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Montes Claros - Outubro de 2012 – Ano 01 Nº02




                                                Renascimento e
                                                       Barroco
                                                                 F RMA
O Corredor que te liga às tradições
         norte mineiras.
    Venha Conhecer o Corredor Cultural de Montes Claros - MG
Editorial                                             Aieska Santana

Caros     leitores, esta edição                             A perspectiva
da Forma apresenta dois
períodos              históricos
importantes. O Renascimento
e o Barroco, contendo duas
matérias de cada tempo. Uma
referente a arquitetura e a
segunda sobre arte.
O Renascimento foi um               João Feliciano
período do século XV ao XVI,
marcado pela valorização do
                                       Movimento na
homem e surgimento da                    Arquitetura
perspectiva       criada      por
grandes artista que se
sentiam filhos dos Romanos,         A Morte da Virgem
por isso o nome.
O Barroco foi o movimento,
ânsia de novidade, amor pelo
infinito e pelo não finito, pelos
contrastes e pela audaciosa                             Júlia Marques
mistura de todas as artes,
durante o século XVII e XVIII,                           Davi
houve a utilização de luz,
sombra e curvas para dar
movimento          tanto       na                       A Morte da Virgem
arquitetura quanto na arte.




                     Professora de
                     História da Arte e
                     Arquitetura III e
                     Orientadora da
                     Revista
                     Viviane Marques
                                               Faculdades Integradas Pitágoras
                                        3º período de Arquitetura e Urbanismo
                                                 Coordenadora Paula Alcântara
Índex
RENASCIMENTO

Davi


                    04




A perspectiva

                    13



BARROCO

A Morte da Virgem

                    20




Movimento na
Arquitetura
                     29
“Vou te esperar na
             minha humilde
               residência”
             - Davi de Michel




Galleria dell’Accademia – Florença - Itália
Davi, Deus e
 Por Júlia Marques
                     Michelangelo




                                                   Foto da cúpula da basílica de santa Maria del Fiore
O PERÍODO               greco-romana.
                        No      entanto,     as
HISTÓRICO               conquistas
No marco temporal       artísticas culturais e
                        sociais     inspiradas
demarcado entre os      no pensamento de
séculos XV e XVI,       recuperar a razão
definido        pelos   humana           como
historiadores como      propulsão           de
Renascimento,      as   decisão ocorrem em
cidades do norte da     meio     a     grandes
Itália    –     como    convulsões.        Até
Florença,    Gênova,    mesmo       a    Igreja
Pisa, Milão e Veneza    impôs         assuntos
– concentraram o        celestiais entre os
epicentro          do   mundanos,
renascer de uma         exercendo        papel
cultura baseada na      dirigente na nova
harmonia     clássica   ordem civilizatória.




                                                  04
É em meio a esse período     individualidade e de seu
                                que          Michelangelo
                                Buonarroti foi um filho      papel       no      mundo,
                                exemplar de seu tempo.       contribuiu com sua atitude
                                                             e seu talento para elevar o
                                Sua genialidade absorveu,    artista da vulgaridade
                                não sem angústias, todas     artesanal      rumo       à
                                as      aspirações      e    valorização social acima
                                contradições do homem        de mecenatos e servidão
                                daquele           período.
                                Consciente de sua
Autorretrato de Michelangelo.




                                                      Michelangelo

                                                                                           05
mudou para Florença.
                                             O ARTISTA                  Francesca morreu quando
                                                                        ele tinha apenas seis
                                                                        anos.
                                                                        Talvez a dolorosa perda
                                                                        tenha     despertado   em
                                                                        Michelangelo a vontade de
                                                                        dar forma à beleza de um
                                                                        modo que o levaria, não
                                                                        sem contradoções nem
                                                                        angústias espirituais, a
                                                                        produzir algumas das
                                           Michelangelo, o segundo      obras mais sublimes da
                                                                        historia da arte.
                                           de cinco filhos, nasceu em
                                                                        Michelangelo exemplifica
                                           Caprese, em seis de
                                                                        mais     plenamente   que
                                           março de 1475. Seu pai
                                                                        qualquer outro artista o
                                           era Ludovico di Leonardo
                                                                        conceito de genialidade
                                           di Buonarroti Simone, um
                                                                        como inspiração divina,
                                           podestade, e sua mãe
                                                                        um poder sobre-humano
                                           Francesca di Neri di
                                                                        concedido a poucos e
                                           Miniato del Sera.
                                                                        raros indivíduos, e que
                                           Pouco depois de seu          atua através deles.
                                           nascimento a família se
Florença – Cidade onde o artista nasceu.




                                                                                                    06
Esse dualismo confere um
MICHELANGELO E A                   pathos extraordinário às suas
   ESCULTURA                       figuras: calmas em seu
                                   exterior parecem agitadas




                                                                   Parte da obra ‘A Criação de Adão’ de Michelangelo, no teto da
                                   por     uma     avassaladora
Buonarroti                  era,   energia psíquica que não




                                                                   Sistina. O que retrata bem a relação do artista com sua fé.
essencialmente, um escultor        encontra um verdadeiro alívio
– mais especificamente um          na ação física.
entalhador de estátuas de
mármore. A arte, para ele,
não era uma ciência, mas sim            A ENCOMENDA
“a criação de homens”,
análogas à criação divina.
Somente a “liberação” de           Michelangelo   vinha de uma
corpos reais e tridimensionais     estadia de muitos anos em
a     partir     da     matéria    Roma e ficara fortemente
insubmissa era capaz de            impressionado com os corpos
satisfazer      o      impulsor    musculosos e cheios de
existente em seu interior.         emoção       da     escultura
A fé de Michelangelo na            helenística.    Sua    escala
imagem do homem como               heroica sua beleza e poder
veículo       supremo        de    sobre-humanos e o volume
expressão deu-lhe um sentido       proeminente de suas formas
de afinidade com a escultura       tornaram-se parte do estilo
clássica     que    não    seria   de Michelangelo e, através
superado por nenhum outro          dele, parte da arte do
artista do Renascimento. No        Renascimento em geral.
entanto, como neoplatônico,        Em 1501, de volta a Florença,
ele via o corpo humano como        Michelangelo     começou    a
a prisão terrestre da alma –       esculpir para a praça de
certamente       nobre,     mas    Signoria seu célebre Davi, o
sempre uma prisão.                 Gigante como foi chamada a
                                   escultura de mármore devido
                                   a sua dimensão grandiosa,
                                   com 434 cm.




                                                                   07
TINHA UMA PEDRA                disse: "Irei combater com
                                  ele", tomou o cajado e
      NO CAMINHO                  escolheu na torrente cinco
  Para a realização de Davi,      pedras bem lisas, metendo-
                                  as numa sacola; depois com
  Michelangelo recebeu uma        a funda na mão, avançou
  enorme bloco de mármore         contra o filisteu.
  que já havia sido golpeado
                                  O gigante, vendo Davi tão
  por outros escultores – um
                                  pequeno, gritou-lhe: "Serei
  deles foi Agostino di Ducio,
  que, quarenta anos antes,
                                  eu algum cão para vires
  em     1463,    recebera   a
                                  contra mim armado com um
  incumbência de esculpir um
                                  pau?”. Davi respondeu: "Tu
  profeta para uma catedral,
                                  vens contra mim com
  mas não chegou a concluí-
                                  espada, lança e escudo e
  lo. Com essa pedra já
                                  eu avanço em nome do
  golpeada,       Michelangelo
                                  Senhor. Hoje o Senhor vai
  aceitou    o    desafio  de
                                  entregar-te nas minhas
  transformá-la numa das
                                  mãos e toda a terra saberá
  mais belas estátuas da
                                  que há um Deus em Israel".
                                  Então Davi tirou uma pedra
  história da arte.
                                  da sacola e arremessou-a
                                  com a funda. A pedra foi
O DAVI DA INSPIRAÇÃO              cravar-se na fronte do
                                  filisteu e o gigante caiu por
  Davi    era um jovem que        terra.    Davi    correu   e,
  vivia em Israel, e seu país     tirando-lhe     a    espada,
  encontrava-se em guerra         cortou-lhe a cabeça de
  contra      os     Filisteus,   Golias.
  comandado pelo gigante
  Golias.
  Dirigindo-se ao exército de
  Israel,               Golias
  dizia: "Escolhei entre vós
  um homem que ouse lutar
  comigo. Se ele me matar,
  seremos vossos escravos;
  mas se eu o matar, sereis
  nossos    escravos".    E
  ninguém ousava lutar com
             ele.
  Então Davi apresentou-se e          Parte da escultura de Davi.


