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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
DISCIPLINA – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I – FUE 1038
PROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN



    A PROBLEMÁTICA HEREDITARIEDADE E AMBIENTE ENFOCADA A PARTIR DAS TEORIAS 
                 MATURACIONISTAS, COMPORTAMENTALISTAS E INTERACIONISTAS


         Segundo Bee (1996) a discussão hereditariedade X ambiente, ou natureza X meio ambiente, ou 
nativismo   X   empiricismo,   é   uma   das   questões   teóricas   mais   antigas   tanto   da   filosofia   quanto   da 
psicologia.   Esta   questão,   quando   formulada   por   um   psicólogo   desenvolvimentista,   é   basicamente:  o 
desenvolvimento de um indivíduo é determinado por padrões inatos no nascimento ou é moldado 
por experiências posteriores a ele?
         Antes   de   abordarmos   a   problemática   em   questão,   seria   interessante   explicitarmos   alguns 
conceitos, tais como HEREDITARIEDADE e AMBIENTE.


 “A  hereditariedade  abrange todas as influências transmitidas dos pais às células do sexo, que se 
 fundem para formar o rebento. O que as pessoas herdam continua a predispô­las e a estimulá­las por 
 toda a vida, porque o código hereditário atua enquanto existe vida. A hereditariedade é um processo, 
 no decurso de cujo desenvolvimento emergem os traços genéticos.” (PIKUNAS, 1979, p. 60­61)



 Ambiente ­ “2. Aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas; meio ambiente.” (FERREIRA, 
 1986, p. 101­102)
 “O  meio  em que a pessoa vive é tanto físico quanto social. Os vários fatores físicos ­ por exemplo, 
 clima, localização em um subúrbio descampado ou num bairro congestionado da cidade, o tamanho e 
 a conveniência do lar ­ continuamente afetam a criança de inúmeras maneiras.” (PIKUNAS, 1979, p. 
 65)


         A polêmica sobre o papel que a herança e o meio ambiente desempenham na determinação do 
desenvolvimento   é   uma   discussão   que   remonta   as   bases   da   psicologia   evolutiva.   Desta   discussão 
surgiram três tendências ou correntes teóricas:
         ­ TEORIAS MATURACIONISTAS ou INATISTAS
         ­ TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS ou AMBIENTALISTAS
         ­   TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS


         Cada uma dessas teorias defende um ponto de vista em relação à questão da influência da 
hereditariedade e do ambiente sobre o desenvolvimento do indivíduo.
2
        1 ­ TEORIAS MATURACIONISTAS OU INATISTAS


        Os   defensores   desta   teoria  buscam   nos   princípios   evolutivos   de   Darwin   o   suporte   para   seus 
argumentos. Acredita­se, também, que existe nesta corrente uma influência direta de Platão e de Descartes, quando 
estes afirmam que algumas idéias do indivíduo são inatas. Os partidários desta corrente, embora não concordem 
totalmente com esta afirmação, acreditam que existe uma prefiguração genética que determina o desenvolvimento do 
indivíduo. Segundo BEE (1996)
                                   O argumento não é o de que os bebês nascem sabendo muitas coisas, ou possuem 
                                  conceitos inatos, mas o de que o bebê está ‘programado’ de alguma maneira para 
                                  prestar   mais   atenção   a   certos   tipos   de   informações,   ou   para   responder   de 
                                  determinada maneira aos objetos.(p. 17­18)


        Na visão dessa autora, os atuais teóricos maturacionistas diferem da concepção cartesiana por não propor 
que esses padrões inatos como “final da estória” mas como “ponto de partida”. Helen BEE acredita que o que se 
desenvolve,  a  partir  da configuração genética, é “um  resultado da  experiência filtrada  através  dessas inclinações 
iniciais”(1996, p. 18)
        Os   teóricos   maturacionistas   desprezam   a   influência   dos   fatores   ambientais   como   determinantes   do 
desenvolvimento  do  ser  humano. Para os partidários desta  teoria,  a  maturação  desses  mecanismos  internos do 
indivíduo (considerados inatos) é que pode determinar uma modificação no comportamento e, por sua vez, refletir no 
meio ambiente em que o sujeito está inserido.


