SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Leandro Zago
Básica 4 – Referências para a Ocupação do Espaço
Sem Bola
1. Estruturando o Espaço de Jogo
Considerada por Júlio Garganta (1997) uma competência essencial e inerente aos
Jogos Desportivos Coletivos (JDC), a estruturação do espaço de jogo emerge como
uma componente fundamental no processo de construção de uma equipe desde o
nível individual, manifestada na compreensão e ocupação de espaços mais
interessantes por parte do atleta a cada situação problema que o jogo apresenta e
na gestão coletiva do espaço de jogo, onde a equipe estrutura-se em campo com o
intuito de obter vantagem espacial e numérica pelo maior tempo possível nas mais
variadas zonas do campo.
A ocupação do espaço não acontece de forma aleatória, ela tem (ou pelo menos
deve ter) um significado para o jogador e para a equipe que se auto-organiza o
tempo todo em função dos objetivos do jogo. A Lógica do Jogo de Futebol (Leitão,
2004) é comum a todos os jogos e imutável, os caminhos para cumpri-la é que
podem exigir meios diferentes e, o que apresenta uma enorme variação, é a forma
como cada equipe se organiza em nível estratégico para vencer partidas e quais as
referências que dão sustentação a essa organização estratégica.
Portanto, a criação de referências que norteará as decisões dos jogadores para que
reajam em função de algo que seja comum a todos, possibilitando o jogo em
equipe de forma concreta. Essa criação (seria construção?) de referências se dá a
partir das vivências dirigidas que o treinador proporciona à equipe através dos
treinamentos e de um encadeamento lógico entre os conteúdos que farão parte do
dia-a-dia da equipe.
Leandro Zago
2. O Jogo Coletivo através das Referências
Segundo Amieiro (2005), a organização defensiva só conseguirá ser
verdadeiramente coletiva se as ações tático - técnicas realizadas por cada um dos
onze jogadores forem perspectivadas em função de uma idéia comum, respeitando
um referencial coletivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam
e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o “todo” (a equipe que
se defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem
(comportamentos tático-técnicos de cada atleta).
Quanto o autor fala sobre “idéia comum” ou “referencial coletivo” é preciso
entender que não está se referindo a automatismos fechados, ou algo já
estabelecido de forma estanque, mas a princípios que norteiam a ação coletiva da
equipe e por conseqüência as ações individuais dos atletas nela inseridos. Pode-se
constatar isso no trecho seguinte da sua frase em que se refere às interações entre
jogadores (quando diz “relacionam”) e ao processo de feedback (quando diz
“regulam”) que ocorre permanentemente durante as ações coletivas e individuais
dos jogadores.
Portanto faz-se necessário construir e definir princípios que balizem os
comportamentos coletivos (princípios de jogo), visto que o jogo pelo seu caráter
imprevisível não permite ações planejadas em sua plenitude, pois vai sendo
construído conforme as respostas que seus jogadores vão oferecendo pontualmente
naquelas situações. Respostas essas que surgem da interação dos mesmos com sua
equipe, com o adversário, com a posição da bola e de um número muito alto de
outras variáveis que estão nele inseridos.
Leandro Zago
3. O Processo de Construção das Referências
A simples informação não altera comportamentos e estes demoram muito tempo
para serem alterados (FRADE, 2004). Cabe ao treinador direcionar esses
comportamentos para o modelo de jogo que pretende adotar, através de exercícios
com complexidade crescente, sempre atuando na zona proximal de conhecimento
do atleta com um objetivo final muito definido. O quão elaborado será o modelo de
jogo depende da qualidade com que esse processo será aplicado e do conhecimento
que o treinador tem sobre o jogo.
A opção por este ou aquele conjunto de referências dependerá de fatores como o
Modelo de Jogo idealizado pelo treinador, o nível em que se encontra o
conhecimento da equipe sobre o jogo, a integração entre estes dois fatores
anteriormente citados, entre outros.
O objetivo é que a equipe apresente respostas coletivas para a maior quantidade
possível de situações que estejam presentes nos quatro momentos do jogo: com a
bola, sem a bola, transição defesa - ataque e transição ataque - defesa. Nessa
proposta uma equipe pode ter a bola, mas, por estar com vantagem no placar, não