                                                                    08
A OBRA

O    Davi que Michelangelo esculpe
entre 1501 e 1504 é uma figura ereta,
quase não ocupa espaço a perna
oblíqua diverge do eixo que cai a
prumo da cabeça ao pé e é o princípio
da sucessão de concisos ímpetos de
movimento: a busca flexão do pulso, o
súbito volver da cabeça, o braço
dobrado em direção ao ombro. O
movimento da figura não se expande
no espaço, encerra-se nos atos
contrapostos dos membros.
Michelangelo sabia da dificuldade de
esculpir uma pedra já golpeada, mas
era uma condição que o artista
aceitava prazerosamente porque lhe
permitia concentrar na imagem o
máximo de energia, ou melhor,
conceber a figura do herói no
momento       da    concentração     da
vontade em vista da ação a cumprir
(com efeito, enquanto olha ao longe
com as sobrancelhas franzidas como
se fixasse a mira, solta a funda que
traz envolvida em torno do corpo). O
artista não representa a ação, mas o
seu móvel moral, a tensão interior
que precede o ímpeto do gesto.
O Davi de Michelangelo, com seu
semblante       franzido    e     olhar
inocentemente descarado, encarna a
cólera justa do homem heroico,
imagem da qual os cidadãos de
Florença republicana, ameaçada por
todos os lados, tanto necessitavam.
Cabe lembrar que, para compor este
Davi viril, Michelangelo inspirou-se na
figura de Hércules, tal como parecem
sugerir os proeminentes músculos e
as veias visíveis da mão direita.




      Mão direita de Davi   Semblante de Davi
A escultura sendo admirada.




                              Através     da aparente calma
                                                                Com essa escultura, o genial
                              emanada pela expressão de
                                                                artista italiano conquistou
                              Davi, percebe-se a tensão
                                                                respeito e a consagração
                              interior pela postura do torso
                                                                como um dos grandes mestres
                              ligeiramente inclinada e pela
                                                                de seu tempo. Cabe ressaltar
                              cabeça voltada para o lado,
                                                                que a qualidade de Davi
                              oferecendo      o    perfil  ao
                                                                impressionou até mesmo o
                              espectador. O herói bíblico
                                                                contemporâneo Leonardo da
                              não mostra sinais do combate
                                                                Vinci, que ficou admirado com
                              vitorioso     nem    demonstra
                                                                a “retórica muscular” da
                              arrogância.
                                                                estátua de mármore.
                              Transmite, isto sim, uma força
                              viril, que nasce da juventude e
                              sustenta a beleza, o que a
                              torna incomparável.



                                                                                                10
GIGANTE DO POVO




                               Réplica de bronze da escultura de Davi feita a pedidos da população
Davi            encontra-se
atualmente    na    Galleria
dell’Accademia,          em
Florença, para onde a
escultura foi transferida a
fim de protegê-la das
intempéries.
A população exigiu que o
seu “gigante” ao menos
continuasse presente sob
forma de uma cópia. Para
atender a esse pedido,
encontra-se uma réplica
exposta   na    Praça    de
Signoria.




                                                     11
Renascimento e a
   Perspectiva

A ARQUITETURA, MODO
 DE REPRESENTAÇÃO



São    os indivíduos que fazem a
história: era assim que se pensava
durante     o     Renascimento.     A
arquitetura nasceu na Florença, da
década de 20 do século XV, por obra
e graça de um único, genial e
obstinado       indivíduo:    Filippo




                                                             Escultura de Filippo Brunelleschi
Brunelleschi. No entanto, embora a
criação tivesse um caráter pessoal, o
seu valor era coletivo.
A arquitetura possui como meio de
comunicação entre os arquitetos, o
desenho. Um grande número de
técnicas usadas atualmente para o
desenho de arquitetura remonta o
início do século XV. Os mestres do
Renascimento já usavam o trio planta,
corte, fachada e algumas técnicas de
perspectiva, além de se utilizarem
fundamentalmente da maquete.




                                        Por Aieska Santana                                       13
A     perspectiva.    Falava-se
 muito dela no século XV; e foi
 ainda    Filippo   Brunelleschi
 quem a demonstrou na prática
 e lhe estabeleceu as regras de
 aplicação. Em substância,
 tratava-se de uma técnica que,
 segundo regras científicas,
 permitia fixar sobre as duas
 dimensões de uma superfície o
 aspecto        da     realidade
 tridimensional. Ela permitia
 “projectar” uma obra de arte,
 mostrando com um desenho o
 seu aspecto definitivo.                  Tecnica Renascentista de Perspectiva




OS INTERIORES: A PERSPECTIVA ESPACIAL



 Os    espaços interiores dos
                                    por Brunelleschi, em Florença,
                                    representa perfeitamente esse
 edifícios              também
                                    aspecto da perspectiva em seu
 correspondem      aos    novos
                                    interior. Aparentemente, a
 critérios    da   perspectiva.
                                    Igreja adotou os esquemas
 Assim, deixou de se construir
                                    medievais: planta de cruz
 uma sucessão de tramos, cada
                                    latina, três naves, cúpula ao
 um      deles    dotado      de
                                    centro. Mas nada separa um
 autonomia, mas sim uma linha
                                    tramo do outro; entretanto, as
 de      paredes    articuladas
                                    arquitraves contínuas por cima
 segundo as regras das ordens
                                    dos arcos evidenciam a
 arquitetônicas nas quais as
                                    confluência de todas as linhas
 linhas horizontais – que são
                                    horizontais para um único
 dominantes – convergem para
                                    ponto, o ponto de fuga.
 um ponto único.
 A Igreja do Santo Spírito, feita




                                                                                 14
Interior do Santo Spirito em FlorenTça




15
Paralelamente,               Albert
  Alberti   analisa o modo de              estabelece a diferença entre o
  representar a arquitetura,               desenho do pintor e o
  distinguindo-se     em      duas         desenho do arquiteto: o pintor
  maneiras: a pictoria (dotada             se esforça em ressaltar e
  de cores, luzes e sombras) e a           volumetria dos objetos numa
  “lineamenta” (dotada de linhas           tela    plana      mediante       o
  e ângulos), que renunciava               sombreamento dos objetos, a
  aos       efeitos      pictorios,        passo que o arquiteto, ao
  marcados apenas por linhas               evitar      esses        artifícios,
  geométricas. É importante                representa o relevo pó meio
  observar no discurso de                  do desenho da planta e
  Alberti que através dos                  elevação       das      fachadas,
  modelos       (maquetes),       o        servindo-se de ângulos reais e
  arquiteto podia acrescentar,             linhas     invariáveis.      Albert
  diminuir e renovar cada                  distingue o arquiteto dos
  elemento da obra, bem como               mestres de oficio, advertindo
  examinar e saber o modo e as             ser a Arquitetura fruto da
  despesas implícitas na sua               “lineamenta”          (“disegno”,
  execução.       As    maquetes           projeto)        e       “matéria”
  seccionadas        ao      meio,         (estrutura,              materiais
  permitiam a visualização da              construtivos). Esse raciocínio
  estrutura (larguras, alturas e           matemático        dignificou      a
  espessuras      das    paredes)          Arquitetura ao contexto das
  assim como amplitude e                   Artes Liberais, em oposição à
  qualidade do conjunto, nele              Artes Mecânicas, e distinguiu
  explicitando-se os ornamentos            definitivamente o arquiteto
  destinados a adornar o                   dos tradicionais mestres de
  edifício e suas respectivas              oficio    de    raiz    medieval,
  quantidades,            números          questão          central         do
  requeridos       de     colunas,         Renascimento,
  capitéis,    bases,     cornijas,        magistralmente encabeçada
  pisos,       estátuas.       Isto        por Albert.
  demonstra         a      grande
  importância que se teve e
  continua se tendo essa forma
  de representação volumétrica
  da arquitetura e a visualização
  de um futuro edifício.

