SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
César Dacorso Filho, o consolidador da
autonomia do metodismo brasileiro
João Wesley Dornellas

Resumo
O autor relata fatos da vida da Igreja Metodista nos primórdios de sua Autonomia e destaca
a atuação de César Dacorso Filho no período em que foi bispo, de 1934 a 1955, concluindo
que ele foi o consolidador da Autonomia da Igreja Metodista do Brasil. As fontes principais
usadas são as páginas do Expositor Cristão.

Palavras-chave
Autonomia – metodismo – Bispo César.

João Wesley Dornellas é ex-professor de História do Metodismo no Seminário Metodista
César Dacorso Filho, membro da World Methodist Historical Society, idealizador, membro
fundador e primeiro presidente da Seção Brasileira da Sociedade Mundial de História do
Metodismo, membro da Ordem do Mérito Metodista como um dos “Metodistas Eméritos
do Século 20”, leigo, membro da Igreja Metodista de Vila Isabel no Rio de Janeiro. E-mail:
wesley@alternex.com.br

À guisa de introdução

Este não é, caros leitores, um artigo acadêmico no estilo a que certamente se acostumaram
a ler. Eu não tenho nenhuma pretensão de fazer uma análise da instituição do episcopado na
Igreja Metodista do Brasil, nem considerações filosóficas sobre o Movimento da
Autonomia, ambos muito pouco estudados em nossa Igreja. Nossa Igreja no Brasil nunca
teve muito apreço pela história e, assim, muitos documentos, cartas e depoimentos, que
seriam de fundamental importância nas comemorações do 75º aniversário da Autonomia,
não foram devidamente preservados. Por outro lado, os protagonistas daqueles anos que a
antecederam, que lutaram por ela e ajudaram a implantá-la no princípio da década de 1930,
já foram chamados ao Lar Celestial. Felizmente, os tempos estão mudando em nossa Igreja
e o estudo de sua história, até mesmo para evitar os erros do passado, começa a ser
incentivado. Esta edição de Caminhando, com ênfase em diversos aspectos de nossa
Autonomia, é um exemplo disto. Pena é que as gerações passadas de metodistas, leigos e
pastores, não tiveram a necessária visão, ou os recursos adequados, para preservar
informações, que hoje nos fazem muita falta, para podermos analisar de maneira objetiva os
fatos importantes de nossa caminhada. A nossa Faculdade de Teologia é possivelmente a
única instituição que tem preservado documentos de nossa história e isso deve ser
incentivado, especialmente no sentido de todo esse material ser disponibilizado de maneira
digital. Temos poucos livros escritos sobre a História do Metodismo no Brasil e eles são
fruto muito mais da pertinácia de seus autores do que um serviço objetivo de pesquisa.
Porque a Igreja é movida a esperança, precisamos resgatar a nossa memória. É o conselho
que nos dá o profeta Jeremias: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. [1]
Proponho-me a justificar o título deste artigo através de excertos do que ele escreveu,
especialmente por meio do Expositor Cristão, e em cartas que ele dirigiu a meu pai, que foi
seu superintendente distrital por muitos anos, nos quais se pode constatar seu grande amor à
Igreja Metodista, sua extrema fidelidade a suas doutrinas e práticas históricas, sua
preocupação com a unidade da Igreja, sua ênfase na evangelização (apesar de muitas
pessoas desinformadas insistirem em dizer que ele foi apenas um administrador e não um
evangelista) e, também, suas qualidades de liderança, sem perder nunca sua autoridade que,
no entanto, quase sempre, era exercida com humildade, serenidade e mansidão, e, por
último, o seu talento organizador. O somatório de todos esses fatores e a doação que César
Dacorso Filho fez de sua própria vida em virtude de seu chamado, credenciaram-no a ser,
na minha opinião, descontados alguns erros que todos cometem, o maior nome do
Metodismo no Brasil. Evocar tudo o que César publicou no Expositor Cristão nos seus 21
anos de episcopado não caberia num simples artigo. Valho-me, portanto, só de materiais
publicados em 1934, seu primeiro ano como bispo, que dão um retrato bem nítido do que
seria o seu episcopado, já que ele nunca se acomodou em suas atividades. Também me
socorro, além de alguns depoimentos publicados sobre ele e de minha experiência pessoal,
de trechos de cartas, já quase no final de sua carreira, dirigidas a meu pai, que era seu
superintendente distrital no Rio de Janeiro, nas quais ele mostra profunda coerência com o
início do seu episcopado.
Convivi com César Dacorso Filho desde os dias de minha infância de filho de pastor até seu
falecimento, em 1966, e dele sempre recebi um tratamento diferenciado. Acompanhei,
portanto, desde menino, muitas daquelas atividades que, depois de sua atividade episcopal,
não observei em outros que vieram após ele. Tenho em meu arquivo pessoal uma carta que
ele me dirigiu em 28/08/1940, em resposta à carta que lhe enviei duas semanas antes,
convidando-o a pregar no culto de gratidão pelo seu sétimo aniversário. Alguns anos
depois, em novembro de 1944, então com 11 anos, aproveitei uma visita de fim de semana
à nossa casa para pedir-lhe que me recebesse à comunhão da Igreja, porque meu pai não
queria fazê-lo para não ter que receber outras crianças da mesma idade que, talvez, ainda
não tivessem maturidade para o ato. Ele me sabatinou por quase duas horas, fez perguntas e
discutiu questões sobre a Bíblia, a Igreja, doutrinas, práticas e muitas coisas mais. Ao final
da conversa, depois de orar, ele prometeu me receber no culto da manhã do dia seguinte, no
domingo dia 14.
As visitas de César à nossa casa eram freqüentes. Algumas vezes, era lá que ele, sem sedes
regionais, sem secretária, sem os confortos modernos como telefone, fax e e-mails,
colocava em dia o seu expediente episcopal. Mesmo depois de sua aposentadoria, a
amizade com papai continuou intensa e, muitas vezes, ele passava alguns dias em nossa
casa. O convívio com ele, com o que ele escrevia, com suas pregações inspiradas, os muitos
concílios que o vi presidir com amor, zelo e, também, energia, tudo isto me dá certamente o
necessário lastro para escrever este artigo.
Finalmente, para terminar esta longa introdução pessoal, preciso dizer que, na casa dos
meus pais, que viviam intensamente para a igreja, o dia 2 de setembro, Dia da Autonomia,
era muito mais importante do que o próprio dia 7, dia da Independência do Brasil. Nas
igrejas que meu pai pastoreou, a Autonomia sempre foi condignamente comemorada.

