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Em entrevista
exclusiva, o
historiador Marcos
Capellari fala sobre
a importância do
movimento para
o povo brasileiro
durante a ditadura
e em diversas partes
do mundo
Entenda a nova febre da internet
CONTRACULTURA
CROWDFUNDING:
ANO 1 - EDIÇÃO 1
REVISTA
por Karina França
Em entrevista, o historiador Marcos Capellari, especialista em Contracultura, desmistifica a
data e faz um balanço do período que viu nascer e reverberar o movimento marginal – de um
jeito ou de outro – no mundo todo
P
ara formar-se Mestre em
História Social pela Univer-
sidade de São Paulo (USP),
o historiador e escritor Marcos
Alexandre Capellari debruçou-se
sobre a Contracultura, movimento
juvenil subversivo à ordem política,
social e comportamental, surgido
nos anos 60, nos Estados Unidos.
Resultante de processos já em de-
senvolvimento, ela se espalhou pelo
mundo ajudando a tornar o “Maio
de 68” um mito, quase um perso-
nagem a qual se costuma lançar um
olhar idealizado e simplista. Hoje,
completados 45 anos do início do
Movimento de Contracultura, o
historiador birigüiense e corinthia-
no – que afirma “ser corinthiano
mesmo é uma forma de contracul-
tura!” – faz um balanço do movi-
mento nessa entrevista para a Re-
vista Sensu.
Revista Sensu: O “maio de 68”
geralmente é visto como um mo-
mento que envolve uma eferves-
cência fora do comum da juventu-
de, sobretudo universitária. Por
quê? Qual era o contexto político/
social/ econômico da época?
Capellari: A contracultura teve
origem nos Estados Unidos. Hou-
ve também movimentações na
Europa. A contracultura é um
questionamento da cultura vigen-
te – ou seja, da civilização cristã
Ocidental, de seus valores. Isso
começa no Primeiro Mundo e tem
repercussões, inclusive no Bra-
sil. É um contexto muito comple-
xo. Do ponto de vista econômi-
co, por exemplo, Hobsbawn fala
que esse período faz parte dos 25
anos da Era de Ouro, um período
de grande crescimento econômi-
co no mundo capitalista, que teve
repercussão em outras esferas. Por
exemplo, no aspecto educacional,
há um crescimento imenso no nú-
mero de universitários. Por outro
lado, há uma divisão muito grande
entre países pobres e ricos. Isso, em
função também da intensificação
do processo de globalização, com a
implantação de multinacionais em
países do terceiro mundo, e etc.
RS: Como se deu o movimento
aqui no Brasil, em plena ditadura
militar?
Capellari: O movimento se intro-
duz no Brasil com a Tropicália e, a
partir de 1969, com o ingresso de
Luiz Carlos Maciel no jornal “O
Pasquim”, começa a ser difundido
de forma mais sistemática e apre-
ciado por uma parcela de leitores.
Ele escrevia artigos no semanário
a respeito do movimento hippie,
das drogas, das religiões orientais,
da sexualidade. A contracultura no
Brasil, enquanto movimento, não
tem a proporção da que ocorre nos
Estados Unidos. Lá ocorrem pas-
seatas, algumas das quais lideradas
por Allen Ginsberg, por exemplo,
que é considerado um dos mestres
da cultura Hippie, do Movimento
Beat. No Brasil, isso não ocorre
em função da própria repressão. A
partir do AI-5 em 13 de dezembro
de 1968, qualquer forma de par-
ticipação política era censurada,
reprimida. Em relação à contracul-
tura ocorre o mesmo. Ela acaba se
tornando um modo de vida alter-
nativo, com o culto às drogas, ao
amor livre; e que está relacionado
à modernização cultural pela qual
o Brasil vinha passando, como ou-
tros países. Mas também não dá
para dizer que da contracultura
Entendendo Maio de 68
Divulgação
3
ENTREVISTA
por Denis Zanin
editor
Denis Zanin
design gráfica
Nathália Lopes
ilustração da capa
Denis Zanin
redatores
Denis Zanin
Karina França
Nathália Lopes
Saturnino Santos
plataforma online
Calaméo
A Revista Sensu é uma publi-
cação semanal com exlusiva e
independente produção dos
alunos Denis Zanin, Karina
França, Nathália Lopes e Sa-
turnino Santos - 7º semestre
de Jornalismo - UNIP e edição
em parceria com a Profª Tânia
Trajano. A revista utiliza-se
da plataforma Calaméo para
disponibilização online, além
de contar com uma versão
em PDF Interativo distribuída
exclusivamente para os pro-
fessores Eduardo Rocha e Tâ-
nia Trajano, que ministram as
disciplinas de Webjornalismo
e Edição Jornalística, respecti-
vamente.
D
esde o crescimento da
Internet, veículos de co-
municação e jornalistas
preocupam-se em discutir o im-
pacto da Rede em seus periódicos;
buscam alternativas para retomar
o crescimento de outrora. Tal des-
valorização do produto jornalístico
e a queda de circulação, acarretou
em demissões simultâneas pelas re-
dações, e o fim da versão impressa
do “Jornal do Brasil”. Dentre todos
estes e outros fatores, lembremos
também a crise financeira interna-
cional ocorrida em 2009.
Neste debate sem fim, voltamos
à questão inicial: “No contexto atu-
al, qual é a salvação do jornalis-
mo?”.
Esta edição que você, caro leitor,
percorre com seu mouse é a primei-
ra experiência para se buscar uma
alternativa aos problemas citados
anteriormente. O produto que está
na tela de seu computador é fruto
dos alicerces do jornalismo tradi-
cional agregando-se ao novo jor-
nalismo: preocupado em difundir
seu conteúdo, na “nova mídia”, com
qualidade, credibilidade e inovação.
OS JORNALISTAS DE AMANHÃ
EXPEDIENTE EDITORIAL
ANO 1 - EDIÇÃO 1
SUMÁRIO
PÁG. 13
O Brasil sediará a
Copa do Mundo em
2014, mas será que de-
veríamos investir tan-
to no evento?
OPINATIVO
PÁG. 03
O historiado Marcos Capellari
explica os aspectos do Movi-
mento de Contracultura no Bra-
sil e no mundo
ENTREVISTA EXCLUSIVA
PÁG. 07
Estudantes lutam por seus direi-
tos mas acabam criminalizados
pelo Ministério Público
MOVIMENTO ESTUDANTIL
PÁG. 05
Preço alto de tomate,
cebola e farinha de
trigo provocam piadas
nas redes sociais
TOMATE
PÁG. 08
Na Era da Internet,
“vaquinha virtual”
se torna alternativa
no financiamento de
projetos criativos
CROWDFUNDING
por Nathália Lopes
T
omate, cebola e farinha de
trigo. Três produtos que
aparentam não ter nada
em comum ganham destaque por
conta alto custo pelo qual são re-
vendidos desde o começo do ano.
Em março, por exemplo, o qui-
lo de tomate chegou a custar mais
de R$10 nos supermercados. Este
fato tornou-se motivo de piada nas
redes sociais. O Facebook, princi-
palmente, virou palco para a di-
vulgação de diversos memes e até
brincadeiras envolvendo a ex-no-
vela das 9 da Globo, “Salve Jorge”
(veja ao lado).
Quando o preço voltou a nor-
malizar no começo deste mês, a
cebola se tornou o novo vilão do
consumidor.
“Nenhum produto terá um pre-
ço tão elevado quanto o tomate
teve no mês de maio, mas se pa-
rarmos para analisar a cebola está
muito cara”, afirma Waldemar Pi-
res de Camargo Filho, economis-
ta da Secretaria da Agricultura e
Abastecimento de São Paulo.
Segundo ele, se as fortes chuvas
em São Paulo, principal produtor
de tomate de mesa do Brasil (en-
tenda a diferença entre tomate de
mesa e industrial no podcast), a
seca no Nordeste é a causa do au-
mento no preço da cebola.
“O Nordeste, em especial Per-
nambuco, é o distribuidor núme-
ro 1 de hortaliças do Brasil. Per-
nambuco, por exemplo, representa
20% da produção de cebola no ter-
ritório nacional. Mas a plantação
de cebola precisa de água e, com a
falta dela, a plantação foi prejudi-
cada”, explica Waldemar.
A seca em Pernambuco, se-
gundo dados de estudo feito pela
Universidade de São Paulo (USP)
a pedido do governo federal, se
mantem há 2 anos e já é considera-
da por especialistas a mais severa
dos últimos 60 anos.
Além de prejudicar a safra de
cebola - fazendo seu preço aumen-
tar em grande parte do território
nacional - a seca também já conta-
bilizou a perda de mais de 250 mil
cabeças de gado.
As constantes mudanças cli-
máticas são também a causa para
o aumento no preço da farinha de
trigo e derivados.
Apesar de o Sindicato da Indús-
tria do Trigo afirmar que o valor do
produto subiu 40% entre Novem-
bro de 2012 e o início desse ano,
dados do Sindipan (Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de
Panificação e Confeitaria, Massas
Alimentícias e Biscoitos) apontam
que houve uma queda de aproxima-
damente 8,5% em Março de 2013.
