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CIDADE 2.0
                                           Heloisa Neves




A World Wide Web, nossa famosa internet, surgiu pelas mãos de hackers contratados pelo governo dos EUA
 para criar um sistema de comunicação na época da Guerra Fria. Ser um hacker nesta época não era ser um
 pirata ilícito da rede, um hacker era somente uma pessoa que criava sistemas informáticos. Eles possuíam
  princípios éticos bastante marcantes e coerentes com o que propunham. Uma lista de quatro pontos ficou
                          conhecida como “Ética Hacker”. Eis a transcrição dela:
   •   “O acesso aos computadores deve se ilimitado e total.

   •   Sempre tem prioridade o imperativo prático sobre o enfoque teórico.

   •   Toda informação deve ser livre.

   •   Desconfiar da autoridade, fomentar a descentralização.” (RHEINGOLD, 2004, p. 75)

   Partindo desta ética, este grupo criou a internet para o bem comum, originando daí as tecnologias da
cooperação, pensando que todos os usuários deveriam aderir à mesma ética, fornecendo códigos abertos,
criação de projeto comuns, possibilidade de cópia, dentre outras coisas. Logo após seus primeiros anos, a
ética foi quebrada por alguns dos membros, desencadeando um sistema muito mais restrito e pouco
sociabilizado. Partindo desta ética, gostaria de fazer aqui uma reflexão, transpondo-a para o estudo de nossas
cidades e de sua arquitetura. Para tanto, gostaria de começar falando sobre esta maneira de se trabalhar
conjuntamente, horizontalmente e com abertura total de direitos autorais: o sistema colaborativo. Proponho,
portanto, o termo Cidade 2.0 em alusão a Web 2.0, que buscava uma mudança na forma como a web era
encarada pelos usuários e desenvolvedores, reforçando o conceito de troca de informações e colaboração dos
internautas. A idéia é que o ambiente se tornasse mais dinâmico e que os usuários colaborassem mais para a
organização dos conteúdos.
             Imagine, portanto, uma cidade onde os moradores e arquitetos colaborem de maneira mais efetiva e
mais dinâmica, buscando novos processos de trabalho e fabricação e propondo melhorias; realizando-as sem
esperar que forças hierarquicamente mais altas o façam, encontrando brechas no sistema e se expondo a
processos ainda em construção. Imagine um poder mais horizontalizado e mais participativo que surge da
união de pessoas comuns. Imagine projetos de arquitetura colaborativos, feitos a várias mãos e com códigos
abertos e livres de direitos autorais. Esta cena lhe parece muito distante? Veja então o que vários grupos já
estão fazendo para que tudo isto venha a se concretizar em breve. São idéias ainda muito incipientes e que
muitas vezes parece distante dos princípios dos hackers acima expostos. No entanto, já demonstram
potencial para alcançá-los porque já os contém, ainda que somente em potência.


RECETAS URBANAS
Nome de um grupo espanhol que resolveu encontrar brechas nas leis e no próprio sistema político das
cidades, desenvolvendo projetos colaborativos, onde arquitetos e população passaram a desenvolver e
executar conjuntamente projetos efêmeros de ocupação do espaço. E, a partir de sua realização, as “receitas”
(na verdade, os desenhos executivos e dicas de construção) eram disponibilizados na página web do coletivo
a fim de que qualquer pessoa em qualquer parte do mundo possa replicá-los. Quebra-se assim, logo de cara,
conceitos muito tradicionais da arquitetura: o direito autoral do projeto, a recusa em permitir a ajuda do
usuário no processo de projeto e a impossibilidade de se construir um mesmo projeto em diversos lugares
diferentes. Como advertência, na página web do grupo encontram-se somente estas: “todas as receitas
urbanas mostradas a seguir são de uso público, podendo ser utilizadas em todo seu desenvolvimento
estratégico e jurídico pelos cidadãos que se animem a fazê-lo. Recomenda-se o estudo exaustivo das distintas
localizações e situações urbanas nas quais o cidadão urbano queira intervir. Qualquer risco físico ou
intelectual produzido com o uso das mesmas ocorrerá a cargo do cidadão.” (nossa tradução)1


Projeto Kuvas S.C.
Objetivo: Recuperar a Rua
Material: Caçambas
Receita:

























































