- O Sermão de Santo António aos Peixes critica a exploração dos índios no Maranhão através de uma alegoria em que António Vieira prega aos peixes, louvando suas virtudes e criticando os defeitos dos homens.
- A estrutura inclui a exaltação das virtudes dos peixes, a crítica dos defeitos genéricos e específicos associados aos pecados humanos, e um apelo final para mudança.
- O sermão é uma sátira bela e audaciosa que
2. Interações – 11.º Ano
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António Vieira, o
“imperador da língua
portuguesa”
(Fernando Pessoa)
3. Interações – 11.º Ano
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O Sermão de Santo António
aos Peixes parte da lenda
medieval segundo a qual o
santo, numa das suas
pregações em que não
consegue ser ouvido pelos
homens, lança a sua palavra
aos peixes, na praia deserta,
que levantam a cabeça à
superfície das águas como
sinal da força da sua palavra.
4. O sermão desenvolve-se
como uma alegoria: também
o Padre António Vieira se
dirige aos peixes,
pretendendo, nas suas
considerações, atingir os
homens.
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5. Interações – 11.º Ano
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Pronunciado em São Luís do
Maranhão, Brasil, no dia 13
de junho de 1654, em louvor
de Santo António.
Pretende levar os colonos à
reflexão sobre a exploração
desumana que exerciam
sobre os ameríndios, sem ter
em conta a lei que lhes
regulava as liberdades e as
restrições.
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“As injustiças e tiranias que se têm executado nos
naturais desta terra (os índios) excedem em muito às
que se fizeram em África. Em espaço de quarenta anos
mataram-se e destruíram-se por esta costa e sertões
mais de dois milhões de índios e mais de quinhentas
povoações como grandes cidades, e disto nunca se viu
castigo”.
Excerto de carta ao rei D. Afonso VI, 1657
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“Se as letras do abecedário se repartissem pelos
estados de Portugal, que letra tocaria ao nosso
Maranhão? Não há dúvida que o M.
M de Maranhão, M de murmurar [lançar rumores,
boatos], M de motejar [no sentido de «gracejar»], M de
maldizer, M de malsinar, de mexericar e, sobretudo, M
de mentir: mentir com as palavras, mentir com as
obras, mentir com os pensamentos, que de todos e por
todos os modos aqui se mente”.
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
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Por mais conselhos,
propostas e
recomendações que
fizesse, Vieira sentia
que nada de relevante
se alterava no estatuto
real dos índios.
9. • Imita Santo António e fala aos peixes,
louvando-lhes as virtudes e criticando-lhes
os defeitos.
• Sendo os homens piores que os peixes,
sobretudo os do Maranhão, pátria em que
todos os defeitos e pecados humanos se
elevam ao mais alto grau.
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Sermão - definição
• Discurso argumentativo que privilegia a 2ª pessoa,
pois tem por fim persuadir e garantir a adesão do
público.
• Obedece à seguinte estrutura interna: exórdio,
narração, confirmação, epílogo ou peroração.
11. • O exórdio e a peroração fazem apelo aos
sentimentos do auditório, apresentando o assunto e
as conclusões.
• As partes intermédias ocupam-se da exposição
dos factos e respetiva argumentação.
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Estrutura
Exórdio
• Exposição do tema – A partir do versículo de S.
Mateus “Vós sois o sal da terra”, referente aos
pregadores, cuja função é “salgar”, ou seja, ditar a
boa doutrina, verificando que a Terra se “não deixa
salgar”, porque está corrupta, Vieira vai pregar aos
peixes, à maneira de Sto. António.
13. Interações – 11.º Ano
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Narração (II, III, IV, V):
• Virtudes genéricas dos peixes: ouvem e não
falam; foram os primeiros seres criados; são os
mais abundantes; é entre eles que se encontram
os maiores seres. Mostraram obediência, respeito
e devoção: escutaram Sto. António; salvaram
Jonas.
• Virtudes naturais: desconfiam dos homens, por
isso se salvam. Assim fez Sto. António fugindo
para o deserto.
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Atributos específicos dos peixes
• Peixe de Tobias: cura a cegueira; afasta os
demónios. Assim fez Santo António nas suas
pregações. Apelo aos moradores do Maranhão.
• Rémora (= língua de Santo António) – para refrear as
paixões. Alegoria das Naus: Soberba /Cobiça /
Sensualidade.
• Torpedo (= língua de Santo António): faz tremer (e
emendar os pecados).
• Quatro-olhos: para se livrarem dos inimigos do ar e
do mar.
15. Interações – 11.º Ano
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Reflexão
Também os homens só devem olhar para cima,
lembrando-se de que há céu; e para baixo, de que há
Inferno.
Os peixes ajudam à salvação: são usados nos jejuns e
são alimentos dos pobres.
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Defeitos genéricos dos peixes
• Voracidade: “Comei-vos uns aos outros”.
Paralelismo com o homem. Os maiores comem os
mais pequenos.
• Ignorância e cegueira: (Pescados pelo anzol,
atraídos pelo retalho de pano. Tráfico de panos no
Maranhão (Vaidade). Santo António procedeu ao
contrário. Abandonou luxos, mas pescou almas com
uma corda e um pano de burel.
17. Interações – 11.º Ano
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Defeitos específicos
• Roncadores (peixes pequenos que roncam muito).
Assim os homens: quanto menos valem mais
blasonam. S. Pedro; Golias. Santo António, “porque
tanto calou, por isso deu tamanho brado”.
• Pegadores (= parasitas, aderentes). Salvam-se os
“pegadores de Deus”: David; Santo António. O
castigo: Morrem quando morre o grande ao qual se
“pegaram”.
18. • Voadores (= ambiciosos, megalómanos,
vaidosos). Santo António voou para baixo e
não para cima.
• Polvo (= hipócrita, traiçoeiro). Santo
António, pregador dos peixes: “o mais puro
exemplar da candura, da sinceridade e da
verdade”).
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Confirmação (final do cap. V)
Apelo final:
Castigo, excomunhão dos que se apropriam dos
bens alheios.
Peroração (VI)
Julgamento final dos peixes.
Louvores a Deus.
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Podemos concluir que o Sermão de Santo António
aos Peixes se trata de uma sátira bela e audaciosa:
pela variedade de tipos focados,
pelo imprevisto da caricatura e da fantasia construtiva,
pela causticidade da ironia,
pela expressividade do discurso,
onde o paralelismo, a gradação, a enumeração, a
citação, a antítese, a exclamação, a apóstrofe, revelam
todo o esplendor da língua portuguesa.