Os anos iniciais da Autonomia – 1930 a 1934
A promulgação de nossa Autonomia, a elaboração de uma Constituição e a eleição do
nosso primeiro bispo, cuja escolha recaiu em John William Tarboux, não tiveram o dom de
realmente implantá-la e consolidá-la. Por diversos fatores. Um deles, as condições de saúde
de Tarboux, eleito quando já estava jubilado e há alguns anos longe do Brasil. Ele tinha
sido um dos nossos mais brilhantes pioneiros, ao lado de James L. Kennedy e Hugh C.
Tucker, o chamado Trio de Ouro, justamente os três membros da Conferência de 1886,
presidida pelo bispo J. C. Granbery, que transformou a missão em Igreja Metodista
Episcopal do Sul, nome de nossa igreja até a Autonomia.
A igreja brasileira manifestou, nas conferências gerais de 1927 e 1929, as intenções de
fazê-lo bispo da igreja autônoma. Chegou a pedir à Igreja Mãe que o elegesse e o
nomeasse, em tempo integral, para o Brasil. É claro que não havia nenhuma
obrigatoriedade de elegê-lo, mas ele, apesar de residir nos Estados Unidos, foi eleito, viajou
para o Brasil e foi consagrado pouco mais de um mês depois, em 12 de outubro, na igreja
do Catete.
Através das páginas do “Expositor Cristão”, que naquela época era quase que a única fonte
de informação para a Igreja, pode-se sentir a alegria dos metodistas pela escolha de
Tarboux, mas era evidente que carecíamos, para que a Autonomia fosse devidamente
implantada, de um bispo mais jovem e, se possível, brasileiro. Um dos fatores negativos era
a precária saúde de Tarboux. Ele passava no Brasil só 5 a 6 meses por ano. Com tanta coisa
a ser feita, esse tempo era certamente insuficiente. As viagens de navio eram muito
demoradas e quase que só havia comunicação epistolar.
Em artigo sobre o episcopado, publicado no Expositor Cristão [2], muito possivelmente
escrito por Guaracy Silveira, que era o redator chefe do jornal e não tinha hábito de assinar
suas matérias, ele comentou o trabalho de Tarboux como bispo:
... chamado em sua velhice para o cargo de tão grande responsabilidade, fez tudo quanto era
lícito esperar dele, e muito acima do que poderíamos esperar, e ninguém duvida que ele foi
o homem que Deus nos deparou para as notáveis realizações do Metodismo nestes três anos
de sua vida autônoma.
Além da saúde de Tarboux e do pouco tempo passado no Brasil, havia outros problemas
que impediam que Autonomia fosse consolidada imediatamente. Não havia Cânones e nem
uma organização apropriada à vida autônoma, assim sendo, adotaram a Disciplina da Igreja
dos Estados Unidos de 1922, imprópria para o Brasil.
Voltando ao texto presumido de Guaracy Silveira [3], nós encontramos elogios a Tarboux,
mas uma grande preocupação com o futuro:
Mas é preciso notar que, se houvermos de escolher um homem para o futuro, não é mais
para fazer o trabalho que coube ao bispo Tarboux, que só ele podia fazer e que ele já fez: há
o trabalho de consolidação das igrejas, os planos de evangelização, os institutos
ministeriais, a coordenação das forças, as possibilidades financeiras, a acomodação do
ministério dentro dessas possibilidades e a escolha rigorosa de cada homem para seu
verdadeiro lugar, como dizem os ingleses.
César Dacorso Filho foi o homem certo para a tarefa e ele planejava não ir ao Concílio
Geral de Porto Alegre, que o elegeu. Um dos que tentaram convencê-lo a ir foi Guaracy
Silveira, conforme é mencionado no Expositor Cristão [4], em depoimento sobre o novo
bispo, no qual declara:
a eleição do novo bispo veio encher de alegria a todos que o conhecem. Moço humilde, de
grande cultura, enérgico e capaz de resolver com prudência todas as dificuldades que
surjam nos concílios e nos pastorados, sempre fiel e todas s obrigações dos cargos que tem
ocupado, ele será nestes seis anos um fator de paz e desenvolvimento da Igreja.
Continuando o seu depoimento, Guaracy relata que, antes do Concílio Geral, lhe escrevera
uma carta informando que um grupo do Concílio Central [5] escolhia o seu nome para
bispo, tendo César respondido, em carta de quatro laudas, expondo os motivos que tinha
para fugir à investidura. Guaracy completa: “motivos justos aos seus olhos, mas que aos
nossos não impediam que o escolhêssemos. Homens assim, que fogem às honras, são os
únicos capazes de cumprir os deveres que lhe são confiados”.

