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         Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas
                  higiênicas sobre o equilíbrio da microbiota vaginal
   Influence of frequency of vaginal intercourses and the use of doushing on vaginal microbiota


     Paulo César Giraldo1, Rose Luce Gomes do Amaral2, Ana Katherine Gonçalves3, Regina Vicentini4, Carlos
                             Henrique Martins5, Helena Giraldo6, Ana Maria Fachini6



    RESUMO
    Objetivo: verificar se alta freqüência de coitos vaginais e o uso de duchas higiênicas interferem com a microbiota vaginal.
    Métodos: noventa e sete mulheres atendidas em centro de saúde localizado em zona de prostituição na cidade de Campinas
    foram avaliadas em estudo prospectivo de corte transversal. A anamnese determinou as freqüências de coitos vaginais e do
    uso de duchas higiênicas nas 44 profissionais do sexo e nas 53 não-profissionais do sexo estudadas. O conteúdo vaginal
    foi coletado com swab estéril de Dacron, da parede vaginal direita, e disposto em duas lâminas de vidro. A microbiota vaginal
    foi estudada em microscopia óptica com lente de imersão em esfregaço corado pela técnica de Gram. Os dados foram
    analisados pelo teste exato de Fisher. As mulheres profissionais e não profissionais do sexo apresentaram, respectivamente,
    média de idade de 24,9 (± 6,4) e 31,5 (± 9,7) anos, hábito de fumar em 52,2 e 24,5%, prática do uso de lubrificantes vaginais
    em 56,8 e 0% e prática de uso de condom em 100 e 41,5% dos casos respectivamente. Resultados: apenas 1,8% das mulheres
    do grupo controle tinham sete ou mais relações sexuais por semana, em evidente contraste com as profissionais do sexo
    (97,7%). Não houve diferenças significativas quanto à raça, escolaridade e paridade. A vaginose bacteriana e a flora vaginal
    anormal foram mais observadas nas profissionais do sexo do que no grupo controle (p=0,02 e 0,001) e associou-se à alta
    freqüência (sete ou mais vezes) de coitos vaginais semanais (p=0,04 e 0,001). O diagnóstico de vaginose citolítica foi mais
    freqüente nas mulheres não-profissionais do sexo (p=0,04) e com menor freqüência de relações sexuais (p=0,04). O uso de
    duchas higiênicas foi mais comum nas profissionais do sexo (p=0,002). Entretanto, esta prática não esteve associada aos
    distúrbios da microbiota vaginal e nem à presença de vulvovagintes. Conclusões: profissionais do sexo com sete ou mais
    relações sexuais semanais apresentaram maior freqüência de vaginose bacteriana e alterações da flora vaginal. O hábito de
    duchas vaginais não interferiu com o ecossistema vaginal das mulheres estudadas.

    PALAVRAS-CHAVE: Prostituição; Coito; Aparelhos sanitários; Vaginose bacteriana; Vagina/microbiologia




    ABSTRACT
    Purpose: to verify if the high frequency of vaginal intercourses and the use of doushing interferes with vaginal microbiota.
    Methods: ninety-seven women were examined at a health center located in the prostitution area of the city of Campinas, and
    evaluated in a prospective cross-sectional study. Anamnesis determined the frequency of vaginal intercourse and the use
    of douching in the 44 sex professionals and 53 non-professionals studied. The vaginal content was collected with a sterile
    Dacron swab, from the right vaginal wall, and placed on to two glass laminas. The vaginal microbiota smear stained by the
    Gram technique was studied with light microcopy using immersion lens and the data were analyzed. The sex professionals
    and non-professionals presented mean age of 24.9±6.4 and 31.5±9.7, habit of smoking in 52.2 and 24.5%, the use of vaginal
    lubricants in 56.8 and 0%, and the use of condoms in 100 and 41.5% of the cases, respectively. Results: only 1.8% of the
    women in the control group had seven or more sexual intercourses per week, contrasting evidently with the sex professionals

Ambulatório de Infecções Genitais do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas -
   UNICAMP - Campinas (SP) - Brasil
1 Livre-Docente do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp
2 Pós-Graduanda do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp
3 Professora Adjunta Assistente Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN) - Brasil
4 Professora Doutora do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp
5 Coordenador Médico do Centro de Saúde Jardim Itatinga, Secretaria Municipal de Saúde
6 Graduandas da Faculdade de Medicina de Jundiaí
Correspondência: Paulo César Giraldo
Rua Dom Francisco de Campos Barreto, 145 – 130923-360 – Campinas – SP – Telefone - Fax: (19) 3788-9306 – e-mail: giraldo@unicamp.br
Recebido em: 19/4/2005                Aceito com modificações em: 13/6/2005

                                                                                                       Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
258           Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM



      (97.7%). There were no significant differences regarding race, educational level and number of pregnancies. Bacterial
      vaginosis and abnormal vaginal flora were more observed in sex professionals (p=0.02 and 0.001) and were associated with
      the high frequency (seven times or more) of weekly vaginal intercourses (p=0.04 and 0.001). Cytolytic vaginosis was more
      related to non-professionals (p=0.04) and to a lower frequency of sexual intercourses (p=0.04). The use of doushing was
      more common in the sex professionals (p=0.002). However, this practice was not associated either with the vaginal microbiota
      problems or with the presence of vulvovaginitis. Conclusions: sex professionals with seven or more sexual intercourses per
      week presented a higher frequency of bacterial vaginosis and abnormal vaginal flora. The doushing habit did not interfere
      with the vaginal environment ecosystem of the studied women.

      KEYWORDS: Prostitution; Coitus; Sanitary devices; Vaginosis, bacterial; Vagina/microbiology