        1.1 ­ Principais representantes
        1.1.1 ­ Granville STANLEY HALL (1844­1924) ­  Um dos mais importantes psicólogos norte­americanos do 
início do século XX, sendo a ele creditadas importantes realizações tais como: primeiro americano a obter o grau de 
Doutor  em Psicologia;  fundador do primeiro  laboratório  de Psicologia  da  América;  fundador do primeiro  jornal  de 
Psicologia dos Estados Unidos e da Associação Americana de Psicologia.
        Inspirado no trabalho de Darwin, Hall desenvolveu sua teoria baseada em idéias evolucionistas. Acreditava 
que a criança se desenvolvia a partir de uma série de eventos geneticamente determinados, que desvelavam­
se paulatinamente.
        Consciente das limitações das biografias de bebês (“baby journal”) preconizadas por Darwin, Stanley Hall 
iniciou a coleta de uma série de dados objetivos das crianças, utilizando questionários com perguntas para crianças 
de diferentes idades sobre as coisas que elas poderiam dizer de si mesmas: jogos favoritos, sonhos, brinquedos, 
entre   outras.   A   partir   destes   questionários,   Hall   extraiu   os   elementos   sustentadores   de   sua  “Teoria   da 
Recapitulação”.
        A  teoria   da   recapitulação  endossa   a   noção   de   que   a  Ontogênese  (origem   e   desenvolvimento   de   um 
organismo de um indivíduo e suas funções durante a vida) repete a Filogênese (desenvolvimento de uma espécie, 
de sua origem ao estado presente). Ou seja, reforça a idéia de que a seqüência do desenvolvimento observada em 
qualquer indivíduo é paralela ao evolucionário desenvolvimento das espécies. Por exemplo, na visão deste autor, as 
3
habilidades eventuais da criança para caminhar, assemelham­se a transição para a locomoção na postura elevada 
na evolução dos antecessores do homosapiens.
         De acordo com CABISTANI & MACIEL (1986), Hall foi o pioneiro no estudo da adolescência, descrevendo­a 
como   “uma   ‘fase   de   tempestades   e   tensões’   correspondente   à   evolução   humana   na   época   do   Renascimento   e 
tendendo   à   calma   ao   término   da   juventude   que   corresponderia   aos   tempos   Modernos   da   Evolução   da 
Humanidade.”(p. 5)
         A teoria de Stanley Hall sofreu inúmeras críticas dos partidários da corrente sócio­cultural, principalmente por 
ter superestimado os fatores de natureza fisiológicos e praticamente desprezado os fatores ambientais.