O início do episcopado de César
Relatarei, mais à frente, sua intensa agenda de trabalho para aquele ano de 1934. Gostaria,
no entanto, de transcrever, antes, trechos de uma comunicação que fez no Expositor Cristão
[6] especialmente aos pastores. Como se fosse um testemunho de que ele não exigia deles
nem um pouco mais do exigia de si mesmo, ele fala do seu pastorado em Carangola, na
Zona da Mata de Minas Gerais, para onde fora nomeado por Tarboux, depois de ter sido
pastor de Belo Horizonte e Juiz de Fora:
Eu percorria território de cerca de 20 léguas de extensão, muitas vezes a cavalo e não raro a
pé, visitava nada menos de onze cidades e povoados (Carangola, Faria Lemos, Caiana,
Santa Rita de Cássia, Santa Clara, Tapera, São José da Pedra Dourada, Alvorada, São
Francisco do Glória, Divino do Carangola e Espera Feliz) e ainda pregava em mais de 23
lugares (Cacau, Córrego das Pedras, Cafarnaum, Boa Fé, Serra, Serra Queimada, Ponte
Branca, Água Espalhada, Arrependidos, Córrego do Ouro, Taquara Branca, Bom Jardim,
Andes, Bonsucesso, Floresta, Boa Vista, São João do Norte, Frossard, Córrego do Camilão,
Santa Cruz, Chico Dentistaa, Varginha, Ernestina e Laginha), sendo ao mesmo tempo
superintendente do distrito mais difícil e penoso de toda a igreja.
Ao falar do trabalho com membros isolados em pequenas aldeias, César diz que “somos
nós, os pastores, por nossas visitas, os vínculos que ligam os membros de uma paróquia
num só corpo e nela os consolidamos”. Ele continua, enfático:
... nossa preocupação principal, nosso dever iniludível, nossa responsabilidade
indesculpável, é viajar, visitando todos os nossos paroquianos, morem onde morarem
dentro dos nossos territórios, e pregando onde for possível. Somos pastores para cuidar das
ovelhas que nos foram confiadas. Somos ministros para ministrar à igreja e quantos a
compõem ou dela se aproximam. Se desse modo não desejamos cumprir a nossa missão –
se andarmos à cata de conveniências e comodidades pessoais, se queremos viajar de quando
em quando e não sempre, se procurarmos visitar apenas os crentes de acesso mais fácil e
não os de mais difícil – é melhor que peçamos disponibilidade e mesmo que desistamos do
ministério. Venham outros para fazer o trabalho que não pretendemos fazer ou que
pretendermos fazer mal. Oxalá se comece a fazer já o nosso exame de administração, nos
concílios regionais, rigorosamente por esse prisma.
Finalizando essa pastoral, faz o apelo no seu estilo inconfundível:
Nossos dias, nossas horas, nossos minutos são poucos para o desempenho de nossas
obrigações. Não procuremos, pois, coisa alguma que nos venha distrair do nosso trabalho.
Nada de ocupações estranhas, ao ministério e ao pastorado – de curandeirismos, de
rabulismos, de professorismos, de negocismos, de ismos de qualquer espécie. Nada de
inovações nas congregações, que nos venham tomar tempo. Já temos as juntas, as
sociedades, as comissões, as escolas dominicais, instituições oficiais que podem
providenciar para todas as necessidades dos crentes e que, bem orientadas por nós e
entregues aos leigos, pouco tempo nos consomem. Seja todo o vosso tempo para viajar,
visitando e pregando.
O espaço não dá para relatarmos tudo o que César fez para consolidar a nossa Autonomia.
Vamos, porém, mencionar a lista de igrejas que ele visitou no ano de 1934, para dar uma
vaga idéia do seu trabalho pessoal. Não eram visitas simples, em que recebia honras e
homenagens, mas viagens de serviço, com análise dos livros, da escrituração, da visita a
pontos estratégicos, com reuniões com oficiais da igreja, visitas a autoridades das cidades e
muita coisa mais, como se pode ver, através do Expositor Cristão, na seção quase
permanente, “Superintendência Episcopal”, na qual relatava os seus passos através de todo
o Brasil metodista de então.
Mal chegou do Concílio Geral de Porto Alegre, onde fora eleito bispo em 13 de janeiro, em
viagem de navio na qual deve ter trabalhado muito para elaborar os seus planos de trabalho,
efetuou sua mudança para Juiz de Fora e saiu ao campo. Relata o seu princípio no
Expositor Cristão [7]. Começou com visita a Petrópolis, dias 15 e 16 de fevereiro de 1934,
no dia 18, pela manhã esteve em Vila Isabel, à noite no Catete, no dia 29 reuniu-se com
pastores, missionários e oficiais das igrejas e, à noite, esteve na igreja de Cascadura, onde
pregou sobre evangelização. Na reunião com os pastores, na sede da Sociedade Bíblica
Americana, César diz o que fez na reunião: “Ventilei-lhes as nossas grandes necessidades:
organizar, evangelizar e estabelecer bem depressa o sustento próprio. Apontei-lhes alguns
caminhos que temos para esses três fins”.
No dia seguinte, dia 20 de Fevereiro, falou à igreja de Juiz de Fora, onde tinha sido pastor.
Na manhã seguinte, “reunião com um grupo de ministros e leigos para passar por instantes
de oração e lhes falar sobre evangelização, Missões Nacionais, etc.”. Já em março, esteve
em São Paulo, Marília e Porto Alegre. No mês de abril de 1934, dirigiu concílio distrital no
Rio de Janeiro, aproveitando para pregar, no dia 8, em São João e São João de Meriti. No
dia seguinte, já estava em Pindamonhangaba, seguindo, depois, para Taubaté, São Paulo,
igreja Central, Ipiranga, Mooca, Luz e Brás. Logo depois, está em Marília, Lins, Promissão
(paróquia de Promissão e Guaiçara), Penápolis, Birigui, Guarantã, Pirajui, Presidente
Alves, Bauru, Porto União e, já em junho, Jacarezinho (sede do circuito paranaense),
Cambará (“igreja que fornece recursos para a organização e manutenção da paróquia de
Londrina”, Londrina (onde pregou num cinema e deram o primeiro passo 60 candidatos”),
Ourinhos, Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Cândido Mota (que César destaca
dizendo que “essa paróquia deve ser a maior do Brasil em número de pontos de pregação,
29, distanciados um dos outros até 60 km”), Avaré e, já no Rio de Janeiro, depois de uma
reunião da Junta Geral de Missões em São Paulo, no dia 16, Realengo e Cascadura.
Junho não foi diferente. Esteve em Belo Horizonte, para concílio distrital, onde pregou três
vezes, esteve na Congregação do Cálix Comum, na Igreja da Praça, nas capelas de Vila
Concórdia e de Carlos Prates, em Ouro Preto, em Congonhas, Lafaiete, em Anta e no Rio
de Janeiro, onde esteve presente num Congresso de Mulheres. Em ouro Preto, ele narra que,
no dia 14, no teatro Municipal da cidade, fez conferência sobre “A natureza da salvação
que o cristianismo oferece”. E continua a viajar para consolidar a Autonomia: Catete,
Niterói, Inhoaíba e Orfanato Ana Gonzaga, Jardim Botânico, Imprensa Metodista, Brás,
Vila Isabel, Petrópolis, Fagundes, Juiz de Fora, Barra Mansa, Tucuruvi, São Paulo Central,
Santos e, indo para o Sul, Porto União, Rosário, Santana do Livramento, Uruguaiana, São
Borja, Santa Maria (cidade onde nasceu), Cachoeira, Rio Pardo, Montenegro, Garibaldi,
Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Porto Alegre, onde preside o Concílio Regional do Sul,
Joiner, Glória, Wesley, Barra da Ribeira, Paulo de Tarso, Central de Porto Alegre e
Institucional.
César sabia muito bem que, para transformar a Igreja Metodista numa grande igreja, com
unidade de doutrina, prática e organização, era preciso estar presente e capacitar,
especialmente os pastores. Em suas visitas episcopais, ele sempre achou tempo para ensinar
os leigos e pastores a fazer melhor o seu trabalho. Uma das preocupações de César com os
pastores era o cumprimento do item canônico relativo a transferências dos membros para
outras igrejas. Nós tínhamos um formulário que era usado nos casos de transferência. Ele
era picotado e, ao receber uma transferência, o pastor era obrigado a devolver a parte de
baixo do formulário, que era chamada nos Cânones de “acuso”, ao pastor que enviava a
transferência. Ele só podia dar baixa do rol do membro transferido depois de receber o
“acuso”. Os próprios pastores acabavam fiscalizando uns aos outros e essa providência
evitava duplicações de nome, com membros arrolados em duas paróquias. O bispo César
era rigoroso nisto também.
Os tempos do episcopado de César eram difíceis. Éramos uma igreja pobre, muito pobre.
Não se tinha sedes, episcopal ou regionais. No caso de um bispo itinerante como ele, que
seguia bem o lema wesleyano “o mundo é a minha paróquia”, ele estava sempre em
viagens. Por isso, ele era um bispo que pastoreava por cartas. Escritas à mão ou
datilografadas numa velha Smith Corona portátil, ele escrevia muito aos pastores e, em
especial, aos superintendentes episcopais, com os quais era muito exigente.
Na aproximação de um concílio regional, ele fazia uma circular, normalmente
mimeografada, mas algumas vezes até impressa, em tipos pequenos para economizar no
custo de impressão, com dezenas de recomendações, tudo de modo a fazer o concílio fluir
com rapidez e eficiência. Tenho nos meus arquivos a circular de convocação para o último
Concílio Regional do Norte que presidiu, realizado em Juiz de Fora de 8 a 13 de fevereiro
de 1955. Tem quatro páginas, com 23 itens. Para facilitar os trabalhos do concílio e não
deixar faltar nenhuma informação, ele lista tudo o que um pastor precisa levar para a
reunião. Uns dos itens, o no 17, tem a seguinte redação: “Evite e impugne qualquer parecer,
sugestão, manobra, etc., mesmo suposições, cálculos, cochichos, a respeito das nomeações
pastorais. Cultive o espírito da itinerância com a maior nobreza possível”. No item 21,
César diz, com sua autoridade e zelo, quais devem ser as prioridades de uma igreja local:
agora e sempre, hoje e todos os dias, lembre-se de que o mais importante, o mais
necessário, o mais urgente, em cada paróquia, não é o motociclo, alto falante, harmônio,
púlpitos e bancadas renovados, etc., mas RESIDÊNCIA PAROQUIAL e SUSTENTO
PRÓPRIO. Como a questão de ser independente financeiramente é questão de brio para o
indivíduo, deve ser de senso das próprias responsabilidades para cada paróquia.
Por causa dessa preocupação com sustento próprio, uma questão de honra – que era um dos
alvos do Movimento Leigo, na década de 1920 – César escreveria carta a meu pai [8] na
qual dizia o seguinte: “Sem dúvida, Deus tem abençoado a nossa Autonomia. Estou
convencido de que ela, historicamente, foi o passo mais feliz que até agora conseguimos
dar. Resta-nos a proclamação de nossa Independência, pelo menos financeira. Trabalhemos
por consegui-la”. O grande consolidador da Autonomia, ainda não estava satisfeito com
tudo o que já tinha sido conseguido. Só no Concílio Geral de 70/71, na reforma de nossa
Constituição, deixou de existir o Conselho Central, criado pela Constituição de 1930 [9]
(art. VII, Seção 1), e mantido, como art. 22, da Constituição aprovada em 1934, que
vigorou até 1971. Esse Conselho Central foi criado por exigência da Igreja-Mãe e faz parte
da Declaração da Autonomia da Igreja Metodista do Brasil [10].

