1. Boletim
Epidemiológico Volume 43
março – 2012
Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde Especial Tuberculose
O Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do
Ministério da Saúde foi editado, pela primeira vez, há exatos 43 anos, com
o objetivo de retornar aos serviços e profissionais de saúde, os dados informados
sobre as doenças de notificação compulsória, depois de consolidados e analisados.
Essa ação, de devolver as análises aos fornecedores dos dados, é considerada
fundamental para valorizar o ato de notificar e lhe dar sentido, demonstrado sua
utilidade para a saúde pública.
Nesses 43 anos, o Boletim Epidemiológico variou bastante de formato, papel
e projeto editorial, de acordo com as mudanças institucionais ocorridas
no sistema de saúde do país, e o próprio desenvolvimento dos meios para
divulgação de informação técnica. Entretanto, parece evidente que a falta de
continuidade de uma publicação com as características do Boletim propiciou
a fragmentação da informação epidemiológica produzida pelo Ministério da
Saúde. Tal situação dificulta o acesso sistemático a uma fonte fidedigna para
os profissionais de saúde, gestores, estudantes, acadêmicos, organizações da
sociedade civil e demais interessados em acompanhar a situação e as tendências
do quadro sanitário brasileiro.
O relançamento do Boletim vem suprir essa lacuna. Tanto em suas edições
regulares, com periodicidade mensal, como nos números especiais dedicados a um
tema de importância, como esse de Tuberculose, o leitor encontrará relatos, análises
e divulgação técnica de assuntos de interesse dos que praticam a epidemiologia
aplicada aos serviços de saúde e que serão construídos, em sua grande maioria,
com as informações coletadas, originalmente, nesses próprios serviços.
O Boletim Epidemiológico tem como objetivo basilar ser a principal fonte de
informação para os temas de epidemiologia aplicada aos serviços de saúde,
como as análises da situação e das tendências das doenças transmissíveis,
não-transmissíveis e agravos mais importantes; relatos de investigação de
surtos; divulgação de normas técnicas sobre procedimentos de vigilância
epidemiológica e ações de prevenção e controle de doenças; e estudos sobre
morbimortalidade. A responsabilidade editorial dos materiais publicados será
da SVS. Além da disponibilidade na página eletrônica do órgão, haverá uma
tiragem limitada em papel. Reprodução fac-símile de edições passadas
do Boletim Epidemiológico
Com o relançamento do Boletim, a SVS complementa e qualifica seu projeto
editorial, que já conta com a Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde e várias outras publicações com distintos
formatos e objetivos, para fortalecer e aperfeiçoar as ações de Vigilância em Saúde no Sistema Único de Saúde.
Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Secretário da Secretaria de Vigilância em Saúde
3. Boletim Epidemiológico
Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – Brasil
Pacto da Atenção Básica e, mais recentemente, na de 15,9 pontos percentuais na última década. Embora
Agenda Estratégica da Secretaria de Vigilância em a região Sudeste concentre o maior número de casos
Saúde (SVS). A pactuação de indicadores e metas de tuberculose, a região Norte apresentou as maiores
formaliza o comprometimento político e técnico taxas de incidência em todos os anos analisados. Em
entre as três esferas de governo e possibilita que a 2011, os estados do Amazonas (62,6) e Rio de Janeiro
doença tenha mais atenção. (57,6) apresentaram as maiores taxa de incidência do
A tuberculose tem relação direta com a miséria e país, enquanto Goiás (13,6) e Distrito Federal (11,1)
com a exclusão social. No Brasil, ela é uma doença as menores. (Tabela 1)
que afeta, principalmente, as periferias urbanas Aproximadamente, 66% dos casos de tuberculose
ou aglomerados urbanos denominados de favelas notificados são do sexo masculino. Para os homens,
e, geralmente, está associada às más condições de a doença é mais frequente na faixa etária entre 25 a
moradia e de alimentação, à falta de saneamento 34 anos e a maior taxa de incidência ocorre na faixa
básico, ao abuso de álcool, tabaco e de outras entre 45 a 54 anos de idade. Para o sexo feminino,
drogas. tanto o volume de casos quanto a taxa de incidência
O Ministério da Saúde segue as recomendações são maiores entre os 25 e 34 anos de idade. Embora a
da OMS e tem-se empenhado no desenvolvimento taxa de incidência seja pequena nos menores de um
de estratégias nacionais que possibilitem o controle ano de idade, ela ainda é maior do que na faixa etária
da tuberculose no país. Ao longo da última década, entre um a quatro anos. (Gráfico 1)
foram desenvolvidas e incentivadas, pelo Ministério
da Saúde, cerca de 110 pesquisas cujo tema principal Gráfico 1. Taxa de incidência e número de casos novos de
tuberculose por sexo e faixa etária. Brasil, 2010.
foi tuberculose.