De acordo com o economis-
ta Waldemar Pires, o valor desses
três vilões das donas de casa deve
baratear antes do último trimestre.
“Se não tiver mais chuvas fortes
e a seca no Nordeste melhorar, o
preço da cebola, por exemplo, deve
chegar a cerca de R$0,50 na roça,
por volta de Agosto ou Setembro, e
chegar aos supermercados custan-
do, em média, R$1 o quilo”.
Reprodução: imagem criada por Duda Schneider
Vilões dos Consumidores
Podcast com o economista
Waldemir P. de C. Filho
Produtos comuns nas mesas dos paulistanos, como farinha de trigo, cebola e tomate começam o
ano de 2013 com o preço nas alturas, afetando o bolso das donas de casa
advieram todas as transformações
do cotidiano dos anos 70, 80 e 90,
até agora.
RS: Movimento hippie, movi-
mento feminista, movimento es-
tudantil etc... Era um momento
em que o status quo da sociedade
era duramente contestado. Havia
algo de comum nas contestações?
Capellari: Havia contestação, so-
bretudo entre jovens universitários
ou secundaristas, e ela tem origem
nos Estados Unidos. Em 1964 já
ocorre uma forte movimentação
em função da Guerra do Vietnã,
e em também pela exigência de
mais liberdade de expressão. Vive-
-se, ao mesmo tempo, um processo
intenso de modernização econô-
mica e social, em função, inclusi-
ve, da difusão cada vez maior dos
meios de comunicação de massa.
Por outro lado, se tem uma socie-
dade extremamente conservado-
ra! E há outros aspectos. Entre os
negros, há uma intensificação, nos
Estados Unidos, de contestação ao
apartheid. Há contestações de vá-
rias ordens: política – no caso da
França, por exemplo, em 1968, em
relação à Guerra na Argélia; há, no
Brasil, em função da ditadura mi-
litar; há contestação em países do
Segundo Mundo, ou seja, socialis-
tas, na tentativa de democratizar o
socialismo existente. Não há uma
contestação única.
RS: Olhando hoje, onde estão
seus efeitos – afinal, muitos movi-
mentos estavam vivos antes des-
se período. Porque ele ficou tão
marcado na mente das pessoas?
Capellari:O “1968” virou um mito,
esse é o problema. Acabou sinteti-
zando uma série de questionamen-
tos dos anos 60. Em várias partes
do mundo, sobretudo nos Estados
Unidos. Em 1968, se viu eclodir,
simultaneamente, várias formas
de contestação, com algumas se-
melhanças, mas com motivações
muito próprias. No caso do Brasil,
a contestação era relacionada aos
acordos do MEC com o USAID
(Agência dos Estados Unidos para
o Desenvolvimento Internacional),
que visava modernizar nossas Uni-
versidades, adotando um modelo
norte-americano de educação. E
havia ainda a contestação à Dita-
dura Militar. Não era, portanto,
algo necessariamente contracul-
tural, como nos Estados Unidos.
A modernização dos costumes, as
lutas dos negros, das mulheres, dos
homossexuais, foram enfatizadas
em 1968. Assim como o movimen-
to ecológico. Mas não se pode se
limitar a dizer que isso se deve, tão
somente, ao que essa minoria ínfi-
ma, da classe média estudantil, fez.
Eu, na verdade, discorro sobre isso
na minha tese de doutorado, e ad-
vogo dizendo que essa movimenta-
ção trouxe avanços, mas que nem
todos advieram disso.
RS: Porque ainda é difícil fazer
um balanço desse período e suas
consequências?
Capellari: O fenômeno é recen-
te. Geralmente, o historiador que
trata do passado, trabalha com um
distanciamento maior. E os intelec-
tuais, que lidam com esse fenôme-
no, ou viveram esse fenômeno, e
que, portanto, estão subjetivamen-
te engajados nas questões discuti-
das, batalhadas, etc. Mas do meu
ponto de vista, enquanto historia-
dor, nenhum fenômeno histórico é
totalmente explicável. Sempre fica-
rá alguma questão pendente. Isso é
natural. Lidar com um fenômeno
do presente já é difícil, quanto mais
um turbilhão de fenômenos como
foram os anos 60.
(...) nenhum fenômeno his-
tórico é totalmente expli-
“cável. Lidar com um fenômeno do
presente ou do passado recente é
difícil, quanto mais um turbilhão de
fenômenos como foi os Anos 60”
Divulgação
4 5
AGRICULTURA
COMO TUDO
COMEÇOU
Com as inconstantes chuvas
dos meses de junho e julho
em 2012, a safra de tomate sofreu
grandes perdas e chegou aos su-
permercados custando cerca de
R$10 o quilo no Brasil inteiro.
“Claro que notei o aumento no
preço do tomate, chegou a R$ 10!
O problema é que eu gosto muito
de tomate, então eu consumia me-
nos, mas não deixava de comprar”,
afirmou a psicóloga Maria Helena.
A aposentada Josefa Maria Silva
concorda com ela. “Não tem como
parar de comprar, né? Mas aumen-
tou demais. Ou pelo menos nosso
dinheiro não estava acompanhan-
do a inflação”.
Esse aumento deveu-se as for-
tes chuvas no período de junho a
julho de 2012, que acabaram pre-
judicando bastante a safra de to-
mate em São Paulo.
“A muda de tomate é muito sen-
sível à geada e ao calor, então nor-
malmente período de primavera/
verão, a cultura de tomate acontece
na serra – do Mar da Mantiqueira
até Franca e Itupeva. Já no perío-
do de outono/inverno, o cultivo é
transferido para o planalto – em
Lins, Campinas”, explica Walde-
mar Pires. “Mas São Paulo vinha
batendo recordes de chuva, o que
acabou matando boa parte da sa-
fra”.
Consequentemente, o preço do
tomate foi prejudicado tanto no
varejo quanto no atacado. “Ima-
gina que apenas duas regiões [São
Paulo e Santa Catarina] tiveram
que suprir a demanda do Brasil
inteiro. Então o preço explode né?
Hoje o quilo custa, no máximo,
uns R$ 2,50 e naquela época a cai-
xa com 20 quilos chegou a custar
R$ 180”, afirma o vendedor do Ce-
agesp David Koyama.
Imagem por: Nathália Lopes
Foto: Saturnino Santos
Ministério Público Estadual
criminaliza ação de estudantes
por Denis Zanin e Saturnino Santos
“
Bando de vagabundos e ma-
conheiros”. A afirmação é dita
como verdade inquestionável
sobre os movimentos estudantis.
Mas será que esta afirmação está
correta?
Em novembro de 2011, a mí-
dia nacional iniciou um longo
debate sobre estes movimentos
e a educação pública no Ensino
Superior. Esta discussão foi de-
flagrada devido à ocupação da
reitoria da USP (Universidade
de São Paulo) por estudantes da
Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH).
Cinco dias após a ocupação
do edifício, a PM iniciou a de-
socupação do prédio: ocupou e
prendeu os 72 alunos que ali es-
tavam. O cumprimento da ação
de reintegração de posse seguiu-
-se por um protesto composto
por mais 250 alunos da insti-
tuição. Sob escolta da Tropa de
Choque, o protesto reivindicava
a democracia na universidade
pública.
Segundo os estudantes, o atu-
al Reitor e personagem principal
no debate, José Grandino Rodas,
iniciou uma parceria entre a PM
e Cidade Universitária. Rodas
deseja, desde então, iniciar tam-
bém um processo de privatiza-
ção da USP.
Hoje, um ano e cinco meses
após o confronto, dá-se início
à outro debate: no dia cinco de
fevereiro deste ano, a promoto-
ra Eliana Passarelli, do Ministé-
rio Público Estadual, apresen-
tou uma denúncia contra os 72
alunos presos durante a ação. A
denúncia de “formação de qua-
drilha” - e “danos ao patrimônio
público”-, indicam o mínimo de
oito anos de reclusão.
Danilo Bueno, 27, é funcioná-
rio público, mas até ano passado
estava cursando Jornalismo na
USP. Hoje formado, Danilo re-
lembra que decidiu integrar um
movimento estudantil pois acre-
dita que é uma ferramenta de
formação política, tanto do pon-
to de vista pessoal quanto pro-
fissional. “As pautas clássicas do
Movimento Estudantil (melhoria
do ensino, autonomia universitá-
ria, passe livre, mais verbas para
a educação, democracia na uni-
versidade) são importantes para
a sociedade e são uma discussão
obrigatória principalmente para
quem tem o privilégio de estudar
em uma universidade pública,
paga pelo povo brasileiro.”
Sobre a mídia, Danilo critica:
“A mídia brasileira está preocu-
pada com dinheiro e influência
política. Ela não tem interesse em
falar que a USP é uma das únicas
universidades públicas que não
tem eleição direta para Reitor,
nem mostrar como a faculda-
de pública está se privatizando
pouco a pouco, com o enriqueci-
mento de uns poucos dirigentes
mal intencionados.”
Mas será que com tanta dis-
cussão, o Movimento Estudan-
til ainda consegue fazer valer os
direitos dos estudantes? Danilo
afirma: “Se esses movimentos
dão resultado ou não, eu posso
afirmar com toda certeza: sem-
pre dão resultado.”