1. Solicitar a prefeitura da sua cidade uma licença para instalação de uma caçamba no lugar
         desejado. Esta solicitação irá acompanhada de um croquis detalhado assim como do valor da taxa.
         (18 euros aproximadamente se o projeto for na Espanha)
      2. Uma vez concedida a licença de ocupação, um mês depois, procedemos a colocação imediata da
         caçamba. É preferível que ela seja auto-construída, pois evitará possíveis mal entendidos com a
         empresa contratada.
      3. Pode-se optar por solicitar gratuitamente a KUVA S.C. 670-794409, que será cedida através de
         um convênio amistoso às pessoas ou grupos de pessoas que queiram criar reservas de solo urbano.
      4. As funções e usos que se podem gerar com estas reservas urbanas estão abertas a imaginação do
         cidadão, podendo-se recheá-la de elementos que sugiram ou definam certas intenções funcionais
         ou intelectuais: lugar de recreio para crianças, foco informativo, sala de leitura, lugar de
         exposições, tablado flamenco, etc.

                                  (receita retirada da página web do grupo e traduzida pela autora)2




                                Imagem do projeto. Retirada da página web: www.recetasurbanas.com


MIT's CENTER FOR BITS AND ATOMS (CBA) e o projeto Fab Lab:
Centro de Estudos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que coordena o projeto Fab Lab
(Fabrication Laboratory). A idéia para os laboratórios Fab Lab surgiu a partir da investigação sobre
"fabricação personalizada" (basicamente, uma máquina que pode construir qualquer máquina, incluindo a si
mesma). O Fab Lab (um de seus principais projetos) explora como o conceito de projeto está diretamente
relacionado a sua representação física. Ele tem fortes conexões com as atividades de extensão técnica de um
número de organizações parceiras em torno da possibilidade de pessoas comuns não somente aprenderem
sobre ciência e engenharia, como também experimentarem o exercício projetual, trabalhando no processo
inteiro de projetos que sejam relevantes para a melhoria da qualidade de suas vidas. O objetivo maior deste


























































2
    Para ver receita completa e sem tradução, assim como outros projetos: www.recetasurbanas.net
projeto é colocar a tecnologia a serviço das pessoas, através do investimento de milhões de dólares em
máquinas de fabricação digital. Estas máquinas não ficam somente nos EUA. Elas são levadas para
laboratórios Fab Lab espalhados por diversos países do mundo, inclusive países com alto grau de
subdesenvolvimento. O objetivo é que todos possam projetar e produzir com suas próprias mãos peças de
fabricação digital, as quais representam o primeiro link entre o lugar em que eles vivem e o mundo hi-tech.
Os Fab Labs estão espalhados desde grandes centros como Boston até áreas rurais da India, África do Sul e
norte da Noruega. Projetos que estão sendo desenvolvidos e produzidos nos laboratórios de fabricação
incluem turbinas solar e eólica e redes sem fio de dados, instrumentação analítica para a agricultura e a
saúde, habitação personalizada e protótipos de máquinas de prototipagem rápida.
             Tentando afunilar os princípios e práticas dos Fab Labs com o que estamos buscando neste texto
(exemplos embrionários de uma Cidade 2.0) nos interessa especialmente a forma como os criadores dos
projetos auxiliam todos os membros de vários países a criarem tecnologia local e direcionada aos seus
problemas. Isto seria uma gestão realmente colaborativa, onde se busca não um assistencialismo mas um
equilíbrio de conhecimento, o que no futuro irá gerar troca de informações, elevação intelectual, econômica e
prática de todos os envolvidos. Dentre deste foco, em 2004, uma equipe do MIT foi até Gana montar um
laboratório de fabricação digital, fornecendo a tecnologia que permitiria às pessoas construírem praticamente
qualquer coisa a partir de materiais baratos e prontamente disponíveis. O objetivo do laboratório era ajudar
as pessoas a usarem tecnologias avançadas de informação para desenvolverem e produzirem soluções para os
problemas locais. Além de objetos básicos e fáceis de se construir, o laboratório de Gana iria trabalhar
também na construção de antenas e rádios para redes sem fio e máquinas de energia solar para cozinhar.
Cada uma dessas atividades foi desenvolvida em colaboração com os usuários locais, que vão desde as
crianças de rua aos chefes tribais, para atender as necessidades locais mais importantes. O que Neil
Gershenfeld, criador do projeto, vem tentando disseminar não só neste laboratório de Gana, como em todos
os outros, é o ‘desenvolvimento’ da tecnologia da informação para as massas, ao invés de disseminar a
tecnologia da informação para as massas. Gershenfeld acredita que ao invés de falar às pessoas sobre o que
eles estão fazendo dentro do MIT, melhor seria ajudar as pessoas de várias partes do mundo a fazê-los eles
mesmos.
             Seguindo esta trilha da experimentação e colaboração, o Fab Lab Barcelona criou o projeto Solar
House, apresentado este ano no Solar Decathlon Europe3 por seus alunos. Apesar de ainda estar a alguns
passos de ser tratado como um projeto colaborativo, já que este deveria incluir a participação efetiva do
usuário, a troca constante de informações em rede e a disponibilização do seu código-fonte – o desenho
executivo; o projeto apresenta um ponto-chave que é ter como código a fabricação personalizada, se
mostrando mais acessível a ser compartilhado, discutido e executado por um número maior de pessoas em
diversos países. Apesar de ter ganhado o último lugar na votação do júri do concurso, ganhou o primeiro
lugar na votação popular; o que nos leva a pensar que algo de inovador aconteceu.

























