Visualização pelo aparelho renascentista


                                                                                  16
CARTA DE RAFAEL PERSPECTIVA


                                 Seria a formação do núcleo
Pouco     mais de trinta anos    central da representação do
depois do Tratado de Albert,     desenho de arquitetura.
Rafael deu mais uma definição
                                 A    arquitetura,   desde     o
do que deveria ser desenho
                                 Renascimento, vive através
de    arquitetura:   em    sua
                                 dos seus desenhos e estes
conhecida carta ao papa Leão
                                 são uma obra independente
X, em 1519: o desenho de
                                 da construção. As evoluções
edifícios     pertinente    ao
                                 sobre     as    técnicas     de
arquiteto se divide em três
                                 representação             foram
partes. Primeiro o desenho
                                 incorporando         diferentes
plano (planta), segundo a
                                 transformações, na busca
parede de fora com seus
                                 pela visualização ideal da
ornamentos      (fachada)    e
                                 futura obra.
terceiro a parede de dentro,
também         com        seus
ornamentos (corte).




                                                                   17
Inspirada nas ideias do maior arquiteto
brasileiro. Produtos licenciados pela
Fundação Oscar Niemeyer em edição
limitada.
A Morte de Nossa Senhora
    Interpretada por Caravaggio




                                                                                      Por João Feliciano e Júlia Marques
O PERÍODO HISTÓRICO                        política ou intelectual. Naturalmente as
                                           conexões entre todos esses aspectos
Barroco é o termo que já vem sendo         existiam, mas ainda não chegamos a
                                           compreendê-las plenamente.
utilizado a quase um século pelos
historiadores da arte, para designar o     Até que o façamos vamos considerar o
estilo do período que vai de 1600 a        estilo Barroco como uma entre outras
1750. Seu significado original –           características básicas, ou seja, um
“irregular, contorcido, grotesco” – está   catolicismo recém-fortalecido, o Estado
hoje, em grande parte, esquecido. Há       absolutista e o novo papel da ciência
também um consenso geral quanto ao         que distinguem o período 1600-1750
fato do novo estilo ter-se originado em    de tudo que houvera anteriormente.
Roma, por volta de 1600. O que
continua      sendo     uma      questão
contraditória é o impulso que o teria
originado.
Os príncipes da Igreja que apoiaram o
desenvolvimento da arte barroca eram
mais conhecidos por seu fausto
mundano do que por seu espírito
piedoso.
A arte barroca não foi simplesmente o
resultado de uma evolução religiosa,
                                                                                      cúpula de karlskirche, Vienna




                                                                                                                   20
Autorretrato de Caravaggio
CARAVAGGIO, FAÍSCA BARROCA
                                     A princípio, os artistas disponíveis
Ao     reunir artistas de várias
                                     eram      maneiristas     tardios    e
procedências e encarregá-los de      medíocres, mas a campanha logo
tarefas desafiadoras, Roma acabou    atraiu mestres jovens e ambiciosos.
se tornando o local de origem do     Foram eles que criaram o novo
Barroco,      exatamente     como    estilo. O mais notável dentre eles era
acontecera com o Alto Renascimento   um pintor de gênio, chamado
um século antes. O papado voltou a   Caravaggio, devido à sua cidade
patrocinar a produção de obras de    natal próximo a Milão, que pintou
arte em grande escala, com o         várias telas monumentais para a
objetivo de transformar Roma na      Igreja de San Luigi dei Francesi.
mais bela cidade de todo o mundo
cristão.
                                                                              21
O PINTOR DE GÊNIO
                                                Em      1571, no povoado chamado
                                                Caravaggio, próximo de Milão, nascia
                                                Michelangelo Merisi. Foi um homem
                                                violento em uma época violenta.
                                                Caravaggio teve a valentia de pintar e
                                                transformou-se em um dos maiores
                                                pintores de seu tempo, inscrevendo seu
                                                nome na história da arte.
                                                Foi no contexto do Barroco que
                                                Michelangelo Merisi mostrou-se ao mundo
                                                em sua curta e tumultuada vida. Como
                                                Caravaggio presenteou a história da arte
                                                universal com uma obra tão influente
                                                quanto incompreendida em seu tempo;
                                                uma obra sustentada na verdade tal como
                                                ele a via e tão radical e estrema que seus
                                                contemporâneos não puderam ignorá-la.




                                                                                        Autorretrato do artista




Os pais de Caravaggio foram Fermo Merisi e
Lucia Aratori. Seu pai era arquiteto-decorador de
Francesco Sforza, duque de Milão, e Marquês de
Caravaggio.
Aos vinte anos aproximadamente estabeleceu-se
em Roma. Ali permaneceu até 1606, quando,
tendo matado um jovem em uma rixa de jogo,
fugiu para Nápoles, para Malta, para a Sicília e
depois de novo para Nápoles. O artista morreu
enquanto voltava a Roma, perdoado pelo papa.
                                                                                                         22
AS CARACTERÍSTICAS
                                         responsabilidades. Isso significa:
    DE SUAS OBRAS                        excluir a busca do “belo”, visar o
                                         verdadeiro; renunciar à invenção,
A pintura de Michelangelo Merisi, o      restringir-se aos fatos; não pôr em
Caravaggio      (1571-1610),       foi   prática um ideal dado, mas procurar
considerada pelos críticos do            ansiosamente uma saída ideal na
Seiscentos antitética à pintura de       práxis comprometida da pintura;
Annibale, outro artista de sua época     contrapor o valor moral dessa práxis
(1560-1609): este volta-se para o        ao valor intelectual das teorias.
ideal, Caravaggio, para o real. Trata-
se de uma esquematização, que não
corresponde àquela que foi, de fato,
a posição dos dois artistas. É,
contudo importante que, mesmo
esquematizando, a crítica da época
tenha reconhecido: primeiro, que
Annibale e Caravaggio eram os dois
grandes protagonistas da pintura do
século; segundo, que ambos se
opunham nitidamente à cultura
humanística romana; terceiro, que o
idealismo de um e o realismo de
outro eram duas tendências
divergentes, mas em relação
dialética e quase de recíproca
integração ou complementaridade.
Os dois polos, enfim, do mesmo
problema.
A sua vida foi desesperada e
violenta; mas uma extrema tensão
moral e religiosa confere à sua
pintura uma carga revolucionária.
O seu realismo nasce da ética                Detalhe da obra ‘A morte da virgem’.
religiosa instaurada por Carlo           Caravaggio estava convencido de
Borromeo na sua diocese lombarda:        que deveria pintar a natureza tal
não consiste em observar e copiar a      como a via independentemente da
natureza, mas em aceitar a dura          impressão causada ao expectador.
realidade dos fatos, em desdenhar        Sob essa perspectiva, o artista
as convenções, em dizer toda a           sentiu um impulso de liberdade que
verdade em assumir as máximas            o levava a pintar o que desejasse.
                                                                                    23
MODELOS MUNDANOS                              Os seus quadros contem um “cristianismo
                                              laico” isento de dogmas teológicos, que
                                              atrai tanto os protestantes como os
A    obra de Caravaggio dá uma forma          católicos.
discreta e comovedora a uma atitude           Suas vivências como artista de rua
compartilhada por certos grandes santos       contribuíram para a criação dos rostos
da contrarreforma: a de que os mistérios      maliciosos, ardilosos e descarados de seus
da Fé são revelados não por especulação       personagens.       Como      demonstraram
intelectual, mas espontaneamente, por         análises radiográficas feitas em suas
uma experiência interior, aberta a todos os   obras.
homens.




                                                                                           Imagens de parte filme “Caravaggio” onde
                                                                                           representa como o artista pintou a obra.




