5. COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN
Volume 2
JuntaEditorial
EDITOR GERAL
Clifton ]. Allen, Ex-Secretário Editorial da Junta de Escolas Dominicais
da Convenção Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
Editores Consultores doVelhoTestamento
John I. Durham, ProfessorAssociado de Interpretação doVelho Testamen
toeAdministrador Adjunto do Presidente do Seminário Batista do Sudoes
te, Wake Forest, North Carolina, Estados Unidos.
RoyL. Honeycutt Jr., Professor de Velho Testamento e Hebraico, Seminá
rio Batista do Centro-Oeste, Kansas City, Missouri, Estados Unidos.
Editores Consultores do NovoTestamento
J. W. MacGorman, Professor de Novo Testamento, Seminário Batista do
Sudoeste, Forth Worth, Texas, Estados Unidos.
Frank Stagg, Professor de Novo Testamento da James Buchanan Harrison,
SeminárioBatista do Sul, Louisville, Kentucky, Estados Unidos.
CONSULTORES EDITORIAIS
Howard P. Colson, Secretário Editorial, Junta de Escolas Dominicais da
Convenção Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
William J. Fallis, Editor Chefe de Publicações Gerais da Broadman Press,
Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
Joseph F. Green, Editor de Livros de Estudo Bíblico da Broadman Press,
Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
6.
7. Junta deConsultores
Clifton I. Alien, ex-Secretário Editorial,
Junta Batista de Escolas Dominicais
da SBC
J. P. Alien, Pastor, Igreja Batista de
Broadway, Forth Worth
JohnE. Barnes, Jr., Pastor, Igreja Batis
ta deMain Street, Hattiesburg
Olin T. Binkley, Presidente, Seminário
Teológico Batista do Sudeste, Wake
Forest, North Carolina
WilliamJ. Brown, Gerente, Departamen
to Oriental, Livrarias Batistas, Junta
Batista de Escolas Dominicais
John R. Claypool, Pastor, Igreja Batista
deCrescentHill, Louisville, Kentucky
Howard P. Colson, Secretário Editorial,
Junta Batista de Escolas Dominicais
ChaunceyR. Daley, Jr., Editor, Western
Recorder, Middletown, Kentucky
Joseph R. Estes, Secretário, Departa
mento de Obra Relacionada aos Não-
evangélicos, Junta Batista de Missões
Nacionais da Southern Baptist Con
vention
William J. Fallis, Editor-Chefe, Livros
Religiososem Geral, Broadman Press
Allen W. Graves, Deão, Escola de Edu
cação Religiosa, Seminário Teológico
Batista do Sul, Louisville, Kentucky
Joseph F. Green, Editor, Livros de Estu
doBíblico, Broadman Press
Ralph A. Herring, ex-Diretor, Departa
mento de Extensão Seminarial, Con
venção Batista do Sul
Herschel H. Hobbs, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Oklahoma City
Warren C. Hultgren, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Tulsa
Lamar Jackson, Pastor, Igreja Batista
Meridional, Birmingham
L. D. Johnson, Capelão, Universidade
Furman
J. Hardee Kennedy, Professor de Velho
Testamento e Hebraico, Seminário
Teológico Batista de NewOrleans
HermanL. King, Diretor, Divisão de Pu
blicação, Junta Batista de Escolas
Dominicais da SBC
William W. Lancaster, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Decatur, Georgia
Randall Lolley, Pastor, Primeira Igreja
Batista, Winston-Salem
C. DeWitt Mathews, Professor de Prega
ção, Seminário Teológico Batista do
Centro-Oeste
John P. Newport, Professor de Filosofia
da Religião, Seminário Teológico Ba
tista do Sudoeste
Lucius M. Polhill, ex-Secretário Exe
cutivo, Associação Geral Batista de
Virgínia
Porter Routh, Secretário Executivo Te
soureiro, Comissão Executiva, Con
venção Batista do Sul
John L. Slaughter, ex-Pastor, Primeira
Igreja Batista, Spartanburg
R.HoustonSmith, Pastor, Primeira Igre
ja Batista, Pineville, Louisiana
James L. Sullivan, Secretário Executivo,
Junta Batista de Escolas Dominicais
Ray Summers, Presidente, Departamen
to de Religião, Universidade de Bay
lor
Charles A. Trentham, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Knoxville
Keith von Hagen, Diretor, Divisão de
Livraria, Junta Batista de Escolas
Dominicais
J. R. White, Pastor, Primeira Igreja Ba
tista, Montgomery
Conrad Willard, Pastor, Igreja Batista
Central, Miami
Kyle M. Yates, Jr., Professor de Reli
gião, Universidade Estadual de Okla
homa
8.
9. Colaboradores
CliftonJ. Allen, Junta Batista de Escolas
Dominicais (aposentado): Artigo Ge
ral
Morris Ashcraft, Seminário Teológico
Batista do Centro-Oeste: Apocalipse
G. R. Beasley-Murray, Faculdade Spur
geon, Londres: II Coríntios
T. Milles Bennett, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Malaquias
ReidarB. Bjornard, Seminário Teológico
Batista do Norte: Ester
James A. Brooks, Seminário Teológico
Batista de NewOrleans:Artigo Geral
Raymond Bryan Brown, Seminário Teo
lógico Batista do Sudeste:I Coríntios
John T. Bunn, Universidade Campbell:
Cântico dos Cânticos; Ezequiel
JosephA. Callaway, SeminárioTeológico
Batista do Sul:Artigo Geral
E. Luther Copeland, Seminário Teoló
gico Batista do Sudeste: Artigo Geral
Bruce C. Cresson, Universidade Baylor:
Obadias
Edward R. Dalglish, Universidade Bay
lor:Juizes; Naum
John I. Durham, Seminário Teológico
Batista do Sudeste: Salmos; Artigo
Geral
Frank E. Eakin, Jr., Universidade de
Richmond: Sofonias
Clyde T. Francisco, Seminário Teológico
Batista do Sul: Gênesis; I e I I Crôni
cas; Artigo Geral
D. David Garland, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Habacuque
A.J. Glaze, Jr., Seminário Internacional
Teológico Batista, Buenos Aires: Jo
nas
James Leo Green, Seminário Teológico
Batista do Sudeste:Jeremias
Emmett Willard Hamrick, Universidade
de Wake Forest: Esdras; Neemias
William L. Hendricks, Seminário Teoló
gico Batista do Sudoeste: Artigo Ge
ral
E. Glenn Hinson, Seminário Teológico
Batista do Sul: I e I I Timóteo; Tito;
Artigo Geral
Herschel H. Hobbs, Primeira Igreja Ba
tista, Oklahoma City: I e I I Tessalo-
nicenses
RoyL. Honeycutt, Jr., Seminário Teoló
gico Batista do Centro-Oeste: Êxodo;
I I Reis; Oséias
William E. Hull, Seminário Teológico
Batista do Sul:João
PageH. Kelley, Seminário Teológico Ba
tista do Sul:Isaías
J. Hardee Kennedy, Seminário Teológi
coBatista de NewOrleans: Rute; Joel
Robert B. Laurin, Seminário Americano
Batista do Oeste:Lamentações
John William Macgorman, Seminário
Teológico Batista do Sudoeste: Gá-
latas
Edward A. McDowell, Seminário Teoló
gicoBatista do Sudeste (aposentado):
I, I I eIII João
Ralph P. Martin, Seminário Teológico
Fuller: I Reis
Dale Moody, Seminário Teológico Batis
ta do Sul: Romanos
William H. Morton, Seminário Teológi
co Batista do Centro-Oeste:Josué
Barclay M. Newman, Jr., Sociedade Bí
blicaAmericana:Artigo Geral
10. John P. Newport, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Artigo Geral
JohnJosephOwens, Seminário Teológico
Batista do Sul: Números; Jó (com
TateeWatts); Daniel
WayneH. Peterson, Seminário Teológico
Batista Golden Gate: Eclesiastes
Ben F. Philbeck, Jr., Faculdade Carson-
Newman:I eII Samuel
William M. Pinson, Jr., Seminário Teo
lógico Batista do Sudoeste: Artigo
Geral
Ray F. Robbins, Seminário Teológico
Batista de NewOrleans: Filemom
EricC. Rust, Seminário Teológico Batis-
tista do Sul:Artigo Geral
B. Elmo Scoggin, Seminário Teológico
Batista do Sudeste: Miquéias; Artigo
Geral
Burlan A. Sizemore Jr., Seminário Teo
lógico Batista do Centro-Oeste: Ar
tigo geral
David A. Smith, Universidade Furman:
Ageu
Ralph L. Smith, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Amós
T. C. Smith, Universidade Furman:
Atos; Artigo Geral
Harold S. Songer, Seminário Teológico
Batista do Sul: Tiago
Frank Stagg, Seminário Teológico Ba
tista do Sul: Mateus; Filipenses
Ray Summers, Universidade Baylor: I e
II Pedro; Judas; Artigo Geral
Marvin E. Tate, Jr., Seminário Teológico
Batista do Sul: Jó (com Owens e
Watts): Provérbios
Malcolm O. Tolbert, Seminário Teológi
co Batista de NewOrleans: Lucas
Charles A. Trentham, Primeira Igreja
Batista, Knoxville: Hebreus; Artigo
Geral
Henry E. Turlington, Igreja Batista Uni
versitária, Chapel Hill, Carolina do
Norte: Marcos
John S. W. Watts, Faculdade Serampo-
re, Serampore, índia: Deuteronômio;
Jó (com Owense Tate);Zacarias
R. E. O. White, Faculdade Teológica
Batista, Glasgow: Colossenses
11. Prefácio
O COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN apresenta um estudo bíblico
atualizado, dentro do contexto de uma fé robusta na autoridade, adequação e
confiabilidade da Bíblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e
orientação para ocrente que está disposto a empreender o estudo da Bíblia como
um alvo sério e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e
propósito do COMENTÁRIO, para produzir uma obra adequada às necessidades
do estudo bíblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudição
bíblica são apresentadas de forma que os leitores sem instrução teológica formal
possam usá-las em seu estudo da Bíblia. As notas de rodapé e palavras são
limitadas às informaçõesessenciais.
Osescritoresforam cuidadosamente selecionados, tomando-se em consideração
sua reverente fé cristã e seu conhecimento da verdade bíblica. Tendo em mente as
necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informações especiais
acerca da linguagem e da história onde elas possam ajudar a esclarecer o
significado do texto. Elesenfrentam os problemas bíblicos — não apenas quanto à
linguagem, mas quanto à doutrina e à ética — porém evitam sutilezas que tenham
pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bíblia. Eles expressam os
seuspontos de vista e convicções pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opiniões
alternativas, quando estas são esposadas por outros sérios e bem-informados
estudantes da Bíblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, não podem ser
consideradoscomoa posiçãooficial do editor.
O COMENTÁRIO é resultado de muitos anos de planejamento e preparação.
A Broadman Press começou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades
deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, líderes cristãos —especialmente
pastores e professores de seminários — se reuniram, para considerar se um novo
comentário era necessário e que forma deveria ter. Como resultado dessas
deliberações, em 1961, ajunta de consultores que dirige a Editora autorizou a
publicação de um comentário em vários volumes. Maiores planejamentos levaram,
em 1966, à escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de
pastores, professores e líderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966,
revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendações, que foram
cumpridas à medida que oCOMENTÁRIO se foi desenvolvendo.
No começo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o
VelhoTestamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direção do editor geral,
esseshomens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar
o COMENTÁRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos
12. escritores e na avaliação dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e
esforços, fazendo por merecer a mais alta estima e gratidão da parte dos
funcionários da Editora que trabalharam com eles.
Aescolhada Versão da Imprensa Bíblica Brasileira “de acordo com os melhores
textos em hebraico e grego” como a Bíblia-texto para o COMENTÁRIO foi feita
obviamente. Surgiu da consideração cuidadosa de possíveis alternativas, que
foram plenamente discutidas pelos responsáveis pelo Departamento de Publica
ções Gerais da Junta de Educação Religiosa e Publicações. Dada a fidelidade do
texto aos originais bem assim à tradução de Almeida, amplamente difundida e
amada entre os evangélicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza
assim o exigiu, foram mantidas as traduções alternativas sugeridas pelos próprios
autores doscomentários.
