1. Ano Lectivo 2008/2009
ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIO
Educação e Formação de Adultos
Cidadania e Profissionalidade/Cultura, Línguas e Comunicação
RECURSOS
2. Ano Lectivo 2008/2009
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Cidadania e Profissionalidade/Cultura, Línguas e Comunicação
TEXTO 1
– Ah, antão és o tal!... Binhestes co
Quem és tu, pás? ela inté cá, num foi?
– Quem és tu pás? Quem te deu – Vim, respondi, desistindo de corrigir
orde d’ d
d d’andares pelas minhas terras?
l i h ? aquele ignorante
ignorante.
E eu: – De agora em diante venho sempre
– Estas terras são tuas? com ela.
E ele: – Da cidade?
– São do meu padrinho, dá no – Si
Sim
mesmo. – E acrescentou com E ele:
desdém: – Tens uns sapatos – Tens a pele tão branquinha...
jeitosos, pás, mas aposto que nunca – É da higiene – expliquei. – Devemos
bistes interrar um morto. ser higiénicos. Na cidade lavamo‐nos
Achei que devia corrigir: todos os dias.
– Diz‐se viste e não bistes; e não é E ele:
interrar,
interrar é ... – A auga tira força à gente. Assim
g ç g
E ele: branquinho, pás, inté pareces um
– Cuidas qu’és a sinhora professora, morto. É de te labares todos os dias.
pás? Ficas sem força ninhuma. Eu tenho
E eu: força,
força posso mais ca ti Bamos a uma
ti.
– Mas sou sobrinho dela. bulha, a ber quem pode mais?
Isto impressionou‐o.
Altino Tojal, Os Putos
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TEXTO 2
A Fisga
Trago a fisga no bolso de trás
Trago a fisga no bolso de trás Eu até nem sequer sou mau rapaz
Eu até nem sequer sou mau rapaz
E na pasta o caderno dos deveres Com maneiras até sou bem mandado
Mestre‐escola, eu sei lá se sou capaz Mestre‐escola diga lá se for capaz
De escolher o melhor dos dois saberes P´ra que lado é que me viro. P´ra que lado?
Meu pai diz que o Sol é que nos faz
Minha mãe manda‐me ler a lição Trago a fisga no bolso de trás
Mestre‐escola, eu sei lá se sou capaz E na pasta o caderno dos deveres
Faz‐me falta ouvir outra opinião Mestre‐escola, eu sei lá se sou capaz
De escolher o melhor dos dois saberes
Rio Grande, A Fisga (por João Monge)
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TEXTO 3
Pais maus ‐ Enquanto os outros miúdos comiam doces ao pequeno‐almoço, nós
Ontem, através do meu filho mais novo, veio parar‐me às mãos um texto tínhamos que comer cereais, tostas e ovos.
distribuído às i
di t ib íd à crianças d ATL que ele f
do l frequenta. C f
t Confesso que costumo l
t ler ‐ Os outros miúdos bebiam Pepsis ao almoço e comiam batatas fritas
fritas,
os diversos papéis que me mandam das diversas escolas dos meus filhos, na enquanto nós tínhamos que comer sopa, prato e fruta. E, não vão
diagonal, mas, curiosamente, a este, li‐o de fio a pavio. acreditar!, os nossos pais obrigavam‐nos a jantar à mesa, o que era
Como não vinha assinado, não tenho maneira de pedir autorização ao autor bem diferente dos outros pais.
para o publicar, mas parece‐me que o que importa a quem o escreveu é ‐ Os nossos pais insistiam em saber onde nós estávamos a todas as
que chegue ao maior número de pais possível. horas, era quase uma prisão. Tinham que saber quem eram os nossos
Vale
V l a pena lê l
lê‐lo. amigos e o que fazíamos com eles
eles.
Deus abençoe os pais maus! Um dia, quando os meus filhos forem crescidos ‐ Insistiam em que lhes disséssemos que íamos sair mesmo que
o suficiente para entenderem a lógica que motiva um pai, eu hei‐de dizer‐ demorássemos só uma hora, ou menos.
lhes: ‐ Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles violaram uma data de
‐ Amei‐vos o suficiente para ter insistido para que juntassem o vosso leis do trabalho infantil: nós tínhamos que fazer as camas, lavar a
dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidades loiça, aprender a cozinhar, aspirar o chão, engomar a nossa roupa, ir
de a comprar. despejar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis Eu acho que eles
cruéis.
nem dormiam, a pensar em mais coisas para nos mandar fazer.