Notas
[1]
[2]
[3]
[4]

Jeremias 3.21.
Expositor Cristão, vol. 47, nº 5, 8 de fevereiro de 1933.
Idem.
Expositor Cristão, Vol. 49, nº 3, de 24 de janeiro de 1934.
Guaracy Silveira se refere ao Concílio que substituíra a Conferência Central Brasileira,
[5] que abrangia o Estado de São Paulo, passada a chamar, a partir do Concílio Geral de
Porto Alegre, Concílio Regional do Centro.
[6] Expositor Cristão, Vol. 49, nº 23, de 20 de maio de 1934.
[7] Expositor Cristão, Vol. 49-nº 8, de 7 de março de 1934.
Carta de 10/09/1952, ao Rev. Sebastião Dornellas Hastenreiter, pai do autor, em meu
[8]
arquivo pessoal.
[9] Expositor Cristão, Vol. 44, nº 34, de 17 de setembro de 1930.
[10] Idem, ibidem.
-0--------------------------------Fonte:
http://www.metodista.br/ppc/caminhando/caminhando-16/cesar-dacorso-filho-oconsolidador-da-autonomia-do-metodismo-brasileiro
acesso em 03/10/03 – as 1h33

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A igreja em casas atos
A igreja em casas   atosA igreja em casas   atos
A igreja em casas atosmfb_tati
 
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de Oliveira
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de OliveiraManual de Cerimônias - Timóteo Ramos de Oliveira
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de OliveiraAbdias Barreto
 
O presbítero, bispo ou ancião
O presbítero, bispo  ou anciãoO presbítero, bispo  ou ancião
O presbítero, bispo ou anciãoAdenísio dos Reis
 
Curso para obreiros
Curso para obreirosCurso para obreiros
Curso para obreirosCELSO SOARES
 
Boletim dominical Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG 09-06-2013
Boletim dominical  Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG  09-06-2013Boletim dominical  Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG  09-06-2013
Boletim dominical Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG 09-06-2013Afonso Celso de Oliveira
 
Congregação cristã no brasil
Congregação cristã no brasilCongregação cristã no brasil
Congregação cristã no brasilprantoniocarlos
 
Monografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoMonografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoDafianaCarlos
 
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUS
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUSAPOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUS
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUSPASTOR CARLOS SILVA
 
Livro ebook-a-verdadeira-igreja
Livro ebook-a-verdadeira-igrejaLivro ebook-a-verdadeira-igreja
Livro ebook-a-verdadeira-igrejaFelipe Wagner
 
Igreja batista independente betel regimento interno marcos moura
Igreja batista independente betel regimento interno marcos mouraIgreja batista independente betel regimento interno marcos moura
Igreja batista independente betel regimento interno marcos mouraJardiel Priscila Cruz
 
I FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas ComunidadesI FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas Comunidadesidentica
 
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Jair de Barros
 
A igreja curso bíblico para discipulandos
A igreja   curso bíblico para discipulandosA igreja   curso bíblico para discipulandos
A igreja curso bíblico para discipulandosprfavinho
 
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou anciãoNatalino das Neves Neves
 
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)A igreja nas_casas,_powerpoint (1)
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)EliasMoura17
 

Mais procurados (20)

50 annos cap_4
50 annos cap_450 annos cap_4
50 annos cap_4
 
A igreja em casas atos
A igreja em casas   atosA igreja em casas   atos
A igreja em casas atos
 
Monografia j lucas ribeiro
Monografia j lucas ribeiroMonografia j lucas ribeiro
Monografia j lucas ribeiro
 
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de Oliveira
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de OliveiraManual de Cerimônias - Timóteo Ramos de Oliveira
Manual de Cerimônias - Timóteo Ramos de Oliveira
 
O presbítero, bispo ou ancião
O presbítero, bispo  ou anciãoO presbítero, bispo  ou ancião
O presbítero, bispo ou ancião
 
Curso para obreiros
Curso para obreirosCurso para obreiros
Curso para obreiros
 
Boletim dominical Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG 09-06-2013
Boletim dominical  Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG  09-06-2013Boletim dominical  Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG  09-06-2013
Boletim dominical Igreja Presbiteriana Nova Suíça - BH, MG 09-06-2013
 
Congregação cristã no brasil
Congregação cristã no brasilCongregação cristã no brasil
Congregação cristã no brasil
 
Monografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoMonografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religioso
 
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUS
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUSAPOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUS
APOSTILA DO OBREIRO NO SERVIR A DEUS
 
Livro ebook-a-verdadeira-igreja
Livro ebook-a-verdadeira-igrejaLivro ebook-a-verdadeira-igreja
Livro ebook-a-verdadeira-igreja
 
Apostila obreiros
Apostila obreirosApostila obreiros
Apostila obreiros
 
Igreja batista independente betel regimento interno marcos moura
Igreja batista independente betel regimento interno marcos mouraIgreja batista independente betel regimento interno marcos moura
Igreja batista independente betel regimento interno marcos moura
 
I FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas ComunidadesI FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas Comunidades
 
Monografia ESTEADEB
Monografia ESTEADEBMonografia ESTEADEB
Monografia ESTEADEB
 
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
 
Comoreavivaraigreja pg
Comoreavivaraigreja pgComoreavivaraigreja pg
Comoreavivaraigreja pg
 
A igreja curso bíblico para discipulandos
A igreja   curso bíblico para discipulandosA igreja   curso bíblico para discipulandos
A igreja curso bíblico para discipulandos
 
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião
2014 2 tri lição 11 - O presbítero, bispo ou ancião
 
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)A igreja nas_casas,_powerpoint (1)
A igreja nas_casas,_powerpoint (1)
 

Destaque (7)

Aguas residuales
Aguas residualesAguas residuales
Aguas residuales
 
UPDATED CV QUINTON RUDMAN 2016
UPDATED CV QUINTON RUDMAN 2016UPDATED CV QUINTON RUDMAN 2016
UPDATED CV QUINTON RUDMAN 2016
 
Lugn 2013
Lugn 2013Lugn 2013
Lugn 2013
 
Fabulous 4 Balsamiq's
Fabulous 4 Balsamiq'sFabulous 4 Balsamiq's
Fabulous 4 Balsamiq's
 
breve enseñanza sobre el piano
breve enseñanza sobre el pianobreve enseñanza sobre el piano
breve enseñanza sobre el piano
 
Ciber plagio 2
Ciber plagio 2Ciber plagio 2
Ciber plagio 2
 
Dia de muertos
Dia de muertosDia de muertos
Dia de muertos
 

Semelhante a César Dacorso, consolidador da autonomia metodista

Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasile
Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasilePequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasile
Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasilePaulo Dias Nogueira
 
75 anos metodismo_autonomo_brasil
75 anos metodismo_autonomo_brasil75 anos metodismo_autonomo_brasil
75 anos metodismo_autonomo_brasilPaulo Dias Nogueira
 
