2. ROMANTISMO CONTEXTO HISTÓRICO-
CULTURAL
• O Romantismo está ligado a dois
acontecimentos: a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial, responsáveis pela
formação da sociedade burguesa. Depois da
revolução francesa (1787-1789), seguiu-se
uma época de rápidas e profundas mudanças
no mundo europeu. A sociedade se tornou
muito mais complexa.
3. A Revolução Industrial gerou novos investimentos que buscavam
solucionar os problemas técnicos decorrentes do aumento de
produção. Sua consequência mais evidente foi a divisão do
trabalho e o início da especialização da mão-de-obra.
Após a Revolução Francesa, o absolutismo entrou em crise,
cedendo lugar ao liberalismo (doutrina fundamentada na crença
da capacidade individual do homem). A economia da época
estimula a livre iniciativa, a livre empresa. O individualismo
tornou-se um valor básico da sociedade da época.
O progresso político, econômico e social da burguesia, portanto,
preparou terreno para que surgisse um fenômeno cultural
baseado na liberdade de criação e expressão e na supremacia do
indivíduo, que não mais obedece a padrões preestabelecidos. Foi
nesse contexto que surgiu o Romantismo.
4. O romântico é um descontente com o mundo de
seu tempo: tenta fugir dele ou modificá-lo.
Tudo isso significa, na arte, uma ruptura com os
padrões clássicos e neoclássicos até então em
moda.
O Romantismo literário surgiu na Alemanha, por
volta de 1800, conquistou a Inglaterra, a França e,
posteriormente, todas as literaturas europeias e
americanas.
5. CARACTERÍSTICAS
• Como nas demais artes, as características da
literatura romântica decorrem de uma visão
de mundo centrada no indivíduo. Essa
subjetividade expressa-se sobretudo em:
6. a) Liberdade de criação: A recriação da realidade não
obedece mais a esquemas preestabelecidos. Não se
aceitam mais as fontes grega e romana como
modelos de criação literária. A proposta romântica é
não aceitar nenhum modelo, ele se expressa através
de uma atitude pessoal, individual e única. O não-
conformismo aos valores estabelecidos é a marca
registrada do romântico.
7. b) Sentimentalismo: O romântico analisa e expressa a
realidade por meio dos sentimentos. Isso equivale a dizer
que a razão fica em segundo plano. O romântico acredita
que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que
ocorre no interior do indivíduo. Por isso, é o sentimento
de cada um que define a importância ou não das coisas.
8. c) Mal do século (Idealização do mundo): Os escritores
buscavam um mundo perfeito e ideal, onde houvesse
compensação para seu sofrimento.
d) Evasão e sonho: O romântico foge da realidade para
um mundo imaginário, criado a partir de sonhos e
emoções pessoais.
e) Eleição de heróis grandiosos: Na ânsia da glória, de
infinito, o herói criado pelo escritor romântico não se
contenta com o mundo em que vive. Por isso, ele o
desafia, numa atitude rebelde que se volta contra a
sociedade, contra o destino e até contra Deus.
9. f ) Senso de Mistério: Na compreensão do mundo, o romântico
deixa a razão em segundo plano. Por isso, está disponível para
aceitar as coisas misteriosas, inexplicáveis, fantásticas,
sobrenaturais, elementos que valoriza e incorpora em suas obras.
g) Supervalorização do amor: O amor é considerado a coisa mais
importante da vida e, como tal, constitui o tema mais frequente
do Romantismo. A perda do amor leva a três consequências
básicas: a loucura, a morte ou o suicídio.
h) Subjetivismo: De uma visão universalista do homem
(Classicismo) passa-se a uma visão individualista. A realidade é
revelada pelo impulso pessoal do artista e não pela imposição
dos moldes clássicos.
11. O país assiste, no início do século XIX, ao fato que vai
desencadear sua independência política e social: a vinda da
família real ao Brasil.
Logo após a chegada da corte de D. João VI ao Rio de Janeiro,
tem lugar uma série de transformações sociais e econômicas
que visavam possibilitar o funcionamento da administração do
governo. A vinda da família real cria uma nova metrópole: o Rio
de Janeiro.
Aos poucos, o sentimento anticolonialista do povo brasileiro
começa a se fazer perceber, gerando também nossa
independência política em 1822.
12. LITERATURA
• 1836- O poeta Gonçalves de Magalhães publica Suspiros poéticos e
saudades, obra que é considerada o marco inicial do Romantismo
brasileiro.