3
Solar
 Decathlon
 é
 uma
 competição
 onde
 se
 convocam
 universidades
 de
 todo
 o
 mundo
 para
 desenhar
 e

construir
vivendas
que
sejam
autosuficientes
energeticamente,
que
estejam
conectadas
a
rede
e
que
incorporem

tecnologias
que
permitam
sua
máxima
eficiência
energética.

Imagens do projeto. Disponíveis em www.fablabhouse.com


        Segundo os autores do projeto, o objetivo seria a fabricação desta casa em qualquer lugar do mundo.
A produção da casa é fundada em uma estrutura fabricada a partir de materiais de origem comum a nível
mundial (painéis de madeira) e na utilização das máquinas encontradas na maior parte dos países, a cortadora
a laser. Além disso, a construção é embasada em princípios contemporâneos de industrialização, a fabricação
personalizada. Através dela, tem-se a vantagem de produzir peças únicas a preços que tendem a ficar mais
acessíveis dependendo da maior adesão dos projetos a ela. Através de um computador, o código do projeto é
enviado diretamente a máquina, eliminando assim uma das etapas da construção tradicional. Esta eliminação
da etapa do molde reduz 25% de energia porque poupa material, tempo e pessoas. Outro ponto bastante
importante do projeto é a utilização da inteligência distribuída. Opondo-se ao modelo de casa típica de uma
construção de caixa, composta de componentes padrão industrializados, optou-se por construir uma casa
inteligente com componentes lógicos sistêmicos. Ou seja, cada componente da casa contém o mesmo nível
de tecnologia, energia e estrutura do conjunto. Isto é dizer que em cada uma das partes, encontra-se a lógica
do todo; o que de certa maneira nos lembra a teoria da complexidade de Edgar Morin. Também usou-se no
projeto o desenho paramétrico, o qual influenciou diretamente sua forma, buscando com isto o maior
aproveitamento energético.
        O objetivo principal deste projeto é fazer com que cada interessado em construí-lo compreenda o
processo de projeto e execução ao invés de usar tecnologia pronta e que não envolveria um pensamento
construtivo desde o início. Para que esta idéia se desenvolva, o Fab Lab Barcelona está desenvolvendo junto
com o MIT alguns dispositivos que consigam gerenciar operações complexas, como por exemplo,
isolamento, ventilação, coleta de água, estrutura. Ou seja, um dispositivo que consiga entender a
“informação genética” do projeto e aplicá-la as diversas necessidades e partes da casa. Isto altera a própria
criação do projeto, passando de um pensamento linear e sequencial para um pensamento sistêmico,
codificado e parametrizado. Esta é a grande revolução deste projeto: ao invés de projetarmos através de
estruturas e processos de fabricação já existentes, criaremos a cada projeto um código novo capaz de
personalizar todas as etapas do projeto e construção. No entanto, como já foi enfatizado acima, este tipo de
pensamento vem aparecendo sempre atrelado a um conhecimento distribuído, que inclui o usuário no próprio
projeto. Afinal, a base seria fazer com que todos aprendam, colaborem, troquem informações, se
desenvolvam e juntos cresçam.


