Este documento discute a importância das tecnologias da informação e comunicação na educação de crianças pequenas. Argumenta que as crianças aprendem melhor quando desafiadas e que as tecnologias podem criar ambientes de aprendizagem motivadores. Também enfatiza que cabe aos educadores garantir que as tecnologias sejam usadas de forma a promover valores sociais e culturais positivos.
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Descobrir, no Jardim de Infância, a Sociedade Tecnológica
1. Encontro de Educação de Infância – ESELeiria – Junho 2008
Descobrir, no Jardim de Infância, a Sociedade Tecnológica. Henrique Santos
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Descobrir, no Jardim de Infância, a Sociedade Tecnológica
Henrique Santos
Jardim de Infância da Póvoa da Galega
Resumo
Como por mais de uma vez referiram diversos autores, não dominar as novas tecnologias da informação
equivalerá, na prática a um novo tipo de analfabetismo, daí que é fundamental que perante uma imensa oferta
de fontes de informação, de caminhos possíveis e de ritmos personalizados de aprendizagem, o papel do
educador/profissional de educação assuma um protagonismo acrescido.
Assim, os educadores têm de ser formados no domínio das tecnologias de informação e comunicação para que
estas sejam úteis na realização desta “nova” escola.
Contudo, e apesar das tecnologias de informação e comunicação multiplicarem as possibilidades de pesquisa de
informação e os equipamentos interactivos e multimédia colocarem à disposição dos alunos e famílias um
manancial inesgotável de informações, é ao educador que cabe continuar a transmitir os modelos sociais
admissíveis.
Será de primordial importância contextualizar as capacidades e competências do professor, nomeadamente a
sua capacidade para avaliar as situações educativas, a capacidade para planificar a acção e posterior aplicação
dos conhecimentos teóricos adequados e a sua capacidade para pôr em acção um plano, avaliando a sua
progressão e reajustando trajectórias. Só criando situações que permitem, a um dado momento, praticar o
comportamento que desejamos construir e retirando, dessa prática, ensinamentos para o desenvolvimento
desse comportamento podemos potenciar os momentos de aprendizagem sem estarmos dependentes duma
inserção plástica e forçada das TIC em ambiente escolar.
Nesta comunicação apresentam-se algumas reflexões e propostas sobre o como fazer, designadamente junto
das famílias, não querendo, contudo, apresentar-se receitas ou esquemas metodológicos concretos.
Sobretudo, interessa-nos reflectir e partilhar um leque de preocupações essenciais para a dinamização de
outros espaços e tempos de formação.
Introdução
“Os registos audiovisuais são meios de expressão individual e colectiva e também meios de
transmissão de saber e da cultura que a criança vê como lúdicos e aceita com prazer.”
In Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, 19976
A riqueza e variedade da informação, e dos seus suportes, que não pára de crescer, acentuando
em cada dia que passa o seu ritmo de expansão, terá de conduzir-nos forçosamente a um mundo
novo em que o entretenimento, a aprendizagem, o diálogo entre cidadãos, o exercício da
democracia, a cultura, a investigação científica, o trabalho, o comércio e as restantes actividades
económicas recorrem com intensidade crescente às chamadas novas tecnologias da informação e
da comunicação como meio privilegiado de acesso e difusão de saber e de oportunidades de
interacção humana.
A convergência das tecnologias de informação, do audiovisual e das comunicações abre
perspectivas com importante impacto positivo na transmissão do saber, na divulgação da cultura e
da língua, nos processos de aquisição de conhecimento, na eficiência da administração pública, na
integração de cidadãos com necessidades especiais, na gestão das organizações, nos meios de
entretenimento, na comunicação social, na interacção entre grupos de cidadãos e na inovação de
processos democráticos.
Assim sendo, torna-se pertinente a reflexão sobre a importância da utilização educativa das
tecnologias da informação e da comunicação na construção de ambientes capazes de ajudar a
construir seres humanos com capacidade e vontade de aprender.
Infelizmente, muitos são os discursos que revelam que estes seres humanos vão-se perdendo à
medida que os currículos da Escola, centrados nos conteúdos e no saber fazer, os vão desviando do
verdadeiro interesse em construir as competências que serão o cerne da sua evolução como seres
pensantes e intervenientes.
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Diz Papert que “a melhor aprendizagem é a que se compreende e dá prazer. As crianças adoram
aprender até quando são ensinadas com uma lógica diferente. Na verdade, (...) acredito que toda a
gente, especialmente as crianças, gosta sempre de aprender.” (1998, p.39).