         1.1.2 ­ Arnold Lucius GESELL (1880 ­ 1961) ­  É considerado o psicólogo desenvolvimentista que mais se 
interessou pelas questões maturacionais do desenvolvimento humano. Estudou psicologia na Universidade de Clark, 
em Massachuts, onde recebeu influência de Stanley Hall. Diplomou­se em Medicina na Universidade de Yale, por 
acreditar que treinamento médico era essencial para o estudo sobre o desenvolvimento infantil.
         No início, Gesell interessou­se pelo estudo de crianças com retardo no desenvolvimento e, em função disso, 
concluiu que o estudo da criança normal era indispensável para a compreensão de crianças tidas como “anormais”. 
Iniciou então, por volta de 1919, estudos sobre o desenvolvimento mental de bebês, dirigindo sua investigação à 
crianças   mentalmente   normais.   Observou   quase   doze   mil   crianças   de   diversas   idades   e   de   diversos   níveis   de 
desenvolvimento e, a partir destas investigações, apresentou uma listagem básica de desenvolvimento infantil entre 3 
e 30 meses de idade.
         Gesell  considerava   que    desenvolvimento  era   o  conjunto   de   fenômenos  que   concorrem   para   que   o 
indivíduo seja capaz de realizar funções cada vez mais complexas.  Assim, a “maneira de ser” do indivíduo, o 
modo   como   ele   age,   como   se   comporta   ou   se   conduz   vai   traduzir   o   seu   desenvolvimento.   Para   Gesell, 
comportamentos   e   condutas   são   termos   que   se   referem   a   todas   as   reações   sejam   elas   reflexas,   voluntárias, 
espontâneas ou aprendidas.
         “Assim como o corpo cresce, a conduta evolui, é um processo contínuo” (DOCKHORN, 1995, p. 179). A 
evolução da conduta, ou comportamento, inicia­se com a concepção e segue uma sucessão ordenada, etapa por 
etapa, representando cada uma delas um grau ou  nível de amadurecimento.  À medida que o sistema nervoso se 
modifica sob a ação do crescimento, a conduta se diferencia e muda. Gesell afirma que a criança “nunca estará apta 
enquanto seu sistema nervoso não o estiver”.
         O   desenvolvimento   do   comportamento   depende,   então,   do   amadurecimento,   ou   de   um   processo   de 
maturação, do sistema nervoso, embora também seja influenciado por uma troca recíproca de fatores intrínsecos e 
ambientais que afetam a criança. A constituição genética do indivíduo, bem como suas experiências intra e extra­
uterinas afetam o seu crescimento físico, intelectual e emocional e isto, por sua vez, determinará sua reação favorável 
ou desfavorável às posteriores modificações do ambiente. Por exemplo, uma grave desnutrição intra­uterina que se 
prolongue pelo primeiro ano de vida da criança poderá afetar seu crescimento, deixando­a mais suscetível a doenças 
infecciosas, podendo prejudicar seu desenvolvimento intelectual o que, por sua vez, poderá causar problemas na 
esfera social.
                  Gesell reforça esta idéia afirmando que
4

                                     Sem   dúvida   ele   [o   bebê]   carece   de   um   ambiente   em   que   desenvolva   as   suas 
                                     capacidades, e um ambiente favorável garante­lhe uma realização também favorável 
                                     das suas potencialidades de crescimento. mas é preciso ter em mente que os fatores 
                                     ambientais   favorecem,   infletem   e   modificam   as   progressões   do 
                                     desenvolvimento mas não lhe dão origem.  As seqüências e progressões vêm de 
                                     dentro do organismo. (GESELL, 1989, p. 8)


         De acordo com Gesell, existem leis de continuidade e amadurecimento que explicam as semelhanças gerais e 
as tendências básicas do desenvolvimento infantil, porém, não há duas crianças que cresçam da mesma maneira. 
Cada   criança   tem   um   ritmo   e   um   estilo   de   desenvolvimetno   tão   característico   de   sua   individualidade   como   sua 
fisionomia.
         O   desenvolvimento   é  regular,  ou   seja,   segue   uma   seqüência   de   etapas:   a   criança   balbucia   antes   de 
pronunciar palavras,  diz  palavras  soltas  antes  de  formar  frases;  senta  antes  de  ficar  em  pé,   engatinha  antes  de 
caminhar.   De   acordo   com   o   ideário   de   Gesell,   existe   uma   forte   correlação   do   desenvolvimento   com   o   sistema 
orgânico,   sendo   impossível  separar   as  manifestações  orgânicas  ou   mentais  do   desenvolvimento.   Desta   forma,   o 
estado do desenvolvimento deve ser  avaliado não apenas por sinais físicos, mas também por sinais dinâmicos, pelo 
modo da conduta.
         Conforme DOCHKORN (1995), Gesell definiu, arbitrariamente, quatro campos de conduta na avaliação do 
lactente:
         Conduta motora ­ considera os movimentos corporais amplos e os de coordenação fina: reações posturais 
(sustentação da cabeça, sentar­se, forma de tocar um objeto, manejá­lo).
         Conduta   adaptativa   ­  é   o   tipo   de   comportamento   que   se   evidencia   quando   a   criança   tem   que   resolver 
problemas, refere­se às mais delicadas adaptações sensório­motoras ante um objeto ou situações. Por exemplo: a 
coordenação de movimentos oculares e manuais para alcançar e manipular objetos.
         Conduta   da   linguagem   ­  considera   a   linguagem   no   seu   sentido   mais   amplo,   incluindo   toda   forma   de 
comunicação   verbal   e   audível,   bem   como   gestos,   movimentos   posturais,   etc.   Inclui   também   a   imitação   e   a 
compreensão do que expressam as outras pessoas.
         Conduta pessoal­social ­  compreende as reações da criança ante a conduta social do meio em que vive. 
São reações múltiplas e variadas, tão dependentes do ambiente que pareceriam fora do diagnóstico evolutivo, mas 
observou­se   como   nos   outros   campos,   que  a   evolução   daconduta   é   determinada   fundamentalmente   por   fatores  
intrínsecos do crescimento.  Por exemplo: O controle esfincteriano é uma exigência do meio, sua aquisição, porém, 
depende, primariamente, do amadurecimento das funções esfincterianas.


