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Broadman
Volume 1
ComentárioBíblicoBroadman
Comentário
Bíblico
Broadman
Volume 1
Artigos Gerais
Gênesis-Êxodo
TRADUÇÃO DE ADIEL ALMEIDA DE OLIVEIRA
Todos os direitos reservados. Copyright (c) 1969 da Broadman Press. Copyright
(c)1987 da JUERP,para a língua portuguesa, com permissão da Broadman Press.
O texto bíblico, nesta publicação, é da Versão da Imprensa Bíblica Brasileira,
baseada na tradução em português de João Ferreira de Almeida, de acordo com os
melhores textos em hebraico e grego.
220.7
All-Com Allen, Clifton J., ed. ger.
Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento. Editor geral: Clifton J.
Alien. Tradução de Adiei Almeida de Oliveira. Rio de Janeiro, Junta de Educação
Religiosa e Publicações, 1987.
Vol. 1
Título original: The Broadman Bible Commentary
1. Bíblia — Velho Testamento — Comentários. 2. Velho Testamento —
Comentários. I. Título.
3.000/1987
Código para Pedido: 21.636
Junta de Educação Religiosa e Publicações da
Convenção Batista Brasileira
Caixa Postal 320 — CEP: 20001
Rua Silva Vale, 781 — CEP: 21370
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Impresso em gráficas próprias
Junta de Consultores
Clifton I. Allen, ex-Secretário Editorial,
Junta Batista de Escolas Dominicais
da SBC
J. P. Alien, Pastor, Igreja Batista de
Broadway, Forth Worth
John E. Barnes, Jr., Pastor, Igreja Batis­
ta de Main Street, Hattiesburg
Olin T. Binkley, Presidente, Seminário
Teológico Batista do Sudeste, Wake
Forest, North Carolina
WilliamJ. Brown, Gerente, Departamen­
to Oriental, Livrarias Batistas, Junta
Batista de Escolas Dominicais
John R. Claypool, Pastor, Igreja Batista
de Crescent Hill, Louisville, Kentucky
Howard P. Colson, Secretário Editorial,
Junta Batista de Escolas Dominicais
Chauncey R. Daley, Jr., Editor, Western
Recorder, Middletown, Kentucky
Joseph R. Estes, Secretário, Departa­
mento de Obra Relacionada aos Não-
evangélicos, Junta Batista de Missões
Nacionais da Southern Baptist Con­
vention
William J. Fallis, Editor-Chefe, Livros
Religiosos em Geral, Broadman Press
Allen W. Graves, Deão, Escola de Edu­
cação Religiosa, Seminário Teológico
Batista do Sul, Louisville, Kentucky
Joseph F. Green, Editor, Livros de Estu­
do Bíblico, Broadman Press
Ralph A. Herring, ex-Diretor, Departa­
mento de Extensão Seminarial, Con­
venção Batista do Sul
Herschel H. Hobbs, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Oklahoma City
Warren C. Hultgren, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Tulsa
Lamar Jackson, Pastor, Igreja Batista
Meridional, Birmingham
L. D. Johnson, Capelão, Universidade
Furman
J. Hardee Kennedy, Professor de Velho
Testamento e Hebraico, Seminário
Teológico Batista de New Orleans
Herman L. King, Diretor, Divisão de Pu­
blicação, Junta Batista de Escolas
Dominicais da SBC
William W. Lancaster, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Decatur, Georgia
Randall Lolley, Pastor, Primeira Igreja
Batista, Winston-Salem
C. DeWitt Mathews, Professor de Prega­
ção, Seminário Teológico Batista do
Centro-Oeste
John P. Newport, Professor de Filosofia
da Religião, Seminário Teológico Ba­
tista do Sudoeste
Lucius M. Polhill, ex-Secretário Exe­
cutivo, Associação Geral Batista de
Virgínia
Porter Routh, Secretário Executivo Te­
soureiro, Comissão Executiva, Con­
venção Batista do Sul
John L. Slaughter, ex-Pastor, Primeira
Igreja Batista, Spartanburg
R. Houston Smith, Pastor, Primeira Igre­
ja Batista, Pineville, Louisiana
James L. Sullivan, Secretário Executivo,
Junta Batista de Escolas Dominicais
Ray Summers, Presidente, Departamen­
to de Religião, Universidade de Bay­
lor
Charles A. Trentham, Pastor, Primeira
Igreja Batista, Knoxville
Keith von Hagen, Diretor, Divisão de
Livraria, Junta Batista de Escolas
Dominicais
J. R. White, Pastor, Primeira Igreja Ba­
tista, Montgomery
Conrad Willard, Pastor, Igreja Batista
Central, Miami
Kyle M. Yates, Jr., Professor de Reli­
gião, Universidade Estadual de Okla­
homa
Colaboradores
Clifton J. Alien, Junta Batista de Escolas
Dominicais (aposentado): Artigo Ge­
ral
Morris Ashcraft, Seminário Teológico
Batista do Centro-Oeste: Apocalipse
G. R. Beasley-Murray, Faculdade Spur­
geon, Londres: II Coríntios
T. Milles Bennett, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Malaquias
Reidar B. Bjornard, Seminário Teológico
Batista do Norte: Ester
James A. Brooks, Seminário Teológico
Batista de New Orleans: Artigo Geral
Raymond Bryan Brown, Seminário Teo­
lógico Batista do Sudeste: I Coríntios
John T. Bunn, Universidade Campbell:
Cântico dos Cânticos; Ezequiel
Joseph A. Callaway, Seminário Teológico
Batista do Sul: Artigo Geral
E. Luther Copeland, Seminário Teoló­
gico Batista do Sudeste: Artigo Geral
Bruce C. Cresson, Universidade Baylor:
Obadias
Edward R. Dalglish, Universidade Bay­
lor: Juizes; Naum
John I. Durham, Seminário Teológico
Batista do Sudeste: Salmos; Artigo
Geral
Frank E. Eakin, Jr., Universidade de
Richmond: Sofonias
Clyde T. Francisco, Seminário Teológico
Batista do Sul: Gênesis; I e II Crôni­
cas; Artigo Geral
D. David Garland, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Habacuque
A. J. Glaze, Jr., Seminário Internacional
Teológico Batista, Buenos Aires: Jo­
nas
James Leo Green, Seminário Teológico
Batista do Sudeste: Jeremias
Emmett Willard Hamrick, Universidade
de Wake Forest: Esdras; Neemias
William L. Hendricks, Seminário Teoló­
gico Batista do Sudoeste: Artigo Ge­
ral
E. Glenn Hinson, Seminário Teológico
Batista do Sul: I e II Timóteo; Tito;
Artigo Geral
Herschel H. Hobbs, Primeira Igreja Ba­
tista, Oklahoma City: I e II Tessalo-
nicenses
Roy L. Honeycutt, Jr., Seminário Teoló­
gico Batista do Centro-Oeste: Êxodo;
II Reis; Oséias
William E. Hull, Seminário Teológico
Batista do Sul: João
Page H. Kelley, Seminário Teológico Ba­
tista do Sul: Isaías
J. Hardee Kennedy, Seminário Teológi­
co Batista de New Orleans: Rute; Joel
Robert B. Laurin, Seminário Americano
Batista do Oeste: Lamentações
John William Macgorman, Seminário
Teológico Batista do Sudoeste: Gá-
latas
Edward A. McDowell, Seminário Teoló­
gico Batista do Sudeste (aposentado):
I, II e IIIJoão
Ralph P. Martin, Seminário Teológico
Fuller: I Reis
Dale Moody, Seminário Teológico Batis­
ta do Sul: Romanos
William H. Morton, Seminário Teológi­
co Batista do Centro-Oeste: Josué
Barclay M. Newman, Jr., Sociedade Bí­
blica Americana: Artigo Geral
John P. Newport, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Artigo Geral
John Joseph Owens, Seminário Teológico
Batista do Sul: Números; Jó (com
Tate e Watts); Daniel
Wayne H. Peterson, Seminário Teológico
Batista Golden Gate: Eclesiastes
Ben F. Philbeck, Jr., Faculdade Carson-
Newman: I e II Samuel
William M. Pinson, Jr., Seminário Teo­
lógico Batista do Sudoeste: Artigo
Geral
Ray F. Robbins, Seminário Teológico
Batista de New Orleans: Filemom
Eric C. Rust, Seminário Teológico Batis-
tista do Sul: Artigo Geral
B. Elmo Scoggin, Seminário Teológico
Batista do Sudeste: Miquéias; Artigo
Geral
Burlan A. Sizemore Jr., Seminário Teo­
lógico Batista do Centro-Oeste: Ar­
tigo geral
David A. Smith, Universidade Furman:
Ageu
Ralph L. Smith, Seminário Teológico
Batista do Sudoeste: Amós
T. C. Smith, Universidade Furman:
Atos; Artigo Geral
Harold S. Songer, Seminário Teológico
Batista do Sul: Tiago
Frank Stagg, Seminário Teológico Ba­
tista do Sul: Mateus; Filipenses
Ray Summers, Universidade Baylor: I e
I I Pedro; Judas; Artigo Geral
Marvin E. Tate, Jr., Seminário Teológico
Batista do Sul: Jó (com Owens e
Watts); Provérbios
Malcolm O. Tolbert, Seminário Teológi­
co Batista de New Orleans: Lucas
Charles A. Trentham, Primeira Igreja
Batista, Knoxville: Hebreus; Artigo
Geral
Henry E. Turlington, Igreja Batista Uni­
versitária, Chapel Hill, Carolina do
Norte: Marcos
John S. W. Watts, Faculdade Serampo-
re, Serampore. índia: Deuteronômio
Jó (com Owens e Tate); Zacarias
R. E. O. White, Faculdade Teológica
Batista, Glasgow: Colossenses
Prefácio
O COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN apresenta um estudo bíblico
atualizado, dentro do contexto de uma fé robusta na autoridade, adequação e
confiabilidade da Bíblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e
orientação para o crente que está disposto a empreender o estudo da Bíblia como
um alvo sério e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e
propósito do COMENTÁRIO, para produzir uma obra adequada às necessidades
do estudo bíblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudição
bíblica são apresentadas de forma que os leitores sem instrução teológica formal
possam usá-las em seu estudo da Bíblia. As notas de rodapé e palavras são
limitadas às informações essenciais.
Os escritores foram cuidadosamente selecionados, tomando-se em consideração
sua reverente fé cristã e seu conhecimento da verdade bíblica. Tendo em mente as
necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informações especiais
acerca da linguagem e da história onde elas possam ajudar a esclarecer o
significado do texto. Eles enfrentam os problemas bíblicos — não apenas quanto à
linguagem, mas quanto à doutrina e à ética — porém evitam sutilezas que tenham
pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bíblia. Eles expressam os
seus pontos de vista e convicções pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opiniões
alternativas, quando estas são esposadas por outros sérios e bem-informados
estudantes da Bíblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, não podem ser
considerados como a posição oficial do editor.
O COMENTÁRIO é resultado de muitos anos de planejamento e preparação.
A Broadman Press começou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades
deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, líderes cristãos — especialmente
pastores e professores de seminários — se reuniram, para considerar se um novo
comentário era necessário e que forma deveria ter. Como resultado dessas
deliberações, em 1961, a junta de consultores que dirige a Editora autorizou a
publicação de um comentário em vários volumes. Maiores planejamentos levaram,
em 1966, à escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de
pastores, professores e líderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966,
revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendações, que foram
cumpridas à medida que o COMENTÁRIO se foi desenvolvendo.
No começo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o
Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direção do editor geral,
esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar
o COMENTÁRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos
escritores e na avaliação dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e
esforços, fazendo por merecer a mais alta estima e gratidão da parte dos
funcionários da Editora que trabalharam com eles.
A escolha da Versão da Imprensa Bíblica Brasileira “de acordo com os melhores
textos em hebraico e grego” como a Bíblia-texto para o COMENTÁRIO foi feita
obviamente. Surgiu da consideração cuidadosa de possíveis alternativas, que
foram plenamente discutidas pelos responsáveis pelo Departamento de Publica­
ções Gerais da Junta de Educação Religiosa e Publicações. Dada a fidelidade do
texto aos originais bem assim à tradução de Almeida, amplamente difundida e
amada entre os evangélicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza
assim o exigiu, foram mantidas as traduções alternativas sugeridas pelos próprios
autores dos comentários.
Através de todo o COMENTÁRIO, o tratamento do texto bíblico procura
estabelecer uma combinação equilibrada de exegese e exposição, reconhecendo
abertamente que a natureza dos vários livros e o espaço destinado a cada um deles
modificará adequadamente a aplicação desta abordagem.
Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 têm o objetivo de prover material
subsidiário, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da
Bíblia. Focalizam-se nas implicações do ensino bíblico com as áreas de adoração,
dever ético e missões mundiais da igreja.
O COMENTÁRIO evita padrões teológicos contemporâneos e teorias mutáveis.
Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos ho­
mens, a sua revelação em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propósito
para a redenção do mundo. Procura relacionar a palavra de Deus na Escritura e na
Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no
mundo de Deus.
Mediante fiel interpretação da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o
COMENTÁRIO procura refletir a inseparável relação da verdade com a vida, do
significado com a experiência. O seu objetivo é respirar a atmosfera de relação com
a vida. Procura expressar a relação dinâmica entre a verdade redentora e pessoas
vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouvirão com maior
clareza o que Deus Pai está-lhes dizendo.
Nota do Editor Para o
Volume 1 Revisado
A Editora Broadman é o departamento
geral de publicação de livros da Junta de
Escolas Dominicais da Convenção Ba­
tista do Sul dos Estados Unidos e, por­
tanto, está sujeita ao controle da Con­
venção. O seu programa de publicações é
executado por oficiais administrativos
que agem segundo a orientação e a polí­
tica de membros eleitos pela Convenção.
Em 1969, a Editora Broadman publicou
o primeiro volume do THE BROAD­
MAN BIBLE COMMENTARY, uma
obra em doze volumes, destinada ao sério
estudo da Bíblia, como parte dos com­
promissos programáticos correntes da
Junta de Escolas Dominicais.
Esta revisão do Volume 1 é publicada
em resposta às decisões dos mensageiros
de 1970 e 1971 da Convenção Batista do
Sul, tendo sido estas decisões interpreta­
das pelos membros eleitos da Junta de
Escolas Dominicais e implementadas pe­
los oficiais administrativos da Junta.
Clyde T. Francisco foi encarregado de
escrever um novo comentário sobre o li­
vro de Gênesis, para este volume. Bar-
clay H. Newman, Jr., foi convidado a
escrever um novo artigo a respeito de
“As Escrituras Traduzidas”, visto que o
escritor deste artigo anteriormente pu­
blicado pediu que a sua obra não fosse
usada neste Volume 1revisado. A lista de
colaboradores para todo o Comentário
foi atualizada. Todo o outro material é
idêntico ao do volume publicado em
1969.
Abreviaturas
ASV — American Standard Version
Heb. — Hebraico
IBB — Imprensa Bíblica Brasileira
(Versão Revisada)
IDB — Interpreter’s Dictionary of the
Bible
Int. — Introdução
JBL — Journal ofBiblicalLiterature
KJV — King James Version
lit. — literalmente
LXX — Septuaginta
marg. — margem
RSV — Revised Standard Version
Sumário
Artigos Gerais
O Livro da Fé Cristã Clifton J. A llen .................... 17
As Escrituras Traduzidas Barclay M. Newmàn, Jr. .. 35
A Interpretação da Bíblia John P. Newport.................. 51
A Geografia da Bíblia B. Elmo Scoggin.................. 63
A Arqueologia e a Bíblia Joseph A. Callaway ............ 73
O Cânon e o Texto do Velho Testamento Burlan A. Sizemore, Jr . . . . 83
A História de Israel Clyde T. Francisco ............ 93
A Teologia do Velho Testamento E .C .R u st............................ 111
Abordagens Contemporâneas John I. Durhan.................... 131
no Estudo do Velho Testamento
Gênesis Clyde T. Francisco
Introdução.............................................................................................................. 145
Comentário Sobre o Texto.................................................................................... 171
Êxodo Roy L. Honeycutt, Jr.
Introdução.................................................... ......................................................... 367
Comentário Sobre o Texto.................................................................................... 385
Artigos Gerais
O Livro da Fé Cristã
Clifton J. Allen
Começamos com a afirmação de que a
Bíblia é a Palavra de Deus. Mas não po­
demos parar neste ponto. Os crentes pre­
cisam fazer algo mais do que simples­
mente louvar a Bíblia. Precisam estar
preparados para se haverem com sérias
interrogações a respeito da Bíblia. Estas
interrogações são feitas não apenas por
céticos e cínicos; são feitas também por
estudantes devotos e aplicados da Bíblia.
Empenhar-se em um estudo assim apli­
cado acarreta a necessidade de enfrentar
todas as interrogações válidas a respeito
da natureza e da autoridade da Bíblia, e
uma mente aberta para avaliar a vali­
dade de suas declarações e a integridade
de seu testemunho. Não temos razão
para evitar essas interrogações. A Bíblia
não está correndo o perigo de embaraço
ou de extinção!
Os crentes também precisam tornar-se
mais conscientes dos questionamentos
realistas, mas freqüentemente hostis e
céticos do mundo incrédulo e secular a
respeito da Bíblia. Esses questionamen­
tos exigem respostas, que são dadas por
um conhecimento exato e profundo da Bí­
blia e por uma fé reverente, nutrida por
uma compreensão inteligente desse Li­
vro. Uma opinião acerca da Bíblia que
não sofreu ataques da ignorância do pre­
conceito, da incredulidade ou do orgulho
humanista, pode não ser de confiança,
porque não foi testada. Uma fé que não
faz perguntas dificilmente é fé, porque
não procura significado nenhum.
Apropriadamente, perguntamos a res­
peito da Bíblia: Qual é a sua natureza?
Como chegou até nós? Qual é a base de
sua autoridade? Qual é a sua importân­
cia e qual o seu significado? Ao conside­
rarmos estas perguntas, é essencial ter­
mos em mente o que é a Bíblia. Mais do
que qualquer outra coisa, ela é um re­
gistro e uma interpretação da auto-reve-
lação de Deus ao homem: é a narrativa
autêntica da revelação de Deus em Jesus
Cristo, para a redenção do homem. É a
história da salvação:1 o propósito salva­
dor, os atos salvadores, a graça salvadora
e o poder salvador do Senhor; a missão
salvadora do povo de Deus; e a consuma­
ção da obra salvadora de Deus através do
senhorio de Cristo. Este conceito sobre
que é a Bíblia é a perspectiva básica, da
qual este artigo procurará explorar inter­
rogações importantes a respeito da Bí­
blia.
I. A Natureza da Bíblia
Está na hora de perguntar agora: Qual
é a natureza da Bíblia? Em que sentido a
Bíblia é a Palavra de Deus? Por que ela é
tão difícil de se entender? Como é que
um livro tão antigo tem importância
atemporal? As respostas a estas pergun­
tas — e a outras de igual importância —
exigem uma compreensão amadurecida
do que é a Bíblia e uma percepção pene­
trante quanto aos seus antecedentes, suas
características e seu propósito central.
1. Origem, Ambiente Formativo e
Cultura
Antes de tudo, que seja observado que
a Bíblia é de origem antiqüíssima. Os
primeiros capítulos falam a respeito da
criação do Universo e do homem, a res­
1 Cf. A. M. Hunter, The Message of the New, Testa­
ment, particularmente as p. 11 e 12.
17
peito de Deus e de sua maneira de agir
para com o homem, desde o começo do
mundo, e a respeito de acontecimentos
que precedem uma identificação históri­
ca exata. E, em seguida, a narrativa co­
meça a contar a história de Abraão e seus
descendentes, estando estes fatos locali­
zados em cerca de 2000 a.C. O relato es­
crito da história contínua de Deus e seu
povo se estende até cobrir o primeiro
século da era cristã. Desta forma, a Bí­
blia precisa ser entendida como um livro
muito antigo.
Além disso, a Bíblia chegou a nós a
partir de um cenário semita, isto é, o
cenário do Oriente Próximo antigo. A Bí­
blia tem a ver especialmente com os
descendentes de Abraão, o povo escolhi­
do de Deus, que habitou a terra de
Canaã, uma faixa estreita ao longo do
litoral oriental do Mediterrâneo. Essa
pequena área era uma espécie de ponte
ou via de contato entre o povo da região
do vale do Tigre-Eufrates, a leste, e
o povo do vale do Nilo, a sudoeste. O
próprio Abraão representava o povo se­
mita que vivia no sudoeste da Ãsia: babi­
lônios, assírios, arameus, cananeus e fe­
nícios.
Reconhecemos também que o povo da
Bíblia expressa a cultura que era a sua
herança e o seu ambiente formativo. O
Velho Testamento reflete o ambiente
agrícola e a experiência vivencial do povo
de Israel, mas revela também a crescen­
te influência do desenvolvimento urba­
no. A maneira de o povo pensar em Deus
em termos antropomórficos, como inti­
mamente associado com as coisas da
natureza, como vingador e como sendo
parcial, em favor do povo de Israel, ex­
pressa o impacto de sua herança cul­
tural. E a maneira como esse povo pen­
sava a respeito da família — da figura
autoritária do marido e pai, da subser­
viência e inferioridade das mulheres e da
importância de ter filhos — era também
influenciada pela sua cultura. O seu con­
ceito da ordem material como expressão
imediata da presença e do poder de Deus
e as suas fortes tendências para a ido­
latria mostram o impacto entre os con­
ceitos culturais e a prática. As formas de
pensamento e conceitos que aparecem no
decorrer da Bíblia são a expressão na­
tural da experiência desse povo.
Ao tempo do Novo Testamento, os
judeus da Palestina sentiam grande anti­
patia e até amarga hostilidade, em mui­
tos casos, contra os gentios. Através do
mundo romano, o envolvimento no co­
mércio e negócios, nas grandes cidades
do império, contribuiu para a comuni­
cação, o entendimento e, em alguns ca­
sos, para um certo grau de boa vontade.
Todavia, o Novo Testamento propria­
mente dito, com o seu evangelho dinâ­
mico da redenção de Deus em Cristo,
reflete a sua origem e ambiente cultural
na herança judaico-cristã no contexto da
civilização greco-romana. O Novo Tes­
tamento chegou até nós a partir de um
ambiente judaico, através da língua gre­
ga, vindo de uma vida sob o controle de
Roma, e de uma intenção divina, me­
diante a qual o evangelho não reconhece
diferença de raça, língua ou cultura, e se
destina a todos os povos, todas as cultu­
ras e todas as gerações.
2. Literatura de Muitos Tipos e Formas
A Bíblia é muito mais do que uma
coleção de obras literárias religiosas. Pa­
ra ser entendida adequadamente, ela
precisa ser considerada como literatura
de diferentes espécies e formas. Se al­
guém analisa a Bíblia cuidadosamente,
para distinguir várias formas literárias,
encontrará exemplos das seguintes: his­
tória, lei, poesia, drama, profecia, litera­
tura de sabedoria, literatura apocalípti­
ca, hinos, antemas, sermões, discursos,
cartas, epopéias, acrósticos, genealogias,
listas estatísticas, parábolas, alegorias e
histórias. Para fins práticos, não é essen­
cial um conhecimento das distinções
mais refinadas das formas literárias;
mas, para uma compreensão madura da
18
Bíblia, o reconhecimento de que ela é
literatura de vários tipos é imperativo.
Os primeiros cinco livros da Bíblia
vieram a ser chamados de “a Lei” . Mas o
Pentateuco é muito mais do que Lei,
como forma literária. O livro de Gênesis
é histórico, biográfico e teológico. Há
material semelhante nos quatro livros se­
guintes. Mas nesses quatro livros temos a
lei, que se tornou o mandato e o livro de
texto para a adoração de Deus, para a
conduta moral do homem, e para a vida
do homem em comunidade e nas rela­
ções interpessoais. Inevitavelmente, mui­
tas das leis refletem o impacto da situa­
ção cultural de Israel, a imaturidade do
povo, em seu desenvolvimento espiritual
e moral, e o esforço dos líderes divina­
mente chamados para cultivar fidelidade
a Deus ejustiça e retidão entre o povo.
A parte seguinte, do Velho Testamen­
to, é geralmente considerada como uma
seção de livros históricos. Na Bíblia he­
braica, os livros de Josué a II Reis eram
conhecidos como os Profetas Antigos. Os
Profetas Posteriores incluíam Isaías e
Jeremias e os últimos doze livros do
Velho Testamento. Estes dois grupos,
comumente chamados de Profetas, como
seção das Escrituras Hebraicas, desta
forma incluíam a maior parte do mate­
rial histórico do Velho Testamento, e
quase todos os materiais proféticos —
uma combinação de história e profecia.
A História — e isto incluiria livros que
não os mencionados acima — conta a
história desse povo e outros aconteci­
mentos: de sofrimento, luta, sucesso, fra­
casso, apostasia, arrependimento e reno­
vação, fidelidade e rebeldia. Os fatos da
História eram recordados com realismo,
mostrando o povo no que tinha de pior e
de melhor, mostrando como ele entende­
ra mal os propósitos de Deus e por vezes
agira de maneira completamente estra­
nha à natureza de Deus, embora dissesse
estar fazendo a vontade de Deus, e mos­
trando como Deus agia para revelar-se,
para executar juízo, para derramar mise­
ricórdia e bênçãos, para vencer a igno­
rância e a perversidade de seu povo e
para levar avante o seu propósito em
Israel.