        Finalizando e resumindo a mensagem, devo dizer que diversos projetos em todo o mundo vêm sendo
pensados através de um pensamento colaborativo parecido com a ética hacker. O processo colaborativo
propicia, sem dúvida, a geração de conhecimento, favorece a responsabilidade compartilhada pelos
resultados do grupo, promove o pensamento crítico e a comunicação. No entanto, há que se tomar cuidado
para que não haja o risco de uma percepção de informalidade (o que levaria a uma descrença) dado que a
aprendizagem colaborativa tem uma forte dose de socialização e algumas vezes é realizada não-
presencialmente, o que pode levar o participante a ter a percepção de que o trabalho não requer a
participação e compromisso próprios de um projeto tradicional.
        Apesar de ser um tema amplo, em que vários paradigmas são expostos, a questão principal é o
acesso ao conhecimento, sua troca e aquisição coletiva. Apesar dos estudos já estarem bem desenvolvidos,
principalmente em áreas como a de softwares e internet, e do conceito possuir um número razoável adeptos
em diversas áreas, uma pergunta ainda nos persegue. E é Howard Rheingold (2004), estudioso dos processos
em rede, quem nos questiona: o que anima os membros de uma equipe – que muitas vezes nem se conhecem
pessoalmente - a dividir informações antes tratadas como sigilosas ou particulares, abrindo seus processos
criativos sem saber que resultado este realmente obterá? Esta pergunta é a que fica, pois é a chave desta
revolução projetual. Talvez quando soubermos respondê-la, saberemos como criar uma Cidade 2.0 em
plenitude.


Referencias Bibliográficas
CASACUBERTA, David. Creación Coletiva – En Internet el Creador es el Público. Barcelona: Gedisa, 2003
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educaçao do Futuro. São Paulo, 2000
RHEINGOLD, Howard. Multitudes Inteligentes – La Próxima Revolución Social. Barcelona: Gedisa, 2004


Referências Online
http://cba.mit.edu/
http://www.fablabhouse.com
http://www.recetasurbanas.com.br
http://www.ted.com/talks/lang/eng/neil_gershenfeld_on_fab_labs.html

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(2010) Cidade 2.0 - paper published at II Simpósio de Arquitetura e Urbanismo do Senac SP