2 ­ TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS OU AMBIENTALISTAS


         Os partidários desta teoria sofreram influência dos filósofos empiricistas, tais como John Locke, que afirmava 
que,   no   nascimento   a   mente   humana   é   uma  tábula   rasa.    Para   os   empiricistas   todo   conhecimento   provém   da 
experiência. Desta forma, os comportamentalistas atribuem toda experiência adquirida em função do  meio físico e 
5
social, refutando toda a idéia da herança genética e reivindicando para o ambiente todo peso da determinação do 
desenvolvimento, enfatizando seu papel na modelagem do comportamento.
        Para   os   teóricos   desta   corrente,   o   comportamento   é   resultado   efetivo   da   aprendizagem   ou   de   respostas 
condicionadas por determinados estímulos. 
        Embora os comportamentalistas nãorejeitem as idéia de que existam variáveis inconscientes no indivíduo, 
simplesmente as desprezam pois só lhes interessa o estudo do comportamento observável, objetivo.


Principais   representantes:    Ivan   Petrovich   PAVLOV   (1849­1936),   John   Bordais   Watson   (1878­1958)   e   Burrhus 
Frederic SKINNER (1904 ­1990).




        3 ­ TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS


        Os   teóricos   desta   corrente   acreditam   que   o   comportamento   e   o   desenvolvimento   do   indivíduo   são 
influenciados tanto por aspectos genéticos quanto por aspectos ambientais. 
        Para os construtivistas é importante conhecer como estes fatores (hereditários e ambientais) se relacionam 
entre si.
        Neste   processo   de   desenvolvimento,   defendido   pelas   teorias   construtivas,   o   indivíduo   constrói   seus 
conhecimentos e sua própria abordagem do mundo, utilizando­se para isto tanto dos fatores hereditários quanto dos 
ambientais. Os teóricos desta posição preocupam­se em estudar  o processamento interno que a criança faz da 
experiência.
        Principais representantes: Jean PIAGET,  VYGOTSKY, WALLON e GARDNER.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CABISTANI,  Conchita, MACIEL,  Eloísa A.  Adolescência: desenvolvimento e implicações educacionais.  Santa 
   Maria: Imprensa Universitária, UFSM, 1986.
DOCKHORN, Marlene da Silva M. Desenvolvimento de lactentes e pré­escolares: aplicação da teoria de Gesell. In: 
   KREBS, Ruy Jornada (org.) Desenvolvimento humano: teorias e estudos. Santa Maria: Casa Editorial, 1995.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2.ed. rev. amp. Rio de 
   Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993.
GESELL, Arnold L. A criança dos 0 aos 5 anos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
MOSQUERA, Juan   J. M. et. al.  Aprendizagem: perspectivas teóricas.     Porto Alegre:       Ed. da Universidade/ 
   PADES/ UFRGS/ PROGRAD, 1985.
MIZUKAMI, Maria da graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
RAPPAPORT, Clara R., FIORI, Walter da R., DAVIS, Claudia.  Psicologia do desenvolvimento.  v. 1. São Paulo: 
   EPU, 1981.

