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Leandro Zago
Básica 6 – O Jogo Coletivo, a <<Des>>fragmentação
e a Integração do Jogo
1. Jogando como equipe
“... o que de mais forte uma equipa pode ter é jogar como uma equipa.”
(Mourinho, 2003)
Segundo Amieiro (2005), a organização defensiva só conseguirá ser
verdadeiramente coletiva se as ações tático - técnicas realizadas por cada um dos
onze jogadores forem perspectivadas em função de uma idéia comum, respeitando
um referencial coletivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam
e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o “todo” (a equipe que
se defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem
(comportamentos tático-técnicos de cada atleta).
Quanto o autor fala sobre “idéia comum” ou “referencial coletivo” é preciso
entender que não está se referindo a automatismos fechados, ou algo já
estabelecido de forma estanque, mas a princípios que norteiam a ação coletiva da
equipe e por conseqüência as ações individuais dos atletas nela inseridos. Pode-se
constatar isso no trecho seguinte da sua frase em que se refere às interações entre
jogadores (quando diz “relacionam”) e ao processo de feedback (quando diz
“regulam”) que ocorre permanentemente durante as ações coletivas e individuais
dos jogadores.
Portanto faz-se necessário construir e definir princípios que balizem os
comportamentos coletivos (princípios de jogo), visto que o jogo pelo seu caráter
imprevisível não permite ações planejadas em sua plenitude, pois vai sendo
construído conforme as respostas que seus jogadores vão oferecendo pontualmente
naquelas situações. Respostas essas que surgem da interação dos mesmos com sua
Leandro Zago
equipe, com o adversário, com a posição da bola e de um número muito alto de
outras variáveis que estão nele inseridos.
2. Construindo Referenciais (Princípios de Jogo) comuns
A simples informação não altera comportamentos e estes demoram muito tempo
para serem alterados (FRADE, 2004). Cabe ao treinador direcionar esses
comportamentos para o modelo de jogo que pretende adotar, através de exercícios
com complexidade crescente, sempre atuando na zona proximal de conhecimento
do atleta com um objetivo final muito definido. O quão elaborado será o modelo de
jogo depende da qualidade com que esse processo será aplicado e do conhecimento
que o treinador tem sobre o jogo.
O objetivo é que a equipe apresente respostas coletivas para a maior quantidade
possível de situações que estejam presentes nos quatro momentos do jogo: com a
bola, sem a bola, transição defesa – ataque e transição ataque-defesa. Nessa
proposta uma equipe pode ter a bola, mas, por estar com vantagem no placar, não
quer dar profundidade ao jogo e quer defender-se com a posse. Suas
movimentações são bem diferentes de quando ela precisa marcar gol. Caso
algum(ns) jogador(es) não estejam com os princípios daquele momento
assimilados, pode(m) apresentar respostas incongruentes com os objetivos
momentâneos da equipe, realizando movimentações para regiões em que a pressão
do adversário é mais intensa, aumentando os riscos de perder a bola e não
colaborando com a meta coletiva estabelecida para aquela pontual situação, a
manutenção da posse de bola simplesmente. E que fique bem claro com esse
parágrafo que “estar defendendo” ou “estar atacando” independe de ter ou não a
bola, pelo caráter indivisível que o jogo apresenta ao contemplar os quatro
momentos anteriormente citados que se manifestam intimamente relacionados.
Os princípios de jogo estão ligados aos hábitos da equipe, que são resultado da
interação dos hábitos individuais dos jogadores, portanto aí deve estar focada a
Leandro Zago
intervenção do processo de treino. Para Frade (2002), o hábito é um saber-fazer
que se adquire na ação, portando vivenciar os devidos princípios de uma forma
hierarquizada e sistematizada é fundamental para que o objetivo final, ou seja, a
implantação do modelo de jogo idealizado pelo treinador baseado no contexto em
que se encontra, materialize-se em campo de forma condizente com a proposta
inicial.
3. Ataque e defesa: onde um começa e o outro termina?
É quase que fato consumado no futebol entender o processo ofensivo (ataque) o
momento em que a própria equipe tem a posse da bola e o processo defensivo
(defesa) o momento em que a posse de bola é do adversário.