FEV/12
Preço Médio do Tomate (Kg)
no Período de Fev/12 a
Abril/13
MAR/12
ABR/12
MAI/12
JUN/12
JUL/12
AGO/12
SET/12
OUT/12
NOV/12
DEZ/12
JAN/13
FEV/13
MAR/13
ABR/13
Desde o início do ano
de 2013, o preço do
tomate subiu 125%.
Apesar disso, o pro-
prietário da loja Minas
Douradas do Ceagesp,
Elesbão dos Santos,
atenta para o valor
pelo qual o tomate
era revendido em
feiras, sacolões e su-
permercados. “Aqui
eu vendi por R$120
a caixa. Ou seja, eles
compraram por uns
R$6 aqui e venderam
para o consumidor por
R$12, dando a impres-
são de que o tomate
estava muito mais caro
do que a realidade”.
6 7
EDUCAÇÃO
N
ão é difícil lembrar de al-
guns nomes, dentro do
nosso círculo social, que
tiveram que adiar ou abandonar
um projeto de um livro, de um
pequeno negócio, ou talvez um
Trabalho de Conclusão de Cur-
so mais ambicioso por falta de
dinheiro para começar. Foi para
cobrir essa demanda que surgiu
em meados de 2009, nos Estados
Unidos, o Kickstarter – o primeiro
site de financiamento coletivo no
mundo. Seguido de outros tantos,
mundo afora, que se inspiraram
na ideia criando uma rede de em-
preendedores entusiastas de ideias
criativas e inovadoras de baixo or-
çamento.
De acordo com uma pesquisa
divulgada pela empresa norte-
-americana de consultoria Mas-
solution, o crowdfunding mo-
vimentou 2,7 bilhões de dólares
no ano passado, um Aumento de
81% do valor registrado em 2011.
De acordo com a companhia,
existem oficialmente 813 plata-
formas com esse viés no mundo
inteiro. A consultoria prevê que
US$ 5,1 bilhões de dólares serão
levantados por plataformas de
crowdfunding este ano, e tende a
se voltar cada vez mais ao finan-
ciamento de pequenos empre-
endimentos em vez de projetos
sociais, categoria mais popular
atualmente. No Brasil, segundo
o site Mapa do Crowdfunding,
existem atualmente 26 sites com
essa proposta.
Esse modelo de micro-crédito
individual voltado para projetos
criativos, teve sua estréia oficial
no Brasil no início de 2011, com o
site Catarse, e vem ganhando visi-
bilidade desde então. O Vakinha,
o Queremos, o Let’s, o Impulso
(para pequenos empreendimen-
tos), o Bicharia (especializado em
doações para animais carantes),
por Denis Zanin e Karina França
Na Internet, “vaquinha”
volta a ser hype
Financiamento colaborativo ou crowdfunding é alternativa para qualquer um- com planejamen-
to e um bom networking- realizar projetos abandonados na gaveta ou mesmo “salvar” um TCC
Foto: Denis Zanin
Podcast com o economista
Adolfo Melito
o Mobilize FB (plataforma criada
como aplicativo para o Facebook)
são alguns deles.
Segundo Diego Reeberg, 25,
um dos idealizadores do Catar-
se, “é uma mudança na ideia de
como a cultura pode acontecer
no país.” O modelo é mais uma
alternativa para quem não pode
ou quer se ver longe das tarifas
de empréstimos bancários, da
burocracia dos editais e do apoio
negociado da iniciativa privada.
E, claro, também para os preci-
sam de pouco dinheiro e não têm
ideia do que fazer para levar suas
ideias adiante.
ECONOMIA CRIATIVA
Desde os idos de 2006, a web
permite que bilhões de pessoas
consumam e compartilhem con-
teúdo – e também o produzam.
E é nesse contexto globalizado
e participativo que surge a cha-
mada “crowd economy” ou “eco-
nomia das multidões”. O modelo
econômico vigente passa por uma
fase turbulenta e de renovação de
ideias. Além disso, nos últimos
anos, a participação dos bens cul-
turais na produção e no comércio
mundial aumentou considera-
velmente - é a indústria cultural
chamando a atenção dos econo-
mistas.
Nesse cenário, em meados da
década de 90, na linha do mode-
lo de Economia Sustentável, surge
a ideia de Economia Criativa. O
termo teria nascido em 2001, em
publicação do jornalista norte-
-americano especializado em ino-
vação, John Howkins. Ela lida com
recursos intangíveis (criatividade,
inovação, design, conhecimento e
cultura) que não se esgotam, sen-
do renovados e multiplicados com
o uso. Nesse contexto, a criativi-
dade passa a ser entendida como
um importante ativo econômico.
Passa a ser vista não mais como
despesa, e como investimento.
Segundo Adolfo Melito, eco-
nomista e presidente do Conse-
lho de Criatividade e Inovação
da Fecomercio de São Paulo, o
conceito nasceu na Austrália e
inspirou a Inglaterra a aplica-lo
na Economia, desenvolvendo um
plano estratégico para os con-
siderados setores da Economia
Criativa. “Posteriormente, nos
Estados Unidos, o conceito so-
freu modificações de forma a não
mais estar estritamente associado
às áreas tradicionalmente ligadas
à criatividade, tal como as artes, a
arquitetura, o design e etc.”, conta
Melito. E assim veio para o Brasil.
O crowdfunding, por exemplo,
faz parte desse novo ciclo econô-
mico – e apesar de geralmente
estar associado a essas áreas, tam-
bém está gerando valor e abran-
gendo a área acadêmica, cientí-
fica e social. Hoje o mercado da
cultura já é reconhecido como um
setor-chave no desenvolvimento
da economia brasileira – embora
não tenha sido ainda agraciado
com políticas de incentivo am-
plamente eficazes. Ao menos até
agora.
Em 1º de junho de 2012, foi
criada a SEC (Secretaria de Eco-
nomia Criativa) ligada ao Minis-
tério do Cultura que, munida com
o Plano diretor, pretende estabe-
lecer, até 2014, políticas nacio-
nais de economia criativa, além
do levantamento das demandas
dos setores chamados “criativos”
e também a articulação de parce-
rias institucionais dentro e fora do
governo.
Acesse aqui o Plano da Secreta-
ria de Economia Criativa do Mi-
nistério da Cultura.
8 9
ECONOMIA
Dicas básicas
para um CROWDFUNDING bem sucedido:
Ideia
inovadora
Rede online
e offline de
apoiadores em
potencial
Divulgação
direcionada
através das
mídias
digitais
Plataforma
para
captação
de recursos
Projeto bem
redigido + vídeo
de divulgação
Aideia não é tão nova. O forma-
to lembra a famosa vaquinha
entre amigos para realizar aquela
viagem impossível e foi a base para
o sucesso de uma série de even-
tos com finalidades filantrópicas
como o Live Aid e o Criança Es-
perança. Mas vem se expandindo
rapidamente com a ajuda da web
e das mídias sociais. E as pessoas
estão, cada vez mais, se aproprian-
do dela.
“É uma via complementar a ou-
tras formas de financiamento”, ex-
plica Reenberg, que chama a aten-
ção para a inesperada demanda de
empreendedores da área acadêmi-
ca. “Às vezes, com um pouco mais
de recursos as pessoas conseguem
fazer um trabalho (de conclusão
de curso) de mais qualidade”.
Em alguns sites, os financia-
dores são recompensados – algo
a ser pensado previamente – com
créditos (em um documentário,
por exemplo) ou com um brinde
(como uma camiseta com o nome
do projeto). Em outros, o retorno
é financeiro. E existem projetos em
você pode tão somente emprestar
um tripé de câmera ou uma esca-
da para ajudar na produção de um
evento.
De acordo com o economista
Adolfo Melito, presidente do Con-
selho de Criatividade e Inovação
da Fecomercio de São Paulo, exis-
tem cinco tipos de crowdfunding:
baseado em doações, em recom-
pensa, em co-produção, em clube
de empréstimos ou voltado ao ca-
pital inicial de empresas startups.
Para publicitária e diretora da
agência de marketing Cult Cultu-
ra, especializada estratégias para
Crowdfunding, Thais Polimeni,
28, uma característica dessa “onda”
de crowdfunding é a possibilidade
de provocar transformação social.
“Projetos sociais ganham mais ver-
ba, pois se enxerga mais valor na-
quilo que terá um retorno para a
sociedade, e não apenas para quem
está propondo o projeto”.
A equipe do LAB SP (incubado-
ra do Instituto Escola São Paulo),
por exemplo, criou o projeto Au-
gustaComVida cuja ideia é ocupar
e transformar a famosa rua augus-
ta “no primeiro parque vertical em
escala urbana” no dia 19 de maio,
paralelamente à Virada Cultural
paulistana.
Até o dia 29 de abril o projeto
divulgado no Catarse contava com
a arrecadação de R$ 3.703.E este é
só mais um entre 89 projetos que
estão online no momento apenas
nessa plataforma.
CROWD... O QUÊ? EM BRIGA DE
MARIDO E MULHER...
