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UNIVERSIDADE FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
NUTRIÇÃO – 3º Período
FISIOLOGIA
TECIDO ADIPOSO
Talita Dezidério
Matr. 201210862
Volta Redonda/RJ
26/04/2012
Tecido Adiposo
1. Tecido adiposo marrom e produção de calor
O Tecido Adiposo Marrom (TAM) é encontrado sobretudo em animais que hibernam e em
crianças, recém-nascidos e, em menor quantidade, na fase adulta dos seres humanos. A célula adipocita
marrom apresenta varias gotas lipídicas em seu citoplasma, diferentemente da célula adiposa branca, com
uma única e enorme gota lipídica. Apresenta também grande quantidade de mitocôndrias que utilizam de
um complexo proteico de baixa eficiência na constituição de ATP, desviando a energia da oxidação de
metabólitos, em especial a de ácidos graxos, para execução de sua função primária: geração de calor para
a manutenção da temperatura corporal – a termogênese. Essa função específica deste tipo celular em
questão está relacionada com a proteína desacopladora-1 (UCP-1, do inglês), também denominada
termogenina, presente na membrana interna da mitocôndria da célula adiposa marrom. Ela permite a
oxidação dos ácidos graxos desacoplada da produção de ATP, descarregando a energia gerada pelo
movimento de prótons pelo gradiente eletroquímico intermembranáceo da mitocôndria sob a forma da
produção de calor, assim desviando-os do complexo da ATP sintase, reduzindo a eficiência metabólica da
maquinaria celular.
Quando é necessária a produção de calor, o sistema nervoso simpático sinaliza, por meio
da noraepinefrina, a estimulação de receptores adrenérgicos beta, tipo 3, para dar inicio à quebra de
triglicerídeos (lipólise). Estes ativam a proteína Gs, da família das G-proteínas, as quais comunicam um
sinal químico advindo exteriormente de modo a promover mudança interna à célula: a transdução de sinais.
Estas utilizam da hidrolise do GTP para ativar a enzima adenilato ciclase, a qual catalisa a conversão de
ATP a AMP cíclico (cAMP) resultando no aumento de sua concentração intracelular. O resultado aumento,
por sua vez, ativa a proteína quinase dependente de cAMP (a proteína quinase A ou PKA), a qual ativa as
lípases estimuladas por hormônios (Hormone-sensitive Lipase; HSL) pela fosforilaçao das mesmas.
Estas últimas, por fim, promovem a liberação de ácidos graxos a partir de triglicerídeos. Os ácidos graxos
então adentram na mitocôndria para sofrerem oxidação, mas, devido à interação com a UCP-1, têm
a energia proveniente de sua degradação destinada a gerar calor.
A noraepinefrina além de estimular a produção de calor, é envolvida na
proliferação e diferenciação de pré-adipocitos em adipocitos marrons, em
associação à demanda por calor, e na regulação da expressão do gene para a
proteína UCP-1. O tecido adiposo marrom é assim denominado porque aalta
densidade de organelas mitocondriaisricas em citocromo C oxidase (ou
Complexo IV) e uma rede vascular mais abrangente, designada a distribuir
oxigênio e nutrientes e captar o produto calorífico gerado, conferem coloração
mais escura ao tecido.
A importância do Tecido Adiposo Marrom para os humanos recém-nascidos relaciona-se a
dificuldade de produção de calor via tremor da musculatura esquelética, que é suplantada por este órgão,
depositado em regiões cervicais e supraclaviculares, evitando hipotermia e a possível morte. Foi o
desenvolvimento deste tecido, bem como sua proteína especifica a UCP-1, que possibilitou o sucesso
evolucionário dos mamíferos ao garantir proteção a ambientes frios.
2. Papel do fígado e tecido adiposo para o metabolismo
2.1 Função do fígado
No fígado, o transporte de glicose ocorre por transportadores GLUT2, os quais de modo eficiente
mantêm a concentração de glicose no hepatócito na mesma proporção com que este nutriente existe na
circulação sangüínea. No entanto, a glicose só poderá ser utilizada pelo tecido hepático após ser
fosforilada. A enzima responsável por essa reação, a glicoquinase, possui baixa afinidade pela glicose,
assim, o fígado só irá fosforilar e garantir a permanência da glicose dentro das células hepáticas, uma vez
que haja concentração suficientemente alta de glicose na circulação. Isso ocorre, porque o fígado pode usar
outros substratos energéticos como ácidos graxos ou aminoácidos como fonte energética. Apesar da
insulina não influenciar a captação de glicose nas células hepáticas, influencia profundamente a utilização
da glicose por estas células. A glicose só será utilizada pelo fígado como nutriente preferencial quando a
razão insulina/glucagon for suficientemente alta para ativar a via glicolítica. O alto aporte de glicose
juntamente com a presença de insulina também estimulará a síntese de glicogênio, e, neste momento, o
fígado passa a ser um armazenador de glicose. Caso contrário, o fígado fará exatamente o oposto, será um
exportador de glicose.
No momento de jejum, quando houver predomínio do glucagon sobre a insulina, a glicogenólise
será ativada e o fígado passa a exportar a glicose que havia armazenado sob a forma de glicogênio. Como
o glicogênio é uma reserva limitada e somente pode suprir a demanda de glicose no organismo por algumas
horas, o fígado lança mão de outro recurso, a gliconeogênese.
A gliconeogênese ocorre predominantemente no tecido hepático pelo estímulo do glucagon e é
simultânea a glicogenólise hepática. Enquanto houver glicogênio, a velocidade da gliconeogênese é
pequena, no entanto, esta via ocorrerá em velocidade máxima após a exaustão do glicogênio hepático.
Portanto, no jejum prolongado, a glicemia é mantida somente pela gliconeogênese, o que significa um custo
metabólico importante, pois esta via está relacionada à perda significativa de massa muscular e de tecido
adiposo que acompanham o jejum. É preciso lembrar que a síntese de glicose que ocorre no fígado durante
períodos de jejum prolongados tem como principais precursores aminoácidos, advindos do músculo
esquelético, glicerol, advindo da mobilização de triglicerídeos do tecido adiposo e lactato, advindo das
hemáceas, e tendo como fonte de energia a intensa beta- oxidação dos ácidos graxos liberados pela
mobilização dos triglicerídeos. Mesmo com a chegada de alimentos a produção de glicogênio a partir de
aminoácidos provenientes da dieta pode continuar ocorrendo no fígado por algum tempo. Isto é chamado de
gliconeogêse pós-prandial e ocorre para garantir um adequado armazenamento de glicogênio no fígado.