  • 1. CIDADE 2.0 Heloisa Neves A World Wide Web, nossa famosa internet, surgiu pelas mãos de hackers contratados pelo governo dos EUA para criar um sistema de comunicação na época da Guerra Fria. Ser um hacker nesta época não era ser um pirata ilícito da rede, um hacker era somente uma pessoa que criava sistemas informáticos. Eles possuíam princípios éticos bastante marcantes e coerentes com o que propunham. Uma lista de quatro pontos ficou conhecida como “Ética Hacker”. Eis a transcrição dela: • “O acesso aos computadores deve se ilimitado e total. • Sempre tem prioridade o imperativo prático sobre o enfoque teórico. • Toda informação deve ser livre. • Desconfiar da autoridade, fomentar a descentralização.” (RHEINGOLD, 2004, p. 75) Partindo desta ética, este grupo criou a internet para o bem comum, originando daí as tecnologias da cooperação, pensando que todos os usuários deveriam aderir à mesma ética, fornecendo códigos abertos, criação de projeto comuns, possibilidade de cópia, dentre outras coisas. Logo após seus primeiros anos, a
  • 2. ética foi quebrada por alguns dos membros, desencadeando um sistema muito mais restrito e pouco sociabilizado. Partindo desta ética, gostaria de fazer aqui uma reflexão, transpondo-a para o estudo de nossas cidades e de sua arquitetura. Para tanto, gostaria de começar falando sobre esta maneira de se trabalhar conjuntamente, horizontalmente e com abertura total de direitos autorais: o sistema colaborativo. Proponho, portanto, o termo Cidade 2.0 em alusão a Web 2.0, que buscava uma mudança na forma como a web era encarada pelos usuários e desenvolvedores, reforçando o conceito de troca de informações e colaboração dos internautas. A idéia é que o ambiente se tornasse mais dinâmico e que os usuários colaborassem mais para a organização dos conteúdos. Imagine, portanto, uma cidade onde os moradores e arquitetos colaborem de maneira mais efetiva e mais dinâmica, buscando novos processos de trabalho e fabricação e propondo melhorias; realizando-as sem esperar que forças hierarquicamente mais altas o façam, encontrando brechas no sistema e se expondo a processos ainda em construção. Imagine um poder mais horizontalizado e mais participativo que surge da união de pessoas comuns. Imagine projetos de arquitetura colaborativos, feitos a várias mãos e com códigos abertos e livres de direitos autorais. Esta cena lhe parece muito distante? Veja então o que vários grupos já estão fazendo para que tudo isto venha a se concretizar em breve. São idéias ainda muito incipientes e que muitas vezes parece distante dos princípios dos hackers acima expostos. No entanto, já demonstram potencial para alcançá-los porque já os contém, ainda que somente em potência. RECETAS URBANAS Nome de um grupo espanhol que resolveu encontrar brechas nas leis e no próprio sistema político das cidades, desenvolvendo projetos colaborativos, onde arquitetos e população passaram a desenvolver e executar conjuntamente projetos efêmeros de ocupação do espaço. E, a partir de sua realização, as “receitas” (na verdade, os desenhos executivos e dicas de construção) eram disponibilizados na página web do coletivo a fim de que qualquer pessoa em qualquer parte do mundo possa replicá-los. Quebra-se assim, logo de cara, conceitos muito tradicionais da arquitetura: o direito autoral do projeto, a recusa em permitir a ajuda do usuário no processo de projeto e a impossibilidade de se construir um mesmo projeto em diversos lugares diferentes. Como advertência, na página web do grupo encontram-se somente estas: “todas as receitas urbanas mostradas a seguir são de uso público, podendo ser utilizadas em todo seu desenvolvimento estratégico e jurídico pelos cidadãos que se animem a fazê-lo. Recomenda-se o estudo exaustivo das distintas localizações e situações urbanas nas quais o cidadão urbano queira intervir. Qualquer risco físico ou intelectual produzido com o uso das mesmas ocorrerá a cargo do cidadão.” (nossa tradução)1 Projeto Kuvas S.C. Objetivo: Recuperar a Rua Material: Caçambas Receita: 
























































  • 3. 1. Solicitar a prefeitura da sua cidade uma licença para instalação de uma caçamba no lugar desejado. Esta solicitação irá acompanhada de um croquis detalhado assim como do valor da taxa. (18 euros aproximadamente se o projeto for na Espanha) 2. Uma vez concedida a licença de ocupação, um mês depois, procedemos a colocação imediata da caçamba. É preferível que ela seja auto-construída, pois evitará possíveis mal entendidos com a empresa contratada. 3. Pode-se optar por solicitar gratuitamente a KUVA S.C. 670-794409, que será cedida através de um convênio amistoso às pessoas ou grupos de pessoas que queiram criar reservas de solo urbano. 4. As funções e usos que se podem gerar com estas reservas urbanas estão abertas a imaginação do cidadão, podendo-se recheá-la de elementos que sugiram ou definam certas intenções funcionais ou intelectuais: lugar de recreio para crianças, foco informativo, sala de leitura, lugar de exposições, tablado flamenco, etc. (receita retirada da página web do grupo e traduzida pela autora)2 Imagem do projeto. Retirada da página web: www.recetasurbanas.com MIT's CENTER FOR BITS AND ATOMS (CBA) e o projeto Fab Lab: Centro de Estudos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que coordena o projeto Fab Lab (Fabrication Laboratory). A idéia para os laboratórios Fab Lab surgiu a partir da investigação sobre "fabricação personalizada" (basicamente, uma máquina que pode construir qualquer máquina, incluindo a si mesma). O Fab Lab (um de seus principais projetos) explora como o conceito de projeto está diretamente relacionado a sua representação física. Ele tem fortes conexões com as atividades de extensão técnica de um número de organizações parceiras em torno da possibilidade de pessoas comuns não somente aprenderem sobre ciência e engenharia, como também experimentarem o exercício projetual, trabalhando no processo inteiro de projetos que sejam relevantes para a melhoria da qualidade de suas vidas. O objetivo maior deste 























