Tal fato permitiu o avanço no conhecimento 12.000 90
80
da doença, na interface com os serviços, na 10.000
70
incorporação de novas tecnologias e na tomada de 8.000 60
decisões pelo Programa Nacional de Controle da 50
6.000
Tuberculose (PNCT). Os estudos possibilitaram 40
maior articulação entre universidades, 4.000 30
20
pesquisadores e serviços, contribuindo 2.000
10
sobremaneira para a melhoria dos indicadores 0 0
epidemiológicos e operacionais. <1 Ano 1-4 5-14 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65 e+
nº de casos novos do sexo masc. nº de casos novos do sexo fem.
A divulgação das informações para os taxa de incidência masculino taxa de incidência feminino
profissionais de saúde que atuam nesse campo e
para a população em geral é outra estratégia adotada Fonte: Sinan e IBGE (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
pelo PNCT. Assim, essa publicação tem por objetivo A taxa de mortalidade no Brasil, em 2001, foi de
divulgar os principais indicadores epidemiológicos 3,1 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes
e operacionais da tuberculose no Brasil, no período e foi reduzida para 2,4 em 2010, uma queda de
de 2001 a 2011, bem como as principais estratégias 22,6% nos últimos 10 anos. Embora a região
nacionais para os problemas identificados. Sudeste concentre o maior número de óbitos
por tuberculose, a região Nordeste apresentou as
Taxa de incidência e de mortalidade por maiores taxas de mortalidade em todos os anos
tuberculose no Brasil
analisados. Em 2010, os estados do Rio de Janeiro
A taxa de incidência no Brasil, em 2001, foi de 42,8 (5,6) e de Pernambuco (4,0) apresentaram as
casos para cada grupo de 100 mil habitantes e caiu maiores taxa de mortalidade do país, enquanto
para 36,0 no ano de 2011, o que significa uma queda Goiás (0,8) e Distrito Federal (0,5), as menores.
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Como pode ser observado, ainda permanece como Rio Grande do Sul (1.644,2), Bahia (1.620,3),
desafio para o Brasil alcançar a meta de redução da Pernambuco (1.517,2), Espírito Santo (1.466,1) e Pará
incidência da tuberculose. Porém, em 2010, segundo (1.451,5), conforme a Tabela 3.
dados divulgados pela OMS, o país alcançou a meta
proposta pela ODM para a taxa de mortalidade por População indígena
tuberculose. (Tabela 2)
A população indígena representa 0,4% da
Populações vulneráveis
população brasileira. No entanto, é responsável por
cerca de 1,0% de todos os casos novos de tuberculose
À medida que a tuberculose diminui na notificados no país. A taxa de incidência, em 2010, foi
população em geral, em alguns segmentos ela se de 95,5 casos por cada grupo de 100 mil habitantes,
distribui de forma cada vez menos uniforme e quase três vezes o valor da média nacional.
mais concentrada. Estratégias específicas devem As regiões Centro-Oeste (157,1) e Sudeste (153,1)
ser desenvolvidas para o controle da tuberculose apresentaram os maiores valores do indicador. É
entre alguns grupos populacionais que vivem em importante salientar que a alta taxa de incidência no
condições desfavoráveis de moradia e alimentação, Sudeste deve-se, em grande parte, aos indígenas que
em conglomerados humanos, e entre pessoas com residem em áreas urbanas, sobretudo nas capitais e
sistema imune deficiente e dificuldades de acesso regiões metropolitanas.
aos serviços de saúde. O PNCT definiu, entre suas
populações prioritárias, a população em situação de Coinfecção TB/HIV
rua, a população privada de liberdade, a população
indígena e as pessoas que vivem com HIV/Aids. Em 2010, entre os casos novos de tuberculose
notificados no Sinan, cerca de 10% apresentavam
População em situação de rua coinfecção TB/HIV. A região Sul (18,6) possui
o maior percentual de coinfecção – quase duas
Existem poucos dados disponíveis sobre a vezes superior à média nacional. Os estados de
população em situação de rua, mas, segundo os Santa Catarina (21,1) e Rio Grande do Sul (20,6)
profissionais que trabalham com essa população, ela apresentam as maiores taxas. Esse indicador está
apresenta elevada taxa de incidência de tuberculose intimamente relacionado à realização do exame
e abandono de tratamento. Estudos já realizados anti-HIV. A tuberculose representa a primeira
no Rio de Janeiro e São Paulo evidenciaram que a causa de morte em pacientes com Aids no Brasil.
população em situação de rua tem entre 48 a 67 vezes Pacientes que possuem coinfecção TB/HIV têm
mais incidência de tuberculose do que a população maior probabilidade de apresentar um desfecho
em geral. desfavorável ao tratamento da tuberculose.