Através de todo o COMENTÁRIO, o tratamento do texto bíblico procura
estabelecer uma combinação equilibrada de exegese e exposição, reconhecendo
abertamente que a natureza dosvárioslivros e o espaço destinado a cada um deles
modificará adequadamente a aplicação desta abordagem.
Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 têm o objetivo de prover material
subsidiário, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da
Bíblia. Focalizam-se nas implicações do ensino bíblico com as áreas de adoração,
deveréticoe missões mundiais da igreja.
O COMENTÁRIO evita padrões teológicos contemporâneos e teorias mutáveis.
Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos ho
mens, a sua revelação em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propósito
para a redenção do mundo. Procura relacionar a palavra deDeus naEscritura ena
Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no
mundo de Deus.
Mediante fiel interpretação da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o
COMENTÁRIO procura refletir a inseparável relação da verdade com a vida, do
significado com a experiência. O seuobjetivoé respirar a atmosfera de relação com
a vida. Procura expressar a relação dinâmica entre a verdade redentora e pessoas
vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouvirão com maior
clarezao que Deus Pai está-lhes dizendo.
13. Sumário
Levítico RonaldE. Clements
Introdução...................................................................
Comentário Sobreo Texto.........................................
Números JohnJoseph Owens
Introdução...................................................................
Comentário Sobre oTexto.........................................
Deuteronômio John D. W. Watts
Introdução...............................................................
Comentário Sobre oTexto.......................................
Josué WilliamH. Morton
Introdução.................................................................
Comentário SobreoTexto.......................................
Juizes EdwardR. Dalglish
Introdução.................................................................
Comentário Sobre oTexto.......................................
Rute J. HardeeKennedy
Introdução...............................................................
Comentário Sobre oTexto.......................................
14.
15. LevíticoRONALD E. CLEMENTS
Introdução
I. Título, PropósitoeConteúdo
O título português “Levítico” teve a
sua origem naquele queencabeçavaoter
ceiro livro de Moisés na Septuaginta, a
tradução antiga do Antigo Testamento
para o grego, onde se chama de Leuiti-
kon, “O (livro) Levítico”. Ele passou
para a versão Vulgata Latina como “Li
ber Leviticus” e dela para o português.
Na Bíblia Hebraica, chama-se pela sua
palavra inicial Wayyiqra (“E ele cha
mou”), de acordo com o costumejudaico
antigo de usar a palavra ou frase inicial
deum livrocomo seu título.
O título português descreveolivro pelo
seu conteúdo, pois contém assuntos de
interesse levítico, embora os mesmos le
vitas sejam referidos somente em 25:32-
34. O título é, porém, plenamente jus
tificado no sentido de que o livro trata
extensivamente de assuntos referentes ao
culto que era uma preocupação especial
dos sacerdotes, aos quais os levitas esta
vam ligados pelo exercício de uma espé
cie de ministério auxiliar. O livro como
um todo, portanto, deriva o seu caráter
especial de sua preocupação com o regu
lamento docultoe com as exigências que
essecultoimpunha sobre a vida e condu
ta doshomens e das mulheres em Israel.
Instruções dirigidas a cada israelita
estão intimamente entrelaçadas com as
que se relacionavam, com muito mais
particularidade, com a comunidade sa
cerdotal. Além disso, muitos dos regula
mentos que regiam a conduta dos cida
dãos comuns teriam sido ensinados ao
povo pelos sacerdotes, que também vela
vam pelo seu cumprimento. Assim, há,
através do livro todo, um interesse leví
tico, ou sacerdotal, constante, embora
grande parte de seu conteúdo fosse diri
gida aos cidadãos israelitas comuns. Se
ria um engano, portanto, interpretar a
preocupação sacerdotal do livro como
indicação de que ele tratasse somente de
regulamentos que diziam respeito aos
sacerdotes. Abrange os aspectos da vida
em que um sacerdote estava envolvido,
quer como o dirigente no culto, quer
como o guardião especial da natureza
sagrada de Israelcomoum todo.
Achamos, por conseguinte, que Leví
tico contém muitos regulamentos sobre
afazeres cotidianos, sobre o comporta
mento familiar entre o povo de Deus e
sobre a manutenção da saúde e da higie
ne no lar e nas relações pessoais. Todos
estes eram assuntos que se esperava que
um sacerdote explicasse ao povo, os
quais se lhe mandava velar, a fim de
evitar qualquer infração do posiciona
mento santo que Deus exigia de Israel.
O título do livro é, portanto, totalmente
apropriadocomo uma descrição do cará
teressencial de seu conteúdo.
O propósito de Levíticoé, claramente,
odejuntar numa só coletânea ordenada
regulamentos diversosque diziam respei
toao oferecimento de sacrifício a Deus, à
organização do sacerdócio e muitos ou
tros assuntos que surgiam da relação
sagrada existente entre Israel e Deus.
Pode, com toda a propriedade, ser inter
15
16. pretado como um guia abrangente, que
mostra como Israel devia pôr em prática,
na rotina da vida cotidiana, a grande
promessa feita no monte Sinai: “E vós
sereispara mim reino sacerdotal e nação
santa” (Êx. 19:6).
De todos os cinco livros que compõem
oPentateuco, Levíticoé o que pode, com
maior coerência, ser descrito como Lei.
Seu conteúdo consiste, quase que exclu
sivamente, de leis e regulamentos, com
um mínimo apenas de narrativa interve
niente. Isso é mais significativo do que
possa parecer à primeira vista, porque,
embora o Pentateuco se descreva tradi
cionalmente como contendo os cinco li
vrosdalei, éessencialmenteuma obra de
narrativa histórica. Martinho Lutero re
conheceu isto, pois classificou estes livros
de histórias, e esta praxe é seguida tam
bém nos cabeçalhos da versão do Rei
Tiago (KJV). Porém Levítico contém
uma quantidade muito pequena de nar
rativa, nos capítulos 8-10 e em 24:10-23,
enquanto o restante dele é composto de
regulamentos e leis. Mesmo na narrativa
histórica que contém, há uma nítida
preocupaçãocom questões da Lei.
II. DataeAutoria
Quem escreveu o livro de Levítico e
quando foi escrito são questões tão de
perto relacionadas que têm de ser consi
deradasjuntamente. As duas são ligadas
de tal maneira ao papel de Moisés no
livro, que temos de considerar este papel
aqui. Tradicionalmente, os mestres ju
daicos aceitavamMoisés comoo autor de
Levítico, e, na realidade, do Pentateuco
inteiro. Este ponto de vista era, no pas
sado, largamente aceito dentro da Igreja
Cristã. Com o surgimento de uma eru
diçãohistóricamais críticaeprecisa, este
ponto de vista tem sido quase totalmente
abandonado, embora de uma forma um
tanto negativa, que não tentou demons
trar osmotivos práticos e religiosos sobre
que a atribuição do livro a Moisés se
fundamentava. Ê importante, desse mo
do, não apenas examinarmos tais indí
cios que o próprio livro nos dá com
respeito à data de sua origem, como
também entendermos, na medida do
possível, por que este material foi colo
cado sob a autoridade de Moisés, pois é
nada menos que isso que o próprio livro
afirma.
Devemos, em primeiro lugar, voltar-
nos para a questão da data do material
apresentado nolivrode Levítico. Já nota
mos que, em sua maior parte, este ma
terial consiste em coleções de leis que
regem o oferecimento dos sacrifícios, a
ordem do sacerdócio, e uma gama de
assuntos em que as obrigações religiosas
afetam a vida cotidiana. Quando consi
deramos como tais regulamentos surgem
dentro de uma comunidade, é evidente
que não aparecem todos de uma só vez,
em forma de um programa pormenoriza
do de obrigações, mas, sim, gradativa-
mente, durante um número considerável
de anos, à medida que a experiência e a
necessidadeimpõem a organização da so
ciedade e a direção doculto.
Os regulamentos individuais detalha
dos emergem em resposta a situações
específicas, muito embora os princípios
fundamentais sobre que semelhantes
princípiossealicerçam sejam muito mais
antigos. Assim era, indubitavelmente,
em Israel, e não devemos ter receio de
reconhecer que a coleção final de todos
os regulamentos e leis coligados em Le
vítico não se deu senão numa data rela
tivamente tardia na história literária do
Pentateuco. No entanto, isso não mini
miza o fato de que esse processo, de
expor em forma de regulamentos por
menorizados aquilo que significava para
Israel ser opovo santo de Deus, repoüsa
em certos princípios fundamentais que
são tão antigos quanto opróprio Israel.
Estesprincípios diziam respeito à ofer
ta a Deus de uma parte do aumento de
todos os rebanhos, manadas e de cam
pos; também diziam respeito à santidade
associada a semelhantes oferendas. O
16
17. oferecimento delas em sacrifício impu
nha certas precauções, especialmente a
abstenção de sangue e gordura, por cau
sa da relação especial existente entre
estes e a vida animal. A observação de
certas estações de festas sagradas era
também fundamental para Israel, ser
vindo elas como expressão de lealdade a
Deus e como um envolvimento da di
mensão do tempo na santidade de Deus.
A questão da data, portanto, assume
certa complexidade, visto que não se
deve permitir que a forma final dada a
determinada lei esconda o fato de que
por detrás dela houve uma longa história
de experiência e prática, expressa atra
vés de regulamentos semelhantes. Uma
vez que a relação entre Israel e Deus era
especial, revelada na história e afirmada
na experiência, as suas leis também ex
perimentavam desenvolvimentos e modi
ficações para corresponderem às necessi
dadesprogressivas da vida sob a aliança.
Leis fixas e imutáveis teriam resultado
num “congelamento” da relação com
Deus.
Uma outra consideração também vem
ao caso aqui. O registro por escrito de
leis que regiam a direção do culto e os
deveressacerdotais não é largamente evi
dente no mundo do Oriente Médio anti
go. Não há dúvida de que tais registros
foram um passo relativamente tardio em
Israel.1
Longe de ser o registro por escrito de
uma lei do culto uma expressão do está
gio durante o qual entrou ela, pela pri
meira vez, em vigor, indica antes o ponto
no qual um costume, ou tradição, longa
mente praticado chegou a ser documen
tado. Anteriormente a leiteria sidocerta-
1 Ver especialmente E. Nielsen, Oral Tnditioii, A Mo-
dem Problem in Old Testament Introduction (Londres:
SCM Press 1954), p. 39 e ss., para o argumento em iavor
de uma data tardia para os registros, por escrito, das
tradições legal e histórica em Israel. Nielsen é, porém,
céptico demaissobre ouso do escrito para finsespeciais em
períodos anteriores. Material comparativo útU da área
nào-bíblica se pode achar em J. Vansina, Orai Tradition:
AStudyin HistoricalMethodology.Trad, para oinglês por
H.M. Wright(Londres: Routledge, 1965).
mente lembrada e transmitida oralmen
te, de geração em geração, dentro das
famílias sacerdotais. A própria restrição
da realização dos deveres sacerdotais a
determinadas famílias era, em parte,
uma salvaguarda da preservação precisa
desseconhecimentoespecializado.
Não houve nenhum motivo uniforme
para a ocorrência da mudança da trans
missão oral para a escrita, mas podemos
aceitar que era, muitas vezes, conse
qüência de uma época de crise ou de
transição. Uma lei foi escrita e coligada
com outras leis quando estava em pe
rigo de esquecimento ou de negligência.
No Israel antigo, a maior crise desta
natureza teve lugar em 587 a.C., com a
destruição do templo em Jerusalém e a
deportação de grande parte da popula
ção de Jerusalém, inclusive de seus prin
cipais sacerdotes. Este evento proporcio
nou tão séria ameaça à continuação do
culto e da vida religiosa de Israel que,
por conseguinte, muitos regulamentos e
leis, que anteriormente tinham sido
transmitidos oralmente, foram agora re
gistrados por escrito. Foi esse processo,
que prosseguiu durante o exílio babiló
nicoe depois dele, que serviupara criar o
nossolivroatual de Levítico.
£ importante notar que este estágio da
escrita de uma lei não indica a data de
sua origem ou de sua entrada em vigor,
mas é um passo relativamente tardio em
sua história. As leis individuais, como
regulamentosque regiam o culto e a vida
comunitária, eram muitomais antigas do
que a sua coleçãoem forma de documen
to escrito. Assim, falar em autoria no
sentido moderno levaria a mal-entendi
dos, pois oautor quepreservouum relato
da lei por escrito não seria a mesma
pessoa, nem sequer um contemporâneo
daquele que a compôs. Enquanto muitas
vezes podemos aprender algo do pano de
fundo e da situação do coletor das leis,
geralmente há pouco que indique as cir
cunstâncias ou data em que uma lei apa
receupelaprimeiravez.Taisleissão, pela
17
18. sua natureza, atemporais no sentido de
que não dependem de uma ligação com
os eventos específicos da história externa
nem contêm normalmente referências a
qualquer momento quando tenham co
meçado a vigorar.