E nas transições, quem está atacando e quem está defendendo?
Simples, na transição defesa – ataque (ofensiva) eu estou atacando e na transição
ataque-defesa (defensiva) meu adversário ataca.
Ainda bem que, para os profissionais do futebol, os jogos coletivos são muito mais
complexos que essa singela interpretação. Senão qualquer torcedor entenderia o
jogo tão bem quanto um treinador de equipe de alto nível.
Os processos ofensivos e defensivos estão tão intrinsecamente conectados que
seria impensável analisá-los e treiná-los de forma isolada.
Imagine a seguinte situação:
Sua equipe está vencendo a partida e adota como estratégia manter a posse de
bola (prioritariamente no campo de defesa pela ocupação espacial do adversário)
com o objetivo de “apenas” esperar o tempo terminar. A equipe adversária realiza
uma marcação pressão para recuperar a bola rapidamente e tentar realizar uma
finalização a gol.
Pergunta: Quem está defendendo? E atacando?
Leandro Zago
Essa situação muito comum nos jogos que presenciamos mostra que a posse de
bola por si só não determina a atitude de uma equipe. E a ausência dele também
não.
E respondendo a pergunta do título desse artigo, podemos entender que os
processos ofensivos e defensivos acontecem simultânea e constantemente dentro
do jogo e isso deve ser levado em conta na elaboração de um treinamento tático.
4. Uma visão limitada da marcação
É muito comum ouvirmos os treinadores falarem em sistemas de marcação, ou
como a equipe deve anular o oponente, e que em determinada partida ele optará
por tal sistema de jogo por considerá-lo mais eficiente para marcar adversário e
garantir um resultado. E a questão que aparece nesse momento é se todos eles
estão perspectivando a marcação com os mesmos princípios. Muito normal um
treinador de terceira divisão vê-la de forma diferente de um de primeira divisão, é
uma questão de nível de elaboração quanto à proposta de jogo. Também devem
apresentar diferenças um treinador que adota marcação mista e um outro que
prefira marcar por zona, já que ambas possuem na sua essência diferentes
referenciais. Alguns autores escreveram sobre o tema.
Lópes Ramos (1995) diz que a marcação é uma ação tática dos jogadores da
equipe que está sem a bola realizam sobre seus adversários, evitando o contato
desses com a bola ou de o fazer nas piores condições possíveis. É realizada sobre
todos os adversários com ações diferentes sobre o portador da bola, sempre com o
marcador entre o adversário e a própria baliza, orientado em relação ao seu par. A
marcação deve ser tanto mais forte quanto mais próxima ao gol defendido. Pacheco
(2001) define marcação como uma ação tática em que os defensores aproximam
dos atacantes, colocando-se entre eles, a bola e o gol defendido, impedindo a
progressão, o passe e a finalização, buscando a recuperação da bola.
Leandro Zago
Reparem que essa duas definições para marcação colocam o adversário como
referência primária para a marcação. O objetivo principal (e provavelmente único) é
evitar qualquer ação do mesmo. E mostra-se como único porque não apresenta
nenhuma relação com a forma de jogar da equipe que está marcando, que apenas
quer impedir o jogo do outro time. Não apresenta porque todas as ações citadas
pelos referidos autores são individuais. O time marcador corre atrás do time que
joga, deixando de impor sua própria forma de jogar, desprezando uma ocupação
espacial racional. Considera a marcação com um momento estanque, dissociado
dos quatro grandes momentos do jogo (sem bola, transição defesa-ataque, com
bola, transição ataque-defesa).
Quando “Lópes Ramos” escreve “a marcação deve ser tanto mais forte quanto mais
próxima ao gol defendido” essa proposta torna-se ainda mais limitada, pois
desconsidera a possibilidade de se realizar pressão sobre o adversário em zonas
mais adiantadas. Em nenhum momento o sistema de coberturas é colocado como
uma possibilidade, afinal, os marcadores nunca saberão onde estarão seus
companheiros de equipe que nesse momento estão na dependência do “seu par”.