População privada de liberdade
Somando-se às vulnerabilidades discutidas
As penitenciárias facilitam a ocorrência e anteriormente, a condição determinante para
transmissão da tuberculose. A incidência da doença a tuberculose, comprovada cientificamente, é
é maior entre os presos do que entre a população em a pobreza. Além da ocorrência da doença, essa
geral. Em 2010, a população privada de liberdade vulnerabilidade influencia diretamente todo o curso
representou 0,2% da população do país, porém do tratamento do usuário do sistema. A inclusão da
contribuiu com 6,0% dos casos novos de tuberculose tuberculose no Plano Brasil Sem Miséria, do governo
notificados no Sinan naquele ano. O estado do federal, é a maneira de se articular com outros setores
Rio de Janeiro (2.081,2) apresentou a maior taxa para o enfrentamento da doença, considerando seus
de incidência, seguido pelo Maranhão (1.995,8), aspectos socioambientais e econômicos.
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Tabela 3. Casos de tuberculose (número e taxa de incidência bruta por grupo de 100 mil habitantes), em populações
vulneráveis, notificados no Sinan, segundo a unidade federada e a região de residência. Brasil, 2010.
População privada de liberdade População indígena Coinfecção TB/HIV
Região e UF
Nº taxa Nº taxa Nº taxa Coinfecção
Norte 219 743,6 254 83,0 611 3,9 8,5
Rondônia 31 417,5 22 183,1 36 2,3 7,7
Acre 23 610,9 21 131,9 6 0,8 1,9
Amazonas 32 718,9 109 64,6 279 8,0 11,9
Roraima 6 354,0 29 58,4 13 2,9 10,0
Pará 122 1.451,5 48 122,8 258 3,4 7,2
Amapá 2 109,8 5 67,5 9 1,3 4,7
Tocantins 3 159,1 20 152,3 10 0,7 5,4
Nordeste 910 1.239,4 113 54,1 1.320 2,5 6,7
Maranhão 76 1.995,8 40 113,4 133 2,0 6,3
Piauí 24 884,3 0 0,0 36 1,2 4,4
Ceará 147 967,0 13 67,2 193 2,3 5,3
Rio Grande do Norte 23 534,3 2 77,0 68 2,1 7,5
Paraíba 78 968,7 3 15,7 77 2,0 7,3
Pernambuco 363 1.517,2 17 31,9 442 5,0 10,6
Alagoas 31 1.001,9 0 0,0 66 2,1 5,7
Sergipe 24 698,3 1 19,2 26 1,3 5,0
Bahia 144 1.620,3 37 65,6 279 2,0 5,3
Sudeste 2.383 1.008,6 150 153,1 3.187 4,0 9,8
Minas Gerais 172 460,9 13 41,8 317 1,6 8,2
Espírito Santo 143 1.466,1 3 32,8 93 2,6 7,1
Rio de Janeiro 531 2.081,2 27 169,9 971 6,1 8,6
São Paulo 1.537 939,1 107 256,0 1.806 4,4 11,1
Sul 788 1.199,7 52 69,4 1.691 6,2 18,6
Paraná 151 764,2 26 100,3 301 2,9 12,6
Santa Catarina 121 832,1 11 68,6 366 5,9 21,1
Rio Grande do Sul 516 1.644,2 15 45,5 1.024 9,6 20,6
Centro-Oeste 325 794,8 205 157,1 289 2,1 9,1
Mato Grosso do Sul 99 1.039,5 152 207,4 79 3,2 9,6
Mato Grosso 131 1.144,6 50 117,5 100 3,3 8,5
Goiás 75 682,1 3 35,2 79 1,3 8,9
Distrito Federal 20 224,1 0 0,0 31 1,2 10,8
Brasil 4.625 1.037,7 781 95,5 7.107 3,7 9,9
Fonte: Sinan, InfoPen e IBGE (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
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Dentre as variáveis coletadas na identificação do Diagnóstico laboratorial
caso, a que melhor pode informar sobre a condição Denomina-se caso de tuberculose todo indivíduo
socioeconômica é a escolaridade. Quanto ao com diagnóstico bacteriológico confirmado –
encerramento dos casos de tuberculose segundo a baciloscopia ou cultura positiva – e com diagnóstico
escolaridade, observamos que os casos bacilíferos de baseado em dados clínico-epidemiológicos e em
tuberculose sem nenhuma escolaridade apresentam resultados de exames complementares. No Brasil,
percentual de cura inferior (66,4%) e percentual 86,7% dos casos pulmonares são diagnosticados por
de abandono de tratamento superior (9,5%), baciloscopia. Embora esse percentual varie de acordo
comparados aos casos com escolaridade acima de com a região e os estados, apenas os estados do Rio
oito anos de estudo (77,2% e 6,3%, respectivamente). Grande do Norte (78,5%) e Pernambuco (75,3%)
O percentual de óbito por tuberculose, entre os casos apresentaram valores inferiores a 80%.