                                                                                           24
Cena do filme semelhante ao quadro.




                                                                                 não      passaram     pelo   crivo
                                      O      pintor considerava que
                                                                                 eclesiástico, o que o obrigou a
                                      introduzir uma ideia pré-concebida         realizar muitas novas versões com
                                      no     quadro       falsificava     sua    as devidas correções. Suas
                                      veracidade.          Essa          ideia   imagens de Cristo, da Virgem e
                                      revolucionária causou escândalo            dos santos representados como
                                      entre os academicistas e na Igreja.        seres próximos do plano terreno
                                      Caravaggio não se limitava a               provocaram o assombro da Igreja.
                                      mostrar em suas telas o sofrimento         Pudera: para produzir as imagens,
                                      idealizado dos mártires cristãos.          o artista utilizava modelos
                                      Expunha com toda a crueza a                inspirados na rua e, em especial,
                                      brutalidade e a proximidade da dor.        em bairros indecorosos da cidade,
                                      O           artista           violentou    cujos gestos e olhares refletiam
                                      sistematicamente o princípio de            sem recato o desespero da luta
                                      decoro na pintura proclamado               cotidiana pela sobrevivência em
                                      pelos          ideológicos           da    um ambiente dominado pela
                                      Contrarreforma. Para estes, os             miséria. Desse modo, os quadros
                                      personagens divinos deveriam ser           encomendados        pelos    ricos
                                      retratados com os atributos                burgueses para as igrejas
                                      sagrados e não com elementos               costumavam ser recusados pelos
                                      que os vulgarizassem aos olhos do          religiosos e, em seguida, eram
                                      expectador.                                comprados por amantes da arte.
                                      Apesar da boa vontade de seu
                                      protetor, o cardial Del Monte,
                                      diversos quadros de Caravaggio

                                                                                                                      25
A OBRA POLÊMICA




                                                                                        Parte da obra de Caravaggio.
A morte da Virgem é o maior quadro de      apontou o historiador da arte Roberto
altar realizado por Caravaggio e um dos
                                           Longhi.
mais escandalosos. Foi encomendado
por Laerzio Cheribuni para a Igreja de     Na humilde habitação ornamentada por
Santa Maria della Scala. Os carmelitas,    uma cortina vermelha, os onze
porém, não aceitaram o quadro por          discípulos e Maria Madalena estão
considerá-lo ofensivo. Os motivos para a   dispostos em volta da Virgem que acaba
recusa foram variados: Maria fora          de morrer e cujo corpo ainda não foi
representada como uma cortesã; seus        preparado para o túmulo. Cada um dos
pés apareciam descalços; e seu ventre      presentes, como em A deposição no
inchado originou o rumor de que se         túmulo, está envolto nos próprios
tratava do cadáver de uma mulher           pensamentos.
afogada.                                   Ao mesmo tempo, vincula-se aos
Caravaggio deveria se ater a tratar da     demais pelo sentimento comum de dor
“morte ou trânsito” da Virgem. Porém, o    diante da perda definitiva, uma variada e
artista dessacralizou mais uma vez o       complexa gama de expressões revela a
episódio e procurou refletir a morte com   intensa dor e silenciosa contemplação
a angustiante experiência de quem          do corpo inerte que põe o homem
perde um ente querido. No quadro não       defronte do mistério da morte.
há presença divina; apenas a dor            O excesso de crueza, desconsolo e
humana está presente no pobre              verdade da cena horrorizou a quem era
ambiente. Caravaggio procurou mostrar      permitida a passagem para outra vida.
o pranto pela “morte de uma mulher do
povo, bem conhecida do bairro”, como                                                   26
Obra ‘A morte da virgem’ de Caravaggio.

                                              olhos do espectador até o rosto da jovem
Caravaggio estabeleceu um extraordinário      Virgem morta. Para esse ponto convergem
movimento visual que conduz o expectador      as linhas compositivas do quadro,
ao interior do quadro. Duas linhas em         reforçadas pelo tecido de forte vermelho
diagonal, pontuadas pelos focos de luz,       que caí do teto da estadia.
evocam uma cruz, como o artista fez em A
                                              Acertou o historiador Ernst Gombrich
crucificação de São Pedro.
                                              quando observou que a luz cegante de
Com poderosa plasticidade a luz derrama-      Caravaggio “ressalta com sólida dignidade
se a partir do ângulo superior esquerdo e     o que poucos de seus contemporâneos
abre caminho entre as sombras. Ilumina,       eram capazes de apreciar”.
em especial, o corpo da Virgem, tornando
brilhante seu vestido vermelho e
conferindo-lhe um ilusório impulso de vida.
A luz também alcança Madalena e guia os
                                                                                                                                    27
Movimento na Arquitetura
                   Barroco e Atualidade




Palácio Carignano – Guarin Guarini                                          Galaxy Soho – Zaha Hadid

                                                    estavam presentes determinadas
        A    arquitetura barroca, apesar de
                                                    características:    a    procura     do
        possuir características variantes de        movimento, quer real (por uma
        região, possui a mesma designação           ondulada, uma fonte, de onde a água
        por um núcleo comum.                        jorra em forma sempre nova), quer
        Esse núcleo comum foi, nos                  sugerido (um personagem retratado
        primeiros tempos, identificado como         durante uma ação violenta ou sob um
        o arbítrio, a falta de lógica, o exagero.   esforço); a tentativa de representar ou
        Foi mesmo por isto que a arte do            de sugerir, o infinito (uma alameda
        século XVII se chamou barroca.              que se perde no horizonte, um fresco
                                                                                                       Por João Feliciano

        Tornando, esse termo em quase               que simula a abóboda celeste, um
        todas as línguas europeias, um              jogo de espelhos que altera e torna
        sinônimo de extravagante, anormal,          irreconhecíveis as perspectivas); a
        irregular.                                  importância dada às luzes e aos
        Foi na segunda metade do século             efeitos luminosos na percepção final
        passado que o termo barroco                 e na própria concepção da obra de
        recebeu um significado mais objetivo.       arte; o gosto pelo teatral, pelo
        O crítico suíço Heinrich Wölfflin e         cenográfico,     pelo faustoso;       a
        seus seguidores referiram-se sempre à       tendência para não respeitar os
        arte do século XVII e dos princípios        limites das disciplinas, isto é, para
        do século XVIII, definiram como             misturar a arquitetura, a escultura e a
        barroca aquelas obras em que                pintura.
                                                                                                  29
OS ELEMENTOS QUE PROPORCIONAM
             MOVIMENTO

            O    movimento na arquitetura      extremidades, serviam para
                                               articular,       para         unir
            barroca tornou-se presente
                                               harmoniosamente, dois pontos
            principalmente pelas curvas. Por
                                               situados a alturas diferentes.
            seu turno, uma vez descoberto,
                                               Estas volutas eram apostas
            o motivo da ondulação não
                                               principalmente sobre fachadas
            ficou limitado às paredes. A
                                               das igrejas e foram usadas com
            ideia de das movimento a um
                                               tanta frequência que eram
            elemento seguindo curvas mais
                                               praticamente      uma       regra,
            ou menos regulares tornou-se
                                               constituindo hoje o meio mais
            num tema dominante de toda a
                                               simples e acessível para
            arte      barroca.      Existiam
                                               reconhecer      uma      fachada
            ondulações nos interiores, nas
                                               barroca.
            fachadas e até mesmo colunas
            onduladas.                         A função do orelhão, apesar de
                                               sua forma bizarra, não é
            O gosto pela curva permanece,
                                               meramente       decorativa:     é,
            mesmo quando não se chega
                                               sobretudo,             dinâmica,
            aos extremos como os referidos.
                                               construtiva.
            No entanto, as volutas e
            orelhões, elementos em forma
            de fita encurvada e enrolada nas




                                                               Orelhão – Palácio Carignano
Volutas – Igreja de Santa
Maria da Saúde - Veneza

                                                                                             30
O MOVIMENTO NA
ARQUITETURA ATUAL




Após    seu surgimento na era
barroca, o movimento nas
construções tornou-se presente
em         vários        estilos
arquitetônicos. Servindo até
como referência de estilos de
determinados arquitetos.
Atualmente, o profissional de
arquitetura que possui o
movimento        como      algo
essencial em seus projetos é a
arquiteta   Israelense    Zaha
Hadid.