Um breve histórico do metodismo no brasil
Um breve histórico do metodismo no brasilUm breve histórico do metodismo no brasil
Um breve histórico do metodismo no brasilPaulo Dias Nogueira
 
A missão Cristã no mundo moderno.
A missão Cristã no mundo moderno.A missão Cristã no mundo moderno.
A missão Cristã no mundo moderno.Manoel Prestes
 
Informativo marco 12
Informativo marco 12Informativo marco 12
Informativo marco 12sibat644
 
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo a. kenne...
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo   a. kenne...Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo   a. kenne...
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo a. kenne...Milly Barbosa
 
Seitas e heresias o império das seitas vol 2 - walter mart
Seitas e heresias   o império das seitas vol 2 - walter martSeitas e heresias   o império das seitas vol 2 - walter mart
Seitas e heresias o império das seitas vol 2 - walter martIonara Pereira
 
A história dos batistas
A história dos batistasA história dos batistas
A história dos batistasVerdade Gospel
 
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79Karine Serrano
 
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79Marco Aurélio
 
Liderança missional e igreja missional
Liderança missional e igreja missionalLiderança missional e igreja missional
Liderança missional e igreja missionalArturo Menesses
 
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)Bruno Muniz
 
Expositor Cristão - maio de 2014
Expositor Cristão - maio de 2014Expositor Cristão - maio de 2014
Expositor Cristão - maio de 2014Paulo Dias Nogueira
 
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptx
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptxA importância da Escola Bíblica Dominical.pptx
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptxssuseref4c9d
 

Semelhante a César Dacorso, consolidador da autonomia metodista (20)

Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasile
Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasilePequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasile
Pequena historia da_autonomia_do_metodismo_brasile
 
75 anos metodismo_autonomo_brasil
75 anos metodismo_autonomo_brasil75 anos metodismo_autonomo_brasil
75 anos metodismo_autonomo_brasil
 
Catequese jmc
Catequese jmcCatequese jmc
Catequese jmc
 
Um breve histórico do metodismo no brasil
Um breve histórico do metodismo no brasilUm breve histórico do metodismo no brasil
Um breve histórico do metodismo no brasil
 
A missão Cristã no mundo moderno.
A missão Cristã no mundo moderno.A missão Cristã no mundo moderno.
A missão Cristã no mundo moderno.
 
Os 170 anos_metodismo_brasil
Os 170 anos_metodismo_brasilOs 170 anos_metodismo_brasil
Os 170 anos_metodismo_brasil
 
Informativo marco 12
Informativo marco 12Informativo marco 12
Informativo marco 12
 
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo a. kenne...
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo   a. kenne...Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo   a. kenne...
Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo a. kenne...
 
50 annos cap_1_a_3
50 annos cap_1_a_350 annos cap_1_a_3
50 annos cap_1_a_3
 
Seitas e heresias o império das seitas vol 2 - walter mart
Seitas e heresias   o império das seitas vol 2 - walter martSeitas e heresias   o império das seitas vol 2 - walter mart
Seitas e heresias o império das seitas vol 2 - walter mart
 
A história dos batistas
A história dos batistasA história dos batistas
A história dos batistas
 
Saia do seu lugar
Saia do seu lugarSaia do seu lugar
Saia do seu lugar
 
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A musica-liturgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
 
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
A música-litúrgica-no-brasil-estudo-cnbb-79
 
No mesmo barco
No mesmo barcoNo mesmo barco
No mesmo barco
 
Liderança missional e igreja missional
Liderança missional e igreja missionalLiderança missional e igreja missional
Liderança missional e igreja missional
 
Metodismo literatura e missão
Metodismo    literatura e missãoMetodismo    literatura e missão
Metodismo literatura e missão
 
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)
Nota - Assembleia de Deus (Ministério Madureira)
 
Expositor Cristão - maio de 2014
Expositor Cristão - maio de 2014Expositor Cristão - maio de 2014
Expositor Cristão - maio de 2014
 
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptx
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptxA importância da Escola Bíblica Dominical.pptx
A importância da Escola Bíblica Dominical.pptx
 

Mais de Paulo Dias Nogueira

O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro - O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro - Paulo Dias Nogueira
 
Plano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemploPlano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemploPaulo Dias Nogueira
 
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33 Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33 Paulo Dias Nogueira
 
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40Paulo Dias Nogueira
 
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa CristãLiturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa CristãPaulo Dias Nogueira
 
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjosSERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjosPaulo Dias Nogueira
 
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjosSERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjosPaulo Dias Nogueira
 
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAMPOV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAMPaulo Dias Nogueira
 
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...Paulo Dias Nogueira
 
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão   pedro - um homem em busca de compromissoSermão   pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão pedro - um homem em busca de compromissoPaulo Dias Nogueira
 
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermãoSermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermãoPaulo Dias Nogueira
 
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)Paulo Dias Nogueira
 
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)Paulo Dias Nogueira
 
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexãoSermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexãoPaulo Dias Nogueira
 
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17Paulo Dias Nogueira
 

Mais de Paulo Dias Nogueira (20)

Em Jesus os opostos se atraem
Em Jesus os opostos se atraemEm Jesus os opostos se atraem
Em Jesus os opostos se atraem
 
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro - O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
 
Plano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemploPlano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemplo
 
Boletim Mensageiro - 05 06 2016
Boletim Mensageiro - 05 06 2016Boletim Mensageiro - 05 06 2016
Boletim Mensageiro - 05 06 2016
 
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33 Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
 
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
 
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa CristãLiturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
 
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjosSERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjos
 
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjosSERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
 
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAMPOV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
 
Gaivota 183 encarte
Gaivota 183 encarteGaivota 183 encarte
Gaivota 183 encarte
 
Gaivota 183
Gaivota 183Gaivota 183
Gaivota 183
 
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
 
Apresentação do pov 2015
Apresentação do pov 2015Apresentação do pov 2015
Apresentação do pov 2015
 
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão   pedro - um homem em busca de compromissoSermão   pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
 
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermãoSermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
 
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
 
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
 
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexãoSermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
 