A história de Israel não pode ser enten­
dida à parte da profecia. È bom que seja
lembrado que os profetas declararam a
palavra de Deus ao povo em suas respec­
tivas gerações. Profecia não é primordial­
mente uma predição dos eventos futuros,
mas uma proclamação de julgamento ou
consolação ou dever ou propósito em
relação ao povo quanto à sua necessida­
de. Entendemos melhor os escritos profé­
ticos não como predições místicas de
acontecimentos futuros, mas como decla­
rações intemeratas do propósito de Deus
para com o seu povo em sua situação
imediata. Dado este fato, contudo, não
podemos deixar passar despercebido que
muitos dos profetas declararam a pala­
vra de Deus com aplicação no futuro,
indicando as direções do propósito de
Deus para com o seu povo, a promessa
iniludível de sua redenção para lodo o
povo, e a consumação inarredável de seu
reino de justiça e paz.
Grande parte do Velho Testamento é
de poesia. Tirando-se os livros estrita­
mente poéticos, poemas são encontrados
nos livros da lei, nos históricos e nos pro­
féticos. É importante reconhecer que a
poesia precisa ser entendida como poe­
sia, embora seja um veículo de revelação
divina. Ela depende de imagens e figuras
de linguagem. O elemento de sensações e
emoção é dominante. A verdade é ex­
pressa imaginativamente, e precisa ser
entendida através da imaginação. Um
esforço para entender a poesia com base
na redação literal ignora a natureza da
poesia, e leva a um inevitável mal-enten­
dido de seu significado.
A poesia da Bíblia, em consonância
com a natureza da verdadeira poesia, é a
expressão de intensos sentimentos, que
incluem temor, tanto quanto confiança;
ira, bem como bondade; concupiscência,
assim como pureza; ódio, como amor;
19
autopiedade, assim como autoconfiança;
e desespero, como esperança. O indício
para a interpretação exige aplicação de
percepção poética.
O livro de Jó é quase inteiramente
poético. Mas ele é também um exemplo
de drama. Daí, uma outra forma literá­
ria é usada para ensinar a necessidade de
uma verdadeira compreensão do proble­
ma do sofrimento humano. A intensida­
de do sofrimento de Jó e a natureza do
problema enfrentado fizeram do drama o
meio mais eficiente da verdade, a verda­
de finalmente revelada a Jó através da
auto-revelação de Deus, em sua sobera­
nia, sua justiça e sua grandeza.
Outro tipo de literatura é conhecido
como literatura de sabedoria. Ele é re­
presentado especialmente por Provérbios
e Eclesiastes, no Velho Testamento, e
pela Epístola de Tiago, em o Novo Testa­
mento. O livro de Jó também pode ser
identificado como literatura de sabedo­
ria. As obras de sabedoria, embora ado­
tando várias formas literárias, represen­
tam a sabedoria destilada da experiência
humana e estabelecem os valores e virtu­
des, os princípios e discernimentos que
podem compor a filosofia de vida de uma
pessoa, particularmente em termos da
escolha de alvos e do seguimento de
padrões que contribuam para a integri­
dade, harmonia, reverência, castidade,
diligência, confiança própria e realiza­
ção.
Quando chegamos ao Novo Testamen­
to, imediatamente nos defrontamos com
os Evangelhos. Quanto à forma literária,
eles combinam história, biografia, pará­
bola, discursos extensos, diálogo e ora­
ção. Mas os Evangelhos são peculiares.
Eles são documentos de fé. Falam de
uma figura central: Jesus Cristo. São o
registro dramático de Jesus em ação, do
que ele disse e fez, do impacto de sua
personalidade sobre outras pessoas, do
que outras pessoas pensaram a respeito
dele e como elas reagiram a ele, e, final­
mente, da auto-entrega de Jesus na cruz
e sua ressurreição dentre os mortos. Os
Evangelhos como literatura nunca po­
dem ser separados da realidade viva e do
impacto dinâmico do Filho do Homem.
O livro de Atos é a segunda parte da
história de Lucas-Atos. Por conseguinte,
ele mantém a relação mais íntima possí­
vel com os Evangelhos — e é quase uma
série de reportagens. Ele fala do que os
seguidores de Jesus fizeram e ensinaram
na consciência de sua presença viva com
eles e através do poder de Seu Espírito.
As cartas do Novo Testamento têm
muito em comum, como forma literária,
mas variam grandemente em extensão,
propósito e estilo literário, e auditório
pretendido. Algumas delas foram escri­
tas para igrejas, algumas para indiví­
duos, algumas para grupos esparsos de
cristãos, e algumas para destinatários
desconhecidos, não identificados. Estas
cartas, inclusive as dirigidas às sete igre­
jas, no livro do Apocalipse, constituem
uma interpretação do evangelho de Cris­
to, um retrato da vida e da prática da
igreja neotestamentária, e um registro do
ministério, fidelidade, perseguição,
luta e esperança da parte de pessoas
empenhadas no serviço de Jesus Cristo.
Uma característica dessas cartas, natu­
ralmente, é o elemento pessoal, a relação
do escritor com os seus leitores (em al­
guns casos, com uma pessoa). Ele escre­
veu para compartilhar a sua experiência
e preocupação, consciente do laço de co­
munhão cristã.
A Bíblia inclui ainda outro tipo de li­
teratura conhecida como apocalíptica.
Os dois principais livros de literatura
apocalíptica são Daniel e Apocalipse.
Esta espécie de literatura foi o produto
de épocas de intensa crise para o povo de
Deus. Ela era marcada por uma forte
preocupação escatológica, uma expecta­
tiva e uma focalização na manifestação
dinâmica de Deus em juízo. O estilo da
literatura apocalíptica era a apresenta­
ção de verdades por meio de imagens e
símbolos que representavam forças ma­
20
lignas, o sofrimento e a recompensa do
povo de Deus, e os atos poderosos de
Deus em juízo, em libertação e vitória,
Deve-se abordá-la com a percepção inteli­
gente de que o arcabouço de símbolos e
imagens aponta para pessoas, aconte­
cimentos e forças no longo e distante
passado. Mesmo assim, a verdade a res­
peito da completa soberania e do eterno
propósito de Deus, que deu encoraja­
mento e consolo ao seu povo no passado,
é igualmente relevante para o povo de
Deus através dos séculos que se vão pas­
sando.
Portanto, entenderemos que a Bíblia é
um exemplo de variegadas formas literá­
rias. Deus usou a habilidade e os inte­
resses de muitos escritores como veículo
de sua revelação. Os muitos tipos de
obras literárias contribuíram para uma
riqueza de significado e uma diversidade
e profundidade de interesse humano.
Uma percepção adequada dos elementos
característicos de estilo e forma literária
propiciarão chaves para uma compreen­
são mais plena da mensagem da verdade.
3. Revelação Divina Através de Veículos
Humanos
A Bíblia é uma revelação divina. Este
é, na verdade, o aspecto mais significa­
tivo de sua natureza, a explicação de seu
significado e a base de sua autoridade.
Não podemos parar, todavia, nestas afir­
mações. Precisamos explorar em profun­
didade o que significa revelação, o que
significa inspiração, como estes dois ele­
mentos se relacionam, como devem ser
entendidos à luz de tudo o que podemos
conhecer a respeito da natureza da Bíblia
e como ela nos chegou às mãos pela pro­
vidência de Deus.
O que é revelação? — Revelação é a
verdade que nos veio de Deus. Deus falou
ao homem de muitas maneiras: através
do mundo natural, através dos julgamen­
tos da história humana, através de provi­
dências na experiência pessoal e através
da voz interior da consciência. Mas a
Bíblia é o relato peculiar do autodes-
vendamento de Deus. Ela é o relato
escrito de suas palavras e atos.
Desde o princípio até o fim, a Bíblia
declara que Deus se revelou ao homem, e
que ela mesma, a Bíblia, é uma narrativa
de crédito dessa revelação. Frases como
as seguintes ocorrem repetidamente no
decorrer do Velho Testamento: “Disse
Deus” ; “o Senhor falou”; “Deus orde­
nou” ; “a palavra de Deus veio” ; “Deus
tomou conhecido”; “o Senhor apare­
ceu” . Elas representam um número mui­
to maior de fórmulas de revelação. A Bí­
blia também fala repetidamente do que
Deus fez, dos seus atos de criação, de
julgamento, de libertação, de eleição, de
direção, de consolação, de destruição, de
manifestação, de cura e de soberania
dominante. Deus agiu para se fazer co­
nhecido de seu povo e para realizar o seu
propósito através dele.
Mas o supremo ato da revelação de Si
próprio, por parte de Deus, a respeito de
que a Bíblia fala, foi a Sua vinda em
Jesus Cristo. “E o Verbo se fez carne, e
habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade; e vimos a sua glória, como a
glória do unigénito do Pai” (João 1:14).
A palavra de Deus foi falada ao homem
pela Palavra viva. “Havendo Deus anti­
gamente falado muitas vezes, e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, nes­
tes últimos dias a nós nos falou pelo
Filho” (Heb. 1:1,2). Esta declaração su­
blime da Epístola aos Hebreus congrega
toda a verdade a respeito de revelação, e
nos apresenta a chave da Bíblia como
uma revelação de Deus. O Velho Testa­
mento apontava para a vinda de Alguém
que seria o agente da redenção de Deus.
O Novo Testamento fala de sua vinda, de
sua vida sem pecado e de seu ministério
autodoador, de sua morte, de sua ressur­
reição, de sua salvação e de seu senhorio;
e declara que nele toda a plenitude da
divindade habitou corporalmente (Col.
2:9).
21
Agora estamos preparados para consi­
derar a Bíblia como um todo. Ela deve
ser considerada à luz da perfeita revela­
ção de Deus em Jesus Cristo. A suprema
revelação de Deus é uma Pessoa. Tudo o
que a Bíblia nos fala a respeito de Deus,
sua natureza, seus atos e do que várias
pessoas entenderam a respeito dele ou
lhe atribuíram, precisa ser interpretado e
colocado em harmonia com a natureza,
a verdade, o amor e o propósito de Deus
em Cristo. Este fato reconhece que mui­
tas pessoas a quem Deus falou “de mui­
tas maneiras” antes da vinda de Cristo
não entenderam Deus perfeitamente, não
apreenderam o seu propósito plenamente
e não podiam conhecer a sua vontade
claramente.
Os exemplos do Velho Testamento, de
aparente conflito com o fato de que Deus
é amor, segundo muita gente diz, são
simplesmente mistérios de onisciência, e,
portanto, não devem ser questionados.
Tais pessoas abordarão quaisquer misté­
rios desnorteantes das Escrituras desta
forma, e ficarão satisfeitas. Por outro
lado, muitas outras pessoas insistirão
que a Bíblia, embora seja a revelação de
Deus que tem autoridade completa, pode
ser corretamente entendida, corretamen­
te interpretada, tão-somente à luz plena
da verdade de Jesus Cristo, a Palavra
viva, a completa e perfeita revelação de
Deus. Essas pessoas afirmarão que isto
está em harmonia com o propósito eterno
de Deus de que todas as coisas no céu e
na terra e debaixo da terra se submete­
rão ao senhorio de Cristo. As Sagradas
Escrituras devem ser melhor entendidas
à luz do que ele ensinou, do que ele fez e
de quem ele é, como a Palavra de Deus.
Inspiração e revelação. — Duas passa­
gens da Escritura imediatamente vêm à
nossa mente: primeiro, as palavras de
Paulo a Timóteo: “Toda Escritura é divi­
namente inspirada e proveitosa para en­
sinar, para repreender, para corrigir,
para instruir em justiça; para que o ho­
mem de Deus seja perfeito, e perfeita­
mente preparado para toda boa obra” (II
Tim. 3:16,17); depois, de II Pedro: “Ne­
nhuma profecia da Escritura é de par­
ticular interpretação. Porque a profecia
nunca foi produzida por vontade dos ho­
mens, mas os homens da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo”
(1:20,21). Estas passagens, e outras, di­
reta ou indiretamente, afirmam que a
Bíblia é uma revelação inspirada.
Termos como os seguintes são usual­
mente aplicados a inspiração: inspira­
ção verbal, inspiração plenária e inspira­
ção dinâmica. A conotação ou significa­
do ligado a estas palavras varia ampla­
mente. A questão, em grande parte, resi­
de no grau de inerrância das palavras da
Escritura e o conceito de unidade na
mensagem da Escritura.
A opinião da inspiração verbal é geral­
mente aplicada às Escrituras na língua
original, e não a traduções subseqüen­
tes, embora, na verdade, esta opinião
freqüentemente seja entendida e defen­
dida principalmente em relação a tradu­
ções para o vernáculo. Na Inglaterra e
nos Estados Unidos há um grande movi­
mento que defende a inspiração verbal
da tradução King James (do Rei Tiago,
de 1011). Embora aqui, mais uma vez,
haja variações do significado dado à ins­
piração verbal, os defensores desta opi­
nião dizem que os escritores da Bíblia
foram inspirados ao ponto de usar as
próprias palavras dadas por Deus para
expressar a sua verdade. Portanto, as
Escrituras são inerrantes e infalíveis.
Isto, obviamente, reduz o escritor qua­
se ao equivalente a uma ferramenta nas
mãos de Deus, e torna-o virtualmente um
agente completamente controlado por
Deus. Embora poucas pessoas pensantes
concordem que inspiração verbal seja
essencialmente um ditado divino, escrito
quase que mecanicamente, o processo
não deixa quase campo para uma ação
responsável ou um envolvimento pessoal
da parte do escritor. Há muitas pessoas
que esposam este ponto de vista acerca
22
da inspiração, e o consideram plenamen­
te satisfatório, em consonância com o seu
conceito da soberania e sabedoria de
Deus, e da iniciativa de Deus na revela­
ção. Elas acham que qualquer transigên­
cia desta posição leva a um abalo da
autoridade bíblica.
Outra opinião acerca da Bíblia pode
ser descrita como inspiração plenária.
Este termo tem várias conotações. O
cerne deste ponto de vista é que a Bíblia é
plenamente inspirada, mas não verbal­
mente inspirada. Os escritores não eram
agentes controlados ao ponto de não
terem utilizado a sua experiência e o seu
conhecimento. Mas eles foram ilumina­
dos tão completamente, tão guiados pelo
Espírito de Deus e cheios de seu poder,
que foram preservados de qualquer erro,
ao transmitir a revelação divina. Daí, a
Bíblia é totalmente inspirada, e a revela­
ção, inerrante, quanto a fatos, aconteci­
mentos e doutrina. Esse ponto de vista
acerca da inspiração, satisfatório e aceito
porum grandenúmero de crentes sinceros
e interessados, inclusive eruditos compe­
tentes, procura evitar uma parte do ex­
tremo literalismo e dos elementos rigida­
mente controlados de inspiração verbal,
enquanto, ao mesmo tempo, mantém um
conceito de inerrância prática de toda a
Bíblia e de suas diferentes partes.
Outro conceito de inspiração pode ser
identificado como dinâmico. Admitimos
que esta designação carece de precisão,
porque a realidade que ela identifica é
marcada por mistério e complexidade.
No entanto, essencialmente, este ponto
de vista sustenta que as Escrituras Sagra­
das vieram a existir e receberam o seu
caráter de revelação de Deus com autori­
dade através da ação do Espírito de
Deus, cujo poder vivificador, iluminador
e orientador fez de homens escolhidos os
veículos do propósito de Deus. As Escri­
turas são de fato inspiradas (“sopradas
por Deus”), porque a sua verdade é de
Deus e acerca de Deus. “Homens da
parte de Deus falaram movidos pelo Es­
pírito Santo” (II Ped. 1:21). De maneiras
que não podemos entender e através de
processos que não podemos identificar,
Deus escolheu e equipou muitas pessoas
para registrar os seus atos, para interpre­
tar os seus propósitos e para declarar a
sua palavra.
De acordo com esta opinião, a inspira­
ção da Bíblia é muito mais o fato de ela
ser completa e adequada como registro
escrito da auto-revelação de Deus e como
guia para o homem em todos os assuntos
de fé e prática, do que uma questão de
inerrância em redação e analogia e certos
detalhes a respeito de pessoas e aconteci­
mentos. A inspiração é mais uma ques­
tão da mensagem da salvação de Deus do
que o método ou processo pelo qual ela
foi reduzida à forma escrita. A autorida­
de da Bíblia reside em sua integridade e
unidade, à luz da verdade de Deus em
Cristo.
A opinião de inspiração dinâmica re­
pousa solidamente na repetida declara­
ção, encontrada nas Escrituras, de que
através delas Deus fala ao homem. Esta
opinião se baseia, mais uma vez, em a
natureza inerente das Escrituras como
tesouro peculiar de sabedoria divina, que
se enquadra na totalidade da experiência
humana quanto à fé religiosa, ao dever
moral e à responsabilidade ética. A Bí­
blia continua a falar, em princípio bási­
co, a todas as gerações, com relevância e
atualidade: ela continua a declarar a
palavra do Deus vivo ao homem vivo, na
situação humana contemporânea.
Este ponto de vista se baseia, além
disso, no fato de que as Escrituras são
eficientes na experiência humana para
alcançar os propósitos de Deus. Exem­
plos importantes desta verdade são en­
contrados nas seguintes passagens: Sal­
mos 119:9,11; João 5:39; 20:31; Roma­
nos 15:4; Hebreus 4:12; II Pedro 1:16-
19; e Romanos 1:16. A evidência e prova
da inspiração da Escritura é que ela é de
fato “proveitosa para ensinar, para re­
preender, para corrigir, para instruir em
23
justiça; para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente preparado para
toda boa obra” (II Tim. 3:16,17).
A verdade da revelação bíblica é sopra­
da por Deus. Ela é habitada pelo Espí­
rito do Deus vivo. Ela é eficiente para a
regeneração e santificação. Ë redentora e
reconciliadora. Conseqüentemente, uma
opinião dinâmica de inspiração se foca­
liza na verdade que tem sua essência,
propósito e autoridade em Jesus Cristo.
Portanto, um ponto de vista dinâmico
de inspiração não depende de uma iner-
rância mística, inexplicável e não verifi­
cável de cada palavra da Escritura ou do
conceito de que a inspiração não pode
permitir erros de fato ou de substância.
Pelo contrário, ele aceita a Bíblia total­
mente como inspirada: inerrante como a
única testemunha completamente autên­
tica da auto-revelação de Deus em Cristo
e de sua salvação através de Cristo; iner­
rante porque a sua verdade é o perfeito
instrumento do Espírito para levar os
homens à fé, justiça e esperança; e iner­
rante porque o seu ensinamento, inter­
pretado pela vida e obra de Cristo, é o
guia infalível de como o povo de Deus
deve viver e no que ele deve crer, sem
dúvida alguma, sob a direção do Espírito
de Cristo.
Talvez haja necessidade, a esta altura,
de enfatizar que as diferentes opiniões
acerca da inspiração não subsistem sem
problemas nem sem interrogações não
respondidas. Estas devem ser enfrenta­
das com honestidade e objetividade.
Os seguintes problemas são inerentes à
opinião de inspiração verbal: (1) Visto
que pessoas falíveis copiaram os manus­
critos originais através de centenas de
anos, com exatidão meticulosa, mas não
sem erros, e visto que outras pessoas
falíveis traduziram as Escrituras origi­
nais para diferentes línguas, e visto que
há variações textuais nos manuscritos
existentes mais dignos de confiança, o
valor de um original verbalmente infalí­
vel está perdido para a presente e para as
futuras gerações, não estando disponível
nenhuma cópia da obra original.
(2) Cuidadosa leitura e exame das Es­
crituras revelam algumas contradições
óbvias ou discrepâncias, não envolvendo
nenhuma doutrina de maior importância
ou questão básica, mas suficiente para
constituir um problema quanto à invali­
dez da inspiração verbal. Dois exemplos
servem para ilustrar este ponto: A refe­
rência a Abiatar (Mar. 2:26) e a Abime-
leque (I Sam. 21:1) é inconsistente. Em
um lugar se diz que o Senhor incitou
Davi a fazer um recenseamento; em ou­
tro, que foi Satanás (II Sam. 24:1;
ICrÔn. 21:1).
(3) A inspiração verbal parece submer­
gir a instrumentalidade humana ao pon­
to de que os escritores da Bíblia eram
menos do que livres em sua reação à
vontade do Espírito de Deus.
(4) A inspiração verbal tende a colocar
toda a Bíblia no mesmo nível de inspira­
ção e revelação divina.
(5) A inspiração verbal acarreta sérias
dificuldades quanto à interpretação, por­
que a redação de várias passagens, direta
ou indiretamente, parece atribuir a Deus
atos e atitudes em desarmonia com a sua
natureza como de santo amor e clara­
mente em conflito com o exemplo e o
ensino de Jesus (cf. Deut. 17:2-7; II Sam.
21:1-9 em relação com Deut. 24:16; Sal.
69:22-28; 109:6-19; 137:7-9; I Crôn. 13:
9,10).
(6) A inspiração verbal parece requerer
explicações que tornam a própria inspi­
ração verbal irreal. Por exemplo, Maria
se refere a José como pai de Jesus (Luc.
2:48). O que Maria queria dizer é facil­
mente explicado, a não ser que o intér­
prete esteja restrito à inerrância verbal.
(7) A inspiração verbal parece irrecon­
ciliável com o que parecem ser fatos que
se originam de pesquisa objetiva e estudo
sério da Bíblia. As evidências confirmam
uma autoria múltipla do Pentateuco,
aproveitando-se de fontes orais e escritas,
e por fim envolvendo compilação e edi­
24
ção, coisas que parecem forçar a opinião
de inspiração verbal ao ponto de ser
irreal. Grande parte do Velho Testamen­
to acarretaria um problema semelhante.
Lucas explica com cuidado (1:1-4) o seu
método de pesquisa e fontes de informa­
ção, coisa de pequena importância se
cada palavra que ele escreveu foi virtual­
mente ditada pelo Espírito Paulo admite
que algumas de suas declarações são
suas, e não de Deus (I Cor. 7:12,25; cf.
8-10,40). Sem dúvida, muitas das con­
clusões dos estudos críticos não podem
ser provadas dogmaticamente, mas fatos
estabelecidos e identificáveis servem para
trazer à tona as questões a respeito da
exeqüibilidade da inspiração verbal,
mais do que para confirmá-la como pon­
to de vista aceitável.
Uma opinião de inspiração plenária
acarreta grande parte dos problemas já
mencionados a respeito da inspiração
verbal, sendo as diferenças especialmen­
te uma questão de grau. Particularmen­
te, esta opinião acarreta os problemas de
uma vontade divina virtualmente impos­
ta aos escritores da Bíblia, a subserviên­
cia dos achados dos estudos críticos como
controvertendo a plena inspiração e atri­
buindo a Deus atos e atitudes aparente­
mente em desarmonia com a sua revela­
ção em Cristo. Ela legitima muitas das
declarações das Escrituras como revela­
ção, embora elas pareçam ser resultado
da fraqueza humana e uma compreensão
errada de Deus. Este ponto de vista
reconhece muito pouco o aspecto pro­
gressivo da revelação.
A opinião da inspiração dinâmica se­
melhantemente acarreta problemas; pro­
blemas peculiares a si própria. (1) Ela
enfrenta a necessidade de reconhecer e
de dar o devido valor a muitas declara­
ções bíblicas que parecem dar a entender
ou enfatizar o elemento de inspiração
plena, se não verbal. E também ela pre­
cisa explicar estas declarações sem a
distorção de pressuposição e interpretá-
las sem perder o impulso de sua impli­
cação sobrenatural. (2) Este ponto de vis­
ta acarreta a tentação de depender de­
masiadamente dos critérios e da sabedo­
ria humanos, para distinguir entre o que
é claramente a palavra falada do Senhor
e os mal-entendidos dos homens a res­
peito dos propósitos e da vontade do
Senhor. (3) Este ponto de vista acarreta a
tendência — que se toma real em dema­
siados casos — de minimizar o elemento
de inspiração divina e dar mais atenção
ao veículo humano de inspiração. (4) Es­
te ponto de vista acarreta a obrigação —
muitas vezes menosprezada pelos erudi­
tos críticos — de reconhecer o elemento
de fé reverente como a chave para o
entendimento das Escrituras e de reco­
nhecer que muitas questões difíceis a res­
peito da natureza da Bíblia não são resol­
vidas com os recursos da pesquisa crí­
tica, mas pela confiança em Deus com
humildade. (5) Os que advogam esta opi­
nião têm a obrigação de carrear para a
Bíblia um maior grau de estudo discipli­
nado, para encontrar os níveis mais pro­
fundos de verdade e um grau maior de
sensibilidade para a dinâmica do Espí­
rito vivo, a fim de ouvir a voz do Senhor
através do Espírito.
