SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 39
Baixar para ler offline
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
      DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
COLEGIADO DE LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E
                LITERATURAS – LICENCIATURA




             SANDRA KELLY SOUZA SANTOS




 OS REFLEXOS DO EU EM MULHER NO ESPELHO DE
           HELENA PARENTE CUNHA




                     Conceição do Coité

                           2012
SANDRA KELLY SOUZA SANTOS




OS REFLEXOS DO EU EM MULHER NO ESPELHO DE
          HELENA PARENTE CUNHA




                   Monografia apresentada ao Departamento de
                   Educação, Campus XIV, Curso de Letras com
                   Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas
                   - Licenciatura, da Universidade do Estado da
                   Bahia (UNEB), como instrumento da avaliação
                   final do Componente Curricular Trabalho de
                   Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do
                   grau de licenciada.

                   Orientadora: Profa. Dra. Itana Nogueira.




               Conceição do Coité

                      2012
A mente é tudo
             A mente é a força mestra que modela e faz
          E o homem é mente, e cada vez mais empunha
  O instrumento do pensamento e, afeiçoando o que quer,
                      Produz mil alegrias, mil males _
          Reflete em segredo e o que ele pensa acontece:
          O ambiente nada mais é do que o seu espelho.

                                                 Anônimo


                                                 Espelho
       Queria não ter tanto pra escrever, ser sempre leve.
                           Mas tudo pra mim é vidro...
                                 Vejo tudo através dele,
                     Não apenas o que está ao alcance,
                           Mas o que nele está contido.
                     É quase um dom, mas às vezes não,
                                    Às vezes é só delírio.
                       Pois a imagem, quando atravessa,
                      Nem sempre permanece o que era.
                       Quase sempre quem vê ao espelho,
                            Vê ao inverso, ou do avesso.
Às vezes o avesso é o que mais se aproxima da realidade.
    Mas, na maioria das vezes, o avesso, é só o avesso.
                                  Nada tem de verdade.

                                Súlzer Larissa Germano
Dedico este trabalho primeiramente a minha família, por sempre estar
presente nos momentos difíceis, dando-me força para vencer as
batalhas que a vida oferece e nos momentos alegres, principalmente a
minha mãe, Iracema Carneiro que é um exemplo de vida. Dedico
também aos professores da faculdade principalmente a Itana Nogueira
e os professores das escolas onde estudei, pois contribuíram com seus
méritos de forma complacente no que sou hoje.
AGRADECIMENTOS


A DEUS pela acolhida nas horas em que mais preciso, pela benção de nascer,
conhecer e viver com pessoas especiais. Pelas alegrias, pela força e coragem de
vencer os obstáculos e nunca desistir dos sonhos. Agradeço-o por oportunizar
diversas portas que se abrem na vida, que trazem um crescimento profissional e
principalmente pessoal.

A MINHA FAMÍLIA pelo apoio nas horas em que mais preciso: pais, primos, tios,
avós, especialmente a minha mãe, IRACEMA CARNEIRO DOS SANTOS, pessoa
mais importante que Deus colocou em minha vida. Obrigada mãe por me fazer
existir, permanecendo carregada pela força que vem de você. Como também, minha
avó, MARIA SOUZA SANTOS e minha tia IRACY CARNEIRO DOS SANTOS
MIRANDA.

A Orientadora Prof.ª Dr.ª ITANA NOGUEIRA NUNES, por sempre estar apoiando e
incentivando a construir. Uma pessoa coadjuvante, que compartilha seus saberes e
mostra que “nada se perde”. Obrigada por oportunizar o espaço de expor opiniões e
sentimentos. Como também aos professores DEIJAIR FERREIRA e SAYONARA
AMARAL pelas orientações de grande valia.

Aos colegas de classe, principalmente, MÔNICA DE OLIVEIRA SOUZA, ROSANA
CRISTINA LIMA DA SILVA E ELIANE LIMA DOS SANTOS. Obrigada por
compartilhar momentos difíceis e momentos alegres. Nossos momentos divertidos
ficarão para sempre. Momentos de risos deixarão saudade, porém a amizade será
eterna.

Às pessoas que de certa forma deixaram suas marcas, direta ou indiretamente. Às
pessoas que conheci através da graduação, aos colegas de trabalho, aos parceiros
do PIBID.