2.1.1 O metabolismo lipídico no fígado
No período pós prandial, estimulado pela insulina, os ácidos graxos podem ser sintetizados em alta
velocidade pelo fígado a partir de moléculas de acetil-coA. Os ácidos graxos sintetizados pelo fígado serão
exportados através das lipoproteínas transportadoras VLDL até o tecido adiposo, local onde serão
armazenados.
Toda vez que o consumo de alimentos excederem a demanda energética terá o acúmulo de reservas
(glicogênio e triglicerídeos). No entanto, a capacidade de armazenamento de glicogênio é bastante limitada
quando comparada a de triglicerídeos. Veja que a capacidade total do fígado armazenar glicogênio é em
torno de 70 g e do músculo esquelético 120 g, mas o tecido adiposo pode conter dezenas de quilogramas
de triglicerídeos. A capacidade de transformar excessos alimentares em lipídeos é praticamente ilimitada e
toda vez que houver desequilíbrio neste processo teremos a obesidade.
2.1.2 O metabolismo protéico no fígado
No período pós-prandial, quando a concentração de aminoácidos na corrente circulatória é alta, a
oxidação completa de aminoácidos fornece uma quantidade de energia significativa para o tecido hepático.
Os aminoácidos podem ser totalmente oxidados pelo fígado, ou ainda, ser convertidos em glicose ou corpos
cetônicos. A produção de glicogênio a partir de aminoácidos provenientes da dieta (gliconeogênese pós-
prandial) é particularmente estimulada por dietas ricas em proteínas e pode persistir por algum tempo
mesmo após o término de uma refeição. Nos momentos de jejum, o fígado passa a receber aminoácidos do
tecido muscular priorizando a gliconeogênese. O fígado participa ativamente do catabolismo protéico, já que
o ciclo da uréia é exclusivo do tecido hepático, e é a forma preferencial de excreção de nitrogênio advindo
da proteólise. Por outro lado, o fígado é responsável pela síntese de todas as proteínas plasmáticas, com
exceção das imunoglobulinas as quais são sintetizadas pelos linfócitos. A manutenção da concentração de
proteínas circulantes nos valores adequados 6-8 g/dL exige um intenso trabalho de síntese protéica
hepática.
2.2 Função do tecido adiposo
A função do tecido adiposo é a de estocar ácidos graxos e liberá-los quando necessário. O tecido
adiposo é amplamente distribuído por todo o corpo, mas ocorre de modo predominante sob a pele, na
cavidade abdominal e no músculo esquelético.
O tecido adiposo recebe a maior parte de seus ácidos graxos das lipoproteínas circulantes,
conforme descrito. Os ácidos graxos são ativados pela formação dos correspondentes acetiil-CoA e
esterificados com glicerol – 3 – fosfato, formando os triacilglicerois de reserva. O glicerol- 3 - fosfatos é
formado pela redução do fosfato de diidroxiacetona, que é gerado a partir da glicose, na via glicolitica.
Em caso de necessidade metabólica, os triacilgliceróis são hidrolisados e ácidos graxos e a glicerol
nos adipocitos, pela ação de uma lípase sensível a hormônios. Se existir glicerol-3-fosfato em abundancia
muitos dos ácidos graxos formados serão reesteritificados a triacilgliceróis. Se o glicerol-3-fosfato estiver em
baixa concentração metabólica, ácidos graxos serão liberados na corrente sangüínea. Assim a mobilização
dos ácidos graxos depende, em parte, da velocidade, de captação da glicose, uma vez a glicose é o
percussor do glicerol-3-fosfato. A necessidade metabólica é sinalizada diretamente por uma redução na
concentração da glicose bem como por estimulação hormonal.
2.2.1 O ciclo alimentado/jejum
Tecido Adiposo: Depósito dos Estoques Energéticos
O tecido adiposo é o segundo tecido, apenas depois do fígado em capacidade para distribuir moléculas
combustíveis. Em um homem de 70 kg, o tecido adiposo pesa aproximadamente 14Kg ou cerca de metade
da massa muscular total. Em indivíduos obesos, ele pode constituir até 70% do peso corporal. Um adipócito
pode ter seu volume quase inteiramente ocupado por uma única gotícula de triacilglicerol.
No metabolismo de carboidratos temos:
1. Aumento do transporte de glicose para dentro dos adipocitos é muito sensível à concentração de insulina no
sangue. Os níveis circulantes de insulina são elevados no estado absortivo, resultando em um influxo de
glicose para os adipócitos.
2. Aumento da glicólise, da disponibilidade intracelular de glicose resulta em um aumento na atividade
glicolitica. No tecido adiposo, a glicólise serve a função sintética, fornecendo glicerol-fosfato para a síntese
de triacilgliceróis.
3. Aumento da atividade da via das hexoses-monofostato ou via das pentoses-fosfato. O tecido adiposo pode
também metabolizar a glicose utilizando a via das pentoses-fosfato, desse modo produzindo NADPH, que é
essencial para síntese de ácidos graxos. Nos humanos, no entanto, a síntese de novo não é uma fonte
importante de ácidos graxos para o tecido adiposo.
No metabolismo dos lipídios temos:
1. Aumento da síntese de ácidos graxos. A síntese de novos ácidos graxos a partir de Acetil-CoA é quase
indetectável em humanos, exceto quando um indivíduo é realimentando após um período de jejum. Em
outras situações, a síntese de ácidos graxos no tecido adiposo não é uma rota importante. Em vez disso, a
maioria dos ácidos graxos adicionados aos estoques de lipídeos nos adipócitos é fornecida pela gordura da
dieta ou pelo fígado (na forma VLDL)
2. Aumento da síntese de triacilgliceróis. Depois de uma refeição contendo lipídeos, a hidrólise dos
triacilgliceróis de quilomicra (do intestino) e VLDL (do fígado) fornece os ácidos graxos ao tecido adiposo.
Esses ácidos graxos exógenos são liberados pela ação da lípase lipoprotéica, uma enzima extracelular
ancorada à parede dos capilares de muitos tecidos, particularmente os tecidos adiposos e musculares. Uma
vez que os adipócitos não apresentam glicerol-cinase, o glicerol-3-fosfato usado na síntese de triacilgliceróis
vem do metabolismo da glicose. Portanto, no estado alimentado, os elevados níveis de glicose e insulina
favorecem o armazenamento de triacilgliceróis.
3. Decréscimo da degradação de triacilgliceróis. Níveis elevados de insulina favorecem a forma desfosforilada
(inativa) da lípase sensível a hormônio. Portanto, no estado alimentado, a degradação de triacilgliceróis está
inibida.
2.2.2 O tecido adiposo no jejum.
No metabolismo dos carboidratos temos:
1. Aumento da degradação de triacilgliceróis. A ativação da lípase sensível a hormônio e a subseqüente
hidrólise dos estoques de triacilglicerol são aumentados pelos elevados níveis das catecolaminas adrenalina
e, particularmente, noradrenalina. Esses compostos, que são liberados pelos terminais nervosos simpáticos
no tecido adiposo, são fisiologicamente importantes na ativação da lípase sensível a hormônio.