Para o escritor deste artigo, os proble­
mas da opinião de inspiração dinâmica,
embora reais, não invalidam esta opinião
acerca das Escrituras. Os problemas são
resolvidos por fé reverente no Senhor das
Escrituras e nas próprias Escrituras co­
mo a Palavra de Deus, em integridade e -
unidade em Cristo. Eles são resolvidos
com a abertura da mente para a verdade
e os frutos de pesquisa objetiva. E, além
disso, são resolvidos pela submissão ao
Espírito Santo, que interpreta a Palavra
de Deus em Cristo para todas as pessoas
que desejam conhecer a mente de Cristo
e fazer a vontade do Senhor.
Pessoas de propósitos fervorosos para
com Deus e de fortes convicções a res­
peito da revelação dele nas Escrituras te­
rão opiniões diferentes a respeito de sua
inspiração. Cada pessoa pode buscar
25
uma compreensão mais plena da Bíblia
como base para achar o ponto de vista
que torna a Bíblia mais significativa no
contexto de sua própria experiência.
Algumas declarações sumárias, relati­
vas à revelação e à inspiração, podem ser
feitas agora. (1) A opinião que uma pes­
soa tem a respeito de revelação e inspi­
ração não deve ignorar os achados da
pesquisa objetiva e do exame crítico.
(2) Uma opinião aceitável acerca da ins­
piração e da revelação precisa permitir a
tradução das línguas originais das Escri­
turas e admitir as variações nos textos
disponíveis das Escrituras Hebraica e
Grega e suas implicações, baseadas em
conhecimento irrefutável. (3) Muitas
questões que não têm perspectiva de
serem resolvidas. “Prova”, em qualquer
sentido exato ou dogmático, é dificilmen­
te apropriada para a opinião que uma
pessoa tenha quanto à revelação e inspi­
ração. Crença no fato da inspiração é
essencial; uma opinião acerca do método
da inspiração é secundária em impor­
tância. (4) Deve-se lembrar que títulos e
inscrições e assuntos deste jaez, na Bí­
blia, são adições editoriais, e não parte
dos textos originais das Escrituras.
(5) Algumas declarações a respeito de
revelação são o resultado da afinidade
hebraica-com o antropomorfismo — co­
mo a declaração de que Deus deu a
Moisés duas tábuas de pedra escritas
pelo dedo de Deus (Êx. 31:18). (6) Os
textos de prova são muitas vezes aplica­
dos a um ponto de vista de revelação e
inspiração, para sustentar conclusões
questionáveis. Por exemplo, Jesus disse
que nem um jota nem um til passará da
lei — evidentemente a Lei mosaica —
sem que tudo seja cumprido (Mat. 5:18);
e isto é alegado por algumas pessoas para
estabelecer a inerrância e infalibilidade
das Escrituras. Indubitavelmente, Jesus,
com infinita sabedoria, usou uma figura
de linguagem para enfatizar uma ver­
dade. Ele dificilmente queria fazer uma
referência a pequenos sinais de es­
crita; de outra forma, como poderia ele
separar palavras explícitas da Lei (Mat.
5:33,34, 38-39; cf. Êx. 21:24; Lev. 19:12;
Núm. 30:2; Deut. 19:21; 23:21)? (7) As
Escrituras são uma revelação progressiva
de Deus, e, por isso, uma revelação pro­
gressiva com a sua culminação perfeita e
absoluta no Verbo que se fez carne em
Cristo. (8) O fato da revelação e inspi­
ração divinas não é, de forma alguma,
dependente de uma opinião determinada
acerca da inspiração, e não corre ne­
nhum perigo por causa da pesquisa críti­
ca e do estudo erudito.
Deus usa veículos humanos. — Atra­
vés desses veículos, a revelação inspirada
é dada aos homens. A Bíblia é um livro
divino-humano. Deus revelou-se a pes­
soas vivas. Deus falou aos homens, e eles
relataram o que ele disse: contaram o
que ele fez. Eles passaram esse registro à
geração seguinte, e à seguinte, e à se­
guinte, e assim por diante. Por um pe­
ríodo desconhecido de tempo, a revela­
ção foi comunicada quase que totalmente
por tradição oral. Com o correr do tem­
po, a tradição tornou-se narrativas escri­
tas das palavras e atos do Senhor. Quan­
do isto transpirou pela primeira vez, e até
que ponto, ninguém sabe. Moisés escre­
veu as palavras do Senhor (Êx. 24:4).
Quanto Moisés escreveu não pode ser
determinado com qualquer exatidão,
mas as referências à parte que ele teve em
comunicar a revelação de Deus — espe­
cialmente mandamentos e estatutos —
justificam a conclusão de que o que ele
escreveu foi uma fonte importante, da
qual, muitos anos mais tarde, os escrito­
res do Pentateuco se aproveitaram para
fazer um relato confiável da revelação de
Deus aos filhos de Israel e dos tratamen­
tos a que ele os submeteu.
A ênfase que verificamos aqui é que
Deus ordenou veículos humanos como
canais de uma revelação escrita. Quantos
escritores? Não o sabemos. Quem eram
eles? Não o sabemos. Moisés, Samuel,
Davi, Salomão e Esdras — Deus os usou.
26
Amós, Isaías, Jeremias e Ezequiel —
Deus os usou. Mas houve outros, muitos
outros, conhecidos e desconhecidos, que
viveram durante um período de vários
séculos, que foram movidos pelo Espírito
Santo, para colocar em forma escrita a
palavra de Deus. E, juntamente com os
escritores, devem ser lembrados os que
copiaram e compilaram os escritos e fi­
nalmente lhes deram a forma em que eles
se tomaram, por fim, as Escrituras He­
braicas.
Aconteceu semelhantemente com o
Novo Testamento. Quantos foram os es­
critores e quem eram eles — não pode­
mos ter certeza. Mencionamos os nomes
familiares: Paulo, Lucas, Marcos, Ma­
teus, João, Tiago, Judas e Pedro, e é forte
a evidência para confirmar a contribui­
ção que eles fizeram. Mas, semelhante­
mente, as evidências suscitam interroga­
ções com respeito a pelo menos alguns
deles. A identidade de outros escritores é
um mistério ainda maior.
O fato de que a revelação de Deus veio
através de veículos humanos explica mui­
ta coisa a respeito da Bíblia. Explica, em
grande parte, a sua grande variedade de
forma e qualidade literária, aspectos de
seu interesse humano e diferentes dispo­
sições de ânimo, e vários níveis de per­
cepção espiritual e testemunho ético.
Permitam-nos enfatizar este princípio
de revelação. O tesouro de revelação
inspirada, a verdade da revelação bíbli­
ca, chegou até nós através de “vasos de
barro” . Os escritores eram homens. Eles
eram finitos e falíveis. Eram humanos, e,
por isso, sujeitos a limitações de conhe­
cimentos e entendimento. Mas eram pes­
soas através de quem o poder transcen­
dente de Deus operou — vivificando,
iluminando, guiando e capacitando-os
para serem os canais da mensagem sal­
vadora de Deus em Cristo. As Sagradas
Escrituras têm o seu caráter essencial em
sua natureza como revelação inspirada
de Deus. Apontando para Cristo e en­
contrando a sua unidade e o seu signifi­
cado em Cristo, elas são a Palavra de
Deus.
II. Da Revelação Para o Livro
Outra pergunta que merece conside­
ração é: Como foi que a revelação de
Deus se tomou o Livro da Escritura
Sagrada? Os desenvolvimentos não são
determináveis por evidências objetivas,
catalogadas e verificadas. Chega-se a eles
por implicações e deduções, a partir do
testemunho interno das Escrituras e do
que a pessoa crê acerca da forma como
Deus realiza o seu propósito para se re­
velar.
A princípio, a revelação foi preservada
e comunicada por transmissão oral, que
se tomou, com o passar dos tempos,
tradição oral. Aqui, tradição de forma
alguma subentende irrealidade ou algo
que seja indigno de confiança. Desde
quando o homem foi criado, Deus reve­
lou-se ao homem; e este começou a pas­
sar às gerações sucessivas a narrativa da
experiência e o depósito de verdade que
se originavam dos tratamentos de Deus
para com ele e a sua maneira de entender
os propósitos de Deus.
Parece que a mente hebraica tinha
uma capacidade peculiar de memória.
Daí a variegada experiência cultural, de
pessoas e lugares, de geografia e de his­
tória, de ritual e de adoração, de leis e
costumes, foi entregue à memória. Os
líderes de tribos e de famílias assumiram
um papel responsável em passar adiante
essas tradições, sendo as mais impor­
tantes as que se relacionavam com as
palavras e atos do Senhor.
A crescente experiência religiosa do
povo que adorava a Deus tomou-se outro
meio para se receber, interpretar e comu­
nicar a revelação. Deus tratou com o seu
povo — disciplinou-o, deu-lhe manda­
mentos, manifestou-lhe a sua glória, exe­
cutou julgamento sobre ele, libertou-o,
abençoou-o, entrou em aliança com ele e
vocacionou líderes e profetas para lhe de­
clarar as suas palavras. Os anos torna-
27
ram-se décadas, e as décadas, séculos.
Nesse ínterim, a experiência religiosa dos
filhos de Israel, enriquecida:, por vezes,
pela observância das festas e pela fideli­
dade na adoração, e pervertida, outras
vezes, pela idolatria e iniqüidade e hipo­
crisia, tornou-se um veículo de revelação.
Os acontecimentos da história de que
os filhos de Israel participaram foram
outro meio de revelação. Deus colocou o
seu povo na terra de Canaã, cercado
pelas nações do antigo Oriente Próximo.
Os israelitas estavam na estrada das na­
ções, e, inevitavelmente, na corrente da
História. O que aconteceu dentro e fora
de Israel, nunca à parte do propósito e do
poder soberanos de Deus, forneceu um
veículo de acontecimentos de revelação.
Neste mesmo contexto de experiência
religiosa e acontecimentos históricos,
Deus chamou profetas para declararem a
sua palavra ao seu povo. A palavra de
Deus veio aos profetas, e eles a declara­
ram fielmente. O ministério profético
tornou-se o veículo mais excelente, na
vida de Israel, para o depósito da revela­
ção. Foi a mensagem profética, tanto
falada quanto escrita, que enunciou mais
plenamente e interpretou mais claramen­
te a verdade a respeito de Deus, o seu
propósito para com o seu povo e a sua
vontade e o caminho que ele preconizava
para todos os homens.
Estas todas eram fontes, quer diretas,
quer indiretas, de que os sacerdotes,
escribas, reis e profetas se aproveitaram
para escrever as Escrituras do Velho Tes­
tamento. Em muitos casos, Deus falou
diretamente a indivíduos escolhidos, que
escreveram a verdade a eles revelada. Em
muitos outros casos, as evidências suge­
rem fortemente, os escritores relataram
os acontecimentos, mandamentos e ex­
periências de tradições e anais anteriores
à sua época. E, desta forma, os oráculos
de Deus se tornaram a revelação escrita
do Velho Testamento.
Exatamente quando as várias partes,
os muitos livros, do Velho Testamento
foram escritos é fato que não pode ser
determinado. O labor de escrita abran­
geu centenas de anos. Há um consenso
quase geral, entre os eruditos, de que
editores compilaram material escrito,
produzido a partir das fontes descritas
acima, e lhe deram forma permanente.
Um estudo bíblico confiável mostrará
que o Pentateuco existia essencialmente
em sua forma presente deste 400 a.C.,
aproximadamente. Os livros de Josué,
Juizes, I e II Samuel e I e II Reis eram
conhecidos pelos judeus como os “Profe­
tas Anteriores” e, provavelmente, che­
garam à sua forma presente, em grande
parte, entre 650 e 550 a.C. Os “Profetas
Posteriores” — os livros de Isaías, Je­
remias e Ezequiel, e de Oséias até Mala-
quias — chegaram, provavelmente, à sua
forma presente por volta de 200 a.C. Os
“Salmos” — os livros poéticos, junta­
mente com Rute, Ester, Daniel, Eclesias-
tes, Esdras, Neemias e I e II Crônicas —
foram escritos no decorrer de um longo
período de tempo, e se tornaram uma
coleção por volta de 132 a.C. Um concílio
de rabis judaicos, em cerca de 90 d.C.,
aceitou os 39 livros do Velho Testamento
como o Cânon Hebraico das Escrituras.
Os mesmos 39 livros foram semelhante­
mente aceitos na tradição cristã.
Algo da mesma espécie de desenvolvi­
mento aconteceu — em princípio, mas
não em padrão — relativamente ao Novo
Testamento. A suprema diferença foi
que Jesus Cristo veio, a Palavra viva entre
os homens. Alguns dos escritores o viram
na carne, ouviram-no, tocaram-no e co­
nheceram o magnetismo de sua presença
física, bem como o poder do seu Espírito
vivo dentro deles. Os apóstolos eram
pessoas que acompanharam Jesus desde
o seu batismo por João até a hora de sua
ascensão (At. 1:21,22). Os outros escri­
tores, podemos presumir seguramente,
como Lucas, conheceram e conversaram
com algumas pessoas “que desde o prin­
cípio foram testemunhas oculares e mi­
nistros da palavra” (Luc. 1:2). Desta
forma, o Novo Testamento originou-se de
um relacionamento face a face dos após-
28
tolos com Jesus e de suas conversas face a
face com ele depois de sua ressurreição,
das tradições orais de testemunhas
oculares do Senhor, da experiência re­
dentora de seguidores que haviam crido,
dos acontecimentos históricos de teste­
munhas apostólicas, da koinonia da Igre­
ja viva, das tribulações, sofrimentos e
perseguições pelo nome de Cristo, da
visão do Cristo vivo e da comunicação
direta da sua palavra de verdade, graça e
vitória.
Tanto quanto em relação ao Velho
Testamento, o período em que foram
escritos os 27 livros do Novo Testamento
não pode ser fixado de maneira defini­
da. Cada livro, em certo sentido, subsis­
te isoladamente. Os eruditos têm opi­
niões várias, que serão abordadas na»
introduções do comentário de cada livro.
As evidências aceitas genericamente deli­
mitam o período em que esses livros
foram escritos entre 50 e 100 d.C., em­
bora algumas evidências confirmem uma
data posterior, para alguns livros, por
exemplo, algumas das cartas gerais. Du­
rante o mesmo período, muitos livros
cristãos foram escritos. Surgiu a questão:
Quais dentre todas essas obras deviam
ser reconhecidas como inspiradas e con­
tadas como parte das Escrituras? O teste
de sua aceitação e valor por mais de três
séculos — guiado, podemos estar certos,
pelo Espírito Santo — levou à aceitação
dos 27 livros que se tornaram o Novo
Testamento. Por volta do fim do quarto
século, esses livros haviam ganho aceita­
ção como sendo revelação dada por
Deus, para os cristãos, através das eras
futuras. “O cânon foi determinado pelo
uso, pelo consentimento comum da co­
munidade cristã, testando os livros em
sua vida diária, no decorrer de séculos; e
não por autoridade formal” (F. W. Bea-
re, IDB, I, 531).
Uma palavra precisa resumir a ver­
dade, e dar a chave para o mistério e a
realidade de a revelação inspirada ter-se
tornado as Escrituras Sagradas: o sobe­
rano Espírito de Deus. Ele chamou e
iluminou, guiou e capacitou, e moveu
homens para falar da parte de Deus e em
nome de Deus.
III. O Significado da Bíblia
O significado da Bíblia baseia-se em
características óbvias e importantes, a
saber, a sua autoridade e a sua importân­
cia.
1. A Autoridade da Bíblia
A autoridade da Bíblia, indubitavel­
mente, origina-se no fato de ela ser reve­
lação inspirada de Deus,. Considerada
em sua integridade e unidade, ela é a
Palavra de Deus. Por isso ela tem a
autoridade de Deus por detrás dela. Ela é
o mandato divino para a fé religiosa e
para o dever moral da humanidade.
Porém é necessário que se diga muito
mais do que isto. Como é que a autorida­
de da Bíblia se relaciona com Jesus Cris­
to? Ele dizia ter toda a autoridade no céu
e na terra. Ele exerceu autoridade sobre
a natureza, a doença, os demônios e a
morte. Deus “o fez Senhor e Cristo” (At.
2:36). A autoridade final e última sobre
todas as pessoas e todas as coisas é o
Cristo vivo. Segue-se, portanto, que a
autoridade da Bíblia deve sempre ser
vistá à luz do senhorio de Cristo. A sua
autoridade reside não na inerrância de
palavras e frases, ou na coerência per­
feita de todos os números e acontecimen­
tos ou no entendimento perfeito de Deus,
da parte dos seus servos escolhidos. Pelo
contrário, a sua autoridade está em seu
testemunho autêntico de Jesus Cristo
como o Verbo de Deus. E é bom que seja
enfatizado que a maneira de uma pessoa
entender quem é Cristo como o Filho de
Deus e como o Verbo feito carne, enten­
der a sua obra salvadora através da sua
morte e ressurreição e o seu senhorio
eterno precisa ser testada pelo Novo Tes­
tamento. Uma verdadeira compreensão
de Cristo e do que significa a sua autori­
dade não pode ser determinada por jul-
29
gamento subjetivo nem somente pela ex­
periência. A autoridade da Palavra escri­
ta encontra-se na autoridade da Palavra
viva, através da direção do Espírito San­
to. Nesta base, o Novo Testamento deve
ser aceito pelos crentes como o guia de
autoridade para todos os assuntos de fé e
prática.
Portanto, a autoridade da Bíblia não é
algo legal e judicial nem a compulsão do
literalismo nem a obrigação de prova,
mas a liberdade do senhorio de Cristo e a
voz de seu Espírito. Essa autoridade é
confirmada por aceitação interior, e não
por declaração exterior. Por conseguinte,
para concluir, “a autoridade da Escritu­
ra encontra-se no poder do Senhor vivo
de autenticar a si mesmo, quando fala ao
coração humano através das palavras e
da Escritura” (Rolston: The Bibie and
Christian Teaching, p. 34).
2. A Importância da Bíblia
Mais uma vez, o significado da Bíblia
deve-se à sua importância. Ela fala a
todas as gerações. Isto é verdade, porque
ela é a Palavra de Deus, que é eterna e
imutável. E, também, ela fala a pessoas
nos níveis mais profundos da experiência
humana, às suas necessidades, aspira­
ções, possibilidades e responsabilidades
como pessoas feitas à imagem de Deus.
A Bíblia é sempre contemporânea, por­
que ela é a palavra da vida vinda do
Senhor da vida.
A relevância da Escritura é verificada
também em sua dimensão universal. Ela
declara a mensagem de Deus ao homem
como homem — daí, a todos os grupos
culturais, a todas as raças, a todas as
nações e a todas as pessoas, não importa
qual seja a sua condição social ou eco­
nômica, qual a sua situação humana.
A Bíblia é importante para toda a
humanidade, porque declara a mensa­
gem da salvação. Ela conta as boas-novas
do amor de Deus por uma raça pecadora,
fala da redenção de Deus através de Je­
sus Cristo, de seu desejo de que todas as
pessoascheguem ao arrependimento e das
riquezas da graça em Cristo, pelas quais
todo aquele que invocar o nome do Se­
nhor será salvo (Rom. 10:13). Em ne­
nhum ponto a Bíblia é mais importante
do que quando declara o fato da culpa
universal do homem, devido ao pecado, o
fato de que Jesus morreu pelos pecados
do mundo, o fato de que Jesus ressusci­
tou dentre os mortos e o fato da certeza
de que Jesus Cristo “pode também salvar
perfeitamente os que por ele se chegam a
Deus, porquanto vive sempre para inter­
ceder por eles” (Heb. 7:25). Por esta
razão, acima de tudo, a Bíblia é o Livro
da fé cristã.
A Bíblia é importante porque confron­
ta os crentes com o significado e as exi­
gências do discipulado cristão. Para eles,
a Bíblia é o guia de doutrina e prática, de
adoração e ministério, de comunhão e
testemunho, de certeza e esperança, que
tem autoridade divina. Visto que Jesus é
Senhor, os ensinamentos de Jesus em o
Novo Testamento e o exemplo de sua
vida na carne precisam ser o critério
mediante o qual se viva a vida cristã no
mundo.
A importância da Bíblia é expressa
pelo apaixonado interesse de Deus pelo
bem-estar de todos os homens. Por isso,
ela declara a dignidade e o valor de todo
homem, seja qual for a sua raça ou si­
tuação, como pessoa feita à imagem de
Deus. Ela declara também o juízo de
Deus sobre as pessoas que por orgulho,
cobiça e concupiscência exploram outras
pessoas e lhes roubam as oportunidades
legítimas de realizar os mais elevados
potenciais da personalidade. A Palavra
de Deus proclama contra a opressão, a
injustiça e a corrupção, e advoga a
causa dos famintos, doentes e necessi­
tados. A Bíblia declara o senhorio de
Cristo sobre a vida toda, sobre a ordem
social e todas as pessoas que estão nela.
O homem deve amar o seu próximo como
30
a si mesmo. O Livro da fé cristã é uma
carta patente de justiça e paz na terra, e
um comissionamento de ministério para
pessoas necessitadas, em qualquer parte.
A importância da Bíblia se origina do
fato de que ela fala de maneira signifi­
cativa e confiante aos problemas da hu­
manidade em um universo dinâmico.
Ciência, tecnologia, cibernética, pesqui­
sa, exploração do espaço, energia atômi­
ca e mudança social refletem as leis do
Universo. Encontramos, na Bíblia, a pa­
lavra que nos dá uma perspectiva cristã:
Deus em Cristo é o criador de todas as
coisas (João 1:3); “nele subsistem todas
as coisas” (Col. 1:17). O Deus que criou
e controla o universo material é plena­
mente capaz de, com infinita sabedoria e
poder, controlar o universo moral.Com
Jó, podemos dizer: “Bem sei que tudo
podes, e que nenhum dos teus propósitos
pode ser impedido” (Jó. 42:2).
A Bíblia é importante porque ela en­
frenta honestamente as interrogações
cruciantes da humanidade: Quem é
Deus? Como é Deus? Que é o homem?
Qual é o destino do homem? Como o
homem pode conhecer Deus? Se um ho­
mem morrer, viverá de novo? Qual é o
significado da existência? Qual é o signi­
ficado da História? Para que serve a
vida? As respostas devem ser encontra­
das não na lógica ou na dogmática ou
na prova cientifica, mas na experiência
do homem com Deus, através da fé em
Jesus Cristo, e na confiante comunhão
com ele, através do Espírito.
A Bíblia é importante porque ela enco­
raja esperança em Jesus Cristo. A sua
ressurreição da sepultura declarou a sua
vitória sobre o pecado e a morte. O seu
reino é eterno. Ele voltará em glória e
triunfo. “Segundo a sua promessa,
aguardamos novos céus e uma nova ter­
ra, nos quais habita a justiça” (II Ped.
3:13). O propósito eterno de Deus para a
redenção do homem chegará ao seu cum­
primento em Cristo (Ef. 1:9,10).
IV. Como Se Aproximar da
Bíblia
Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus
para a vida do homem e visto que ela é o
guia que tem autoridade em questões de
experiência moral e espiritual e em todos
os assuntos de fé religiosa e conduta
moral, qual é a maneira correta de se
aproximar da Bíblia? Com que atitude e
objetivos os crentes devem ler e estudar a
Bíblia?
1. A abordagem da Bíblia exige o
reconhecimento de sua natureza e seu
propósito e também a percepção dos
atributos dela que influenciam a com­
preensão de sua mensagem e sua impor­
tância para a vida em nossa época. A Bí­
blia não é mágica. Ela é revelação. Ela é
um livro divino-humano. Teve muitos es­
critores. Veio à existência através de um
longo período, que cobre cerca de doze
séculos ou mais. A princípio foi escrita
em hebraico, aramaico e grego. A chave
de sua mensagem e significado é Jesus
Cristo, a Palavra viva.
2. A abordagem da Bíblia deve ser de
reverência e fé. Ela fala acerca de Deus.
A energia, sabedoria e direção do Espí­
rito Santo estão nela. O propósito de
Deus é realizado por ela. A verdade re­
dentora, reconciliadora e santificadora
de Deus é o seu conteúdo e dinâmica.
Ela transpira interesse amoroso da parte
do Deus de graça. Declara o julgamento
moral do Deus justo. Fala com a autori­
dade do Deus soberano. Testifica da
graça salvadora de Deus em Cristo. Co­
mo pode qualquer pessoa ousar manu­
sear o Livro sagrado sem que seja com
reverência para com Deus e reverência
pela verdade e poder de Deus em Cristo?
Este livro reclama fé — não fé impen­
sada e bisonha, mas inteligente e con­
fiante. Ele é a narrativa única completa­
mente digna de confiança a respeito da
plena revelação de Deus em Cristo e sua
salvação através de Cristo. Para a pessoa
que está disposta a crer na Bíblia, quan­
31
do ela busca a verdade a respeito da
Bíblia e na Bíblia, ela se tomará vivifi­
cada, com significado e certeza.