                                                                           ra vaginal existente. De acordo com a quantidade
Introdução                                                                 de lactobacilos em esfregaço do material colhido
                                                                           da cavidade vaginal, realizado a fresco ou corado
       O equilíbrio do ecossistema vaginal é manti-                        pelo Gram, com leitura posterior em microscópio
do por complexas interações entre a flora vaginal                          óptico6, pode-se classificar a flora vaginal em três
dita normal, os produtos do metabolismo                                    tipos: tipo I, quando no conteúdo vaginal existem
microbiano, o estado hormonal e a resposta imune                           80% ou mais de lactobacilos; tipo II, quando existe
do hospedeiro. A vagina é habitada por numerosas                           proporção aproximada de metade de lactobacilos e
bactérias de espécies diferentes que vivem em                              metade de outras bactérias. Quando há predomí-
harmonia e que por isso são consideradas comen-                            nio claro de outras bactérias e redução acentuada
sais, mas que podem, em situações especiais, tor-                          do número de lactobacilos (menor que 25%), a flo-
nar-se patogênicas1. O Lactobacillus sp é a espécie                        ra vaginal será chamada de tipo III7. A vaginose
bacteriana predominante no meio vaginal, deter-                            bacteriana é síndrome em que há diminuição
minando pH ácido (3,8 a 4,5) que inibe o cresci-                           importante de lactobacilos e aumento dos germes
mento de várias outras bactérias que potencial-                            anaeróbicos (Gardnerella vaginalis, entre outros).
mente são nocivas à mucosa vaginal2. As concen-                                   Fatores extrínsecos podem alterar o
trações de lactato, succinato, interleucina-1-beta,                        ecossistema vaginal. O uso de certos antibióticos,
interleucina-8, fator inibidor de leucócitos e recep-                      principalmente os de amplo espectro, interfere na
tores agonistas de interleucina-1 podem definir                            manutenção da flora residente. A literatura perti-
quando a homeostase do meio vaginal está ade-                              nente sobre o assunto indica que o uso indiscri-
quada2. A flora vaginal em que há predomínio de                            minado e freqüente de duchas vaginais higiêni-
Lactobacillus sp encontra-se freqüentemente asso-                          cas poderia levar à perda do equilíbrio entre os
ciada a quantidades apropriadas destes marcado-                            vários microrganismos residentes na cavidade
res2. Por outro lado, o conteúdo vaginal em que exis-                      vaginal, facilitando o aparecimento e manuten-
te ausência ou baixa concentração de Lactobacillus                         ção de vulvovaginites 8 . Tal suposição seria
sp associa-se significativamente a processos                               justificada pelo fato de as duchas vaginais promo-
patogênicos como a doença inflamatória pélvica,                            verem limpeza mecânica das bactérias próprias
infecção pós-cirúrgica e as corioamnionites3.                              da flora local e ao mesmo tempo introduzir subs-
       Fica implícito, portanto, que a flora microbi-                      tâncias exógenas que poderiam alterar o pH vagi-
ana que habita a vagina tem papel importante na                            nal e causar reações alérgicas locais9.
eclosão de doenças (vaginose bacteriana, vaginose                                 Outro fator importante que teoricamente
citolítica e doenças sexualmente transmissíveis)1,                         poderia levar a alteração da microbiota vaginal,
assim como na manutenção de um trato genital                               seja pela deposição de sêmen (meio alcalino) no
saudável. Além disso, o fluido vaginal tem ativida-                        epitélio vaginal, seja pelo estímulo local da mucosa
de seletiva antimicrobiana contra espécies                                 ou mesmo pela introdução de bactérias estranhas
bacterianas não residentes. Estudos clínicos têm                           ao ambiente vaginal, seria a alta freqüência de
demonstrado associação entre a ausência de lac-                            coitos vaginais10.
tobacilos produtores de H2O2 e alta prevalência da                                As profissionais do sexo (PS) apresentam a
gonorréia, vaginose bacteriana e da contamina-                             característica singular de manterem atividade
ção pelo vírus da imunodeficiência humana                                  sexual intensa, com grande quantidade de coitos
(HIV)4,5.                                                                  por dia, além de freqüentemente muitas delas fa-
       O equilíbrio entre os lactobacilos e os outros                      zerem uso rotineiro de duchas higiênicas vagi-
microrganismos presentes determina o tipo de flo-                          nais. Estudo da Universidade de Brasília mostrou

Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas ...                    259



que 74% das prostitutas brasileiras usam preser-              microbiota foi feita por profissional experiente, que
vativos nas relações com clientes11,12, o que pro-            inicialmente identificou o tipo de flora vaginal (flo-
porciona acréscimo de substâncias químicas lo-                ra tipo I, II ou III) e na seqüência procurou identi-
cais e eventuais microtraumatismos vaginais,                  ficar os possíveis agentes patogênicos ou distúr-
com provável perturbação do ecossistema vaginal.              bios do ecossistema (normal, candidíase, vaginose
      O presente estudo propõe-se a determinar                citolítica e vaginose bacteriana).
se a alta freqüência de coitos vaginais semanais                     Para a caracterização do tipo de flora foram
e o uso rotineiro de duchas vaginais higiênicas               vistos 10 campos de microscopia óptica com lente
poderiam interferir com a microbiota vaginal em               de imersão. Atribui-se valor de zero a 10 ao nú-
mulheres profissionais do sexo.                               mero de lactobacilos e outro valor complementar
                                                              aos demais microrganismos. Ao final da contagem
                                                              dos campos obteve-se um valor médio que deter-
Métodos                                                       minou o percentual final de lactobacilos em cada
                                                              lâmina, determinando-se o tipo de flora para o caso
                                                              analisado. A flora do conteúdo vaginal foi conside-
        Trabalho prospectivo, de corte transversal.           rada como sendo tipo I, quando se observou 80%
As primeiras 50 mulheres PS identificadas e                   ou mais de lactobacilos; tipo II, quando se obser-
selecionadas por participarem no “Projeto Condom”             vou aproximadamente a metade de lactobacilos e
(projeto que faz a distribuição de insumos e ca-              metade de outras bactérias e flora tipo III, quando
dastra as profissionais do sexo no município) que             os lactobacilos representavam menos de 25% das
procuraram um Centro de Saúde localizado em                   bactérias.
zona de meretrício da cidade de Campinas (São                        O diagnóstico de candidíase foi feito ao ser
Paulo), independentemente da causa que as mo-                 identificada a presença de hifas e blastosporos
tivou a procurar assistência médica, foram convi-             gram-positivos13. O diagnóstico de vaginose bac-
dadas a participar deste estudo, no qual se procu-            teriana respeitou os critérios bem estabelecidos
rou evidenciar as características da microbiota va-           de Nugent et al. 14 . A vaginose citolítica foi
ginal. No mesmo período, número semelhante (55)               identificada na microscopia pelo achado de um
de mulheres, que ao serem inqueridas declara-                 número excessivo de lactobacilos, presença de lise
ram-se não profissionais do sexo (NPS) serviu como            celular e ausência de leucócitos.
grupo controle. Os sujeitos foram informados do                      A fim de se estabelecer padrão aceitável de
estudo e procedimentos a serem realizados pelo                números de coitos por semana, atribuiu-se um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, apli-             cutoff arbitrário de uma relação sexual por dia ou
cado no momento da consulta, e identificados por              sete por semana para indicar a alta freqüência de
iniciais do nome e o número do prontuário.                    coitos vaginais.
        Durante o exame ginecológico habitual, co-                   Entre as 97 mulheres incluídas no estudo,
letou-se o conteúdo da parede lateral da vagina               as PS tiveram uma média de idade bem menor do
das mulheres utilizando-se swab de Dacron esté-               que as NPS (24,9±6,4 vs 31,5±9,7), porém não hou-
ril. O material foi disposto suavemente em forma              ve diferenças quanto à paridade, escolaridade e
de esfregaço em duas lâminas de vidro, fixado e               cor (Tabela 1).
corado por técnica de Gram. Questionário detalha-
do sobre dados epidemiológicos (idade, cor, parida-
de, escolaridade, tabagismo, estado civil), higiê-            Tabela 1 - Características sociodemográficas gerais das 97 mulheres estudadas.
nicos (uso de duchas higiênicas, freqüência do uso,                                               Profissionais Não-profissionais
solução usada) e sexuais (primeira relação sexu-            Características                       do sexo (44)       do sexo (53)           p*
al, número de parceiros sexuais, número de coi-
                                                                                                     n (%)              n (%)
tos por semana, uso de condom e lubrificantes) foi
aplicado sempre pelo mesmo investigador. As                 Idade                     x (± DP)      24,9 (6,4)         31,5 (9,7)        0,0007
mulheres grávidas, adolescentes, as sabidamente             Paridade                  x (± DP)       1,3 (1,2)          2,0 (1,6)           ns
infectadas por HIV, usuárias de drogas ou medi-             Cor branca                  n (%)        19 (43,1)          25 (47,1)           ns
camentos imunossupressores e as portadoras de               Escolaridade básica         n (%)        29 (65,9)          33 (62,2)           ns
doenças crônicas degenerativas foram excluídas                * Teste exato de Fisher; ns: não significativo
do estudo para minimizar possíveis fatores de con-
fusão. Seis casos das PS e dois casos das NPS fo-
ram excluídos do estudo por inadequação do mate-                   Este estudo obteve parecer favorável da Co-
rial fixado ou por quebra ou extravio das lâminas             missão de Ética da Secretária Municipal de Saú-
com o conteúdo vaginal. A identificação da                    de responsável pelo Centro de Saúde Jardim