Sob essa perspectiva, o jogo passa a ser visto de uma forma fragmentada onde
suas partes não se relacionam nem se interagem. E, ao assistir uma partida de
futebol em qualquer nível podemos constatar que os quatro momentos citados
anteriormente ocorrem o tempo todo, em sucessão e com conseqüências um do
outro. O treino deve considerar essa interação, porque querendo ou não o
treinador, o jogo será construído dessa forma.
5. O que é, afinal, defender (jogar) por zona?
Vemos claramente no futebol mundial atual que as grandes equipes em sua maioria
jogam marcando por zona seus adversários. Equipes com grandes jogadores que
descobriram nessa forma de jogar um caminho para potencializar seus talentos e
fazer do jogo coletivo sua identidade. Se esse fato realmente acontece, também é
Leandro Zago
verdade que ainda existem treinadores que a ignoram e justificam-se apontando as
limitações desse tipo de marcação.
Bauer (1994) caracterizou a “defesa por zona” assim: 1) a cada jogador é entregue
um determinado espaço (zona), pelo qual será responsável durante toda a defesa,
2) quando a equipe perde a bola, cada jogador deve deslocar-se para trás, para a
sua zona, 3) na sua zona, o jogador deve marcar diretamente qualquer adversário
que nela entre, com ou sem bola, 4) se o adversário muda para outra zona,
passará automaticamente a ser da responsabilidade de outro defesa, 5) todos os
jogadores da equipe devem deslocar-se em direção à bola e, 6) o portador da bola
deverá ser atacado por dois ou mais jogadores por vez.
Essa definição do referido autor, apesar de considerar algumas características da
defesa por zona, aproxima-se mais de uma marcação mista, onde cada jogador
marca o adversário que estiver na sua zona. E também apresenta algumas
incoerências, pois, como vou garantir que a marcação será duplicada sobre o
portador da bola se meus jogadores tem como referência a movimentação
adversária? Tudo bem, será dentro de sua zona de atuação, mas isso já será
suficiente para impedir uma eficiência do sistema de coberturas.
E por falar em referência, aí reside uma brutal distância entre marcar por zona e as
outras formas de marcação que visam o encaixe no adversário. A grande referência
da defesa por zona são os espaços e fechar como equipe os espaços mais valiosos.
Mas onde são os espaços mais valiosos? Aqueles próximos ao local em que a bola
se encontra naquele exato momento e que varia constantemente, tornando a
gestão coletiva do espaço e do tempo fundamentais. Se a gestão é coletiva, minha
equipe deve atuar como um bloco coeso, fechando linhas de passe em progressão,
que flutua dependente da circulação de bola do adversário, gerando pressão
espaço-temporal no portador da bola da equipe adversária através da ocupação
racional dos espaços. Assim obteremos superioridade numérica, pois vejam, que
em nenhum momento a movimentação do adversário interferiu no sistema de
Leandro Zago
coberturas que se sucedem a cada variação de ação tática-técnica de ambas
equipes.
Melhor que “defender por zona” é falarmos em “jogar por zona” porque expressa
com mais clareza o real significado dos objetivos implícitos nessa filosofia. Quando
jogo marcando dessa forma, a recuperação da bola deve ocorrer de forma coletiva
com total relação com o momento ofensivo. Aliás, dividir o momento “sem bola” do
momento “com bola” e ignorar suas respectivas transições é um perigo tão grande
como não considerarmos o “jogo por zona” das equipes bem sucedidas do futebol
mundial. Ou, talvez, os perigos não sejam maiores um do que o outro, mas o
mesmo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o
jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.
BAUER, G. (1994). Fútbol. Entrenamiento de la técnica, la táctica y la condición
física. Editorial Hispano Européia. Barcelona.
Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de
Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.
Frade, V. (2004) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de
Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.
LÓPEZ RAMOS, A. (1995). El marcaje: Fundamentos y trabajo práctico. Fútbol:
Cadernos Técnicos, Nº 1, abril de 1995. 3-14.
Leandro Zago
Mourinho, J. (2003) Entrevista ao programa <2ª Parte> da SporTV. 14 de maio de
2003.