3. A abordagem da Bíblia exige aber­
tura de mente, um espírito apto para
aprender e uma sede de aprender. As
laboriosas pesquisas empreendidas por
lingüistas, arqueólogos, historiadores e
eruditos bíblicos propiciaram um vasto
acervo de conhecimento e percepção que
enriquecem o estudo bíblico. O estudan­
te sério das Escrituras precisa estar dis­
posto a se empenhar em um estudo disci­
plinado, para aprender do trabalho dos
outros. Porém, com abertura de mente
para a verdade, sejam quais forem as
suas fontes, ele precisa desenvolver pes­
soalmente faculdades críticas para testar
os conceitos e pontos de vista dos outros,
sempre provando novas idéias e concei­
tos, mediante a própria Bíblia e no labo­
ratório do discipulado obediente. Preci­
sa, além disso, pôr à prova esses concei­
tos e pontos de vista, lendo abundante­
mente a obra de muitos autores e usando
o laboratório de experiência que os cris­
tãos maduros possuem. Finalmente, o
teste de toda a verdade a respeito da Bí­
blia é a questão se ela contribui para uma
fé mais vital na Bíblia, obediência mais
completa aos seus ensinos e uma dedica­
ção mais significativa a Cristo, como
Senhor.
4. A abordagem da Bíblia propria­
mente requer prontidão para obedecer
aos seus mandamentos e prática discipli­
nada de seus ensinos. Ela é a voz da auto­
ridade divina. É a prescrição para rela­
cionamentos harmoniosos. É a diretriz
para excelência moral na vida pessoal,
princípios retos e amor cristão nos rela­
cionamentos sociais, e autodoação (abne­
gação) como a de Cristo e ministério às
necessidades das outras pessoas. Acima
de tudo, ela é uma conclamação a uma fé
voluntária em Jesus Cristo como Salva­
dor e plena dedicação a ele como Senhor.
A palavra de Deus penetra no coração
obediente. Sua palavra deve ser trans­
formada em experiência. “A chave para
a compreensão das Escrituras, tanto do
Velho quanto do Novo Testamento, é o
reconhecimento de Jesus como Senhor”
(Rolston: ibid., p. 33).
5. A abordagem da Bíblia exige um
senso de dependência do Espírito Santo e
uma comunhão dinâmica com ele. Ho­
mens movidos pelo Espírito Santo fala­
ram da parte de Deus. Daí, pessoas aten­
tas ao Espírito, guiadas pelo Espírito,
que receberam poder do Espírito e estão
ansiosas para fazer a vontade do Espírito
ouvem melhor a palavra que vem de
Deus. Ele é o divino Conselheiro, o su­
premo Intérprete. Ele conhece a vontade
de Deus. Ele faz da Palavra escrita uma
palavra viva, escrita no coração, para ser
“conhecida e lida por todos os homens”
(II Cor. 3:2).
Para Leitura Adicional
CARTLEDGE, SAMUEL A. The Bible:
God’s Word to Man. Philadelphia:
Westminster Press, 1961.
DODD, C. H. The Authority of the
Bible. London: Collins Clear Type
Press, Edição Revisada, 1960.
HENRY, CARL F. H. Revelation and
the Bible. Grand Rapids: Baker
Book House, 1958.
HUNTER, A. M. The Message of the
New Testament. Philadelphia:
Westminster Press, 1944.
HUXTABLE, John. The Bible Says.
Richmond: John Knox Press, 1962.
Interpreter’s Dictionary of the Bible.
Nashville: Abingdon, 1962. Veja os
artigos: “Canon of the Old Testa­
ment”, R. H. Pfeiffer, Vol. A-D;
“Canon of the New Testament”,
F. W. Beare, Vol. A-D; “Inspira­
tion and Revelation”, G. W. H.
Lampe, Vol. E-J; “Scripture, Au­
thority of”, Alan Richardson, Vol.
R-Z.
KELLY, BALMER H., Editor. Intro­
duction to the Bible. “The Layman’s
32
Bible Commentary”, Volume 1.
Richmond: John Knox Press, 1959.
ROLSTON, HOLMES. The Bible in
Christian Teaching. Richmond:
John Knox Press, 1962.
ROWLEY, H. H. The Relevance of the
Bible. Carter Lane: England: James
Clarke and Co., 1941.
SMART, JAMES D. The Interpretation
of Scripture. Philadelphia: West­
minster Press, 1961.
33
As Escrituras Traduzidas
Um engenheiro aeronáutico certa vez
disse a um tradutor da Biblia que no
campo da aeronáutica “translação é ques­
tão de vida e morte.” (*) Historicamen­
te, os tradutores da Bíblia têm sentido a
mesma coisa em relação à sua responsa­
bilidade. A tradução das Escrituras co­
munica a mensagem que de fato faz di­
ferença entre vida e morte para todos
nós. A tradução da Bíblia teve início
séculos antes de Cristo, e continua hoje
em uma escala mais ampla do que nun­
ca.
I. Antigas Traduções da Bíblia
Targuns Aramaicos do Velho Testa­
mento. As “traduções” mais antigas (na
verdade, paráfrases) de alguma porção
da Bíblia são os targuns aramaicos do
Velho Testamento, que surgiram para
suprir as necessidades dos judeus pales­
tinos, que entendiam aramaico melhor
do que o hebraico, que era a linguagem
do Velho Testamento. Depois do Exílio,
tornou-se costume, nas sinagogas pales­
tinas, acompanhar a leitura das Escri­
turas em hebraico com uma tradução
aramaica. Hoje, manuscritos do targum
existem para o Pentateuco, os livros pro­
féticos e a maior parte do restante do
Velho Testamento.
A Tradução Grega do Velho Testa­
mento. A tradução grega das Escrituras
Hebraicas foi produzida especialmente
para suprir as exigências de judeus não-
palestinos, cuja língua cotidiana era o
grego. Tiáham necessidade disso espe-
(*) NOTA DO TRADUTOR: Em inglês, “transla­
ção” e “tradução” são a mesma palavra. Dai,
um jogo de palavras impossível de seguir em
português.
Barclay M. Newman, Jr.
cialmente os judeus do Egito, e foi ali,
em Alexandria, que o Pentateuco foi
traduzido durante o reinado de Ptolomeu
Filadelfo (285-246 a.C.). Durante os dois
séculos seguintes o restante das Escritu­
ras Hebraicas foi traduzido para o grego.
A tradição é de que esta obra foi feita por
um grupo de setenta (ou setenta e dois)
eruditos. Por isso, ela veio a ser conheci­
da como Septuaginta (LXX), que signifi­
ca “setenta”.
Versões Siríacas. Já em 150 d.C., o
Novo Testamento foi traduzido para o
siríaco, dialeto do aramaico falado na
Síria e na Mesopotâmia. Perto do fim do
quarto século as versões siríacas existen­
tes foram revisadas, com base no grego, e
a tradução resultante tornou-se conheci­
da como Peshitta, ou versão “simples”.
Versões Latinas. A versão Latina An­
tiga, segundo se crê, data, aproximada­
mente, do mesmo tempo que as primei­
ras versões siríacas, e parece ter-se origi­
nado no Norte da Ãfrica, embora algu­
mas pessoas argumentem que tenha sido
Antioquia da Síria, ou Roma, o seu lugar
de origem. O Velho Testamento não foi
traduzido diretamente do hebraico, mas
da Septuaginta. Aparentemente, no
quarto século havia várias versões latinas
competindo umas com as outras. Desta
forma, o Papa comissionou Jerônimo
para revisar a Bíblia latina, o que ele fez
usando o texto hebraico como base
para a sua versão do Velho Testamento.
A tradução de Jerônimo é conhecida
como a Vulgata ou versão “comum” .
Versões Cópticas. O cóptico é a forma
modernizada da antiga língua egípcia; é
escrito com caracteres gregos, com a
adição de várias letras que representam
35
sons consonantais que não existem no
grego. Já em 200 d.C., o Novo Testamen­
to foi traduzido para o saídico, um dos
mais importantes dialetos cópticos, e no
decorrer de um século a maior parte dos
livros da Bíblia apareceu em saídico. Os
tradutores usaram a Septuaginta como
base para o trabalho com o Velho Testa­
mento. Mais tarde, foram feitas tradu­
ções em outros dialetos cópticos, sendo a
mais importante a em boaírico, que final­
mente superou as outras versões cópticas.
Outras Versões Antigas. A primeira
versão em uma língua teutônica foi a
Versão Gótica, feita pelo erudito Bispo
Ulfilas, nos meados do quarto século.
Uma tradução armênia foi feita no quin­
to século, por Meshrop, que inventou o
alfabeto armênio, e por Sahak, o Patriar­
ca. Meshrop também inventou o alfabeto
geórgio, embora não seja conhecido o
autor da tradução das Escrituras em
geórgio (quinto século).
II. A Bíblia em Inglês
1. Antes da Versão King James
Indubitavelmente, a Versão do Rei
Tiago (King James Version — KJV) é a
mais notória de todas as traduções da
Bíblia em inglês, e foi uma importante
história de acontecimentos que levou à
publicação desta versão. De fato, pode-se
dizer que a história da Bíblia inglesa
começou com a introdução do cristia­
nismo na Bretanha durante a primeira
parte do terceiro século. Nesse primeiro
estágio, a mensagem bíblica deve ter
passado adiante em primeiro lugar oral­
mente, época em que os homens apresen­
tavam interpretações livres da Bíblia la­
tina no vernáculo. E também, através da
arte, do cântico, do drama e do ritual, as
verdades bíblicas foram comunicadas às
massas. Pelo menos dois fatores impedi­
ram qualquer trabalho sério de tradu­
ção. O primeiro foi o medo da Igreja de
perder o controle sobre as mentes do
povo, se lhe fosse permitido estudar as
Escrituras por si mesmo; o segundo foi o
analfabetismo generalizado.
Tanto quanto se sabe, a primeira tra­
dução da Bíblia toda em inglês foi reali­
zada por John Wycliffe, que produziu o
Novo Testamento no ano de 1380, se­
guido por toda a Bíblia um ou dois anos
mais tarde. Visto que Wycliffe não co­
nhecia o grego, a sua tradução foi feita a
partir do latim, e incluía os Livros Apó­
crifos. A esperança de Wycliffe era que a
sua tradução alcançasse o povo comum;
e isto foi por fim conseguido através da
revisão de sua obra por seus colegas,
pouco depois de sua morte, em 1384.
William Tyndale produziu a primeira
edição impressa da Bíblia inglesa. Por
volta de 1510, ano em que Tyndale foi a
Oxford, para estudar, havia acontecido
um reavivamento de interesse por línguas
antigas, inclusive pelo hebraico e o gre­
go, as línguas das Escrituras. Assim,
quando Tyndale começou o seu trabalho
com o Novo Testamento, por volta de
1522, foi capaz de usar o texto grego
como base para a sua obra. Incapaz de
receber apoio das autoridades eclesiásti­
cas inglesas, para os seus esforços, ele
dirigiu-se à Alemanha, para conseguir
esse apoio. Finalmente, na cidade de
Worms, lugar em que Martinho Lutero
havia sido levado a julgamento quatro
anos antes, Tyndale publicou a sua pri­
meira edição do Novo Testamento, em
1525. No começo do ano seguinte, cópias
de sua obra começaram a ser contraban­
deadas para a Inglaterra, onde foram
ansiosamente recebidas pelas massas.
Em 1530, Tyndale publicou o Pentateu-
co, e, no ano seguinte, o livro de Jonas.
Em 1535, saiu uma edição corrigida de
seu Novo Testamento revisado. Naquele
mesmo ano, ele foi traído por um “ami­
go” , aprisionado e, um ano e meio mais
tarde, morto por estrangulamento e quei­
mado em uma estaca. As suas últimas
palavras foram: “Senhor, abre os olhos
do rei da Inglaterra.”
36
No outono de 1535, um monge agosti-
niano, chamado Miles Coverdale, tradu­
ziu o Novo Testamento. A sua obra, que
ele admitiu ser baseada no latim e no
alemão, e talvez ainda mais na obra de
Tyndale, se destinava a tomar-se a pri­
meira Bíblia completa em inglês. Ele
dedicou o seu trabalho ao Rei Henrique
VIII, eliminou notas controversas e res­
taurou termos eclesiásticos favoritos, que
haviam sido alterados por Tyndale, fa­
tores que fizeram de sua tradução um
trabalho mais aceitável para os que esta­
vam em posição de autoridade.
A primeira Bíblia a receber aprovação
oficial na Inglaterra foi a chamada Bí­
blia de Matthew, por causa de sua cone­
xão com um certo Thomas Matthew.
Mas, na verdade, Thomas Matthew pare­
ce ter sido o pseudônimo de John Rogers,
amigo de Tyndale, que foi o primeiro dos
protestantes a ser condenado à morte
durante o reinado da infame Maria Tu-
dor, mais conhecida como Bloody Mary
(Maria, a Sanguinária). Em 1537, a Bí­
blia de Matthew foi publicada e aprova­
da por Henrique VIII para uso em leitu­
ras privadas.
Até então não havia uma Bíblia que
fosse oficialmente sancionada pelo rei e
pelas autoridades eclesiásticas para uso
na adoração pública. Foi oferecida a
Coverdale a responsabilidade desta tare­
fa, cujo resultado foi a Bíblia Grande,
publicada em 1539, única versão já auto­
rizada por um rei da Inglaterra. Até
mesmo a KJV, freqüentemente mencio­
nada como Versão Autorizada, nunca
recebeu o reconhecimento como tal por
decreto oficial. Ordenou-se que a Bíblia
Grande fosse colocada em todas as igre­
jas da Inglaterra. Durante os anos se­
guintes, restrições foram impostas à lei­
tura pública da Bíblia propriamente
dita, e, em 1546, iniciou-se um esforço
organizado para queimar todas as Bí­
blias, exceto a Bíblia Grande.
As instáveis condições políticas da In­
glaterra, em seguida ao reinado de Hen­
rique VIII, fizeram necessário que os
clérigos evangélicos e reformadores pro­
curassem refúgio fora do país. Um dos
principais centros para onde essas pes­
soas fugiram foi Genebra, onde apare­
ceu, em 1560, a Bíblia de Genebra, com
a ajuda de eruditos, como Coverdale,
John Knox, João Calvino e Theodore
Beza. Por várias razões, esta foi, sem
comparação, a melhor Bíblia inglesa
produzida até então: o Velho Testamen­
to seguia o texto hebraico mais de perto
do que qualquer tradução anterior; as
notas marginais não eram tão controver­
sas como nas traduções anteriores; e essa
foi a primeira vez que foi usada a divisão
em versículos na Bíblia toda, como à co­
nhecemos hoje. Além do mais, os tradu­
tores tiveram a vantagem de ser capazes
de usar como base de seu trabalho a Bí­
blia Grande e a edição do Novo Testa­
mento feita por William Whittingham,
em 1557.
Por fim, a Bíblia de Genebra provou
ser demasiada competição para a Bíblia
Grande, mas houve forte oposição à sua
adoção como Bíblia oficial para a Igreja
da Inglaterra. Como tentativa para re­
solver essa situação, Matthew Parker,
Arcebispo de Cantuária, propôs uma re­
visão da Bíblia por uma equipe de estu­
diosos. Por causa da predominância de
bispos, nessa comissão, a tradução ficou
conhecida como Bíblia dos Bispos. Ime­
diatamente depois de sua publicação, em
1568, ela tomou-se a Bíblia oficial da
Igreja da Inglaterra, mas não podia com­
petir em popularidade com a Bíblia de
Genebra.
Embora a Igreja Romana, em princí­
pio, se opusesse à indiscriminada disse­
minação da Bíblia entre o povo comum,
ela sentiu-se compelida a produzir uma
Bíblia sua. O Novo Testamento apareceu
em 1582 e recebeu o seu nome de
Rheims, cidade francesa em que a tradu­
ção foi feita e impressa. Em 1609-1610, o
Velho Testamento foi publicado em
Douay, França. A Bíblia toda, conhecida
37
como Versão Douay, tornou-se a Bíblia
oficial da Igreja Católica de fala inglesa.
Ela se baseava na Vulgata, e não nas
línguas originais da Escritura.
2. A Versão do Rei Tiago
Quando o rei Tiago VI, da Escócia,
tornou-se o rei Tiago I da Inglaterra,
havia pelo menos três versões da Bíblia,
em competição umas com as outras: a
Bíblia de Genebra, a Bíblia Grande e a
Bíblia dos Bispos. Tiago tinha pontos de
vista fortemente protestantes, bem como
um pronunciado interesse em estudos
bíblicos e tradução da Escritura. Por
isso, quando os puritanos lhe apresenta­
ram uma petição, em janeiro de 1604,
requerendo que fosse feita uma nova
tradução, eles se dirigiram ao homem
certo.
O trabalho da nova tradução começou
em 1607, com um total de 47 tradutores
trabalhando em seis comissões, duas das
quais se reuniam em Cambridge, duas
em Oxford e duas em Westminster. Cada
comissão trabalhava em partes diferentes
da Bíblia, e, mais tarde, uma comissão
de revisão, consistindo de dois represen­
tantes de cada uma das seis comissões, se
reuniu diariamente, durante nove meses,
revisando as traduções. Uma revisão fi­
nal foi então feita por uma comissão de
duas pessoas: Miles Smith, um dos tra­
dutores, e Thomas Bilson, que estava
fora do grupo. A tradução, ou melhor, a
revisão, foi publicada em 1611.
Muito pode-se aprender a respeito do
trabalho de tradução lendo-se as regras
de procedimento e o prefácio. Infeliz­
mente, o prefácio não é incluído na
maioria das edições da KJV; se ele tivesse
sido publicado e lido cuidadosamente
pelos leitores da KJV, muitos conceitos
errados teriam sido evitados. Uma das
regras mais importantes foi que a Bíblia
dos Bispos devia ser seguida tanto quan­
to possível. Devia-se comparar o traba­
lho com outras traduções, especialmente
as de Tyndale, Matthew, Coverdale, a
Bíblia Grande e a Bíblia de Genebra; e,
de fato, a tradução de Tyndale e a Bíblia
de Genebra foram seguidas mais de perto
do que a Bíblia dos Bispos, o que pode
considerar-se crédito para os revisores.
“As velhas palavras eclesiásticas” de­
viam ser conservadas; as notas marginais
deviam ser limitadas a explicações das
palavras hebraicas e gregas; e as divi­
sões em capítulos e versículos deviam ser
alteradas o mínimo possível da linha
tradicional.
Como acontece com muitas outras tra­
duções, a KJV teve que enfrentar uma
longa luta para conseguir a aceitação po­
pular. Por decreto oficial, ela substituiu
a Bíblia dos Bispos, mas levou meio
século para tomar o lugar da Bíblia de
Genebra, no uso popular. Houve muitas
edições subseqüentes da KJV, algumas
delas contendo numerosas modificações
da edição “original” . De fato, a primeira
impressão foi feita por duas imprensas, e
não houve exata uniformidade entre as
duas publicações. Então, a edição de
1613 teve bem mais de 300 alterações,
decorrentes das duas publicações ini­
ciais. A “edição-padrão” da KJV, aquela
com que os leitores estão familiarizados
hoje em dia, é a edição de 1769, revisada
por Benjamin Blayney, de Oxford. Pou­
cas modificações foram feitas desde en­
tão.
Os homens envolvidos com a KJV re­
presentavam uma ampla variedade de
antecedentes eclesiásticos, bem como a
mais elevada erudição da época. E o
fruto de seu trabalho deixou uma in­
fluência ampla e duradoura sobre a lite­
ratura inglesa e em outros aspectos da
vida do mundo de fala inglesa. Não obs­
tante, a obra que eles realizaram não foi
feita sem limitações. O texto grego dis­
ponível para eles era essencialmente o
texto corrompido de Erasmo, e àquela
época não havia nenhuma edição-padrão
do Velho Testamento hebraico. Sobretu­
do, eles não tinham acesso a importantes
versões antigas, como a Velha Latina e a
38
Velha Siríaca, e as descobertas de papi­
ros ainda deviam ser feitas posterior­
mente.
3. A Bíblia Inglesa Desde a Versão do
Rei Tiago (KJV)
The English Revised Version. Já em
1810, Herbert Marsh de Cambridge decla­
rou: “É provável que a nossa Versão Auto­
rizada seja tão fiel como representação das
Escrituras originais como podia sê-lo na­
quela época. Mas quando considera­
mos... que as fontes mais importantes de
inteligência para a interpretação das Es­
crituras originais foram semelhantemen­
te abertas depois daquele período, não
podemos pretender que a nossa Versão
Autorizada não requeira emendas.” As
suas palavras, evidentemente, represen­
tavam um sentimento disseminado entre
os eruditos bíblicos de sua época. Porém
só em 1870 a Igreja empreendeu uma
ação oficial para iniciar a revisão neces­
sária. O propósito declarado era revisar a
KJV, introduzindo, no texto, o mínimo
possível de alterações; mas, no cômputo
final, a quantidade de modificações foi
enorme. Um total de 65 eruditos traba­
lhou na revisão. O Novo Testamento foi
publicado em maio de 1881; o Velho
e o Novo Testamentos foram publicados
juntos em maio de 1885; e a revisão dos
Livros Apócrifos foi completada em
1895.
O Novo Testamento tomou-se imedia­
tamente um sucesso de vendas. Mas a
sua popularidade teve vida curta, mesmo
entre aqueles cujas simpatias eram as
maiores. A razão para esta reação nega­
tiva foi o estilo do inglês, ou melhor, a
falta de estilo do inglês. Os revisores
haviam sido tão fiéis à ordem de pala­
vras no grego, que o inglês soava anti-
natural e era, muitas vezes, obscuro.
The American Standard Version. Al­
guns eruditos americanos foram consul­
tados durante a preparação da ERV,
mas o Comitê Americano não ficou in­
teiramente satisfeito com a publicação
final. Eles queriam uma eliminação mais
ampla de palavras arcaicas e mais aten­
ção ao uso do inglês americano. Assim, o
Comitê Americano decidiu publicar uma
edição americana separada, e esta apa­
receu em agosto de 1901. Em alguns
pontos houve melhoras sensíveis em rela­
ção à ERV, mas a ASV foi muito critica­
da, por usar “Jeová” onde os revisores
ingleses haviam conservado “Senhor” ou
“Deus”. Mais do que isto, a ASV conser­
va a mesma fraqueza básica da ERV: o
inglês não é natural. De ambas as ver­
sões tem sido dito corretamente que elas
são fortes em hebraico e grego, mas
fracas em inglês.
Algumas das Primeiras Traduções Mo­
dernas Para o Inglês. Pelo menos três
fatores contribuíram para o aparecimen­
to de várias traduções modernas para o
inglês na primeira parte deste século.
O primeiro foi a descoberta de importan­
tes manuscritos bíblicos antigos, que ca­
pacitaram o tradutor a chegar mais perto
do que nunca do texto original. O segun­
do foi a descoberta de grande número
de documentos no Egito, escritos em
papiro, dados escritos miscelâneos da
época do Novo Testamento, indicando
que o grego do Novo Testamento era o
grego comum da época. Terceiro, a cons­
ciência cada vez mais profunda de que
traduções em linguagem arcaica ou em
frases de som estranho simplesmente não
comunicavam adequadamente a mensa­
gem da Bíblia.
A primeira tentativa digna de nota
para se fazer uma tradução modema
para o inglês foi The Twentieth Century
New Testament, que apareceu de uma
forma experimental por um grupo anôni­
mo de vinte eruditos, entre 1898 e 1901, e
em forma final em 1904. Na Inglaterra,
Richard F. Weymouth, competente eru­
dito em Novo Testamento, fez uma tra­
dução que esperava fosse suplementar as
versões “padrão”; ela foi publicada pos­
tumamente em 1903. Em 1924, um gru­
po de três estudiosos publicou uma edi-
39
ção revisada de sua obra. Em 1943, foi
publicada uma edição americana.
Em 1913, James A. Moffatt, um es­
cocês que havia-se unido ao corpo do­
cente do Seminário Teológico União, em
New York, publicou a sua tradução do
Novo Testamento. Ele trouxe a lume o
seu Velho Testamento em 1924, e a
Bíblia toda em 1926 — e, mais tarde,
uma versão revisada em 1935. O objetivo
de Moffatt era “apresentar os livros do
Velho e Novo Testamentos em um inglês
eficiente e inteligível” e “ser exato e idio­
mático” .
The New Testament, an American
Transiation, feita por Edgar J. Goods-
peed e publicada em 1923, fez para os
que falam o inglês americano o que Mof­
fatt havia feito para os que falam o inglês
britânico. Em 1927, um grupo de estu­
diosos, dirigido por J. M. P. Smith, levou
ao prelo um Velho Testamento em jar­
gão americano, e, em 1931, este foi pu­
blicado juntamente com o Novo Testa­
mento de Goodspeed, com o título de
The Complete Bible; An American
Transiation.