                                                                                                     Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
260             Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM



  Itatinga. A análise estatística foi realizada por                                         Apesar de as duchas higiênicas serem mais
  meio do teste exato de Fisher.                                                      praticadas pelas mulheres do grupo PS (59,1%) e
                                                                                      ser hábito incomum entre as mulheres do grupo
                                                                                      controle (26,4%), não houve associação significa-
                                                                                      tiva entre o uso rotineiro de duchas higiênicas
  Resultados                                                                          vaginais e presença de flora vaginal anormal (47,5
                                                                                      vs 38,6%) ou aumento no número de diagnósticos
        As PS apresentaram hábito de fumar (52,2 e                                    de vaginose bacteriana. A vaginose citolítica as-
  24,5%), usar lubrificantes vaginais (56,8 e 0%),                                    sociou-se ao não-uso de duchas vaginais (0 vs
  condom (100 e 41,5%), fazer duchas higiênicas e                                     12,3%) (Tabela 4).
  praticar sexo por semana mais freqüentemente que
  as NPS (Tabela 2). Dentre as 44 PS, apenas uma
                                                                                      Tabela 4 - Diagnóstico microbiológico e tipo de microbiota vaginal em mulheres usuárias
  tinha menos de sete relações sexuais por semana.                                    e não-usuárias de duchas higiênicas vaginais.
                                                                                                                                         Duchas vaginais
  Tabela 2 - Hábitos sexuais e de higiene das mulheres profissionais do sexo e não
  profissionais do sexo.                                                                                                        Sim (40)    Não (57)                    p*
                                                                                                                                 n (%)        n (%)
                                           Profissionais Não-profissionais
                                                                                      Diagnóstico microbiológico
Características                            do sexo (44) do sexo (53)          p*
                                                                                        Normal                                   26 (65)         29 (50,9)              ns
                                              n (%)           n (%)
Tabagismo                        n   (%)     23 (52,2)       13 (24,5)      0,009       Vaginose citolítica                             0          7 (12,3)            0,04
Uso de lubrificante vaginal      n   (%)     25 (56,8)           0         <0,0001      Candidíase vaginal                      2 (5,0)             5 (8,7)             ns
Uso de condom                    n   (%)     44 (100)        22 (41,5)     <0,0001      Vaginose bacteriana                    12 (30,0)         16 (28,1)              ns
Coito semanal ≥7 vezes           n   (%)     43 (97,7)        1 (1,8)      <0,0001    Tipo de flora vaginal
Uso de duchas vaginais           n   (%)     26 (59,1)       14 (26,4)      0,002       Normal (Tipo I)                        21 (52,5)         35 (61,4)
  * Teste exato de Fisher.                                                              Anormal (Tipos II + III)               19 ( 47,5)        22 (38,6)              ns
                                                                                      * Teste exato de Fisher; ns: não significativo.

          O diagnóstico de vaginose bacteriana esteve
  presente em 41,5% das PS e em apenas 18,5% das
  NPS. A flora anormal (tipos II e III) também foi mais                               Discussão
  comum nas mulheres do grupo estudado (60,5%)
  do que nas NPS (27,8%). Além disso, notou-se que o                                        Considerando que as mulheres que apresen-
  diagnóstico de vaginose bacteriana e flora anormal                                  tam alteração da flora vaginal podem tornar-se
  associou-se à freqüência de coitos vaginais sema-                                   mais vulneráveis a aquisição do HIV15, fica fácil
  nais maiores ou iguais a sete (p=0,02 e p=0,002). O                                 entender que o equilíbrio do meio vaginal
  diagnóstico de vaginose citolítica (12,9%) esteve                                   (microbiota) reveste-se de especial importância na
  mais associado às mulheres do grupo controle, que                                   proteção do indivíduo contra as infecções genitais.
  tinham bem menos relações sexuais por semana.                                       As profissionais do sexo estão especialmente vul-
  Não foi diagnosticado nenhum caso de vaginose                                       neráveis às DST, inclusive a AIDS. Em
  citolítica nas PS (Tabela 3).                                                       Bangladesh, dentre 269 prostitutas incluídas em
                                                                                      um estudo, detectou-se soropositividade em 84%
  Tabela 3 - Diagnóstico microbiológico e tipo de flora vaginal segundo o número de   para pelo menos uma DST e em mais da metade
  coitos semanais.                                                                    dos casos a sorologia era positiva para duas DST16.
                                            no de coitos/semana                       Em estudo semelhante, encontrou-se soropositi-
                                           ≥7 (n = 43) 0-6 (n = 54)         p*        vidade para alguma DST em 61% dos casos17.
  Diagnóstico microbiológico                                                                Estudo com 600 mulheres que trabalhavam
                                                                                      em bares na Tanzânia18 detectou grande preva-
   Normal                                   22 (51,2)    33 (61,1)          ns
                                                                                      lência de vulvovagintes: vaginose bacteriana (60%)
   Vaginose citolítica                          0         7 (12,9)         0,01
                                                                                      e candidíase (59,6%). Confirmando a literatura
   Candidíase vaginal                         3 (6,9)      4 (7,4)          ns        vigente, no presente estudo observou-se que mu-
  Vaginose bacteriana                       18 (41,9)    10 (18,5)         0,02       lheres profissionais do sexo apresentaram com
   Tipo de flora vaginal                                                              mais freqüência vaginose bacteriana e flora vagi-
   Normal (Tipo I)                          17 (39,5)    39 (72,2)                    nal anormal (tipos II e III), quando comparadas a
   Anormal (Tipo II + III)                  26 (60,5)    15 (27,8)        0,002       mulheres não-profissionais do sexo que praticam
                                                                                      o sexo vaginal na freqüência de até seis vezes por
  * Teste exato de Fisher; ns: não significativo.


  Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas ...            261



semana. Estudos recentes associam algumas ca-                   bia quanto à sujeira e/ou à culpa pelo ato sexual,
racterísticas demográficas e hábitos sexuais à                  o período do ciclo menstrual e as substâncias en-
permanência de infecções genitais e distúrbios                  volvidas na ducha ainda merecem um
da microflora vaginal19,20. Observou-se que a pre-              aprofundamento dos estudos. Não fica claro, por-
sença de microrganismos patógenos esteve asso-                  tanto, se o simples ato de fazer duchas higiênicas
ciada às perturbações da flora vaginal, que o                   poderia por si só desencadear os distúrbios da
Mycoplasma hominis e Gardnerella vaginalis esti-                microbiota vaginal. Divergindo da literatura vigen-
veram agregados à vaginose bacteriana e que as                  te22, nas usuárias de duchas vaginais observou-
DST associam-se entre si20. Múltiplos parceiros,                se apenas uma maior prevalência de vaginose ci-
práticas de sexo oral e anal, freqüência de rela-               tolítica.
ções superior a três intercursos sexuais por se-                       Os dados encontrados indicam que a alta fre-
mana e a utilização de duchas vaginais foram os                 qüência de coitos vaginais, talvez pelo fator
outros fatores que também foram associados aos                  irritativo do condom ou eventual deposição de sê-
distúrbios na microbiota vaginal de mulheres                    men na vagina, pode favorecer o aparecimento de
americanas21. No presente estudo, a alta freqüên-               vaginose bacteriana ou inverter o padrão normal
cia de coito vaginal (sete ou mais vezes por sema-              da flora vaginal.
na), mas não o uso de duchas higiênicas, esteve                        O uso das duchas vaginais, contudo, poderia
associado aos distúrbios da flora vaginal. Acredi-              não representar risco para a mulher, como mui-
tamos que o intercurso sexual, por expor as mu-                 tos autores querem fazer crer, merecendo maior
lheres aos microtraumas, às soluções de conti-                  aprofundamento em novos trabalhos.
nuidade e às escoriações vulvares, pode consti-
tuir fator importante para a manutenção do
desequilíbrio entre os diversos microrganismos
locais. Saliente-se ainda que a deposição de sê-
                                                                Referências
men alcalino no epitélio vaginal e a introdução de
substâncias e bactérias durante o ato sexual fa-                1. Zhou X, Bent SJ, Schneider MG, Davis CC, Islam
voreceriam as alterações da microbiota vaginal10.                  MR, Forney LJ. Characterization of vaginal microbial
       Todas as profissionais do sexo estudadas afir-              communities in adult healthy women using
maram usar preservativos em suas relações se-                      cultivation-independent methods. Microbiology.
xuais, com clientes ou com parceiro habitual, di-                  2004;150(Pt 8):2565-73.
ferentemente de dados nacionais que indicam que                 2. Donders GG, Bosmans E, Dekeersmaecker A,
a freqüência de condom com clientes é alta, po-                    Vereecken A, Van Bulck, B, Spitz B. Pathogenesis
rém nunca chegando a 100%, e quando o parceiro                     of abnormal vaginal bacterial flora. Am J Obstet
é o habitual, a taxa de uso cai drasticamente. No                  Gynecol. 2000;182(4):872-8.
Brasil apenas 20% das prostitutas praticam sexo                 3. Soper DE. Gynecologic complications of bacterial
seguro (com condom) com seus parceiros habi-                       vaginosis: fact or fiction? Curr Infect Dis Rep.
tuais11,12. Essa diferença indica dificuldade em as-               1999;1(4):393-7.
sumir o eventual não-uso de condons, demons-
                                                                4. Hawes SE, Hillier SL, Benedetti J, Stevens CE,
trando preocupação na conservação da disponibi-
                                                                   Koutsky LA, Wolner-Hanssen P, et al. Hydrogen
lidade do insumo pelo “Projeto Condom”. Tal fato,                  peroxide–producing lactobacilli and acquisition of
mais as altas taxas de microbiota alterada, suge-                  vaginal infections. J Infect Dis. 1996;174(5):1058-
rem o alto risco de aquisição de DST a que estão                   63.
expostas estas mulheres.
                                                                5. Royce RA, Thorp J, Granados JL, Savitz DA.
       É interessante notar que, embora a prática
                                                                   Bacterial vaginosis associated with HIV infection
de duchas vaginais seja freqüentemente associa-                    in pregnant women from North Carolina. J Acquir
da à vaginose bacteriana21, não se observou esta                   Immune      Defic    Syndr    Hum    Retrovirol.
associação no presente estudo. Uma análise com                     1999;20(4):382-6.
250 adolescentes que usavam duchas higiênicas
                                                                6. Spiegel CA, Amsel R, Holmes KK. Diagnosis of
regularmente no período pós-menstrual encontrou
                                                                   bacterial vaginosis by direct gram stain of vaginal
forte associação com um desequilíbrio da flora va-                 fluid. J Clin Microbiol. 1983;18(1):170-7.
ginal e principalmente com a vaginose bacteria-
na22. Talvez as diferenças estejam muito mais                   7. Vasquez A, Jakobsson T, Ahrne S, Forsum U, Molin
                                                                   G. Vaginal lactobacillus flora of healthy Swedish
relacionadas ao tipo de paciente e número de coi-
                                                                   women. J Clin Microbiol. 2002;40(8):2746-9.
tos semanais que propriamente ao ato de usar a
ducha higiênica. O perfil psíquico das usuárias de              8. Giraldo P, Neuer A, Ribeiro-Filho A, Linhares I,
duchas (não-prostitutas), que poderia denotar fo-                  Witkin SS. Detection of the human 70-kD and 60-


                                                                                               Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
262           Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM


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                                                                              Bratislava, Slovakia. Acta Virol. 2003;47(3):167-72.
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   1998;4(11):1084-8.                                                         Infect. 2003;79(5):382-7.
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   em 25 set 2004]. Disponível em: http://                                    workers, and other men who have sex with men in
   www.aids.gov.br/final/novidades/prostitutas.asp.                           Jakarta, Indonesia. Sex Transm Infect.
                                                                              2004;80(6):536-40.
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13.Novikova N, Yassievich E, Mardh PA. Microscopy of                       21.Schwebke JR, Desmond RA, Oh MK. Predictors of
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                                                                           22.Ness RB, Hillier SL, Richter HE, Soper DE, Stamm
14.Nugent RP, Krohn MA, Hillier SL. Reliability of                            C, McGregor J, et al. Douching in relation to
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   standardized method of gram stain interpretation.                          bacteria in the vagina. Obstet Gynecol.
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Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62

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Influência da frequência de coitos e duchas na microbiota vaginal