2. Aumento da liberação de ácidos graxos. Os ácidos graxos obtidos da hidrolise de triacilgliceróis estocados
são liberados no sangue. Ligados à albumina, eles são transportados para uma variedade de tecidos, para
utilização como combustível. O glicerol produzido durante a degradação dos triacilgliceróis é usado como
um percussor para a gliconeogênese no fígado.
3. Decréscimo na captação de ácidos graxos. No jejum, a atividade da lípase lipoprotéica no tecido adiposo é
baixa. Conseqüentemente, triacilgliceróis de lipoproteínas circulantes não estão disponíveis para a sintse de
triacilgliceróis no tecido adiposo.
3Tecido adiposo como órgão regulador do Sistema Endócrino – Inflamação e Obesidade
O tecido adiposo é composto adipócitos, pré-adipócitos, fibroblastos, células endoteliais, leucócitos,
monócitos e macrófagos residentes. Este tecido pode ser considerado patogênico quando o excesso da
adiposidade corporal, de forma isolada ou associada aos efeitos deletérios de atividades endócrinas e
imunológicas, está relacionado a desordens metabólicas.
A a obesidade é caracterizada como estado de inflamação crônica de baixa intensidade. A inflamação
responde de forma diretamente proporcional ao aumento da adiposidade corporal. Ou seja, a maior
infiltração de macrófagos em proporção ao aumento do tamanho dos adipócitos, pode aumentar a produção
de citocinas pró-inflamatórias e proteínas de fase aguda, dentre elas a MCP-1 (proteína quimiotática de
monócitos-1), já que tanto os adipócitos hipertrofiados quanto os macrófagos são capazes de secretar tais
citocinas e, assim, contribuir com as conseqüências fisiopatosiológicas da obesidade
.
O acúmulo de gordura, principalmente visceral e a inflamação sistêmica estão associados a desordens
metabólicas como obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias, aterosclerose e outras
doenças cardiovasculares.
Entretanto, fica ainda uma pergunta: O que induz a liberação das adipocinas pelo tecido adiposo,
iniciando assim a inflamação? Segundo alguns autores uma possível explicação seria a hipóxia sofrida pelo
tecido adiposo devido à expansão desse tecido no desenvolvimento da obesidade (Figura 1).
Ye et al. (2007
11
) realizaram estudo in vitro e com modelos animais a fim de fornecer evidências
experimentais de que na obesidade existe a hipóxia e que esta pode contribuir com a inflamação crônica de
baixa intensidade e hipoadiponectinemia. Para testar essa possibilidade, os autores usaram um grupo de
genes relacionados à inflamação para avaliar a resposta inflamatória. No tecido adiposo de
camundongos ob/ob, todos esses genes estiveram aumentados. Sendo o aumento desses genes e a
redução da expressão de adiponectina observados junto à hipóxia. Assim, a hipóxia foi associada à
inflamação crônica e à inibição da adiponectina in vivo e, in vitro, foi demonstrado que a hipóxia é capaz de
induzir a expressão de citocinas pró-inflamatórias e o decréscimo de adiponectina no tecido adiposo de
camundongos magros.
Trayhurn & Wood (2004
3
) sugerem que os adipócitos hipertrofiados comprimiriam a vasculatura do
tecido reduzindo a chegada de oxigênio. Em conseqüência à hipóxia, haveria um estímulo à produção de
citocinas pró-inflamatórias a fim de aumentar a angiogênese e o fluxo sangüíneo.
Figura 1. Mecanismo proposto para indução da inflamação a partir da hipóxia sofrida
pela expansão do tecido adiposo na obesidade
Fontana et al. (2007
15
) determinaram a concentração de adipocinas inflamatórias por meio de amostras
de sangue da veia porta e da artéria radial de 25 indivíduos, de ambos os sexos, com obesidade mórbida.
Os autores encontraram diferenças significantes para IL-6 e leptina (p=0,007 e p=0,002; respectivamente),
sendo a concentração de IL-6 50% maior na veia porta e a de leptina 20% menor em relação à artéria
radial. Mostraram também a correlação positiva (r=0,544) e significante (p=0,005) entre IL-6 e PCR,
comprovando que o tecido visceral é o principal responsável por promover a inflamação sistêmica por
liberar maior quantidade de citocinas pró-inflamatórias diretamente na circulação portal.
Sbarbati et al. (2006
16
), avaliaram crianças obesas no estágio pré-puberal, que ainda não apresentavam
as conseqüências metabólicas do sobrepeso, visto que dados de crianças obesas não estavam disponíveis.
Os autores objetivaram avaliar o envolvimento inflamatório de tecido adiposo em crianças e identificar o
potencial inflamatório da lesão elementar. Foi realizado um estudo do tipo caso-controle, sendo 19 crianças
obesas e como controle, 5 crianças não obesas, de ambos os sexos. Por análise ultramicroscópica
verificaram que os adipócitos das crianças obesas eram duas vezes maior que os adipócitos das não
obesas. Além disso, essa análise indicou inflamação no tecido adiposo de todas as crianças obesas, não
sendo encontrada nas não obesas.
Diante disso, percebe-se que a hipóxia causada pela hipertrofia tecidual é o mecanismo inicial de
estímulo à produção de citocinas pró-inflamatórias e que a inflamação progride com a expansão do tecido
adiposo, especialmente, o visceral.
Relação entre inflamação e obesidade
Segundo Hermsdorff & Monteiro (2004
12
), as adipocinas atuam em diferentes tecidos e nos próprios
adipócitos modulando o comportamento destes e daqueles por mecanismos de feedback.
Está claro pela presente revisão que a obesidade leva à inflamação por estimular a expressão e
secreção de adipocinas pró-inflamatórias pelo tecido adiposo, mas a relação inversa, ou seja, inflamação
levando o aumento do peso e obesidade tem sido sugerida por alguns autores (Figura 2).
Das (2001
22
) levanta os seguintes questionamentos “Qual é o gatilho da inflamação?” e “A inflamação é
causa ou efeito da obesidade?”. Da mesma forma, Engström et al. (2003
37
) afirmaram ser razoável
perguntar quem vem primeiro: a inflamação, a obesidade ou a resistência à insulina. Segundo esses
autores, algumas citocinas inflamatórias como IL-6, IL-1β e TNF-α, estão envolvidas na regulação do
metabolismo e da ingestão alimentar. Os mesmos realizaram uma pequena revisão e verificaram que TNF-α
regula a ação da insulina no tecido adiposo, que TNF-α e IL-1β modulam a liberação de leptina por este
tecido e que um polimorfismo no gene receptor-2 do TNF-α está associado com a resistência a leptina e
obesidade. Além disso, encontraram um possível mecanismo de ativação do eixo hipotálamo-pituitária-
adrenal que levaria a uma hipercotisolemia e ativação simpática, sendo estes associados à obesidade
central, resistência à leptina e aumento na ingestão de alimentos.