Enfim, agradeço a todos, que de fato contribuíram na construção da pessoa que sou
hoje.
RESUMO


O presente trabalho analisa os reflexos do eu na obra Mulher no Espelho, da
escritora Helena Parente Cunha, investigando a (des)construção da imagem
feminina e seus conflitos identitários através dos espelhos. A obra é escrita em
primeira pessoa, possibilitando a narradora construir um diálogo entre dois mundos,
no qual a personagem apodera-se do inconsciente para liberar seus desejos e
acaba constituída por múltiplas identidades refletidas no espelho. Para desenvolver
o trabalho, utiliza-se a pesquisa bibliográfica embasando-se em Anthony Giddens
(2002), David Zimerman (1999), Joel Dor (1989), Carl Jung (1995), Anthony Elliott
(1996), Afrânio Coutinho (2004), Nelly Coelho (1999), Nicole Bravo (1998), Beth
Brait (1985) e outros que, em suas obras retratam a literatura contemporânea, o
espelho, o consciente e inconsciente, além da análise de romance. A partir dessa
abordagem, foi possível constatar o jogo de manipulação utilizada no discurso da
narrativa dentro do mundo fictício, proporcionando a revelação das múltiplas
identidades da mulher através do espelho.

Palavras- chaves: Literatura. Espelho. Mulher.
ABSTRACT


This paper analyzes the reflections of the work The Woman in the Mirror, the writer
Helena Parente Cunha, whose objective is to investigate the (de) construction of the
female image and his identity conflicts through the mirrors. The work is written in first
person, allowing the narrator to build a dialogue between two worlds, in which the
character takes hold of the unconscious to release their desires and ends consisting
of multiple identities reflected in the mirror. To develop the work, we use the literature
basing on Anthony Giddens (2002), David Zimerman (1999), Joel Dor (1989), Carl
Jung (1995), Anthony Elliott (1996), Afranio Coutinho (2004), Nelly Coelho (1999),
Nicole Bravo (1998), Beth Brait (1985) and others who, in his works portray
contemporary literature, the mirror, the conscious and unconscious, beyond the
analysis of the novel. From this approach, we could see the game of manipulation
used in the discourse of narrative within the fictional world, providing the revelation of
the multiple identities of women through the mirror.

Keywords: Literature. Mirror. Women.
SUMÁRIO


INTRODUÇÃO -----------------------------------------------------------------------------------------08



1 O ESPELHO DA MULHER ----------------------------------------------------------------------10

1.1 O jogo dos espelhos -----------------------------------------------------------------------------10
1.2 O limite entre o consciente e o inconsciente ----------------------------------------------15
1.3 Autoria feminina ----------------------------------------------------------------------------------19



2 O CONFLITO DA PERSONAGEM NO ROMANCE MULHER NO ESPELHO DE
  HELENA PARENTE CUNHA --------------------------------------------------------------------22

2.1 Diálogos no espelho -----------------------------------------------------------------------------22
2.2 Imagens duplicadas e múltiplas identidades ----------------------------------------------26



CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------------------34



REFERÊNCIAS
8




                                     INTRODUÇÃO



      A Literatura Contemporânea possui um vasto grau de heterogeneidade,
caracterizada por mostrar uma diversidade de temáticas e estilos, a partir dos
conhecimentos estéticos de períodos passados e a continuidade através do caráter
renovador, ao fazer do velho um espaço de apoio para os novos talentos.
      É por meio da cultura literária contemporânea que se destacam as relevantes
crises do eu feminino na obra Mulher no Espelho, da escritora baiana Helena
Parente Cunha, cuja narrativa traça a desconstrução da imagem feminina e seus
conflitos identitários através dos espelhos. A personagem apodera-se do
inconsciente para liberar seus desejos e acaba constituída por múltiplas identidades
que se refletem no espelho, utilizado na tentativa de autoanálise e liberdade interior.
Este comportamento é indagado a partir de estudos da psicanálise, para discutir as
introspecções dos indivíduos. A dupla personalidade da mulher é movida pelos
devaneios de uma família tradicional, submissa ao pai, ao marido e aos filhos. O seu
inconsciente luta por seus sonhos reprimidos e por sua liberdade, uma imagem que
se apresenta através de um espelho e questiona a atitude da personagem real.
      O desígnio é investigar o conflito e a fragmentação do sujeito contemporâneo,
representado pela duplicidade da personagem através de seu reflexo no espelho.
Para tanto, utiliza-se o princípio da argumentação como método básico para
justificar as discussões aqui propostas. A pesquisa utilizada é a bibliográfica, que
permite uma revisão alicerçada em fundamentações teóricas que apresentam
discussões    sobre    identidades    relacionadas    à    figura   da    mulher    na
contemporaneidade. Nessa perspectiva, algumas hipóteses podem ser levantadas
sobre a discussão pautada na figura feminina: o espelho pode ser o limite entre o
consciente e o inconsciente da personagem; pode ser também a única saída para a
personagem se debruçar e questionar-se buscando o reflexo como conforto.
      Para o desenvolvimento do trabalho retoma-se as ideias de alguns
investigadores que dialogam com a temática em questão. Deste modo, encontram-
se aqui citações de autores como: Anthony Giddens (2002), Joel Dor (1989),
Anthony Elliott (1996), Carl Gustav Jung (1998), David E. Zimerman (1999), Alberto
9