PACHECO, R. (2001). O Ensino do Futebol de 7 – Um jogo de iniciação ao futebol
de 11. Edição do autor.

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Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
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  • 1. Leandro Zago Básica 6 – O Jogo Coletivo, a <<Des>>fragmentação e a Integração do Jogo 1. Jogando como equipe “... o que de mais forte uma equipa pode ter é jogar como uma equipa.” (Mourinho, 2003) Segundo Amieiro (2005), a organização defensiva só conseguirá ser verdadeiramente coletiva se as ações tático - técnicas realizadas por cada um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma idéia comum, respeitando um referencial coletivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o “todo” (a equipe que se defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem (comportamentos tático-técnicos de cada atleta). Quanto o autor fala sobre “idéia comum” ou “referencial coletivo” é preciso entender que não está se referindo a automatismos fechados, ou algo já estabelecido de forma estanque, mas a princípios que norteiam a ação coletiva da equipe e por conseqüência as ações individuais dos atletas nela inseridos. Pode-se constatar isso no trecho seguinte da sua frase em que se refere às interações entre jogadores (quando diz “relacionam”) e ao processo de feedback (quando diz “regulam”) que ocorre permanentemente durante as ações coletivas e individuais dos jogadores. Portanto faz-se necessário construir e definir princípios que balizem os comportamentos coletivos (princípios de jogo), visto que o jogo pelo seu caráter imprevisível não permite ações planejadas em sua plenitude, pois vai sendo construído conforme as respostas que seus jogadores vão oferecendo pontualmente naquelas situações. Respostas essas que surgem da interação dos mesmos com sua
  • 2. Leandro Zago equipe, com o adversário, com a posição da bola e de um número muito alto de outras variáveis que estão nele inseridos. 2. Construindo Referenciais (Princípios de Jogo) comuns A simples informação não altera comportamentos e estes demoram muito tempo para serem alterados (FRADE, 2004). Cabe ao treinador direcionar esses comportamentos para o modelo de jogo que pretende adotar, através de exercícios com complexidade crescente, sempre atuando na zona proximal de conhecimento do atleta com um objetivo final muito definido. O quão elaborado será o modelo de jogo depende da qualidade com que esse processo será aplicado e do conhecimento que o treinador tem sobre o jogo. O objetivo é que a equipe apresente respostas coletivas para a maior quantidade possível de situações que estejam presentes nos quatro momentos do jogo: com a bola, sem a bola, transição defesa – ataque e transição ataque-defesa. Nessa proposta uma equipe pode ter a bola, mas, por estar com vantagem no placar, não quer dar profundidade ao jogo e quer defender-se com a posse. Suas movimentações são bem diferentes de quando ela precisa marcar gol. Caso algum(ns) jogador(es) não estejam com os princípios daquele momento assimilados, pode(m) apresentar respostas incongruentes com os objetivos momentâneos da equipe, realizando movimentações para regiões em que a pressão do adversário é mais intensa, aumentando os riscos de perder a bola e não colaborando com a meta coletiva estabelecida para aquela pontual situação, a manutenção da posse de bola simplesmente. E que fique bem claro com esse parágrafo que “estar defendendo” ou “estar atacando” independe de ter ou não a bola, pelo caráter indivisível que o jogo apresenta ao contemplar os quatro momentos anteriormente citados que se manifestam intimamente relacionados. Os princípios de jogo estão ligados aos hábitos da equipe, que são resultado da interação dos hábitos individuais dos jogadores, portanto aí deve estar focada a
  • 3. Leandro Zago intervenção do processo de treino. Para Frade (2002), o hábito é um saber-fazer que se adquire na ação, portando vivenciar os devidos princípios de uma forma hierarquizada e sistematizada é fundamental para que o objetivo final, ou seja, a implantação do modelo de jogo idealizado pelo treinador baseado no contexto em que se encontra, materialize-se em campo de forma condizente com a proposta inicial. 3. Ataque e defesa: onde um começa e o outro termina? É quase que fato consumado no futebol entender o processo ofensivo (ataque) o momento em que a própria equipe tem a posse da bola e o processo defensivo (defesa) o momento em que a posse de bola é do adversário. E nas transições, quem está atacando e quem está defendendo? Simples, na transição defesa – ataque (ofensiva) eu estou atacando e na transição ataque-defesa (defensiva) meu adversário ataca. Ainda bem que, para os profissionais do futebol, os jogos coletivos são muito mais complexos que essa singela interpretação. Senão qualquer torcedor entenderia o jogo tão bem quanto um treinador de equipe de alto nível. Os processos ofensivos e defensivos estão tão intrinsecamente conectados que seria impensável analisá-los e treiná-los de forma isolada. Imagine a seguinte situação: Sua equipe está vencendo a partida e adota como estratégia manter a posse de bola (prioritariamente no campo de defesa pela ocupação espacial do adversário) com o objetivo de “apenas” esperar o tempo terminar. A equipe adversária realiza uma marcação pressão para recuperar a bola rapidamente e tentar realizar uma finalização a gol. Pergunta: Quem está defendendo? E atacando?