Nesta perspectiva o aluno/criança deve ser desafiado e estar permanentemente na situação de
construtor, de explorador e de investigador. A utilização dos meios de comunicação na educação de
infância pode ser desencadeadora de variadas situações de efectiva aprendizagem e
desenvolvimento de competências.
É neste contexto que as utilizações educativas das tecnologias da informação e da comunicação
(tecnologias) podem vir ao encontro das expectativas e anseios dos docentes, mas, sobretudo, de
uma sociedade em constante mudança.
O contexto, as interacções entre alunos e professores, o tipo de situações a que os alunos são
expostos ou criam, podem constituir os aspectos determinantes no processo de aprendizagem que,
dessa forma, podem contribuir para as recriar, permitindo uma abordagem de potentes desafios
intelectuais.
Na verdade, as tecnologias são peças chave na criação de ambientes de aprendizagem motivadores
e construtores do ser humano. As crianças aprendem melhor se tiverem tarefas, desafios, ou
problemas nos quais as respostas não sejam óbvias ou demasiado simples. Neste sentido, as
tecnologias permitem a utilização de ferramentas integradoras de vários saberes, capazes de
proporcionar ambientes enriquecedores e facilitadores de aprendizagem. Papert (1998) refere
ainda que ”todas as crianças que têm um computador e uma forte cultura de aprendizagem são
agentes de mudança na escola”.
Neste artigo apresentar-se-ão algumas dinâmicas desenvolvidas em contexto de sala de jardim de
infância e também se pretenderá efectuar uma abordagem sistemática e organizativa das
possibilidades oferecidas no âmbito da utilização dos instrumentos tecnológicos ou de marcada
característica comunicacional e da sua inter-relação com os conceitos de desenvolvimento social,
cultural e cognitivo das crianças e da sua relação com as práticas pedagógicas.
Que tecnologias?
Partindo da tentativa do enquadramento de Tecnologia e dos seus conceitos adjacentes, abordados
numa perspectiva sociológica e humana, como factor de desenvolvimento e crescimento social das
populações, tomar-se-á como linha de rumo um conjunto de apontadores, devidamente
observados e contextualizados, que forneçam pistas sobre modelos de formação e de
desenvolvimento profissional passíveis de serem disseminados e generalizados.
Interessar-nos-á também, compreender de forma mais profunda o papel das tecnologias como
meios de trabalho/produção, de consulta e de comunicação como potenciadores do
desenvolvimento do cidadão e da cidadania, a partir do jardim-de-infância.
A reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação deve apoiar-se numa análise prévia das
mudanças na relação do indivíduo com o saber. A primeira constatação dessa mudança envolve a
velocidade do surgimento e da renovação dos saberes. Actualmente, a maioria das competências
adquiridas por uma pessoa no começo de seu percurso profissional são obsoletas no fim da sua
carreira. Também a nova natureza do trabalho contribui para isso, no qual a parte de transacção
de conhecimentos é cada vez mais ilimitada. Trabalhar equivale cada vez mais a aprender,
transmitir saberes e produzir conhecimentos.
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O espaço da tecnologia amplia, exterioriza e altera muitas funções cognitivas humanas: memória
(bancos de dados, hipertexto, ficheiros digitais), imaginação (simulações), percepção (sensores
digitais, realidades virtuais) e raciocínios (inteligência artificial).
Estas tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação e novos estilos de
raciocínio e conhecimento. O saber-fluxo, o saber-transacção de conhecimento, as novas
tecnologias da inteligência individual e colectiva estão, necessariamente, a modificar
profundamente os dados do problema da educação e da formação.
No Livro Verde para a Sociedade de Informação (Grupo de Missão para a Sociedade de Informação,
1997) associam-se à revolução que a sociedade fará, nos planos educativo, social e cultural, três
ideias principais: a) a chamada sociedade de informação, se construída tendo como prioridade a
dimensão humana, não pode gerar novas exclusões sociais ou acentuar as já existentes, b) a
sociedade de informação não deve permitir a criação, ou o reforço, de predominância culturais,
ideológicas ou económicas de alguns protagonistas, defendendo, ao invés, a diversidade e a
interdependência entre as comunidades. Como espaço de liberdade, deverá estimular o diálogo na
diversidade, a partilha de recursos culturais e a afirmação de cada pessoa, povo ou cultura e c) os
primeiros passos da sociedade de informação, ainda em fase de afirmação, devem acentuar o
carácter democrático e solidário da sua essência, sendo útil que os projectos mais relevantes se
afirmem de utilidade evidente e universal, bem como de fácil acesso.