                                         Nascida    em Bagdá,
                                   no ano de 1950, Zaha Hadid
                                   formou-se em arquitetura na
                                   cidade de Londres, na
                                   Architetural Association em
                                   1977.
IDEIAS E TRABALHO

          Numa          primeira       fase,   edifício, mas como o tempo do
                                               percurso de um visitante que
          prevalecem a fragmentação e o
                                               procede à descoberta gradual
          reagrupamento dinâmico dos
                                               dos espaços, dos quais não é
          fragmentos no projeto, onde
                                               possível ter uma visão de
          campos de fluxo e de forças de
                                               conjunto. Emerge o convite a se
          diferentes intensidades geram
                                               fazer percorrer, com uma
          uma expressão arquitetônica
                                               sensação de surpresa similar
          marcada por movimento e
                                               àquela que se tem em um
          fluidez. Na experiência espacial
                                               contexto natural, posto que cada
          é interessante observar a relação
                                               passo revela vistas inesperadas e
          com o tempo, compreendido
                                               distintas.
          não como a duração de um




                                                                                   32
Conjunto Residencial Spittelau
Interior do Hotel Puerta America – Quarto Total White
A   própria Hadid declara que       uma dimensão tridimensional
                                    inédita, relacionada não mais ao
procura     propiciar     espaços
                                    movimento das linhas, mas ao
públicos capazes de levar prazer
                                    das     massas.    São     massas
e acrescentar alguma coisa a
                                    produzidas        com       uma
nossa vida. Isso sugere uma
                                    gestualidade que articula o solo,
constante reinvenção das formas
                                    fende-o, releva-o e deforma-o
do espaço de vida, colocando
                                    para produzir formas plásticas,
em discussão a percepção que
                                    espacialidades      curvas      e
temos delas e o modo como as
                                    superfícies flexíveis. Figuras
habitamos. Conduz a um
                                    côncavas e convexas que
produto urbano em grande
                                    dialogam entre si e parecem se
medida mais permeável, que
                                    originar da observação de
não tem mais nada a ver com a
                                    fenômenos naturais, como o
cidade do espaço privado contra
                                    derretimento das geleiras ou o
o espaço público.
                                    movimento da lava de um
A paisagem está sempre e cada       vulcão.
vez mais no centro de um novo
interesse projetual, que explora
                                                                        33
TRIFLOW BYZAHA HADID



      HIGH MODEL




                   LOW MODEL
BIBLIOGRAFIA
1) Davi, Deus e Michelangelo
ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte Italiana: de Michelangelo
ao Futurismo. tradução KATINSZKY, Wilma de. Vol. 3. São Paulo:
Casac & Naify, 2003. 480 p.
JANSON, H. W. História Geral da Arte: Renascimento e Barroco.
adaptação LEAL, Maurício Balthazar. São Paulo: Martins Fontes,
1993. 814 p.
JANSON, H. W.; JANSON, Anthony F. Iniciação à História da Arte.
tradução CAMARGO, Jefferson Luiz. 2ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996. 475 p.
RUSSO, Martin Enesto. Michelangelo: Coleção Folha Grandes
Mestres Da Pintura. Barueri: Editorial Sol 90:2007. nº 9.
2) Renascimento e a Perspectiva
REQUENA, Guto. Renascimento e Ciberespaço: Representação
na Arquitetura. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004.
p.01.05.
CONTI, Flávio. Como Reconhecer a arte do Renascimento.
Lisboa: Edições 70, 1996. 68p.
3) A Morte de Nossa Senhora Interpretada Por Caravaggio
RUSSO, Martin Enesto. Caravaggio: Coleção Folha Grandes
Mestres Da Pintura. Barueri: Editorial Sol 90:2007. nº 12.
4) Movimento na Arquitetura Barroco e Atualidade
CONTI, Flávio. Como Reconhecer a arte Barroca. Lisboa:
Edições 70, 1996. 68p.
LEFAIVRE, Liane; TZONIS; Alexander. Coleção Folha Grandes
Arquitetos: Zaha Hadid. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011.
Vol.13.