Tallaferro (2001), Zeferino Rocha (2008), Afrânio Coutinho (2004), Nelly Novaes
Coelho (1999), Nicole Fernandez Bravo (1998), Beth Brait (1985), entre outros com
a finalidade de empreender as teorias que baseiam os estudos literários. Além do
texto principal, o romance Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, tem-se
também como base de sustentação para o objeto desse estudo, o conto O Espelho,
de Machado de Assis, a poesia Retrato, de Cecília Meireles e a tela Moça na frente
do espelho, de Pablo Picasso.
      A monografia está estruturada em dois capítulos. No primeiro, há uma
explanação teórica sobre o termo espelho. Além de, uma investigação psicanalítica
preliminar, discutindo a formação e desconstrução identitária do indivíduo através do
espelho, que necessariamente estão pautadas na literatura contemporânea. O
segundo capítulo trata da análise da obra Mulher no Espelho. Os desfechos serão
apontados e justificados a partir das obras de criação, que seguem dialogando com
o objeto espelho no qual as personagens se buscam, refletindo seus inconscientes.
10




                            1 O ESPELHO DA MULHER



       A obra de Helena Parente Cunha, Mulher no Espelho, é o retrato de uma
personagem feminina, cuja identidade fragmentada pelas suas tentativas frustradas
de buscar a sua verdadeira personalidade, aparece em todo o corpo do romance
como uma figura atormentada a procura de respostas.
       O seu descontentamento e insatisfação que estão refletidos nas suas ações
e pensamentos são as bases nas quais a autora empreende a sua discussão sobre
o eu feminino para abordar temas como: as múltiplas identidades; os limites entre o
consciente e o inconsciente; a realidade e a imaginação e finalmente os reflexos
obtidos como tais respostas através do espelho.
        É nos textos literários que o espelho atua com maior intensidade nos
desenlaces das histórias das personagens que se autorefletem, na tentativa de
expor seus desejos e de refletirem sobre suas próprias vidas.




1.1 O jogo dos espelhos



       Segundo     Zimerman    (1999)   o   espelho   é   um    elemento   que   está
constantemente vinculado a áreas como a mitologia, a ciência, a religião e a
literatura. Tem sido considerado ao longo dos tempos como objeto causador de
tristezas, sofrimentos, mortes, mas também de alegrias, luzes, e outros símbolos
positivos, além de ser a chave do reconhecimento ou das fragmentações de um eu,
a depender da crença de cada indivíduo.
       Desde muito tempo, o espelho é utilizado como objeto do reflexo. Antes
mesmo da utilização do vidro como espelho, a humanidade primitiva usava das
águas paradas como forma de refletir suas próprias imagens e constituir crendices
relacionadas ao espelhar do corpo e da alma.
       As crendices populares estenderam-se até os dias atuais, e muitas pessoas
acreditam que o espelho pode ser um objeto que desperte o mal e o demônio.
11