Também no documento apresentado pela União Europeia para a Sociedade de Informação
[http://www.europa.eu.int/scadplus/leg/pt/cha/c11031b.htm], são evidentes as intenções que
parte dos planos de investimento sejam destinados sobretudo aos adultos e docentes, formando e
qualificando através do contacto e da aprendizagem experimentada das tecnologias e a sua
aplicação ao trabalho, à formação e ao lazer.
Descobrir a fórmula certa de explorar os imensos recursos potencialmente disponíveis é um
caminho que está por desbravar, além da evidente ameaça da info-exclusão. Ponte (1999) diz
explicitamente que aqueles que não forem capazes de utilizar e compreender minimamente os
processos informáticos correrão o risco de estar tão desinseridos na sociedade do futuro como os
analfabetos o estão na sociedade de hoje.
Numa sociedade marcada pela informação, comunicação e conhecimento, há o risco de um número
significativo de pessoas poderem ficar à margem.
Como refere Carlos Tedesco:
“Os média não foram concebidos como entidades da formação moral e cultural das pessoas. A sua
concepção e evolução supõem que essa formação já é um dado adquirido e a tendência actual dos
meios de comunicação consiste em deixar aos próprios cidadãos a responsabilidade de eleger as
mensagens que querem receber” (cit. por Cardoso, 2001).
Esta natural ausência de dimensões morais e culturais constitui um aspecto de crucial importância
a ter em conta no modo como as tecnologias devem ser encaradas e integradas no processo de
socialização das crianças e dos jovens e na preparação dos professores.
No fundo, as tecnologias são uma espécie de indústria multimédia unificada, à qual estão ligados
aspectos civilizacionais (novas estruturas de comunicação, regulação e cooperação, novas
linguagens e técnicas intelectuais) que apontam para a passagem "de uma humanidade a outra".
O saber disponível
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Novamente no Livro Verde para a Sociedade de Informação (Grupo de Missão para a Sociedade de
Informação, 1997), a propósito do «Saber Disponível», afirma-se que, na sociedade moderna o
conhecimento é um bem de valor inestimável, pelo que “é necessário promover a criação de
mecanismos que contribuam para a sua consolidação e difusão”. Neste ponto de vista, aceder à
informação disponível constituirá uma necessidade básica para os cidadãos e compete às diversas
entidades garantir que esse acesso se efectue de forma rápida e eficaz e numa base equitativa.
O termo sociedade da informação traduz, neste contexto, e acima de tudo, uma forma de
transversalidade cultural imediata que aproxima os indivíduos no sentido de uma mundialização
económica, científica e cultural, mas, ao mesmo tempo, permite também que, nessa aproximação
global, cada indivíduo e cada cultura tenha mais oportunidades de manifestar e afirmar as suas
diferenças, sugerindo uma maior protagonismo do cidadão comum e dos pequenos grupos sociais
étnicos e culturais no acesso, na produção e na divulgação da informação, ampliando as
possibilidades individuais de pensamento, de liberdade e de opinião.
Mais do que ensinar o manuseamento técnico dos computadores, e nas palavras de Cardoso
(2001), cabe à escola e aos professores garantir que as abordagens das tecnologias “sejam
realizadas de acordo com pressupostos morais, sociais e culturais e como vias de formação cívica”.
As tecnologias encobrem complexidades e subtilezas sociais que é necessário conhecer como
condição para realizar escolhas pessoais e sociais positivamente orientadas. Nessa tarefa, a escola
e os professores são elementos determinantes.
Um dos desafios que se colocam à escola é o de facultar o acesso às tecnologias digitais,
prevenindo o fenómeno da info-exclusão, em particular junto dos jovens provenientes das camadas
populacionais mais desfavorecidas.
Pelo apresentado, torna-se evidente que a relação entre o conhecimento e informação acentua a
necessidade de saber escolher, de entre a informação disponível, aquela que é mais útil e
oportuna.
A capacidade de aprender a como aprender exige que os docentes, ainda antes de terem os
conhecimentos técnicos para lidar com as tecnologias, tenham os conhecimentos, as atitudes e as
perspectivas ideológicas necessários para lerem a sociedade a que agora chamamos da
informação. Trata-se de uma certa sabedoria integradora de conhecimentos acerca da sociedade
em que vivemos e de um conjunto de atitudes assentes na experiência e na adesão a valores
fundamentais que permitam, em cada momento, assumir atitudes humanamente significativas.
Em resumo, o domínio técnico das tecnologias, só por si, não é condição para a integração e
participação cívica na sociedade em que vivemos.
Aprender na Sociedade de Informação
A educação articula-se com a sociedade de informação, uma vez que se baseia na aquisição,
actualização e utilização dos conhecimentos. Neste modelo emergente multiplicam-se as
possibilidades de acesso a dados e a factos. Assim, a educação deve facultar a todos a
possibilidade de terem informação ao seu dispor, de recolherem, seleccionarem, ordenarem,
gerirem e utilizarem essa mesma informação.