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
 

César Dacorso, consolidador da autonomia metodista

  • 1. César Dacorso Filho, o consolidador da autonomia do metodismo brasileiro João Wesley Dornellas Resumo O autor relata fatos da vida da Igreja Metodista nos primórdios de sua Autonomia e destaca a atuação de César Dacorso Filho no período em que foi bispo, de 1934 a 1955, concluindo que ele foi o consolidador da Autonomia da Igreja Metodista do Brasil. As fontes principais usadas são as páginas do Expositor Cristão. Palavras-chave Autonomia – metodismo – Bispo César. João Wesley Dornellas é ex-professor de História do Metodismo no Seminário Metodista César Dacorso Filho, membro da World Methodist Historical Society, idealizador, membro fundador e primeiro presidente da Seção Brasileira da Sociedade Mundial de História do Metodismo, membro da Ordem do Mérito Metodista como um dos “Metodistas Eméritos do Século 20”, leigo, membro da Igreja Metodista de Vila Isabel no Rio de Janeiro. E-mail: wesley@alternex.com.br À guisa de introdução Este não é, caros leitores, um artigo acadêmico no estilo a que certamente se acostumaram a ler. Eu não tenho nenhuma pretensão de fazer uma análise da instituição do episcopado na Igreja Metodista do Brasil, nem considerações filosóficas sobre o Movimento da Autonomia, ambos muito pouco estudados em nossa Igreja. Nossa Igreja no Brasil nunca teve muito apreço pela história e, assim, muitos documentos, cartas e depoimentos, que seriam de fundamental importância nas comemorações do 75º aniversário da Autonomia, não foram devidamente preservados. Por outro lado, os protagonistas daqueles anos que a
  • 2. antecederam, que lutaram por ela e ajudaram a implantá-la no princípio da década de 1930, já foram chamados ao Lar Celestial. Felizmente, os tempos estão mudando em nossa Igreja e o estudo de sua história, até mesmo para evitar os erros do passado, começa a ser incentivado. Esta edição de Caminhando, com ênfase em diversos aspectos de nossa Autonomia, é um exemplo disto. Pena é que as gerações passadas de metodistas, leigos e pastores, não tiveram a necessária visão, ou os recursos adequados, para preservar informações, que hoje nos fazem muita falta, para podermos analisar de maneira objetiva os fatos importantes de nossa caminhada. A nossa Faculdade de Teologia é possivelmente a única instituição que tem preservado documentos de nossa história e isso deve ser incentivado, especialmente no sentido de todo esse material ser disponibilizado de maneira digital. Temos poucos livros escritos sobre a História do Metodismo no Brasil e eles são fruto muito mais da pertinácia de seus autores do que um serviço objetivo de pesquisa. Porque a Igreja é movida a esperança, precisamos resgatar a nossa memória. É o conselho que nos dá o profeta Jeremias: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. [1] Proponho-me a justificar o título deste artigo através de excertos do que ele escreveu, especialmente por meio do Expositor Cristão, e em cartas que ele dirigiu a meu pai, que foi seu superintendente distrital por muitos anos, nos quais se pode constatar seu grande amor à Igreja Metodista, sua extrema fidelidade a suas doutrinas e práticas históricas, sua preocupação com a unidade da Igreja, sua ênfase na evangelização (apesar de muitas pessoas desinformadas insistirem em dizer que ele foi apenas um administrador e não um evangelista) e, também, suas qualidades de liderança, sem perder nunca sua autoridade que, no entanto, quase sempre, era exercida com humildade, serenidade e mansidão, e, por último, o seu talento organizador. O somatório de todos esses fatores e a doação que César Dacorso Filho fez de sua própria vida em virtude de seu chamado, credenciaram-no a ser, na minha opinião, descontados alguns erros que todos cometem, o maior nome do Metodismo no Brasil. Evocar tudo o que César publicou no Expositor Cristão nos seus 21 anos de episcopado não caberia num simples artigo. Valho-me, portanto, só de materiais publicados em 1934, seu primeiro ano como bispo, que dão um retrato bem nítido do que seria o seu episcopado, já que ele nunca se acomodou em suas atividades. Também me socorro, além de alguns depoimentos publicados sobre ele e de minha experiência pessoal, de trechos de cartas, já quase no final de sua carreira, dirigidas a meu pai, que era seu superintendente distrital no Rio de Janeiro, nas quais ele mostra profunda coerência com o início do seu episcopado. Convivi com César Dacorso Filho desde os dias de minha infância de filho de pastor até seu falecimento, em 1966, e dele sempre recebi um tratamento diferenciado. Acompanhei, portanto, desde menino, muitas daquelas atividades que, depois de sua atividade episcopal, não observei em outros que vieram após ele. Tenho em meu arquivo pessoal uma carta que ele me dirigiu em 28/08/1940, em resposta à carta que lhe enviei duas semanas antes, convidando-o a pregar no culto de gratidão pelo seu sétimo aniversário. Alguns anos depois, em novembro de 1944, então com 11 anos, aproveitei uma visita de fim de semana à nossa casa para pedir-lhe que me recebesse à comunhão da Igreja, porque meu pai não queria fazê-lo para não ter que receber outras crianças da mesma idade que, talvez, ainda não tivessem maturidade para o ato. Ele me sabatinou por quase duas horas, fez perguntas e discutiu questões sobre a Bíblia, a Igreja, doutrinas, práticas e muitas coisas mais. Ao final
  • 3. da conversa, depois de orar, ele prometeu me receber no culto da manhã do dia seguinte, no domingo dia 14. As visitas de César à nossa casa eram freqüentes. Algumas vezes, era lá que ele, sem sedes regionais, sem secretária, sem os confortos modernos como telefone, fax e e-mails, colocava em dia o seu expediente episcopal. Mesmo depois de sua aposentadoria, a amizade com papai continuou intensa e, muitas vezes, ele passava alguns dias em nossa casa. O convívio com ele, com o que ele escrevia, com suas pregações inspiradas, os muitos concílios que o vi presidir com amor, zelo e, também, energia, tudo isto me dá certamente o necessário lastro para escrever este artigo. Finalmente, para terminar esta longa introdução pessoal, preciso dizer que, na casa dos meus pais, que viviam intensamente para a igreja, o dia 2 de setembro, Dia da Autonomia, era muito mais importante do que o próprio dia 7, dia da Independência do Brasil. Nas igrejas que meu pai pastoreou, a Autonomia sempre foi condignamente comemorada. Os anos iniciais da Autonomia – 1930 a 1934 A promulgação de nossa Autonomia, a elaboração de uma Constituição e a eleição do nosso primeiro bispo, cuja escolha recaiu em John William Tarboux, não tiveram o dom de realmente implantá-la e consolidá-la. Por diversos fatores. Um deles, as condições de saúde de Tarboux, eleito quando já estava jubilado e há alguns anos longe do Brasil. Ele tinha sido um dos nossos mais brilhantes pioneiros, ao lado de James L. Kennedy e Hugh C. Tucker, o chamado Trio de Ouro, justamente os três membros da Conferência de 1886, presidida pelo bispo J. C. Granbery, que transformou a missão em Igreja Metodista Episcopal do Sul, nome de nossa igreja até a Autonomia. A igreja brasileira manifestou, nas conferências gerais de 1927 e 1929, as intenções de fazê-lo bispo da igreja autônoma. Chegou a pedir à Igreja Mãe que o elegesse e o nomeasse, em tempo integral, para o Brasil. É claro que não havia nenhuma obrigatoriedade de elegê-lo, mas ele, apesar de residir nos Estados Unidos, foi eleito, viajou para o Brasil e foi consagrado pouco mais de um mês depois, em 12 de outubro, na igreja do Catete. Através das páginas do “Expositor Cristão”, que naquela época era quase que a única fonte de informação para a Igreja, pode-se sentir a alegria dos metodistas pela escolha de Tarboux, mas era evidente que carecíamos, para que a Autonomia fosse devidamente implantada, de um bispo mais jovem e, se possível, brasileiro. Um dos fatores negativos era a precária saúde de Tarboux. Ele passava no Brasil só 5 a 6 meses por ano. Com tanta coisa a ser feita, esse tempo era certamente insuficiente. As viagens de navio eram muito demoradas e quase que só havia comunicação epistolar.