  • 4. Leandro Zago Essa situação muito comum nos jogos que presenciamos mostra que a posse de bola por si só não determina a atitude de uma equipe. E a ausência dele também não. E respondendo a pergunta do título desse artigo, podemos entender que os processos ofensivos e defensivos acontecem simultânea e constantemente dentro do jogo e isso deve ser levado em conta na elaboração de um treinamento tático. 4. Uma visão limitada da marcação É muito comum ouvirmos os treinadores falarem em sistemas de marcação, ou como a equipe deve anular o oponente, e que em determinada partida ele optará por tal sistema de jogo por considerá-lo mais eficiente para marcar adversário e garantir um resultado. E a questão que aparece nesse momento é se todos eles estão perspectivando a marcação com os mesmos princípios. Muito normal um treinador de terceira divisão vê-la de forma diferente de um de primeira divisão, é uma questão de nível de elaboração quanto à proposta de jogo. Também devem apresentar diferenças um treinador que adota marcação mista e um outro que prefira marcar por zona, já que ambas possuem na sua essência diferentes referenciais. Alguns autores escreveram sobre o tema. Lópes Ramos (1995) diz que a marcação é uma ação tática dos jogadores da equipe que está sem a bola realizam sobre seus adversários, evitando o contato desses com a bola ou de o fazer nas piores condições possíveis. É realizada sobre todos os adversários com ações diferentes sobre o portador da bola, sempre com o marcador entre o adversário e a própria baliza, orientado em relação ao seu par. A marcação deve ser tanto mais forte quanto mais próxima ao gol defendido. Pacheco (2001) define marcação como uma ação tática em que os defensores aproximam dos atacantes, colocando-se entre eles, a bola e o gol defendido, impedindo a progressão, o passe e a finalização, buscando a recuperação da bola.