  • 1. 257 Artigos Originais Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas sobre o equilíbrio da microbiota vaginal Influence of frequency of vaginal intercourses and the use of doushing on vaginal microbiota Paulo César Giraldo1, Rose Luce Gomes do Amaral2, Ana Katherine Gonçalves3, Regina Vicentini4, Carlos Henrique Martins5, Helena Giraldo6, Ana Maria Fachini6 RESUMO Objetivo: verificar se alta freqüência de coitos vaginais e o uso de duchas higiênicas interferem com a microbiota vaginal. Métodos: noventa e sete mulheres atendidas em centro de saúde localizado em zona de prostituição na cidade de Campinas foram avaliadas em estudo prospectivo de corte transversal. A anamnese determinou as freqüências de coitos vaginais e do uso de duchas higiênicas nas 44 profissionais do sexo e nas 53 não-profissionais do sexo estudadas. O conteúdo vaginal foi coletado com swab estéril de Dacron, da parede vaginal direita, e disposto em duas lâminas de vidro. A microbiota vaginal foi estudada em microscopia óptica com lente de imersão em esfregaço corado pela técnica de Gram. Os dados foram analisados pelo teste exato de Fisher. As mulheres profissionais e não profissionais do sexo apresentaram, respectivamente, média de idade de 24,9 (± 6,4) e 31,5 (± 9,7) anos, hábito de fumar em 52,2 e 24,5%, prática do uso de lubrificantes vaginais em 56,8 e 0% e prática de uso de condom em 100 e 41,5% dos casos respectivamente. Resultados: apenas 1,8% das mulheres do grupo controle tinham sete ou mais relações sexuais por semana, em evidente contraste com as profissionais do sexo (97,7%). Não houve diferenças significativas quanto à raça, escolaridade e paridade. A vaginose bacteriana e a flora vaginal anormal foram mais observadas nas profissionais do sexo do que no grupo controle (p=0,02 e 0,001) e associou-se à alta freqüência (sete ou mais vezes) de coitos vaginais semanais (p=0,04 e 0,001). O diagnóstico de vaginose citolítica foi mais freqüente nas mulheres não-profissionais do sexo (p=0,04) e com menor freqüência de relações sexuais (p=0,04). O uso de duchas higiênicas foi mais comum nas profissionais do sexo (p=0,002). Entretanto, esta prática não esteve associada aos distúrbios da microbiota vaginal e nem à presença de vulvovagintes. Conclusões: profissionais do sexo com sete ou mais relações sexuais semanais apresentaram maior freqüência de vaginose bacteriana e alterações da flora vaginal. O hábito de duchas vaginais não interferiu com o ecossistema vaginal das mulheres estudadas. PALAVRAS-CHAVE: Prostituição; Coito; Aparelhos sanitários; Vaginose bacteriana; Vagina/microbiologia ABSTRACT Purpose: to verify if the high frequency of vaginal intercourses and the use of doushing interferes with vaginal microbiota. Methods: ninety-seven women were examined at a health center located in the prostitution area of the city of Campinas, and evaluated in a prospective cross-sectional study. Anamnesis determined the frequency of vaginal intercourse and the use of douching in the 44 sex professionals and 53 non-professionals studied. The vaginal content was collected with a sterile Dacron swab, from the right vaginal wall, and placed on to two glass laminas. The vaginal microbiota smear stained by the Gram technique was studied with light microcopy using immersion lens and the data were analyzed. The sex professionals and non-professionals presented mean age of 24.9±6.4 and 31.5±9.7, habit of smoking in 52.2 and 24.5%, the use of vaginal lubricants in 56.8 and 0%, and the use of condoms in 100 and 41.5% of the cases, respectively. Results: only 1.8% of the women in the control group had seven or more sexual intercourses per week, contrasting evidently with the sex professionals Ambulatório de Infecções Genitais do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP) - Brasil 1 Livre-Docente do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp 2 Pós-Graduanda do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp 3 Professora Adjunta Assistente Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN) - Brasil 4 Professora Doutora do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp 5 Coordenador Médico do Centro de Saúde Jardim Itatinga, Secretaria Municipal de Saúde 6 Graduandas da Faculdade de Medicina de Jundiaí Correspondência: Paulo César Giraldo Rua Dom Francisco de Campos Barreto, 145 – 130923-360 – Campinas – SP – Telefone - Fax: (19) 3788-9306 – e-mail: giraldo@unicamp.br Recebido em: 19/4/2005 Aceito com modificações em: 13/6/2005 Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
  • 2. 258 Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM (97.7%). There were no significant differences regarding race, educational level and number of pregnancies. Bacterial vaginosis and abnormal vaginal flora were more observed in sex professionals (p=0.02 and 0.001) and were associated with the high frequency (seven times or more) of weekly vaginal intercourses (p=0.04 and 0.001). Cytolytic vaginosis was more related to non-professionals (p=0.04) and to a lower frequency of sexual intercourses (p=0.04). The use of doushing was more common in the sex professionals (p=0.002). However, this practice was not associated either with the vaginal microbiota problems or with the presence of vulvovaginitis. Conclusions: sex professionals with seven or more sexual intercourses per week presented a higher frequency of bacterial vaginosis and abnormal vaginal flora. The doushing habit did not interfere with the vaginal environment ecosystem of the studied women. KEYWORDS: Prostitution; Coitus; Sanitary devices; Vaginosis, bacterial; Vagina/microbiology ra vaginal existente. De acordo com a quantidade Introdução de lactobacilos em esfregaço do material colhido da cavidade vaginal, realizado a fresco ou corado O equilíbrio do ecossistema vaginal é manti- pelo Gram, com leitura posterior em microscópio do por complexas interações entre a flora vaginal óptico6, pode-se classificar a flora vaginal em três dita normal, os produtos do metabolismo tipos: tipo I, quando no conteúdo vaginal existem microbiano, o estado hormonal e a resposta imune 80% ou mais de lactobacilos; tipo II, quando existe do hospedeiro. A vagina é habitada por numerosas proporção aproximada de metade de lactobacilos e bactérias de espécies diferentes que vivem em metade de outras bactérias. Quando há predomí- harmonia e que por isso são consideradas comen- nio claro de outras bactérias e redução acentuada sais, mas que podem, em situações especiais, tor- do número de lactobacilos (menor que 25%), a flo- nar-se patogênicas1. O Lactobacillus sp é a espécie ra vaginal será chamada de tipo III7. A vaginose