analfabetos, é quase três vezes superior aos casos com O diagnóstico precoce do HIV em pacientes com
mais de oito anos de estudo. (Gráfico 2) tuberculose aumenta a chance de encerramento
Gráfico 2. Encerramento dos casos novos bacilíferos de favorável para esses casos. O Ministério da Saúde
tuberculose por escolaridade. Brasil, 2010. recomenda que seja realizado o teste anti-HIV em
80 77,2
todos os pacientes com tuberculose. No Brasil, em
2010, 60,1% dos casos novos de tuberculose foram
70 66,4
testados para HIV.
60
A região Sul testou pelo menos 75% dos seus
50
casos, seguida pela região Sudeste, que testou 67,1%.
40 O estado de Santa Catarina, por um lado, testou
30 83,7% dos seus casos, obtendo o maior percentual de
20
testagem do país. Por outro lado, o Amapá apresentou
9,5
a menor taxa de testagem do país, com 32,1% de
10 6,3
3,7
1,2
realização do exame anti-HIV. A introdução do
0
cura abandono óbito por TB teste rápido diagnóstico para HIV, no país, ampliou
analfabeto mais de 8 anos de estudo
o acesso ao diagnóstico e tornou mais oportuno
o conhecimento do resultado do exame, o que
Fonte: Sinan (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
melhorou o indicador, significativamente, nos dois
últimos anos. (Tabela 4)
A comparação realizada em janeiro de 2012 entre A OMS e o Ministério da Saúde recomendam que
a base de dados do Sinan de 2010 e o Cadastro Único todos os casos de retratamento realizem o exame de
para Programas Sociais, do governo federal, revelou cultura e o teste de sensibilidade com o objetivo de
que 23,8% dos casos novos de tuberculose vivem em diagnosticar a resistência precocemente. A realização
situação de pobreza. Desse universo, apenas 14,8% do exame de cultura cresceu 156% para os casos
recebem o benefício do Programa Bolsa Família. de retratamento, de 2001 a 2010, sendo 24% maior
Esses dados revelam que as ações para esse apenas no último ano.
segmento populacional requerem estratégias Mesmo considerando-se que houve crescimento
mais diretas de acolhimento e suporte durante o recente, a média de realização de cultura para
tratamento de tuberculose. O PNCT tem o objetivo retratamento, no país, é de apenas 32,0%. A região
de evitar que o abandono do tratamento cresça Sul (41,9%) foi a que mais realizou cultura para
entre a população pobre ou extremamente pobre casos de retratamento, seguida da região Centro-
e, para tanto, tem estimulado ações de participação Oeste (41,1%). A região Nordeste (15,2%) foi a
comunitária e articulações intrassetoriais. que apresentou o menor valor para esse indicador.
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Os estados do Espírito Santo (63,7%), Santa novos bacilíferos de tuberculose pulmonar. Os casos
Catarina (61,4%) e Roraima (60,0%) foram os que bacilíferos são os responsáveis pela continuidade
apresentaram a maior realização do exame de cultura, da cadeia de transmissão. Identificá-los e curá-los
alcançando os valores pactuados para esse indicador precocemente permite a quebra dessa cadeia. As
em 2011 (60,0%). (Tabela 4) metas recomendadas pela OMS são: detectar 70% e
No ano de 2010, foram diagnosticados 611 casos curar pelo menos 85% dos casos para que os países
de TB MDR, comparados a 334, em 2001, um comecem a reverter a situação da tuberculose em suas
crescimento de 82% entre os anos analisados. De localidades.