Completados sete anos da Lei Maria da Penha, balanço revela que violência contra a mulher
nos relacionamentos ainda é considerado algo normal
por Karina França e Nathália Lopes
D
os tempos da vovó, a
frase pronta que desa-
conselha a “intromissão”
na contenda dos casais ainda faz
parte da cultura brasileira – ainda
que envolvam socos e pontapés.
Mas estudos do CEBELA (Cen-
tro Brasileiro de Estudos Latino-
-Americanos) e da Secretaria de
Segurança de Estado de São Pau-
lo indicam que isso está mudan-
do. E o mérito é da Lei Maria da
Penha. O Conselho Nacional de
Justiça estima que desde 2006,
quando a lei entrou em vigor, as
denúncias feitas pela Central de
Atendimento à Mulher (ligação
gratuita para o número 180) au-
mentaram 40%.
O texto cria mecanismos para
coibir e prevenir a violência do-
méstica e familiar contra a mu-
lher, formando uma rede de apoio
que abrange e integra desde as
Delegacias de Defesa da Mulher
aos Centros de Cidadania. “Hoje
nós temos uma interação maior
com o Poder Judiciário, o Mi-
nistério Público e outros“, con-
ta Marli Tavares, delegada da 1ª
Delegacia de Defesa da Mulher,
localizada na zona central de São
Paulo. “Antes, autor (da agressão
ou ameaça) poderia responder
com várias cestas básicas”.
Hoje, um dos maiores entraves
para a lei funcione em sua plena
eficácia, é justamente a falta de
conhecimento de parte da so-
ciedade, inclusive magistrados.
“Quando falamos em violência,
logo pensamos na violência físi-
ca. Mas há outros tipos, como a
moral, a psicológica, a sexual e a
patrimonial (danos materiais)”,
explica Ana Paula Oliveira Castro
Meirelles, 32, coordenadora do
Núcleo Especializado de Promo-
ção e Defesa dos Direitos da Mu-
lher (NUDEM). “A violência se-
xual pode ocorrer dentro de um
casamento. Se o homem forçar (o
ato sexual), é uma violência“.
“Homem de Verdade
Não Bate em Mulher”
“Homem de Verdade Não Bate
em Mulher” é o mote da nova cam-
panha contra a violência de gêne-
ro criada pelo Banco Mundial. A
peça, lançada na web no mês do
Dia Internacional da Mulher e que
agora figura também em ônibus
e terminais do Metrô, usa rostos
masculinos célebres – chaman-
do os anônimos para participar
enviando suas fotos através das
redes sociais – com cartazes que
chamam a atenção para o proble-
Reprodução: imagem criada por Duda Schneider
10 11
POLÍTICA
F
ui usado e abusado.
Estava eu, em um sábado
nublado, na feira de antigui-
dades da Praça Benedito Calixto,
em Pinheiros. Estava a procura de
um novo vinil para minha coleção.
Frequentemente, me perguntam
os motivos que me levam a adqui-
rir estes antigos – e grandes – dis-
cos, mas isso dá muito “pano para
manga” e deixo para um próximo
texto.
Fato é que, naquele dia, estava
concentrado na coleção de LPs
do senhor Deivis. Concentrado, à
procura de um “novo” (por assim
dizer) do Bituca, quando de súbito,
uma voz brotou do fluxo de pesso-
as que por ali passava.
-“Oi, posso te fazer uma per-
guntinha?”
-“Claro” – disse eu à voz, de for-
ma automática.
Me arrependi.
Meus olhos deslizaram da caixa
de LPs à dona da voz: loira de olhos
verdes, 1,70m, vestida com uma
Em junho de 2014, o mundo in-
teiro estará em festa. Bilhões
de pessoas assistirão ao maior es-
petáculo do esporte mundial aqui
no Brasil: a Copa do Mundo.
O governo brasileiro está mais
do que empenhado em fazer des-
se evento uma grande e bonita
festa. Uma prova disso é que em
Outubro de 2007, no ano em que o
Brasil foi escolhido como sede da
Copa, a previsão - segundo maté-
ria da Veja - era de que os gastos
ma no Brasil, onde as ações foram,
durante muito tempo, delegadas
às organizações da sociedade civil,
sem que o Estado e os governos as
colocassem no centro de suas pre-
ocupações.
Essa situação vem mudando
nos últimos sete anos, quando da
promulgação da Lei 11.340. Des-
de então, tornou-se mais claro o
panorama da violência doméstica
no Brasil. De acordo com o Mapa
da Violência 2012 – Homicídios
de Mulheres no Brasil, realizado
pelo CEBELA, uma em cada cin-
co brasileiras afirma ter sofrido
algum tipo violência por parte do
parceiro ou parceira. “Está para
ser aprovada uma lei que regulari-
za a doação de ‘bolsas’ no valor de
1 mil reais para as mulheres agre-
didas”, lembra Meirelles, “É mui-
to comum as mulheres não de-
nunciarem a violência por serem
economicamente dependentes do
agressor”.
Neste cenário, o Centro de Ci-
dadania da Mulher (CMM) atua
para fortalecer o apoio às vítimas
de agressão. “Orientamos e, de-
pendendo dos casos, encaminha-
mos para a Defensoria Pública do
Estado, que atua dentro do CCM
e/ou para outros serviços, como
saúde, educação, habitação, entre
outros”, diz Carla Carvalho, Coor-
denadora do CCM de Itaquera.
O registro publicado pela Se-
cretaria de Segurança Pública do
Estado mostra que, apenas no pri-
meiro semestre de 2012, 47.555
denúncias sobre violência contra a
mulher foram realizadas.
O aumento é significativo se
compararmos ao número total de
denúncias no ano anterior, que to-
taliza 74.984 atendimentos. E um
dos fatores que podem ter contri-
buído para tanto, data do inÍcio
deste mesmo ano: a decisão do
STF de que terceiros também po-
dem denunciar, inclusive anoni-
mamente. Dentre as denúncias re-
gistradas, mais da metade refere-se
à violência física e psicológica.
Na opinião de Ana Paula Oli-
veira Castro Meirelles, os dados
apenas refletem uma realidade
agora aparente justamente por
conta da Lei. “Não acredito no
aumento da violência em si, mas
no aumento de casos de violên-
cia registrados”, afirma Meirelles,
que completa: “Tudo o que a lei
prevê é muito ‘bonito’, mas ainda
falta muito para ser efetivamente
aplicado”.
Divulgação
OMapa da Violên-
cia de 2012 mos-
tra que a violência do-
méstica mais comum é
a física, representando
56,64%. O ambiente
de medo no qual essas
mulheres estão inseri-
das, e que impede mui-
tas delas de denunciar,
coloca a violência psi-
cológica em segundo.
Omesmo estudo mostra
que a maioria das mu-
lheres sofrem com a violên-
cia doméstica pelas mãos de
seus conjuges ou ex, e na-
morados atuais ou ex. Isso
acontece principalmente se
estudarmos a faxa etária de
20 a 49 anos de idade.
Apesar disso, é um erro
acreditar que denúncias
contra violência doméstica
praticada contra as mulheres
só podem ser feitas contra
pessoas com quem as mu-
lheres possuem relaciona-
mentos amorosos. Qualquer
homem (ou mulher), com
ou sem laço afeto com a ví-
tima, pode ser denunciado.
56,64%
27,21%
12,19%
1,9%
1,5%
0,4%
Violência Física
Violência Psicológica
Violência Moral
Violência Patrimonial
Violência Sexual
Outros
entre 20 e 29 anos
entre 30 e 39 anos
entre 40 e 49 anos
0 10 20 30 40 50 60
Conjuge
Namorado
Ex-Conjuge
Ex-Namorado
Podcast com a delegada
Dra. Marli Tavares
camisa social azul, e calça jeans.
Me arrependi quando meus
olhos se fixaram nos olhos verdes,
e como um golpe sorrateiro, bro-
tou, de suas mãos, um microfone
da Record.
De todas as minhas hesitações
ao andar pela rua, evitar a televisão
está na primeira posição da lista.
Detesto.
Ao seu lado, um rapaz puxou a
câmera, e a luz vermelha me dizia:
“Estou gravando você, otário”. A
minha cara de espanto e insatis-
fação surgiu em meu rosto, que se
curvava longe da câmera.
“Ah! Mas você disse que podia
responder”, argumentou de forma
ríspida a jornalista. E seguiu com
a pergunta:
- “Sabemos que existem outros
ovos...”, ia dizendo a repórter en-
quanto eu, distante dali, pensava:
Quem é você? Record? Por quê?
Para que? Onde? Quando? Ovos?
De Páscoa? Mas a Páscoa passou já
faz quase dois meses!”
chegassem à R$ 5 bilhões. E cá es-
tamos nós, pouco mais de 5 anos e
meio depois e já gastamos cerca de
R$7 bilhões, apenas com a cons-
trução dos 12 estádios requeridos
pelo Comitê Gestor da Copa.
O interessante é que 97% desse
dinheiro será retirado dos cofres
públicos, ou seja, aquela dinheira-
ma que é pagamos todos os anos
pelos mais variados impostos, po-
deria, segundo o site BOL, servir
para a construção de 123 hospi-
- “... outros ovos, além do ovo
de galinha: ovos de codorna, ovos
de pata. Você já experimentou es-
tes ou outros ovos?” – continuou
a loira.