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  • 1. Montes Claros - Outubro de 2012 – Ano 01 Nº02 Renascimento e Barroco F RMA
  • 2. O Corredor que te liga às tradições norte mineiras. Venha Conhecer o Corredor Cultural de Montes Claros - MG
  • 3. Editorial Aieska Santana Caros leitores, esta edição A perspectiva da Forma apresenta dois períodos históricos importantes. O Renascimento e o Barroco, contendo duas matérias de cada tempo. Uma referente a arquitetura e a segunda sobre arte. O Renascimento foi um João Feliciano período do século XV ao XVI, marcado pela valorização do Movimento na homem e surgimento da Arquitetura perspectiva criada por grandes artista que se sentiam filhos dos Romanos, A Morte da Virgem por isso o nome. O Barroco foi o movimento, ânsia de novidade, amor pelo infinito e pelo não finito, pelos contrastes e pela audaciosa Júlia Marques mistura de todas as artes, durante o século XVII e XVIII, Davi houve a utilização de luz, sombra e curvas para dar movimento tanto na A Morte da Virgem arquitetura quanto na arte. Professora de História da Arte e Arquitetura III e Orientadora da Revista Viviane Marques Faculdades Integradas Pitágoras 3º período de Arquitetura e Urbanismo Coordenadora Paula Alcântara
  • 4. Índex RENASCIMENTO Davi 04 A perspectiva 13 BARROCO A Morte da Virgem 20 Movimento na Arquitetura 29
  • 5. “Vou te esperar na minha humilde residência” - Davi de Michel Galleria dell’Accademia – Florença - Itália
  • 6. Davi, Deus e Por Júlia Marques Michelangelo Foto da cúpula da basílica de santa Maria del Fiore O PERÍODO greco-romana. No entanto, as HISTÓRICO conquistas No marco temporal artísticas culturais e sociais inspiradas demarcado entre os no pensamento de séculos XV e XVI, recuperar a razão definido pelos humana como historiadores como propulsão de Renascimento, as decisão ocorrem em cidades do norte da meio a grandes Itália – como convulsões. Até Florença, Gênova, mesmo a Igreja Pisa, Milão e Veneza impôs assuntos – concentraram o celestiais entre os epicentro do mundanos, renascer de uma exercendo papel cultura baseada na dirigente na nova harmonia clássica ordem civilizatória. 04
  • 7. É em meio a esse período individualidade e de seu que Michelangelo Buonarroti foi um filho papel no mundo, exemplar de seu tempo. contribuiu com sua atitude e seu talento para elevar o Sua genialidade absorveu, artista da vulgaridade não sem angústias, todas artesanal rumo à as aspirações e valorização social acima contradições do homem de mecenatos e servidão daquele período. Consciente de sua Autorretrato de Michelangelo. Michelangelo 05
  • 8. mudou para Florença. O ARTISTA Francesca morreu quando ele tinha apenas seis anos. Talvez a dolorosa perda tenha despertado em Michelangelo a vontade de dar forma à beleza de um modo que o levaria, não sem contradoções nem angústias espirituais, a produzir algumas das Michelangelo, o segundo obras mais sublimes da historia da arte. de cinco filhos, nasceu em Michelangelo exemplifica Caprese, em seis de mais plenamente que março de 1475. Seu pai qualquer outro artista o era Ludovico di Leonardo conceito de genialidade di Buonarroti Simone, um como inspiração divina, podestade, e sua mãe um poder sobre-humano Francesca di Neri di concedido a poucos e Miniato del Sera. raros indivíduos, e que Pouco depois de seu atua através deles. nascimento a família se Florença – Cidade onde o artista nasceu. 06
  • 9. Esse dualismo confere um MICHELANGELO E A pathos extraordinário às suas ESCULTURA figuras: calmas em seu exterior parecem agitadas Parte da obra ‘A Criação de Adão’ de Michelangelo, no teto da por uma avassaladora Buonarroti era, energia psíquica que não Sistina. O que retrata bem a relação do artista com sua fé. essencialmente, um escultor encontra um verdadeiro alívio – mais especificamente um na ação física. entalhador de estátuas de mármore. A arte, para ele, não era uma ciência, mas sim A ENCOMENDA “a criação de homens”, análogas à criação divina. Somente a “liberação” de Michelangelo vinha de uma corpos reais e tridimensionais estadia de muitos anos em a partir da matéria Roma e ficara fortemente insubmissa era capaz de impressionado com os corpos satisfazer o impulsor musculosos e cheios de existente em seu interior. emoção da escultura A fé de Michelangelo na helenística. Sua escala imagem do homem como heroica sua beleza e poder veículo supremo de sobre-humanos e o volume expressão deu-lhe um sentido proeminente de suas formas de afinidade com a escultura tornaram-se parte do estilo clássica que não seria de Michelangelo e, através superado por nenhum outro dele, parte da arte do artista do Renascimento. No Renascimento em geral. entanto, como neoplatônico, Em 1501, de volta a Florença, ele via o corpo humano como Michelangelo começou a a prisão terrestre da alma – esculpir para a praça de certamente nobre, mas Signoria seu célebre Davi, o sempre uma prisão. Gigante como foi chamada a escultura de mármore devido a sua dimensão grandiosa, com 434 cm. 07
  • 10. TINHA UMA PEDRA disse: "Irei combater com ele", tomou o cajado e NO CAMINHO escolheu na torrente cinco Para a realização de Davi, pedras bem lisas, metendo- as numa sacola; depois com Michelangelo recebeu uma a funda na mão, avançou enorme bloco de mármore contra o filisteu. que já havia sido golpeado O gigante, vendo Davi tão por outros escultores – um pequeno, gritou-lhe: "Serei deles foi Agostino di Ducio, que, quarenta anos antes, eu algum cão para vires em 1463, recebera a contra mim armado com um incumbência de esculpir um pau?”. Davi respondeu: "Tu profeta para uma catedral, vens contra mim com mas não chegou a concluí- espada, lança e escudo e lo. Com essa pedra já eu avanço em nome do golpeada, Michelangelo Senhor. Hoje o Senhor vai aceitou o desafio de entregar-te nas minhas transformá-la numa das mãos e toda a terra saberá mais belas estátuas da que há um Deus em Israel". Então Davi tirou uma pedra história da arte. da sacola e arremessou-a com a funda. A pedra foi O DAVI DA INSPIRAÇÃO cravar-se na fronte do filisteu e o gigante caiu por Davi era um jovem que terra. Davi correu e, vivia em Israel, e seu país tirando-lhe a espada, encontrava-se em guerra cortou-lhe a cabeça de contra os Filisteus, Golias. comandado pelo gigante Golias. Dirigindo-se ao exército de Israel, Golias dizia: "Escolhei entre vós um homem que ouse lutar comigo. Se ele me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o matar, sereis nossos escravos". E ninguém ousava lutar com ele. Então Davi apresentou-se e Parte da escultura de Davi. 08
  • 11. A OBRA O Davi que Michelangelo esculpe entre 1501 e 1504 é uma figura ereta, quase não ocupa espaço a perna oblíqua diverge do eixo que cai a prumo da cabeça ao pé e é o princípio da sucessão de concisos ímpetos de movimento: a busca flexão do pulso, o súbito volver da cabeça, o braço dobrado em direção ao ombro. O movimento da figura não se expande no espaço, encerra-se nos atos contrapostos dos membros. Michelangelo sabia da dificuldade de esculpir uma pedra já golpeada, mas era uma condição que o artista aceitava prazerosamente porque lhe permitia concentrar na imagem o máximo de energia, ou melhor, conceber a figura do herói no momento da concentração da vontade em vista da ação a cumprir (com efeito, enquanto olha ao longe com as sobrancelhas franzidas como se fixasse a mira, solta a funda que traz envolvida em torno do corpo). O artista não representa a ação, mas o seu móvel moral, a tensão interior que precede o ímpeto do gesto. O Davi de Michelangelo, com seu semblante franzido e olhar inocentemente descarado, encarna a cólera justa do homem heroico, imagem da qual os cidadãos de Florença republicana, ameaçada por todos os lados, tanto necessitavam. Cabe lembrar que, para compor este Davi viril, Michelangelo inspirou-se na figura de Hércules, tal como parecem sugerir os proeminentes músculos e as veias visíveis da mão direita. Mão direita de Davi Semblante de Davi
  • 12. A escultura sendo admirada. Através da aparente calma Com essa escultura, o genial emanada pela expressão de artista italiano conquistou Davi, percebe-se a tensão respeito e a consagração interior pela postura do torso como um dos grandes mestres ligeiramente inclinada e pela de seu tempo. Cabe ressaltar cabeça voltada para o lado, que a qualidade de Davi oferecendo o perfil ao impressionou até mesmo o espectador. O herói bíblico contemporâneo Leonardo da não mostra sinais do combate Vinci, que ficou admirado com vitorioso nem demonstra a “retórica muscular” da arrogância. estátua de mármore. Transmite, isto sim, uma força viril, que nasce da juventude e sustenta a beleza, o que a torna incomparável. 10
  • 13. GIGANTE DO POVO Réplica de bronze da escultura de Davi feita a pedidos da população Davi encontra-se atualmente na Galleria dell’Accademia, em Florença, para onde a escultura foi transferida a fim de protegê-la das intempéries. A população exigiu que o seu “gigante” ao menos continuasse presente sob forma de uma cópia. Para atender a esse pedido, encontra-se uma réplica exposta na Praça de Signoria. 11
  • 14.
  • 15. Renascimento e a Perspectiva A ARQUITETURA, MODO DE REPRESENTAÇÃO São os indivíduos que fazem a história: era assim que se pensava durante o Renascimento. A arquitetura nasceu na Florença, da década de 20 do século XV, por obra e graça de um único, genial e obstinado indivíduo: Filippo Escultura de Filippo Brunelleschi Brunelleschi. No entanto, embora a criação tivesse um caráter pessoal, o seu valor era coletivo. A arquitetura possui como meio de comunicação entre os arquitetos, o desenho. Um grande número de técnicas usadas atualmente para o desenho de arquitetura remonta o início do século XV. Os mestres do Renascimento já usavam o trio planta, corte, fachada e algumas técnicas de perspectiva, além de se utilizarem fundamentalmente da maquete. Por Aieska Santana 13