bacteriana predominante no meio vaginal, deter- bacteriana é síndrome em que há diminuição minando pH ácido (3,8 a 4,5) que inibe o cresci- importante de lactobacilos e aumento dos germes mento de várias outras bactérias que potencial- anaeróbicos (Gardnerella vaginalis, entre outros). mente são nocivas à mucosa vaginal2. As concen- Fatores extrínsecos podem alterar o trações de lactato, succinato, interleucina-1-beta, ecossistema vaginal. O uso de certos antibióticos, interleucina-8, fator inibidor de leucócitos e recep- principalmente os de amplo espectro, interfere na tores agonistas de interleucina-1 podem definir manutenção da flora residente. A literatura perti- quando a homeostase do meio vaginal está ade- nente sobre o assunto indica que o uso indiscri- quada2. A flora vaginal em que há predomínio de minado e freqüente de duchas vaginais higiêni- Lactobacillus sp encontra-se freqüentemente asso- cas poderia levar à perda do equilíbrio entre os ciada a quantidades apropriadas destes marcado- vários microrganismos residentes na cavidade res2. Por outro lado, o conteúdo vaginal em que exis- vaginal, facilitando o aparecimento e manuten- te ausência ou baixa concentração de Lactobacillus ção de vulvovaginites 8 . Tal suposição seria sp associa-se significativamente a processos justificada pelo fato de as duchas vaginais promo- patogênicos como a doença inflamatória pélvica, verem limpeza mecânica das bactérias próprias infecção pós-cirúrgica e as corioamnionites3. da flora local e ao mesmo tempo introduzir subs- Fica implícito, portanto, que a flora microbi- tâncias exógenas que poderiam alterar o pH vagi- ana que habita a vagina tem papel importante na nal e causar reações alérgicas locais9. eclosão de doenças (vaginose bacteriana, vaginose Outro fator importante que teoricamente citolítica e doenças sexualmente transmissíveis)1, poderia levar a alteração da microbiota vaginal, assim como na manutenção de um trato genital seja pela deposição de sêmen (meio alcalino) no saudável. Além disso, o fluido vaginal tem ativida- epitélio vaginal, seja pelo estímulo local da mucosa de seletiva antimicrobiana contra espécies ou mesmo pela introdução de bactérias estranhas bacterianas não residentes. Estudos clínicos têm ao ambiente vaginal, seria a alta freqüência de demonstrado associação entre a ausência de lac- coitos vaginais10. tobacilos produtores de H2O2 e alta prevalência da As profissionais do sexo (PS) apresentam a gonorréia, vaginose bacteriana e da contamina- característica singular de manterem atividade ção pelo vírus da imunodeficiência humana sexual intensa, com grande quantidade de coitos (HIV)4,5. por dia, além de freqüentemente muitas delas fa- O equilíbrio entre os lactobacilos e os outros zerem uso rotineiro de duchas higiênicas vagi- microrganismos presentes determina o tipo de flo- nais. Estudo da Universidade de Brasília mostrou Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
  • 3. Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas ... 259 que 74% das prostitutas brasileiras usam preser- microbiota foi feita por profissional experiente, que vativos nas relações com clientes11,12, o que pro- inicialmente identificou o tipo de flora vaginal (flo- porciona acréscimo de substâncias químicas lo- ra tipo I, II ou III) e na seqüência procurou identi- cais e eventuais microtraumatismos vaginais, ficar os possíveis agentes patogênicos ou distúr- com provável perturbação do ecossistema vaginal. bios do ecossistema (normal, candidíase, vaginose O presente estudo propõe-se a determinar citolítica e vaginose bacteriana). se a alta freqüência de coitos vaginais semanais Para a caracterização do tipo de flora foram e o uso rotineiro de duchas vaginais higiênicas vistos 10 campos de microscopia óptica com lente poderiam interferir com a microbiota vaginal em de imersão. Atribui-se valor de zero a 10 ao nú- mulheres profissionais do sexo. mero de lactobacilos e outro valor complementar aos demais microrganismos. Ao final da contagem dos campos obteve-se um valor médio que deter- Métodos minou o percentual final de lactobacilos em cada lâmina, determinando-se o tipo de flora para o caso analisado. A flora do conteúdo vaginal foi conside- Trabalho prospectivo, de corte transversal. rada como sendo tipo I, quando se observou 80% As primeiras 50 mulheres PS identificadas e ou mais de lactobacilos; tipo II, quando se obser- selecionadas por participarem no “Projeto Condom” vou aproximadamente a metade de lactobacilos e (projeto que faz a distribuição de insumos e ca- metade de outras bactérias e flora tipo III, quando dastra as profissionais do sexo no município) que os lactobacilos representavam menos de 25% das procuraram um Centro de Saúde localizado em bactérias. zona de meretrício da cidade de Campinas (São O diagnóstico de candidíase foi feito ao ser Paulo), independentemente da causa que as mo- identificada a presença de hifas e blastosporos tivou a procurar assistência médica, foram convi- gram-positivos13. O diagnóstico de vaginose bac- dadas a participar deste estudo, no qual se procu- teriana respeitou os critérios bem estabelecidos rou evidenciar as características da microbiota va- de Nugent et al. 14 . A vaginose citolítica foi ginal. No mesmo período, número semelhante (55) identificada na microscopia pelo achado de um de mulheres, que ao serem inqueridas declara- número excessivo de lactobacilos, presença de lise ram-se não profissionais do sexo (NPS) serviu como celular e ausência de leucócitos. grupo controle. Os sujeitos foram informados do A fim de se estabelecer padrão aceitável de estudo e procedimentos a serem realizados pelo números de coitos por semana, atribuiu-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, apli- cutoff arbitrário de uma relação sexual por dia ou cado no momento da consulta, e identificados por sete por semana para indicar a alta freqüência de iniciais do nome e o número do prontuário. coitos vaginais. Durante o exame ginecológico habitual, co- Entre as 97 mulheres incluídas no estudo, letou-se o conteúdo da parede lateral da vagina as PS tiveram uma média de idade bem menor do das mulheres utilizando-se swab de Dacron esté- que as NPS (24,9±6,4 vs 31,5±9,7), porém não hou- ril. O material foi disposto suavemente em forma ve diferenças quanto à paridade, escolaridade e de esfregaço em duas lâminas de vidro, fixado e cor (Tabela 1). corado por técnica de Gram. Questionário detalha- do sobre dados epidemiológicos (idade, cor, parida- de, escolaridade, tabagismo, estado civil), higiê- Tabela 1 - Características sociodemográficas gerais das 97 mulheres estudadas. nicos (uso de duchas higiênicas, freqüência