quer dar profundidade ao jogo e quer defender-se com a posse. Suas
movimentações são bem diferentes de quando ela precisa marcar gol. Os princípios
de jogo estão ligados aos hábitos da equipe, que são resultado da interação dos
hábitos individuais dos jogadores, portanto aí deve estar focada a intervenção do
processo de treino. Para Frade (2002), o hábito é um saber-fazer que se adquire na
ação, portando vivenciar os devidos princípios de uma forma hierarquizada e
sistematizada é fundamental para que o objetivo final, ou seja, a implantação do
modelo de jogo idealizado pelo treinador baseado no contexto em que se encontra,
materialize-se em campo de forma condizente com a proposta inicial.
Leandro Zago
4. Algumas Referências do Espaço
Figura 1 – Plataforma Tática 1-4-4-2 Zonal (vermelha)
Pode-se observar (figura 1) que a equipe que está sem bola (vermelha) respeita
algumas referências para a ocupação do espaço quando sem bola. Algumas delas
são:
- a posição da bola: independente da posição ocupada pela equipe azul quando em
posse da bola, a equipe vermelha irá se comportar em função de seus próprios
jogadores;
- lado fraco: a faixa contrária à bola fica desocupada momentaneamente para que
mais jogadores ocupem uma área entre a bola e o gol (flutuação e compactação
como princípios estruturais sendo realizadas nesse caso);
- quadrantes: a ocupação dos quadrantes se dá de forma equilibrada, porém
prioritária (espaços de maior valor) permitindo criar superioridade numérica se
necessário;
- linhas de marcação: a orientação para a estruturação da marcação por zona é a
formação de linhas que permitem maior equilíbrio horizontal.
Leandro Zago
5. Integrando as Referências
É importante frisar que as referências para a estruturação do espaço sem bola
devem estar relacionadas com as referências para a estruturação do espaço com
bola e com todas as outras referências (operacionais, por exemplo) de forma que
interajam potencializando o efeito uma da outra e nunca atuando de maneira
concorrente. Outro detalhe que vale a pena ressaltar é que essas referências
citadas acima estão baseadas numa marcação por zona e, caso seja feita a opção
por uma marcação individual ou mista deve-se buscar outras referências. Marcar
em função da posição da bola (zona) para alguns treinadores é considerado
desvantajoso pela grande velocidade que a mesma pode atingir, porém, ao optar
pela marcação individual aumenta-se o número de referências (onze), sendo que
essas (os jogadores) buscam a desestruturação da equipe que os marca.
Caso algum(ns) jogador(es) não estejam com os princípios daquele momento
assimilados, pode(m) apresentar respostas incongruentes com os objetivos
momentâneos da equipe, realizando movimentações para regiões em que a pressão
do adversário é mais intensa, aumentando os riscos de perder a bola e não
colaborando com a meta coletiva estabelecida para aquela pontual situação, a
manutenção da posse de bola simplesmente. E que fique bem claro com esse
parágrafo que “estar defendendo” ou “estar atacando” independe de ter ou não a
bola, pelo caráter indivisível que o jogo apresenta ao contemplar os quatro
momentos anteriormente citados que se manifestam intimamente relacionados.
Independente das escolhas do treinador por esta ou aquela forma de jogar, só com
referências bem definidas que o caráter coletivo da equipe será manifestado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o
jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.
Leandro Zago
Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de
Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.
Frade, V. (2004) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de
Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.
Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização
da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado).
Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.
Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para
verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. UNICAMP,
Campinas.
Mourinho, J. (2003) Entrevista ao programa <2ª Parte> da SporTV. 14 de maio de
2003.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Periodização Tática - José guilherme 2016
Periodização Tática - José guilherme 2016Periodização Tática - José guilherme 2016
Periodização Tática - José guilherme 2016Fernando Farias
 