  • 16. A perspectiva. Falava-se muito dela no século XV; e foi ainda Filippo Brunelleschi quem a demonstrou na prática e lhe estabeleceu as regras de aplicação. Em substância, tratava-se de uma técnica que, segundo regras científicas, permitia fixar sobre as duas dimensões de uma superfície o aspecto da realidade tridimensional. Ela permitia “projectar” uma obra de arte, mostrando com um desenho o seu aspecto definitivo. Tecnica Renascentista de Perspectiva OS INTERIORES: A PERSPECTIVA ESPACIAL Os espaços interiores dos por Brunelleschi, em Florença, representa perfeitamente esse edifícios também aspecto da perspectiva em seu correspondem aos novos interior. Aparentemente, a critérios da perspectiva. Igreja adotou os esquemas Assim, deixou de se construir medievais: planta de cruz uma sucessão de tramos, cada latina, três naves, cúpula ao um deles dotado de centro. Mas nada separa um autonomia, mas sim uma linha tramo do outro; entretanto, as de paredes articuladas arquitraves contínuas por cima segundo as regras das ordens dos arcos evidenciam a arquitetônicas nas quais as confluência de todas as linhas linhas horizontais – que são horizontais para um único dominantes – convergem para ponto, o ponto de fuga. um ponto único. A Igreja do Santo Spírito, feita 14
  • 17. Interior do Santo Spirito em FlorenTça 15
  • 18. Paralelamente, Albert Alberti analisa o modo de estabelece a diferença entre o representar a arquitetura, desenho do pintor e o distinguindo-se em duas desenho do arquiteto: o pintor maneiras: a pictoria (dotada se esforça em ressaltar e de cores, luzes e sombras) e a volumetria dos objetos numa “lineamenta” (dotada de linhas tela plana mediante o e ângulos), que renunciava sombreamento dos objetos, a aos efeitos pictorios, passo que o arquiteto, ao marcados apenas por linhas evitar esses artifícios, geométricas. É importante representa o relevo pó meio observar no discurso de do desenho da planta e Alberti que através dos elevação das fachadas, modelos (maquetes), o servindo-se de ângulos reais e arquiteto podia acrescentar, linhas invariáveis. Albert diminuir e renovar cada distingue o arquiteto dos elemento da obra, bem como mestres de oficio, advertindo examinar e saber o modo e as ser a Arquitetura fruto da despesas implícitas na sua “lineamenta” (“disegno”, execução. As maquetes projeto) e “matéria” seccionadas ao meio, (estrutura, materiais permitiam a visualização da construtivos). Esse raciocínio estrutura (larguras, alturas e matemático dignificou a espessuras das paredes) Arquitetura ao contexto das assim como amplitude e Artes Liberais, em oposição à qualidade do conjunto, nele Artes Mecânicas, e distinguiu explicitando-se os ornamentos definitivamente o arquiteto destinados a adornar o dos tradicionais mestres de edifício e suas respectivas oficio de raiz medieval, quantidades, números questão central do requeridos de colunas, Renascimento, capitéis, bases, cornijas, magistralmente encabeçada pisos, estátuas. Isto por Albert. demonstra a grande importância que se teve e continua se tendo essa forma de representação volumétrica da arquitetura e a visualização de um futuro edifício. Visualização pelo aparelho renascentista 16
  • 19. CARTA DE RAFAEL PERSPECTIVA Seria a formação do núcleo Pouco mais de trinta anos central da representação do depois do Tratado de Albert, desenho de arquitetura. Rafael deu mais uma definição A arquitetura, desde o do que deveria ser desenho Renascimento, vive através de arquitetura: em sua dos seus desenhos e estes conhecida carta ao papa Leão são uma obra independente X, em 1519: o desenho de da construção. As evoluções edifícios pertinente ao sobre as técnicas de arquiteto se divide em três representação foram partes. Primeiro o desenho incorporando diferentes plano (planta), segundo a transformações, na busca parede de fora com seus pela visualização ideal da ornamentos (fachada) e futura obra. terceiro a parede de dentro, também com seus ornamentos (corte). 17
  • 20.
  • 21. Inspirada nas ideias do maior arquiteto brasileiro. Produtos licenciados pela Fundação Oscar Niemeyer em edição limitada.
  • 22. A Morte de Nossa Senhora Interpretada por Caravaggio Por João Feliciano e Júlia Marques O PERÍODO HISTÓRICO política ou intelectual. Naturalmente as conexões entre todos esses aspectos Barroco é o termo que já vem sendo existiam, mas ainda não chegamos a compreendê-las plenamente. utilizado a quase um século pelos historiadores da arte, para designar o Até que o façamos vamos considerar o estilo do período que vai de 1600 a estilo Barroco como uma entre outras 1750. Seu significado original – características básicas, ou seja, um “irregular, contorcido, grotesco” – está catolicismo recém-fortalecido, o Estado hoje, em grande parte, esquecido. Há absolutista e o novo papel da ciência também um consenso geral quanto ao que distinguem o período 1600-1750 fato do novo estilo ter-se originado em de tudo que houvera anteriormente. Roma, por volta de 1600. O que continua sendo uma questão contraditória é o impulso que o teria originado. Os príncipes da Igreja que apoiaram o desenvolvimento da arte barroca eram mais conhecidos por seu fausto mundano do que por seu espírito piedoso. A arte barroca não foi simplesmente o resultado de uma evolução religiosa, cúpula de karlskirche, Vienna 20
  • 23. Autorretrato de Caravaggio CARAVAGGIO, FAÍSCA BARROCA A princípio, os artistas disponíveis Ao reunir artistas de várias eram maneiristas tardios e procedências e encarregá-los de medíocres, mas a campanha logo tarefas desafiadoras, Roma acabou atraiu mestres jovens e ambiciosos. se tornando o local de origem do Foram eles que criaram o novo Barroco, exatamente como estilo. O mais notável dentre eles era acontecera com o Alto Renascimento um pintor de gênio, chamado um século antes. O papado voltou a Caravaggio, devido à sua cidade patrocinar a produção de obras de natal próximo a Milão, que pintou arte em grande escala, com o várias telas monumentais para a objetivo de transformar Roma na Igreja de San Luigi dei Francesi. mais bela cidade de todo o mundo cristão. 21
  • 24. O PINTOR DE GÊNIO Em 1571, no povoado chamado Caravaggio, próximo de Milão, nascia Michelangelo Merisi. Foi um homem violento em uma época violenta. Caravaggio teve a valentia de pintar e transformou-se em um dos maiores pintores de seu tempo, inscrevendo seu nome na história da arte. Foi no contexto do Barroco que Michelangelo Merisi mostrou-se ao mundo em sua curta e tumultuada vida. Como Caravaggio presenteou a história da arte universal com uma obra tão influente quanto incompreendida em seu tempo; uma obra sustentada na verdade tal como ele a via e tão radical e estrema que seus contemporâneos não puderam ignorá-la. Autorretrato do artista Os pais de Caravaggio foram Fermo Merisi e Lucia Aratori. Seu pai era arquiteto-decorador de Francesco Sforza, duque de Milão, e Marquês de Caravaggio. Aos vinte anos aproximadamente estabeleceu-se em Roma. Ali permaneceu até 1606, quando, tendo matado um jovem em uma rixa de jogo, fugiu para Nápoles, para Malta, para a Sicília e depois de novo para Nápoles. O artista morreu enquanto voltava a Roma, perdoado pelo papa. 22
  • 25. AS CARACTERÍSTICAS responsabilidades. Isso significa: DE SUAS OBRAS excluir a busca do “belo”, visar o verdadeiro; renunciar à invenção, A pintura de Michelangelo Merisi, o restringir-se aos fatos; não pôr em Caravaggio (1571-1610), foi prática um ideal dado, mas procurar considerada pelos críticos do ansiosamente uma saída ideal na Seiscentos antitética à pintura de práxis comprometida da pintura; Annibale, outro artista de sua época contrapor o valor moral dessa práxis (1560-1609): este volta-se para o ao valor intelectual das teorias. ideal, Caravaggio, para o real. Trata- se de uma esquematização, que não corresponde àquela que foi, de fato, a posição dos dois artistas. É, contudo importante que, mesmo esquematizando, a crítica da época tenha reconhecido: primeiro, que Annibale e Caravaggio eram os dois grandes protagonistas da pintura do século; segundo, que ambos se opunham nitidamente à cultura humanística romana; terceiro, que o idealismo de um e o realismo de outro eram duas tendências divergentes, mas em relação dialética e quase de recíproca integração ou complementaridade. Os dois polos, enfim, do mesmo problema. A sua vida foi desesperada e violenta; mas uma extrema tensão moral e religiosa confere à sua pintura uma carga revolucionária. O seu realismo nasce da ética Detalhe da obra ‘A morte da virgem’. religiosa instaurada por Carlo Caravaggio estava convencido de Borromeo na sua diocese lombarda: que deveria pintar a natureza tal não consiste em observar e copiar a como a via independentemente da natureza, mas em aceitar a dura impressão causada ao expectador. realidade dos fatos, em desdenhar Sob essa perspectiva, o artista as convenções, em dizer toda a sentiu um impulso de liberdade que verdade em assumir as máximas o levava a pintar o que desejasse. 23
  • 26. MODELOS MUNDANOS Os seus quadros contem um “cristianismo laico” isento de dogmas teológicos, que atrai tanto os protestantes como os A obra de Caravaggio dá uma forma católicos. discreta e comovedora a uma atitude Suas vivências como artista de rua compartilhada por certos grandes santos contribuíram para a criação dos rostos da contrarreforma: a de que os mistérios maliciosos, ardilosos e descarados de seus da Fé são revelados não por especulação personagens. Como demonstraram intelectual, mas espontaneamente, por análises radiográficas feitas em suas uma experiência interior, aberta a todos os obras. homens. Imagens de parte filme “Caravaggio” onde representa como o artista pintou a obra. 24