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Hereditariedade X Ambiente

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DISCIPLINA – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I – FUE 1038 PROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN  A PROBLEMÁTICA HEREDITARIEDADE E AMBIENTE ENFOCADA A PARTIR DAS TEORIAS  MATURACIONISTAS, COMPORTAMENTALISTAS E INTERACIONISTAS Segundo Bee (1996) a discussão hereditariedade X ambiente, ou natureza X meio ambiente, ou  nativismo   X   empiricismo,   é   uma   das   questões   teóricas   mais   antigas   tanto   da   filosofia   quanto   da  psicologia.   Esta   questão,   quando   formulada   por   um   psicólogo   desenvolvimentista,   é   basicamente:  o  desenvolvimento de um indivíduo é determinado por padrões inatos no nascimento ou é moldado  por experiências posteriores a ele? Antes   de   abordarmos   a   problemática   em   questão,   seria   interessante   explicitarmos   alguns  conceitos, tais como HEREDITARIEDADE e AMBIENTE. “A  hereditariedade  abrange todas as influências transmitidas dos pais às células do sexo, que se  fundem para formar o rebento. O que as pessoas herdam continua a predispô­las e a estimulá­las por  toda a vida, porque o código hereditário atua enquanto existe vida. A hereditariedade é um processo,  no decurso de cujo desenvolvimento emergem os traços genéticos.” (PIKUNAS, 1979, p. 60­61) Ambiente ­ “2. Aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas; meio ambiente.” (FERREIRA,  1986, p. 101­102) “O  meio  em que a pessoa vive é tanto físico quanto social. Os vários fatores físicos ­ por exemplo,  clima, localização em um subúrbio descampado ou num bairro congestionado da cidade, o tamanho e  a conveniência do lar ­ continuamente afetam a criança de inúmeras maneiras.” (PIKUNAS, 1979, p.  65) A polêmica sobre o papel que a herança e o meio ambiente desempenham na determinação do  desenvolvimento   é   uma   discussão   que   remonta   as   bases   da   psicologia   evolutiva.   Desta   discussão  surgiram três tendências ou correntes teóricas: ­ TEORIAS MATURACIONISTAS ou INATISTAS ­ TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS ou AMBIENTALISTAS ­ TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS Cada uma dessas teorias defende um ponto de vista em relação à questão da influência da  hereditariedade e do ambiente sobre o desenvolvimento do indivíduo.
  • 2. 2 1 ­ TEORIAS MATURACIONISTAS OU INATISTAS Os   defensores   desta   teoria  buscam   nos   princípios   evolutivos   de   Darwin   o   suporte   para   seus  argumentos. Acredita­se, também, que existe nesta corrente uma influência direta de Platão e de Descartes, quando  estes afirmam que algumas idéias do indivíduo são inatas. Os partidários desta corrente, embora não concordem  totalmente com esta afirmação, acreditam que existe uma prefiguração genética que determina o desenvolvimento do  indivíduo. Segundo BEE (1996)  O argumento não é o de que os bebês nascem sabendo muitas coisas, ou possuem  conceitos inatos, mas o de que o bebê está ‘programado’ de alguma maneira para  prestar   mais   atenção   a   certos   tipos   de   informações,   ou   para   responder   de  determinada maneira aos objetos.(p. 17­18) Na visão dessa autora, os atuais teóricos maturacionistas diferem da concepção cartesiana por não propor  que esses padrões inatos como “final da estória” mas como “ponto de partida”. Helen BEE acredita que o que se  desenvolve,  a  partir  da configuração genética, é “um  resultado da  experiência filtrada  através  dessas inclinações  iniciais”(1996, p. 18) Os   teóricos   maturacionistas   desprezam   a   influência   dos   fatores   ambientais   como   determinantes   do  desenvolvimento  do  ser  humano. Para os partidários desta  teoria,  a  maturação  desses  mecanismos  internos do  indivíduo (considerados inatos) é que pode determinar uma modificação no comportamento e, por sua vez, refletir no  meio ambiente em que o sujeito está inserido. 