‐ Amei‐vos o suficiente para ter ficado em pé junto de vós, duas horas,
enquanto limpavam o vosso quarto – trabalho que eu teria realizado em ‐ Eles insistiam connosco para lhes dizermos a verdade, e apenas
quinze minutos. toda a verdade, sempre a verdade.
‐ Amei‐vos o suficiente para vos obrigar a pagar a pastilha que "tiraram" da ‐ Na altura da nossa adolescência eles conseguiam ler os nossos
mercearia e dizer ao dono: eu roubei isto ontem e hoje queria pagar.
j q p g pensamentos o que tornava a vida mesmo chata.
‐ Amei‐vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar ‐ O nossos pais não d i
Os i ã deixavam os nossos amigos b i
i buzinarem para nós
ó
descobrir que o vosso novo amigo não era boa companhia. descermos. Tinham que subir, bater à porta para eles os conhecerem.
‐ Amei‐vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das ‐ Enquanto toda a gente podia sair com doze ou treze anos, nós
vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me tivemos que esperar pelos dezasseis.
partiam o coração. ‐ Por causa dos nossos pais, nós perdemos experiências
‐ Amei‐vos o suficiente para vos ter perguntado: onde vão com quem vão e
Amei vos vão, fundamentais da adolescência: nenhum de nós esteve alguma vez
a que horas regressam a casa. envolvido em actos de vandalismo, em roubos, violação de
propriedade, nem foi preso por algum crime.
‐ Amei‐vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e
lágrimas nos meus olhos. Foi tudo por causa deles.
‐ Mas, acima de tudo, eu amei‐vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando Agora que já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados,
sabia que me iriam odiar por isso. estamos a fazer o nosso melhor para sermos "maus pais" tal como os
nossos pais o foram.
p
Estou
E t contente. V i porque no fi l vocês t bé venceram. E qualquer
t t Venci, final ê também l
dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há
entenderem a lógica que motiva os pais, vocês irão dizer‐lhes, quando eles suficientes maus pais.
vos perguntarem, se os vossos pais eram maus, que sim, que eram os Mafalda Belmonte
piores pais do mundo! porque:
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TEXTO 4 sisudos e socegados, evitando a companhia dos
travessos, que mais cedo ou mais tarde nos
travessos que mais cedo ou mais tarde nos
Comportamento escolar fazem cahirna desobediencia.
Seja deante de quem for, devemos
“O filho obediente faz em tudo a vontade a proceder de modo que mostremos a nossa boa
seus paes, e, se o mandam á escola, deve‐se educação, e fazendo de conta que estão
applicar, que a utilidade é sua. presentes os nossos paes.
Porque sem instrucção a gente é como os Nunca se recorre á força, salvo em defeza
animaes. do mais fraco.
Só ella nos ensina a desempenhar bem as Devemos respeitar os mestres e receber
nossas obrigações, e augmenta os nossos humildemente os seus preceitos; porque elles
recursos e o nosso préstimo, alumiando o nosso foram escolhidos para nos guiar, e estão em logar
espírito.
espírito de nossos paes.
de nossos paes.
Não deve ter vaidade, que se torna odioso;
A instrucção é tão necessaria como o Se ás vezes se mostram severos, é desvélo
nem fazer zombaria dos que aprendem menos,
sustento: advertindo que do sustento os mesmos pelo nosso aproveitamento, o que devemos
porque talvez não seja descuido, e sim falta de
animaes precisam. agradecer e não levar a mal.
entendimento, o que não é culpa de cada um.