- “Não”, a única resposta inteli-
gente e sincera que pude pensar no
meu espanto.
- “Mas você não tem...” – en-
quanto ela perguntava, eu me dis-
traia com sua incapacidade de me
explicar os motivos.
-“...tem interesse em provar ou-
tros ovos?”.
-“Não”.
Odeio ovos.
E ela continuou sem parar, até
que por fim ela agradeceu e partiu.
Partiu para um próximo questio-
nário à pessoa que seguia por ali.
Odeio ovos, a loira e televisão.
Fui usado e abusado sem per-
missão.
O nome da jornalista fui desco-
brir uma semana depois quando
meu susto passou. Carla Francisco
para o Programa da Tarde.
tais, 149 estações de metrô, 2857
creches, 125 presídios, mais de 641
viaturas de polícia, 20.3 milhões
de notebooks escolares, ou pavi-
mentar quase 11 mil km de rodo-
vias. Ao invés disso, servirá para
construir estádios de futebol que,
segundo informações do Portal
UOL, serão controlados por ini-
ciativas privadas.
Bom, é como dizem: “cada um
com suas prioridades”. O Brasil só
tem uma, e muito bem definida.
SOBRE A TELEVISÃO E A JORNALISTA
O BRASIL É MESMO O PAÍS DO FUTEBOL
por Denis Zanin
por Nathália Lopes e Saturnino Santos
12 13
CRÔNICA
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  • 1. Em entrevista exclusiva, o historiador Marcos Capellari fala sobre a importância do movimento para o povo brasileiro durante a ditadura e em diversas partes do mundo Entenda a nova febre da internet CONTRACULTURA CROWDFUNDING: ANO 1 - EDIÇÃO 1 REVISTA
  • 2. por Karina França Em entrevista, o historiador Marcos Capellari, especialista em Contracultura, desmistifica a data e faz um balanço do período que viu nascer e reverberar o movimento marginal – de um jeito ou de outro – no mundo todo P ara formar-se Mestre em História Social pela Univer- sidade de São Paulo (USP), o historiador e escritor Marcos Alexandre Capellari debruçou-se sobre a Contracultura, movimento juvenil subversivo à ordem política, social e comportamental, surgido nos anos 60, nos Estados Unidos. Resultante de processos já em de- senvolvimento, ela se espalhou pelo mundo ajudando a tornar o “Maio de 68” um mito, quase um perso- nagem a qual se costuma lançar um olhar idealizado e simplista. Hoje, completados 45 anos do início do Movimento de Contracultura, o historiador birigüiense e corinthia- no – que afirma “ser corinthiano mesmo é uma forma de contracul- tura!” – faz um balanço do movi- mento nessa entrevista para a Re- vista Sensu. Revista Sensu: O “maio de 68” geralmente é visto como um mo- mento que envolve uma eferves- cência fora do comum da juventu- de, sobretudo universitária. Por quê? Qual era o contexto político/ social/ econômico da época? Capellari: A contracultura teve origem nos Estados Unidos. Hou- ve também movimentações na Europa. A contracultura é um questionamento da cultura vigen- te – ou seja, da civilização cristã Ocidental, de seus valores. Isso começa no Primeiro Mundo e tem repercussões, inclusive no Bra- sil. É um contexto muito comple- xo. Do ponto de vista econômi- co, por exemplo, Hobsbawn fala que esse período faz parte dos 25 anos da Era de Ouro, um período de grande crescimento econômi- co no mundo capitalista, que teve repercussão em outras esferas. Por exemplo, no aspecto educacional, há um crescimento imenso no nú- mero de universitários. Por outro lado, há uma divisão muito grande entre países pobres e ricos. Isso, em função também da intensificação do processo de globalização, com a implantação de multinacionais em países do terceiro mundo, e etc. RS: Como se deu o movimento aqui no Brasil, em plena ditadura militar? Capellari: O movimento se intro- duz no Brasil com a Tropicália e, a partir de 1969, com o ingresso de Luiz Carlos Maciel no jornal “O Pasquim”, começa a ser difundido de forma mais sistemática e apre- ciado por uma parcela de leitores. Ele escrevia artigos no semanário a respeito do movimento hippie, das drogas, das religiões orientais, da sexualidade. A contracultura no Brasil, enquanto movimento, não tem a proporção da que ocorre nos Estados Unidos. Lá ocorrem pas- seatas, algumas das quais lideradas por Allen Ginsberg, por exemplo, que é considerado um dos mestres da cultura Hippie, do Movimento Beat. No Brasil, isso não ocorre em função da própria repressão. A partir do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, qualquer forma de par- ticipação política era censurada, reprimida. Em relação à contracul- tura ocorre o mesmo. Ela acaba se tornando um modo de vida alter- nativo, com o culto às drogas, ao amor livre; e que está relacionado à modernização cultural pela qual o Brasil vinha passando, como ou- tros países. Mas também não dá para dizer que da contracultura Entendendo Maio de 68 Divulgação 3 ENTREVISTA por Denis Zanin editor Denis Zanin design gráfica Nathália Lopes ilustração da capa Denis Zanin redatores Denis Zanin Karina França Nathália Lopes Saturnino Santos plataforma online Calaméo A Revista Sensu é uma publi- cação semanal com exlusiva e independente produção dos alunos Denis Zanin, Karina França, Nathália Lopes e Sa- turnino Santos - 7º semestre de Jornalismo - UNIP e edição em parceria com a Profª Tânia Trajano. A revista utiliza-se da plataforma Calaméo para disponibilização online, além de contar com uma versão em PDF Interativo distribuída exclusivamente para os pro- fessores Eduardo Rocha e Tâ- nia Trajano, que ministram as disciplinas de Webjornalismo e Edição Jornalística, respecti- vamente. D esde o crescimento da Internet, veículos de co- municação e jornalistas preocupam-se em discutir o im- pacto da Rede em seus periódicos; buscam alternativas para retomar o crescimento de outrora. Tal des- valorização do produto jornalístico e a queda de circulação, acarretou em demissões simultâneas pelas re- dações, e o fim da versão impressa do “Jornal do Brasil”. Dentre todos estes e outros fatores, lembremos também a crise financeira interna- cional ocorrida em 2009. Neste debate sem fim, voltamos à questão inicial: “No contexto atu- al, qual é a salvação do jornalis- mo?”. Esta edição que você, caro leitor, percorre com seu mouse é a primei- ra experiência para se buscar uma alternativa aos problemas citados anteriormente. O produto que está na tela de seu computador é fruto dos alicerces do jornalismo tradi- cional agregando-se ao novo jor- nalismo: preocupado em difundir seu conteúdo, na “nova mídia”, com qualidade, credibilidade e inovação. OS JORNALISTAS DE AMANHÃ EXPEDIENTE EDITORIAL ANO 1 - EDIÇÃO 1 SUMÁRIO PÁG. 13 O Brasil sediará a Copa do Mundo em 2014, mas será que de- veríamos investir tan- to no evento? OPINATIVO PÁG. 03 O historiado Marcos Capellari explica os aspectos do Movi- mento de Contracultura no Bra- sil e no mundo ENTREVISTA EXCLUSIVA PÁG. 07 Estudantes lutam por seus direi- tos mas acabam criminalizados pelo Ministério Público MOVIMENTO ESTUDANTIL PÁG. 05 Preço alto de tomate, cebola e farinha de trigo provocam piadas nas redes sociais TOMATE PÁG. 08 Na Era da Internet, “vaquinha virtual” se torna alternativa no financiamento de projetos criativos CROWDFUNDING
  • 3. por Nathália Lopes T omate, cebola e farinha de trigo. Três produtos que aparentam não ter nada em comum ganham destaque por conta alto custo pelo qual são re- vendidos desde o começo do ano. Em março, por exemplo, o qui- lo de tomate chegou a custar mais de R$10 nos supermercados. Este fato tornou-se motivo de piada nas redes sociais. O Facebook, princi- palmente, virou palco para a di- vulgação de diversos memes e até brincadeiras envolvendo a ex-no- vela das 9 da Globo, “Salve Jorge” (veja ao lado). Quando o preço voltou a nor- malizar no começo deste mês, a cebola se tornou o novo vilão do consumidor. “Nenhum produto terá um pre- ço tão elevado quanto o tomate teve no mês de maio, mas se pa- rarmos para analisar a cebola está muito cara”, afirma Waldemar Pi- res de Camargo Filho, economis- ta da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Segundo ele, se as fortes chuvas em São Paulo, principal produtor de tomate de mesa do Brasil (en- tenda a diferença entre tomate de mesa e industrial no podcast), a seca no Nordeste é a causa do au- mento no preço da cebola. “O Nordeste, em especial Per- nambuco, é o distribuidor núme- ro 1 de hortaliças do Brasil. Per- nambuco, por exemplo, representa 20% da produção de cebola no ter- ritório nacional. Mas a plantação de cebola precisa de água e, com a falta dela, a plantação foi prejudi- cada”, explica Waldemar. A seca em Pernambuco, se- gundo dados de estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) a pedido do governo federal, se mantem há 2 anos e já é considera- da por especialistas a mais severa dos últimos 60 anos. Além de prejudicar a safra de cebola - fazendo