The Revised Standard Version. Antes
da publicação da ASV, em 1901, várias
publicações “não-autorizadas” da ERV
apareceram, com “melhoramentos” , pa­
ra o leitor americano. Para proteger o
texto contra modificações ulteriores, a
ASV teve reservados os direitos de publi­
cação (copyright) em 1901; e, em 1928,
estes direitos reservados foram adquiri­
dos pelo International Council of Reli-
gious Education, e assim tomou-se pro­
priedade das igrejas batistas dos Estados
Unidos e Canadá. Uma comissão de es­
tudiosos foi indicada para ver se era ne­
cessária uma outra revisão. Depois de
estudar a questão durante mais de dois
anos, ela decidiu que uma revisão era
necessária, e, pelo voto do Concílio, em
1937, o objetivo da revisão foi definido:
“Incorporar os melhores resultados da
erudição moderna quanto ao significado
das Escrituras e expressar este significa­
do em linguagem moderna, e que se
designe a ser usada na adoração pública
e privada, e preserve as qualidades que
deram à King James Version um lugar
supremo na literatura inglesa.” Pelo me­
nos três fatores contribuíram para o re­
conhecimento da necessidade de revisão:
o aumento de conhecimento bíblico des­
de a época da KJV, a disponibilidade de
textos gregos e hebraicos melhores do
que os que estavam disponíveis para os
tradutores anteriores e as mudanças da
língua inglesa desde 1611.
A comissão foi dividida em uma seção
para o Velho Testamento e outra para o
Novo Testamento; e o trabalho de cada
seção foi sujeito à revisão pela outra,
sendo que as modificações requeriam
dois terços dos votos dos membros da
comissão toda. Um total de 32 eruditos
serviu nessa comissão, que eram estudio­
sos da Bíblia e também homens escolhi­
dos por suas qualificações em literatura
inglesa e por sua experiência em dirigir
cultos. O Novo Testamento foi publicado
em 1946, e a Bíblia toda, em 30 de setem­
bro de 1952.
à semelhança da KJV, a RSV tem tido
os seus oponentes. Porém a maior parte
dos veementes ataques contra ela cessa­
ram, e a RSV encontrou o seu lugar na
vida da Igreja, onde ela é amplamente
usada na literatura para a Escola Bí­
blica Dominical e nos cultos públicos.
Se os números que revelam as vendas e a
distribuição dizem algo, é digno de nota
que cinco milhões de cópias foram vendi­
das durante os cinco primeiros anos de
publicação, e mais de doze milhões de
cópias, durante os primeiros dez anos.
Algumas das Mais Recentes Tradu­
ções para o Inglês. Uma das mais popu­
lares e imaginosas traduções do Novo
Testamento para o inglês modemo é The
New Testament in Modern English, de J.
B. Phillips. Esta tradução, publicada em
1958, reúne em um só volume as suas
quatro publicações anteriores, a primeira
40
Broadman vol 01   gênesis a êxodo
Broadman vol 01   gênesis a êxodo
Broadman vol 01   gênesis a êxodo
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Broadman vol 01 gênesis a êxodo

  • 3.
  • 5. Todos os direitos reservados. Copyright (c) 1969 da Broadman Press. Copyright (c)1987 da JUERP,para a língua portuguesa, com permissão da Broadman Press. O texto bíblico, nesta publicação, é da Versão da Imprensa Bíblica Brasileira, baseada na tradução em português de João Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em hebraico e grego. 220.7 All-Com Allen, Clifton J., ed. ger. Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento. Editor geral: Clifton J. Alien. Tradução de Adiei Almeida de Oliveira. Rio de Janeiro, Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987. Vol. 1 Título original: The Broadman Bible Commentary 1. Bíblia — Velho Testamento — Comentários. 2. Velho Testamento — Comentários. I. Título. 3.000/1987 Código para Pedido: 21.636 Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira Caixa Postal 320 — CEP: 20001 Rua Silva Vale, 781 — CEP: 21370 Rio de Janeiro, RJ, Brasil Impresso em gráficas próprias
  • 6. Junta de Consultores Clifton I. Allen, ex-Secretário Editorial, Junta Batista de Escolas Dominicais da SBC J. P. Alien, Pastor, Igreja Batista de Broadway, Forth Worth John E. Barnes, Jr., Pastor, Igreja Batis­ ta de Main Street, Hattiesburg Olin T. Binkley, Presidente, Seminário Teológico Batista do Sudeste, Wake Forest, North Carolina WilliamJ. Brown, Gerente, Departamen­ to Oriental, Livrarias Batistas, Junta Batista de Escolas Dominicais John R. Claypool, Pastor, Igreja Batista de Crescent Hill, Louisville, Kentucky Howard P. Colson, Secretário Editorial, Junta Batista de Escolas Dominicais Chauncey R. Daley, Jr., Editor, Western Recorder, Middletown, Kentucky Joseph R. Estes, Secretário, Departa­ mento de Obra Relacionada aos Não- evangélicos, Junta Batista de Missões Nacionais da Southern Baptist Con­ vention William J. Fallis, Editor-Chefe, Livros Religiosos em Geral, Broadman Press Allen W. Graves, Deão, Escola de Edu­ cação Religiosa, Seminário Teológico Batista do Sul, Louisville, Kentucky Joseph F. Green, Editor, Livros de Estu­ do Bíblico, Broadman Press Ralph A. Herring, ex-Diretor, Departa­ mento de Extensão Seminarial, Con­ venção Batista do Sul Herschel H. Hobbs, Pastor, Primeira Igreja Batista, Oklahoma City Warren C. Hultgren, Pastor, Primeira Igreja Batista, Tulsa Lamar Jackson, Pastor, Igreja Batista Meridional, Birmingham L. D. Johnson, Capelão, Universidade Furman J. Hardee Kennedy, Professor de Velho Testamento e Hebraico, Seminário Teológico Batista de New Orleans Herman L. King, Diretor, Divisão de Pu­ blicação, Junta Batista de Escolas Dominicais da SBC William W. Lancaster, Pastor, Primeira Igreja Batista, Decatur, Georgia Randall Lolley, Pastor, Primeira Igreja Batista, Winston-Salem C. DeWitt Mathews, Professor de Prega­ ção, Seminário Teológico Batista do Centro-Oeste John P. Newport, Professor de Filosofia da Religião, Seminário Teológico Ba­ tista do Sudoeste Lucius M. Polhill, ex-Secretário Exe­ cutivo, Associação Geral Batista de Virgínia Porter Routh, Secretário Executivo Te­ soureiro, Comissão Executiva, Con­ venção Batista do Sul John L. Slaughter, ex-Pastor, Primeira Igreja Batista, Spartanburg R. Houston Smith, Pastor, Primeira Igre­ ja Batista, Pineville, Louisiana James L. Sullivan, Secretário Executivo, Junta Batista de Escolas Dominicais Ray Summers, Presidente, Departamen­ to de Religião, Universidade de Bay­ lor Charles A. Trentham, Pastor, Primeira Igreja Batista, Knoxville Keith von Hagen, Diretor, Divisão de Livraria, Junta Batista de Escolas Dominicais J. R. White, Pastor, Primeira Igreja Ba­ tista, Montgomery Conrad Willard, Pastor, Igreja Batista Central, Miami Kyle M. Yates, Jr., Professor de Reli­ gião, Universidade Estadual de Okla­ homa
  • 7.
  • 8. Colaboradores Clifton J. Alien, Junta Batista de Escolas Dominicais (aposentado): Artigo Ge­ ral Morris Ashcraft, Seminário Teológico Batista do Centro-Oeste: Apocalipse G. R. Beasley-Murray, Faculdade Spur­ geon, Londres: II Coríntios T. Milles Bennett, Seminário Teológico Batista do Sudoeste: Malaquias Reidar B. Bjornard, Seminário Teológico Batista do Norte: Ester James A. Brooks, Seminário Teológico Batista de New Orleans: Artigo Geral Raymond Bryan Brown, Seminário Teo­ lógico Batista do Sudeste: I Coríntios John T. Bunn, Universidade Campbell: Cântico dos Cânticos; Ezequiel Joseph A. Callaway, Seminário Teológico Batista do Sul: Artigo Geral E. Luther Copeland, Seminário Teoló­ gico Batista do Sudeste: Artigo Geral Bruce C. Cresson, Universidade Baylor: Obadias Edward R. Dalglish, Universidade Bay­ lor: Juizes; Naum John I. Durham, Seminário Teológico Batista do Sudeste: Salmos; Artigo Geral Frank E. Eakin, Jr., Universidade de Richmond: Sofonias Clyde T. Francisco, Seminário Teológico Batista do Sul: Gênesis; I e II Crôni­ cas; Artigo Geral D. David Garland, Seminário Teológico Batista do Sudoeste: Habacuque A. J. Glaze, Jr., Seminário Internacional Teológico Batista, Buenos Aires: Jo­ nas James Leo Green, Seminário Teológico Batista do Sudeste: Jeremias Emmett Willard Hamrick, Universidade de Wake Forest: Esdras; Neemias William L. Hendricks, Seminário Teoló­ gico Batista do Sudoeste: Artigo Ge­ ral E. Glenn Hinson, Seminário Teológico Batista do Sul: I e II Timóteo; Tito; Artigo Geral Herschel H. Hobbs, Primeira Igreja Ba­ tista, Oklahoma City: I e II Tessalo- nicenses Roy L. Honeycutt, Jr., Seminário Teoló­ gico Batista do Centro-Oeste: Êxodo; II Reis; Oséias William E. Hull, Seminário Teológico Batista do Sul: João Page H. Kelley, Seminário Teológico Ba­ tista do Sul: Isaías J. Hardee Kennedy, Seminário Teológi­ co Batista de New Orleans: Rute; Joel Robert B. Laurin, Seminário Americano Batista do Oeste: Lamentações John William Macgorman, Seminário Teológico Batista do Sudoeste: Gá- latas Edward A. McDowell, Seminário Teoló­ gico Batista do Sudeste (aposentado): I, II e IIIJoão Ralph P. Martin, Seminário Teológico Fuller: I Reis Dale Moody, Seminário Teológico Batis­ ta do Sul: Romanos William H. Morton, Seminário Teológi­ co Batista do Centro-Oeste: Josué Barclay M. Newman, Jr., Sociedade Bí­ blica Americana: Artigo Geral
  • 9. John P. Newport, Seminário Teológico Batista do Sudoeste: Artigo Geral John Joseph Owens, Seminário Teológico Batista do Sul: Números; Jó (com Tate e Watts); Daniel Wayne H. Peterson, Seminário Teológico Batista Golden Gate: Eclesiastes Ben F. Philbeck, Jr., Faculdade Carson- Newman: I e II Samuel William M. Pinson, Jr., Seminário Teo­ lógico Batista do Sudoeste: Artigo Geral Ray F. Robbins, Seminário Teológico Batista de New Orleans: Filemom Eric C. Rust, Seminário Teológico Batis- tista do Sul: Artigo Geral B. Elmo Scoggin, Seminário Teológico Batista do Sudeste: Miquéias; Artigo Geral Burlan A. Sizemore Jr., Seminário Teo­ lógico Batista do Centro-Oeste: Ar­ tigo geral David A. Smith, Universidade Furman: Ageu Ralph L. Smith, Seminário Teológico Batista do Sudoeste: Amós T. C. Smith, Universidade Furman: Atos; Artigo Geral Harold S. Songer, Seminário Teológico Batista do Sul: Tiago Frank Stagg, Seminário Teológico Ba­ tista do Sul: Mateus; Filipenses Ray Summers, Universidade Baylor: I e I I Pedro; Judas; Artigo Geral Marvin E. Tate, Jr., Seminário Teológico Batista do Sul: Jó (com Owens e Watts); Provérbios Malcolm O. Tolbert, Seminário Teológi­ co Batista de New Orleans: Lucas Charles A. Trentham, Primeira Igreja Batista, Knoxville: Hebreus; Artigo Geral Henry E. Turlington, Igreja Batista Uni­ versitária, Chapel Hill, Carolina do Norte: Marcos John S. W. Watts, Faculdade Serampo- re, Serampore. índia: Deuteronômio Jó (com Owens e Tate); Zacarias R. E. O. White, Faculdade Teológica Batista, Glasgow: Colossenses
  • 10. Prefácio O COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN apresenta um estudo bíblico atualizado, dentro do contexto de uma fé robusta na autoridade, adequação e confiabilidade da Bíblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e orientação para o crente que está disposto a empreender o estudo da Bíblia como um alvo sério e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e propósito do COMENTÁRIO, para produzir uma obra adequada às necessidades do estudo bíblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudição bíblica são apresentadas de forma que os leitores sem instrução teológica formal possam usá-las em seu estudo da Bíblia. As notas de rodapé e palavras são limitadas às informações essenciais. Os escritores foram cuidadosamente selecionados, tomando-se em consideração sua reverente fé cristã e seu conhecimento da verdade bíblica. Tendo em mente as necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informações especiais acerca da linguagem e da história onde elas possam ajudar a esclarecer o significado do texto. Eles enfrentam os problemas bíblicos — não apenas quanto à linguagem, mas quanto à doutrina e à ética — porém evitam sutilezas que tenham pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bíblia. Eles expressam os seus pontos de vista e convicções pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opiniões alternativas, quando estas são esposadas por outros sérios e bem-informados estudantes da Bíblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, não podem ser considerados como a posição oficial do editor. O COMENTÁRIO é resultado de muitos anos de planejamento e preparação. A Broadman Press começou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, líderes cristãos — especialmente pastores e professores de seminários — se reuniram, para considerar se um novo comentário era necessário e que forma deveria ter. Como resultado dessas deliberações, em 1961, a junta de consultores que dirige a Editora autorizou a publicação de um comentário em vários volumes. Maiores planejamentos levaram, em 1966, à escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de pastores, professores e líderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966, revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendações, que foram cumpridas à medida que o COMENTÁRIO se foi desenvolvendo. No começo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direção do editor geral, esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar o COMENTÁRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos
  • 11. escritores e na avaliação dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e esforços, fazendo por merecer a mais alta estima e gratidão da parte dos funcionários da Editora que trabalharam com eles. A escolha da Versão da Imprensa Bíblica Brasileira “de acordo com os melhores textos em hebraico e grego” como a Bíblia-texto para o COMENTÁRIO foi feita obviamente. Surgiu da consideração cuidadosa de possíveis alternativas, que foram plenamente discutidas pelos responsáveis pelo Departamento de Publica­ ções Gerais da Junta de Educação Religiosa e Publicações. Dada a fidelidade do texto aos originais bem assim à tradução de Almeida, amplamente difundida e amada entre os evangélicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza assim o exigiu, foram mantidas as traduções alternativas sugeridas pelos próprios autores dos comentários. Através de todo o COMENTÁRIO, o tratamento do texto bíblico procura estabelecer uma combinação equilibrada de exegese e exposição, reconhecendo abertamente que a natureza dos vários livros e o espaço destinado a cada um deles modificará adequadamente a aplicação desta abordagem. Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 têm o objetivo de prover material subsidiário, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da Bíblia. Focalizam-se nas implicações do ensino bíblico com as áreas de adoração, dever ético e missões mundiais da igreja. O COMENTÁRIO evita padrões teológicos contemporâneos e teorias mutáveis. Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos ho­ mens, a sua revelação em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propósito para a redenção do mundo. Procura relacionar a palavra de Deus na Escritura e na Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no mundo de Deus. Mediante fiel interpretação da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o COMENTÁRIO procura refletir a inseparável relação da verdade com a vida, do significado com a experiência. O seu objetivo é respirar a atmosfera de relação com a vida. Procura expressar a relação dinâmica entre a verdade redentora e pessoas vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouvirão com maior clareza o que Deus Pai está-lhes dizendo.
  • 12. Nota do Editor Para o Volume 1 Revisado A Editora Broadman é o departamento geral de publicação de livros da Junta de Escolas Dominicais da Convenção Ba­ tista do Sul dos Estados Unidos e, por­ tanto, está sujeita ao controle da Con­ venção. O seu programa de publicações é executado por oficiais administrativos que agem segundo a orientação e a polí­ tica de membros eleitos pela Convenção. Em 1969, a Editora Broadman publicou o primeiro volume do THE BROAD­ MAN BIBLE COMMENTARY, uma obra em doze volumes, destinada ao sério estudo da Bíblia, como parte dos com­ promissos programáticos correntes da Junta de Escolas Dominicais. Esta revisão do Volume 1 é publicada em resposta às decisões dos mensageiros de 1970 e 1971 da Convenção Batista do Sul, tendo sido estas decisões interpreta­ das pelos membros eleitos da Junta de Escolas Dominicais e implementadas pe­ los oficiais administrativos da Junta. Clyde T. Francisco foi encarregado de escrever um novo comentário sobre o li­ vro de Gênesis, para este volume. Bar- clay H. Newman, Jr., foi convidado a escrever um novo artigo a respeito de “As Escrituras Traduzidas”, visto que o escritor deste artigo anteriormente pu­ blicado pediu que a sua obra não fosse usada neste Volume 1revisado. A lista de colaboradores para todo o Comentário foi atualizada. Todo o outro material é idêntico ao do volume publicado em 1969. Abreviaturas ASV — American Standard Version Heb. — Hebraico IBB — Imprensa Bíblica Brasileira (Versão Revisada) IDB — Interpreter’s Dictionary of the Bible Int. — Introdução JBL — Journal ofBiblicalLiterature KJV — King James Version lit. — literalmente LXX — Septuaginta marg. — margem RSV — Revised Standard Version
  • 13.
  • 14. Sumário Artigos Gerais O Livro da Fé Cristã Clifton J. A llen .................... 17 As Escrituras Traduzidas Barclay M. Newmàn, Jr. .. 35 A Interpretação da Bíblia John P. Newport.................. 51 A Geografia da Bíblia B. Elmo Scoggin.................. 63 A Arqueologia e a Bíblia Joseph A. Callaway ............ 73 O Cânon e o Texto do Velho Testamento Burlan A. Sizemore, Jr . . . . 83 A História de Israel Clyde T. Francisco ............ 93 A Teologia do Velho Testamento E .C .R u st............................ 111 Abordagens Contemporâneas John I. Durhan.................... 131 no Estudo do Velho Testamento Gênesis Clyde T. Francisco Introdução.............................................................................................................. 145 Comentário Sobre o Texto.................................................................................... 171 Êxodo Roy L. Honeycutt, Jr. Introdução.................................................... ......................................................... 367 Comentário Sobre o Texto.................................................................................... 385
  • 15.
  • 17.