O que nos distingue dos animaes é Nunca os devemos censurar; e, quando á
A intelligencia é um dom de Deus; está da
principalmente a instrucção. nossa vista são accusados, temos obrigação de os
nossa parte aproveitá‐la; e p
p p ; por isso devemos ter
E
E como se há d comportar quem t
há‐de t tem a defender, como bons filhos ou bons amigos.
defender como bons filhos ou bons amigos
emulação2, empenhando‐nos em conseguir tanto
felicidade de ser mandado á escola por seus Aquelle que proceder assim, é estimado de
ou mais que outro qualquer: mas, se apesar das
paes? todos, e a alegria e honra de seus paes.”
nossas diligencias o não pudermos egualar, não
Indo pelo caminho que lhe marcam, sem se _________
devemos ficar sendo invejosos, e sim 1 2
apartar nem distrahir; chegando a horas, Moderado. – Sentimento que nos leva a imitar ou a
admiradores da sua capacidade3 ou applicação. 3
exceder alguem. – Aptidão para o saber; intelligencia,
entrando socegado; tomando o seu logar com o
Os mestres são os paes da instrucção, e os
Os mestres são os paes da instrucção e os 4
talento. – A d l
l Agradavelmente.” ”
menor incómodo possível dos companheiros;
discípulos entre si devem‐se amar como irmãos.
prestando muita attenção ao mestre; não se
Um alumno bem educado não conta as
rindo, não conversando, não gracejando, e quer
faltas dos companheiros, nem as reprehensões e João de Deus in Leituras Escolares, colligidas e
seja observado, quer não, conservando‐se annotadas, para uso dos alumnos do 7º Grau do
castigos que levam na escola; assim como
sempre com a devida seriedade. Ensino Elementar, por Arlindo Varella e J.M. Silva
também não vae á escola contar o que fizeram cá
Um discípulo deve ser comedido1 e
Um discípulo deve ser e Barreto, Professores das escolas centraes de Lisboa
Barreto Professores das escolas centraes de Lisboa,
fora; não accusa nem compromette os mais.
modesto, sem ser acanhado: quando não 10ª Edição, Muito Melhorada. Lisboa: Tipographia
Quando é permittido conversar, fala‐se
entende alguma coisa, pede licença para Mattos Moreira & Pinheiro, 1897, pp. 3‐5.
com todos affavelmente4; mas para nossos
perguntar, e o mestre explica.
amigos particulares devemos escolher os mais
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TEXTO 5
Mais duas mulheres assassinadas pelos ex‐companheiros
Agente da PSP mata a tiro em Santarém. Brasileiro esfaqueou em Azeitão.
Vítimas mortais são, até agora, 33, mais quatro do que em todo o ano passado.
de trabalho e, principalmente, a nível pessoal", adiantou uma fonte
São já 33 as mulheres assassinadas, desde o início do ano, pelos maridos,
j , , p , contactada pelo PÚBLICO, lembrando que a violência envolvendo o casal já
namorados ou ex‐companheiros. Na sexta‐feira, em Azeitão, foi morta uma jovem vinha ocorrendo há algum t
i h d l tempo.
brasileira. Ontem de manhã, no Vale de Santarém, um agente da PSP baleou a O agente foi detido pela GNR pouco depois de ter morto a ex‐companheira
mulher que o trocara por outro homem. e não terá oferecido qualquer resistência. Ontem à tarde estava a ser
Dados do Observatório das Mulheres assassinadas revelam que só nos primeiros interrogado no Tribunal de Instrução Criminal de Santarém,
oito meses deste ano se registaram 31 vítimas, contra as 27 mortas no mesmo desconhecendo‐se qual a medida de coacção que lhe foi imposta.
período do ano passado. Na sexta‐feira, num pronto‐a‐comer em Azeitão, um brasileiro matou à
O agente da PSP que ontem de manhã no Vale de Santarém matou a tiro a ex
PSP, manhã, Santarém, ex‐ facada a antiga companheira, de 30 anos. Depois de a golpear, o homem
companheira no interior de uma escola para crianças com deficiência mental, tentou suicidar‐se, desfechando uma facada no abdómen. Foi transportado
estava a ser alvo de um inquérito a correr em tribunal depois de, há cerca de um para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde foi operado.
mês, lhe ter sido retirada a arma. Antes, ao encontrar a mulher que agora matou, José Bento Amaro in Público, 30.09.2008, p. 9.
com um suposto amante, terá efectuado ameaças de morte a ambos.
