanado e destruído. Era estéril, sombrio, caótico. Pedras, terra, arame farpado, cães ferozes, guardas ameaçadores e hectare após hectare de casernas monótonas, que se prolongavam até onde a vista alcançava.
  • 6. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Centenas de prisioneiros em roupas muito coçadas apressavam-se de tarefa em tarefa, sob a ameaça das armas empunhadas por guardas alemães e ucranianos. No momento em que entrei nos portões de Plaszów, convenci-me de que não sairia de lá vivo. (…) Um dia, ao transportar uma pedra grande, escorreguei numa lápide partida e fiz um golpe profundo na perna. Tive de ir à enfermaria do campo, para me fazerem um penso. Soube mais tarde que o comandante do campo de Plaszów, o SS Hauptsturmführer Amon Goeth, havia entrado na enfermaria pouco depois de eu ter saído e baleara todos os doentes sem exceção, por nenhuma razão para além do facto de que lhe tinha apetecido.
  • 7. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Se eu lá tivesse permanecido apenas alguns minutos a mais, teria sido executado com os outros. (…) No início do inverno de 1943, a ira de Goeth intensificou-se. Eu tinha recebido ordens para limpar neve com um grupo de homens. Sem roupas de inverno, estava tão enregelado que mal conseguia segurar na pá. De repente, o Hauptsturmführer Goeth apareceu e, por capricho, exigiu que os guardas aplicassem vinte e cinco chicotadas a cada um de nós com os seus brutais chicotes de couro. Nenhum de nós conseguia perceber o que provocara aquilo, mas isso não tinha importância. Como comandante, Goeth podia fazer o que quisesse, com ou sem razão. (…)
  • 8. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Fui receber o meu castigo, juntamente com três homens que tinham o dobro da minha idade e estatura. Os chicotes possuíam pequenos rolamentos na extremidade, intensificando a dor e os danos que causavam. Deram-nos ordem para contarmos as chicotadas à medida que as sofríamos. Se fossemos dominados pela dor e falhássemos um número, os guardas recomeçavam do princípio. (…) Na noite em que chegámos de Cracóvia, arrastámo-nos para fora dos vagões de gado e formámos num campo vago. Mandaram-nos despir e deixar as nossas roupas onde estávamos. Fizeram-nos marchar para os duches. Por essa altura, tínhamos ouvido histórias horripilantes sobre duches que expeliam gás venenoso, mas, neste caso, apenas escorreu água gelada.
  • 9. A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO Após o duche, as nossas cabeças foram rapadas e nós fomos enviados de novo para o campo, onde nos perfilamos nus na noite fria de outubro. Esperámos que algo acontecesse, mas nada se passou. À medida que as horas se arrastavam, íamos ficando cada vez mais enregelados. (…) Nenhum de nós fazia a mais pequena ideia do que a nossa presença em Gross-Rosen significava. Porque estávamos ali? (…) À medida que o nosso tempo em Gross-Rosen se prolongava, cada vez nos assemelhávamos mais a mortos-vivos. Misteriosamente, uma tarde, fomos conduzidos para outro vagão de gado. De manhã, quando as portas se abriram, vimos que tínhamos finalmente chegado a Brunnlitz, na região dos Sudetas. VER EXERCÍCIO