  • 18. O Livro da Fé Cristã Clifton J. Allen Começamos com a afirmação de que a Bíblia é a Palavra de Deus. Mas não po­ demos parar neste ponto. Os crentes pre­ cisam fazer algo mais do que simples­ mente louvar a Bíblia. Precisam estar preparados para se haverem com sérias interrogações a respeito da Bíblia. Estas interrogações são feitas não apenas por céticos e cínicos; são feitas também por estudantes devotos e aplicados da Bíblia. Empenhar-se em um estudo assim apli­ cado acarreta a necessidade de enfrentar todas as interrogações válidas a respeito da natureza e da autoridade da Bíblia, e uma mente aberta para avaliar a vali­ dade de suas declarações e a integridade de seu testemunho. Não temos razão para evitar essas interrogações. A Bíblia não está correndo o perigo de embaraço ou de extinção! Os crentes também precisam tornar-se mais conscientes dos questionamentos realistas, mas freqüentemente hostis e céticos do mundo incrédulo e secular a respeito da Bíblia. Esses questionamen­ tos exigem respostas, que são dadas por um conhecimento exato e profundo da Bí­ blia e por uma fé reverente, nutrida por uma compreensão inteligente desse Li­ vro. Uma opinião acerca da Bíblia que não sofreu ataques da ignorância do pre­ conceito, da incredulidade ou do orgulho humanista, pode não ser de confiança, porque não foi testada. Uma fé que não faz perguntas dificilmente é fé, porque não procura significado nenhum. Apropriadamente, perguntamos a res­ peito da Bíblia: Qual é a sua natureza? Como chegou até nós? Qual é a base de sua autoridade? Qual é a sua importân­ cia e qual o seu significado? Ao conside­ rarmos estas perguntas, é essencial ter­ mos em mente o que é a Bíblia. Mais do que qualquer outra coisa, ela é um re­ gistro e uma interpretação da auto-reve- lação de Deus ao homem: é a narrativa autêntica da revelação de Deus em Jesus Cristo, para a redenção do homem. É a história da salvação:1 o propósito salva­ dor, os atos salvadores, a graça salvadora e o poder salvador do Senhor; a missão salvadora do povo de Deus; e a consuma­ ção da obra salvadora de Deus através do senhorio de Cristo. Este conceito sobre que é a Bíblia é a perspectiva básica, da qual este artigo procurará explorar inter­ rogações importantes a respeito da Bí­ blia. I. A Natureza da Bíblia Está na hora de perguntar agora: Qual é a natureza da Bíblia? Em que sentido a Bíblia é a Palavra de Deus? Por que ela é tão difícil de se entender? Como é que um livro tão antigo tem importância atemporal? As respostas a estas pergun­ tas — e a outras de igual importância — exigem uma compreensão amadurecida do que é a Bíblia e uma percepção pene­ trante quanto aos seus antecedentes, suas características e seu propósito central. 1. Origem, Ambiente Formativo e Cultura Antes de tudo, que seja observado que a Bíblia é de origem antiqüíssima. Os primeiros capítulos falam a respeito da criação do Universo e do homem, a res­ 1 Cf. A. M. Hunter, The Message of the New, Testa­ ment, particularmente as p. 11 e 12. 17
  • 19. peito de Deus e de sua maneira de agir para com o homem, desde o começo do mundo, e a respeito de acontecimentos que precedem uma identificação históri­ ca exata. E, em seguida, a narrativa co­ meça a contar a história de Abraão e seus descendentes, estando estes fatos locali­ zados em cerca de 2000 a.C. O relato es­ crito da história contínua de Deus e seu povo se estende até cobrir o primeiro século da era cristã. Desta forma, a Bí­ blia precisa ser entendida como um livro muito antigo. Além disso, a Bíblia chegou a nós a partir de um cenário semita, isto é, o cenário do Oriente Próximo antigo. A Bí­ blia tem a ver especialmente com os descendentes de Abraão, o povo escolhi­ do de Deus, que habitou a terra de Canaã, uma faixa estreita ao longo do litoral oriental do Mediterrâneo. Essa pequena área era uma espécie de ponte ou via de contato entre o povo da região do vale do Tigre-Eufrates, a leste, e o povo do vale do Nilo, a sudoeste. O próprio Abraão representava o povo se­ mita que vivia no sudoeste da Ãsia: babi­ lônios, assírios, arameus, cananeus e fe­ nícios. Reconhecemos também que o povo da Bíblia expressa a cultura que era a sua herança e o seu ambiente formativo. O Velho Testamento reflete o ambiente agrícola e a experiência vivencial do povo de Israel, mas revela também a crescen­ te influência do desenvolvimento urba­ no. A maneira de o povo pensar em Deus em termos antropomórficos, como inti­ mamente associado com as coisas da natureza, como vingador e como sendo parcial, em favor do povo de Israel, ex­ pressa o impacto de sua herança cul­ tural. E a maneira como esse povo pen­ sava a respeito da família — da figura autoritária do marido e pai, da subser­ viência e inferioridade das mulheres e da importância de ter filhos — era também influenciada pela sua cultura. O seu con­ ceito da ordem material como expressão imediata da presença e do poder de Deus e as suas fortes tendências para a ido­ latria mostram o impacto entre os con­ ceitos culturais e a prática. As formas de pensamento e conceitos que aparecem no decorrer da Bíblia são a expressão na­ tural da experiência desse povo. Ao tempo do Novo Testamento, os judeus da Palestina sentiam grande anti­ patia e até amarga hostilidade, em mui­ tos casos, contra os gentios. Através do mundo romano, o envolvimento no co­ mércio e negócios, nas grandes cidades do império, contribuiu para a comuni­ cação, o entendimento e, em alguns ca­ sos, para um certo grau de boa vontade. Todavia, o Novo Testamento propria­ mente dito, com o seu evangelho dinâ­ mico da redenção de Deus em Cristo, reflete a sua origem e ambiente cultural na herança judaico-cristã no contexto da civilização greco-romana. O Novo Tes­ tamento chegou até nós a partir de um ambiente judaico, através da língua gre­ ga, vindo de uma vida sob o controle de Roma, e de uma intenção divina, me­ diante a qual o evangelho não reconhece diferença de raça, língua ou cultura, e se destina a todos os povos, todas as cultu­ ras e todas as gerações. 2. Literatura de Muitos Tipos e Formas A Bíblia é muito mais do que uma coleção de obras literárias religiosas. Pa­ ra ser entendida adequadamente, ela precisa ser considerada como literatura de diferentes espécies e formas. Se al­ guém analisa a Bíblia cuidadosamente, para distinguir várias formas literárias, encontrará exemplos das seguintes: his­ tória, lei, poesia, drama, profecia, litera­ tura de sabedoria, literatura apocalípti­ ca, hinos, antemas, sermões, discursos, cartas, epopéias, acrósticos, genealogias, listas estatísticas, parábolas, alegorias e histórias. Para fins práticos, não é essen­ cial um conhecimento das distinções mais refinadas das formas literárias; mas, para uma compreensão madura da 18
  • 20. Bíblia, o reconhecimento de que ela é literatura de vários tipos é imperativo. Os primeiros cinco livros da Bíblia vieram a ser chamados de “a Lei” . Mas o Pentateuco é muito mais do que Lei, como forma literária. O livro de Gênesis é histórico, biográfico e teológico. Há material semelhante nos quatro livros se­ guintes. Mas nesses quatro livros temos a lei, que se tornou o mandato e o livro de texto para a adoração de Deus, para a conduta moral do homem, e para a vida do homem em comunidade e nas rela­ ções interpessoais. Inevitavelmente, mui­ tas das leis refletem o impacto da situa­ ção cultural de Israel, a imaturidade do povo, em seu desenvolvimento espiritual e moral, e o esforço dos líderes divina­ mente chamados para cultivar fidelidade a Deus ejustiça e retidão entre o povo. A parte seguinte, do Velho Testamen­ to, é geralmente considerada como uma seção de livros históricos. Na Bíblia he­ braica, os livros de Josué a II Reis eram conhecidos como os Profetas Antigos. Os Profetas Posteriores incluíam Isaías e Jeremias e os últimos doze livros do Velho Testamento. Estes dois grupos, comumente chamados de Profetas, como seção das Escrituras Hebraicas, desta forma incluíam a maior parte do mate­ rial histórico do Velho Testamento, e quase todos os materiais proféticos — uma combinação de história e profecia. A História — e isto incluiria livros que não os mencionados acima — conta a história desse povo e outros aconteci­ mentos: de sofrimento, luta, sucesso, fra­ casso, apostasia, arrependimento e reno­ vação, fidelidade e rebeldia. Os fatos da História eram recordados com realismo, mostrando o povo no que tinha de pior e de melhor, mostrando como ele entende­ ra mal os propósitos de Deus e por vezes agira de maneira completamente estra­ nha à natureza de Deus, embora dissesse estar fazendo a vontade de Deus, e mos­ trando como Deus agia para revelar-se, para executar juízo, para derramar mise­ ricórdia e bênçãos, para vencer a igno­ rância e a perversidade de seu povo e para levar avante o seu propósito em Israel. A história de Israel não pode ser enten­ dida à parte da profecia. È bom que seja lembrado que os profetas declararam a palavra de Deus ao povo em suas respec­ tivas gerações. Profecia não é primordial­ mente uma predição dos eventos futuros, mas uma proclamação de julgamento ou consolação ou dever ou propósito em relação ao povo quanto à sua necessida­ de. Entendemos melhor os escritos profé­ ticos não como predições místicas de acontecimentos futuros, mas como decla­ rações intemeratas do propósito de Deus para com o seu povo em sua situação imediata. Dado este fato, contudo, não podemos deixar passar despercebido que muitos dos profetas declararam a pala­ vra de Deus com aplicação no futuro, indicando as direções do propósito de Deus para com o seu povo, a promessa iniludível de sua redenção para lodo o povo, e a consumação inarredável de seu reino de justiça e paz. Grande parte do Velho Testamento é de poesia. Tirando-se os livros estrita­ mente poéticos, poemas são encontrados nos livros da lei, nos históricos e nos pro­ féticos. É importante reconhecer que a poesia precisa ser entendida como poe­ sia, embora seja um veículo de revelação divina. Ela depende de imagens e figuras de linguagem. O elemento de sensações e emoção é dominante. A verdade é ex­ pressa imaginativamente, e precisa ser entendida através da imaginação. Um esforço para entender a poesia com base na redação literal ignora a natureza da poesia, e leva a um inevitável mal-enten­ dido de seu significado. A poesia da Bíblia, em consonância com a natureza da verdadeira poesia, é a expressão de intensos sentimentos, que incluem temor, tanto quanto confiança; ira, bem como bondade; concupiscência, assim como pureza; ódio, como amor; 19
  • 21. autopiedade, assim como autoconfiança; e desespero, como esperança. O indício para a interpretação exige aplicação de percepção poética. O livro de Jó é quase inteiramente poético. Mas ele é também um exemplo de drama. Daí, uma outra forma literá­ ria é usada para ensinar a necessidade de uma verdadeira compreensão do proble­ ma do sofrimento humano. A intensida­ de do sofrimento de Jó e a natureza do problema enfrentado fizeram do drama o meio mais eficiente da verdade, a verda­ de finalmente revelada a Jó através da auto-revelação de Deus, em sua sobera­ nia, sua justiça e sua grandeza. Outro tipo de literatura é conhecido como literatura de sabedoria. Ele é re­ presentado especialmente por Provérbios e Eclesiastes, no Velho Testamento, e pela Epístola de Tiago, em o Novo Testa­ mento. O livro de Jó também pode ser identificado como literatura de sabedo­ ria. As obras de sabedoria, embora ado­ tando várias formas literárias, represen­ tam a sabedoria destilada da experiência humana e estabelecem os valores e virtu­ des, os princípios e discernimentos que podem compor a filosofia de vida de uma pessoa, particularmente em termos da escolha de alvos e do seguimento de padrões que contribuam para a integri­ dade, harmonia, reverência, castidade, diligência, confiança própria e realiza­ ção. Quando chegamos ao Novo Testamen­ to, imediatamente nos defrontamos com os Evangelhos. Quanto à forma literária, eles combinam história, biografia, pará­ bola, discursos extensos, diálogo e ora­ ção. Mas os Evangelhos são peculiares. Eles são documentos de fé. Falam de uma figura central: Jesus Cristo. São o registro dramático de Jesus em ação, do que ele disse e fez, do impacto de sua personalidade sobre outras pessoas, do que outras pessoas pensaram a respeito dele e como elas reagiram a ele, e, final­ mente, da auto-entrega de Jesus na cruz e sua ressurreição dentre os mortos. Os Evangelhos como literatura nunca po­ dem ser separados da realidade viva e do impacto dinâmico do Filho do Homem. O livro de Atos é a segunda parte da história de Lucas-Atos. Por conseguinte, ele mantém a relação mais íntima possí­ vel com os Evangelhos — e é quase uma série de reportagens. Ele fala do que os seguidores de Jesus fizeram e ensinaram na consciência de sua presença viva com eles e através do poder de Seu Espírito. As cartas do Novo Testamento têm muito em comum, como forma literária, mas variam grandemente em extensão, propósito e estilo literário, e auditório pretendido. Algumas delas foram escri­ tas para igrejas, algumas para indiví­ duos, algumas para grupos esparsos de cristãos, e algumas para destinatários desconhecidos, não identificados. Estas cartas, inclusive as dirigidas às sete igre­ jas, no livro do Apocalipse, constituem uma interpretação do evangelho de Cris­ to, um retrato da vida e da prática da igreja neotestamentária, e um registro do ministério, fidelidade, perseguição, luta e esperança da parte de pessoas empenhadas no serviço de Jesus Cristo. Uma característica dessas cartas, natu­ ralmente, é o elemento pessoal, a relação do escritor com os seus leitores (em al­ guns casos, com uma pessoa). Ele escre­ veu para compartilhar a sua experiência e preocupação, consciente do laço de co­ munhão cristã. A Bíblia inclui ainda outro tipo de li­ teratura conhecida como apocalíptica. Os dois principais livros de literatura apocalíptica são Daniel e Apocalipse. Esta espécie de literatura foi o produto de épocas de intensa crise para o povo de Deus. Ela era marcada por uma forte preocupação escatológica, uma expecta­ tiva e uma focalização na manifestação dinâmica de Deus em juízo. O estilo da literatura apocalíptica era a apresenta­ ção de verdades por meio de imagens e símbolos que representavam forças ma­ 20
  • 22. lignas, o sofrimento e a recompensa do povo de Deus, e os atos poderosos de Deus em juízo, em libertação e vitória, Deve-se abordá-la com a percepção inteli­ gente de que o arcabouço de símbolos e imagens aponta para pessoas, aconte­ cimentos e forças no longo e distante passado. Mesmo assim, a verdade a res­ peito da completa soberania e do eterno propósito de Deus, que deu encoraja­ mento e consolo ao seu povo no passado, é igualmente relevante para o povo de Deus através dos séculos que se vão pas­ sando. Portanto, entenderemos que a Bíblia é um exemplo de variegadas formas literá­ rias. Deus usou a habilidade e os inte­ resses de muitos escritores como veículo de sua revelação. Os muitos tipos de obras literárias contribuíram para uma riqueza de significado e uma diversidade e profundidade de interesse humano. Uma percepção adequada dos elementos característicos de estilo e forma literária propiciarão chaves para uma compreen­ são mais plena da mensagem da verdade. 3. Revelação Divina Através de Veículos Humanos A Bíblia é uma revelação divina. Este é, na verdade, o aspecto mais significa­ tivo de sua natureza, a explicação de seu significado e a base de sua autoridade. Não podemos parar, todavia, nestas afir­ mações. Precisamos explorar em profun­ didade o que significa revelação, o que significa inspiração, como estes dois ele­ mentos se relacionam, como devem ser entendidos à luz de tudo o que podemos conhecer a respeito da natureza da Bíblia e como ela nos chegou às mãos pela pro­ vidência de Deus. O que é revelação? — Revelação é a verdade que nos veio de Deus. Deus falou ao homem de muitas maneiras: através do mundo natural, através dos julgamen­ tos da história humana, através de provi­ dências na experiência pessoal e através da voz interior da consciência. Mas a Bíblia é o relato peculiar do autodes- vendamento de Deus. Ela é o relato escrito de suas palavras e atos. Desde o princípio até o fim, a Bíblia declara que Deus se revelou ao homem, e que ela mesma, a Bíblia, é uma narrativa de crédito dessa revelação. Frases como as seguintes ocorrem repetidamente no decorrer do Velho Testamento: “Disse Deus” ; “o Senhor falou”; “Deus orde­ nou” ; “a palavra de Deus veio” ; “Deus tomou conhecido”; “o Senhor apare­ ceu” . Elas representam um número mui­ to maior de fórmulas de revelação. A Bí­ blia também fala repetidamente do que Deus fez, dos seus atos de criação, de julgamento, de libertação, de eleição, de direção, de consolação, de destruição, de manifestação, de cura e de soberania dominante. Deus agiu para se fazer co­ nhecido de seu povo e para realizar o seu propósito através dele. Mas o supremo ato da revelação de Si próprio, por parte de Deus, a respeito de que a Bíblia fala, foi a Sua vinda em Jesus Cristo. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai” (João 1:14). A palavra de Deus foi falada ao homem pela Palavra viva. “Havendo Deus anti­ gamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nes­ tes últimos dias a nós nos falou pelo Filho” (Heb. 1:1,2). Esta declaração su­ blime da Epístola aos Hebreus congrega toda a verdade a respeito de revelação, e nos apresenta a chave da Bíblia como uma revelação de Deus. O Velho Testa­ mento apontava para a vinda de Alguém que seria o agente da redenção de Deus. O Novo Testamento fala de sua vinda, de sua vida sem pecado e de seu ministério autodoador, de sua morte, de sua ressur­ reição, de sua salvação e de seu senhorio; e declara que nele toda a plenitude da divindade habitou corporalmente (Col. 2:9). 21
  • 23. Agora estamos preparados para consi­ derar a Bíblia como um todo. Ela deve ser considerada à luz da perfeita revela­ ção de Deus em Jesus Cristo. A suprema revelação de Deus é uma Pessoa. Tudo o que a Bíblia nos fala a respeito de Deus, sua natureza, seus atos e do que várias pessoas entenderam a respeito dele ou lhe atribuíram, precisa ser interpretado e colocado em harmonia com a natureza, a verdade, o amor e o propósito de Deus em Cristo. Este fato reconhece que mui­ tas pessoas a quem Deus falou “de mui­ tas maneiras” antes da vinda de Cristo não entenderam Deus perfeitamente, não apreenderam o seu propósito plenamente e não podiam conhecer a sua vontade claramente. Os exemplos do Velho Testamento, de aparente conflito com o fato de que Deus é amor, segundo muita gente diz, são simplesmente mistérios de onisciência, e, portanto, não devem ser questionados. Tais pessoas abordarão quaisquer misté­ rios desnorteantes das Escrituras desta forma, e ficarão satisfeitas. Por outro lado, muitas outras pessoas insistirão que a Bíblia, embora seja a revelação de Deus que tem autoridade completa, pode ser corretamente entendida, corretamen­ te interpretada, tão-somente à luz plena da verdade de Jesus Cristo, a Palavra viva, a completa e perfeita revelação de Deus. Essas pessoas afirmarão que isto está em harmonia com o propósito eterno de Deus de que todas as coisas no céu e na terra e debaixo da terra se submete­ rão ao senhorio de Cristo. As Sagradas Escrituras devem ser melhor entendidas à luz do que ele ensinou, do que ele fez e de quem ele é, como a Palavra de Deus. Inspiração e revelação. — Duas passa­ gens da Escritura imediatamente vêm à nossa mente: primeiro, as palavras de Paulo a Timóteo: “Toda Escritura é divi­ namente inspirada e proveitosa para en­ sinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o ho­ mem de Deus seja perfeito, e perfeita­ mente preparado para toda boa obra” (II Tim. 3:16,17); depois, de II Pedro: “Ne­ nhuma profecia da Escritura é de par­ ticular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos ho­ mens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (1:20,21). Estas passagens, e outras, di­ reta ou indiretamente, afirmam que a Bíblia é uma revelação inspirada. Termos como os seguintes são usual­ mente aplicados a inspiração: inspira­ ção verbal, inspiração plenária e inspira­ ção dinâmica. A conotação ou significa­ do ligado a estas palavras varia ampla­ mente. A questão, em grande parte, resi­ de no grau de inerrância das palavras da Escritura e o conceito de unidade na mensagem da Escritura. A opinião da inspiração verbal é geral­ mente aplicada às Escrituras na língua original, e não a traduções subseqüen­ tes, embora, na verdade, esta opinião freqüentemente seja entendida e defen­ dida principalmente em relação a tradu­ ções para o vernáculo. Na Inglaterra e nos Estados Unidos há um grande movi­ mento que defende a inspiração verbal da tradução King James (do Rei Tiago, de 1011). Embora aqui, mais uma vez, haja variações do significado dado à ins­ piração verbal, os defensores desta opi­ nião dizem que os escritores da Bíblia foram inspirados ao ponto de usar as próprias palavras dadas por Deus para expressar a sua verdade. Portanto, as Escrituras são inerrantes e infalíveis. Isto, obviamente, reduz o escritor qua­ se ao equivalente a uma ferramenta nas mãos de Deus, e torna-o virtualmente um agente completamente controlado por Deus. Embora poucas pessoas pensantes concordem que inspiração verbal seja essencialmente um ditado divino, escrito quase que mecanicamente, o processo não deixa quase campo para uma ação responsável ou um envolvimento pessoal da parte do escritor. Há muitas pessoas que esposam este ponto de vista acerca 22
  • 24. da inspiração, e o consideram plenamen­ te satisfatório, em consonância com o seu conceito da soberania e sabedoria de Deus, e da iniciativa de Deus na revela­ ção. Elas acham que qualquer transigên­ cia desta posição leva a um abalo da autoridade bíblica. Outra opinião acerca da Bíblia pode ser descrita como inspiração plenária. Este termo tem várias conotações. O cerne deste ponto de vista é que a Bíblia é plenamente inspirada, mas não verbal­ mente inspirada. Os escritores não eram agentes controlados ao ponto de não terem utilizado a sua experiência e o seu conhecimento. Mas eles foram ilumina­ dos tão completamente, tão guiados pelo Espírito de Deus e cheios de seu poder, que foram preservados de qualquer erro, ao transmitir a revelação divina. Daí, a Bíblia é totalmente inspirada, e a revela­ ção, inerrante, quanto a fatos, aconteci­ mentos e doutrina. Esse ponto de vista acerca da inspiração, satisfatório e aceito porum grandenúmero de crentes sinceros e interessados, inclusive eruditos compe­ tentes, procura evitar uma parte do ex­ tremo literalismo e dos elementos rigida­ mente controlados de inspiração verbal, enquanto, ao mesmo tempo, mantém um conceito de inerrância prática de toda a Bíblia e de suas diferentes partes. Outro conceito de inspiração pode ser identificado como dinâmico. Admitimos que esta designação carece de precisão, porque a realidade que ela identifica é marcada por mistério e complexidade. No entanto, essencialmente, este ponto de vista sustenta que as Escrituras Sagra­ das vieram a existir e receberam o seu caráter de revelação de Deus com autori­ dade através da ação do Espírito de Deus, cujo poder vivificador, iluminador e orientador fez de homens escolhidos os veículos do propósito de Deus. As Escri­ turas são de fato inspiradas (“sopradas por Deus”), porque a sua verdade é de Deus e acerca de Deus. “Homens da parte de Deus falaram movidos pelo Es­ pírito Santo” (II Ped. 1:21). De maneiras que não podemos entender e através de processos que não podemos identificar, Deus escolheu e equipou muitas pessoas para registrar os seus atos, para interpre­ tar os seus propósitos e para declarar a sua palavra. De acordo com esta opinião, a inspira­ ção da Bíblia é muito mais o fato de ela ser completa e adequada como registro escrito da auto-revelação de Deus e como guia para o homem em todos os assuntos de fé e prática, do que uma questão de inerrância em redação e analogia e certos detalhes a respeito de pessoas e aconteci­ mentos. A inspiração é mais uma ques­ tão da mensagem da salvação de Deus do que o método ou processo pelo qual ela foi reduzida à forma escrita. A autorida­ de da Bíblia reside em sua integridade e unidade, à luz da verdade de Deus em Cristo. A opinião de inspiração dinâmica re­ pousa solidamente na repetida declara­ ção, encontrada nas Escrituras, de que através delas Deus fala ao homem. Esta opinião se baseia, mais uma vez, em a natureza inerente das Escrituras como tesouro peculiar de sabedoria divina, que se enquadra na totalidade da experiência humana quanto à fé religiosa, ao dever moral e à responsabilidade ética. A Bí­ blia continua a falar, em princípio bási­ co, a todas as gerações, com relevância e atualidade: ela continua a declarar a palavra do Deus vivo ao homem vivo, na situação humana contemporânea. Este ponto de vista se baseia, além disso, no fato de que as Escrituras são eficientes na experiência humana para alcançar os propósitos de Deus. Exem­ plos importantes desta verdade são en­ contrados nas seguintes passagens: Sal­ mos 119:9,11; João 5:39; 20:31; Roma­ nos 15:4; Hebreus 4:12; II Pedro 1:16- 19; e Romanos 1:16. A evidência e prova da inspiração da Escritura é que ela é de fato “proveitosa para ensinar, para re­ preender, para corrigir, para instruir em 23
  • 25. justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra” (II Tim. 3:16,17). A verdade da revelação bíblica é sopra­ da por Deus. Ela é habitada pelo Espí­ rito do Deus vivo. Ela é eficiente para a regeneração e santificação. Ë redentora e reconciliadora. Conseqüentemente, uma opinião dinâmica de inspiração se foca­ liza na verdade que tem sua essência, propósito e autoridade em Jesus Cristo. Portanto, um ponto de vista dinâmico de inspiração não depende de uma iner- rância mística, inexplicável e não verifi­ cável de cada palavra da Escritura ou do conceito de que a inspiração não pode permitir erros de fato ou de substância. Pelo contrário, ele aceita a Bíblia total­ mente como inspirada: inerrante como a única testemunha completamente autên­ tica da auto-revelação de Deus em Cristo e de sua salvação através de Cristo; iner­ rante porque a sua verdade é o perfeito instrumento do Espírito para levar os homens à fé, justiça e esperança; e iner­ rante porque o seu ensinamento, inter­ pretado pela vida e obra de Cristo, é o guia infalível de como o povo de Deus deve viver e no que ele deve crer, sem dúvida alguma, sob a direção do Espírito de Cristo. Talvez haja necessidade, a esta altura, de enfatizar que as diferentes opiniões acerca da inspiração não subsistem sem problemas nem sem interrogações não respondidas. Estas devem ser enfrenta­ das com honestidade e objetividade. Os seguintes problemas são inerentes à opinião de inspiração verbal: (1) Visto que pessoas falíveis copiaram os manus­ critos originais através de centenas de anos, com exatidão meticulosa, mas não sem erros, e visto que outras pessoas falíveis traduziram as Escrituras origi­ nais para diferentes línguas, e visto que há variações textuais nos manuscritos existentes mais dignos de confiança, o valor de um original verbalmente infalí­ vel está perdido para a presente e para as futuras gerações, não estando disponível nenhuma cópia da obra original. (2) Cuidadosa leitura e exame das Es­ crituras revelam algumas contradições óbvias ou discrepâncias, não envolvendo nenhuma doutrina de maior importância ou questão básica, mas suficiente para constituir um problema quanto à invali­ dez da inspiração verbal. Dois exemplos servem para ilustrar este ponto: A refe­ rência a Abiatar (Mar. 2:26) e a Abime- leque (I Sam. 21:1) é inconsistente. Em um lugar se diz que o Senhor incitou Davi a fazer um recenseamento; em ou­ tro, que foi Satanás (II Sam. 24:1; ICrÔn. 21:1). (3) A inspiração verbal parece submer­ gir a instrumentalidade humana ao pon­ to de que os escritores da Bíblia eram menos do que livres em sua reação à vontade do Espírito de Deus. (4) A inspiração verbal tende a colocar toda a Bíblia no mesmo nível de inspira­ ção e revelação divina. (5) A inspiração verbal acarreta sérias dificuldades quanto à interpretação, por­ que a redação de várias passagens, direta ou indiretamente, parece atribuir a Deus atos e atitudes em desarmonia com a sua natureza como de santo amor e clara­ mente em conflito com o exemplo e o ensino de Jesus (cf. Deut. 17:2-7; II Sam. 21:1-9 em relação com Deut. 24:16; Sal. 69:22-28; 109:6-19; 137:7-9; I Crôn. 13: 9,10). (6) A inspiração verbal parece requerer explicações que tornam a própria inspi­ ração verbal irreal. Por exemplo, Maria se refere a José como pai de Jesus (Luc. 2:48). O que Maria queria dizer é facil­ mente explicado, a não ser que o intér­ prete esteja restrito à inerrância verbal. (7) A inspiração verbal parece irrecon­ ciliável com o que parecem ser fatos que se originam de pesquisa objetiva e estudo sério da Bíblia. As evidências confirmam uma autoria múltipla do Pentateuco, aproveitando-se de fontes orais e escritas, e por fim envolvendo compilação e edi­ 24