Podemos afirmar muito pouco, por
tanto, quanto à data exata quando os re
gulamentos individuais no livro de Leví-
tico começaram a ser observados em
Israel. Que muitos deles são de grande
antiguidade não há dúvida. Ê também
certo quehouveum processo contínuo de
revisãoe de adaptação dessas regras que
diziam respeito ao relacionamento de
Israel com Deus. Esse elo era vivo, e
mudanças de circunstâncias levavam a
alterações e melhorias nos detalhes e nas
formas de culto. Assim, até a época de
sua coleção no livro de Levítico, esses
regulamentos, em sua maior parte, já
tinham passado por uma história consi
derável.
Quanto à data de composição final de
Levítico,já sugerimos que se tenha dado
depois do exílio, e podemos agora pros
seguir com a consideração do assunto.
A parte literária mais antiga do livro se
acha, quase certamente, nos capítulos
17-26, os quais originalmente compu
nham um livrode leis independente, nor
malmente chamado de Código da Santi
dade, por causa de sua exigência carac
terística que Israel fosse santo. Como
uma obra separada, formava um manual
de instrução sacerdotal para Israel, que
foi coligado e redigido em Jerusalém
antes da queda do templo. O manual de
sacrifíciocontidoem Levítico 1-7foitam
bém, provavelmente, uma obra indepen
dente, que surgiu da necessidade de ins
trução, tanto para os sacerdotes como
para os leigos, sobre as modalidades e as
formas de sacrifício. Também podemos
aceitar que as leis de higiene, contidas
em Levítico 11-15, surgiram de listas
separadas, guardadas pelos sacerdotes
em Jerusalém. Este material foi então
unido, e o núcleo desta redação e cole
ção era a narrativa histórica de Levítico
8- 10.
Esta narrativa é a continuação direta
do mais recente e abrangente dos relatos
das origens de Israel que compõem o
nosso Pentateuco. Este âmago histórico,
descrevendo o começo do culto de Israel
no Sinai, foi que proporcionou o ponto
central para os vários manuais e listas
que, de maneiras diversas, relacionavam-
se com esse culto. Assim Levítico reúne
de uma maneira tão completa quanto
possível tudo que dizia respeito ao contí
nuo cultoevida de Israel como o povo de
Deus. Os regulamentos de Levítico ha
viam de formar uma ponte, portanto,
entre o evento passado da revelação de
Deus no Sinai e o culto diário, no San
tuário de Israel, que se originou naquele
evento.
Temos agora de considerar o significa
do da figura de Moisés para a composi
ção e origem de Levítico. Não há dúvida
que, de todos os grandes personagens de
Israel, é Moisés quem está mais direta
mente associado com Levítico e é quem
se apresenta como aquele que, orientado
por Deus, deu ao livro sua autoridade e
caráter mandatário. Tanto o versículo
inicial como o final do livro (1:1; 27:34)
afirmam que o ensino e as leis de Leví
tico são uma revelação divina para Israel
através de Moisés. Repetidas vezes, atra
vés da obra, achamos seções ligadas pela
fórmula “O Senhor disse a Moisés”.
Esta ênfase não se concilia facilmente
com a descoberta crítica de que os regu
lamentos de Levítico foram compilados
de um amplo arco da história de Israel e
escritos numa época relativamente tardia
em sua vida.
Podemos reconciliar essa divergência
somentepor indagar sobre a natureza e a
finalidade da atribuição do livro a Moi
sés. Certamente não podemos entendê-la
comosignificando que Moisés tenha sido
o autor do livro no sentido moderno que
se atribui à palavra autoria. É significa
tivo que, embora Arão, o cabeça ances-
18
19. trai das famílias sacerdotais de Israel, se
avulte no livro, não é a pessoa dele que
dâ autoridade ao todo. Nem se acha o
nome de Davi no livro, muito embora
fosse ele quem tivesse sido responsável
•pelo estabelecimento do culto de Israel
em Jerusalém (II Sam. 6:17; Sal. 132:
1-10), onde a maior parte do material
contido em Levítico, se não todo, foi, em
certa altura da história, ensinado e prati
cado. É Moisés, e só o nome dele, que
confere a Levíticoseu cunho de autorida
de e que o caracteriza como uma des
crição das formas de culto e instrução
sacerdotal que Deus tinha entregue ao
seu povo Israel. Qual, então, é o segredo
da autoridade mosaica?
Para responder a esta pergunta, te
mos, primeiro, de voltar aos primórdios
de Israel. O Deus a quem Israel chegou a
adorar como Soberano e Senhor tinha
primeiramente declarado a sua vontade
nasleisque acompanharam a sua doação
da aliança no monte Sinai (Êx. 19-33).
Por isso também Israel chegou a ser
conhecidopor aquilo que era, pela alian
ça que lhe deu um destino e uma origem
divinos. Seu Deus havia de se tornar co
nhecido às nações do mundo como o
Deus de Israel. Tanto Deus como seu
povo foram indissoluvelmente ligados,
aos olhos das nações, pela aliança que o
próprio Deus tinha estabelecido. Num
notável lance de auto-revelação, Deus
tinha secomprometidocom ohomem.
Amemória que Israel tinha desseeven
to afirmava que Moisés era o mediador
da aliança e que foi através dele que a
sua realidade e as suas condições se
descobriram. Sem Moisés, Israel teria
ficado sem olhos para enxergar a glória
deDeuse sem ouvidos para ouvir a men
sagem dele. Significativamente, também
é Moisés quem se apresenta como o pri
meiro a inaugurar o culto de Israel den
tro da aliança por meio de sacrifícios
(Êx. 24:4-8). Todo o culto relativo à
aliança, em Israel, portanto, ficou den
tro da tradição e do padrão que tinha
começado com Moisés. É este fato que
jaz por detrás da forma que apresenta
Levíticocomoum livrode Moisés.
Visto que Levítico reúne e descreve os
regulamentos sacerdotais, por meio dos
quais Israel havia de continuar seu culto
aoDeus com quem estava comprometido
por aliança, estes regulamentos foram
considerados como se conformando ao
padrão que Moisés tinha estabelecido.
O culto relativo à aliança em Israel era,
portanto, entendido como estabelecido
sob a autoridade de Moisés. O que, pela
história e pela experiência, para a cons
ciência de Israel, foi aprovado como, na
verdade, pertencente à sua fépactuai, foi
considerado como compartilhando da
autorização de culto outorgada por Moi
sés. Esse não era umjuízo literal, basea
do nas fontes conhecidas da história ou
nos documentos, mas umjuízo religioso,
fundamentado no que era certo e cabia
dentro da experiência comprovada do
povo de Deus. A autoridade de Moisés
significava a autoridade da aliança que
unia Israel a Deus. O que Moisés deu
não foium código de regulamentos fixo e
inalterável, quepoderia, por fim, tomar-
se embaraçoso e arcaico, mas, sim, uma
tradição vivade culto dentro deumarela
ção de aliança. Precisamente por causa
disso a continuidade vital de tradições
sacerdotais de culto em Israel podia de
clarar-se mantenedora da tradição que
Moisés tinha instituído.
A atribuição do livro de Levítico a
Moisés expressa, portanto, um juízo al
tamente relevante e significativo sobre o
valor e autoridade religiosos do que con
tém. Marca-o indelevelmente como per
tencendo à aliança entre Deus e Israel.
m . SignificadoReligioso
Ê evidente, mesmo numa primeira lei
tura, que Levítico é um livro de prática
antes do que de teoria. Isso quer dizer
que os seus regulamentos tinham a fina
lidade de estimular a prestação de for
mas específicas de culto e de um deter-
19
20. minado tipo de conduta, antes do que de
ensinar determinadas doutrinas e cren
ças. Porém existe uma grande riqueza de
doutrina e fé em Levítico, que se pode
discernirfacilmente, eque proporciona o
significado e a explicação de todas as
suas exigências.
Levítico baseia-se numa compreensão
religiosa da vida, ao mesmo tempo ele
vadae detalhada, epressupõeum concei
to de Deus tão elevadoe espiritual quan
to se possa achar em qualquer lugar do
Antigo Testamento. Posiciona-se dentro
da corrente principal do pensamento teo
lógico de Israel e fundamenta todas as
suas exigências em seu entendimento
particular de Deus e em sua relação com
Israele com o mundo. O ensino religioso
deLevíticoé, portanto, não tanto explici
tado quanto aceito comojá conhecido de
seus leitores. Ele vem à tona claramente
apenas em alguns pontos determinados.
Porém não é difícil desvendar esse pano
defundo teológico pela atenção cuidado
sa dada aos regulamentos contidos no
próprio Levítico e pela consulta dos li
vros anteriores de Gênesis e Êxodo, que
elesuplementa.
A primeira crença e de maior alcance
que subjaz às leis de Levíticoé que Deus
está realmente presente com o seu povo.
Os regulamentos para o culto e especial
mente ospara o oferecimento dos sacrifí
cios são expostos como mandamentos,
que devem ser cumpridos na própria
presença de Deus, que se acha no taber
náculo. É aqui que apresença de Deus se
revela a Israel por meio de sua glória
(Êx. 25:8).
Depois de longo tempo, essa tenda do
período desérticofoisubstituída por uma
casa mais permanente, em Siló, e esta,
por sua vez, deu lugar ao Templo de
Jerusalém. Mas houve reconhecimento
da continuidade, que fez com que a tra
dição israelita de culto em seu santuário
central constituísse um testemunho per
pétuo da presença constante de Deus no
meiode seupovo. Todosos regulamentos
para oculto contidos em Levítico pressu
põemessacrençana presençadeDeusno
tabernáculo, ou tenda da congregação,
comotambém échamado. O oferecimen
to de sacrifícios era sempre “perante o
Senhor”, que não estavalonge de seu po
vo, mas, sim, presente nosantuário, para
o qual o cultuador trazia a sua dádiva.
O culto de Israel era oferecido em tributo
a Deus, que cumpria a promessa da
aliançaporpermanecercom o seu povo e
por lhe dar, de seu santuário, a sua
bênção.
Das idéias principais de Levítico, a
segundaé que Deus é perfeitamente san
to e que a sua presença com Israel es
tende essa santidade para cobrir a vida
inteira da nação. Certamente não deve
mos separar este conceito de sua santi
dade do requisito moral de distinguir o
certo do errado na vida cotidiana. Po
rém era muito mais que isso; denotava
um podere espírito de Deus, que afetava
aspessoas eascoisas quelhepertenciam.
Seu oposto é a imundície, que descreve
essas formas de vida física e mental que
seopõem a Deus — as doenças, a morte,
os ritos e objetos rituais pagãos, bem
como formas de vida naturais, tais como
animais, que podiam ser portadores de
doenças.
Assim, em preservando a santidade de
Israel, Levíticotambém sepreocupamui
to em proteger Israel contra tudo que
pudesse comprometer ou destruir essa
santidade. Suas regras para a pureza do
culto são, portanto, nitidamente ligadas
às suas regras para a higiene e a obe
diência moral, visto que todos esses as
pectos da vida pertencem à santidade de
Israel. Para Levítico, o mundo não é um
lugar neutro, onde os homens possam
fazer o que bem entendem, mas, sim,
um lugar onde se defrontam em toda
partecom asexigências doDeussanto.
Esta ênfase fundamental na presença
deDeuscom oseu povo Israel e na santi
dade que essa presença tanto afirma
como exige leva a mais uma caracterís-
20
21. tica teológica de Levitico. O livro pres
supõe, como sua base, que a vontade de
Deus de que o seu povo deva viver numa
relação santa com ele recebeu expressão
no ato gracioso de eleição no monte
Sinai, pelo qual ele tomou Israel como
parceiro em aliança consigo mesmo (Êx.
19:6). A santidade de Israel é, portanto,
o resultado de um ato da graça divina, e
não uma conseqüência de suas próprias
ações. Nãoé simplesmenteuma condição
devida, deumtipoquasefísico,mas,sim,
um dom de Deus, que está arraigado em
sua açãopassada na história.