2009 para 2010 o crescimento foi bem expressivo: O Brasil detectou 88% dos casos estimados pela
48% a mais de casos diagnosticados. Os casos de OMS para o ano de 2010; porém, o alcance do
retratamento (recidiva e reingresso após abandono) percentual recomendado pela OMS para o indicador
são os que apresentam maior probabilidade de de cura ainda é um desafio para o país. De 2001
evoluir para um desfecho desfavorável, pois já a 2004, o Brasil apresentou aumento gradual do
realizaram o tratamento por tempo superior a indicador de cura, mas, a partir de 2005, ele se
30 dias e podem desenvolver resistência a algum manteve constante – 73,5% em 2009 e 70,3% em
medicamento. 2010. Para este último ano, a informação é preliminar
Quando se compara a realização do exame de e requer atualização. A região Sudeste (73,8%)
cultura, nos casos de retratamento, com a detecção apresentou o maior valor em 2010. Os estados do
de casos de TB MDR, ao longo dos últimos anos, Acre (85,9%), Distrito Federal (81,2%) e São Paulo
verifica-se que a curva de realização do exame de (80,4%) apresentaram valores superiores a 80%, em
cultura apresentou o mesmo comportamento que o 2010, para este indicador. (Tabela 5)
número de casos de TB MDR diagnosticados.
Descentralização para Atenção Básica
Gráfico 3. Proporção de casos de retratamento que realizaram
exame de cultura e casos de TB MDR diagnosticados. Brasil, A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto
2001 a 2010.
de ações de saúde que abrangem a promoção,
700 100 a proteção da saúde, a prevenção de agravos,
600
90 o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a
80
manutenção da saúde de indivíduos e coletividades.
500 70
No Brasil, a área da atenção básica desenvolve a
400
60
Estratégia de Saúde da Família (ESF) como ação
50
300
prioritária para sua organização, de acordo com os
40
preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS).
200 30
20
Visando à operacionalização da Atenção Básica,
100
10
definiu-se que o controle da tuberculose é uma
0 0
das suas áreas estratégicas a ser aplicada em todo
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
o território nacional. Por essa razão, as ações de
TB MDR % de exame de cultura realizado
controle da tuberculose devem ser desempenhadas
na Atenção Básica, principalmente para os casos mais
Fonte: Sinan e SV/TB MDR (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
simples (pulmonares bacilíferos) que representam,
aproximadamente, 57% do total de casos
Desfecho dos casos de tuberculose
diagnosticados no país.
O principal indicador utilizado para avaliar as A cobertura da ESF dobrou, no país, nos anos
ações de controle da tuberculose, nas esferas nacional, analisados, passando de 25,4%, em 2001, para
estadual e municipal, é o percentual de cura dos casos 52,2% em 2010. Embora com menor percentual de
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Tabela 4. Realização dos exames diagnósticos (número e percentual) em casos notificados no Sinan, segundo a
unidade federada e a região de residência. Brasil, 2010.