 2 Para ver receita completa e sem tradução, assim como outros projetos: www.recetasurbanas.net
  • 4. projeto é colocar a tecnologia a serviço das pessoas, através do investimento de milhões de dólares em máquinas de fabricação digital. Estas máquinas não ficam somente nos EUA. Elas são levadas para laboratórios Fab Lab espalhados por diversos países do mundo, inclusive países com alto grau de subdesenvolvimento. O objetivo é que todos possam projetar e produzir com suas próprias mãos peças de fabricação digital, as quais representam o primeiro link entre o lugar em que eles vivem e o mundo hi-tech. Os Fab Labs estão espalhados desde grandes centros como Boston até áreas rurais da India, África do Sul e norte da Noruega. Projetos que estão sendo desenvolvidos e produzidos nos laboratórios de fabricação incluem turbinas solar e eólica e redes sem fio de dados, instrumentação analítica para a agricultura e a saúde, habitação personalizada e protótipos de máquinas de prototipagem rápida. Tentando afunilar os princípios e práticas dos Fab Labs com o que estamos buscando neste texto (exemplos embrionários de uma Cidade 2.0) nos interessa especialmente a forma como os criadores dos projetos auxiliam todos os membros de vários países a criarem tecnologia local e direcionada aos seus problemas. Isto seria uma gestão realmente colaborativa, onde se busca não um assistencialismo mas um equilíbrio de conhecimento, o que no futuro irá gerar troca de informações, elevação intelectual, econômica e prática de todos os envolvidos. Dentre deste foco, em 2004, uma equipe do MIT foi até Gana montar um laboratório de fabricação digital, fornecendo a tecnologia que permitiria às pessoas construírem praticamente qualquer coisa a partir de materiais baratos e prontamente disponíveis. O objetivo do laboratório era ajudar as pessoas a usarem tecnologias avançadas de informação para desenvolverem e produzirem soluções para os problemas locais. Além de objetos básicos e fáceis de se construir, o laboratório de Gana iria trabalhar também na construção de antenas e rádios para redes sem fio e máquinas de energia solar para cozinhar. Cada uma dessas atividades foi desenvolvida em colaboração com os usuários locais, que vão desde as crianças de rua aos chefes tribais, para atender as necessidades locais mais importantes. O que Neil Gershenfeld, criador do projeto, vem tentando disseminar não só neste laboratório de Gana, como em todos os outros, é o ‘desenvolvimento’ da tecnologia da informação para as massas, ao invés de disseminar a tecnologia da informação para as massas. Gershenfeld acredita que ao invés de falar às pessoas sobre o que eles estão fazendo dentro do MIT, melhor seria ajudar as pessoas de várias partes do mundo a fazê-los eles mesmos. Seguindo esta trilha da experimentação e colaboração, o Fab Lab Barcelona criou o projeto Solar House, apresentado este ano no Solar Decathlon Europe3 por seus alunos. Apesar de ainda estar a alguns passos de ser tratado como um projeto colaborativo, já que este deveria incluir a participação efetiva do usuário, a troca constante de informações em rede e a disponibilização do seu código-fonte – o desenho executivo; o projeto apresenta um ponto-chave que é ter como código a fabricação personalizada, se mostrando mais acessível a ser compartilhado, discutido e executado por um número maior de pessoas em diversos países. Apesar de ter ganhado o último lugar na votação do júri do concurso, ganhou o primeiro lugar na votação popular; o que nos leva a pensar que algo de inovador aconteceu. 























































 3
Solar
 Decathlon
 é
 uma
 competição
 onde
 se
 convocam
 universidades
 de
 todo
 o
 mundo
 para
 desenhar
 e
 construir
vivendas
que
sejam
autosuficientes
energeticamente,
que
estejam
conectadas
a
rede
e
que
incorporem
 tecnologias
que
permitam
sua
máxima
eficiência
energética.