1.1 ­ Principais representantes 1.1.1 ­ Granville STANLEY HALL (1844­1924) ­  Um dos mais importantes psicólogos norte­americanos do  início do século XX, sendo a ele creditadas importantes realizações tais como: primeiro americano a obter o grau de  Doutor  em Psicologia;  fundador do primeiro  laboratório  de Psicologia  da  América;  fundador do primeiro  jornal  de  Psicologia dos Estados Unidos e da Associação Americana de Psicologia. Inspirado no trabalho de Darwin, Hall desenvolveu sua teoria baseada em idéias evolucionistas. Acreditava  que a criança se desenvolvia a partir de uma série de eventos geneticamente determinados, que desvelavam­ se paulatinamente. Consciente das limitações das biografias de bebês (“baby journal”) preconizadas por Darwin, Stanley Hall  iniciou a coleta de uma série de dados objetivos das crianças, utilizando questionários com perguntas para crianças  de diferentes idades sobre as coisas que elas poderiam dizer de si mesmas: jogos favoritos, sonhos, brinquedos,  entre   outras.   A   partir   destes   questionários,   Hall   extraiu   os   elementos   sustentadores   de   sua  “Teoria   da  Recapitulação”. A  teoria   da   recapitulação  endossa   a   noção   de   que   a  Ontogênese  (origem   e   desenvolvimento   de   um  organismo de um indivíduo e suas funções durante a vida) repete a Filogênese (desenvolvimento de uma espécie,  de sua origem ao estado presente). Ou seja, reforça a idéia de que a seqüência do desenvolvimento observada em  qualquer indivíduo é paralela ao evolucionário desenvolvimento das espécies. Por exemplo, na visão deste autor, as 
  • 3. 3 habilidades eventuais da criança para caminhar, assemelham­se a transição para a locomoção na postura elevada  na evolução dos antecessores do homosapiens. De acordo com CABISTANI & MACIEL (1986), Hall foi o pioneiro no estudo da adolescência, descrevendo­a  como   “uma   ‘fase   de   tempestades   e   tensões’   correspondente   à   evolução   humana   na   época   do   Renascimento   e  tendendo   à   calma   ao   término   da   juventude   que   corresponderia   aos   tempos   Modernos   da   Evolução   da  Humanidade.”(p. 5) A teoria de Stanley Hall sofreu inúmeras críticas dos partidários da corrente sócio­cultural, principalmente por  ter superestimado os fatores de natureza fisiológicos e praticamente desprezado os fatores ambientais. 1.1.2 ­ Arnold Lucius GESELL (1880 ­ 1961) ­  É considerado o psicólogo desenvolvimentista que mais se  interessou pelas questões maturacionais do desenvolvimento humano. Estudou psicologia na Universidade de Clark,  em Massachuts, onde recebeu influência de Stanley Hall. Diplomou­se em Medicina na Universidade de Yale, por  acreditar que treinamento médico era essencial para o estudo sobre o desenvolvimento infantil. No início, Gesell interessou­se pelo estudo de crianças com retardo no desenvolvimento e, em função disso,  concluiu que o estudo da criança normal era indispensável para a compreensão de crianças tidas como “anormais”.  Iniciou então, por volta de 1919, estudos sobre o desenvolvimento mental de bebês, dirigindo sua investigação à  crianças   mentalmente   normais.   Observou   quase   doze   mil   crianças   de   diversas   idades   e   de   diversos   níveis   de  desenvolvimento e, a partir destas investigações, apresentou uma listagem básica de desenvolvimento infantil entre 3  e 30 meses de idade. Gesell  considerava   que    desenvolvimento  era   o  conjunto   de   fenômenos  que   concorrem   para   que   o  indivíduo seja capaz de realizar funções cada vez mais complexas.  