Casos novos diagnosticados por baciloscopia Exame de cultura para os casos de retratamento Testagem anti-HIV em casos novos
Região e UF
Nº % Nº % Nº %
Norte 5.751 91,4 254 35,2 3.600 49,9
Rondônia 378 93,8 21 35,6 274 58,4
Acre 236 88,1 9 34,6 151 49,0
Amazonas 1.849 90,9 137 51,1 1.245 53,2
Roraima 108 93,1 3 60,0 81 62,3
Pará 2.885 91,8 79 23,2 1.698 47,3
Amapá 158 93,5 2 13,3 62 32,1
Tocantins 137 87,3 3 33,3 89 47,8
Nordeste 14.477 83,8 440 15,2 8.790 44,9
Maranhão 1.687 87,5 25 9,8 1.078 51,0
Piauí 615 88,1 4 6,9 354 43,5
Ceará 2.752 86,4 105 21,3 1.963 54,4
Rio Grande do Norte 615 78,5 21 14,1 374 41,2
Paraíba 804 87,6 35 18,0 607 57,3
Pernambuco 2.778 75,3 76 9,8 1.710 41,0
Alagoas 807 81,8 34 20,0 474 41,1
Sergipe 387 88,6 26 31,3 355 68,3
Bahia 4.032 86,8 114 15,8 1.875 35,7
Sudeste 24.261 87,4 1.692 38,4 21.902 67,1
Minas Gerais 2.821 86,2 96 17,2 1.780 45,9
Espírito Santo 1.051 93,1 86 63,7 826 63,3
Rio de Janeiro 7.902 81,3 489 24,4 5.922 52,7
São Paulo 12.487 91,6 1.021 59,6 13.374 82,3
Sul 6.571 86,7 631 41,9 6.783 74,6
Paraná 1.680 83,3 126 46,2 1.838 77,2
Santa Catarina 1.294 89,6 164 61,4 1.451 83,7
Rio Grande do Sul 3.597 87,4 341 35,3 3.494 70,2
Centro-Oeste 2.355 86,1 139 41,1 2.039 64,2
Mato Grosso do Sul 601 83,7 51 54,8 549 66,8
Mato Grosso 907 86,1 34 27,0 765 64,7
Goiás 674 89,2 45 45,9 510 57,7
Distrito Federal 173 83,6 9 42,9 215 74,9
Brasil 53.453 86,7 3.158 32,0 43.151 60,1
Fonte: Sinan (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
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aumento, em 2001, 50,1% dos casos pulmonares específica com o objetivo de ampliar a interlocução
bacilíferos eram diagnosticados na Atenção com as lideranças comunitárias, conselhos de saúde
Básica em comparação a 56,3% em 2010. O PNCT e poder legislativo a fim de qualificar as ações de
preconiza a descentralização das ações de busca ativa, CAMS – comunicação, advocacy e mobilização social;
diagnóstico, tratamento e acompanhamento para trabalhar com foco na defesa dos direitos humanos
a Atenção Básica, com vistas a facilitar o acesso do e, assim, contribuir para a promoção dos direitos
usuário ao tratamento e à cura. (Gráfico 4) do paciente, a redução do estigma e do preconceito
Por essa razão, o Ministério da Saúde que ainda atingem as pessoas com tuberculose e
disponibilizou, em janeiro de 2012, um curso à coinfecção TB/HIV.
distância sobre tuberculose para os profissionais Como resultado concreto da articulação com o
de saúde que atuam na Atenção Básica do SUS. O movimento social, foi publicada a Recomendação
curso, que é totalmente autoinstrucional, recebeu, em nº 003, de 17 de março de 2011, referendada
quatro semanas (até 12h de 10/2/2012), a inscrição pelo Conselho Nacional de Saúde, que enfatiza a
de 1.765 profissionais e, desses, 191 já o concluíram. necessidade de articulação intra e intersetorial, com
Esse curso possibilita informar e atualizar todos os o apoio dos movimentos sociais e do Congresso
profissionais de nível superior do sistema de saúde, Nacional, de criar benefícios sociais para as pessoas
com material ágil e interativo. Ele pode ser iniciado com tuberculose, na busca da ampliação da adesão
ao tratamento e da diminuição da taxa de abandono.
a qualquer momento e está disponível no site <www.
Também foi publicada, ano passado, a Resolução nº
unasus.gov.br/CursoTB>.
444, em 6 de julho de 2011, referendada pelo mesmo
Gráfico 4. Evolução da cobertura da Estratégia de Saúde da Conselho e que trata das estratégias que devem ser
Família e do percentual de casos bacilíferos de tuberculose
atendidos pela Atenção Básica. Brasil, 2001 a 2010. adotadas para o controle da tuberculose no Brasil.
70
60 Fonte: Coordenação-Geral do Programa Nacional de Controle da Tuberculose
Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis – DEVIT
Secretaria de Vigilância em Saúde
50
Ministério da Saúde – Brasil
SCS, Quadra 4, Bloco A, Edifício Principal, Unidade VI, 1º andar
40 CEP: 70.304-000
Brasília, Distrito Federal, Brasil.
30 E-mail: tuberculose@saude.gov.br
Página na internet: http://www.saude.gov.br/tuberculose
20
10
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
casos de TB bacilíferos diagnosticados na AB cobertura da ESF
Fonte: Sinan e DAB (consulta realizada em 16/2/2012). Dados sujeitos a alteração.
Mobilização Social
Alinhado às diretrizes internacionais, o PNCT
considera que a mobilização comunitária é um
importante componente para contribuir com o
controle da doença no Brasil. Baseado nessa premissa,
em 2007, o PNCT estabeleceu uma área técnica
12 | Volume 43 – Especial Tuberculose – março – 2012 |