Periodização Tática - Exercícios
Periodização Tática - ExercíciosPeriodização Tática - Exercícios
Periodização Tática - ExercíciosLeandro Zago
 
Exercícios - Conteúdos Táticos
Exercícios - Conteúdos TáticosExercícios - Conteúdos Táticos
Exercícios - Conteúdos TáticosLeandro Zago
 
A bíblia de mourinho no fc porto
A bíblia de mourinho no fc portoA bíblia de mourinho no fc porto
A bíblia de mourinho no fc portoraseslb
 
Creating behaviors in respect to the coach game model
Creating behaviors in respect to the coach game modelCreating behaviors in respect to the coach game model
Creating behaviors in respect to the coach game modelVítor Gouveia
 
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014Fundação Real Madrid
 
Esquema futebol Básico
Esquema futebol BásicoEsquema futebol Básico
Esquema futebol BásicoPedro Martins
 
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...João Carlos Costa
 
Slide de futsal para aula de ed. física
Slide de futsal para aula de ed. físicaSlide de futsal para aula de ed. física
Slide de futsal para aula de ed. físicaadnete
 
Implantação e Caraterização de um Modelo de Jogo
Implantação e Caraterização de um Modelo de JogoImplantação e Caraterização de um Modelo de Jogo
Implantação e Caraterização de um Modelo de JogoFundação Real Madrid
 
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo Ancelotti
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo AncelottiModelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo Ancelotti
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo AncelottiFundação Real Madrid
 
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)Fundação Real Madrid
 
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José Mourinho
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José MourinhoO Modelo de Jogo do Real Madrid de José Mourinho
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José MourinhoRenato Moreira
 

Mais procurados (20)

Periodização Tática - José guilherme 2016
Periodização Tática - José guilherme 2016Periodização Tática - José guilherme 2016
Periodização Tática - José guilherme 2016
 
Periodização Tática - Exercícios
Periodização Tática - ExercíciosPeriodização Tática - Exercícios
Periodização Tática - Exercícios
 
93930414 80-entrenamientos-defensivos
93930414 80-entrenamientos-defensivos93930414 80-entrenamientos-defensivos
93930414 80-entrenamientos-defensivos
 
Exercícios - Conteúdos Táticos
Exercícios - Conteúdos TáticosExercícios - Conteúdos Táticos
Exercícios - Conteúdos Táticos
 
A bíblia de mourinho no fc porto
A bíblia de mourinho no fc portoA bíblia de mourinho no fc porto
A bíblia de mourinho no fc porto
 
Creating behaviors in respect to the coach game model
Creating behaviors in respect to the coach game modelCreating behaviors in respect to the coach game model
Creating behaviors in respect to the coach game model
 
O modelo de jogo
O modelo de jogoO modelo de jogo
O modelo de jogo
 
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014
Carlo Ancelotti - Sessão de Treino 2014
 
Esquema futebol Básico
Esquema futebol BásicoEsquema futebol Básico
Esquema futebol Básico
 
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...
Aula pratica curso treinadores braga2007_nivel_i_joão carlos costa e joão bra...
 
Slide de futsal para aula de ed. física
Slide de futsal para aula de ed. físicaSlide de futsal para aula de ed. física
Slide de futsal para aula de ed. física
 
Implantação e Caraterização de um Modelo de Jogo
Implantação e Caraterização de um Modelo de JogoImplantação e Caraterização de um Modelo de Jogo
Implantação e Caraterização de um Modelo de Jogo
 
Organização de Jogo
Organização de JogoOrganização de Jogo
Organização de Jogo
 
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo Ancelotti
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo AncelottiModelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo Ancelotti
Modelo de Jogo e Morfociclo Padrão de Carlo Ancelotti
 
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)
Periodização Tática - Pressupostos e Fundamentos (2014)
 