• 1881- Publicam-se o Mulato de Aluísio Azevedo e Memórias
póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, que inauguram um
novo estilo de época: o Realismo/Naturalismo. Esse fato marca o fim
do Romantismo no Brasil.
• No continente americano, a aparição do Romantismo é tardia, por
causa da dependência cultural em relação à Europa. No Brasil, o
período romântico tem que ser compreendido paralelamente ao
processo de Independência política.
13. É fundamental levar em conta dois
fatores:
• a) o desejo consciente de enfatizar o nacionalismo, o orgulho
patriótico.
• b) o desejo consciente de exprimir, no plano literário, a
independência, ou seja, de criar uma literatura independente da
portuguesa.
• O Romantismo brasileiro repete muitas características do
Romantismo europeu. No entanto, o Romantismo brasileiro criou a
consciência nacionalista. Os escritores deste período tentaram
utilizar na poesia os elementos que constituem o nacionalismo.
Neste sentido, procuram realçar a nossa natureza e o nosso índio.
Desta consciência de brasilidade decorrem as características
específicas do Romantismo que aqui se desenvolveu:
14. a) Ênfase na cor local
• A descrição da paisagem tropical, com sua
variedade de aspectos, muito diferente da
europeia, indica uma tomada de consciência e
uma afirmação daquilo que é característico de
cada país. No caso do Brasil, a descrição
idealizada do ambiente natural transformou-
se numa das características mais marcantes da
literatura romântica.
15. b) Indianismo
• Foi a forma mais representativa do nacionalismo
literário. Corresponde no Brasil, à busca de um
legítimo antepassado nacional, já que não
possuíramos Idade Média com heróis típicos. Por
outro lado a figura do índio foi idealizada pelos
escritores românticos com a finalidade de nivelar
esse nosso antepassado ao português
colonizador. O índio romântico é sempre bom,
nobre, bonito e cavaleiro generoso; e, com essas
características, passou a ser o símbolo da nossa
independência espiritual, social, política e
literária.
16. 1ª GERAÇÃO ROMÂNTICA
NACIONALISTA ou INDIANISTA
• Marcada por: exaltação da natureza, volta ao
passado histórico, medievalismo e criação do
herói nacional na figura do índio, donde a
denominação indianista. O sentimentalismo e
a religiosidade também são características
marcantes.
17. GONÇALVES DIAS (1823 –1864)
Filho de um comerciante português e de uma mestiça, corria
em suas veias sangue branco, índio e negro. Em 1838, viajou
para Coimbra, onde se matriculou no curso de Direito. Em
1846, retornou ao Rio de Janeiro. Foi professor do Colégio
Pedro II e oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Em
1864, ao regressar de uma viagem da Europa, onde se
encontrava em tratamento de saúde (estava tuberculoso),
morreu em naufrágio na costa do Maranhão.
Natureza e saudade se entrelaçam na obra de Gonçalves dias. A
nostalgia, o retorno ao passado e a exaltação da pátria também
caracterizam a sua obra.
As lamentações pelo amor impossível, os anseios, as
inquietações, os desencantos caracterizam o lirismo amoroso
desse autor, que muitas vezes se identifica com a atitude de
vassalagem do trovador medieval.
18. Do ponto de vista temático, o indianismo dominou sua obra: idealizou o indígena,
ressaltando seu sentimento de honra e nobreza de caráter, descreveu o índio
como herói, procurando torná-lo símbolo de toda uma raça, capaz de categorizar o
brasileiro em face do europeu; exaltou a natureza em que viviam os selvagens e
procurou interpretar a psicologia do índio brasileiro.
Uma síntese disso é I-Juca Pirama (pronuncia-se iuca-pirama, que significa “o que
há de ser morto”).
O poema narra a história de um guerreiro tupi aprisionado pelos timbiras. No
momento da execução, exalta a sua bravura, mas pede clemência, pois dele
dependia a sobrevivência do pai, cego e doente. Considerado covarde pelo chefe
dos timbiras, é solto. Ao reencontrar o pai, este o amaldiçoa pela perda da honra.
O jovem arma-se e torna a lutar com os timbiras, é abatido, recupera sua honra e
recebe o perdão do pai.
20. Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos
franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os poetas da
segunda geração escrevem poemas que sugerem uma entrega total
aos caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que
vão do vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A
morte precoce ajudou a compor a mística em torno desses poetas
de inspiração byroniana, que não raro fazem apologia da
misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas,
macabras, demoníacas e mórbidas.