É por este motivo que uma importân
cia teológicaconsiderável seassocia à au
toridade mosaica atribuída ao livro. To
dos os seus regulamentos e leis estão en
gastados em suas narrativas históricas,
que descrevem os acontecimentos no
monte Sinai. Foi lá, pela declaração de
Deus na aliança, que Israel se tomou um
povo santo, e as leis de Levitico preten
dem demonstrar comoIsrael podia conti
nuar avivernesseestado de santidade.
Um movimento triangular muito ins
trutivo e impressionante, assim, se evi
dencia na estrutura teológica da obra.
O santo ser de Deus é, por definição,
atemporal e etemo, porém, em sua auto-
expressão para com o homem, ele reve
lou a sua vontade num momento no tem
po, quando acolheu Israel na aliança
comeleno Sinai.
Levíticomostra comoIsrael, através de
seu culto, foi capacitado a perpetuar e
tomar contemporânea essa auto-entrega
de Deus na aliança. O culto em Israel
era, num sentido bem real, uma reapre-
sentação dos atos salvíficos de Deus do
passado, pela qual a nação podia con
tinuar a viver dentro da experiência da
salvação. Nãoera simplesmente uma res
posta dos homens a Deus, embora conti
vesse esse elemento, mas também um
meio contínuo da ação e graça divinas.
O cultoservia, portanto, para atualizar a
relação salvífica com Deus, pela qual
Israel tinha sido criado, e tomava-a uma
experiência contínua da nação. O Deus
etemo, a história passada de sua revela
çãoea experiência presente de seu poder
ebondade são, assim, integrados no con
ceito da santidade, do qual Levíticofala.
Embora, em muitas de suas exigên
cias, Levítico pareça estar muito remoto
de nosso mundo modemo e de nossas
necessidades religiosas, tem muito que
nos dizer pelas suas doutrinas subjacen
tesebásicas. Destaca ofato de que nossa
maior necessidade não é de um conceito
abstrato de Deus, mas, sim, de uma
experiência de sua presença e de um co
nhecimento de como achá-la. O conheci
mento de Deus não é uma idéia que se
busque, mas, sim, uma comunhão para
ser vivida e expressa na vida cotidiana.
Isso nos impõe as suas exigências custo
sas em nos chamar à obediência e à
adoração. A tentativa de cumprir essas
exigências mostra que os homens não
podem, eles mesmos, ganhar a batalha
contra o pecado e a impureza, mas têm
de permanecer dependentes da graça de
Deus, pela providência, por parte dele,
de um meio de reconciliação. Como tão
bem descreve a Epístola aos Hebreus, as
leis de Levítico apontam para a cruz de
Cristo.
EsboçodoLivrodeLevítico
I. InstruçõesPara osSacrifícios
(1:1; 7:38)
1. AOferta Queimada(1:1-17)
2. AOferta de Cereais(2:1-16)
3. AOfertaPacífica(3:1-17)
4. As Ofertas Pelo Pecado e Pela
Culpa(4:1-6:7)
5. Instruções Para os Sacerdotes
com Relaçãoaos Sacrifícios
(6:8-7:38)
II. O Começo do Culto de Israel no
Sinai(8:1; 10:20)
1. AConsagraçãode Arãoe de Seus
Filhos Como os Sacerdotes de Is
rael(8:1-36)
2. Os Primeiros Sacrifícios Públicos
em Israel(9:1-24)
21
22. 3. O Erro de Nadabe eAbiú
(10:1-20)
III. Os Regulamentos Concernentes à
Pureza(11:1; 15:23)
1. Animais Limpos e os Imundos
(11:1-47)
2. A Impureza Relacionada com o
Parto (12:1-8)
3. Impureza Resultante da Lepra
(13:1; 15:33)
(1) ODiagnóstico da Doença
(13:1-46)
(2) A Identificação da Doença
nas Roupas(13:47-59)
(3) As Ofertas Pela Purificação
(14:1-32)
(4) O Processo Para a Lepra em
Casas(14:33-57)
(5) Impureza Pelos Fluxos Cor
porais(15:1-33)
IV. O Grande Dia daExpiação
(16:1-34)
V. OCódigoda Santidade(17:1; 26:46)
1. A Oferta de Sacrifício e o Co
merCarnes(17:1-16)
2. Os Regulamentos com Respeito
aoCasamento(18:1-30)
3. Uma Lista Geral deLeis
(19:1-37)
4. Leis Que Implicam a Pena de
Morte(20:1-27)
5. A Santidade dos Saeerdotes
(21:1-24)
6. A Santidade das Ofertas
(22:1-33)
7. O Calendário dosFestivais
(23:1-44)
(1) Festivais de Instituição Di
vina(23:1-3)
(2) OFestival da Primavera
(23:4-14)
(3) O Festival do Começo do
Verão(23:15-22)
(4) O Festival do Outono
(23:23-44)
8. O Culto Regular no Santuário
(24:1-9)
9. A Validade da Lei de Israel
Para Estrangeiros(24:10-23)
10. O Ano Sabático e o Ano do Ju
bileu(25:1; 26:2)
11. RecompensaseCastigos
(26:3-46)
VI. Leis com Respeito a Juramentos e
OfertasVotivas(27:1-34)
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ComentárioSobreoTexto
I. InstruçõesParaos Sacrifícios
(1:1-7:38)
A primeira parte do livro de Levítico é
dedicada a um manual pormenorizado
de instruções para o oferecimento de
sacrifício a Deus. Seu contexto histórico
é muito importante. O livro de Êxodo
narra o resgate divino do Egito e a alian
ça entre Deus e Israel feita no Sinai.
Isso é seguido por uma série de instru
ções para a construção do tabernáculo
(Êx. 26,27) e a ordenação do sacerdócio
da linha de Arão (Êx. 28,29). A constru
ção do tabernáculo, a “igreja no deser
to”, é, então, empreendida sob a direção
de Moisés (Êx. 35-40), e Deus aceita-o
como um lugar digno para o culto, por
ali revelar a sua presença na nuvem de
sua glória(Êx. 40:34-38).
Na continuação desta narrativa histó
rica, Levítico 8 e 9 contam da realização
das instruções divinas para a ordenação
de Arão e de seus filhos como sacerdotes
e do oferecimento dos primeiros sacrifí
cios a Deus no altar do tabernáculo
recém-construído. Antes que essas deter
minações fossem cumpridas, porém, foi
necessário expor as instruções estabele
cidas por Deus para os diversos tipos de
sacrifícios que se haviam de fazer no
novo santuário. Assim, Levítico 1:1-7:38
constituem, essencialmente, o manual de
sacrifício de Israel. Os capítulos l:l-6:7
contêm instruções para pessoas leigas,
concernentes aos quatro tipos principais
de sacrifícios que se hão de oferecer, e
6:8-7:38 contêm regulamentos estabele
cidos para os sacerdotes com relação a
essas ofertas. O compartilhamento do
ministério do sacrifício entre os sacerdo
tes e os israelitas leigos é, assim, bem
apresentado.
Acolocação deste manual de sacrifício
neste ponto da história da obra salvífica
de Deus para com Israel é muito impor
tante. Enfatiza que o culto de Israel,
centralizado no tabernáculo e expresso
de forma máxima no oferecimento do
sacrifício, era o meio dado por Deus,
pelo qual a salvação do Êxodo e a co
munhão com Deus, declaradas na alian
ça do Sinai, haviam de ser continuamen
te experimentadas por gerações sucessi
vas deisraelitas. O ato histórico do resga
te foi transferido a gerações posteriores
nas bênçãos que recebiam de Deus em
seu culto. Assim, o culto centralizado no
tabernáculo, e, mais tarde, no templo,
foi o meio pelo qual o poder da salvação
deDeusfoiestendido através da história.
Esse manual de sacrifício é apresenta
do como uma revelação divina a Israel
através de Moisés. Ê o próprio Deus que
torna sabida a modalidade de culto que
lhe agrada. Isso remove por completo
qualquer sugestão que o oferecimento de
sacrifício em Israel fosse uma obra hu
mana, destinada a conquistar o afeto de
um Deus indisposto ou a persuadi-lo a
ser gracioso. Ê precisamente porque
Deus é gracioso que ele tem revelado as
modalidades de culto e de sacrifício que
lhe agradam.
Istoéparticularmente importante por
que, entre os vizinhos de Israel, certa
mente era corrente o ponto de vista de
que ,os homens, por oferecerem sacrifí
cios, eramcapazes de satisfazer uma ne
cessidade de Deus e assim tomá-lo favo
rável aos que o cultuavam. Não há dú
23
24. vida de que, dada a semelhança conside
rável entre os ritos sacrificais de Israel e
os de seus vizinhos, essa atitude também
seinfiltrou em Israel. Talponto devistaé
totalmente excluído, pela demonstração
de que é precisamente porque Deus é
graciosoque elemostra aoseu povocomo
devecultuá-lo. O sacrifícioera importan
te para Israel não porque satisfazia uma
necessidade emDeus, mas porque supria
uma necessidade em Israel e lhe possibi
litava continuar no gozo da bênção divi
na. Desta maneira, por detrás do rito do
sacrifício, que expressava a dádiva do
homem a Deus, afirmou-se a verdade de
que mesmo essa oportunidade de dar a
Deus era um sinal de seu favor e uma
conseqüência de seu dom anterior da
salvação. A maneira como o código sa
crifical de Israel é colocado dentro~da
revelação no Sinai revela que o culto a
Deus éum dom de Deus aos homens que
satisfaz as necessidades deles, e nãoas de
Deus.
A questão da época em que este ma
nual de sacrifício foi redigido pode ser
respondida somente de maneira muito
geral. Na forma em que existe atualmen
te, foi inserido na tradição global que
Israel possuía de sua história e constitui
ção, em data relativamente tardia, al
gum tempo depois do exílio. Porém o
oferecimentode sacrifícios dentro do cul
to pactuai de Israel remonta ao começo
da história da nàção, ao tempo de Moi
sés. Os regulamentos que regiam a natu
reza desses sacrifícios e a maneira como
haviam de ser oferecidos foram transcri
tos das práticas contemporâneas e com
pilados em forma de leis através de um
longo período. Na forma em que existem
atualmente, refletem os padrões do culto
que se estabeleceu no templo em Jerusa
lém durante o período da monarquia
israelita. Aqui, oculto de Israel alcançou
assuasformas mais belaseexpressivas.
A finalidade da compilação de seme
lhante manualfoia de simplesmentepro
videnciar para os cultuadores leigos ori
entações com relação à maneira como os
sacrifícios deviam ser oferecidos e tam
bém definir, tanto para leigos como para
os sacerdotes, os seus deveres respecti
vos. As próprias leis são principalmente
de natureza técnica e prática, e visam
descrever o ritual a ser observado, mais
do que explicar os propósitos e a nature
za do sacrifício em si. Em certa fase,
semelhantes leis foram preservadas no
santuário onde sefaziam tais sacrifícios e
certamente escritas para facilitar a con
sulta de cultuadores e de sacerdotes. Tal
vez também, em alguma época, o sacer
dote tenha tido o costume, por ocasião
dosgrandesfestivais, de recitar oralmen
te, para o povo, a forma de ritual que
devia observar, ao trazer as suas ofertas.
O significado e propósito dos sacrifícios
não são dados explicitamente em lugar
algum no Antigo Testamento, presumi
velmente porque se supunha serem já
conhecidos de todos quefreqüentavam os
cultos. No entanto, os pormenores e as
alusões nos possibilitam inferir o seu
significado.
1. AOferta Queimada(1:1-17)
1 Ora, chamou o Senhor a Moisés e, da
tenda da revelação, lhe disse: 2 Fala aos
filhos de Israel e dize-lhes: Quando algum
de vós oferecer oferta ao Senhor, oferece
reis as vossas ofertas de gado, isto é, do
gado vacum e das ovelhas. 3 Se a sua oferta
forholocausto de gado vacum, oferecerá ele
um macho sem defeito; à porta da tenda da
revelação o oferecerá, para que ache favor
perante o Senhor. 4 Porá a sua mão sobre a
cabeça do holocausto, e este será aceito a
favor dele, para a sua expiação. 5 Depois
imolará o novilho perante o Senhor; e os
filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o
sangue, e espargirão o sangue em redor
sobre o altar que está à porta da tenda da
revelação. 6 Então esfolará o holocausto, e
o partirá nos seus pedaços. 7 E os filhos de
Arão, o sacerdote, porão fogo sobre o altar,
pondoem ordem a lenha sobre ofogo; 8tam
bém os filhos de Arão, os sacerdotes, porão
em ordem ospedaços, a cabeça e a gordura,
sobre a lenha que está no fogo em cima do
altar;9a fressura,porém,e as pernas, ele as
lavará com água; e o sacerdote queimará
24
25. tudo isso sobre o altar como holocausto,
oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor.