Assim, a “maneira de ser” do indivíduo, o  modo   como   ele   age,   como   se   comporta   ou   se   conduz   vai   traduzir   o   seu   desenvolvimento.   Para   Gesell,  comportamentos   e   condutas   são   termos   que   se   referem   a   todas   as   reações   sejam   elas   reflexas,   voluntárias,  espontâneas ou aprendidas. “Assim como o corpo cresce, a conduta evolui, é um processo contínuo” (DOCKHORN, 1995, p. 179). A  evolução da conduta, ou comportamento, inicia­se com a concepção e segue uma sucessão ordenada, etapa por  etapa, representando cada uma delas um grau ou  nível de amadurecimento.  À medida que o sistema nervoso se  modifica sob a ação do crescimento, a conduta se diferencia e muda. Gesell afirma que a criança “nunca estará apta  enquanto seu sistema nervoso não o estiver”. O   desenvolvimento   do   comportamento   depende,   então,   do   amadurecimento,   ou   de   um   processo   de  maturação, do sistema nervoso, embora também seja influenciado por uma troca recíproca de fatores intrínsecos e  ambientais que afetam a criança. A constituição genética do indivíduo, bem como suas experiências intra e extra­ uterinas afetam o seu crescimento físico, intelectual e emocional e isto, por sua vez, determinará sua reação favorável  ou desfavorável às posteriores modificações do ambiente. Por exemplo, uma grave desnutrição intra­uterina que se  prolongue pelo primeiro ano de vida da criança poderá afetar seu crescimento, deixando­a mais suscetível a doenças  infecciosas, podendo prejudicar seu desenvolvimento intelectual o que, por sua vez, poderá causar problemas na  esfera social. Gesell reforça esta idéia afirmando que
  • 4. 4 Sem   dúvida   ele   [o   bebê]   carece   de   um   ambiente   em   que   desenvolva   as   suas  capacidades, e um ambiente favorável garante­lhe uma realização também favorável  das suas potencialidades de crescimento. mas é preciso ter em mente que os fatores  ambientais   favorecem,   infletem   e   modificam   as   progressões   do  desenvolvimento mas não lhe dão origem.  As seqüências e progressões vêm de  dentro do organismo. (GESELL, 1989, p. 8) De acordo com Gesell, existem leis de continuidade e amadurecimento que explicam as semelhanças gerais e  as tendências básicas do desenvolvimento infantil, porém, não há duas crianças que cresçam da mesma maneira.  Cada   criança   tem   um   ritmo   e   um   estilo   de   desenvolvimetno   tão   característico   de   sua   individualidade   como   sua  fisionomia. O   desenvolvimento   é  regular,  ou   seja,   segue   uma   seqüência   de   etapas:   a   criança   balbucia   antes   de  pronunciar palavras,  diz  palavras  soltas  antes  de  formar  frases;  senta  antes  de  ficar  em  pé,   engatinha  antes  de  caminhar.   De   acordo   com   o   ideário   de   Gesell,   existe   uma   forte   correlação   do   desenvolvimento   com   o   sistema  orgânico,   sendo   impossível  separar   as  manifestações  orgânicas  ou   mentais  do   desenvolvimento.   Desta   forma,   o  estado do desenvolvimento deve ser  avaliado não apenas por sinais físicos, mas também por sinais dinâmicos, pelo  modo da conduta. Conforme DOCHKORN (1995), Gesell definiu, arbitrariamente, quatro campos de conduta na avaliação do  lactente: Conduta motora ­ considera os movimentos corporais amplos e os de coordenação fina: reações posturais  (sustentação da cabeça, sentar­se, forma de tocar um objeto, manejá­lo). Conduta   adaptativa   ­  é   o   tipo   de   comportamento   que   se   evidencia   quando   a   criança   tem   que   resolver  problemas, refere­se às mais delicadas adaptações sensório­motoras ante um objeto ou situações. Por exemplo: a  coordenação de movimentos oculares e manuais para alcançar e manipular objetos. Conduta   da   linguagem   ­  considera   a   linguagem   no   seu   sentido   mais   amplo,   incluindo   toda   forma   de  comunicação   verbal   e   audível,   bem   como   gestos,   movimentos   posturais,   etc.   