21. ÁLVARES DE AZEVEDO (São Paulo 1831 – 1852
Rio de Janeiro)
Bacharelou-se pelo Colégio Pedro II (RJ) e matriculou-se na Faculdade de
Direito de São Paulo, em 1848. A morte prematura, no entanto, impediu-o
de concluir o curso. Sua obra só começou ser publicada postumamente.
Sua obra, influenciada também pela sua personalidade adolescente, revela
ambiguidade, indecisão: ora aspira aos amores virginais e idealiza a mulher,
ora descreve-a erotizada e degradada. Brumas, visões, sonhos e
sentimentalidade cedem lugar muitas vezes ao realismo humorístico, ao
cinismo e a irreverência. Revelando uma dúbia inclinação pela mãe e pela
irmã, a imagem punitiva da mãe talvez tivesse contribuído para a sua
oscilação entre o erotismo e a moralidade.
Foi o poeta brasileiro que mais se deixou contagiar pelo mal-do-século,
influenciado sobretudo pela leitura de autores como Byron e Musset: a
temática do tédio e da morte, o ceticismo e o culto do funéreo atravessam
toda a sua obra; a angústia, a descrença e o satanismo estão presentes até
mesmo no lirismo amoroso, no qual o amor e a felicidade se mostram como
coisas inatingíveis.
22. 3ª GERAÇÃO ROMÂNTICA
CONDOREIRA
As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a
base do pensamento da inteligência brasileira a partir da
década de 1870, que concentra a produção da chamada
Terceira Geração do Romantismo e marca o início da
transição para o Realismo. Influenciados pela filosofia
positivista e pelo evolucionismo professado por Auguste
Conte, Charles Darwin e outros pensadores europeus,
escritores importantes como Tobias Barreto, Silvio Romero e
Capistrano de Abreu empenham-se na luta contra a
monarquia. Ao lado deles, intelectuais de vasta formação
humanística, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e poetas
de grande expressão, como Castro Alves, assumem papel de
destaque na divulgação do novo ideário.
Principal poeta: Castro Alves
23. CASTRO ALVES (1847-1871)
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na Fazenda Cabaceiras, perto da vila
de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia, a 14 de março de
1847 e morreu na cidade de Salvador, no mesmo Estado, a 06 de julho de
1871.
O mais brilhante dos poetas românticos brasileiros. Viveu os primeiros anos da
juventude no interior do sertão. Em 1864, foi para o Recife, estudar Direito. Aí,
começou desde logo a patentear uma notável vocação poética e a demonstrar
dotes oratórios pouco comuns, que mais tarde fizeram dele um dos arautos do
movimento abolicionista e da causa republicana.
Em 1867, conheceu a atriz teatral Eugênia Câmara, por quem se apaixonou.
Acompanhou-a à Bahia, onde escreveu o drama em prosa, Gonzaga, ou A
Revolução de Minas, que ela representou.
Algum tempo depois, o poeta decidiu-se a viajar para o Sul, a fim de terminar
o curso de Direito em São Paulo. De passagem pelo Rio de Janeiro, conheceu
Machado de Assis, que o introduziu nos meios literários.
24. OBRAS
Para um poeta que morreu com 24 anos, deixou-nos
uma produção volumosa, esteticamente madura,
com um estilo rico em figuras que empolgam o leitor.
Vozes d’África e O navio negreiro são seus mais
divulgados poemas abolicionistas, ambos em sua
obra Os Escravos, dentro da qual alguns críticos
colocam 33 poemas publicados depois da morte do
poeta. Neles é patente a veia romântica de
endeusamento da natureza. É nesta poesia que ele se
mostra realmente condoreiro.
25. O poema O navio negreiro, assim datado pelo autor: “São Paulo, 18 de abril de
1868. “Ele é longo, feito para empolgar. O autor o divide em seis partes: a
majestade do mar, o destino dos marinheiros, o espanto com a triste cena que
ocorre no navio, a descrição detalhada da violência que lá está instalada, um
longo apelo a Deus para que acabe com toda essa barbárie e um grito ao Brasil
que é coautor desse crime.
26. O NAVIO NEGREIRO (TRAGÉDIA NO MAR) ) 4ª (Fragmento)
Era um sonho dantesco … O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
27. Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais…
Qual um sonho dantesco as sombras voam!…
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!…