A morte da jovem ocorreu ontem de manhã, pelas 8h, dentro das instalações da TEXTO 6
Associação Portuguesa de Pais e Amigos dos Cidadãos com Deficiência Mental
(APPACDM). No
(APPACDM) N momento em que o agente, d 33 anos, di
de disparou d
duas vezes Mulher está detida na Polícia Judiciária
contra a ex‐companheira, esta estaria unicamente acompanhada do filho de Uma agente principal da Polícia de Segurança Pública (PSP), que prestava
ambos, um rapaz com sete anos. serviço na Segunda Divisão de Lisboa, nos Olivais, matou ontem o marido
Os disparos foram escutados por um condutor da APPACDM que chegava ao local e com quatro tiros de pistola.
que, momentos depois, viu sair do local o polícia (trabalhava no Comando de O crime ocorreu em Sacavém, onde o casal residia, e terá ficado a dever‐se
Lisboa) com o filho por uma mão e uma arma na outra. a desavenças conjugais.
O PÚBLICO apurou que a arma era propriedade de um colega do agente agora A agente, com cerca de 20 anos de serviço na PSP, entregou‐se logo após os
g , ç , g g p
detido. Segundo fontes conhecedoras do processo, o polícia terá retirado a arma disparos à polícia de Sacavém, tendo depois sido transferida para a Polícia
do cacifo de um companheiro. A sua pistola fora‐lhe retirada um mês antes Judiciária, onde se encontra detida preventivamente para ser ouvida por um
quando, numa casa de Santarém, encontrou a antiga companheira com um juiz de instrução criminal.
suposto namorado. Na sequência de ameaças mútuas, os três implicados acabaram O homem morto era reformado da Direcção‐Geral dos Serviços Prisionais.
por apresentar diversas participações no Tribunal de Santarém que, por precaução, Embora não fossem revelados mais detalhes sobre o crime, havia suspeitas
viria a determinar que o agente policial entregasse a arma. que a arma usada pela agente era de serviço.
Alguns companheiros do agente agora detido disseram que o mesmo andava Este
E t é o primeiro caso este ano d violência conjugal em que uma mulher
i i t de i lê i j l lh
"muito transtornado" com o fim da relação e que nunca terá reagido bem ao facto mata o marido. Este ano já foram mortas 33 mulheres pelos seus maridos,
de esta, supostamente, ter outro homem. "A situação estava a degradar‐se a nível companheiros ou namorados em casos de violência conjugal.
José Bento Amaro in Público, 30.09.2008, p. 9.
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Cidadania e Profissionalidade/Cultura, Línguas e Comunicação
TEXTO 7
Violência doméstica
Violência doméstica
Nos i i
N primeiros quatro meses d t ano, 28 mulheres f
t deste lh foram vítimas d t t ti d h i ídi d
íti de tentativa de homicídio, dezassete morreram e onze estão
t tã
em estado grave. É com este pano de fundo que o Bastonário da Ordem dos Advogados defendeu que a violência doméstica
não deve ser crime público, provocando a indignação de associações, nomeadamente da APAV. Não ser crime público
significava que a vítima podia desistir da queixa contra o agressor durante o processo. Ora, sabendo que as vítimas de violência
doméstica são na sua grande maioria mulheres, se esta sugestão fosse aceite, esta seria uma alteração que as desprotegeria
ainda mais, dando‐lhes mais uma possibilidade de consentir um acto infame. Se existem limites na vida, este é um deles.
Ninguém é livre ao ponto de escolher ser maltratado, abusado e violentado por ninguém, nem pelo cônjuge. As vítimas de
violência doméstica, impotentes face a um agressor que misteriosamente amam, são vulneráveis e frágeis. São vítimas reais e,
como tal, devem ser protegidas e bem tratadas, não encorajadas a renunciar de uma decisão já de si tomada com dificuldade.
O que leva estas mulheres a não denunciar os maridos? O ditado "entre marido e mulher não metas a colher" ainda é
entre colher
respeitado em Portugal? A violência doméstica deve continuar a ser um crime público?
Carla Hilário Quevedo, Rádio Blog, 18 de Maio de 2008 in http://jazza‐memuito.blogs.sapo.pt/238766.html