Inclui   também   a   imitação   e   a  compreensão do que expressam as outras pessoas. Conduta pessoal­social ­  compreende as reações da criança ante a conduta social do meio em que vive.  São reações múltiplas e variadas, tão dependentes do ambiente que pareceriam fora do diagnóstico evolutivo, mas  observou­se   como   nos   outros   campos,   que  a   evolução   daconduta   é   determinada   fundamentalmente   por   fatores   intrínsecos do crescimento.  Por exemplo: O controle esfincteriano é uma exigência do meio, sua aquisição, porém,  depende, primariamente, do amadurecimento das funções esfincterianas. 2 ­ TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS OU AMBIENTALISTAS Os partidários desta teoria sofreram influência dos filósofos empiricistas, tais como John Locke, que afirmava  que,   no   nascimento   a   mente   humana   é   uma  tábula   rasa.    Para   os   empiricistas   todo   conhecimento   provém   da  experiência. Desta forma, os comportamentalistas atribuem toda experiência adquirida em função do  meio físico e 
  • 5. 5 social, refutando toda a idéia da herança genética e reivindicando para o ambiente todo peso da determinação do  desenvolvimento, enfatizando seu papel na modelagem do comportamento. Para   os   teóricos   desta   corrente,   o   comportamento   é   resultado   efetivo   da   aprendizagem   ou   de   respostas  condicionadas por determinados estímulos.  Embora os comportamentalistas nãorejeitem as idéia de que existam variáveis inconscientes no indivíduo,  simplesmente as desprezam pois só lhes interessa o estudo do comportamento observável, objetivo. Principais   representantes:    Ivan   Petrovich   PAVLOV   (1849­1936),   John   Bordais   Watson   (1878­1958)   e   Burrhus  Frederic SKINNER (1904 ­1990). 3 ­ TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS Os   teóricos   desta   corrente   acreditam   que   o   comportamento   e   o   desenvolvimento   do   indivíduo   são  influenciados tanto por aspectos genéticos quanto por aspectos ambientais.  Para os construtivistas é importante conhecer como estes fatores (hereditários e ambientais) se relacionam  entre si. Neste   processo   de   desenvolvimento,   defendido   pelas   teorias   construtivas,   o   indivíduo   constrói   seus  conhecimentos e sua própria abordagem do mundo, utilizando­se para isto tanto dos fatores hereditários quanto dos  ambientais. Os teóricos desta posição preocupam­se em estudar  o processamento interno que a criança faz da  experiência. Principais representantes: Jean PIAGET,  VYGOTSKY, WALLON e GARDNER. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CABISTANI,  Conchita, MACIEL,  Eloísa A.  Adolescência: desenvolvimento e implicações educacionais.  Santa  Maria: Imprensa Universitária, UFSM, 1986. DOCKHORN, Marlene da Silva M. Desenvolvimento de lactentes e pré­escolares: aplicação da teoria de Gesell. In:  KREBS, Ruy Jornada (org.) Desenvolvimento humano: teorias e estudos. Santa Maria: Casa Editorial, 1995. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2.ed. rev. amp. Rio de  Janeiro: Nova Fronteira, 1986. GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. GESELL, Arnold L. A criança dos 0 aos 5 anos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. MOSQUERA, Juan   J. M. et. al.  Aprendizagem: perspectivas teóricas.     Porto Alegre:       Ed. da Universidade/  PADES/ UFRGS/ PROGRAD, 1985. MIZUKAMI, Maria da graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. RAPPAPORT, Clara R., FIORI, Walter da R., DAVIS, Claudia.  Psicologia do desenvolvimento.  v. 1. São Paulo:  EPU, 1981.