seu preço aumen- tar em grande parte do território nacional - a seca também já conta- bilizou a perda de mais de 250 mil cabeças de gado. As constantes mudanças cli- máticas são também a causa para o aumento no preço da farinha de trigo e derivados. Apesar de o Sindicato da Indús- tria do Trigo afirmar que o valor do produto subiu 40% entre Novem- bro de 2012 e o início desse ano, dados do Sindipan (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Panificação e Confeitaria, Massas Alimentícias e Biscoitos) apontam que houve uma queda de aproxima- damente 8,5% em Março de 2013. De acordo com o economis- ta Waldemar Pires, o valor desses três vilões das donas de casa deve baratear antes do último trimestre. “Se não tiver mais chuvas fortes e a seca no Nordeste melhorar, o preço da cebola, por exemplo, deve chegar a cerca de R$0,50 na roça, por volta de Agosto ou Setembro, e chegar aos supermercados custan- do, em média, R$1 o quilo”. Reprodução: imagem criada por Duda Schneider Vilões dos Consumidores Podcast com o economista Waldemir P. de C. Filho Produtos comuns nas mesas dos paulistanos, como farinha de trigo, cebola e tomate começam o ano de 2013 com o preço nas alturas, afetando o bolso das donas de casa advieram todas as transformações do cotidiano dos anos 70, 80 e 90, até agora. RS: Movimento hippie, movi- mento feminista, movimento es- tudantil etc... Era um momento em que o status quo da sociedade era duramente contestado. Havia algo de comum nas contestações? Capellari: Havia contestação, so- bretudo entre jovens universitários ou secundaristas, e ela tem origem nos Estados Unidos. Em 1964 já ocorre uma forte movimentação em função da Guerra do Vietnã, e em também pela exigência de mais liberdade de expressão. Vive- -se, ao mesmo tempo, um processo intenso de modernização econô- mica e social, em função, inclusi- ve, da difusão cada vez maior dos meios de comunicação de massa. Por outro lado, se tem uma socie- dade extremamente conservado- ra! E há outros aspectos. Entre os negros, há uma intensificação, nos Estados Unidos, de contestação ao apartheid. Há contestações de vá- rias ordens: política – no caso da França, por exemplo, em 1968, em relação à Guerra na Argélia; há, no Brasil, em função da ditadura mi- litar; há contestação em países do Segundo Mundo, ou seja, socialis- tas, na tentativa de democratizar o socialismo existente. Não há uma contestação única. RS: Olhando hoje, onde estão seus efeitos – afinal, muitos movi- mentos estavam vivos antes des- se período. Porque ele ficou tão marcado na mente das pessoas? Capellari:O “1968” virou um mito, esse é o problema. Acabou sinteti- zando uma série de questionamen- tos dos anos 60. Em várias partes do mundo, sobretudo nos Estados Unidos. Em 1968, se viu eclodir, simultaneamente, várias formas de contestação, com algumas se- melhanças, mas com motivações muito próprias. No caso do Brasil, a contestação era relacionada aos acordos do MEC com o USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que visava modernizar nossas Uni- versidades, adotando um modelo norte-americano de educação. E havia ainda a contestação à Dita- dura Militar. Não era, portanto, algo necessariamente contracul- tural, como nos Estados Unidos. A modernização dos costumes, as lutas dos negros, das mulheres, dos homossexuais, foram enfatizadas em 1968. Assim como o movimen- to ecológico. Mas não se pode se limitar a dizer que isso se deve, tão somente, ao que essa minoria ínfi- ma, da classe média estudantil, fez. Eu, na verdade, discorro sobre isso na minha tese de doutorado, e ad- vogo dizendo que essa movimenta- ção trouxe avanços, mas que nem todos advieram disso. RS: Porque ainda é difícil fazer um balanço desse período e suas consequências? Capellari: O fenômeno é recen- te. Geralmente, o historiador que trata do passado, trabalha com um distanciamento maior. E os intelec- tuais, que lidam com esse fenôme- no, ou viveram esse fenômeno, e que, portanto, estão subjetivamen- te engajados nas questões discuti- das, batalhadas, etc. Mas do meu ponto de vista, enquanto historia- dor, nenhum fenômeno histórico é totalmente explicável. Sempre fica- rá alguma questão pendente. Isso é natural. Lidar com um fenômeno do presente já é difícil, quanto mais um turbilhão de fenômenos como foram os anos 60. (...) nenhum fenômeno his- tórico é totalmente expli- “cável. Lidar com um fenômeno do presente ou do passado recente é difícil, quanto mais um turbilhão de fenômenos como foi os Anos 60” Divulgação 4 5 AGRICULTURA
  • 4. COMO TUDO COMEÇOU Com as inconstantes chuvas dos meses de junho e julho em 2012, a safra de tomate sofreu grandes perdas e chegou aos su- permercados custando cerca de R$10 o quilo no Brasil inteiro. “Claro que notei o aumento no preço do tomate, chegou a R$ 10! O problema é que eu gosto muito de tomate, então eu consumia me- nos, mas não deixava de comprar”, afirmou a psicóloga Maria Helena. A aposentada Josefa Maria Silva concorda com ela. “Não tem como parar de comprar, né? Mas aumen- tou demais. Ou pelo menos nosso dinheiro não estava acompanhan- do a inflação”. Esse aumento deveu-se as for- tes chuvas no período de junho a julho de 2012, que acabaram pre- judicando bastante a safra de to- mate em São Paulo. “A muda de tomate é muito sen- sível à geada e ao calor, então nor- malmente período de primavera/ verão, a cultura de tomate acontece na serra – do Mar da Mantiqueira até Franca e Itupeva. Já no perío- do de outono/inverno, o cultivo é transferido para o planalto – em Lins, Campinas”, explica Walde- mar Pires. “Mas São Paulo vinha batendo recordes de chuva, o que acabou matando boa parte da sa- fra”. Consequentemente, o preço do tomate foi prejudicado tanto no varejo quanto no atacado. “Ima- gina que apenas duas regiões [São Paulo e Santa Catarina] tiveram que suprir a demanda do Brasil inteiro. Então o preço explode né? Hoje o quilo custa, no máximo, uns R$ 2,50 e naquela época a cai- xa com 20 quilos chegou a custar R$ 180”, afirma o vendedor do Ce- agesp David Koyama. Imagem por: Nathália Lopes Foto: Saturnino Santos Ministério Público Estadual criminaliza ação de estudantes por Denis Zanin e Saturnino Santos “ Bando de vagabundos e ma- conheiros”. A afirmação é dita como verdade inquestionável sobre os movimentos estudantis. Mas será que esta afirmação está correta? Em novembro de 2011, a mí- dia nacional iniciou um longo debate sobre estes movimentos e a educação pública no Ensino Superior. Esta discussão foi de- flagrada devido à ocupação da reitoria da USP (Universidade de São Paulo) por estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Cinco dias após a ocupação do edifício, a PM iniciou a de- socupação do prédio: ocupou e prendeu os 72 alunos que ali es- tavam. O cumprimento da ação de reintegração de posse seguiu- -se por um protesto composto por mais 250 alunos da insti- tuição. Sob escolta da Tropa de Choque, o protesto reivindicava a democracia na universidade pública. Segundo os estudantes, o atu- al Reitor e personagem principal no debate, José Grandino Rodas, iniciou uma parceria entre a PM e Cidade Universitária. Rodas deseja, desde então, iniciar tam- bém um processo de privatiza- ção da USP. Hoje, um ano e cinco meses após o confronto, dá-se início à outro debate: no dia cinco de fevereiro deste ano, a promoto- ra Eliana Passarelli, do Ministé- rio Público Estadual, apresen- tou uma denúncia contra os 72 alunos presos durante a ação. A denúncia de “formação de qua- drilha” - e “danos ao patrimônio público”-, indicam o mínimo de oito anos de reclusão. Danilo Bueno, 27, é funcioná- rio público, mas até ano passado estava cursando Jornalismo na USP. Hoje formado, Danilo re- lembra que decidiu integrar um movimento estudantil pois acre- dita que é uma ferramenta de formação política, tanto do pon- to de vista pessoal quanto pro- fissional. “As pautas clássicas do Movimento Estudantil (melhoria do ensino, autonomia universitá- ria, passe livre, mais verbas para a educação, democracia na uni- versidade) são importantes para a sociedade e são uma discussão obrigatória principalmente para quem tem o privilégio de estudar em uma universidade pública, paga pelo povo brasileiro.” Sobre a mídia, Danilo critica: “A mídia brasileira está preocu- pada com dinheiro e influência política. Ela não tem interesse em falar que a USP é uma das únicas universidades públicas que não tem eleição direta para Reitor, nem mostrar como a faculda- de pública está se privatizando pouco a pouco, com o enriqueci- mento de uns poucos dirigentes mal intencionados.” Mas será que com tanta dis- cussão, o Movimento Estudan- til ainda consegue fazer valer os direitos dos estudantes? Danilo afirma: “Se esses movimentos dão resultado ou não, eu posso afirmar com toda certeza: sem- pre dão resultado.” FEV/12 Preço Médio do Tomate (Kg) no Período de Fev/12 a Abril/13 MAR/12 ABR/12 MAI/12 JUN/12 JUL/12 AGO/12 SET/12 OUT/12 NOV/12 DEZ/12 JAN/13 FEV/13 MAR/13 ABR/13 Desde o início do ano de 2013, o preço do tomate subiu 125%. Apesar disso, o pro- prietário da loja Minas Douradas do Ceagesp, Elesbão dos Santos, atenta para o valor pelo qual o tomate era revendido em feiras, sacolões e su- permercados. “Aqui eu vendi por R$120 a caixa. Ou seja, eles compraram por uns R$6 aqui e venderam para o consumidor por R$12, dando a impres- são de que o tomate estava muito mais caro do que a realidade”. 6 7 EDUCAÇÃO