10 Se a sua oferta for holocausto de gado
miúdo, seja das ovelhas seja das cabras,
oferecerá ele um macho sem defeito, 11e o
imolará ao lado do altar que dá para o
norte, perante o Senhor; e os filhos de Arão,
ossacerdotes, espargirão osangue em redor
sobre o altar. 12 Então o partirá nos seus
pedaços, juntamente com a cabeça e a gor
dura; e o sacerdote os porá em ordem sobre
a lenha que está no fogo sobre o altar;
13 a fressura, porém, e as pernas, ele as la
vará com água; e o sacerdote oferecerá
tudo isso, e o queimará sobre o altar; holo
causto é, oferta queimada, de cheiro suave
ao Senhor. 14 Se a sua oferta ao Senhor for
holocausto tirado de aves, então de rolas ou
de pombinhos oferecerá a sua oferta. 15E o
sacerdote a trará ao altar, tirar-Ihe-á a ca
beça e a queimará sobre o altar; e o seu
sangue será espremido na parede do altar;
16e o seu papo com as suas penas tirará e o
lançará junto ao altar, para o lado do orien
te, nolugar da cinza; 17e fendê-la-á junto às
suas asas, mas não a partirá; e o sacerdote
a queimará em cima do altar sobre a lenha
que está no fogo; holocausto é, oferta quei
mada, de cheiro suave ao Senhor.
A oferta queimada era a forma princi
pal de sacrifício em Israel. Por esse moti
vo, vem em primeiro lugar nesta lista de
sacrifícios. O formato e conteúdo das
instruções para oseu oferecimento foram
seguidos muito de perto por aquelas que
dizem respeito à oferta pacífica no capí
tulo3. Expostas deuma maneira direta e
pragmática, sâo as informações que pos
sibilitariam ao cultuador comum ofere
cer sua oferta queimada a Deus. Dá-se
atençãoparticular aos deveres que opró
prio cultuador havia de desempenhar e à
definição dos que eram da responsabili
dade dosacerdote.
O ritual como um todo pode ser divi
dido nas seguintes ações principais: (1) a
apresentação da oferta na entrada do
santuário(v. 3,10,14); (2) a colocação da
mão do ofertante sobre a cabeça da
vítima (v. 4); (3) a execução da vítima
(v. 5,11); (4) oespargirdo sangue sobre o
altar (v. 5,11,15); (5) a esfoladura do
animal e a sua divisão em pedaços
(v. 6,12,16,17); (6) a queima de certas
partes da vítima sobre o altar (v. 8,9,12,
13,15,17).
É evidente que são especificamente
essas ações que implicam contato direto
com o altar que foram reservadas para o
sacerdote. O derramamento do sangue
da vitima sobre o altar, a ordenação e o
acender dofogosobreele e a queima, em
si, das partes da vitima eram todos deve
res do sacerdote. O altar, como o lugar
da reconciliação entre Deus e o homem,
era considerado sacríssimo, e as ações
que implicavam contato com o mesmo
foram reservadaspara os sacerdotes, que
compartilhavam de sua natureza espe
cial, sagrada (cf. Ez. 44:4-31). Fora dis
so, o cultuador comum desempenhava
um papel surpreendentemente grande,
no oferecimento do sacrifício, pois ele
matava o animal, esfolava-o e dividia-o
em pedaços.
Um interesse especial recai sobre a
colocação das mãos do cultuador sobre a
cabeça doanimal designadopara o sacri
fício. O significado desta ação não é de
tudo claro. Aparece de novo, de maneira
especial, no Dia da Expiação, quando o
próprio sumo sacerdote colocava as suas
mãos sobre obode, queera levado para o
deserto (16:21). Neste caso se afirma
claramente que o propósito dessa ação
era a transferência dos pecados de Israel
para o bode, que em seguida os levava
embora para odeserto. No caso da oferta
queimada, essa transferência de pecado
não é tão claramente afirmada (1:4).
O significado desse gesto é, aparente
mente, o da identificação. A colocação
das mãos do cultuador sobre a cabeça da
vítima declara de quem é o sacrifício e
para quem a reconciliação que obtém
seráválida. Assim, serve, de uma manei
ra especial, para demonstrar a posse da
vítima por parte do cultuador, e o desejo
dele de buscar a graça divina por meio
dela. Serviu para ligar o desejo e a inten
ção nítidos docultuador ao ritual externo
dosacrifício, que, como sabemos das crí
2S
26. ticas dos profetas (Os. 6:6; Am. 5:21-24;
Miq. 6:6-8), podia facilmente descambar
para o vazio de uma formalidade ex
terna.
Levítico 1:9 descreve a oferta queima
da como de cheiro suave ao Senhor. Esta
expressão aparece várias vezes em rela
ção à oferta queimada eà oferta pacífica.
Literalmente, quer dizerum cheiro “aca-
riciativo” ou “agradável”, indicando que
o cheiro do sacrifício era atraente para
Deus. Semelhante idéia antropomórfica
de Deus, e do efeito que o sacrifício
exercia sobre ele, era, indubitavelmente,
muito antiga e pré-israelita. Está muito
claro que os rituais, em Levítico, não
consideram osacrifíciocomouma dádiva
para aplacar uma deidade irada. Temos
deconcluir, portanto, que esta expressão
peculiar tem sido retida como uma ex
pressão arcaica e colocada num contexto
onde tinha um sentido simbólico, já não
literal.
Não há nenhuma declaração, nestas
instruções, quanto ao significado do ri
tual da oferta queimada ou em relação às
ocasiões quando se havia de oferecê-la,
mas as características essenciais de seu
uso podem ser deduzidas destes versí
culos e de outras referências a ela no
Antigo Testamento. O nome hebraico
dela significa “o que sobe”, e, certamen
te, deriva-se do fato de que era a forma
de sacrifício que subia até Deus na fu
maça do altar. Pode ser entendido, em
bora menos plausivelmente, como o que
subiu ao altar em oferenda a Deus. Por
que a vítima era inteiramente consumi
da pelo fogo, sobre o altar, podia tam
bém ser chamada de oferta queimada
(1:9,13,17). Provavelmente, os “holo-
caustos” de Salmos 51:19 eram seme
lhantes.
A vítima havia de ser escolhida dentre
os animais domésticos do ofertante, um
boi, umaovelhaou um bode, oupodia ser
uma rola ou um pombinho (v. 14-17).
Estaúltima possibilidade era introduzida
casoocultuadorfosse pobre demais para
oferecer um animal doméstico. E todo
israelita havia de participar desse culto e
não havia de ser privado do privilégio de
fazer a sua oferta a Deus, muito embora
a pobreza fizesse com que ela fosse mais
humilde e menos evidente do que a que
normalmente sedava.
Afinalidadeprimordial da oferta quei
mada era assegurar a propiciação pelos
pecados, como se infere do versículo 4.
Um exemplo disso, na prática, se acha
em Números 15:24, onde uma oferta
queimada seria oferecida em sacrifício,
se a comunidade inteira transgredisse a
lei de Deus inadvertidamente. Não era
essa a única ocasião, todavia, quando
semelhante oferta podia ser feita. Leví
tico 12:6-8 exige uma oferta queimada
junto com uma oferta pelo pecado da
parte de uma mulher depois do parto,
e Números 15:3 alude a se fazer uma
oferta queimada como pagamento de um
voto. O sacrifício da oferta queimada era
um ato de reconhecimento da soberania
de Deus e uma expressão visível de ação
de graças a ele.
Essas instruções determinadas que
achamos em Levítico 1 dizem respeito à
oferta queimada de um israelita leigo
individualmente. Noutros lugares, no
Antigo Testamento, achamos a oferta
queimada usada como um sacrifício ofe
recido pelo rei (II Sam. 6:17 e s.; I Reis
9:25; 10:5), em prol dele mesmo e da
naçãosobre que reinava. Dissosurgiu em
Israel a prática de fazer uma oferta quei
mada diária no templo em Jerusalém
pela manhã (Ez. 46:13-15) e, depois de
períodoindefinido, outro sacrifício seme
lhante ao entardecer (Núm. 28:4,8). A
oferta queimada também se fazia' em
prol da comunidade inteira de Israel, por
ocasião das festividades especiais, nota-
damente no sábado, nasluas novas, e nas
outras festividades principais do ano is
raelita(Núm. 28,29).
De todas as formas de sacrifícios cor
rentesem Israel, a natureza distintiva da
26
27. oferta queimada era bem destacada. Era
a dádiva que o israelita fazia exclusiva
mente a Deus, e assim constituía um ato
de culto expressivo de obediência total.
O ofertante não guardava nada para si, e
não usava seu sacrifício para providen
ciar um repasto festivo, para o gozo dele
e de sua família. A oferenda era para
Deus somente, e, assim, em a oferecer,
ele reconhecia a total soberania de Deus
sobre todas as criaturas vivas e a reivin
dicação divina de plena obediência em
suaprópriavida.
2. AOferta deCereais(2:1-16)
1 Quando alguém fizer ao Senhor uma
oferta de cereais, a sua oferta será de flor
de farinha; deitará nela azeite, e sobre ela
porá incenso; 2e a trará aos filhos de Arão,
os sacerdotes, um dos quais lhe tomará um
punhado de flor de farinha e do azeite com
todo o incenso, e o queimará sobre o altar
por oferta memorial, oferta queimada, de
cheiro suave ao Senhor. 3 O que restar da
oferta de cereais pertencerá a Arão e a seus
filhos; é coisa santíssima entre as ofertas
queimadas ao Senhor. 4Quando fizeres ofer
ta de cereais assada ao forno, será de bolos
ázimos de flor de farinha, amassados com
azeite, e coscorões ázimosuntados comazei
te. 5 E se a tua oferta for oferta de cereais
assada na assadeira, será de flor de farinha
sem fermento, amassada com azeite. 6 Em
pedaços a partirás, e sobre ela deitarás
azeite; é oferta de cereais. 7 E se a tua
oferta for oferta de cereais cozida na frigi
deira, far-se-á de flor de farinha com azeite.
8Então trarás ao Senhor a oferta de cereais
que for feita destas coisas; e será apresen
tada ao sacerdote, o qual a levará ao altar.
9 E o sacerdote tomará da oferta de cereais
o memorial dela, e o queimará sobre o al
tar; é oferta queimada, de cheiro suave ao
Senhor. 10 E o que restar da oferta de ce
reais pertencerá a Arão e a seus filhos; é
coisasantíssima entre as ofertas queimadas
ao Senhor. 11 Nenhuma oferta de cereais,
quefizerdes ao Senhor, será preparada com
fermento; porque não queimareis fermento
algum nem mel algum como oferta queima
da ao Senhor. 12 Como oferta de primícias
oferecê-los-eis ao Senhor; mas sobre o altar
não subirão por cheiro suave. 13 Todas as
tuas ofertas de cereais temperarás com sal;
não deixarás faltar a elas o sal do pacto do
teu Deus; em todas as tuas ofertas oferece
rás sal. 14 Se fizeres ao Senhor oferta de
cereais deprimícias, oferecerás, como ofer
ta de cereais das tuas primícias, espigas
tostadas ao fogo, isto é, o grão trilhado de
espigas verdes. 15Sobre ela deitarás azeite,
e lhe porás- por cima incenso; é oferta de
cereais. 16 O sacerdote queimará o memo
rial dela, isto é, parte do grão trilhado e
parte do azeite com todo o incenso; é oferta
queimadaao Senhor.
O ritual para a oferta de cereais é,
naturalmente, muito mais simples do
que o para a oferta queimada. As diver
sas subseções do capítulo dizem respeito
principalmente aos materiais diferentes
que podiam ser usados para a oferta.