Segundo Zimerman (1999, p. 185), são crendices populares: “[...] ‘criança que se
olha no espelho custa a falar’; ‘espelho quebrado é sinal de morte’; olhar-se no
espelho a noite é perigoso: pode-se ver o diabo’ [...]”. O espelho tem a função de
refletir imagens através do olhar, e toda essa construção é fruto da imaginação e de
todos estes preconceitos estabelecidos.
         Para Ferreira (1999, p. 814) “[...] os olhos são o espelho da alma [...]”. É
através do olhar que se visualiza a alma de um ser, seus pensamentos e suas
ações.
         Também nas referências bíblicas, tem-se o olhar como possível causador
imparcial da destruição do sujeito, que, pela curiosidade e pela desobediência, pode
provocar um fim trágico. A história bíblica da esposa de Ló é um dos clássicos
exemplos, pois ela voltou-se para ver a destruição de Sodoma e Gomorra, onde
deixou suas jóias preciosas. Dessa maneira, verifica-se no evangélico de Lucas
(17:31-2) das escrituras sagradas: “Quem estiver no terraço e os bens dentro de
casa, não desça para apanhá-los. Também quem estiver no campo, não volte atrás.
Lembrai-vos da mulher de Ló”.
          O olhar, nesse caso, é considerado pela religião como pecado. É a história
da mulher que foi castigada pela sua desobediência, tornando-se uma estátua de
sal.
         Entretanto, o espelho é também o simbolizador da iluminação, da reflexão
solar, da sabedoria e do reconhecimento. Uma forma de expressão mais forte de um
ser, pois ele remete a claridade, a luz que ilumina a face de um indivíduo. É através
do espelho que as pessoas podem notar suas formas corporais e adentrar através
do próprio olhar na reflexão de seus pensamentos e atitudes. Nesse sentido Dijck
(2004), afirma que:


                          [...] a palavra ‘espelho’ (speculum= especulação) nomeia um dos artefatos
                         mais antigos [...] tanto remete à observação dos corpos estelares, como
                         lembra a verdade, a sinceridade, a pureza, o conteúdo do coração e da
                                                           1
                         consciência [...] (Não paginado).




1
 A citação foi extraída do texto Calidoscópio e Hipertexto de Sonia van Dijck (2004), porém, não se
encontra paginado. Disponível em: <http://www.soniavandijck.com/espelhos.htm>.
12



         O espelho leva o sujeito a observar os componentes do seu interior e do
mundo em que está inserido. Trazendo com os seus vários significados, desde as
reações mais angustiantes às mais fantásticas, transmitindo assim os sentimentos
de cada indivíduo.
         A imagem do sujeito é capturada constantemente pelo espelho no momento
em que ele se posiciona na frente do objeto. Essa reflexão se desdobra em uma
dimensão que se pode constatar a imaginação de diversos rostos de um eu2. As
imagens especuladas são frutos da percepção do próprio indivíduo, quando sua
unidade corporal está em outra dimensão, causando-lhe um estranhamento e vários
questionamentos sobre as imagens projetadas diante do espelho. Segundo Sales
(2005), em função disso, há uma necessidade de representação do outro, ou seja, o
indivíduo vê sua imagem formada através da imagem que tem de outros sujeitos.
Assim, o autor (2005) estuda a formulação lacaniana se referido ao que ele chama
“estágio do espelho”. Segundo ele, Lacan usou experimentos comparativos entre o
mundo consciente e inconsciente através do espelhar. Daí parte-se do exemplo de
uma criança que se encontra hesitando entre a realidade e o espaço, ou seja, entre
as imaginações (inconsciente) e uma realidade física (consciente): “[...] o contato
com o espelho é uma experiência provocada pelo psicológico cujo objetivo é
investigar o modo como a criança atinge uma relação adulta normal com a realidade
[...]” (SALES, 2005, p. 118).
         O indivíduo ao nascer está sempre em contato com imagens, que se
refletem e constroem a sua própria imagem. No momento em que a criança está
sendo amamentada, ela busca intensamente olhar para o rosto de sua mãe, para
assim estabelecer uma relação de sentido com o seu mundo. Quando a mãe
devolve esse olhar, a criança sente-se amada e acolhida e sua reação é ter a mãe
como próprio espelho. Segundo Joel Dor (1989, p. 81) “[...] a criança se mantém
junto à mãe, buscando identificar-se como o que supõe ser o objeto de seu desejo”.
Com o tempo, o indivíduo vai desenvolvendo-se por meio das sensações que seu
reflexo evidencia através de uma imagem, sucedendo o reconhecimento da
imaginação e do seu próprio corpo.
         Como Sales e Joel Dor, Giddens (2002, p. 47) enfatiza:
2
   Segundo Parot e Doron (2001), “[...] o ego / eu se baseia numa experiência subjetiva de
(consciência de si) [...] é, ao mesmo tempo, a instância integrada onde se forma as representações
conscientes, especialmente a representação de si [...] a sede da consciência [...]”.
13




                     [...] que a sensação precoce de segurança da criança vem da criação que
                     recebeu daqueles que cuidavam dela [...] a aprovação ou desaprovação
                     paternos ou maternos. A ansiedade é sentida ─ real ou imaginariamente
                     [...].


