O Brasil é líder mundial em produção de suco de laranja, sendo que 2/3 vêm de São Paulo. Porém, as laranjeiras sofrem com três pragas: greening, cancro cítrico e clorose variegada dos cítricos (CVC). Pesquisas do IAC em Cordeirópolis encontraram que a molécula N-acetilcisteína combate a CVC, impedindo a formação de biofilmes nas plantas. Testes em campo começarão neste mês para validar a descoberta e ajudar os produt
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Combate à CVC na laranja
1. II – São Paulo, 123 (234)
Diário Oficial Poder Executivo - Seção I
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Geraldo Alckmin - Governador
Volume 123 • Número 234 • São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
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O
Brasil domina o mercado mundial
de suco de laranja e 2/3 da produção saem das plantações do Estado
de São Paulo. Mesmo assim, o
fruto sofre, ainda, principalmente
de três doenças, o greening, o cancro cítrico e a clorose variegada dos
cítricos (CVC). As duas primeiras
são incuráveis e a única forma de
erradicação é o corte da planta
infectada. A praga ataca as folhas
da laranjeira e impossibilita o
crescimento do fruto, inviabilizando sua utilização para suco ou
consumo em mesa. Já a CVC pode
ser debelada ou pelo menos tolerada, conforme pesquisa do Centro
de Citricultura do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em
Cordeirópolis.
FOTOS: CLEO VELLEDA
Caminho mais doce para a laranja
Alessandra examina planta atacada pela Xylela fastidiosa: problema perto de solução
Pode estar saindo dos
laboratórios do IAC, em
Cordeirópolis, a solução
para o combate da Xylela
fastidiosa, uma das piores
pragas dos laranjais
A clorose é causada pela bactéria Xylela fastidiosa, que forma
colônias chamadas biofilmes nas
folhas, as quais impedem que a planta receba água e nutrientes do solo.
“É como se um ser de célula única se
tornasse pluricelular”, explica a bióloga e pesquisadora Alessandra Alves
de Souza, do IAC de Cordeirópolis.
Ela conta que após anos de estudo
descobriu-se que a molécula de um
aminoácido, a N-acetilcisteína (NAC),
usada na saúde humana, combate a
Xylela. A substância é o princípio
ativo de um medicamento para pro-
A praga impede o crescimento do fruto
Curiosidades da laranja
• Originária da China
• É rica em vitaminas do complexo B, tem um pouco de vitamina A e é considerada
grande fonte de vitamina C
• Evite as laranjas muito maduras. Elas devem ser consumidas no ponto certo
de maturação
• A vitamina C começa a desaparecer quando a polpa entra em contato com o ar. Só
descasque na hora de consumir
• Para cortar, use faca de aço inoxidável. Outros metais oxidam a vitamina C
• Quanto mais ácida for a laranja, mais vitamina C
(Fonte: site www.gestaonocampo.com.br)
blemas respiratórios no homem. Misturada
ao fertilizante, a cisteína é depositada no solo,
absorvida pela raiz da árvore e age contra a
formação do biofilme.
Para chegar a essa conclusão, foi necessário construir o sequenciamento genético da bactéria da CVC (com cerca de 2,8
mil genes). Alguns deles são causadores
A cisteína é misturada ao fertilizante
da doença. Já era conhecida a atuação da
molécula NAC no ser humano, análoga à
ação da Xylela na laranjeira. “Foi aí que
começamos a pesquisar a cisteína no combate à CVC”, recorda Alessandra. O IAC
participou do sequenciamento da bactéria
com outros institutos parceiros.
Ela ressalta que, por enquanto, o trabalho foi feito em projeto piloto utilizando
plantas de dois a três anos, crescidas na
estufa do centro de pesquisa do IAC. Mas
ainda este mês ela e sua equipe de estudantes pretendem iniciar o trabalho de
campo, em duas fazendas de Araraquara e
São Carlos, num projeto mais ambicioso.
Alessandra prevê a conclusão da pesquisa
em dois anos, quando o resultado será
repassado aos produtores. O trabalho nos
pomares das fazendas será custeado por
empresas privadas do setor e por fabricantes de fertilizantes, além de receber o apoio
de instituições de fomento à ciência nos
âmbitos estadual e federal.
Flagelo da laranja – A doença mais
devastadora dos cítricos ainda é o gree-
ning, também conhecido como huanglongbing. Seu poder de destruição é devastador.
As únicas formas de conter a disseminação
desse mal são cortar a árvore atingida ou
usar inseticida para matar o transmissor,
um psilídeo que não tem mais do que alguns
milímetros de tamanho. O fruto fica murcho,
cobre-se de manchas e cai do pé. Outro problema grave do setor, informa Alessandra, é
o cancro cítrico, que torna a laranja imprestável. Também não tem cura, e a solução é
erradicar a planta infectada.
Assim como a CVC, o greening e o
cancro são causados por bactérias. O transmissor da CVC é um inseto chamado cigarrinha, que se contamina numa árvore infectada e leva a bactéria para outra, até então
sadia. Há que se controlar a cigarrinha
com inseticidas. Já o micro-organismo que
causa o cancro cítrico é transmitido pelo ar
ou pela contaminação de uma ferramenta
de poda, por exemplo.
Maior acervo – O centro de pesquisa
de Cordeirópolis, criado em 1928 numa área
de 199 hectares, reúne o maior acervo mundial de cítricos, com aproximadamente 3 mil
variedades, mantidas em estufas e no campo,
informa o engenheiro agrônomo e diretor da
unidade, Marcos Antonio Machado. Entre as
variedades desenvolvidas nos seis laboratórios do centro para a indústria de sucos, ele
cita cinco tipos, que correspondem a 80% da
produção brasileira.
Para consumo em mesa, foram desenvolvidos seis tipos de mexerica (ponkan,
morgote e outras) e cinco laranjas, entre
elas a bahia, a lima e as pigmentadas, de
polpas vermelhas. Nos limões, destacam-se
tipos lisboa, taiti e galego. Machado explica
que as variedades são fornecidas, geralmente, em forma de uma vareta de aproximadamente 25 centímetros para viveiros
de planta, onde é feito o enxerto. Cada peça
produz mais de dez borbulhas (brotos) para
a enxertia. A indústria e o produtor compram as mudinhas nos viveiros especializados em cítricos.
O engenheiro assegura que as varetinhas são vendidas dentro de parâmetros
de segurança genética e fitossanitária, isentas de pragas ou outra contaminação. Para
conseguir essa pureza, o centro do IAC de
Cordeirópolis utiliza estufas invioláveis e seis
laboratórios, como os de biotecnologia, fitopatologia e de genética, por exemplo, onde
trabalham técnicos, estudantes e estagiários.
“Somos procurados por estudantes de biologia, agronomia e áreas afins para trabalhos de pesquisa durante o curso normal ou
depois, para doutorado”, garante o diretor.
Otávio Nunes
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013 às 02:20:04.