O título hebraico da oferta de cereais
quer dizer, simplesmente, “dádiva”, e a
mesma palavra podia ser usada em sen
tido lato, para abranger todas as classes
diferentes de oferta de sacrifício, bem
como em sentido mais restrito, para se
referir àqueles sacrifícios que não impli
cavam a matança de um animal. Isso é o
caso aqui, onde a oferta é composta de
cereais moídos grossos, ou de trigo ou de
centeio, preparados de uma dentre vá
rias maneiras possíveis.
Acolocação das instruçõespara a ofer
ta de cereais diretamente depois das ins
truções para a oferta queimada reflete,
sem dúvida, a prática de trazer aquela
juntamente com esta. Assim, a oferta de
cereais era usada freqüentemente como
um tipo de sacrifício suplementar, para
acompanhar a oferta queimada, como é
mostrado em Números 15:3-5 e II Reis
16:13, quando ofertas de vinho como
libação eram também feitas. Nem sem
pre acontecia assim, porém, e achamos
diversos exemplos da oferta de cereais
sendo trazida sozinha(6:14-18; 23:15,16;
Núm. 5:15; 28:26). A ocasião mais co
mum para uma oferta de cereais inde
pendente era a da entrega das primícias
da colheita aDeus.
Este capítulo menciona quatro formas
diferentes em que a oferta de cereais
podia ser trazida. Em cada caso os ingre
dientes básicos, da farinha moída gros-
27
28. sa, de trigoou decenteio, misturada com
óleo, continuam os mesmos, e a diferen
ça está na maneira como se prepara a
oferta. Os quatro tipos são:
(1) O cereal básico (farinha) com óleo
derramado sobre ele (v. 1-3). O incenso
estava misturado só com a parte que se
queimava sobre oaltar.
(2) Bolosde farinha, assados num for
no e misturados com óleo enquanto sen
do preparados ou untados com óleo de
pois (v. 4). Nenhum fermento havia de
sermisturado com a massa.
(3) Bolos assados numa fôrma sobre
chapa de ferro quente (v. 5,6). Eles ti
nham de ser misturados com óleo e,
quando cozidos, partidos em pedaços,
derramando-se ainda óleosobreeles.
(4) Bolos cozidos numa frigideira de
barro e também misturados com óleo
antes de cozidos(v. 7).
Exceto o cuidado de se evitar o uso de
qualquer fermento, na preparação dos
bolos(v. 5,11), não havia dúvida de que
cada uma dessas formas da oferta de
cereais representava um método comum
de preparar bolos em Israel. Assim, a
oferenda a Deus era uma parte simbó
licada comidapreparada emcasa. Como
a oferta queimada expressava o elevado
custo da entrega integral da pessoa a
Deus, assim a oferta de cereais declarava
que era a vida cotidina de homens e
mulheres que havia de ser dedicada a
Deuseabençoadaporele.
O ritual de oferta de cereais consistia
no seguinte: (1) a preparação da oferta
(v. 1,4-7); (2) o trazimento da oferta ao
santuário(v.2,8); (3) a separação da por
ção memorial especial (v. 2,9,16); e
(4) a queima da porção memorial sobre o
altarpelosacerdote.
Mais uma vez, como no caso da oferta
queimada, existe uma divisão nítida de
responsabilidade entre o israelita leigo,
que preparava e trazia a oferta, e o
sacerdote, que realmente queimava par
te dela sobre o altar. A divisão da oferta
em duas partes mostra que apenas uma
parte dela se queimava no altar, como
sinal de que se dava o todo a Deus. Esta
parte se chama de porção memorial, e
esta tradição se deriva do fato de que o
adjetivo usado é formado do verbo que
normalmente significa “lembrar”. Po
rém, num estudo cuidadoso da palavra,
G. R. Driver (Journal of Semitic Stu-
dies I, 1956, p. 97 e ss.) argumenta que
realmente significa “sinal”, e é isso que
esperávamos que significasse, à luz de
seuempregono ritual. Ê osinal da oferta
decereais queera queimado sobre o altar
como dádiva a Deus, e representava o
oferecimento da oferta toda a ele. A
parte que não era queimada se dava aos
sacerdotes (v. 3). De 6:16, sabemos que
esta parte seria comida pelos sacerdotes.
Assim, contava comoparte de sua renda.
Deste modo, ao dar a sua oferta de
cereais, o cidadão israelita estava cum
prindo a sua responsabilidade para com
a manutenção do ministério sacerdotal,
através do qual a nação permaneceria em
comunhão comDeus.
Há duas características invulgares,
que deviam ser notadas nas instruções
para a oferta de cereais. Nenhum fer
mento havia de ser permitido no preparo
de nenhum dosbolos. O motivo disso era
que o cereal tinha de estar intacto, e a
ação da fermentação da levedura estra
garia isso. Mel e massa fermentada po
diam ser trazidos somente como ofertas
dasprimícias(v. 11,12). Isso queria dizer
que podiam ser dados aos sacerdotes,
para usarem como alimento, mas não
haviam de ser oferecidos a Deus sobre o
altar. Esse regulamento considera a leve
dura como uma influência danosa e per
turbadora, por mais necessário que fosse
para fins de assadura. Ê este ponto de
vista que se reflete na advertência •de
nossoSenhor: “Acautelai-vos do fermen
to dosfariseus” (Luc. 12:1).
Por outro lado, não se havia de dar
nenhuma oferta a Deus sem sal, que se
descreve como o sal do pacto do teu
Deus. Isto revela a importância do sal
28
29. como símbolo da amizade e da comu
nhão. Aqueles que compartilhavam do
sal numa refeição estavam numa relação
genuínade confiança e lealdade. Como o
fermento simbolizava o que era inaceitá
vela Deus, assim o sal simbolizava o que
lhe tomava as ofertas aceitáveis. Isso
lança luz sobre a descrição, feita por
Jesus, de seus discípulos como “o sal da
terra” (Mat. 5:3). Como o sal tomava
uma oferta agradável a Deus, assim os
crentes no mundo devem tomá-lo aceitá
velaDeus.
3. AOfertaPacífica(3:1-17)
1 Se a oferta de alguém for sacrifício pa
cífico: se a fizerde gado vacum, seja macho
oufêmea, oferecê-la-á sem defeito diante do
Senhor; 2 porá a mão sobre a cabeça da sua
oferta e a imolará à porta da tenda da
revelação; e os filhos de Arão, os sacerdo
tes, espargirão o sangue sobre o altar em
redor. 3 Então, do sacrifício de oferta pací
fica, fará uma oferta queimada ao Senhor;
a gordura que cobre a fressura, sim, toda a
gordura que está sobre ela, 4 os dois rins e a
gordura que está sobre eles, e a que está
juntoaos lombos, e o redenho que está sobre
o fígado, juntamente com os rins, ele os
tirará. 5 E os filhos de Arão queimarão isso
sobre o altar, em cima do holocausto que
está sobre a lenha no fogo; é oferta queima
da, de cheiro suave ao Senhor. 6 E se a sua
oferta por sacrifício pacífico ao Senhor for
de gado miúdo, seja macho ou fêmea, sem
defeito oferecerá. 7 Se oferecer um cordeiro
por sua oferta, oferecê-lo-á perante o Se
nhor; 8 e porá a mão sobre a cabeça da sua
oferta, e a imolará diante da tenda da reve
lação; e os filhos de Arão espargirão o san
gue sobre o altar em redor. 9 Então, do
sacrifício de oferta pacífica, fará uma ofer
ta queimada ao Senhor; a gordurada oferta,
a cauda gorda inteira, tirá-la-á junto aoespi
nhaço; e a gordura que cobre a fressura,
sim, toda a gordura que está sobre ela,
10 os dois rins e a gordura que está sobre
eles, e a que está junto aos lombos, e o re
denho que está sobre o fígado, juntamente
com os rins, tirá-los-á. 11 E o sacerdote
queimará isso sobre o altar; é o alimento da
oferta queimada ao Senhor. 12 E se a sua
oferta for uma cabra, perante o Senhor a
oferecerá; 13 e lhe porá a mão sobre a ca
beça, e a imolará diante da tenda da reve
lação; e os filhos de Arão espargirão o san
gue da cabra sobre o altar em redor. 14 De
pois oferecerá dela a sua oferta, isto é, uma
oferta queimada ao Senhor; a gordura que
cobre a fressura, sim, toda a gordura que
está sobre ela, 15 os dois rins e a gordura
que está sobre eles, e a que está junto aos
lombos, e o redenho que está sobre o fígado,
juntamente com osrins, tirá-los-á. 16E o sa
cerdote queimará isso sobre oaltar; é o ali
mento da oferta queimada, de cheiro suave.
Todaa gordurapertencerá ao Senhor. 17Es
tatuto perpétuo, pelas vossas gerações, em
todas as vossas habitações, será isto: ne
nhuma gordura nem sangue algum come
reis.
O ritual da oferta pacífica descrito em
Levítico 3 segue muito de perto aquele
para a oferta queimada do capítulo 1.
Não há necessidade, portanto, de expor o
conteúdo do ritual novamente. A diferen
ça principal é que, enquanto a oferta
queimada inteira era ofertada sobre o
altar a Deus e queimada, somente certas
partes menores da oferta pacífica eram
usadas dessa forma. Elas são alistadas
pormenorizadamente(v. 3,4,9,10,14,15).
0 cultuador cozinhava ou assava o res
tante da vítima e usava a came para
proporcionar uma refeição para ele mes
mo, para a sua família e para outros
hóspedesconvidados.
Enquanto a característica da oferta
queimada era o oferecimento solene do
animal inteiro a Deus, a da oferta pa
cífica era a característica muito mais
alegre, do gozo de uma refeição na com
panhia da família e dos amigos. Con
quanto a oferta queimada expressasse o
custo da obediência, a oferta pacífica
expressava a alegria e a felicidade da
comunhão, que trazia. Não é de sur
preender, portanto, que freqüentemente
achamos estas duas formas de sacrifício
mencionadas juntamente, como tendo
sido oferecidas por ocasião do mesmo
festival (I Sam. 13:9; II Sam. 6:17,18;
1Reis8:64). Defato, a oferta queimadae
a oferta pacífica constituem, em con
junto, as formas mais primitivas de sa
crifíciocorrentesem Israel.
29
30. As instruções contidas em Levítico 3
dividem-se em três subdivisões, que tra
tam, respectivamente, dos três tipos de
animais domésticos que podiam ser usa
dos para a oferta; um boi ou vaca
(v. 1-5), uma ovelha (v. 6-11) ou uma
cabra (v. 12-16). A oferta pacífica difere
da oferta queimada no sentido de que o
animal podia ser macho ou fêmea (v. 1,
6), enquanto a oferta queimada tinha de
sermacho(1:3,10).
A expressão oferta pacífica tem-se tor
nado comum no inglês desde a versão do
Rei Tiago (KJV) e é mantida na Versão
Padrão Revisada (RSV). Porém pode
causar mal-entendidos, pois este tipo de
sacrifício certamente não tinha como fi
nalidade apaziguar uma deidade irada
da forma metafórica em que é às vezes
usada. O sentido exato da palavra he
braica tem sido muito discutido. Ela está
ligada, etimologicamente, à palavra usa
da para expressar “paz, bem-estar”,
através de um sentido básico de “ser
inteiro, completo”. Daí ter sido entendi
da muitas vezes como referindo-se ao
sacrifício que faz com que o relaciona
mento entre as pessoas seja inteiro ou
completo. Por conseguinte, tem sido su
gerido que seu sentido real é ou “oferta
de comunhão” ou “oferta comunitária”.
Contudo, visto que diz respeito mais
especialmente à relação entre Israel e
Deus, muitas vezes num sentido nacio
nal ou comunitário, tem sido também
sugerido que deverá chamar-se de “sacri
fício da aliança”. Isto não é satisfatório,
porém, uma vez que, embora o sacrifício
fosse certamente usado por ocasião das
celebrações pactuais, o nome em si é
mais antigo que o seu uso em Israel e
sabe-se que era corrente entre os cana-
neus. O nome em si, portanto, não pode
ter sido derivado do significado determi
nado que essa forma de sacrifício tinha
em Israel. Mais provavelmente significa
“sacrifício de encerramento” e refere-se
ao fato de que semelhantes sacrifícios
foram usados para completar uma festa
de ofertas solenes a Deus. Isso concorda
completamente com a ligação estreita
entre a oferta queimada e a oferta pací
fica.