  • 5. Imagens do projeto. Disponíveis em www.fablabhouse.com Segundo os autores do projeto, o objetivo seria a fabricação desta casa em qualquer lugar do mundo. A produção da casa é fundada em uma estrutura fabricada a partir de materiais de origem comum a nível mundial (painéis de madeira) e na utilização das máquinas encontradas na maior parte dos países, a cortadora a laser. Além disso, a construção é embasada em princípios contemporâneos de industrialização, a fabricação personalizada. Através dela, tem-se a vantagem de produzir peças únicas a preços que tendem a ficar mais acessíveis dependendo da maior adesão dos projetos a ela. Através de um computador, o código do projeto é enviado diretamente a máquina, eliminando assim uma das etapas da construção tradicional. Esta eliminação da etapa do molde reduz 25% de energia porque poupa material, tempo e pessoas. Outro ponto bastante importante do projeto é a utilização da inteligência distribuída. Opondo-se ao modelo de casa típica de uma construção de caixa, composta de componentes padrão industrializados, optou-se por construir uma casa inteligente com componentes lógicos sistêmicos. Ou seja, cada componente da casa contém o mesmo nível de tecnologia, energia e estrutura do conjunto. Isto é dizer que em cada uma das partes, encontra-se a lógica do todo; o que de certa maneira nos lembra a teoria da complexidade de Edgar Morin. Também usou-se no projeto o desenho paramétrico, o qual influenciou diretamente sua forma, buscando com isto o maior aproveitamento energético. O objetivo principal deste projeto é fazer com que cada interessado em construí-lo compreenda o processo de projeto e execução ao invés de usar tecnologia pronta e que não envolveria um pensamento
  • 6. construtivo desde o início. Para que esta idéia se desenvolva, o Fab Lab Barcelona está desenvolvendo junto com o MIT alguns dispositivos que consigam gerenciar operações complexas, como por exemplo, isolamento, ventilação, coleta de água, estrutura. Ou seja, um dispositivo que consiga entender a “informação genética” do projeto e aplicá-la as diversas necessidades e partes da casa. Isto altera a própria criação do projeto, passando de um pensamento linear e sequencial para um pensamento sistêmico, codificado e parametrizado. Esta é a grande revolução deste projeto: ao invés de projetarmos através de estruturas e processos de fabricação já existentes, criaremos a cada projeto um código novo capaz de personalizar todas as etapas do projeto e construção. No entanto, como já foi enfatizado acima, este tipo de pensamento vem aparecendo sempre atrelado a um conhecimento distribuído, que inclui o usuário no próprio projeto. Afinal, a base seria fazer com que todos aprendam, colaborem, troquem informações, se desenvolvam e juntos cresçam. Finalizando e resumindo a mensagem, devo dizer que diversos projetos em todo o mundo vêm sendo pensados através de um pensamento colaborativo parecido com a ética hacker. O processo colaborativo propicia, sem dúvida, a geração de conhecimento, favorece a responsabilidade compartilhada pelos resultados do grupo, promove o pensamento crítico e a comunicação. No entanto, há que se tomar cuidado para que não haja o risco de uma percepção de informalidade (o que levaria a uma descrença) dado que a aprendizagem colaborativa tem uma forte dose de socialização e algumas vezes é realizada não- presencialmente, o que pode levar o participante a ter a percepção de que o trabalho não requer a participação e compromisso próprios de um projeto tradicional. Apesar de ser um tema amplo, em que vários paradigmas são expostos, a questão principal é o acesso ao conhecimento, sua troca e aquisição coletiva. Apesar dos estudos já estarem bem desenvolvidos, principalmente em áreas como a de softwares e internet, e do conceito possuir um número razoável adeptos em diversas áreas, uma pergunta ainda nos persegue. E é Howard Rheingold (2004), estudioso dos processos em rede, quem nos questiona: o que anima os membros de uma equipe – que muitas vezes nem se conhecem pessoalmente - a dividir informações antes tratadas como sigilosas ou particulares, abrindo seus processos criativos sem saber que resultado este realmente obterá? Esta pergunta é a que fica, pois é a chave desta revolução projetual. Talvez quando soubermos respondê-la, saberemos como criar uma Cidade 2.0 em plenitude. Referencias Bibliográficas CASACUBERTA, David. Creación Coletiva – En Internet el Creador es el Público. Barcelona: Gedisa, 2003 MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educaçao do Futuro. São Paulo, 2000 RHEINGOLD, Howard. Multitudes Inteligentes – La Próxima Revolución Social. Barcelona: Gedisa, 2004 Referências Online http://cba.mit.edu/ http://www.fablabhouse.com