  • 4. Em artigo sobre o episcopado, publicado no Expositor Cristão [2], muito possivelmente escrito por Guaracy Silveira, que era o redator chefe do jornal e não tinha hábito de assinar suas matérias, ele comentou o trabalho de Tarboux como bispo: ... chamado em sua velhice para o cargo de tão grande responsabilidade, fez tudo quanto era lícito esperar dele, e muito acima do que poderíamos esperar, e ninguém duvida que ele foi o homem que Deus nos deparou para as notáveis realizações do Metodismo nestes três anos de sua vida autônoma. Além da saúde de Tarboux e do pouco tempo passado no Brasil, havia outros problemas que impediam que Autonomia fosse consolidada imediatamente. Não havia Cânones e nem uma organização apropriada à vida autônoma, assim sendo, adotaram a Disciplina da Igreja dos Estados Unidos de 1922, imprópria para o Brasil. Voltando ao texto presumido de Guaracy Silveira [3], nós encontramos elogios a Tarboux, mas uma grande preocupação com o futuro: Mas é preciso notar que, se houvermos de escolher um homem para o futuro, não é mais para fazer o trabalho que coube ao bispo Tarboux, que só ele podia fazer e que ele já fez: há o trabalho de consolidação das igrejas, os planos de evangelização, os institutos ministeriais, a coordenação das forças, as possibilidades financeiras, a acomodação do ministério dentro dessas possibilidades e a escolha rigorosa de cada homem para seu verdadeiro lugar, como dizem os ingleses. César Dacorso Filho foi o homem certo para a tarefa e ele planejava não ir ao Concílio Geral de Porto Alegre, que o elegeu. Um dos que tentaram convencê-lo a ir foi Guaracy Silveira, conforme é mencionado no Expositor Cristão [4], em depoimento sobre o novo bispo, no qual declara: a eleição do novo bispo veio encher de alegria a todos que o conhecem. Moço humilde, de grande cultura, enérgico e capaz de resolver com prudência todas as dificuldades que surjam nos concílios e nos pastorados, sempre fiel e todas s obrigações dos cargos que tem ocupado, ele será nestes seis anos um fator de paz e desenvolvimento da Igreja. Continuando o seu depoimento, Guaracy relata que, antes do Concílio Geral, lhe escrevera uma carta informando que um grupo do Concílio Central [5] escolhia o seu nome para bispo, tendo César respondido, em carta de quatro laudas, expondo os motivos que tinha para fugir à investidura. Guaracy completa: “motivos justos aos seus olhos, mas que aos nossos não impediam que o escolhêssemos. Homens assim, que fogem às honras, são os únicos capazes de cumprir os deveres que lhe são confiados”. O início do episcopado de César
  • 5. Relatarei, mais à frente, sua intensa agenda de trabalho para aquele ano de 1934. Gostaria, no entanto, de transcrever, antes, trechos de uma comunicação que fez no Expositor Cristão [6] especialmente aos pastores. Como se fosse um testemunho de que ele não exigia deles nem um pouco mais do exigia de si mesmo, ele fala do seu pastorado em Carangola, na Zona da Mata de Minas Gerais, para onde fora nomeado por Tarboux, depois de ter sido pastor de Belo Horizonte e Juiz de Fora: Eu percorria território de cerca de 20 léguas de extensão, muitas vezes a cavalo e não raro a pé, visitava nada menos de onze cidades e povoados (Carangola, Faria Lemos, Caiana, Santa Rita de Cássia, Santa Clara, Tapera, São José da Pedra Dourada, Alvorada, São Francisco do Glória, Divino do Carangola e Espera Feliz) e ainda pregava em mais de 23 lugares (Cacau, Córrego das Pedras, Cafarnaum, Boa Fé, Serra, Serra Queimada, Ponte Branca, Água Espalhada, Arrependidos, Córrego do Ouro, Taquara Branca, Bom Jardim, Andes, Bonsucesso, Floresta, Boa Vista, São João do Norte, Frossard, Córrego do Camilão, Santa Cruz, Chico Dentistaa, Varginha, Ernestina e Laginha), sendo ao mesmo tempo superintendente do distrito mais difícil e penoso de toda a igreja. Ao falar do trabalho com membros isolados em pequenas aldeias, César diz que “somos nós, os pastores, por nossas visitas, os vínculos que ligam os membros de uma paróquia num só corpo e nela os consolidamos”. Ele continua, enfático: ... nossa preocupação principal, nosso dever iniludível, nossa responsabilidade indesculpável, é viajar, visitando todos os nossos paroquianos, morem onde morarem dentro dos nossos territórios, e pregando onde for possível. Somos pastores para cuidar das ovelhas que nos foram confiadas. Somos ministros para ministrar à igreja e quantos a compõem ou dela se aproximam. Se desse modo não desejamos cumprir a nossa missão – se andarmos à cata de conveniências e comodidades pessoais, se queremos viajar de quando em quando e não sempre, se procurarmos visitar apenas os crentes de acesso mais fácil e não os de mais difícil – é melhor que peçamos disponibilidade e mesmo que desistamos do ministério. Venham outros para fazer o trabalho que não pretendemos fazer ou que pretendermos fazer mal. Oxalá se comece a fazer já o nosso exame de administração, nos concílios regionais, rigorosamente por esse prisma. Finalizando essa pastoral, faz o apelo no seu estilo inconfundível: Nossos dias, nossas horas, nossos minutos são poucos para o desempenho de nossas obrigações. Não procuremos, pois, coisa alguma que nos venha distrair do nosso trabalho. Nada de ocupações estranhas, ao ministério e ao pastorado – de curandeirismos, de rabulismos, de professorismos, de negocismos, de ismos de qualquer espécie. Nada de inovações nas congregações, que nos venham tomar tempo. Já temos as juntas, as sociedades, as comissões, as escolas dominicais, instituições oficiais que podem providenciar para todas as necessidades dos crentes e que, bem orientadas por nós e entregues aos leigos, pouco tempo nos consomem. Seja todo o vosso tempo para viajar, visitando e pregando. O espaço não dá para relatarmos tudo o que César fez para consolidar a nossa Autonomia. Vamos, porém, mencionar a lista de igrejas que ele visitou no ano de 1934, para dar uma