        O sujeito sente a necessidade de encontrar no outro o apoio fundamental
para construir a autoestima. Quando não localiza essa fortaleza, passa por
provações de insegurança e não consegue sustentar uma atitude. O comportamento
descontrolado desse sujeito é o espelhar da sua infância, utilizando-se do afeto ou
não da familiaridade como seu próprio espelho para formar ou desconstruir uma
identidade.
        Nos liames literários, os espelhos são elementos bastante recorrentes nos
desfechos das narrativas,       especificamente,     por   serem    os geradores       das
introspecções das personagens. Dessa forma, são utilizados para viabilizar os
diálogos das personagens com seu interior, refletindo as frustrações e conflitos na
construção identitária. Segundo Silva (2007, p.59) “o espelho na narrativa de ficção
sempre foi um elemento que representou um meio pelo qual as personagens se
interiorizam e fazem uma investigação da alma [...]”. De tal modo, limita-se entre o
real e o imaginário e constrói a fragmentação da personagem, pois é um artifício
pelo qual a arte literária se configura. Contudo, há o conflito entre o consciente e o
inconsciente da personagem, ao investigar-se através do próprio reflexo no espelho,
se autoanalisando na busca da libertação.
        Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, publicado em 1985, retrata
uma personagem feminina que luta constantemente na busca obsessiva da própria
personalidade, refletida por um espelho, que, de certa forma, é o objeto de conflito
da sua identidade. Assim sendo, há uma tripartição dessa única mulher manifestada
em: eu (a real na obra, possivelmente passiva); ela (o reflexo desse eu,
necessariamente a do espelho, revoltosa) e uma terceira (autora – personagem, que
se manifesta nas leituras romanescas da personagem), porém as duas primeiras
dominam quase todo o enredo. São duas histórias de uma única personagem. Ela
tem quarenta e seis anos, personagem sem nome, oriunda de uma família burguesa,
vítima de um pai e de um marido autoritários, que aniquilaram sua liberdade,
impondo padrões, regras e comportamentos a serem seguidos.
14



          Na infância, a personagem viveu um drama ao ter um irmão mais novo, por
quem era responsável em tudo o que lhe pudesse acontecer. Para acalentar-se, a
personagem procurava o sótão, o quarto e demais lugares escuros e solitários,
como refúgio de um mundo onde ela não recebia carinho e atenção da própria
família. Na casa havia espelhos e, neles, a personagem adentrava-se, na tentativa
de acalentar seus medos e angústias. “[...] Na fluidez das linhas divisórias qual a
distância entre o rosto no espelho e o espelho ante o rosto? [...] E o meu rosto no
espelho? Quem é?” (CUNHA, 2001, p. 18).
          No conto de Assis (1994) O Espelho, na poesia O Retrato, de Cecília
Meireles (2001) e na tela Moça na frente do espelho, de Pablo Picasso (1932), o
espelho é também um objeto que busca uma análise íntima dos sujeitos. Em O
Espelho, o personagem entra em conflito com a sua imagem quando está sozinho e
sente a necessidade de ser o que as pessoas o consideravam. Este vazio leva-o
para um mundo imaginário e conturbado, e a partir do momento em que o
personagem adormece, tomam conta de seu corpo os sonhos, suas imaginações,
seus desejos e sensações de acalento, na tentativa de realização.
          Do mesmo modo, no poema Retrato, de Cecília Meireles, o eu lírico resgata
uma visão da sua própria vida e as modificações feitas pelo tempo. O espelho é o
espaço onde sua face está. É o objeto que conflita o passado e o presente do eu
lírico.
          Já na tela Moça na frente do espelho, de Picasso, as imagens sinalizam
uma mulher dividida e amargurada se refletindo no espelho. Suas formas mostram
uma aparência conturbada e fragmentada nas imagens produzidas, como também
nas imagens que corresponde à figura real que se reflete.
          Dessa forma, seja na literatura ou na linguagem pictórica, muitas das
tensões e dos conflitos retratam o universo das imagens dos sujeitos, que se
perpetuam diante dos espelhos, ou seja, é o limite, onde se autoanalisam,
conflitando seus sonhos e desejos reprimidos do inconsciente através da sua
consciência, buscando assim o real.
15