do uso, Profissionais Não-profissionais solução usada) e sexuais (primeira relação sexu- Características do sexo (44) do sexo (53) p* al, número de parceiros sexuais, número de coi- n (%) n (%) tos por semana, uso de condom e lubrificantes) foi aplicado sempre pelo mesmo investigador. As Idade x (± DP) 24,9 (6,4) 31,5 (9,7) 0,0007 mulheres grávidas, adolescentes, as sabidamente Paridade x (± DP) 1,3 (1,2) 2,0 (1,6) ns infectadas por HIV, usuárias de drogas ou medi- Cor branca n (%) 19 (43,1) 25 (47,1) ns camentos imunossupressores e as portadoras de Escolaridade básica n (%) 29 (65,9) 33 (62,2) ns doenças crônicas degenerativas foram excluídas * Teste exato de Fisher; ns: não significativo do estudo para minimizar possíveis fatores de con- fusão. Seis casos das PS e dois casos das NPS fo- ram excluídos do estudo por inadequação do mate- Este estudo obteve parecer favorável da Co- rial fixado ou por quebra ou extravio das lâminas missão de Ética da Secretária Municipal de Saú- com o conteúdo vaginal. A identificação da de responsável pelo Centro de Saúde Jardim Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
  • 4. 260 Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM Itatinga. A análise estatística foi realizada por Apesar de as duchas higiênicas serem mais meio do teste exato de Fisher. praticadas pelas mulheres do grupo PS (59,1%) e ser hábito incomum entre as mulheres do grupo controle (26,4%), não houve associação significa- tiva entre o uso rotineiro de duchas higiênicas Resultados vaginais e presença de flora vaginal anormal (47,5 vs 38,6%) ou aumento no número de diagnósticos As PS apresentaram hábito de fumar (52,2 e de vaginose bacteriana. A vaginose citolítica as- 24,5%), usar lubrificantes vaginais (56,8 e 0%), sociou-se ao não-uso de duchas vaginais (0 vs condom (100 e 41,5%), fazer duchas higiênicas e 12,3%) (Tabela 4). praticar sexo por semana mais freqüentemente que as NPS (Tabela 2). Dentre as 44 PS, apenas uma Tabela 4 - Diagnóstico microbiológico e tipo de microbiota vaginal em mulheres usuárias tinha menos de sete relações sexuais por semana. e não-usuárias de duchas higiênicas vaginais. Duchas vaginais Tabela 2 - Hábitos sexuais e de higiene das mulheres profissionais do sexo e não profissionais do sexo. Sim (40) Não (57) p* n (%) n (%) Profissionais Não-profissionais Diagnóstico microbiológico Características do sexo (44) do sexo (53) p* Normal 26 (65) 29 (50,9) ns n (%) n (%) Tabagismo n (%) 23 (52,2) 13 (24,5) 0,009 Vaginose citolítica 0 7 (12,3) 0,04 Uso de lubrificante vaginal n (%) 25 (56,8) 0 <0,0001 Candidíase vaginal 2 (5,0) 5 (8,7) ns Uso de condom n (%) 44 (100) 22 (41,5) <0,0001 Vaginose bacteriana 12 (30,0) 16 (28,1) ns Coito semanal ≥7 vezes n (%) 43 (97,7) 1 (1,8) <0,0001 Tipo de flora vaginal Uso de duchas vaginais n (%) 26 (59,1) 14 (26,4) 0,002 Normal (Tipo I) 21 (52,5) 35 (61,4) * Teste exato de Fisher. Anormal (Tipos II + III) 19 ( 47,5) 22 (38,6) ns * Teste exato de Fisher; ns: não significativo. O diagnóstico de vaginose bacteriana esteve presente em 41,5% das PS e em apenas 18,5% das NPS. A flora anormal (tipos II e III) também foi mais Discussão comum nas mulheres do grupo estudado (60,5%) do que nas NPS (27,8%). Além disso, notou-se que o Considerando que as mulheres que apresen- diagnóstico de vaginose bacteriana e flora anormal tam alteração da flora vaginal podem tornar-se associou-se à freqüência de coitos vaginais sema- mais vulneráveis a aquisição do HIV15, fica fácil nais maiores ou iguais a sete (p=0,02 e p=0,002). O entender que o equilíbrio do meio vaginal diagnóstico de vaginose citolítica (12,9%) esteve (microbiota) reveste-se de especial importância na mais associado às mulheres do grupo controle, que proteção do indivíduo contra as infecções genitais. tinham bem menos relações sexuais por semana. As profissionais do sexo estão especialmente vul- Não foi diagnosticado nenhum caso de vaginose neráveis às DST, inclusive a AIDS. Em citolítica nas PS (Tabela 3). Bangladesh, dentre 269 prostitutas incluídas em um estudo, detectou-se soropositividade em 84% Tabela 3 - Diagnóstico microbiológico e tipo de flora vaginal segundo o número de para pelo menos uma DST e em mais da metade coitos semanais. dos casos a sorologia era positiva para duas DST16. no de coitos/semana Em estudo semelhante, encontrou-se soropositi- ≥7 (n = 43) 0-6 (n = 54) p* vidade para alguma DST em 61% dos casos17. Diagnóstico microbiológico Estudo com 600 mulheres que trabalhavam em bares na Tanzânia18 detectou grande preva- Normal 22 (51,2) 33 (61,1) ns lência de vulvovagintes: vaginose bacteriana (60%) Vaginose citolítica 0 7 (12,9) 0,01 e candidíase (59,6%). Confirmando a literatura Candidíase vaginal 3 (6,9) 4 (7,4) ns vigente, no presente estudo observou-se que mu- Vaginose bacteriana 18 (41,9) 10 (18,5) 0,02 lheres profissionais do sexo apresentaram com Tipo de flora vaginal mais freqüência vaginose bacteriana e flora vagi- Normal (Tipo I) 17 (39,5) 39 (72,2) nal anormal (tipos II e III), quando comparadas a Anormal (Tipo II + III) 26 (60,5) 15 (27,8) 0,002 mulheres não-profissionais do sexo que praticam o sexo vaginal na freqüência de até seis vezes por * Teste exato de Fisher; ns: não significativo. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
  • 5. Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas ... 261 semana. Estudos recentes associam algumas ca- bia quanto à sujeira e/ou à culpa pelo ato sexual, racterísticas demográficas e hábitos sexuais à o período do ciclo menstrual e as substâncias en- permanência de infecções genitais e distúrbios volvidas na ducha ainda merecem um da microflora vaginal19,20. Observou-se que a pre- aprofundamento dos estudos. Não fica claro, por- sença de microrganismos patógenos esteve asso- tanto, se o simples ato de fazer duchas higiênicas ciada às perturbações da flora vaginal, que o poderia por si só desencadear os distúrbios da Mycoplasma hominis e Gardnerella vaginalis esti- microbiota vaginal. Divergindo da literatura vigen- veram agregados à vaginose bacteriana e que as te22, nas usuárias de duchas vaginais observou- DST associam-se entre si20. Múltiplos parceiros, se apenas uma maior prevalência de vaginose ci- práticas de sexo oral e anal, freqüência de rela- tolítica. ções superior a três intercursos sexuais por se- Os dados encontrados indicam que a alta fre- mana e a utilização de duchas vaginais foram os qüência de coitos vaginais, talvez pelo fator outros fatores que também foram associados aos irritativo do condom ou eventual deposição de sê- distúrbios na microbiota vaginal de mulheres men na vagina, pode favorecer o aparecimento de americanas21. No