O título completo desse sacrifício é
sacrifíciode oferta pacífica, que se com
põe, no hebraico, de duas palavras. O tí
tuloem si reflete uma história considerá
vel, na qual, originalmente, cada uma
dessas palavras se referia a um tipo dife
rente de sacrifício. Como parte de um
processo de definição mais precisa e de
desenvolvimento mais complexo, o “sa
crifício(abatido)” original e o “sacrifício
pacífico (de encerramento)” têm sido
ligados de tal forma que a natureza mais
geral daquele tem assumido as caracte
rísticas especiais deste. Estas caracterís
ticas especiais diziam respeito primeira
mente à maneira de tratar as partes gor
durosas e o sangue. Assim, o ritual da
oferta pacífica nos revela como Israel
ordenou e interpretou as formas mais
gerais de sacrifício que eram correntes
entre os seus vizinhos e deu-lhes um
significado especial.
O versículo 17 estabelece a regra que
se aplicava forçosamente a todos os sa
crifícios em Israel. Nem sangue nem
gordura deviam ser comidos pelo cultua-
dor, mas deviam ser dados a Deus, no
caso da oferta pacífica, pela queima da
gordura no altar e pelo derramamento
dosangue noslados do altar.
A santidade especial do sangue, cuja
inclusão era proibida na carne sacrifical
queocultuadorcomia, recebemuito real
ce no Antigo Testamento. É explicada
mais completamente em 17:11: “Porque
a vida da carne está no sangue.” A im
portância dada ao sangue se deriva da
observação básica de que, se o sangue é
derramado, então avida da pessoa é der
ramada com ele. A perda do sangue de
maneira grave implica a perda da vida.
É esta importância única do sangue para
a vida que fez com que fosse tratado de
uma forma muito especial, tanto no sa
crifício, quando um animal era abatido
30
31. ritualmente, como, mais tarde, quando
se permitia o abate profano de animais
domésticos para alimento. Visto que a
vida é dom de Deus, o sangue era consi
derado, de forma única, como uma ma
nifestação física desse dom. Tinha, por
tanto, de serdevolvidoaDeus.
O povojudeu continua a observar esta
proibição por uma tradição de abate
kosher (ou correto), que drena tanto
sangue de um animal quanto possível,
para este ser usado como alimento. Co
mo um gesto conciliatório para os ju
deus, o primeiro conselho apostólico em
Jerusalém também advogou que os cris
tãos devessem abster-se de carnes que
continham sangue (At. 15:29). Quando
da separaçãoentre cristãos ejudeus, essa
praxe já não era vista como necessária.
Os cristãos primitivos consideravam Je
sus Cristo como o seu verdadeiro sacri
fício, e oseu sangue derramado, como a
verdadeira “vida” devolvida a Deus. As
sim, uma proibição que se tinha tornado
uma obrigação ritual dentro dojudaísmo
foi abandonada pelos cristãos. Com o
cumprimento dosacrifício em Jesus Cris
to, terminou a obrigação de se abster da
carne que continha sangue.
É supérfluo comentar que essa norma
do Antigo Testamento com relação a co
mer sangue ou compartilhar dele não
tem nada a ver com a prática médica
moderna de transfusão de sangue e que
não se pode, de maneira nenhuma, con
siderar aquela como contrária a esta. Na
medida em que a norma do Antigo Tes
tamento se deriva de uma reverência
para com a vida, seu espírito deverá,
indubitavelmente, alimentar e encorajar
toda técnica que ajude na salvação e
preservação da vida.
Precisamente comoosangue era consi
derado a concentração da vida da cria
tura, assim também as partes gordurosas
eram consideradas lugares onde essa for
ça vital estava localizada. Por esse mo
tivo, não haviam de ser usadas como
alimento, mas sim devolvidas a Deus.
Em certa altura, na sociedade pré-israe-
lita, isso se supunha ser, sem dúvida,
para o reforço da própria vida de Deus
em si. Porém em Israel tais idéias foram
superadas pela consciência de que Deus
era o Deus vivo, a fonte de toda a vida e
acima de qualquer necessidade de revi
talização. Portanto, os aspectos do ritual
qué implicavam a queima das partes
gordurosas da oferta pacífica sobre o
altar (v. 14-16) se relacionavam com o
lançamento do sangue contra o altar,
visto que os dois expressavam a devolu
ção da força vital do animal a Deus.
Como a vida tinha sido dada por Deus,
assim tinha de ser devolvida a ele por
ocasiãoda morte da criatura, enãopodia
serapropriada peloshomens. O versículo
17 termina com uma declaração geral,
que resume a proibição permanente, em
Israel, do uso da gordura como comida e
do sangue como bebida. A mesma proi
bição abrangente do uso do sangue e da
gordurapara oalimentoéreafirmada em
7:23-27.
Nada se diz diretamente, neste capí
tulo, sobre o valor expiatório da oferta
pacífica, como em relação à oferta quei
mada (1:4). Conquanto o derramamento
de todo o sangue no altar fosse consi
derado um ato de expiação (17:11), pare
ce que a oferta pacíficaera mais especial
mente uma ocasião para ações de graças
eregozijo.
Era, num sentido real, uma refeiçãode
comunhão, celebrada perante Deus, da
qual compartilhavam a família e os ami
gos do cultuador. Expressava a natureza
alegre da verdadeira religião e servia
para lembrar, a todo cultuador, da san
tidade dos dons divinos da vida e do ali
mento. As ofertas pacíficas podiam ser
oferecidas voluntariamente ou em paga
mento deum voto.
4. As Ofertas Pelo Pecado e Pela Culpa
(4:l-6:7)
Esta série de instruções diz respeito a
duas formas de sacrifício: a oferta pelo
31
32. pecado e a oferta pela culpa. Estão rela
cionadas muito de perto, e os dois nomes
dohebraicopraticamente condizem. Que
tenha existido alguma diferença entre
eles em determinada época, contudo,
parece inquestionável, embora seja mui
to difícil definir precisamente em que
tenhaconsistido. No decorrer dos séculos
em que eram oferecidas estas ofertas em
Israel, elas sofriam forte influência uma
da outra e se tornaram tão aproximada
mente relacionadas, que agora aparecem
lado a lado, com rituais praticamente
idênticos, visando oferenda por motivos
semelhantes.
Com mais probabilidade, devemos se
guir a sugestão erudita recente (Rend-
torf, p. 233), de que, em sua origem, a
oferta pelo pecado visava primeiramente
um sacrifício especial, de consagração e
purificação pelo santuário, enquanto a
oferta pela culpa visava uma oferenda
para assegurar expiação pelos pecados
cometidos por um indivíduo. Onde eram
envolvidos os pecados de toda a comuni
dade, e até detoda,a nação, já vimos que
a oferta queimada? podia ser trazida a
Deus para assegurar o perdão. Na forma
em que agora existe, a oferta queimada
também chegou a ser usada para obter a
expiação pelo pecado de um indivíduo
(1:4), de maneira que achamos a ocor
rência de alguma repetição nas finalida
des para que se usavam as diversas for
mas de sacrifício.
1 Disse mais oSenhora Moisés: 2Fala aos
filhos de Israel, dizendo: Se alguém pecar
por ignorância no tocante a qualquer das
coisas que o Senhor ordenou que não se fi
zessem, fazendo qualquer delas; 3 sé for o
sacerdote ungido que pecar, assim tornando
o povo culpado, oferecerá ao Senhor, pelo
pecado que cometeu, um novilho sem de
feito como oferta pelo pecado. 4 Trará o no
vilhoà porta da tenda da revelação, perante
o Senhor, porá a mão sobre a cabeça do
novilho e o imolará perante o Senhor. 5 En
tão o sacerdote ungido tomará do sangue do
novilho, e o trará à tenda da revelação;
6 e, molhando o dedo no sangue, espargirá
dosangue sete vezesperante o Senhor, dian
te do véu do santuário. 7 Também o sacer
dote porá daquele sangue perante o Senhor,
sobre as pontas do altar do incenso aromá
tico, que está na tenda da revelação; e todo
o resto do sangue do novilho derramará à
base doaltar doholocausto, que está à porta
da tenda da revelação. 8 E tirará toda a
gordura do novilho da oferta pelo pecado; a
gordura que cobre a fressura, sim, toda a
gordura que está sobre ela, 9 os dois rins e a
gordura que está sobre eles, e a que está
juntoaos lombos, e o redenho que está sobre
ofígado, juntamente com os rins, tirá-los-á,
10 assim como se tira do boi do sacrifício
pacífico; e o sacerdote os queimará sobre o
altar do holocausto. 11Mas o couro do novi
lho, e toda a sua carne, com a cabeça, as
pernas, a fressura e o excremento, 12enfim,
onovilhotodo, levá-lo-á para fora do arraial
a um lugar limpo, em que se lança a cinza,
e o queimará sobre a lenha; onde se lança a
cinza, aí se queimará.
Basicamente, as ofertas pelo pecado e
pela culpa não são tipos novos de sacrifí
cio, mas, sim, formas desenvolvidas da
ofertapacífica, etinham como finalidade
servir como sacrifícios de expiação por
pecados determinados. Diferem, portan
to, da oferta pacífica, mais pelas situa
ções para que o seu uso era proposto do
que por qualquer diferença essencial no
tipo do sacrifício. Nas situações esboça
das neste capítulo, a oferta pelo pecado
é oferecida pelas ofensas inadvertidas
(inconscientes), enquanto a oferta pela
culpa érequerida por ofensas que redun
daram nalgum dano a pessoas ou a suas
posses. Baseando-se nisso, N. H. Snaith
(p. 40,48,50) mostra que a oferta pela
culpa, em 5:14; 6:7, era essencialmente
uma forma de oferta de compensação.
Era oferecida quando uma perda, que na
maioria dos casos podia ser avaliada,
tinha sido sanada.
Assim, o ritual a seguir é muito seme
lhante ao da ofertapacífica, ea diferença
principal é que, conquanto a maior parte
da carne do animal oferecido como uma
ofertapacífica tivesse de ser comida, isso
era proibido no caso da oferta pelo pe
cado. A maneira de dispor da maior
parte do corpo do animal é descrita em
32
33. 4:12: “Onovilhotodo, [o sacerdote] levá-
lo-á para fora do arraial a um lugar
limpo, em que se lança a cinza, e o
queimarásobrealenha.” Embora, como
com a oferta queimada, o corpo do ani
mal fosse queimado, isso não erâ reali
zado sobre o altar, mas feito num lugar
especial, assinalado para esse fim. Por
ser oferecido como um sacrifício de ex
piação a Deus, tinha-se tornado santíssi
mo, e, portanto, não podia servir como
carne para uma refeiçãosacrifical.
No ritual da bem de perto relacionada
oferta pela culpa (7:1-6), era permitido
aossacerdotes(embora não às suas espo
sas ou famílias) comerem a carne. Em
alguns casos também a oferta pelo peca
dopodia sercomida(6:26,29,30).
A série inteira de instruções para as
ofertas pelopecado e pela culpa demons
tra uma natureza diferente daquela das
instruções tratadas noscapítulos 1-3. En
quanto estas últimas se preocupam pri
meiramente com a definição do ritual
correto e com os animais apropriados
para o uso, o principal interesse com
relação às ofertas dopecado e da culpa se
focaliza nas ocasiões quando se haviam
de fazer os sacrifícios. Por conseguinte,
revelam mais informações sobre o signifi
cado dossacrifícios.
Levítico 4:3-12 discute a oferta pelo
pecado, a ser apresentada por pecado
cometido pelo sacerdote ungido. Este
título seacha de novono versículo 16 e se
refere ao sumo sacerdote, que estava
incumbido de uma responsabilidade es
pecial pela santidade de Israel. Mais
tarde, todos os sacerdotes, os filhos de
Arão, foram instalados em seu ofíciopela
unção (Êx. 29:21). Agora se dão as ins
truções (4:13-21) para a oferta pelo pe
cado quando era oferecida para fazer
expiação por pecado cometido por toda a
congregação de Israel. Isso podia signifi
car tanto uma comunidade local como a
nação inteira. Em seguida (4:22-26) se
descreve o sacrifício pelo pecado de um
governante. Otítulo, aqui, se refere, sem
dúvida, ao rei ou príncipe (cf. Ez. 44:3;
45:7), porém em épocas primitivas se
aplicavaa um chefe ou representantes de
uma tribo. O surgimento de qualquer
rivalidade à soberania de Deus sobre
Israel tem sido evitado. Dão-se instru
ções especiais para a oferta pelo pecado
por um israelita comum, leigo (4:27-35).