Modelo de Jogo
Modelo de Jogo  Modelo de Jogo
Modelo de Jogo
 
Modelo de juego juvenil 13-14
Modelo de juego juvenil 13-14Modelo de juego juvenil 13-14
Modelo de juego juvenil 13-14
 
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José Mourinho
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José MourinhoO Modelo de Jogo do Real Madrid de José Mourinho
O Modelo de Jogo do Real Madrid de José Mourinho
 
CAMPO REDUZIDO NO FUTEBOL
CAMPO REDUZIDO NO FUTEBOLCAMPO REDUZIDO NO FUTEBOL
CAMPO REDUZIDO NO FUTEBOL
 
Dia Verde da Periodização Tática
Dia Verde da Periodização TáticaDia Verde da Periodização Tática
Dia Verde da Periodização Tática
 

Semelhante a Referências para a Ocupação do Espaço sem Bola

O Jogo Coletivo e a Integração das Referências
O Jogo Coletivo e a Integração das ReferênciasO Jogo Coletivo e a Integração das Referências
O Jogo Coletivo e a Integração das ReferênciasLeandro Zago
 
Pressão e Pressing
Pressão e PressingPressão e Pressing
Pressão e PressingLeandro Zago
 
Pafd modulo futebol invariantes do jogo
Pafd   modulo futebol invariantes do jogoPafd   modulo futebol invariantes do jogo
Pafd modulo futebol invariantes do jogoVitor Henriques
 
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidade
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidadeTÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidade
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidadeTavaresJana
 
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...Pedro Moutinho Vieira 🇵🇹
 
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...Pedro Moutinho Vieira 🇵🇹
 
Blog 3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2
Blog   3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2Blog   3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2
Blog 3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2Rafael Hackbarth
 
Conceitos de Amplitude e Profundidade
Conceitos de Amplitude e ProfundidadeConceitos de Amplitude e Profundidade
Conceitos de Amplitude e ProfundidadeLeandro Zago
 
Projecto _os luvinhas
Projecto  _os luvinhasProjecto  _os luvinhas
Projecto _os luvinhasMarco Pereira
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaWILLY FDEZ
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaWILLY FDEZ
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaWILLY FDEZ
 
1a visita-técnica iabb-resumo
1a visita-técnica iabb-resumo1a visita-técnica iabb-resumo
1a visita-técnica iabb-resumoRodney Martins
 
Construindo uma forma de jogar guia de treino para iniciantes
Construindo uma forma de jogar   guia de treino para iniciantesConstruindo uma forma de jogar   guia de treino para iniciantes
Construindo uma forma de jogar guia de treino para iniciantesJarbas Rossatto
 

Semelhante a Referências para a Ocupação do Espaço sem Bola (20)

O Jogo Coletivo e a Integração das Referências
O Jogo Coletivo e a Integração das ReferênciasO Jogo Coletivo e a Integração das Referências
O Jogo Coletivo e a Integração das Referências
 
Pressão e Pressing
Pressão e PressingPressão e Pressing
Pressão e Pressing
 
Pafd modulo futebol invariantes do jogo
Pafd   modulo futebol invariantes do jogoPafd   modulo futebol invariantes do jogo
Pafd modulo futebol invariantes do jogo
 
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidade
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidadeTÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidade
TÁTICA NO FUTEBOL (2).pptx fundamentos importantes técnicos da modalidade
 
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira of Attack-Defense vs Youth-Senior in Professi...
 
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...
Thesis of Pedro Moutinho Vieira - Transition Attack- Defense vs Youth-Senior ...
 