  • 26. ção, coisas que parecem forçar a opinião de inspiração verbal ao ponto de ser irreal. Grande parte do Velho Testamen­ to acarretaria um problema semelhante. Lucas explica com cuidado (1:1-4) o seu método de pesquisa e fontes de informa­ ção, coisa de pequena importância se cada palavra que ele escreveu foi virtual­ mente ditada pelo Espírito Paulo admite que algumas de suas declarações são suas, e não de Deus (I Cor. 7:12,25; cf. 8-10,40). Sem dúvida, muitas das con­ clusões dos estudos críticos não podem ser provadas dogmaticamente, mas fatos estabelecidos e identificáveis servem para trazer à tona as questões a respeito da exeqüibilidade da inspiração verbal, mais do que para confirmá-la como pon­ to de vista aceitável. Uma opinião de inspiração plenária acarreta grande parte dos problemas já mencionados a respeito da inspiração verbal, sendo as diferenças especialmen­ te uma questão de grau. Particularmen­ te, esta opinião acarreta os problemas de uma vontade divina virtualmente impos­ ta aos escritores da Bíblia, a subserviên­ cia dos achados dos estudos críticos como controvertendo a plena inspiração e atri­ buindo a Deus atos e atitudes aparente­ mente em desarmonia com a sua revela­ ção em Cristo. Ela legitima muitas das declarações das Escrituras como revela­ ção, embora elas pareçam ser resultado da fraqueza humana e uma compreensão errada de Deus. Este ponto de vista reconhece muito pouco o aspecto pro­ gressivo da revelação. A opinião da inspiração dinâmica se­ melhantemente acarreta problemas; pro­ blemas peculiares a si própria. (1) Ela enfrenta a necessidade de reconhecer e de dar o devido valor a muitas declara­ ções bíblicas que parecem dar a entender ou enfatizar o elemento de inspiração plena, se não verbal. E também ela pre­ cisa explicar estas declarações sem a distorção de pressuposição e interpretá- las sem perder o impulso de sua impli­ cação sobrenatural. (2) Este ponto de vis­ ta acarreta a tentação de depender de­ masiadamente dos critérios e da sabedo­ ria humanos, para distinguir entre o que é claramente a palavra falada do Senhor e os mal-entendidos dos homens a res­ peito dos propósitos e da vontade do Senhor. (3) Este ponto de vista acarreta a tendência — que se toma real em dema­ siados casos — de minimizar o elemento de inspiração divina e dar mais atenção ao veículo humano de inspiração. (4) Es­ te ponto de vista acarreta a obrigação — muitas vezes menosprezada pelos erudi­ tos críticos — de reconhecer o elemento de fé reverente como a chave para o entendimento das Escrituras e de reco­ nhecer que muitas questões difíceis a res­ peito da natureza da Bíblia não são resol­ vidas com os recursos da pesquisa crí­ tica, mas pela confiança em Deus com humildade. (5) Os que advogam esta opi­ nião têm a obrigação de carrear para a Bíblia um maior grau de estudo discipli­ nado, para encontrar os níveis mais pro­ fundos de verdade e um grau maior de sensibilidade para a dinâmica do Espí­ rito vivo, a fim de ouvir a voz do Senhor através do Espírito. Para o escritor deste artigo, os proble­ mas da opinião de inspiração dinâmica, embora reais, não invalidam esta opinião acerca das Escrituras. Os problemas são resolvidos por fé reverente no Senhor das Escrituras e nas próprias Escrituras co­ mo a Palavra de Deus, em integridade e - unidade em Cristo. Eles são resolvidos com a abertura da mente para a verdade e os frutos de pesquisa objetiva. E, além disso, são resolvidos pela submissão ao Espírito Santo, que interpreta a Palavra de Deus em Cristo para todas as pessoas que desejam conhecer a mente de Cristo e fazer a vontade do Senhor. Pessoas de propósitos fervorosos para com Deus e de fortes convicções a res­ peito da revelação dele nas Escrituras te­ rão opiniões diferentes a respeito de sua inspiração. Cada pessoa pode buscar 25
  • 27. uma compreensão mais plena da Bíblia como base para achar o ponto de vista que torna a Bíblia mais significativa no contexto de sua própria experiência. Algumas declarações sumárias, relati­ vas à revelação e à inspiração, podem ser feitas agora. (1) A opinião que uma pes­ soa tem a respeito de revelação e inspi­ ração não deve ignorar os achados da pesquisa objetiva e do exame crítico. (2) Uma opinião aceitável acerca da ins­ piração e da revelação precisa permitir a tradução das línguas originais das Escri­ turas e admitir as variações nos textos disponíveis das Escrituras Hebraica e Grega e suas implicações, baseadas em conhecimento irrefutável. (3) Muitas questões que não têm perspectiva de serem resolvidas. “Prova”, em qualquer sentido exato ou dogmático, é dificilmen­ te apropriada para a opinião que uma pessoa tenha quanto à revelação e inspi­ ração. Crença no fato da inspiração é essencial; uma opinião acerca do método da inspiração é secundária em impor­ tância. (4) Deve-se lembrar que títulos e inscrições e assuntos deste jaez, na Bí­ blia, são adições editoriais, e não parte dos textos originais das Escrituras. (5) Algumas declarações a respeito de revelação são o resultado da afinidade hebraica-com o antropomorfismo — co­ mo a declaração de que Deus deu a Moisés duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus (Êx. 31:18). (6) Os textos de prova são muitas vezes aplica­ dos a um ponto de vista de revelação e inspiração, para sustentar conclusões questionáveis. Por exemplo, Jesus disse que nem um jota nem um til passará da lei — evidentemente a Lei mosaica — sem que tudo seja cumprido (Mat. 5:18); e isto é alegado por algumas pessoas para estabelecer a inerrância e infalibilidade das Escrituras. Indubitavelmente, Jesus, com infinita sabedoria, usou uma figura de linguagem para enfatizar uma ver­ dade. Ele dificilmente queria fazer uma referência a pequenos sinais de es­ crita; de outra forma, como poderia ele separar palavras explícitas da Lei (Mat. 5:33,34, 38-39; cf. Êx. 21:24; Lev. 19:12; Núm. 30:2; Deut. 19:21; 23:21)? (7) As Escrituras são uma revelação progressiva de Deus, e, por isso, uma revelação pro­ gressiva com a sua culminação perfeita e absoluta no Verbo que se fez carne em Cristo. (8) O fato da revelação e inspi­ ração divinas não é, de forma alguma, dependente de uma opinião determinada acerca da inspiração, e não corre ne­ nhum perigo por causa da pesquisa críti­ ca e do estudo erudito. Deus usa veículos humanos. — Atra­ vés desses veículos, a revelação inspirada é dada aos homens. A Bíblia é um livro divino-humano. Deus revelou-se a pes­ soas vivas. Deus falou aos homens, e eles relataram o que ele disse: contaram o que ele fez. Eles passaram esse registro à geração seguinte, e à seguinte, e à se­ guinte, e assim por diante. Por um pe­ ríodo desconhecido de tempo, a revela­ ção foi comunicada quase que totalmente por tradição oral. Com o correr do tem­ po, a tradição tornou-se narrativas escri­ tas das palavras e atos do Senhor. Quan­ do isto transpirou pela primeira vez, e até que ponto, ninguém sabe. Moisés escre­ veu as palavras do Senhor (Êx. 24:4). Quanto Moisés escreveu não pode ser determinado com qualquer exatidão, mas as referências à parte que ele teve em comunicar a revelação de Deus — espe­ cialmente mandamentos e estatutos — justificam a conclusão de que o que ele escreveu foi uma fonte importante, da qual, muitos anos mais tarde, os escrito­ res do Pentateuco se aproveitaram para fazer um relato confiável da revelação de Deus aos filhos de Israel e dos tratamen­ tos a que ele os submeteu. A ênfase que verificamos aqui é que Deus ordenou veículos humanos como canais de uma revelação escrita. Quantos escritores? Não o sabemos. Quem eram eles? Não o sabemos. Moisés, Samuel, Davi, Salomão e Esdras — Deus os usou. 26
  • 28. Amós, Isaías, Jeremias e Ezequiel — Deus os usou. Mas houve outros, muitos outros, conhecidos e desconhecidos, que viveram durante um período de vários séculos, que foram movidos pelo Espírito Santo, para colocar em forma escrita a palavra de Deus. E, juntamente com os escritores, devem ser lembrados os que copiaram e compilaram os escritos e fi­ nalmente lhes deram a forma em que eles se tomaram, por fim, as Escrituras He­ braicas. Aconteceu semelhantemente com o Novo Testamento. Quantos foram os es­ critores e quem eram eles — não pode­ mos ter certeza. Mencionamos os nomes familiares: Paulo, Lucas, Marcos, Ma­ teus, João, Tiago, Judas e Pedro, e é forte a evidência para confirmar a contribui­ ção que eles fizeram. Mas, semelhante­ mente, as evidências suscitam interroga­ ções com respeito a pelo menos alguns deles. A identidade de outros escritores é um mistério ainda maior. O fato de que a revelação de Deus veio através de veículos humanos explica mui­ ta coisa a respeito da Bíblia. Explica, em grande parte, a sua grande variedade de forma e qualidade literária, aspectos de seu interesse humano e diferentes dispo­ sições de ânimo, e vários níveis de per­ cepção espiritual e testemunho ético. Permitam-nos enfatizar este princípio de revelação. O tesouro de revelação inspirada, a verdade da revelação bíbli­ ca, chegou até nós através de “vasos de barro” . Os escritores eram homens. Eles eram finitos e falíveis. Eram humanos, e, por isso, sujeitos a limitações de conhe­ cimentos e entendimento. Mas eram pes­ soas através de quem o poder transcen­ dente de Deus operou — vivificando, iluminando, guiando e capacitando-os para serem os canais da mensagem sal­ vadora de Deus em Cristo. As Sagradas Escrituras têm o seu caráter essencial em sua natureza como revelação inspirada de Deus. Apontando para Cristo e en­ contrando a sua unidade e o seu signifi­ cado em Cristo, elas são a Palavra de Deus. II. Da Revelação Para o Livro Outra pergunta que merece conside­ ração é: Como foi que a revelação de Deus se tomou o Livro da Escritura Sagrada? Os desenvolvimentos não são determináveis por evidências objetivas, catalogadas e verificadas. Chega-se a eles por implicações e deduções, a partir do testemunho interno das Escrituras e do que a pessoa crê acerca da forma como Deus realiza o seu propósito para se re­ velar. A princípio, a revelação foi preservada e comunicada por transmissão oral, que se tomou, com o passar dos tempos, tradição oral. Aqui, tradição de forma alguma subentende irrealidade ou algo que seja indigno de confiança. Desde quando o homem foi criado, Deus reve­ lou-se ao homem; e este começou a pas­ sar às gerações sucessivas a narrativa da experiência e o depósito de verdade que se originavam dos tratamentos de Deus para com ele e a sua maneira de entender os propósitos de Deus. Parece que a mente hebraica tinha uma capacidade peculiar de memória. Daí a variegada experiência cultural, de pessoas e lugares, de geografia e de his­ tória, de ritual e de adoração, de leis e costumes, foi entregue à memória. Os líderes de tribos e de famílias assumiram um papel responsável em passar adiante essas tradições, sendo as mais impor­ tantes as que se relacionavam com as palavras e atos do Senhor. A crescente experiência religiosa do povo que adorava a Deus tomou-se outro meio para se receber, interpretar e comu­ nicar a revelação. Deus tratou com o seu povo — disciplinou-o, deu-lhe manda­ mentos, manifestou-lhe a sua glória, exe­ cutou julgamento sobre ele, libertou-o, abençoou-o, entrou em aliança com ele e vocacionou líderes e profetas para lhe de­ clarar as suas palavras. Os anos torna- 27
  • 29. ram-se décadas, e as décadas, séculos. Nesse ínterim, a experiência religiosa dos filhos de Israel, enriquecida:, por vezes, pela observância das festas e pela fideli­ dade na adoração, e pervertida, outras vezes, pela idolatria e iniqüidade e hipo­ crisia, tornou-se um veículo de revelação. Os acontecimentos da história de que os filhos de Israel participaram foram outro meio de revelação. Deus colocou o seu povo na terra de Canaã, cercado pelas nações do antigo Oriente Próximo. Os israelitas estavam na estrada das na­ ções, e, inevitavelmente, na corrente da História. O que aconteceu dentro e fora de Israel, nunca à parte do propósito e do poder soberanos de Deus, forneceu um veículo de acontecimentos de revelação. Neste mesmo contexto de experiência religiosa e acontecimentos históricos, Deus chamou profetas para declararem a sua palavra ao seu povo. A palavra de Deus veio aos profetas, e eles a declara­ ram fielmente. O ministério profético tornou-se o veículo mais excelente, na vida de Israel, para o depósito da revela­ ção. Foi a mensagem profética, tanto falada quanto escrita, que enunciou mais plenamente e interpretou mais claramen­ te a verdade a respeito de Deus, o seu propósito para com o seu povo e a sua vontade e o caminho que ele preconizava para todos os homens. Estas todas eram fontes, quer diretas, quer indiretas, de que os sacerdotes, escribas, reis e profetas se aproveitaram para escrever as Escrituras do Velho Tes­ tamento. Em muitos casos, Deus falou diretamente a indivíduos escolhidos, que escreveram a verdade a eles revelada. Em muitos outros casos, as evidências suge­ rem fortemente, os escritores relataram os acontecimentos, mandamentos e ex­ periências de tradições e anais anteriores à sua época. E, desta forma, os oráculos de Deus se tornaram a revelação escrita do Velho Testamento. Exatamente quando as várias partes, os muitos livros, do Velho Testamento foram escritos é fato que não pode ser determinado. O labor de escrita abran­ geu centenas de anos. Há um consenso quase geral, entre os eruditos, de que editores compilaram material escrito, produzido a partir das fontes descritas acima, e lhe deram forma permanente. Um estudo bíblico confiável mostrará que o Pentateuco existia essencialmente em sua forma presente deste 400 a.C., aproximadamente. Os livros de Josué, Juizes, I e II Samuel e I e II Reis eram conhecidos pelos judeus como os “Profe­ tas Anteriores” e, provavelmente, che­ garam à sua forma presente, em grande parte, entre 650 e 550 a.C. Os “Profetas Posteriores” — os livros de Isaías, Je­ remias e Ezequiel, e de Oséias até Mala- quias — chegaram, provavelmente, à sua forma presente por volta de 200 a.C. Os “Salmos” — os livros poéticos, junta­ mente com Rute, Ester, Daniel, Eclesias- tes, Esdras, Neemias e I e II Crônicas — foram escritos no decorrer de um longo período de tempo, e se tornaram uma coleção por volta de 132 a.C. Um concílio de rabis judaicos, em cerca de 90 d.C., aceitou os 39 livros do Velho Testamento como o Cânon Hebraico das Escrituras. Os mesmos 39 livros foram semelhante­ mente aceitos na tradição cristã. Algo da mesma espécie de desenvolvi­ mento aconteceu — em princípio, mas não em padrão — relativamente ao Novo Testamento. A suprema diferença foi que Jesus Cristo veio, a Palavra viva entre os homens. Alguns dos escritores o viram na carne, ouviram-no, tocaram-no e co­ nheceram o magnetismo de sua presença física, bem como o poder do seu Espírito vivo dentro deles. Os apóstolos eram pessoas que acompanharam Jesus desde o seu batismo por João até a hora de sua ascensão (At. 1:21,22). Os outros escri­ tores, podemos presumir seguramente, como Lucas, conheceram e conversaram com algumas pessoas “que desde o prin­ cípio foram testemunhas oculares e mi­ nistros da palavra” (Luc. 1:2). Desta forma, o Novo Testamento originou-se de um relacionamento face a face dos após- 28
  • 30. tolos com Jesus e de suas conversas face a face com ele depois de sua ressurreição, das tradições orais de testemunhas oculares do Senhor, da experiência re­ dentora de seguidores que haviam crido, dos acontecimentos históricos de teste­ munhas apostólicas, da koinonia da Igre­ ja viva, das tribulações, sofrimentos e perseguições pelo nome de Cristo, da visão do Cristo vivo e da comunicação direta da sua palavra de verdade, graça e vitória. Tanto quanto em relação ao Velho Testamento, o período em que foram escritos os 27 livros do Novo Testamento não pode ser fixado de maneira defini­ da. Cada livro, em certo sentido, subsis­ te isoladamente. Os eruditos têm opi­ niões várias, que serão abordadas na» introduções do comentário de cada livro. As evidências aceitas genericamente deli­ mitam o período em que esses livros foram escritos entre 50 e 100 d.C., em­ bora algumas evidências confirmem uma data posterior, para alguns livros, por exemplo, algumas das cartas gerais. Du­ rante o mesmo período, muitos livros cristãos foram escritos. Surgiu a questão: Quais dentre todas essas obras deviam ser reconhecidas como inspiradas e con­ tadas como parte das Escrituras? O teste de sua aceitação e valor por mais de três séculos — guiado, podemos estar certos, pelo Espírito Santo — levou à aceitação dos 27 livros que se tornaram o Novo Testamento. Por volta do fim do quarto século, esses livros haviam ganho aceita­ ção como sendo revelação dada por Deus, para os cristãos, através das eras futuras. “O cânon foi determinado pelo uso, pelo consentimento comum da co­ munidade cristã, testando os livros em sua vida diária, no decorrer de séculos; e não por autoridade formal” (F. W. Bea- re, IDB, I, 531). Uma palavra precisa resumir a ver­ dade, e dar a chave para o mistério e a realidade de a revelação inspirada ter-se tornado as Escrituras Sagradas: o sobe­ rano Espírito de Deus. Ele chamou e iluminou, guiou e capacitou, e moveu homens para falar da parte de Deus e em nome de Deus. III. O Significado da Bíblia O significado da Bíblia baseia-se em características óbvias e importantes, a saber, a sua autoridade e a sua importân­ cia. 1. A Autoridade da Bíblia A autoridade da Bíblia, indubitavel­ mente, origina-se no fato de ela ser reve­ lação inspirada de Deus,. Considerada em sua integridade e unidade, ela é a Palavra de Deus. Por isso ela tem a autoridade de Deus por detrás dela. Ela é o mandato divino para a fé religiosa e para o dever moral da humanidade. Porém é necessário que se diga muito mais do que isto. Como é que a autorida­ de da Bíblia se relaciona com Jesus Cris­ to? Ele dizia ter toda a autoridade no céu e na terra. Ele exerceu autoridade sobre a natureza, a doença, os demônios e a morte. Deus “o fez Senhor e Cristo” (At. 2:36). A autoridade final e última sobre todas as pessoas e todas as coisas é o Cristo vivo. Segue-se, portanto, que a autoridade da Bíblia deve sempre ser vistá à luz do senhorio de Cristo. A sua autoridade reside não na inerrância de palavras e frases, ou na coerência per­ feita de todos os números e acontecimen­ tos ou no entendimento perfeito de Deus, da parte dos seus servos escolhidos. Pelo contrário, a sua autoridade está em seu testemunho autêntico de Jesus Cristo como o Verbo de Deus. E é bom que seja enfatizado que a maneira de uma pessoa entender quem é Cristo como o Filho de Deus e como o Verbo feito carne, enten­ der a sua obra salvadora através da sua morte e ressurreição e o seu senhorio eterno precisa ser testada pelo Novo Tes­ tamento. Uma verdadeira compreensão de Cristo e do que significa a sua autori­ dade não pode ser determinada por jul- 29
  • 31. gamento subjetivo nem somente pela ex­ periência. A autoridade da Palavra escri­ ta encontra-se na autoridade da Palavra viva, através da direção do Espírito San­ to. Nesta base, o Novo Testamento deve ser aceito pelos crentes como o guia de autoridade para todos os assuntos de fé e prática. Portanto, a autoridade da Bíblia não é algo legal e judicial nem a compulsão do literalismo nem a obrigação de prova, mas a liberdade do senhorio de Cristo e a voz de seu Espírito. Essa autoridade é confirmada por aceitação interior, e não por declaração exterior. Por conseguinte, para concluir, “a autoridade da Escritu­ ra encontra-se no poder do Senhor vivo de autenticar a si mesmo, quando fala ao coração humano através das palavras e da Escritura” (Rolston: The Bibie and Christian Teaching, p. 34). 2. A Importância da Bíblia Mais uma vez, o significado da Bíblia deve-se à sua importância. Ela fala a todas as gerações. Isto é verdade, porque ela é a Palavra de Deus, que é eterna e imutável. E, também, ela fala a pessoas nos níveis mais profundos da experiência humana, às suas necessidades, aspira­ ções, possibilidades e responsabilidades como pessoas feitas à imagem de Deus. A Bíblia é sempre contemporânea, por­ que ela é a palavra da vida vinda do Senhor da vida. A relevância da Escritura é verificada também em sua dimensão universal. Ela declara a mensagem de Deus ao homem como homem — daí, a todos os grupos culturais, a todas as raças, a todas as nações e a todas as pessoas, não importa qual seja a sua condição social ou eco­ nômica, qual a sua situação humana. A Bíblia é importante para toda a humanidade, porque declara a mensa­ gem da salvação. Ela conta as boas-novas do amor de Deus por uma raça pecadora, fala da redenção de Deus através de Je­ sus Cristo, de seu desejo de que todas as pessoascheguem ao arrependimento e das riquezas da graça em Cristo, pelas quais todo aquele que invocar o nome do Se­ nhor será salvo (Rom. 10:13). Em ne­ nhum ponto a Bíblia é mais importante do que quando declara o fato da culpa universal do homem, devido ao pecado, o fato de que Jesus morreu pelos pecados do mundo, o fato de que Jesus ressusci­ tou dentre os mortos e o fato da certeza de que Jesus Cristo “pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para inter­ ceder por eles” (Heb. 7:25). Por esta razão, acima de tudo, a Bíblia é o Livro da fé cristã. A Bíblia é importante porque confron­ ta os crentes com o significado e as exi­ gências do discipulado cristão. Para eles, a Bíblia é o guia de doutrina e prática, de adoração e ministério, de comunhão e testemunho, de certeza e esperança, que tem autoridade divina. Visto que Jesus é Senhor, os ensinamentos de Jesus em o Novo Testamento e o exemplo de sua vida na carne precisam ser o critério mediante o qual se viva a vida cristã no mundo. A importância da Bíblia é expressa pelo apaixonado interesse de Deus pelo bem-estar de todos os homens. Por isso, ela declara a dignidade e o valor de todo homem, seja qual for a sua raça ou si­ tuação, como pessoa feita à imagem de Deus. Ela declara também o juízo de Deus sobre as pessoas que por orgulho, cobiça e concupiscência exploram outras pessoas e lhes roubam as oportunidades legítimas de realizar os mais elevados potenciais da personalidade. A Palavra de Deus proclama contra a opressão, a injustiça e a corrupção, e advoga a causa dos famintos, doentes e necessi­ tados. A Bíblia declara o senhorio de Cristo sobre a vida toda, sobre a ordem social e todas as pessoas que estão nela. O homem deve amar o seu próximo como 30
  • 32. a si mesmo. O Livro da fé cristã é uma carta patente de justiça e paz na terra, e um comissionamento de ministério para pessoas necessitadas, em qualquer parte. A importância da Bíblia se origina do fato de que ela fala de maneira signifi­ cativa e confiante aos problemas da hu­ manidade em um universo dinâmico. Ciência, tecnologia, cibernética, pesqui­ sa, exploração do espaço, energia atômi­ ca e mudança social refletem as leis do Universo. Encontramos, na Bíblia, a pa­ lavra que nos dá uma perspectiva cristã: Deus em Cristo é o criador de todas as coisas (João 1:3); “nele subsistem todas as coisas” (Col. 1:17). O Deus que criou e controla o universo material é plena­ mente capaz de, com infinita sabedoria e poder, controlar o universo moral.Com Jó, podemos dizer: “Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó. 42:2). A Bíblia é importante porque ela en­ frenta honestamente as interrogações cruciantes da humanidade: Quem é Deus? Como é Deus? Que é o homem? Qual é o destino do homem? Como o homem pode conhecer Deus? Se um ho­ mem morrer, viverá de novo? Qual é o significado da existência? Qual é o signi­ ficado da História? Para que serve a vida? As respostas devem ser encontra­ das não na lógica ou na dogmática ou na prova cientifica, mas na experiência do homem com Deus, através da fé em Jesus Cristo, e na confiante comunhão com ele, através do Espírito. A Bíblia é importante porque ela enco­ raja esperança em Jesus Cristo. A sua ressurreição da sepultura declarou a sua vitória sobre o pecado e a morte. O seu reino é eterno. Ele voltará em glória e triunfo. “Segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova ter­ ra, nos quais habita a justiça” (II Ped. 3:13). O propósito eterno de Deus para a redenção do homem chegará ao seu cum­ primento em Cristo (Ef. 1:9,10). IV. Como Se Aproximar da Bíblia Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus para a vida do homem e visto que ela é o guia que tem autoridade em questões de experiência moral e espiritual e em todos os assuntos de fé religiosa e conduta moral, qual é a maneira correta de se aproximar da Bíblia? Com que atitude e objetivos os crentes devem ler e estudar a Bíblia? 1. A abordagem da Bíblia exige o reconhecimento de sua natureza e seu propósito e também a percepção dos atributos dela que influenciam a com­ preensão de sua mensagem e sua impor­ tância para a vida em nossa época. A Bí­ blia não é mágica. Ela é revelação. Ela é um livro divino-humano. Teve muitos es­ critores. Veio à existência através de um longo período, que cobre cerca de doze séculos ou mais. A princípio foi escrita em hebraico, aramaico e grego. A chave de sua mensagem e significado é Jesus Cristo, a Palavra viva. 2. A abordagem da Bíblia deve ser de reverência e fé. Ela fala acerca de Deus. A energia, sabedoria e direção do Espí­ rito Santo estão nela. O propósito de Deus é realizado por ela. A verdade re­ dentora, reconciliadora e santificadora de Deus é o seu conteúdo e dinâmica. Ela transpira interesse amoroso da parte do Deus de graça. Declara o julgamento moral do Deus justo. Fala com a autori­ dade do Deus soberano. Testifica da graça salvadora de Deus em Cristo. Co­ mo pode qualquer pessoa ousar manu­ sear o Livro sagrado sem que seja com reverência para com Deus e reverência pela verdade e poder de Deus em Cristo? Este livro reclama fé — não fé impen­ sada e bisonha, mas inteligente e con­ fiante. Ele é a narrativa única completa­ mente digna de confiança a respeito da plena revelação de Deus em Cristo e sua salvação através de Cristo. Para a pessoa que está disposta a crer na Bíblia, quan­ 31
  • 33. do ela busca a verdade a respeito da Bíblia e na Bíblia, ela se tomará vivifi­ cada, com significado e certeza. 3. A abordagem da Bíblia exige aber­ tura de mente, um espírito apto para aprender e uma sede de aprender. As laboriosas pesquisas empreendidas por lingüistas, arqueólogos, historiadores e eruditos bíblicos propiciaram um vasto acervo de conhecimento e percepção que enriquecem o estudo bíblico. O estudan­ te sério das Escrituras precisa estar dis­ posto a se empenhar em um estudo disci­ plinado, para aprender do trabalho dos outros. Porém, com abertura de mente para a verdade, sejam quais forem as suas fontes, ele precisa desenvolver pes­ soalmente faculdades críticas para testar os conceitos e pontos de vista dos outros, sempre provando novas idéias e concei­ tos, mediante a própria Bíblia e no labo­ ratório do discipulado obediente. Preci­ sa, além disso, pôr à prova esses concei­ tos e pontos de vista, lendo abundante­ mente a obra de muitos autores e usando o laboratório de experiência que os cris­ tãos maduros possuem. Finalmente, o teste de toda a verdade a respeito da Bí­ blia é a questão se ela contribui para uma fé mais vital na Bíblia, obediência mais completa aos seus ensinos e uma dedica­ ção mais significativa a Cristo, como Senhor. 4. A abordagem da Bíblia propria­ mente requer prontidão para obedecer aos seus mandamentos e prática discipli­ nada de seus ensinos. Ela é a voz da auto­ ridade divina. É a prescrição para rela­ cionamentos harmoniosos. É a diretriz para excelência moral na vida pessoal, princípios retos e amor cristão nos rela­ cionamentos sociais, e autodoação (abne­ gação) como a de Cristo e ministério às necessidades das outras pessoas. Acima de tudo, ela é uma conclamação a uma fé voluntária em Jesus Cristo como Salva­ dor e plena dedicação a ele como Senhor. A palavra de Deus penetra no coração obediente. Sua palavra deve ser trans­ formada em experiência. “A chave para a compreensão das Escrituras, tanto do Velho quanto do Novo Testamento, é o reconhecimento de Jesus como Senhor” (Rolston: ibid., p. 33). 5. A abordagem da Bíblia exige um senso de dependência do Espírito Santo e uma comunhão dinâmica com ele. Ho­ mens movidos pelo Espírito Santo fala­ ram da parte de Deus. Daí, pessoas aten­ tas ao Espírito, guiadas pelo Espírito, que receberam poder do Espírito e estão ansiosas para fazer a vontade do Espírito ouvem melhor a palavra que vem de Deus. Ele é o divino Conselheiro, o su­ premo Intérprete. Ele conhece a vontade de Deus. Ele faz da Palavra escrita uma palavra viva, escrita no coração, para ser “conhecida e lida por todos os homens” (II Cor. 3:2). Para Leitura Adicional CARTLEDGE, SAMUEL A. The Bible: God’s Word to Man. Philadelphia: Westminster Press, 1961. DODD, C. H. The Authority of the Bible. London: Collins Clear Type Press, Edição Revisada, 1960. HENRY, CARL F. H. Revelation and the Bible. Grand Rapids: Baker Book House, 1958. HUNTER, A. M. The Message of the New Testament. Philadelphia: Westminster Press, 1944. HUXTABLE, John. The Bible Says. Richmond: John Knox Press, 1962. Interpreter’s Dictionary of the Bible. Nashville: Abingdon, 1962. Veja os artigos: “Canon of the Old Testa­ ment”, R. H. Pfeiffer, Vol. A-D; “Canon of the New Testament”, F. W. Beare, Vol. A-D; “Inspira­ tion and Revelation”, G. W. H. Lampe, Vol. E-J; “Scripture, Au­ thority of”, Alan Richardson, Vol. R-Z. KELLY, BALMER H., Editor. Intro­ duction to the Bible. “The Layman’s 32
  • 34. Bible Commentary”, Volume 1. Richmond: John Knox Press, 1959. ROLSTON, HOLMES. The Bible in Christian Teaching. Richmond: John Knox Press, 1962. ROWLEY, H. H. The Relevance of the Bible. Carter Lane: England: James Clarke and Co., 1941. SMART, JAMES D. The Interpretation of Scripture. Philadelphia: West­ minster Press, 1961. 33
  • 35.