1.2 O limite entre o consciente e o inconsciente




         Alguns estudos psicanalíticos caracterizam-se como método de investigação
pela busca de significados dos sentimentos expressos pelo imaginário, através de
palavras e ações proferidas pelos delírios e sonhos do indivíduo.
         Freud (apud ROCHA, 2008, p. 202) diz que, a partir de suas investigações
psicanalíticas, criou o sistema metapsicológico que apresenta o aparelho psíquico
do indivíduo, topograficamente dividido em inconsciente, pré-consciente e
consciente. Segundo o autor, o indivíduo pode mudar de estágios, transitando
ocasionalmente entre inconsciente e consciente. Assim o inconsciente, para
Stefanzweig (apud TALLAFERRO, 2001, p. 42), “[...] não é em absoluto o resíduo da
alma, mas pelo contrário, sua matéria prima, da qual só uma porção mínima alcança
a superfície iluminada da consciência [...]”. É nele, onde está o reprimido, o refúgio
de um mundo consciente.
         Uma parte do inconsciente surge a partir de sonhos que afloram-se até o
consciente, supostamente é considerado como pré-consciente devido estar mais
perto do sentido consciente. Embora exista o inconsciente reprimido, a parte
abstrata nunca chegará ao consciente, encontrando-se no id3, instância regida pelo
sistema do inconsciente e que nunca pode mudar de estágio.
         Segundo Sales (2005, p. 117), o conceito lacaniana oscila entre o eu
consciente e o eu inconsciente, utilizando a terminologia je para consciente e moi
para o inconsciente, partindo do que não é “verdade do sujeito”, ligado intimamente
a subjetividade, enquanto que o consciente é a unidade sistematizada de um eu.
Tais pensamentos podem ser verificados no seguinte trecho:


                         [...] ao moi o significado de uma instância imaginária sintomática e
                         alarmante e ao je o estatuto de sujeito do inconsciente, lugar situado no
                         simbólico e aparentemente a verdade do desejo [...] (SALES, 2005, p. 117).




3
  Segundo Ferreira (1999) id é um “sistema básico da personalidade que possui um conteúdo
inconsciente, por um lado hereditário e inativo, e por outro, recalcado e adquirido, de acordo com a
segunda teoria freudiana do aparelho psíquico”.
16



        Para a formação mental de um indivíduo, é preciso passar por diversas
fases desde o nascimento. Quando ocorrem incoerências no desenvolvimento de
uma criança, aparecem os reflexos na formação adulta. O indivíduo passa a ter
conflitos entre os desejos retraídos e seus sentimentos, que não poderá ser
expressos em sua vida enquanto sujeitos de uma sociedade. A construção do eu
fica impossibilitado devido às reações provocadas pelo inconsciente e pelo
consciente, quando o indivíduo se encontra em situações que lhe provocam
constrangimentos e decepções, alarmando-se na formação da sua plena
consciência, quem realmente é esse eu.
       O desencontro do processo que limita o consciente do inconsciente resulta na
busca insensata da própria construção do sujeito. A imaginação é a via que leva o
indivíduo ao mundo irreal do seu próprio interior, tornado-se o espaço que liga os
sentimentos reprimidos até a consciência, enquanto o ser eu, revela seus aspectos
contraditórios. Segundo as ideias de Elliott (1996, p. 223), há “[...] uma reflexão
crítica nas modalidades centrais de sentimento [...]”, do indivíduo, ao perpassar pela
distância que se limita entre o inconsciente e o consciente. Este debate é o que
possibilita o conflito da sua construção identitária.
        Quando o indivíduo se depara com duas personalidades, constata as
transposições entre o inconsciente e o consciente, os quais se alternam propagando
os desejos e as razões de um ser. Assim, Jung (1998, p.191) diz: “[...] tudo que é
inconsciente já foi ou será conteúdo do consciente [...]”. O inconsciente quando
refletido é considerado como se fosse parte do consciente, porque quando um eu se
atribui dos conteúdos do inconsciente tornando-se semelhantes ao consciente, o
indivíduo passa a ter perturbações na consciência e necessariamente a construção
da dupla personalidade.
        Também no universo literário, algumas personagens se deparam em
situações de busca e conflito, quanto à formação da consciência e inevitavelmente
da própria personalidade. Em Mulher no Espelho, desde a sua infância, a
personagem central de Cunha (2001) não teve um firmamento estrutural da
consciência, ou seja, o eu não se concretizou durante toda a sua vida e chega a não
se reconhecer. Os conteúdos inconscientes refletem contrariamente ao consciente
dessa mulher. Suas ideias e suas atitudes de toda a vida são questionadas pelos
desejos e pelas indignações do inconsciente.
17