  • 5. N ão é difícil lembrar de al- guns nomes, dentro do nosso círculo social, que tiveram que adiar ou abandonar um projeto de um livro, de um pequeno negócio, ou talvez um Trabalho de Conclusão de Cur- so mais ambicioso por falta de dinheiro para começar. Foi para cobrir essa demanda que surgiu em meados de 2009, nos Estados Unidos, o Kickstarter – o primeiro site de financiamento coletivo no mundo. Seguido de outros tantos, mundo afora, que se inspiraram na ideia criando uma rede de em- preendedores entusiastas de ideias criativas e inovadoras de baixo or- çamento. De acordo com uma pesquisa divulgada pela empresa norte- -americana de consultoria Mas- solution, o crowdfunding mo- vimentou 2,7 bilhões de dólares no ano passado, um Aumento de 81% do valor registrado em 2011. De acordo com a companhia, existem oficialmente 813 plata- formas com esse viés no mundo inteiro. A consultoria prevê que US$ 5,1 bilhões de dólares serão levantados por plataformas de crowdfunding este ano, e tende a se voltar cada vez mais ao finan- ciamento de pequenos empre- endimentos em vez de projetos sociais, categoria mais popular atualmente. No Brasil, segundo o site Mapa do Crowdfunding, existem atualmente 26 sites com essa proposta. Esse modelo de micro-crédito individual voltado para projetos criativos, teve sua estréia oficial no Brasil no início de 2011, com o site Catarse, e vem ganhando visi- bilidade desde então. O Vakinha, o Queremos, o Let’s, o Impulso (para pequenos empreendimen- tos), o Bicharia (especializado em doações para animais carantes), por Denis Zanin e Karina França Na Internet, “vaquinha” volta a ser hype Financiamento colaborativo ou crowdfunding é alternativa para qualquer um- com planejamen- to e um bom networking- realizar projetos abandonados na gaveta ou mesmo “salvar” um TCC Foto: Denis Zanin Podcast com o economista Adolfo Melito o Mobilize FB (plataforma criada como aplicativo para o Facebook) são alguns deles. Segundo Diego Reeberg, 25, um dos idealizadores do Catar- se, “é uma mudança na ideia de como a cultura pode acontecer no país.” O modelo é mais uma alternativa para quem não pode ou quer se ver longe das tarifas de empréstimos bancários, da burocracia dos editais e do apoio negociado da iniciativa privada. E, claro, também para os preci- sam de pouco dinheiro e não têm ideia do que fazer para levar suas ideias adiante. ECONOMIA CRIATIVA Desde os idos de 2006, a web permite que bilhões de pessoas consumam e compartilhem con- teúdo – e também o produzam. E é nesse contexto globalizado e participativo que surge a cha- mada “crowd economy” ou “eco- nomia das multidões”. O modelo econômico vigente passa por uma fase turbulenta e de renovação de ideias. Além disso, nos últimos anos, a participação dos bens cul- turais na produção e no comércio mundial aumentou considera- velmente - é a indústria cultural chamando a atenção dos econo- mistas. Nesse cenário, em meados da década de 90, na linha do mode- lo de Economia Sustentável, surge a ideia de Economia Criativa. O termo teria nascido em 2001, em publicação do jornalista norte- -americano especializado em ino- vação, John Howkins. Ela lida com recursos intangíveis (criatividade, inovação, design, conhecimento e cultura) que não se esgotam, sen- do renovados e multiplicados com o uso. Nesse contexto, a criativi- dade passa a ser entendida como um importante ativo econômico. Passa a ser vista não mais como despesa, e como investimento. Segundo Adolfo Melito, eco- nomista e presidente do Conse- lho de Criatividade e Inovação da Fecomercio de São Paulo, o conceito nasceu na Austrália e inspirou a Inglaterra a aplica-lo na Economia, desenvolvendo um plano estratégico para os con- siderados setores da Economia Criativa. “Posteriormente, nos Estados Unidos, o conceito so- freu modificações de forma a não mais estar estritamente associado às áreas tradicionalmente ligadas à criatividade, tal como as artes, a arquitetura, o design e etc.”, conta Melito. E assim veio para o Brasil. O crowdfunding, por exemplo, faz parte desse novo ciclo econô- mico – e apesar de geralmente estar associado a essas áreas, tam- bém está gerando valor e abran- gendo a área acadêmica, cientí- fica e social. Hoje o mercado da cultura já é reconhecido como um setor-chave no desenvolvimento da economia brasileira – embora não tenha sido ainda agraciado com políticas de incentivo am- plamente eficazes. Ao menos até agora. Em 1º de junho de 2012, foi criada a SEC (Secretaria de Eco- nomia Criativa) ligada ao Minis- tério do Cultura que, munida com o Plano diretor, pretende estabe- lecer, até 2014, políticas nacio- nais de economia criativa, além do levantamento das demandas dos setores chamados “criativos” e também a articulação de parce- rias institucionais dentro e fora do governo. Acesse aqui o Plano da Secreta- ria de Economia Criativa do Mi- nistério da Cultura. 8 9 ECONOMIA
  • 6. Dicas básicas para um CROWDFUNDING bem sucedido: Ideia inovadora Rede online e offline de apoiadores em potencial Divulgação direcionada através das mídias digitais Plataforma para captação de recursos Projeto bem redigido + vídeo de divulgação Aideia não é tão nova. O forma- to lembra a famosa vaquinha entre amigos para realizar aquela viagem impossível e foi a base para o sucesso de uma série de even- tos com finalidades filantrópicas como o Live Aid e o Criança Es- perança. Mas vem se expandindo rapidamente com a ajuda da web e das mídias sociais. E as pessoas estão, cada vez mais, se aproprian- do dela. “É uma via complementar a ou- tras formas de financiamento”, ex- plica Reenberg, que chama a aten- ção para a inesperada demanda de empreendedores da área acadêmi- ca. “Às vezes, com um pouco mais de recursos as pessoas conseguem fazer um trabalho (de conclusão de curso) de mais qualidade”. Em alguns sites, os financia- dores são recompensados – algo a ser pensado previamente – com créditos (em um documentário, por exemplo) ou com um brinde (como uma camiseta com o nome do projeto). Em outros, o retorno é financeiro. E existem projetos em você pode tão somente emprestar um tripé de câmera ou uma esca- da para ajudar na produção de um evento. De acordo com o economista Adolfo Melito, presidente do Con- selho de Criatividade e Inovação da Fecomercio de São Paulo, exis- tem cinco tipos de crowdfunding: baseado em doações, em recom- pensa, em co-produção, em clube de empréstimos ou voltado ao ca- pital inicial de empresas startups. Para publicitária e diretora da agência de marketing Cult Cultu- ra, especializada estratégias para Crowdfunding, Thais Polimeni, 28, uma característica dessa “onda” de crowdfunding é a possibilidade de provocar transformação social. “Projetos sociais ganham mais ver- ba, pois se enxerga mais valor na- quilo que terá um retorno para a sociedade, e não apenas para quem está propondo o projeto”. A equipe do LAB SP (incubado- ra do Instituto Escola São Paulo), por exemplo, criou o projeto Au- gustaComVida cuja ideia é ocupar e transformar a famosa rua augus- ta “no primeiro parque vertical em escala urbana” no dia 19 de maio, paralelamente à Virada Cultural paulistana. Até o dia 29 de abril o projeto divulgado no Catarse contava com a arrecadação de R$ 3.703.E este é só mais um entre 89 projetos que estão online no momento apenas nessa plataforma. CROWD... O QUÊ? EM BRIGA DE MARIDO E MULHER... Completados sete anos da Lei Maria da Penha, balanço revela que violência contra a mulher nos relacionamentos ainda é considerado algo normal por Karina França e Nathália Lopes D os tempos da vovó, a frase pronta que desa- conselha a “intromissão” na contenda dos casais ainda faz parte da cultura brasileira – ainda que envolvam socos e pontapés. Mas estudos do CEBELA (Cen- tro Brasileiro de Estudos Latino- -Americanos) e da Secretaria de Segurança de Estado de São Pau- lo indicam que isso está mudan- do. E o mérito é da Lei Maria da Penha. O Conselho Nacional de Justiça estima que desde 2006, quando a lei entrou