presente estudo, a alta freqüên- vaginose bacteriana ou inverter o padrão normal cia de coito vaginal (sete ou mais vezes por sema- da flora vaginal. na), mas não o uso de duchas higiênicas, esteve O uso das duchas vaginais, contudo, poderia associado aos distúrbios da flora vaginal. Acredi- não representar risco para a mulher, como mui- tamos que o intercurso sexual, por expor as mu- tos autores querem fazer crer, merecendo maior lheres aos microtraumas, às soluções de conti- aprofundamento em novos trabalhos. nuidade e às escoriações vulvares, pode consti- tuir fator importante para a manutenção do desequilíbrio entre os diversos microrganismos locais. Saliente-se ainda que a deposição de sê- Referências men alcalino no epitélio vaginal e a introdução de substâncias e bactérias durante o ato sexual fa- 1. Zhou X, Bent SJ, Schneider MG, Davis CC, Islam voreceriam as alterações da microbiota vaginal10. MR, Forney LJ. Characterization of vaginal microbial Todas as profissionais do sexo estudadas afir- communities in adult healthy women using maram usar preservativos em suas relações se- cultivation-independent methods. Microbiology. xuais, com clientes ou com parceiro habitual, di- 2004;150(Pt 8):2565-73. ferentemente de dados nacionais que indicam que 2. Donders GG, Bosmans E, Dekeersmaecker A, a freqüência de condom com clientes é alta, po- Vereecken A, Van Bulck, B, Spitz B. Pathogenesis rém nunca chegando a 100%, e quando o parceiro of abnormal vaginal bacterial flora. Am J Obstet é o habitual, a taxa de uso cai drasticamente. No Gynecol. 2000;182(4):872-8. Brasil apenas 20% das prostitutas praticam sexo 3. Soper DE. Gynecologic complications of bacterial seguro (com condom) com seus parceiros habi- vaginosis: fact or fiction? Curr Infect Dis Rep. tuais11,12. Essa diferença indica dificuldade em as- 1999;1(4):393-7. sumir o eventual não-uso de condons, demons- 4. Hawes SE, Hillier SL, Benedetti J, Stevens CE, trando preocupação na conservação da disponibi- Koutsky LA, Wolner-Hanssen P, et al. Hydrogen lidade do insumo pelo “Projeto Condom”. Tal fato, peroxide–producing lactobacilli and acquisition of mais as altas taxas de microbiota alterada, suge- vaginal infections. J Infect Dis. 1996;174(5):1058- rem o alto risco de aquisição de DST a que estão 63. expostas estas mulheres. 5. Royce RA, Thorp J, Granados JL, Savitz DA. É interessante notar que, embora a prática Bacterial vaginosis associated with HIV infection de duchas vaginais seja freqüentemente associa- in pregnant women from North Carolina. J Acquir da à vaginose bacteriana21, não se observou esta Immune Defic Syndr Hum Retrovirol. associação no presente estudo. Uma análise com 1999;20(4):382-6. 250 adolescentes que usavam duchas higiênicas 6. Spiegel CA, Amsel R, Holmes KK. Diagnosis of regularmente no período pós-menstrual encontrou bacterial vaginosis by direct gram stain of vaginal forte associação com um desequilíbrio da flora va- fluid. J Clin Microbiol. 1983;18(1):170-7. ginal e principalmente com a vaginose bacteria- na22. Talvez as diferenças estejam muito mais 7. Vasquez A, Jakobsson T, Ahrne S, Forsum U, Molin G. Vaginal lactobacillus flora of healthy Swedish relacionadas ao tipo de paciente e número de coi- women. J Clin Microbiol. 2002;40(8):2746-9. tos semanais que propriamente ao ato de usar a ducha higiênica. O perfil psíquico das usuárias de 8. Giraldo P, Neuer A, Ribeiro-Filho A, Linhares I, duchas (não-prostitutas), que poderia denotar fo- Witkin SS. Detection of the human 70-kD and 60- Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62
  • 6. 262 Giraldo PC, Amaral RLG, Gonçalves AK, Vicentini R, Martins CH, Giraldo H, Fachini AM kD heat shock proteins in the vagina: relation to 16.Rahman M, Alam A, Nessa K, Hossaim A, Nahar S, microbial flora, vaginal pH, and method of Datta D, et al. Etiology of sexually transmitted contraception. Infect Dis Obstet Gynecol. 1999;7(1- infections among street-based female sex workers 2):23-5. in Dhaka-Bangladesh. J Clin Microbiol. 2000;38(3):1244-6. 9. Ness RB, Hillier SL, Richter HE, Soper DE, Stamm C, Bass DC, et al. Why women douche and why 17.Bystricka M, Krikova Z, Krcova M, Koncova K, they may or may not stop. Sex Transm Dis. Kovacova E, Vaculikova A, et al. Sexually 2003;30(1):71-4. transmitted infections among prostitutes in Bratislava, Slovakia. Acta Virol. 2003;47(3):167-72. 10.Jeremias J, Mockel S, Witkin SS. Human semen induces interleukin 10 and 70 kDa heat shock 18.Riedner G, Rusizoka M, Hoffmann O, Nichombe F, protein gene transcription and inhibits interferon- Lyamuya E, Mmbando D, et al. Baseline survey of gamma messenger RNA production in peripheral sexually transmitted infections in a cohort of female blood mononuclear cells. Mol Hum Reprod. bar workers in Mbeya Region, Tanzania. Sex Transm 1998;4(11):1084-8. Infect. 2003;79(5):382-7. 11.Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e 19.Pisani E, Girault P, Gultom M, Sukartini N, AIDS. Prostitutas debatem profissionalização Kumalawati J, Jazan S, et al. HIV, syphilis infection, [documento da internet]. Rio de Janeiro; 2003 [citado and sexual practices among transgenders, male sex em 25 set 2004]. Disponível em: http:// workers, and other men who have sex with men in www.aids.gov.br/final/novidades/prostitutas.asp. Jakarta, Indonesia. Sex Transm Infect. 2004;80(6):536-40. 12.Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Política para o controle das doenças 20.Newton ER, Piper JM, Shain RN, Perdue ST, Peairs sexualmente transmissíveis no Brasil. Brasília: W. Predictors of the vaginal microflora. Am J Obstet Secretaria de Políticas de Saúde; 2001 Gynecol. 2001;184(5):845-53. 13.Novikova N, Yassievich E, Mardh PA. Microscopy of 21.Schwebke JR, Desmond RA, Oh MK. Predictors of stained smears of vaginal secretion in the diagnosis bacterial vaginosis in adolescent women who of recurrent vulvovaginal candidosis. Int J STD douche. Sex Transm Dis. 2004;31(7):433-6. AIDS. 2002;13(5):318-22. 22.Ness RB, Hillier SL, Richter HE, Soper DE, Stamm 14.Nugent RP, Krohn MA, Hillier SL. Reliability of C, McGregor J, et al. Douching in relation to diagnosing bacterial vaginosis is improved by a bacterial vaginosis, lactobacilli, and facultative standardized method of gram stain interpretation. bacteria in the vagina. Obstet Gynecol. J Clin Microbiol. 1991;29(2):297-301. 2002;100(4):765. 15.Tohill BC, Heilig CM, Klein RS, Rompalo A, Cu-Uvin S, Brown W, et al. Vaginal flora morphotypic profiles and assessment of bacterial vaginosis in women at risk for HIV infection. Infect Dis Obstet Gynecol. 2004;12(3-4):121-6. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(5): 257-62