“A Escola pode contribuir de um modo fundamental para a garantia do princípio de democraticidade
no acesso às novas tecnologias da informação e comunicação e pode tirar partido da revolução
profunda no mundo da comunicação operada pela digitalização da informação, pelo aparecimento
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do multimédia e pela difusão das redes telemáticas” (Actas do Encontro sobre A Sociedade da
Informação na Escola, do Conselho Nacional de Educação: CNE, 1999).
O desafio, para uma audiência qualificada que estará no cerne desta revolução – a educação –,
passa por, percebendo toda esta dinâmica, contribuir para traçar objectivos, estabelecer modelos e
estimular participações, ou seja, ser pró-activo, em vez de aguardar o rumo dos acontecimentos.
Cabe ao sistema educativo fornecer meios para dominar a proliferação de informações, de as
seleccionar e hierarquizar, com espírito crítico, procurando-os para lidarem com uma quantidade
enorme de informação que poderá ser efémera e instantânea. Além do mais, as tecnologias
oferecem potencialidades imprescindíveis à educação e formação, permitindo um enriquecimento
contínuo dos saberes.
Há também, actualmente, um desenvolvimento significativo da informação disponível para os
cidadãos. O aluno chega à escola transportando consigo a imagem de um mundo – real ou fictício –
que ultrapassa em muito os limites da família e da sua comunidade. As mensagens mais variadas –
lúdicas, informativas ou publicitárias – que são transmitidas pelos meios de comunicação social
entram em concorrência ou contradição com o que as crianças aprendem na escola. O tempo
despendido diante da televisão não lhes exige nenhum esforço, pois a oferta instantânea da
informação proporcionada pelos média é-lhes mais fácil e gratificante do que o esforço exigido para
alcançarem sucesso no ensino formal.
A este propósito, Sartori (2000, p.29) avisa-nos de que: “a verdade maior, e global, é que a
criança cuja primeira escola (a escola divertida, que precede a escola aborrecida) é a televisão, é
um animal simbólico que recebe o seu imprint, o seu cunho formativo através das imagens de um
mundo todo ele centrado no ver (...) O problema é que a criança é uma esponja que regista e
absorve indiscriminadamente (visto ainda não ter a capacidade de discriminação) tudo aquilo que
vê”.
Daí que não seja um facto indesmentível que as tecnologias associadas à escola tendam a provocar
reacções fortes, sejam elas de grande entusiasmo ou de violenta crítica. Por detrás destas reacções
está o facto de mexer com aspectos fundamentais das nossas concepções, dos nossos gostos, dos
nossos desejos.
A escola deve promover aprendizagens fundamentais, que se interligam e que se constituem como
pilares do conhecimento, ou seja, a escola deve: aprender a conhecer, isto é, adquirir os
instrumentos da compreensão, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a
possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias, o que também
significa, aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação ao
longo da vida; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente, a fim de adquirir não
somente uma qualificação profissional mas também competências que tornem a pessoa apta a
enfrentar as mais diversas situações e a trabalhar em equipa; aprender a viver em comum, a
fim de participar e cooperar com os outros, no respeito pelos valores duo pluralismo, da
compreensão mútua e da paz; e, finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três
precedentes e que permite a cada um desenvolver melhor a sua personalidade, ganhar capacidade
de autonomia, discernimento e responsabilidade.
Em qualquer dos modelos, o conhecimento só existe se for realizado pela pessoa, que por sua vez
deve ser intelectual e materialmente activa à escala dos seus meios. A utilização das tecnologias
deve poder realizar-se através do tempo e dos meios adequados.
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Espaços de Aprendizagem
Com a emergência dos novos desafios que se colocam à Escola, nomeadamente com o crescente
espaço tecnológico que envolve as novas gerações de estudantes, no qual os instrumentos digitais
ocupam um lugar destacado, os espaços de aprendizagem começam a ser cada vez mais variados
e diversos.
Todos os alunos que actualmente chegam à escola, em qualquer idade, experimentaram já, ou
estão em vias de experimentar, um conjunto de dispositivos tecnológicos que lhes permitem o
acesso a novas e únicas formas de informação, que, na maior parte das vezes, não possuem o
devido encadeamento curricular e académico.