em vigor, as denúncias feitas pela Central de Atendimento à Mulher (ligação gratuita para o número 180) au- mentaram 40%. O texto cria mecanismos para coibir e prevenir a violência do- méstica e familiar contra a mu- lher, formando uma rede de apoio que abrange e integra desde as Delegacias de Defesa da Mulher aos Centros de Cidadania. “Hoje nós temos uma interação maior com o Poder Judiciário, o Mi- nistério Público e outros“, con- ta Marli Tavares, delegada da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher, localizada na zona central de São Paulo. “Antes, autor (da agressão ou ameaça) poderia responder com várias cestas básicas”. Hoje, um dos maiores entraves para a lei funcione em sua plena eficácia, é justamente a falta de conhecimento de parte da so- ciedade, inclusive magistrados. “Quando falamos em violência, logo pensamos na violência físi- ca. Mas há outros tipos, como a moral, a psicológica, a sexual e a patrimonial (danos materiais)”, explica Ana Paula Oliveira Castro Meirelles, 32, coordenadora do Núcleo Especializado de Promo- ção e Defesa dos Direitos da Mu- lher (NUDEM). “A violência se- xual pode ocorrer dentro de um casamento. Se o homem forçar (o ato sexual), é uma violência“. “Homem de Verdade Não Bate em Mulher” “Homem de Verdade Não Bate em Mulher” é o mote da nova cam- panha contra a violência de gêne- ro criada pelo Banco Mundial. A peça, lançada na web no mês do Dia Internacional da Mulher e que agora figura também em ônibus e terminais do Metrô, usa rostos masculinos célebres – chaman- do os anônimos para participar enviando suas fotos através das redes sociais – com cartazes que chamam a atenção para o proble- Reprodução: imagem criada por Duda Schneider 10 11 POLÍTICA
  • 7. F ui usado e abusado. Estava eu, em um sábado nublado, na feira de antigui- dades da Praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Estava a procura de um novo vinil para minha coleção. Frequentemente, me perguntam os motivos que me levam a adqui- rir estes antigos – e grandes – dis- cos, mas isso dá muito “pano para manga” e deixo para um próximo texto. Fato é que, naquele dia, estava concentrado na coleção de LPs do senhor Deivis. Concentrado, à procura de um “novo” (por assim dizer) do Bituca, quando de súbito, uma voz brotou do fluxo de pesso- as que por ali passava. -“Oi, posso te fazer uma per- guntinha?” -“Claro” – disse eu à voz, de for- ma automática. Me arrependi. Meus olhos deslizaram da caixa de LPs à dona da voz: loira de olhos verdes, 1,70m, vestida com uma Em junho de 2014, o mundo in- teiro estará em festa. Bilhões de pessoas assistirão ao maior es- petáculo do esporte mundial aqui no Brasil: a Copa do Mundo. O governo brasileiro está mais do que empenhado em fazer des- se evento uma grande e bonita festa. Uma prova disso é que em Outubro de 2007, no ano em que o Brasil foi escolhido como sede da Copa, a previsão - segundo maté- ria da Veja - era de que os gastos ma no Brasil, onde as ações foram, durante muito tempo, delegadas às organizações da sociedade civil, sem que o Estado e os governos as colocassem no centro de suas pre- ocupações. Essa situação vem mudando nos últimos sete anos, quando da promulgação da Lei 11.340. Des- de então, tornou-se mais claro o panorama da violência doméstica no Brasil. De acordo com o Mapa da Violência 2012 – Homicídios de Mulheres no Brasil, realizado pelo CEBELA, uma em cada cin- co brasileiras afirma ter sofrido algum tipo violência por parte do parceiro ou parceira. “Está para ser aprovada uma lei que regulari- za a doação de ‘bolsas’ no valor de 1 mil reais para as mulheres agre- didas”, lembra Meirelles, “É mui- to comum as mulheres não de- nunciarem a violência por serem economicamente dependentes do agressor”. Neste cenário, o Centro de Ci- dadania da Mulher (CMM) atua para fortalecer o apoio às vítimas de agressão. “Orientamos e, de- pendendo dos casos, encaminha- mos para a Defensoria Pública do Estado, que atua dentro do CCM e/ou para outros serviços, como saúde, educação, habitação, entre outros”, diz Carla Carvalho, Coor- denadora do CCM de Itaquera. O registro publicado pela Se- cretaria de Segurança Pública do Estado mostra que, apenas no pri- meiro semestre de 2012, 47.555 denúncias sobre violência contra a mulher foram realizadas. O aumento é significativo se compararmos ao número total de denúncias no ano anterior, que to- taliza 74.984 atendimentos. E um dos fatores que podem ter contri- buído para tanto, data do inÍcio deste mesmo ano: a decisão do STF de que terceiros também po- dem denunciar, inclusive anoni- mamente. Dentre as denúncias re- gistradas, mais da metade refere-se à violência física e psicológica. Na opinião de Ana Paula Oli- veira Castro Meirelles, os dados apenas refletem uma realidade agora aparente justamente por conta da Lei. “Não acredito no aumento da violência em si, mas no aumento de casos de violên- cia registrados”, afirma Meirelles, que completa: “Tudo o que a lei prevê é muito ‘bonito’, mas ainda falta muito para ser efetivamente aplicado”. Divulgação OMapa da Violên- cia de 2012 mos- tra que a violência do- méstica mais comum é a física, representando 56,64%. O ambiente de medo no qual essas mulheres estão inseri- das, e que impede mui- tas delas de denunciar, coloca a violência psi- cológica em segundo. Omesmo estudo mostra que a maioria das mu- lheres sofrem com a violên- cia doméstica pelas mãos de seus conjuges ou ex, e na- morados atuais ou ex. Isso acontece principalmente se estudarmos a faxa etária de 20 a 49 anos de idade. Apesar disso, é um erro acreditar que denúncias contra violência doméstica praticada contra as mulheres só podem ser feitas contra pessoas com quem as mu- lheres possuem relaciona- mentos amorosos. Qualquer homem (ou mulher), com ou sem laço afeto com a ví- tima, pode ser denunciado. 56,64% 27,21% 12,19% 1,9% 1,5% 0,4% Violência Física Violência Psicológica Violência Moral Violência Patrimonial Violência Sexual Outros entre 20 e 29 anos entre 30 e 39 anos entre 40 e 49 anos 0 10 20 30 40 50 60 Conjuge Namorado Ex-Conjuge Ex-Namorado Podcast com a delegada Dra. Marli Tavares camisa social azul, e calça jeans. Me arrependi quando meus olhos se fixaram nos olhos verdes, e como um golpe sorrateiro, bro- tou, de suas mãos, um microfone da Record. De todas as minhas hesitações ao andar pela rua, evitar a televisão está na primeira posição da lista. Detesto. Ao seu lado, um rapaz puxou a câmera, e a luz vermelha me dizia: “Estou gravando você, otário”. A minha cara de espanto e insatis- fação surgiu em meu rosto, que se curvava longe da câmera. “Ah! Mas você disse que podia responder”, argumentou de forma ríspida a jornalista. E seguiu com a pergunta: - “Sabemos que existem outros ovos...”, ia dizendo a repórter en- quanto eu, distante dali, pensava: Quem é você? Record? Por quê? Para que? Onde? Quando? Ovos? De Páscoa? Mas a Páscoa passou já faz quase dois meses!” chegassem à R$ 5 bilhões. E cá es- tamos nós, pouco mais de 5 anos e meio depois e já gastamos cerca de R$7 bilhões, apenas com a cons- trução dos 12 estádios requeridos pelo Comitê Gestor da Copa. O interessante é que 97% desse dinheiro será retirado dos cofres públicos, ou seja, aquela dinheira- ma que é pagamos todos os anos pelos mais variados impostos, po- deria, segundo o site BOL, servir para a construção de 123 hospi- - “... outros ovos, além do ovo de galinha: ovos de codorna, ovos de pata. Você já experimentou es- tes ou outros ovos?” – continuou a loira. - “Não”, a única resposta inteli- gente e sincera que pude pensar no meu espanto. - “Mas você não tem...” – en- quanto ela perguntava, eu me dis- traia com sua incapacidade de me explicar os motivos. -“...tem interesse em provar ou- tros ovos?”. -“Não”. Odeio ovos. E ela continuou sem parar, até que por fim ela agradeceu e partiu. Partiu para um próximo questio- nário à pessoa que seguia por ali. Odeio ovos, a loira e televisão. Fui usado e abusado sem per- missão. O nome da jornalista fui desco- brir uma semana depois quando meu susto passou. Carla Francisco para o Programa da Tarde. tais, 149 estações de metrô, 2857 creches, 125 presídios, mais de 641 viaturas de polícia, 20.3 milhões de notebooks escolares, ou pavi- mentar quase 11 mil km de rodo- vias. Ao invés disso, servirá para construir estádios de futebol que, segundo informações do Portal UOL, serão controlados por ini- ciativas privadas. Bom, é como dizem: “cada um com suas prioridades”. O Brasil só tem uma, e muito bem definida. SOBRE A TELEVISÃO E A JORNALISTA O BRASIL É MESMO O PAÍS DO FUTEBOL por Denis Zanin por Nathália Lopes e Saturnino Santos 12 13 CRÔNICA ARTIGO
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