Blog 3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2
Blog   3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2Blog   3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2
Blog 3º artigo - especificidade no treinamento -sistema - 1-4-4-2
 
Conceitos de Amplitude e Profundidade
Conceitos de Amplitude e ProfundidadeConceitos de Amplitude e Profundidade
Conceitos de Amplitude e Profundidade
 
Transicao defesa ataque
Transicao defesa ataqueTransicao defesa ataque
Transicao defesa ataque
 
Transicao defesa ataque no Futebol
Transicao defesa ataque no FutebolTransicao defesa ataque no Futebol
Transicao defesa ataque no Futebol
 
Coachidapp-eBook.pdf
Coachidapp-eBook.pdfCoachidapp-eBook.pdf
Coachidapp-eBook.pdf
 
Métodos de Treino
Métodos de TreinoMétodos de Treino
Métodos de Treino
 
Projecto _os luvinhas
Projecto  _os luvinhasProjecto  _os luvinhas
Projecto _os luvinhas
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización táctica
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización táctica
 
Pliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización tácticaPliometria y periodización táctica
Pliometria y periodización táctica
 
Futebol 7
Futebol 7Futebol 7
Futebol 7
 
Futebol 7
Futebol 7Futebol 7
Futebol 7
 
1a visita-técnica iabb-resumo
1a visita-técnica iabb-resumo1a visita-técnica iabb-resumo
1a visita-técnica iabb-resumo
 
Construindo uma forma de jogar guia de treino para iniciantes
Construindo uma forma de jogar   guia de treino para iniciantesConstruindo uma forma de jogar   guia de treino para iniciantes
Construindo uma forma de jogar guia de treino para iniciantes
 

Mais de Leandro Zago

Currículo - Leandro Calixto Zago
Currículo -  Leandro Calixto ZagoCurrículo -  Leandro Calixto Zago
Currículo - Leandro Calixto ZagoLeandro Zago
 
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o Jogo
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o JogoFutebol Interativo - Desenvolvendo para o Jogo
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o JogoLeandro Zago
 
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da Equipe
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da EquipeO Goleiro inserido no Modelo de Jogo da Equipe
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da EquipeLeandro Zago
 
El juego de posición (O Jogo de Posição)
El juego de posición (O Jogo de Posição)El juego de posición (O Jogo de Posição)
El juego de posición (O Jogo de Posição)Leandro Zago
 
Pós - Graduação - Conteúdos Táticos
Pós - Graduação - Conteúdos TáticosPós - Graduação - Conteúdos Táticos
Pós - Graduação - Conteúdos TáticosLeandro Zago
 
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e Transição
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e TransiçãoPrincípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e Transição
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e TransiçãoLeandro Zago
 
Aspectos Psicológicos Aplicados ao Treinamento
Aspectos Psicológicos Aplicados ao TreinamentoAspectos Psicológicos Aplicados ao Treinamento
Aspectos Psicológicos Aplicados ao TreinamentoLeandro Zago
 
SUB13 - Programação de Atividades (2012)
SUB13 - Programação de Atividades (2012)SUB13 - Programação de Atividades (2012)
SUB13 - Programação de Atividades (2012)Leandro Zago
 
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)Leandro Zago
 
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)Leandro Zago
 

Mais de Leandro Zago (10)

Currículo - Leandro Calixto Zago
Currículo -  Leandro Calixto ZagoCurrículo -  Leandro Calixto Zago
Currículo - Leandro Calixto Zago
 
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o Jogo
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o JogoFutebol Interativo - Desenvolvendo para o Jogo
Futebol Interativo - Desenvolvendo para o Jogo
 
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da Equipe
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da EquipeO Goleiro inserido no Modelo de Jogo da Equipe
O Goleiro inserido no Modelo de Jogo da Equipe
 
El juego de posición (O Jogo de Posição)
El juego de posición (O Jogo de Posição)El juego de posición (O Jogo de Posição)
El juego de posición (O Jogo de Posição)
 
Pós - Graduação - Conteúdos Táticos
Pós - Graduação - Conteúdos TáticosPós - Graduação - Conteúdos Táticos
Pós - Graduação - Conteúdos Táticos
 
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e Transição
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e TransiçãoPrincípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e Transição
Princípios Estruturais e Operacionais de Ataque, Defesa e Transição
 
Aspectos Psicológicos Aplicados ao Treinamento
Aspectos Psicológicos Aplicados ao TreinamentoAspectos Psicológicos Aplicados ao Treinamento
Aspectos Psicológicos Aplicados ao Treinamento
 