Figura 2. Ciclo vicioso entre inflamação e obesidade. Citocinas estão envolvidas no desenvolvimento da obesidade
ao passo que, a hipertrofia dos adipócitos estimula a liberação de citocinas indutoras do processo inflamatório
Assim, Engström et al. (2003
37
) objetivaram verificar se as proteínas plasmáticas sensíveis à inflamação
(PPSI) poderiam predizer o ganho de peso futuro. Para tanto acompanharam 2821 homens não diabéticos,
com idade entre 38 e 50 anos por um período de 6 anos. Verificaram que a proporção de indivíduos com
maior ganho de peso aumentou de 21% entre os que não expressaram PPSI para 28,3% entre os que
expressaram 3 ou mais PPSI, sendo essa diferença estatisticamente significante (p<0,0005). Os autores
concluíram que elevados níveis de PPSI predizem o ganho de peso em homens de meia idade.
Um dos achados de Vendrell et al. (2004
38
) ao avaliar a interação entre resistina, adiponectina, grelina,
leptina e citocinas pró-inflamatórias em indivíduos com obesidade mórbida e não mórbida, foi que os
receptores de TNF-α estiveram envolvidos no sistema endócrino regulador da adiposidade corporal
associado com leptina e resistina em obesos não mórbidos.
Pausova et al. (2000
39
) se propuseram a investigar se o locus do gene TNF-α está envolvido na
determinação da obesidade e da hipertensão associada à obesidade em indivíduos de origem Franco-
Canadense. Os autores sugerem que o locus do gene TNF-α contribui para o desenvolvimento da
obesidade e da hipertensão associada à obesidade em indivíduos hipertensos com obesidade não mórbida.
Sabe-se que os adipócitos expressam e secretam componentes do SRA e, segundo Galletti &
Strazzullo (2007
40
) uma variabilidade genética no SRA estão envolvidos na susceptibilidade ao sobrepeso e
obesidade. Diante desta revisão, percebe-se maior participação do tecido adiposo visceral na indução da
inflamação e da obesidade por liberar citocinas envolvidas no processo de regulação do metabolismo e
ingestão alimentar, contribuindo para a expansão do tecido adiposo que, por sua vez, gera a hipóxia,
responsável pelo estímulo de citocinas pró-inflamatórias. Assim, acredita-se haver, um ciclo vicioso entre
obesidade e inflamação induzidas por alteração no tecido adiposo.
4. Adipocinas
Tabela 1. Efeito das adipocinas no processo inflamatório
TNF-α - É uma adipocina pró-inflamatória cuja secreção é diretamente proporcional ao tamanho dos
adipócitos. Secretada pelo tecido adiposo, atua nos adipócitos favorecendo a lipólise e inibindo a
lipogênese, estando envolvida na regulação dos estoques de energia. Está associada ao aumento da
produção de PAI-1, IL-6 e PCR. Além disso, ativa a transcrição do fator nuclear-κβ (NFκβ), envolvido na
resistência à insulina, metabolismo lipídico e apoptose.
IL-6 - A secreção da IL-6 encontra-se aumentada em indivíduos obesos. Essa adipocina pró-inflamatória
estimula a liberação de ácidos graxos livres (AGL) bem como a produção hepática da PCR. Supõe-se que
seu aumento provoque uma supressão da leptina e redução da expressão IRS-1 (receptor de insulina) e
GLUT-4 no fígado e músculo.
Resistina - Adipocina envolvida no processo inflamatório promove a resistência insulínica, aumenta a
produção de endotelina-1 (ET-1) - potente vasoconstritor e MCP-1, além de estimular a transcrição do NFκβ
levando à disfunção endotelial.
PCR - Proteína de fase aguda que indica inflamação sistêmica e tem o fígado como local mais importante
de sua produção, sendo sua expressão regulada por muitas citocinas inflamatórias, principalmente pela IL-
6. Está diretamente relacionada ao processo aterogênico por induzir a disfunção endotelial, constituindo um
importante preditor das doenças cardiovasculares (DCVs).
PAI-1 - Inibidor da ativação do plasminogênio é uma proteína de fase aguda que favorece a formação de
trombos por inibir a formação de plasmina e, conseqüentemente, inibição da fibrinólise e a ruptura de placas
de ateroma instáveis.
Leptina - Hormônio de 16 kDa produzido exclusivamente pelas células adiposas, a leptina é produto do
gene da obesidade ob, sendo encontrada tanto na circulação quanto no fluido cerebroespinhal. Sua
expressão e secreção são diretamente proporcionais ao tamanho dos adipócitos. A leptina, vista como
um link endócrino entre o tecido adiposo e o hipotálamo, funciona como um lipostato - controla o volume do
tecido adiposo e o peso corporal por inibir a ingestão alimentar e aumentar o gasto energético.
SRA - esta envolvido na obesidade, no processo inflamatório e aterogênico. Um dos mecanismos
patogênicos propostos parte da capacidade do tecido adiposo expressar e secretar angiotensinogênio,
precursor de um dos maiores vasoconstritores pró-aterogênicos, a Angiotensina II (ANG II). A ANG II ativa o
NFκβ que estimula a produção de moléculas de adesão endotelial dentre elas ICAM-1, VCAM-1, MCP-1 e
M-CSF. Além disso, é capaz de aumentar a produção de radicais livres de NO, diminuir sua disponibilidade
e facilitar a vasoconstrição, podendo ser um elo entre obesidade e hipertensão. Gonzalez et al. (200730)
estudaram a possível participação do SRA na inflamação microvascular induzida pela hipóxia vascular. Os
mesmos sugerem que a hipóxia estimularia células localizadas em regiões distantes e estas liberariam uma
substância intermediária que é transportada pela circulação. Os resultados deste estudo sugerem que o
agente intermediário ativa mastócitos, e que estes, por sua vez, estimulam o SRA com conseqüente
formação de ANG II levando à inflamação.
Adiponectina - Das adipocinas citadas é a única que tem ação é anti-inflamatória e anti-anterogênica,
assumindo papel protetor das doenças cardiovasculares. A adiponectina, também conhecida como Acrp 30
ou Adip Q, diferentemente das citocinas pró-inflamatórias, tem sua concentração sérica reduzida com o
aumento do tecido adiposo. Sua expressão e secreção é inversamente proporcional ao acúmulo de tecido
adiposo visceral, é negativamente regulada por glicocorticóides e TNF-α e positivamente pela insulina. A
adiponectina atua nos músculos, fígado e parede vascular. Aumenta a taxa de oxidação dos AGL, aumenta
a sensibilidade à insulina e a captação de glicose, além de diminuir a liberação hepática de glicose.