13 Se toda a congregação de Israel errar,
sendo isso oculto aos olhos da assembléia,
e eles tiverem feito qualquer de todas as
coisas que o Senhor ordenou que não se fi
zessem, assim tornando-se culpados;
14 quando o pecado que cometeram for co
nhecido, a assembléia oferecerá um novilho
comooferta pelo pecado, e o trará diante da
tenda da revelação. 15 Os anciãos da con
gregação porão as mãos sobre a cabeça do
novilho perante o Senhor; e imolar-se-á o
novilho perante o Senhor. 16 Então o sacer
dote ungido trará o sangue do novilho à ten
da da revelação; 17 e o sacerdote molhará
o dedo no sangue, e o espargirá sete vezes
perante o Senhor, diante dovéu. 18E do san
gue porá sobre as pontas do altar, que está
perante o Senhor, na tenda da revelação; e
todo o resto do sangue derramará à base do
altar doholocausto, que está diante da tenda
da revelação. 19 E tirará dele toda a sua
gordura, e queimá-la-á sobre o altar. 20 As
sim fará com o novilho; como fez ao novilho
da oferta pelo pecado, assim fará a este; e o
sacerdote fará expiação por eles, e eles
serão perdoados. 21Depois levará o novilho
para fora do arraial, e o queimará como
queimou o primeiro novilho; é oferta pelo
pecado da assembléia. 22 Quando um prín
cipepecar, fazendo por ignorância qualquer
das coisas que o Senhor seu Deus ordenou
que não fizessem, e assim se tornar culpa
do; 23se o pecado que cometeu lhe for noti
ficado, então trará por sua oferta um bode,
sem defeito; 24 porá a mão sobre a cabeça
do bode e o imolará no lugar em que se
imola o holocausto, perante o Senhor; é
oferta pelo pecado. 25 Depois o sacerdote,
com o dedo, tomará do sangue da oferta
pelo pecado e po-lo-á sobre as pontas do
altar do holocausto; então o resto do sangue
derramará à base do altar do holocausto.
26 Também queimará sobre o altar toda a
sua gordura comoa gordura do sacrifício da
oferta pacífica; assim o sacerdote fará por
ele expiação do seu pecado, e ele será per-
33
34. doado. 27 E se alguém dentre a plebe pecar
por ignorância, fazendo qualquer das coisas
que o Senhor ordenou que não se fizessem, e
assim se tornar culpado; 28se o pecado que
cometeu lhe for notificado, então trará por
sua oferta uma cabra, sem defeito, pelo
cado cometido; 29 porá a mão sobre a
beça da oferta pelo pecado,e a imolará no
lugar do holocausto. 30 Depois o sacerdote,
com o dedo, tomará do sangue da oferta, e
o porá sobre as pontas do altar do holocaus
to; e todo o resto do sangue derramará à
base do altar. 31 Tirará toda a gordura,
como se tira a gordura do sacrifício pacífi
co, e a queimará sobre o altar, por cheiro
suave ao Senhor; e o sacerdote fará expia
ção por ele, e ele será perdoado. 32 Ou, se
pela sua oferta trouxer uma cordeira como
oferta pelo pecado, sem defeito a trará;
33porá a mão sobre a cabeça da oferta pelo
pecado, e a imolará por oferta pelo pecado,
no lugar onde se imola o holocausto. 34 De
pois o sacerdote, com o dedo, tomará do
sangue da oferta pelo pecado, e o porá sobre
as pontas do altar do holocausto; então todo
o resto do sangue da oferta derramará à
basedoaltar. 35Tirará toda a gordura, como
se tira a gordura do cordeiro do sacrifício
pacífico, e a queimará sobre o altar, em
cima das ofertas queimadas do Senhor; as
sim o sacerdote fará por ele expiação do
pecado que cometeu, e ele será perdoado.
Em cada um desses casos se dá grande
importância à advertência de que a ofer
ta visava assegurar expiação somente pe
las ofensas cometidas despercebidamente
(4:2,13,22,27). Essa expiação, podia cer
tamente abranger os pecados cometidos
por ignorância, tais como a infração por
Jônatas do juramento feito pelo seu pai
(I Sam. 14:24-26), do qual não tinha
tomado conhecimento. Também abran
gia as muitas infrações de regulamentos
rituais, quefacilmentesepoderiam come
ter por erro. Mais precisamente, contu
do, a palavra significa sem premeditação
e se refere não apenas às infrações da lei
divina cometidas por ignorância, mas
também a outras transgressões que se
não tenham feito com a intençãoproposi
tada depecar.
Dá-se expressão ao contrário pelo ter
mo pecar “à mão levantada” (Núm. 15:
30), que denota um ato cometido com o
propósito firmado de pecar contra Deus.
Mais tarde, osrabinos interpretavam isso
com referência aos pecados cometidos
com a clara intenção, já de antemão, de
procurar o perdão depois por meio de
sacrifício. Em tais casos nenhum sacrifí
cio podia valer. Esta é uma das caracte
rísticas e limitações mais notáveis dos
sacrifícios rituais do Antigo Testamento.
Pela desobediência deliberada a Deus
não se especificava sacrifício algum pelo
qual se pudesse fazer expiação, e ao pe
cador não se deixava esperança nenhu
ma, senão que selançasse sobre a miseri
córdia deDeus.
Não se deve interpretar isso como se
implicasse que muitas ofensas não pu
dessem ser perdoadas. Não é isso que se
quer dizer, e é claro, das narrativas do
Antigo Testamento, que até ofensas sé
rias como roubo e assassínio podiam ser
perdoadas por Deus quando se eviden
ciava verdadeiro arrependimento (I Reis
21:29). Deus sempre se mantinha sobe
rano sobre o ritual i,..j selhe prestava.
O perdão era livre prerrogativa dele, e
não um direito humano, sendo controla
do por condições rígidas. A intenção bá
sica na definição de quando se deviam
usar determinados sacrifícios era odesejo
positivo de demonstrar o que eles conse
guiriam, e não o negativo, de mostrar o
que nãopodiam conseguir.
Como teólogos cristãos têm visto, coe
rentemente, e como a experiência confir
ma, é a pecaminosidade da vontade hu
mana que constitui oproblema mais pro
fundo do homem. Erros inadvertidos não
trazem omesmosentimento deculpa que
a nossa própria consciência, quando pe
camos, de que temos escolhido o cami
nho da desobediência deliberadamente.
É a pecaminosidade da vontade humana
quejaz por detrás de cada feito pecami
noso, eéisso que levou certos profetas do
AntigoTestamento a antevera renovação
do coração do homem (Jer. 31:31 e ss.;
Ez. 36:26 e s.) e os escritores do Novo
Testamento aver essa esperança cumpri
da pelo dom do Espírito (Rom. 8:2 e ss.)
34
35. XSealguém, tendo-se ajuramentado como
testemunha, pecar por não denunciar o que
viu, ouo que soube, levará a sua iniqüidade.
2 Se alguém tocar alguma coisa imunda,
seja cadáver de besta-fera imunda, seja
cadáver de gado imundo, seja cadáver de
réptil imundo, embora faça sem se aperce
ber, contudo será ele imundo e culpado.
3 Se alguém, sem se aperceber, tocar a
imundícia de um homem, seja qual for a
imundícia com que este se tornar imundo,
quando o souber será culpado. 4 Se alguém,
sem se aperceber, jurar temerariamente
com os seus lábios fazer mal ou fazer bem,
em tudo o que o homem pronunciar temera
riamente com juramento, quando o souber,
culpado será numa destas coisas. 5 Deverá,
pois, quando foi culpado numa destas coi
sas, confessaraquiloem que houver pecado.
6 E como sua oferta pela culpa, ele trará ao
Senhor, pelo pecado que cometeu, uma fê
mea de gado miúdo; uma cordeira, ou uma
cabrinha, trará como oferta pelopecado; e o
sacerdote fará por ele expiação do seu pe
cado. 7Mas, se as suas posses não bastarem
para gado miúdo, então trará ao Senhor,
como sua oferta pela culpa por aquilo em
que houver pecado, duas rolas, ou dois pom-
binhos; um como oferta pelo pecado, e o
outro como holocausto; 8e os trará ao sacer
dote, oqual oferecerá primeiro aquele que é
para a oferta pelo pecado, e com a unha lhe
fenderá a cabeça junto ao pescoço, mas não
o partirá; 9 e do sangue da oferta pelo
pecado espargirá sobre a parede do altar,
porém o que restar daquele sangue espre-
mer-se-á à base do altar; é oferta pelo peca
do. 10E do outro fará holocausto conforme a
ordenança; assim osacerdote fará expiação
por ele do pecado que cometeu, e ele será
perdoado. 11 Se, porém, as suas posses não
bastarem para duas rolas, ou dois pombi-
nhos, então, como oferta por aquilo em que
houver pecado, trará a décima parte duma
efa de florde farinha como oferta pelo peca
do; não lhe deitará azeite nem lhe porá em
cima incenso, porquanto é oferta pelo pe
cado; 12 e a trará ao sacerdote, o qual lhe
tomará um punhado como o memorial da
oferta, e a queimará sobre o altar em cima
das ofertas queimadas do Senhor; é oferta
pelo pecado. 13 Assim o sacerdote fará por
ele expiação do seu pecado, que houver co
metido em alguma destas coisas, e ele será
perdoado; e o restante pertencerá ao sacer
dote, comoa oferta de cereais. 14Disse mais
o Senhor a Moisés: 15 Se alguém cometer
uma transgressão, e pecar por ignorância
nas coisas sagradas do Senhor, então trará
ao Senhor, comoa sua oferta pela culpa, um
carneiro sem defeito, do rebanho, conforme
a tua avaliação em siclos de prata, segundo
0 siclo do santuário, para oferta pela culpa.
18 Assim fará restituição pelo pecado que
houver cometido na coisa sagrada, e ainda
lhe acrescentará a quinta parte, e a dará ao
sacerdote; e com o carneiro da oferta pela
culpa, o sacerdote fará expiação por ele, e
ele será perdoado. 17 Se alguém pecar, fa
zendo qualquer de todas as coisas que o
Senhor ordenou que não se fizessem, ainda
que não o soubesse, contudo será ele culpa
do, e levará a sua iniqüidade; 18 e como
oferta pela culpa trará ao sacerdote um
carneiro sem defeito, do rebanho, conforme
a tua avaliação; e o sacerdote fará por ele
expiação do erro que involuntariamente
houver cometido sem o saber; e ele será
perdoado. 19É oferta pela culpa; certamen
te ele se tornou culpado diante do Senhor.
1 Disse ainda o Senhor a Moisés: 2 Se al
guém pecar e cometer uma transgressão
contra o Senhor, e se houver dolosamente
para com o seu próximo tocante a um depó
sito, ou penhor, ou roubo, ou tiver oprimido
a seu próximo; 3 se achar o perdido, e nisso
se houver dolosamente e jurar falso; ou se
fizer qualquer de todas as coisas em que o
homem costuma pecar; 4 se, pois, houver
pecado e for culpado, restituirá o que rou
bou, ou o que obteve pela opressão, ou o
depósito que lhe foi dado em guarda, ou o
perdido que achou, 5ouqualquer coisa sobre
que jurou falso; por inteiro o restituirá, e
ainda a isso acrescentará a quinta parte; a
quem pertence, lho dará no dia em que
trouxer a sua oferta pela culpa. 6 E como a
sua oferta pela culpa, trará ao Senhor um
carneiro sem defeito, do rebanho; conforme
a tua avaliação para a oferta pela culpa trá-
lo-áao sacerdote; 7e osacerdote fará expia
ção por ele diante do Senhor, e ele será per
doado de todas as coisas que tiver feito, nas
quais se tenha tornado culpado.
A seção 5:1-6:7 forma uma espécie de
apêndice ao capítulo 4, e trata de deter
minadas situações em que era requerida
a oferta pelo pecado ou pela culpa. Em
5:1-6, temos quatro exemplos alistados,
nos quais uma pessoa podia incorrer em
culpa por negligência. Essas são ofensas
de tipos bem diferentes, que têm em co
mum o fato de que o ofensor traz culpa
sobre si mesmo pela retenção de infor
mações sobre ofensas de que ele tem
conhecimento.
35