É comum ouvir pais e mães referirem que os seus filhos de três ou quatro anos já escolhem
sozinhos os filmes que vêem nos seus leitores de DVD, também é comum encontrar em classes do
primeiro ciclo alunos com os seus próprios telefones móveis e serão muitos, decerto, os estudantes
do ensino secundário que já dominam com bastante proficiência os segredos da internet e das suas
possibilidades, nomeadamente no que concerne à sua utilização através de outros dispositivos que
não os computadores pessoais, e muitas vezes, em áreas incomuns, como sejam os centros
comerciais ou mesmo estações de serviço, através das ligações sem fios (wireless).
Se considerarmos que a aprendizagem se situa entre uma intenção de adquirir e uma aquisição
efectiva dos saberes mais diversos e que se faz através de uma escolha de objectivos e de uma
escolha de situações, cuja natureza e ordem dependem daquele que teve a iniciativa da formação,
teríamos, como ponto de partida, “uma solicitação do meio ambiente que encontra um acolhimento
favorável naquele que o vai concretizar”1
. É sobre esta solicitação do meio ambiente que é,
actualmente, de carácter eminentemente tecnológico, que a escola deve reflectir toda a sua
estrutura, seja ela pedagógica ou física.
Os actuais estudantes, de qualquer nível de ensino, na sua maioria, têm graus de literacia
tecnológica elevados e dominam com grande capacidade as relações multifacetadas e complexas,
reais ou virtuais, que advêm do uso dos instrumentos tecnológicos postos à sua disposição.
Em função disso, não será errado dizer que as mudanças estão a ocorrer em todos os processos de
aprendizagem e também de ensino. Alguns estudos demonstram que a “aprendizagem profunda
ocorre quando a aprendizagem é social, activa, promove a colaboração e as parcerias, inclui
retroacção e é reflectiva” (Carmean, C & Haefner, J. 20022
; Brandsford, J. D. 2000)3
, e, dessa
forma demonstram a importância e a pertinência dos “princípios de aprendizagem” que devem
existir no momento da definição dos espaços e ambientes de aprendizagem.
Estes “princípios” permitem identificar os mais adequados instrumentos que respeitem a
necessidade de encontrar espaços de colaboração, interacção e comunicação entre alunos e
professores, alunos e outros alunos e mesmo entre a escola e a comunidade envolvente.
A Aventura da utilização das TIC na Sala de Aula do JI
1
Bidarra de Almeida, J. (1998) Aprender na Era Digital, Cadernos de Educação de Infância, 44, P 23-25, Lisboa, APEI.
2
Carmean C. e Haefner, J (2002) Mind over Matter: Transforming course Management systems into Effective Learning
Environments, Educause Review, Vol. 37, nº 6 (Nov./Dez.). http:www.educause.edu.
3
Bransford, J. D et all (2000) How people Learn: Brain, Mind, Experience and School, NRC, National Academy Press,
Washignton D.C.
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Com base na utilização de metodologias activas e participativas, com recurso às Tecnologias, no
processo de ensino e aprendizagem, cabe ao educador:
• Utilizar criticamente a tecnologia como ferramenta transversal ao currículo;
• Partilhar experiências/recursos/saberes no seio da comunidade educativa;
• Valorizar práticas avaliativas indutoras de melhoria da qualidade dos processos educativos;
• Estimular estratégias pedagógicas promotoras de metodologias inovadoras;
• Adoptar práticas que levem ao envolvimento dos alunos em trabalho prático com tecnologias;
• Produzir, utilizar e avaliar recursos educativos potenciadores da construção do conhecimento
tecnológico;
• Mudar práticas, com a integração de ferramentas de comunicação e interacção à distância, no
processo de ensino e aprendizagem;
• Prolongar momentos de aprendizagem no tempo e no espaço, fomentando a disponibilização de
recursos educativos variados;
• Desenvolver projectos/actividades que potenciem a utilização de tecnologias em contextos inter e
transdisciplinares, de forma integrada e corrente;
• Promover momentos de reflexão decorrentes da prática lectiva e também da vida quotidiana;
Dinâmicas possíveis de utilizar na sala de JI, pelo educador como profissional, pelo
grupo ou por cada aluno, individualmente:
1. Apresentar experiências de utilização das Tecnologias como instrumento didáctico;
2. Analisar as potencialidades das Tecnologias no processo de ensino aprendizagem
3. Desenvolver metodologias de integração das Tecnologias, com particular destaque para a
Internet, no processo de construção e produção do conhecimento;
4. Desenvolver estratégias de utilização das Tecnologias numa perspectiva de reorganização e
gestão do grupo, adaptadas às características das escolas;
5. Produzir e utilizar recursos para o ensino e aprendizagem.
7. Construir actividades para realizar em contexto de sala de aula,
9. Avaliar as actividades realizadas, reflectindo o seu espaço de intervenção social.