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Tecido adiposo

  • 1. UNIVERSIDADE FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA NUTRIÇÃO – 3º Período FISIOLOGIA TECIDO ADIPOSO Talita Dezidério Matr. 201210862 Volta Redonda/RJ 26/04/2012
  • 2. Tecido Adiposo 1. Tecido adiposo marrom e produção de calor O Tecido Adiposo Marrom (TAM) é encontrado sobretudo em animais que hibernam e em crianças, recém-nascidos e, em menor quantidade, na fase adulta dos seres humanos. A célula adipocita marrom apresenta varias gotas lipídicas em seu citoplasma, diferentemente da célula adiposa branca, com uma única e enorme gota lipídica. Apresenta também grande quantidade de mitocôndrias que utilizam de um complexo proteico de baixa eficiência na constituição de ATP, desviando a energia da oxidação de metabólitos, em especial a de ácidos graxos, para execução de sua função primária: geração de calor para a manutenção da temperatura corporal – a termogênese. Essa função específica deste tipo celular em questão está relacionada com a proteína desacopladora-1 (UCP-1, do inglês), também denominada termogenina, presente na membrana interna da mitocôndria da célula adiposa marrom. Ela permite a oxidação dos ácidos graxos desacoplada da produção de ATP, descarregando a energia gerada pelo movimento de prótons pelo gradiente eletroquímico intermembranáceo da mitocôndria sob a forma da produção de calor, assim desviando-os do complexo da ATP sintase, reduzindo a eficiência metabólica da maquinaria celular. Quando é necessária a produção de calor, o sistema nervoso simpático sinaliza, por meio da noraepinefrina, a estimulação de receptores adrenérgicos beta, tipo 3, para dar inicio à quebra de triglicerídeos (lipólise). Estes ativam a proteína Gs, da família das G-proteínas, as quais comunicam um sinal químico advindo exteriormente de modo a promover mudança interna à célula: a transdução de sinais. Estas utilizam da hidrolise do GTP para ativar a enzima adenilato ciclase, a qual catalisa a conversão de ATP a AMP cíclico (cAMP) resultando no aumento de sua concentração intracelular. O resultado aumento, por sua vez, ativa a proteína quinase dependente de cAMP (a proteína quinase A ou PKA), a qual ativa as lípases estimuladas por hormônios (Hormone-sensitive Lipase; HSL) pela fosforilaçao das mesmas. Estas últimas, por fim, promovem a liberação de ácidos graxos a partir de triglicerídeos. Os ácidos graxos então adentram na mitocôndria para sofrerem oxidação, mas, devido à interação com a UCP-1, têm a energia proveniente de sua degradação destinada a gerar calor. A noraepinefrina além de estimular a produção de calor, é envolvida na proliferação e diferenciação de pré-adipocitos em adipocitos marrons, em associação à demanda por calor, e na regulação da expressão do gene para a proteína UCP-1. O tecido adiposo marrom é assim denominado porque aalta densidade de organelas mitocondriaisricas em citocromo C oxidase (ou Complexo IV) e uma rede vascular mais abrangente, designada a distribuir oxigênio e nutrientes e captar o produto calorífico gerado, conferem coloração mais escura ao tecido. A importância do Tecido Adiposo Marrom para os humanos recém-nascidos relaciona-se a dificuldade de produção de calor via tremor da musculatura esquelética, que é suplantada por este órgão, depositado em regiões cervicais e supraclaviculares, evitando hipotermia e a possível morte. Foi o desenvolvimento deste tecido, bem como sua proteína especifica a UCP-1, que possibilitou o sucesso evolucionário dos mamíferos ao garantir proteção a ambientes frios.
  • 3. 2. Papel do fígado e tecido adiposo para o metabolismo 2.1 Função do fígado No fígado, o transporte de glicose ocorre por transportadores GLUT2, os quais de modo eficiente mantêm a concentração de glicose no hepatócito na mesma proporção com que este nutriente existe na circulação sangüínea. No entanto, a glicose só poderá ser utilizada pelo tecido hepático após ser fosforilada. A enzima responsável por essa reação, a glicoquinase, possui baixa afinidade pela glicose, assim, o fígado só irá fosforilar e garantir a permanência da glicose dentro das células hepáticas, uma vez que haja concentração suficientemente alta de glicose na circulação. Isso ocorre, porque o fígado pode usar outros substratos energéticos como ácidos graxos ou aminoácidos como fonte energética. Apesar da insulina não influenciar a captação de glicose nas células hepáticas, influencia profundamente a utilização da glicose por estas células. A glicose só será utilizada pelo fígado como nutriente preferencial quando a razão insulina/glucagon for suficientemente alta para ativar a via glicolítica. O alto aporte de glicose juntamente com a presença de insulina também estimulará a síntese de glicogênio, e, neste momento, o fígado passa a ser um armazenador de glicose. Caso contrário, o fígado fará exatamente o oposto, será um exportador de glicose. No momento de jejum, quando houver predomínio do glucagon sobre a insulina, a glicogenólise será ativada e o fígado passa a exportar a glicose que havia armazenado sob a forma de glicogênio. Como o glicogênio é uma reserva limitada e somente pode suprir a demanda de glicose no organismo por algumas horas, o fígado lança mão de outro recurso, a gliconeogênese. A gliconeogênese ocorre predominantemente no tecido hepático pelo estímulo do glucagon e é simultânea a glicogenólise hepática. Enquanto houver glicogênio, a velocidade da gliconeogênese é pequena, no entanto, esta via ocorrerá em velocidade máxima após a exaustão do glicogênio hepático. Portanto, no jejum prolongado, a glicemia é mantida somente pela gliconeogênese, o que significa um custo metabólico importante, pois esta via está relacionada à perda significativa de massa muscular e de tecido adiposo que acompanham o jejum. É preciso lembrar que a síntese de glicose que ocorre no fígado durante períodos de jejum prolongados tem como principais precursores aminoácidos, advindos do músculo esquelético, glicerol, advindo da mobilização de triglicerídeos do tecido adiposo e lactato, advindo das hemáceas, e tendo como fonte de energia a intensa beta- oxidação dos ácidos graxos liberados pela mobilização dos triglicerídeos. Mesmo com a chegada de alimentos a produção de glicogênio a partir de aminoácidos provenientes da dieta pode continuar ocorrendo no fígado por algum tempo. Isto é chamado de gliconeogêse pós-prandial e ocorre para garantir um adequado armazenamento de glicogênio no fígado. 2.1.1 O metabolismo lipídico no fígado No período pós prandial, estimulado pela insulina, os ácidos graxos podem ser sintetizados em alta velocidade pelo fígado a partir de moléculas de acetil-coA. Os ácidos graxos sintetizados pelo fígado serão exportados através das lipoproteínas transportadoras VLDL até o tecido adiposo, local onde serão armazenados.