SUB13 - Programação de Atividades (2012)
SUB13 - Programação de Atividades (2012)SUB13 - Programação de Atividades (2012)
SUB13 - Programação de Atividades (2012)
 
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)
Sessões de Treinamento - Curso CBF (Nível B)
 
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
 

Referências para a Ocupação do Espaço sem Bola

  • 1. Leandro Zago Básica 4 – Referências para a Ocupação do Espaço Sem Bola 1. Estruturando o Espaço de Jogo Considerada por Júlio Garganta (1997) uma competência essencial e inerente aos Jogos Desportivos Coletivos (JDC), a estruturação do espaço de jogo emerge como uma componente fundamental no processo de construção de uma equipe desde o nível individual, manifestada na compreensão e ocupação de espaços mais interessantes por parte do atleta a cada situação problema que o jogo apresenta e na gestão coletiva do espaço de jogo, onde a equipe estrutura-se em campo com o intuito de obter vantagem espacial e numérica pelo maior tempo possível nas mais variadas zonas do campo. A ocupação do espaço não acontece de forma aleatória, ela tem (ou pelo menos deve ter) um significado para o jogador e para a equipe que se auto-organiza o tempo todo em função dos objetivos do jogo. A Lógica do Jogo de Futebol (Leitão, 2004) é comum a todos os jogos e imutável, os caminhos para cumpri-la é que podem exigir meios diferentes e, o que apresenta uma enorme variação, é a forma como cada equipe se organiza em nível estratégico para vencer partidas e quais as referências que dão sustentação a essa organização estratégica. Portanto, a criação de referências que norteará as decisões dos jogadores para que reajam em função de algo que seja comum a todos, possibilitando o jogo em equipe de forma concreta. Essa criação (seria construção?) de referências se dá a partir das vivências dirigidas que o treinador proporciona à equipe através dos treinamentos e de um encadeamento lógico entre os conteúdos que farão parte do dia-a-dia da equipe.
  • 2. Leandro Zago 2. O Jogo Coletivo através das Referências Segundo Amieiro (2005), a organização defensiva só conseguirá ser verdadeiramente coletiva se as ações tático - técnicas realizadas por cada um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma idéia comum, respeitando um referencial coletivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o “todo” (a equipe que se defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem (comportamentos tático-técnicos de cada atleta). Quanto o autor fala sobre “idéia comum” ou “referencial coletivo” é preciso entender que não está se referindo a automatismos fechados, ou algo já estabelecido de forma estanque, mas a princípios que norteiam a ação coletiva da equipe e por conseqüência as ações individuais dos atletas nela inseridos. Pode-se constatar isso no trecho seguinte da sua frase em que se refere às interações entre jogadores (quando diz “relacionam”) e ao processo de feedback (quando diz “regulam”) que ocorre permanentemente durante as ações coletivas e individuais dos jogadores. Portanto faz-se necessário construir e definir princípios que balizem os comportamentos coletivos (princípios de jogo), visto que o jogo pelo seu caráter imprevisível não permite ações planejadas em sua plenitude, pois vai sendo construído conforme as respostas que seus jogadores vão oferecendo pontualmente naquelas situações. Respostas essas que surgem da interação dos mesmos com sua equipe, com o adversário, com a posição da bola e de um número muito alto de outras variáveis que estão nele inseridos.
  • 3. Leandro Zago 3. O Processo de Construção das Referências A simples informação não altera comportamentos e estes demoram muito tempo para serem alterados (FRADE, 2004). Cabe ao treinador direcionar esses comportamentos para o modelo de jogo que pretende adotar, através de exercícios com complexidade crescente, sempre atuando na zona proximal de conhecimento do atleta com um objetivo final muito definido. O quão elaborado será o modelo de jogo depende da qualidade com que esse processo será aplicado e do conhecimento que o treinador tem sobre o jogo. A opção por este ou aquele conjunto de referências dependerá de fatores como o Modelo de Jogo idealizado pelo treinador, o