  • 5. Leandro Zago Reparem que essa duas definições para marcação colocam o adversário como referência primária para a marcação. O objetivo principal (e provavelmente único) é evitar qualquer ação do mesmo. E mostra-se como único porque não apresenta nenhuma relação com a forma de jogar da equipe que está marcando, que apenas quer impedir o jogo do outro time. Não apresenta porque todas as ações citadas pelos referidos autores são individuais. O time marcador corre atrás do time que joga, deixando de impor sua própria forma de jogar, desprezando uma ocupação espacial racional. Considera a marcação com um momento estanque, dissociado dos quatro grandes momentos do jogo (sem bola, transição defesa-ataque, com bola, transição ataque-defesa). Quando “Lópes Ramos” escreve “a marcação deve ser tanto mais forte quanto mais próxima ao gol defendido” essa proposta torna-se ainda mais limitada, pois desconsidera a possibilidade de se realizar pressão sobre o adversário em zonas mais adiantadas. Em nenhum momento o sistema de coberturas é colocado como uma possibilidade, afinal, os marcadores nunca saberão onde estarão seus companheiros de equipe que nesse momento estão na dependência do “seu par”. Sob essa perspectiva, o jogo passa a ser visto de uma forma fragmentada onde suas partes não se relacionam nem se interagem. E, ao assistir uma partida de futebol em qualquer nível podemos constatar que os quatro momentos citados anteriormente ocorrem o tempo todo, em sucessão e com conseqüências um do outro. O treino deve considerar essa interação, porque querendo ou não o treinador, o jogo será construído dessa forma. 5. O que é, afinal, defender (jogar) por zona? Vemos claramente no futebol mundial atual que as grandes equipes em sua maioria jogam marcando por zona seus adversários. Equipes com grandes jogadores que descobriram nessa forma de jogar um caminho para potencializar seus talentos e fazer do jogo coletivo sua identidade. Se esse fato realmente acontece, também é
  • 6. Leandro Zago verdade que ainda existem treinadores que a ignoram e justificam-se apontando as limitações desse tipo de marcação. Bauer (1994) caracterizou a “defesa por zona” assim: 1) a cada jogador é entregue um determinado espaço (zona), pelo qual será responsável durante toda a defesa, 2) quando a equipe perde a bola, cada jogador deve deslocar-se para trás, para a sua zona, 3) na sua zona, o jogador deve marcar diretamente qualquer adversário que nela entre, com ou sem bola, 4) se o adversário muda para outra zona, passará automaticamente a ser da responsabilidade de outro defesa, 5) todos os jogadores da equipe devem deslocar-se em direção à bola e, 6) o portador da bola deverá ser atacado por dois ou mais jogadores por vez. Essa definição do referido autor, apesar de considerar algumas características da defesa por zona, aproxima-se mais de uma marcação mista, onde cada jogador marca o adversário que estiver na sua zona. E também apresenta algumas incoerências, pois, como vou garantir que a marcação será duplicada sobre o portador da bola se meus jogadores tem como referência a movimentação adversária? Tudo bem, será dentro de sua zona de atuação, mas isso já será suficiente para impedir uma eficiência do sistema de coberturas. E por falar em referência, aí reside uma brutal distância entre marcar por zona e as outras formas de marcação que visam o encaixe no adversário. A grande referência da defesa por zona são os espaços e fechar como equipe os espaços mais valiosos. Mas onde são os espaços mais valiosos? Aqueles próximos ao local em que a bola se encontra naquele exato momento e que varia constantemente, tornando a gestão coletiva do espaço e do tempo fundamentais. Se a gestão é coletiva, minha equipe deve atuar como um bloco coeso, fechando linhas de passe em progressão, que flutua dependente da circulação de bola do adversário, gerando pressão espaço-temporal no portador da bola da equipe adversária através da ocupação racional dos espaços. Assim obteremos superioridade numérica, pois vejam, que em nenhum momento a movimentação do adversário interferiu no sistema de
  • 7. Leandro Zago coberturas que se sucedem a cada variação de ação tática-técnica de ambas equipes. Melhor que “defender por zona” é falarmos em “jogar por zona” porque expressa com mais clareza o real significado dos objetivos implícitos nessa filosofia. Quando jogo marcando dessa forma, a recuperação da bola deve ocorrer de forma coletiva com total relação com o momento ofensivo. Aliás, dividir o momento “sem bola” do momento “com bola” e ignorar suas respectivas transições é um perigo tão grande como não considerarmos o “jogo por zona” das equipes bem sucedidas do futebol mundial. Ou, talvez, os perigos não sejam maiores um do que o outro, mas o mesmo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005. BAUER, G. (1994). Fútbol. Entrenamiento de la técnica, la táctica y la condición física. Editorial Hispano Européia. Barcelona. Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado. Frade, V. (2004) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado. LÓPEZ RAMOS, A. (1995). El marcaje: Fundamentos y trabajo práctico. Fútbol: Cadernos Técnicos, Nº 1, abril de 1995. 3-14.
  • 8. Leandro Zago Mourinho, J. (2003) Entrevista ao programa <2ª Parte> da SporTV. 14 de maio de 2003. PACHECO, R. (2001). O Ensino do Futebol de 7 – Um jogo de iniciação ao futebol de 11. Edição do autor.