  • 4. Toda vez que o consumo de alimentos excederem a demanda energética terá o acúmulo de reservas (glicogênio e triglicerídeos). No entanto, a capacidade de armazenamento de glicogênio é bastante limitada quando comparada a de triglicerídeos. Veja que a capacidade total do fígado armazenar glicogênio é em torno de 70 g e do músculo esquelético 120 g, mas o tecido adiposo pode conter dezenas de quilogramas de triglicerídeos. A capacidade de transformar excessos alimentares em lipídeos é praticamente ilimitada e toda vez que houver desequilíbrio neste processo teremos a obesidade. 2.1.2 O metabolismo protéico no fígado No período pós-prandial, quando a concentração de aminoácidos na corrente circulatória é alta, a oxidação completa de aminoácidos fornece uma quantidade de energia significativa para o tecido hepático. Os aminoácidos podem ser totalmente oxidados pelo fígado, ou ainda, ser convertidos em glicose ou corpos cetônicos. A produção de glicogênio a partir de aminoácidos provenientes da dieta (gliconeogênese pós- prandial) é particularmente estimulada por dietas ricas em proteínas e pode persistir por algum tempo mesmo após o término de uma refeição. Nos momentos de jejum, o fígado passa a receber aminoácidos do tecido muscular priorizando a gliconeogênese. O fígado participa ativamente do catabolismo protéico, já que o ciclo da uréia é exclusivo do tecido hepático, e é a forma preferencial de excreção de nitrogênio advindo da proteólise. Por outro lado, o fígado é responsável pela síntese de todas as proteínas plasmáticas, com exceção das imunoglobulinas as quais são sintetizadas pelos linfócitos. A manutenção da concentração de proteínas circulantes nos valores adequados 6-8 g/dL exige um intenso trabalho de síntese protéica hepática. 2.2 Função do tecido adiposo A função do tecido adiposo é a de estocar ácidos graxos e liberá-los quando necessário. O tecido adiposo é amplamente distribuído por todo o corpo, mas ocorre de modo predominante sob a pele, na cavidade abdominal e no músculo esquelético. O tecido adiposo recebe a maior parte de seus ácidos graxos das lipoproteínas circulantes, conforme descrito. Os ácidos graxos são ativados pela formação dos correspondentes acetiil-CoA e esterificados com glicerol – 3 – fosfato, formando os triacilglicerois de reserva. O glicerol- 3 - fosfatos é formado pela redução do fosfato de diidroxiacetona, que é gerado a partir da glicose, na via glicolitica. Em caso de necessidade metabólica, os triacilgliceróis são hidrolisados e ácidos graxos e a glicerol nos adipocitos, pela ação de uma lípase sensível a hormônios. Se existir glicerol-3-fosfato em abundancia muitos dos ácidos graxos formados serão reesteritificados a triacilgliceróis. Se o glicerol-3-fosfato estiver em baixa concentração metabólica, ácidos graxos serão liberados na corrente sangüínea. Assim a mobilização dos ácidos graxos depende, em parte, da velocidade, de captação da glicose, uma vez a glicose é o percussor do glicerol-3-fosfato. A necessidade metabólica é sinalizada diretamente por uma redução na concentração da glicose bem como por estimulação hormonal. 2.2.1 O ciclo alimentado/jejum Tecido Adiposo: Depósito dos Estoques Energéticos
  • 5. O tecido adiposo é o segundo tecido, apenas depois do fígado em capacidade para distribuir moléculas combustíveis. Em um homem de 70 kg, o tecido adiposo pesa aproximadamente 14Kg ou cerca de metade da massa muscular total. Em indivíduos obesos, ele pode constituir até 70% do peso corporal. Um adipócito pode ter seu volume quase inteiramente ocupado por uma única gotícula de triacilglicerol. No metabolismo de carboidratos temos: 1. Aumento do transporte de glicose para dentro dos adipocitos é muito sensível à concentração de insulina no sangue. Os níveis circulantes de insulina são elevados no estado absortivo, resultando em um influxo de glicose para os adipócitos. 2. Aumento da glicólise, da disponibilidade intracelular de glicose resulta em um aumento na atividade glicolitica. No tecido adiposo, a glicólise serve a função sintética, fornecendo glicerol-fosfato para a síntese de triacilgliceróis. 3. Aumento da atividade da via das hexoses-monofostato ou via das pentoses-fosfato. O tecido adiposo pode também metabolizar a glicose utilizando a via das pentoses-fosfato, desse modo produzindo NADPH, que é essencial para síntese de ácidos graxos. Nos humanos, no entanto, a síntese de novo não é uma fonte importante de ácidos graxos para o tecido adiposo. No metabolismo dos lipídios temos: 1. Aumento da síntese de ácidos graxos. A síntese de novos ácidos graxos a partir de Acetil-CoA é quase indetectável em humanos, exceto quando um indivíduo é realimentando após um período de jejum. Em outras situações, a síntese de ácidos graxos no tecido adiposo não é uma rota importante. Em vez disso, a maioria dos ácidos graxos adicionados aos estoques de lipídeos nos adipócitos é fornecida pela gordura da dieta ou pelo fígado (na forma VLDL) 2. Aumento da síntese de triacilgliceróis. Depois de uma refeição contendo lipídeos, a hidrólise dos triacilgliceróis de quilomicra (do intestino) e VLDL (do fígado) fornece os ácidos graxos ao tecido adiposo. Esses ácidos graxos exógenos são liberados pela ação da lípase lipoprotéica, uma enzima extracelular ancorada à parede dos capilares de muitos tecidos, particularmente os tecidos adiposos e musculares. Uma vez que os adipócitos não apresentam glicerol-cinase, o glicerol-3-fosfato usado na síntese de triacilgliceróis vem do metabolismo da glicose. Portanto, no estado alimentado, os elevados níveis de glicose e insulina favorecem o armazenamento de triacilgliceróis. 3. Decréscimo da degradação de triacilgliceróis. Níveis elevados de insulina favorecem a forma desfosforilada (inativa) da lípase sensível a hormônio. Portanto, no estado alimentado, a degradação de triacilgliceróis está inibida. 2.2.2 O tecido adiposo no jejum. No metabolismo dos carboidratos temos:
  • 6. 1. Aumento da degradação de triacilgliceróis. A ativação da lípase sensível a hormônio e a subseqüente hidrólise dos estoques de triacilglicerol são aumentados pelos elevados níveis das catecolaminas adrenalina e, particularmente, noradrenalina. Esses compostos, que são liberados pelos terminais nervosos simpáticos no tecido adiposo, são fisiologicamente importantes na ativação da lípase sensível a hormônio. 2. Aumento da liberação de ácidos graxos. Os ácidos graxos obtidos da hidrolise de triacilgliceróis estocados são liberados no sangue. Ligados à albumina, eles são transportados para uma variedade de tecidos, para utilização como combustível. O glicerol produzido durante a degradação dos triacilgliceróis é usado como um percussor para a gliconeogênese no fígado. 3. Decréscimo na captação de ácidos graxos. No jejum, a atividade da lípase lipoprotéica no tecido adiposo é baixa. Conseqüentemente, triacilgliceróis de lipoproteínas circulantes não estão disponíveis para a sintse de triacilgliceróis no tecido adiposo. 3Tecido adiposo como órgão regulador do Sistema Endócrino – Inflamação e Obesidade O tecido adiposo é composto adipócitos, pré-adipócitos, fibroblastos, células endoteliais, leucócitos, monócitos e macrófagos residentes. Este tecido pode ser considerado patogênico quando o excesso da adiposidade corporal, de forma isolada ou associada aos efeitos deletérios de atividades endócrinas e imunológicas, está relacionado a desordens metabólicas. A a obesidade é caracterizada como estado de inflamação crônica de baixa intensidade. A inflamação responde de forma diretamente proporcional ao aumento da adiposidade corporal. Ou seja, a maior infiltração de macrófagos em proporção ao aumento do tamanho dos adipócitos, pode aumentar a produção de citocinas pró-inflamatórias e proteínas de fase aguda, dentre elas a MCP-1 (proteína quimiotática de monócitos-1), já que tanto os adipócitos hipertrofiados quanto os macrófagos são capazes de secretar tais citocinas e, assim, contribuir com as conseqüências fisiopatosiológicas da obesidade . O acúmulo de gordura, principalmente visceral e a inflamação sistêmica estão associados a desordens metabólicas como obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias, aterosclerose e outras doenças cardiovasculares. Entretanto, fica ainda uma pergunta: O que induz a liberação das adipocinas pelo tecido adiposo, iniciando assim a inflamação? Segundo alguns autores uma possível explicação seria a hipóxia sofrida pelo tecido adiposo devido à expansão desse tecido no desenvolvimento da obesidade (Figura 1). Ye et al. (2007 11 ) realizaram estudo in vitro e com modelos animais a fim de fornecer evidências experimentais de que na obesidade existe a hipóxia e que esta pode contribuir com a inflamação crônica de baixa intensidade e hipoadiponectinemia. Para testar essa possibilidade, os autores usaram um grupo de genes relacionados à inflamação para avaliar a resposta inflamatória. No tecido adiposo de camundongos ob/ob, todos esses genes estiveram aumentados. Sendo o aumento desses genes e a redução da expressão de adiponectina observados junto à hipóxia. Assim, a hipóxia foi associada à inflamação crônica e à inibição da adiponectina in vivo e, in vitro, foi demonstrado que a hipóxia é capaz de
  • 7. induzir a expressão de citocinas pró-inflamatórias e o decréscimo de adiponectina no tecido adiposo de camundongos magros. Trayhurn & Wood (2004 3 ) sugerem que os adipócitos hipertrofiados comprimiriam a vasculatura do tecido reduzindo a chegada de oxigênio. Em conseqüência à hipóxia, haveria um estímulo à produção de citocinas pró-inflamatórias a fim de aumentar a angiogênese e o fluxo sangüíneo. Figura 1. Mecanismo proposto para indução da inflamação a partir da hipóxia sofrida pela expansão do tecido adiposo na obesidade Fontana et al. (2007 15 ) determinaram a concentração de adipocinas inflamatórias por meio de amostras de sangue da veia porta e da artéria radial de 25 indivíduos, de ambos os sexos, com obesidade mórbida. Os autores encontraram diferenças significantes para IL-6 e leptina (p=0,007 e p=0,002; respectivamente), sendo a concentração de IL-6 50% maior na veia porta e a de leptina 20% menor em relação à artéria radial. Mostraram também a correlação positiva (r=0,544) e significante (p=0,005) entre IL-6 e PCR, comprovando que o tecido visceral é o principal responsável por promover a inflamação sistêmica por liberar maior quantidade de citocinas pró-inflamatórias diretamente na circulação portal. Sbarbati et al. (2006 16 ), avaliaram crianças obesas no estágio pré-puberal, que ainda não apresentavam as conseqüências metabólicas do sobrepeso, visto que dados de crianças obesas não estavam disponíveis. Os autores objetivaram avaliar o envolvimento inflamatório de tecido adiposo em crianças e identificar o potencial inflamatório da lesão elementar. Foi realizado um estudo do tipo caso-controle, sendo 19 crianças obesas e como controle, 5 crianças não obesas, de ambos os sexos. Por análise ultramicroscópica verificaram que os adipócitos das crianças obesas eram duas vezes maior que os adipócitos das não obesas. Além disso, essa análise indicou inflamação no tecido adiposo de todas as crianças obesas, não sendo encontrada nas não obesas. Diante disso, percebe-se que a hipóxia causada pela hipertrofia tecidual é o mecanismo inicial de estímulo à produção de citocinas pró-inflamatórias e que a inflamação progride com a expansão do tecido adiposo, especialmente, o visceral. Relação entre inflamação e obesidade
  • 8. Segundo Hermsdorff & Monteiro (2004 12 ), as adipocinas atuam em diferentes tecidos e nos próprios adipócitos modulando o comportamento destes e daqueles por mecanismos de feedback. Está claro pela presente revisão que a obesidade leva à inflamação por estimular a expressão e secreção de adipocinas pró-inflamatórias pelo tecido adiposo, mas a relação inversa, ou seja, inflamação levando o aumento do peso e obesidade tem sido sugerida por alguns autores (Figura 2). Das (2001 22 ) levanta os seguintes questionamentos “Qual é o gatilho da inflamação?” e “A inflamação é causa ou efeito da obesidade?”