  • 6. vaga idéia do seu trabalho pessoal. Não eram visitas simples, em que recebia honras e homenagens, mas viagens de serviço, com análise dos livros, da escrituração, da visita a pontos estratégicos, com reuniões com oficiais da igreja, visitas a autoridades das cidades e muita coisa mais, como se pode ver, através do Expositor Cristão, na seção quase permanente, “Superintendência Episcopal”, na qual relatava os seus passos através de todo o Brasil metodista de então. Mal chegou do Concílio Geral de Porto Alegre, onde fora eleito bispo em 13 de janeiro, em viagem de navio na qual deve ter trabalhado muito para elaborar os seus planos de trabalho, efetuou sua mudança para Juiz de Fora e saiu ao campo. Relata o seu princípio no Expositor Cristão [7]. Começou com visita a Petrópolis, dias 15 e 16 de fevereiro de 1934, no dia 18, pela manhã esteve em Vila Isabel, à noite no Catete, no dia 29 reuniu-se com pastores, missionários e oficiais das igrejas e, à noite, esteve na igreja de Cascadura, onde pregou sobre evangelização. Na reunião com os pastores, na sede da Sociedade Bíblica Americana, César diz o que fez na reunião: “Ventilei-lhes as nossas grandes necessidades: organizar, evangelizar e estabelecer bem depressa o sustento próprio. Apontei-lhes alguns caminhos que temos para esses três fins”. No dia seguinte, dia 20 de Fevereiro, falou à igreja de Juiz de Fora, onde tinha sido pastor. Na manhã seguinte, “reunião com um grupo de ministros e leigos para passar por instantes de oração e lhes falar sobre evangelização, Missões Nacionais, etc.”. Já em março, esteve em São Paulo, Marília e Porto Alegre. No mês de abril de 1934, dirigiu concílio distrital no Rio de Janeiro, aproveitando para pregar, no dia 8, em São João e São João de Meriti. No dia seguinte, já estava em Pindamonhangaba, seguindo, depois, para Taubaté, São Paulo, igreja Central, Ipiranga, Mooca, Luz e Brás. Logo depois, está em Marília, Lins, Promissão (paróquia de Promissão e Guaiçara), Penápolis, Birigui, Guarantã, Pirajui, Presidente Alves, Bauru, Porto União e, já em junho, Jacarezinho (sede do circuito paranaense), Cambará (“igreja que fornece recursos para a organização e manutenção da paróquia de Londrina”, Londrina (onde pregou num cinema e deram o primeiro passo 60 candidatos”), Ourinhos, Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Cândido Mota (que César destaca dizendo que “essa paróquia deve ser a maior do Brasil em número de pontos de pregação, 29, distanciados um dos outros até 60 km”), Avaré e, já no Rio de Janeiro, depois de uma reunião da Junta Geral de Missões em São Paulo, no dia 16, Realengo e Cascadura. Junho não foi diferente. Esteve em Belo Horizonte, para concílio distrital, onde pregou três vezes, esteve na Congregação do Cálix Comum, na Igreja da Praça, nas capelas de Vila Concórdia e de Carlos Prates, em Ouro Preto, em Congonhas, Lafaiete, em Anta e no Rio de Janeiro, onde esteve presente num Congresso de Mulheres. Em ouro Preto, ele narra que, no dia 14, no teatro Municipal da cidade, fez conferência sobre “A natureza da salvação que o cristianismo oferece”. E continua a viajar para consolidar a Autonomia: Catete, Niterói, Inhoaíba e Orfanato Ana Gonzaga, Jardim Botânico, Imprensa Metodista, Brás, Vila Isabel, Petrópolis, Fagundes, Juiz de Fora, Barra Mansa, Tucuruvi, São Paulo Central, Santos e, indo para o Sul, Porto União, Rosário, Santana do Livramento, Uruguaiana, São Borja, Santa Maria (cidade onde nasceu), Cachoeira, Rio Pardo, Montenegro, Garibaldi, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Porto Alegre, onde preside o Concílio Regional do Sul, Joiner, Glória, Wesley, Barra da Ribeira, Paulo de Tarso, Central de Porto Alegre e Institucional.
  • 7. César sabia muito bem que, para transformar a Igreja Metodista numa grande igreja, com unidade de doutrina, prática e organização, era preciso estar presente e capacitar, especialmente os pastores. Em suas visitas episcopais, ele sempre achou tempo para ensinar os leigos e pastores a fazer melhor o seu trabalho. Uma das preocupações de César com os pastores era o cumprimento do item canônico relativo a transferências dos membros para outras igrejas. Nós tínhamos um formulário que era usado nos casos de transferência. Ele era picotado e, ao receber uma transferência, o pastor era obrigado a devolver a parte de baixo do formulário, que era chamada nos Cânones de “acuso”, ao pastor que enviava a transferência. Ele só podia dar baixa do rol do membro transferido depois de receber o “acuso”. Os próprios pastores acabavam fiscalizando uns aos outros e essa providência evitava duplicações de nome, com membros arrolados em duas paróquias. O bispo César era rigoroso nisto também. Os tempos do episcopado de César eram difíceis. Éramos uma igreja pobre, muito pobre. Não se tinha sedes, episcopal ou regionais. No caso de um bispo itinerante como ele, que seguia bem o lema wesleyano “o mundo é a minha paróquia”, ele estava sempre em viagens. Por isso, ele era um bispo que pastoreava por cartas. Escritas à mão ou datilografadas numa velha Smith Corona portátil, ele escrevia muito aos pastores e, em especial, aos superintendentes episcopais, com os quais era muito exigente. Na aproximação de um concílio regional, ele fazia uma circular, normalmente mimeografada, mas algumas vezes até impressa, em tipos pequenos para economizar no custo de impressão, com dezenas de recomendações, tudo de modo a fazer o concílio fluir com rapidez e eficiência. Tenho nos meus arquivos a circular de convocação para o último Concílio Regional do Norte que presidiu, realizado em Juiz de Fora de 8 a 13 de fevereiro de 1955. Tem quatro páginas, com 23 itens. Para facilitar os trabalhos do concílio e não deixar faltar nenhuma informação, ele lista tudo o que um pastor precisa levar para a reunião. Uns dos itens, o no 17, tem a seguinte redação: “Evite e impugne qualquer parecer, sugestão, manobra, etc., mesmo suposições, cálculos, cochichos, a respeito das nomeações pastorais. Cultive o espírito da itinerância com a maior nobreza possível”. No item 21, César diz, com sua autoridade e zelo, quais devem ser as prioridades de uma igreja local: agora e sempre, hoje e todos os dias, lembre-se de que o mais importante, o mais necessário, o mais urgente, em cada paróquia, não é o motociclo, alto falante, harmônio, púlpitos e bancadas renovados, etc., mas RESIDÊNCIA PAROQUIAL e SUSTENTO PRÓPRIO. Como a questão de ser independente financeiramente é questão de brio para o indivíduo, deve ser de senso das próprias responsabilidades para cada paróquia. Por causa dessa preocupação com sustento próprio, uma questão de honra – que era um dos alvos do Movimento Leigo, na década de 1920 – César escreveria carta a meu pai [8] na qual dizia o seguinte: “Sem dúvida, Deus tem abençoado a nossa Autonomia. Estou convencido de que ela, historicamente, foi o passo mais feliz que até agora conseguimos dar. Resta-nos a proclamação de nossa Independência, pelo menos financeira. Trabalhemos por consegui-la”. O grande consolidador da Autonomia, ainda não estava satisfeito com tudo o que já tinha sido conseguido. Só no Concílio Geral de 70/71, na reforma de nossa Constituição, deixou de existir o Conselho Central, criado pela Constituição de 1930 [9] (art. VII, Seção 1), e mantido, como art. 22, da Constituição aprovada em 1934, que
  • 8. vigorou até 1971. Esse Conselho Central foi criado por exigência da Igreja-Mãe e faz parte da Declaração da Autonomia da Igreja Metodista do Brasil [10]. Notas [1] [2] [3] [4] Jeremias 3.21. Expositor Cristão, vol. 47, nº 5, 8 de fevereiro de 1933. Idem. Expositor Cristão, Vol. 49, nº 3, de 24 de janeiro de 1934. Guaracy Silveira se refere ao Concílio que substituíra a Conferência Central Brasileira, [5] que abrangia o Estado de São Paulo, passada a chamar, a partir do Concílio Geral de Porto Alegre, Concílio Regional do Centro. [6] Expositor Cristão, Vol. 49, nº 23, de 20 de maio de 1934. [7] Expositor Cristão, Vol. 49-nº 8, de 7 de março de 1934. Carta de 10/09/1952, ao Rev. Sebastião Dornellas Hastenreiter, pai do autor, em meu [8] arquivo pessoal. [9] Expositor Cristão, Vol. 44, nº 34, de 17 de setembro de 1930. [10] Idem, ibidem. -0--------------------------------Fonte: http://www.metodista.br/ppc/caminhando/caminhando-16/cesar-dacorso-filho-oconsolidador-da-autonomia-do-metodismo-brasileiro acesso em 03/10/03 – as 1h33