nível em que se encontra o conhecimento da equipe sobre o jogo, a integração entre estes dois fatores anteriormente citados, entre outros. O objetivo é que a equipe apresente respostas coletivas para a maior quantidade possível de situações que estejam presentes nos quatro momentos do jogo: com a bola, sem a bola, transição defesa - ataque e transição ataque - defesa. Nessa proposta uma equipe pode ter a bola, mas, por estar com vantagem no placar, não quer dar profundidade ao jogo e quer defender-se com a posse. Suas movimentações são bem diferentes de quando ela precisa marcar gol. Os princípios de jogo estão ligados aos hábitos da equipe, que são resultado da interação dos hábitos individuais dos jogadores, portanto aí deve estar focada a intervenção do processo de treino. Para Frade (2002), o hábito é um saber-fazer que se adquire na ação, portando vivenciar os devidos princípios de uma forma hierarquizada e sistematizada é fundamental para que o objetivo final, ou seja, a implantação do modelo de jogo idealizado pelo treinador baseado no contexto em que se encontra, materialize-se em campo de forma condizente com a proposta inicial.
  • 4. Leandro Zago 4. Algumas Referências do Espaço Figura 1 – Plataforma Tática 1-4-4-2 Zonal (vermelha) Pode-se observar (figura 1) que a equipe que está sem bola (vermelha) respeita algumas referências para a ocupação do espaço quando sem bola. Algumas delas são: - a posição da bola: independente da posição ocupada pela equipe azul quando em posse da bola, a equipe vermelha irá se comportar em função de seus próprios jogadores; - lado fraco: a faixa contrária à bola fica desocupada momentaneamente para que mais jogadores ocupem uma área entre a bola e o gol (flutuação e compactação como princípios estruturais sendo realizadas nesse caso); - quadrantes: a ocupação dos quadrantes se dá de forma equilibrada, porém prioritária (espaços de maior valor) permitindo criar superioridade numérica se necessário; - linhas de marcação: a orientação para a estruturação da marcação por zona é a formação de linhas que permitem maior equilíbrio horizontal.
  • 5. Leandro Zago 5. Integrando as Referências É importante frisar que as referências para a estruturação do espaço sem bola devem estar relacionadas com as referências para a estruturação do espaço com bola e com todas as outras referências (operacionais, por exemplo) de forma que interajam potencializando o efeito uma da outra e nunca atuando de maneira concorrente. Outro detalhe que vale a pena ressaltar é que essas referências citadas acima estão baseadas numa marcação por zona e, caso seja feita a opção por uma marcação individual ou mista deve-se buscar outras referências. Marcar em função da posição da bola (zona) para alguns treinadores é considerado desvantajoso pela grande velocidade que a mesma pode atingir, porém, ao optar pela marcação individual aumenta-se o número de referências (onze), sendo que essas (os jogadores) buscam a desestruturação da equipe que os marca. Caso algum(ns) jogador(es) não estejam com os princípios daquele momento assimilados, pode(m) apresentar respostas incongruentes com os objetivos momentâneos da equipe, realizando movimentações para regiões em que a pressão do adversário é mais intensa, aumentando os riscos de perder a bola e não colaborando com a meta coletiva estabelecida para aquela pontual situação, a manutenção da posse de bola simplesmente. E que fique bem claro com esse parágrafo que “estar defendendo” ou “estar atacando” independe de ter ou não a bola, pelo caráter indivisível que o jogo apresenta ao contemplar os quatro momentos anteriormente citados que se manifestam intimamente relacionados. Independente das escolhas do treinador por esta ou aquela forma de jogar, só com referências bem definidas que o caráter coletivo da equipe será manifestado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.
  • 6. Leandro Zago Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado. Frade, V. (2004) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado. Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto. Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. UNICAMP, Campinas. Mourinho, J. (2003) Entrevista ao programa <2ª Parte> da SporTV. 14 de maio de 2003.