. Da mesma forma, Engström et al. (2003 37 ) afirmaram ser razoável perguntar quem vem primeiro: a inflamação, a obesidade ou a resistência à insulina. Segundo esses autores, algumas citocinas inflamatórias como IL-6, IL-1β e TNF-α, estão envolvidas na regulação do metabolismo e da ingestão alimentar. Os mesmos realizaram uma pequena revisão e verificaram que TNF-α regula a ação da insulina no tecido adiposo, que TNF-α e IL-1β modulam a liberação de leptina por este tecido e que um polimorfismo no gene receptor-2 do TNF-α está associado com a resistência a leptina e obesidade. Além disso, encontraram um possível mecanismo de ativação do eixo hipotálamo-pituitária- adrenal que levaria a uma hipercotisolemia e ativação simpática, sendo estes associados à obesidade central, resistência à leptina e aumento na ingestão de alimentos. Figura 2. Ciclo vicioso entre inflamação e obesidade. Citocinas estão envolvidas no desenvolvimento da obesidade ao passo que, a hipertrofia dos adipócitos estimula a liberação de citocinas indutoras do processo inflamatório Assim, Engström et al. (2003 37 ) objetivaram verificar se as proteínas plasmáticas sensíveis à inflamação (PPSI) poderiam predizer o ganho de peso futuro. Para tanto acompanharam 2821 homens não diabéticos, com idade entre 38 e 50 anos por um período de 6 anos. Verificaram que a proporção de indivíduos com maior ganho de peso aumentou de 21% entre os que não expressaram PPSI para 28,3% entre os que expressaram 3 ou mais PPSI, sendo essa diferença estatisticamente significante (p<0,0005). Os autores concluíram que elevados níveis de PPSI predizem o ganho de peso em homens de meia idade. Um dos achados de Vendrell et al. (2004 38 ) ao avaliar a interação entre resistina, adiponectina, grelina, leptina e citocinas pró-inflamatórias em indivíduos com obesidade mórbida e não mórbida, foi que os receptores de TNF-α estiveram envolvidos no sistema endócrino regulador da adiposidade corporal associado com leptina e resistina em obesos não mórbidos. Pausova et al. (2000 39 ) se propuseram a investigar se o locus do gene TNF-α está envolvido na determinação da obesidade e da hipertensão associada à obesidade em indivíduos de origem Franco-
  • 9. Canadense. Os autores sugerem que o locus do gene TNF-α contribui para o desenvolvimento da obesidade e da hipertensão associada à obesidade em indivíduos hipertensos com obesidade não mórbida. Sabe-se que os adipócitos expressam e secretam componentes do SRA e, segundo Galletti & Strazzullo (2007 40 ) uma variabilidade genética no SRA estão envolvidos na susceptibilidade ao sobrepeso e obesidade. Diante desta revisão, percebe-se maior participação do tecido adiposo visceral na indução da inflamação e da obesidade por liberar citocinas envolvidas no processo de regulação do metabolismo e ingestão alimentar, contribuindo para a expansão do tecido adiposo que, por sua vez, gera a hipóxia, responsável pelo estímulo de citocinas pró-inflamatórias. Assim, acredita-se haver, um ciclo vicioso entre obesidade e inflamação induzidas por alteração no tecido adiposo. 4. Adipocinas Tabela 1. Efeito das adipocinas no processo inflamatório TNF-α - É uma adipocina pró-inflamatória cuja secreção é diretamente proporcional ao tamanho dos adipócitos. Secretada pelo tecido adiposo, atua nos adipócitos favorecendo a lipólise e inibindo a lipogênese, estando envolvida na regulação dos estoques de energia. Está associada ao aumento da produção de PAI-1, IL-6 e PCR. Além disso, ativa a transcrição do fator nuclear-κβ (NFκβ), envolvido na resistência à insulina, metabolismo lipídico e apoptose. IL-6 - A secreção da IL-6 encontra-se aumentada em indivíduos obesos. Essa adipocina pró-inflamatória estimula a liberação de ácidos graxos livres (AGL) bem como a produção hepática da PCR. Supõe-se que seu aumento provoque uma supressão da leptina e redução da expressão IRS-1 (receptor de insulina) e GLUT-4 no fígado e músculo. Resistina - Adipocina envolvida no processo inflamatório promove a resistência insulínica, aumenta a produção de endotelina-1 (ET-1) - potente vasoconstritor e MCP-1, além de estimular a transcrição do NFκβ levando à disfunção endotelial. PCR - Proteína de fase aguda que indica inflamação sistêmica e tem o fígado como local mais importante de sua produção, sendo sua expressão regulada por muitas citocinas inflamatórias, principalmente pela IL- 6. Está diretamente relacionada ao processo aterogênico por induzir a disfunção endotelial, constituindo um importante preditor das doenças cardiovasculares (DCVs). PAI-1 - Inibidor da ativação do plasminogênio é uma proteína de fase aguda que favorece a formação de trombos por inibir a formação de plasmina e, conseqüentemente, inibição da fibrinólise e a ruptura de placas de ateroma instáveis. Leptina - Hormônio de 16 kDa produzido exclusivamente pelas células adiposas, a leptina é produto do gene da obesidade ob, sendo encontrada tanto na circulação quanto no fluido cerebroespinhal. Sua expressão e secreção são diretamente proporcionais ao tamanho dos adipócitos. A leptina, vista como um link endócrino entre o tecido adiposo e o hipotálamo, funciona como um lipostato - controla o volume do tecido adiposo e o peso corporal por inibir a ingestão alimentar e aumentar o gasto energético.
  • 10. SRA - esta envolvido na obesidade, no processo inflamatório e aterogênico. Um dos mecanismos patogênicos propostos parte da capacidade do tecido adiposo expressar e secretar angiotensinogênio, precursor de um dos maiores vasoconstritores pró-aterogênicos, a Angiotensina II (ANG II). A ANG II ativa o NFκβ que estimula a produção de moléculas de adesão endotelial dentre elas ICAM-1, VCAM-1, MCP-1 e M-CSF. Além disso, é capaz de aumentar a produção de radicais livres de NO, diminuir sua disponibilidade e facilitar a vasoconstrição, podendo ser um elo entre obesidade e hipertensão. Gonzalez et al. (200730) estudaram a possível participação do SRA na inflamação microvascular induzida pela hipóxia vascular. Os mesmos sugerem que a hipóxia estimularia células localizadas em regiões distantes e estas liberariam uma substância intermediária que é transportada pela circulação. Os resultados deste estudo sugerem que o agente intermediário ativa mastócitos, e que estes, por sua vez, estimulam o SRA com conseqüente formação de ANG II levando à inflamação. Adiponectina - Das adipocinas citadas é a única que tem ação é anti-inflamatória e anti-anterogênica, assumindo papel protetor das doenças cardiovasculares. A adiponectina, também conhecida como Acrp 30 ou Adip Q, diferentemente das citocinas pró-inflamatórias, tem sua concentração sérica reduzida com o aumento do tecido adiposo. Sua expressão e secreção é inversamente proporcional ao acúmulo de tecido adiposo visceral, é negativamente regulada por glicocorticóides e TNF-α e positivamente pela insulina. A adiponectina atua nos músculos, fígado e parede vascular. Aumenta a taxa de oxidação dos AGL, aumenta a sensibilidade à insulina e a captação de glicose, além de diminuir a liberação hepática de glicose.