  • 27. Cena do filme semelhante ao quadro. não passaram pelo crivo O pintor considerava que eclesiástico, o que o obrigou a introduzir uma ideia pré-concebida realizar muitas novas versões com no quadro falsificava sua as devidas correções. Suas veracidade. Essa ideia imagens de Cristo, da Virgem e revolucionária causou escândalo dos santos representados como entre os academicistas e na Igreja. seres próximos do plano terreno Caravaggio não se limitava a provocaram o assombro da Igreja. mostrar em suas telas o sofrimento Pudera: para produzir as imagens, idealizado dos mártires cristãos. o artista utilizava modelos Expunha com toda a crueza a inspirados na rua e, em especial, brutalidade e a proximidade da dor. em bairros indecorosos da cidade, O artista violentou cujos gestos e olhares refletiam sistematicamente o princípio de sem recato o desespero da luta decoro na pintura proclamado cotidiana pela sobrevivência em pelos ideológicos da um ambiente dominado pela Contrarreforma. Para estes, os miséria. Desse modo, os quadros personagens divinos deveriam ser encomendados pelos ricos retratados com os atributos burgueses para as igrejas sagrados e não com elementos costumavam ser recusados pelos que os vulgarizassem aos olhos do religiosos e, em seguida, eram expectador. comprados por amantes da arte. Apesar da boa vontade de seu protetor, o cardial Del Monte, diversos quadros de Caravaggio 25
  • 28. A OBRA POLÊMICA Parte da obra de Caravaggio. A morte da Virgem é o maior quadro de apontou o historiador da arte Roberto altar realizado por Caravaggio e um dos Longhi. mais escandalosos. Foi encomendado por Laerzio Cheribuni para a Igreja de Na humilde habitação ornamentada por Santa Maria della Scala. Os carmelitas, uma cortina vermelha, os onze porém, não aceitaram o quadro por discípulos e Maria Madalena estão considerá-lo ofensivo. Os motivos para a dispostos em volta da Virgem que acaba recusa foram variados: Maria fora de morrer e cujo corpo ainda não foi representada como uma cortesã; seus preparado para o túmulo. Cada um dos pés apareciam descalços; e seu ventre presentes, como em A deposição no inchado originou o rumor de que se túmulo, está envolto nos próprios tratava do cadáver de uma mulher pensamentos. afogada. Ao mesmo tempo, vincula-se aos Caravaggio deveria se ater a tratar da demais pelo sentimento comum de dor “morte ou trânsito” da Virgem. Porém, o diante da perda definitiva, uma variada e artista dessacralizou mais uma vez o complexa gama de expressões revela a episódio e procurou refletir a morte com intensa dor e silenciosa contemplação a angustiante experiência de quem do corpo inerte que põe o homem perde um ente querido. No quadro não defronte do mistério da morte. há presença divina; apenas a dor O excesso de crueza, desconsolo e humana está presente no pobre verdade da cena horrorizou a quem era ambiente. Caravaggio procurou mostrar permitida a passagem para outra vida. o pranto pela “morte de uma mulher do povo, bem conhecida do bairro”, como 26
  • 29. Obra ‘A morte da virgem’ de Caravaggio. olhos do espectador até o rosto da jovem Caravaggio estabeleceu um extraordinário Virgem morta. Para esse ponto convergem movimento visual que conduz o expectador as linhas compositivas do quadro, ao interior do quadro. Duas linhas em reforçadas pelo tecido de forte vermelho diagonal, pontuadas pelos focos de luz, que caí do teto da estadia. evocam uma cruz, como o artista fez em A Acertou o historiador Ernst Gombrich crucificação de São Pedro. quando observou que a luz cegante de Com poderosa plasticidade a luz derrama- Caravaggio “ressalta com sólida dignidade se a partir do ângulo superior esquerdo e o que poucos de seus contemporâneos abre caminho entre as sombras. Ilumina, eram capazes de apreciar”. em especial, o corpo da Virgem, tornando brilhante seu vestido vermelho e conferindo-lhe um ilusório impulso de vida. A luz também alcança Madalena e guia os 27
  • 30.
  • 31. Movimento na Arquitetura Barroco e Atualidade Palácio Carignano – Guarin Guarini Galaxy Soho – Zaha Hadid estavam presentes determinadas A arquitetura barroca, apesar de características: a procura do possuir características variantes de movimento, quer real (por uma região, possui a mesma designação ondulada, uma fonte, de onde a água por um núcleo comum. jorra em forma sempre nova), quer Esse núcleo comum foi, nos sugerido (um personagem retratado primeiros tempos, identificado como durante uma ação violenta ou sob um o arbítrio, a falta de lógica, o exagero. esforço); a tentativa de representar ou Foi mesmo por isto que a arte do de sugerir, o infinito (uma alameda século XVII se chamou barroca. que se perde no horizonte, um fresco Por João Feliciano Tornando, esse termo em quase que simula a abóboda celeste, um todas as línguas europeias, um jogo de espelhos que altera e torna sinônimo de extravagante, anormal, irreconhecíveis as perspectivas); a irregular. importância dada às luzes e aos Foi na segunda metade do século efeitos luminosos na percepção final passado que o termo barroco e na própria concepção da obra de recebeu um significado mais objetivo. arte; o gosto pelo teatral, pelo O crítico suíço Heinrich Wölfflin e cenográfico, pelo faustoso; a seus seguidores referiram-se sempre à tendência para não respeitar os arte do século XVII e dos princípios limites das disciplinas, isto é, para do século XVIII, definiram como misturar a arquitetura, a escultura e a barroca aquelas obras em que pintura. 29
  • 32. OS ELEMENTOS QUE PROPORCIONAM MOVIMENTO O movimento na arquitetura extremidades, serviam para articular, para unir barroca tornou-se presente harmoniosamente, dois pontos principalmente pelas curvas. Por situados a alturas diferentes. seu turno, uma vez descoberto, Estas volutas eram apostas o motivo da ondulação não principalmente sobre fachadas ficou limitado às paredes. A das igrejas e foram usadas com ideia de das movimento a um tanta frequência que eram elemento seguindo curvas mais praticamente uma regra, ou menos regulares tornou-se constituindo hoje o meio mais num tema dominante de toda a simples e acessível para arte barroca. Existiam reconhecer uma fachada ondulações nos interiores, nas barroca. fachadas e até mesmo colunas onduladas. A função do orelhão, apesar de sua forma bizarra, não é O gosto pela curva permanece, meramente decorativa: é, mesmo quando não se chega sobretudo, dinâmica, aos extremos como os referidos. construtiva. No entanto, as volutas e orelhões, elementos em forma de fita encurvada e enrolada nas Orelhão – Palácio Carignano Volutas – Igreja de Santa Maria da Saúde - Veneza 30
  • 33. O MOVIMENTO NA ARQUITETURA ATUAL Após seu surgimento na era barroca, o movimento nas construções tornou-se presente em vários estilos arquitetônicos. Servindo até como referência de estilos de determinados arquitetos. Atualmente, o profissional de arquitetura que possui o movimento como algo essencial em seus projetos é a arquiteta Israelense Zaha Hadid. Nascida em Bagdá, no ano de 1950, Zaha Hadid formou-se em arquitetura na cidade de Londres, na Architetural Association em 1977.
  • 34. IDEIAS E TRABALHO Numa primeira fase, edifício, mas como o tempo do percurso de um visitante que prevalecem a fragmentação e o procede à descoberta gradual reagrupamento dinâmico dos dos espaços, dos quais não é fragmentos no projeto, onde possível ter uma visão de campos de fluxo e de forças de conjunto. Emerge o convite a se diferentes intensidades geram fazer percorrer, com uma uma expressão arquitetônica sensação de surpresa similar marcada por movimento e àquela que se tem em um fluidez. Na experiência espacial contexto natural, posto que cada é interessante observar a relação passo revela vistas inesperadas e com o tempo, compreendido distintas. não como a duração de um 32 Conjunto Residencial Spittelau
  • 35. Interior do Hotel Puerta America – Quarto Total White A própria Hadid declara que uma dimensão tridimensional inédita, relacionada não mais ao procura propiciar espaços movimento das linhas, mas ao públicos capazes de levar prazer das massas. São massas e acrescentar alguma coisa a produzidas com uma nossa vida. Isso sugere uma gestualidade que articula o solo, constante reinvenção das formas fende-o, releva-o e deforma-o do espaço de vida, colocando para produzir formas plásticas, em discussão a percepção que espacialidades curvas e temos delas e o modo como as superfícies flexíveis. Figuras habitamos. Conduz a um côncavas e convexas que produto urbano em grande dialogam entre si e parecem se medida mais permeável, que originar da observação de não tem mais nada a ver com a fenômenos naturais, como o cidade do espaço privado contra derretimento das geleiras ou o o espaço público. movimento da lava de um A paisagem está sempre e cada vulcão. vez mais no centro de um novo interesse projetual, que explora 33
  • 36. TRIFLOW BYZAHA HADID HIGH MODEL LOW MODEL
  • 37. BIBLIOGRAFIA 1) Davi, Deus e Michelangelo ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte Italiana: de Michelangelo ao Futurismo. tradução KATINSZKY, Wilma de. Vol. 3. São Paulo: Casac & Naify, 2003. 480 p. JANSON, H. W. História Geral da Arte: Renascimento e Barroco. adaptação LEAL, Maurício Balthazar. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 814 p. JANSON, H. W.; JANSON, Anthony F. Iniciação à História da Arte. tradução CAMARGO, Jefferson Luiz. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 475 p. RUSSO, Martin Enesto. Michelangelo: Coleção Folha Grandes Mestres Da Pintura. Barueri: Editorial Sol 90:2007. nº 9. 2) Renascimento e a Perspectiva REQUENA, Guto. Renascimento e Ciberespaço: Representação na Arquitetura. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. p.01.05. CONTI, Flávio. Como Reconhecer a arte do Renascimento. Lisboa: Edições 70, 1996. 68p. 3) A Morte de Nossa Senhora Interpretada Por Caravaggio RUSSO, Martin Enesto. Caravaggio: Coleção Folha Grandes Mestres Da Pintura. Barueri: Editorial Sol 90:2007. nº 12. 4) Movimento na Arquitetura Barroco e Atualidade CONTI, Flávio. Como Reconhecer a arte Barroca. Lisboa: Edições 70, 1996. 68p. LEFAIVRE, Liane; TZONIS; Alexander. Coleção Folha Grandes Arquitetos: Zaha Hadid. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011. Vol.13. 30 Imagens - Google 35
  • 38.