  • 36. As Escrituras Traduzidas Um engenheiro aeronáutico certa vez disse a um tradutor da Biblia que no campo da aeronáutica “translação é ques­ tão de vida e morte.” (*) Historicamen­ te, os tradutores da Bíblia têm sentido a mesma coisa em relação à sua responsa­ bilidade. A tradução das Escrituras co­ munica a mensagem que de fato faz di­ ferença entre vida e morte para todos nós. A tradução da Bíblia teve início séculos antes de Cristo, e continua hoje em uma escala mais ampla do que nun­ ca. I. Antigas Traduções da Bíblia Targuns Aramaicos do Velho Testa­ mento. As “traduções” mais antigas (na verdade, paráfrases) de alguma porção da Bíblia são os targuns aramaicos do Velho Testamento, que surgiram para suprir as necessidades dos judeus pales­ tinos, que entendiam aramaico melhor do que o hebraico, que era a linguagem do Velho Testamento. Depois do Exílio, tornou-se costume, nas sinagogas pales­ tinas, acompanhar a leitura das Escri­ turas em hebraico com uma tradução aramaica. Hoje, manuscritos do targum existem para o Pentateuco, os livros pro­ féticos e a maior parte do restante do Velho Testamento. A Tradução Grega do Velho Testa­ mento. A tradução grega das Escrituras Hebraicas foi produzida especialmente para suprir as exigências de judeus não- palestinos, cuja língua cotidiana era o grego. Tiáham necessidade disso espe- (*) NOTA DO TRADUTOR: Em inglês, “transla­ ção” e “tradução” são a mesma palavra. Dai, um jogo de palavras impossível de seguir em português. Barclay M. Newman, Jr. cialmente os judeus do Egito, e foi ali, em Alexandria, que o Pentateuco foi traduzido durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.). Durante os dois séculos seguintes o restante das Escritu­ ras Hebraicas foi traduzido para o grego. A tradição é de que esta obra foi feita por um grupo de setenta (ou setenta e dois) eruditos. Por isso, ela veio a ser conheci­ da como Septuaginta (LXX), que signifi­ ca “setenta”. Versões Siríacas. Já em 150 d.C., o Novo Testamento foi traduzido para o siríaco, dialeto do aramaico falado na Síria e na Mesopotâmia. Perto do fim do quarto século as versões siríacas existen­ tes foram revisadas, com base no grego, e a tradução resultante tornou-se conheci­ da como Peshitta, ou versão “simples”. Versões Latinas. A versão Latina An­ tiga, segundo se crê, data, aproximada­ mente, do mesmo tempo que as primei­ ras versões siríacas, e parece ter-se origi­ nado no Norte da Ãfrica, embora algu­ mas pessoas argumentem que tenha sido Antioquia da Síria, ou Roma, o seu lugar de origem. O Velho Testamento não foi traduzido diretamente do hebraico, mas da Septuaginta. Aparentemente, no quarto século havia várias versões latinas competindo umas com as outras. Desta forma, o Papa comissionou Jerônimo para revisar a Bíblia latina, o que ele fez usando o texto hebraico como base para a sua versão do Velho Testamento. A tradução de Jerônimo é conhecida como a Vulgata ou versão “comum” . Versões Cópticas. O cóptico é a forma modernizada da antiga língua egípcia; é escrito com caracteres gregos, com a adição de várias letras que representam 35
  • 37. sons consonantais que não existem no grego. Já em 200 d.C., o Novo Testamen­ to foi traduzido para o saídico, um dos mais importantes dialetos cópticos, e no decorrer de um século a maior parte dos livros da Bíblia apareceu em saídico. Os tradutores usaram a Septuaginta como base para o trabalho com o Velho Testa­ mento. Mais tarde, foram feitas tradu­ ções em outros dialetos cópticos, sendo a mais importante a em boaírico, que final­ mente superou as outras versões cópticas. Outras Versões Antigas. A primeira versão em uma língua teutônica foi a Versão Gótica, feita pelo erudito Bispo Ulfilas, nos meados do quarto século. Uma tradução armênia foi feita no quin­ to século, por Meshrop, que inventou o alfabeto armênio, e por Sahak, o Patriar­ ca. Meshrop também inventou o alfabeto geórgio, embora não seja conhecido o autor da tradução das Escrituras em geórgio (quinto século). II. A Bíblia em Inglês 1. Antes da Versão King James Indubitavelmente, a Versão do Rei Tiago (King James Version — KJV) é a mais notória de todas as traduções da Bíblia em inglês, e foi uma importante história de acontecimentos que levou à publicação desta versão. De fato, pode-se dizer que a história da Bíblia inglesa começou com a introdução do cristia­ nismo na Bretanha durante a primeira parte do terceiro século. Nesse primeiro estágio, a mensagem bíblica deve ter passado adiante em primeiro lugar oral­ mente, época em que os homens apresen­ tavam interpretações livres da Bíblia la­ tina no vernáculo. E também, através da arte, do cântico, do drama e do ritual, as verdades bíblicas foram comunicadas às massas. Pelo menos dois fatores impedi­ ram qualquer trabalho sério de tradu­ ção. O primeiro foi o medo da Igreja de perder o controle sobre as mentes do povo, se lhe fosse permitido estudar as Escrituras por si mesmo; o segundo foi o analfabetismo generalizado. Tanto quanto se sabe, a primeira tra­ dução da Bíblia toda em inglês foi reali­ zada por John Wycliffe, que produziu o Novo Testamento no ano de 1380, se­ guido por toda a Bíblia um ou dois anos mais tarde. Visto que Wycliffe não co­ nhecia o grego, a sua tradução foi feita a partir do latim, e incluía os Livros Apó­ crifos. A esperança de Wycliffe era que a sua tradução alcançasse o povo comum; e isto foi por fim conseguido através da revisão de sua obra por seus colegas, pouco depois de sua morte, em 1384. William Tyndale produziu a primeira edição impressa da Bíblia inglesa. Por volta de 1510, ano em que Tyndale foi a Oxford, para estudar, havia acontecido um reavivamento de interesse por línguas antigas, inclusive pelo hebraico e o gre­ go, as línguas das Escrituras. Assim, quando Tyndale começou o seu trabalho com o Novo Testamento, por volta de 1522, foi capaz de usar o texto grego como base para a sua obra. Incapaz de receber apoio das autoridades eclesiásti­ cas inglesas, para os seus esforços, ele dirigiu-se à Alemanha, para conseguir esse apoio. Finalmente, na cidade de Worms, lugar em que Martinho Lutero havia sido levado a julgamento quatro anos antes, Tyndale publicou a sua pri­ meira edição do Novo Testamento, em 1525. No começo do ano seguinte, cópias de sua obra começaram a ser contraban­ deadas para a Inglaterra, onde foram ansiosamente recebidas pelas massas. Em 1530, Tyndale publicou o Pentateu- co, e, no ano seguinte, o livro de Jonas. Em 1535, saiu uma edição corrigida de seu Novo Testamento revisado. Naquele mesmo ano, ele foi traído por um “ami­ go” , aprisionado e, um ano e meio mais tarde, morto por estrangulamento e quei­ mado em uma estaca. As suas últimas palavras foram: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra.” 36
  • 38. No outono de 1535, um monge agosti- niano, chamado Miles Coverdale, tradu­ ziu o Novo Testamento. A sua obra, que ele admitiu ser baseada no latim e no alemão, e talvez ainda mais na obra de Tyndale, se destinava a tomar-se a pri­ meira Bíblia completa em inglês. Ele dedicou o seu trabalho ao Rei Henrique VIII, eliminou notas controversas e res­ taurou termos eclesiásticos favoritos, que haviam sido alterados por Tyndale, fa­ tores que fizeram de sua tradução um trabalho mais aceitável para os que esta­ vam em posição de autoridade. A primeira Bíblia a receber aprovação oficial na Inglaterra foi a chamada Bí­ blia de Matthew, por causa de sua cone­ xão com um certo Thomas Matthew. Mas, na verdade, Thomas Matthew pare­ ce ter sido o pseudônimo de John Rogers, amigo de Tyndale, que foi o primeiro dos protestantes a ser condenado à morte durante o reinado da infame Maria Tu- dor, mais conhecida como Bloody Mary (Maria, a Sanguinária). Em 1537, a Bí­ blia de Matthew foi publicada e aprova­ da por Henrique VIII para uso em leitu­ ras privadas. Até então não havia uma Bíblia que fosse oficialmente sancionada pelo rei e pelas autoridades eclesiásticas para uso na adoração pública. Foi oferecida a Coverdale a responsabilidade desta tare­ fa, cujo resultado foi a Bíblia Grande, publicada em 1539, única versão já auto­ rizada por um rei da Inglaterra. Até mesmo a KJV, freqüentemente mencio­ nada como Versão Autorizada, nunca recebeu o reconhecimento como tal por decreto oficial. Ordenou-se que a Bíblia Grande fosse colocada em todas as igre­ jas da Inglaterra. Durante os anos se­ guintes, restrições foram impostas à lei­ tura pública da Bíblia propriamente dita, e, em 1546, iniciou-se um esforço organizado para queimar todas as Bí­ blias, exceto a Bíblia Grande. As instáveis condições políticas da In­ glaterra, em seguida ao reinado de Hen­ rique VIII, fizeram necessário que os clérigos evangélicos e reformadores pro­ curassem refúgio fora do país. Um dos principais centros para onde essas pes­ soas fugiram foi Genebra, onde apare­ ceu, em 1560, a Bíblia de Genebra, com a ajuda de eruditos, como Coverdale, John Knox, João Calvino e Theodore Beza. Por várias razões, esta foi, sem comparação, a melhor Bíblia inglesa produzida até então: o Velho Testamen­ to seguia o texto hebraico mais de perto do que qualquer tradução anterior; as notas marginais não eram tão controver­ sas como nas traduções anteriores; e essa foi a primeira vez que foi usada a divisão em versículos na Bíblia toda, como à co­ nhecemos hoje. Além do mais, os tradu­ tores tiveram a vantagem de ser capazes de usar como base de seu trabalho a Bí­ blia Grande e a edição do Novo Testa­ mento feita por William Whittingham, em 1557. Por fim, a Bíblia de Genebra provou ser demasiada competição para a Bíblia Grande, mas houve forte oposição à sua adoção como Bíblia oficial para a Igreja da Inglaterra. Como tentativa para re­ solver essa situação, Matthew Parker, Arcebispo de Cantuária, propôs uma re­ visão da Bíblia por uma equipe de estu­ diosos. Por causa da predominância de bispos, nessa comissão, a tradução ficou conhecida como Bíblia dos Bispos. Ime­ diatamente depois de sua publicação, em 1568, ela tomou-se a Bíblia oficial da Igreja da Inglaterra, mas não podia com­ petir em popularidade com a Bíblia de Genebra. Embora a Igreja Romana, em princí­ pio, se opusesse à indiscriminada disse­ minação da Bíblia entre o povo comum, ela sentiu-se compelida a produzir uma Bíblia sua. O Novo Testamento apareceu em 1582 e recebeu o seu nome de Rheims, cidade francesa em que a tradu­ ção foi feita e impressa. Em 1609-1610, o Velho Testamento foi publicado em Douay, França. A Bíblia toda, conhecida 37
  • 39. como Versão Douay, tornou-se a Bíblia oficial da Igreja Católica de fala inglesa. Ela se baseava na Vulgata, e não nas línguas originais da Escritura. 2. A Versão do Rei Tiago Quando o rei Tiago VI, da Escócia, tornou-se o rei Tiago I da Inglaterra, havia pelo menos três versões da Bíblia, em competição umas com as outras: a Bíblia de Genebra, a Bíblia Grande e a Bíblia dos Bispos. Tiago tinha pontos de vista fortemente protestantes, bem como um pronunciado interesse em estudos bíblicos e tradução da Escritura. Por isso, quando os puritanos lhe apresenta­ ram uma petição, em janeiro de 1604, requerendo que fosse feita uma nova tradução, eles se dirigiram ao homem certo. O trabalho da nova tradução começou em 1607, com um total de 47 tradutores trabalhando em seis comissões, duas das quais se reuniam em Cambridge, duas em Oxford e duas em Westminster. Cada comissão trabalhava em partes diferentes da Bíblia, e, mais tarde, uma comissão de revisão, consistindo de dois represen­ tantes de cada uma das seis comissões, se reuniu diariamente, durante nove meses, revisando as traduções. Uma revisão fi­ nal foi então feita por uma comissão de duas pessoas: Miles Smith, um dos tra­ dutores, e Thomas Bilson, que estava fora do grupo. A tradução, ou melhor, a revisão, foi publicada em 1611. Muito pode-se aprender a respeito do trabalho de tradução lendo-se as regras de procedimento e o prefácio. Infeliz­ mente, o prefácio não é incluído na maioria das edições da KJV; se ele tivesse sido publicado e lido cuidadosamente pelos leitores da KJV, muitos conceitos errados teriam sido evitados. Uma das regras mais importantes foi que a Bíblia dos Bispos devia ser seguida tanto quan­ to possível. Devia-se comparar o traba­ lho com outras traduções, especialmente as de Tyndale, Matthew, Coverdale, a Bíblia Grande e a Bíblia de Genebra; e, de fato, a tradução de Tyndale e a Bíblia de Genebra foram seguidas mais de perto do que a Bíblia dos Bispos, o que pode considerar-se crédito para os revisores. “As velhas palavras eclesiásticas” de­ viam ser conservadas; as notas marginais deviam ser limitadas a explicações das palavras hebraicas e gregas; e as divi­ sões em capítulos e versículos deviam ser alteradas o mínimo possível da linha tradicional. Como acontece com muitas outras tra­ duções, a KJV teve que enfrentar uma longa luta para conseguir a aceitação po­ pular. Por decreto oficial, ela substituiu a Bíblia dos Bispos, mas levou meio século para tomar o lugar da Bíblia de Genebra, no uso popular. Houve muitas edições subseqüentes da KJV, algumas delas contendo numerosas modificações da edição “original” . De fato, a primeira impressão foi feita por duas imprensas, e não houve exata uniformidade entre as duas publicações. Então, a edição de 1613 teve bem mais de 300 alterações, decorrentes das duas publicações ini­ ciais. A “edição-padrão” da KJV, aquela com que os leitores estão familiarizados hoje em dia, é a edição de 1769, revisada por Benjamin Blayney, de Oxford. Pou­ cas modificações foram feitas desde en­ tão. Os homens envolvidos com a KJV re­ presentavam uma ampla variedade de antecedentes eclesiásticos, bem como a mais elevada erudição da época. E o fruto de seu trabalho deixou uma in­ fluência ampla e duradoura sobre a lite­ ratura inglesa e em outros aspectos da vida do mundo de fala inglesa. Não obs­ tante, a obra que eles realizaram não foi feita sem limitações. O texto grego dis­ ponível para eles era essencialmente o texto corrompido de Erasmo, e àquela época não havia nenhuma edição-padrão do Velho Testamento hebraico. Sobretu­ do, eles não tinham acesso a importantes versões antigas, como a Velha Latina e a 38
  • 40. Velha Siríaca, e as descobertas de papi­ ros ainda deviam ser feitas posterior­ mente. 3. A Bíblia Inglesa Desde a Versão do Rei Tiago (KJV) The English Revised Version. Já em 1810, Herbert Marsh de Cambridge decla­ rou: “É provável que a nossa Versão Auto­ rizada seja tão fiel como representação das Escrituras originais como podia sê-lo na­ quela época. Mas quando considera­ mos... que as fontes mais importantes de inteligência para a interpretação das Es­ crituras originais foram semelhantemen­ te abertas depois daquele período, não podemos pretender que a nossa Versão Autorizada não requeira emendas.” As suas palavras, evidentemente, represen­ tavam um sentimento disseminado entre os eruditos bíblicos de sua época. Porém só em 1870 a Igreja empreendeu uma ação oficial para iniciar a revisão neces­ sária. O propósito declarado era revisar a KJV, introduzindo, no texto, o mínimo possível de alterações; mas, no cômputo final, a quantidade de modificações foi enorme. Um total de 65 eruditos traba­ lhou na revisão. O Novo Testamento foi publicado em maio de 1881; o Velho e o Novo Testamentos foram publicados juntos em maio de 1885; e a revisão dos Livros Apócrifos foi completada em 1895. O Novo Testamento tomou-se imedia­ tamente um sucesso de vendas. Mas a sua popularidade teve vida curta, mesmo entre aqueles cujas simpatias eram as maiores. A razão para esta reação nega­ tiva foi o estilo do inglês, ou melhor, a falta de estilo do inglês. Os revisores haviam sido tão fiéis à ordem de pala­ vras no grego, que o inglês soava anti- natural e era, muitas vezes, obscuro. The American Standard Version. Al­ guns eruditos americanos foram consul­ tados durante a preparação da ERV, mas o Comitê Americano não ficou in­ teiramente satisfeito com a publicação final. Eles queriam uma eliminação mais ampla de palavras arcaicas e mais aten­ ção ao uso do inglês americano. Assim, o Comitê Americano decidiu publicar uma edição americana separada, e esta apa­ receu em agosto de 1901. Em alguns pontos houve melhoras sensíveis em rela­ ção à ERV, mas a ASV foi muito critica­ da, por usar “Jeová” onde os revisores ingleses haviam conservado “Senhor” ou “Deus”. Mais do que isto, a ASV conser­ va a mesma fraqueza básica da ERV: o inglês não é natural. De ambas as ver­ sões tem sido dito corretamente que elas são fortes em hebraico e grego, mas fracas em inglês. Algumas das Primeiras Traduções Mo­ dernas Para o Inglês. Pelo menos três fatores contribuíram para o aparecimen­ to de várias traduções modernas para o inglês na primeira parte deste século. O primeiro foi a descoberta de importan­ tes manuscritos bíblicos antigos, que ca­ pacitaram o tradutor a chegar mais perto do que nunca do texto original. O segun­ do foi a descoberta de grande número de documentos no Egito, escritos em papiro, dados escritos miscelâneos da época do Novo Testamento, indicando que o grego do Novo Testamento era o grego comum da época. Terceiro, a cons­ ciência cada vez mais profunda de que traduções em linguagem arcaica ou em frases de som estranho simplesmente não comunicavam adequadamente a mensa­ gem da Bíblia. A primeira tentativa digna de nota para se fazer uma tradução modema para o inglês foi The Twentieth Century New Testament, que apareceu de uma forma experimental por um grupo anôni­ mo de vinte eruditos, entre 1898 e 1901, e em forma final em 1904. Na Inglaterra, Richard F. Weymouth, competente eru­ dito em Novo Testamento, fez uma tra­ dução que esperava fosse suplementar as versões “padrão”; ela foi publicada pos­ tumamente em 1903. Em 1924, um gru­ po de três estudiosos publicou uma edi- 39
  • 41. ção revisada de sua obra. Em 1943, foi publicada uma edição americana. Em 1913, James A. Moffatt, um es­ cocês que havia-se unido ao corpo do­ cente do Seminário Teológico União, em New York, publicou a sua tradução do Novo Testamento. Ele trouxe a lume o seu Velho Testamento em 1924, e a Bíblia toda em 1926 — e, mais tarde, uma versão revisada em 1935. O objetivo de Moffatt era “apresentar os livros do Velho e Novo Testamentos em um inglês eficiente e inteligível” e “ser exato e idio­ mático” . The New Testament, an American Transiation, feita por Edgar J. Goods- peed e publicada em 1923, fez para os que falam o inglês americano o que Mof­ fatt havia feito para os que falam o inglês britânico. Em 1927, um grupo de estu­ diosos, dirigido por J. M. P. Smith, levou ao prelo um Velho Testamento em jar­ gão americano, e, em 1931, este foi pu­ blicado juntamente com o Novo Testa­ mento de Goodspeed, com o título de The Complete Bible; An American Transiation. The Revised Standard Version. Antes da publicação da ASV, em 1901, várias publicações “não-autorizadas” da ERV apareceram, com “melhoramentos” , pa­ ra o leitor americano. Para proteger o texto contra modificações ulteriores, a ASV teve reservados os direitos de publi­ cação (copyright) em 1901; e, em 1928, estes direitos reservados foram adquiri­ dos pelo International Council of Reli- gious Education, e assim tomou-se pro­ priedade das igrejas batistas dos Estados Unidos e Canadá. Uma comissão de es­ tudiosos foi indicada para ver se era ne­ cessária uma outra revisão. Depois de estudar a questão durante mais de dois anos, ela decidiu que uma revisão era necessária, e, pelo voto do Concílio, em 1937, o objetivo da revisão foi definido: “Incorporar os melhores resultados da erudição moderna quanto ao significado das Escrituras e expressar este significa­ do em linguagem moderna, e que se designe a ser usada na adoração pública e privada, e preserve as qualidades que deram à King James Version um lugar supremo na literatura inglesa.” Pelo me­ nos três fatores contribuíram para o re­ conhecimento da necessidade de revisão: o aumento de conhecimento bíblico des­ de a época da KJV, a disponibilidade de textos gregos e hebraicos melhores do que os que estavam disponíveis para os tradutores anteriores e as mudanças da língua inglesa desde 1611. A comissão foi dividida em uma seção para o Velho Testamento e outra para o Novo Testamento; e o trabalho de cada seção foi sujeito à revisão pela outra, sendo que as modificações requeriam dois terços dos votos dos membros da comissão toda. Um total de 32 eruditos serviu nessa comissão, que eram estudio­ sos da Bíblia e também homens escolhi­ dos por suas qualificações em literatura inglesa e por sua experiência em dirigir cultos. O Novo Testamento foi publicado em 1946, e a Bíblia toda, em 30 de setem­ bro de 1952. Ã semelhança da KJV, a RSV tem tido os seus oponentes. Porém a maior parte dos veementes ataques contra ela cessa­ ram, e a RSV encontrou o seu lugar na vida da Igreja, onde ela é amplamente usada na literatura para a Escola Bí­ blica Dominical e nos cultos públicos. Se os números que revelam as vendas e a distribuição dizem algo, é digno de nota que cinco milhões de cópias foram vendi­ das durante os cinco primeiros anos de publicação, e mais de doze milhões de cópias, durante os primeiros dez anos. Algumas das Mais Recentes Tradu­ ções para o Inglês. Uma das mais popu­ lares e imaginosas traduções do Novo Testamento para o inglês modemo é The New Testament in Modern English, de J. B. Phillips. Esta tradução, publicada em 1958, reúne em um só volume as suas quatro publicações anteriores, a primeira 40