        Pelo fato de viver na infância passivamente, sempre atendendo as ordens de
outras pessoas e inevitavelmente privada da afetividade familiar, essa mulher
inacabada    não    se    estruturou    psicologicamente,       o    que    lhe    ocasionou
constrangimentos e perturbações. Como relata o filosofo Giddens (2002, p. 42):


                      Desde os primeiros dias de vida, o hábito e a rotina desempenham um
                      papel fundamental na construção de relações no espaço potencial entre a
                      criança e os que cuidam dela. Conexões centrais são estabelecidas entre a
                      rotina, a reprodução de convenções coordenadas e os sentimentos de
                      segurança antológica nas atividades posteriores do indivíduo.



        Pode-se afirmar que quando o sujeito não tem uma boa convivência com a
família, ele passa a ter um desequilíbrio emocional. A falta de carinho e
sucessivamente a obrigação de seguir normas levou aquela mulher a viver dentro
dos padrões de uma sociedade tradicional, apenas para servir seus pais, movidos
pelo autoritarismo. Uma mulher reprimida que aprendeu a cuidar do irmão mais novo
e quando adulta foi submissa ao marido e aos filhos. Para ela, uma mulher recatada,
simples e dona de casa, deveria manter-se nesses patamares. “[...] Eu boa menina,
obediente, os amigos do meu pai me gabavam [...]” (CUNHA, 2001, p. 19); “[...] para
viver bem com meu pai que eu amava, aprendi a viver para amá-lo [...] não
levantava a cabeça para falar com ele [...]” (p. 25).
        A personagem quando criança quebrou um brinquedo do irmão não se
conformando por ele ter destruído a sua boneca favorita. Por causa dessa atitude o
pai a colocou de castigo e não o irmão, ela ficou revoltada, entretanto se culpa pelo
ato. Foi questionada pelo seu inconsciente, dizendo que ela não tinha errado em
quebrar o brinquedo do irmão, ele substituiu seu espaço enquanto criança, de poder
brincar e ser bem amada.
        Esse confronto viabiliza um diagnóstico de que, desde sua infância, aquela
mulher angustiada sempre esteve num abismo, sem ter a certeza do que estava
fazendo. Seus desejos e instintos eram vistos como errados por sua consciência,
enquanto um eu que deveria se comportar como criança bondosa e educada. Os
atos momentâneos eram sementes das conturbações da consciência do sujeito e
move toda a dualidade de uma única mulher. A personagem dialoga com a sua
imagem ao espelho:
18



                     Você já falhou. Desde o começo, falhou com suas omissões. Suas manias
                     de querer desculpar todos e tudo. E sua rotina de autocondenação e
                     flagelação. (CUNHA, 2001, p. 41).


          Dessa maneira a dualidade perpassa toda a narrativa, mesclando o
discurso do consciente e inconsciente, que se esquivam e se chocam num diálogo
de culpas e sentimentos. Uma vida de desastres em que a mulher se autocrítica,
negando-se e ao mesmo tempo fugindo dessa realidade.
        O inconsciente que rompe o limite, surgindo como força de expressão,
inevitavelmente provoca o conflito da imaginação com os princípios da realidade.
Uma ruptura na formação da identidade de uma mulher procedente de uma família
tradicionalista, que agita a sua vida. A imaginação protesta contra suas atitudes
reais, projetando uma desconstrução mental da personagem e aflorando suas
vontades até então não assumidas.
        Dessa forma, o indivíduo passa a ter perturbações e não forma uma
identidade própria. Há sempre um limite entre o seu estado consciente e o
inconsciente. Assim, a personagem da narrativa é vista através de um discurso
contrário ao estabelecido, como mais uma possibilidade, diante dos conflitos
existenciais do contemporâneo.
        Como diz Giddens (2003, p.50), “a existência é um modo de estar-no-mundo
[...] aceitar e viver sua própria realidade”, porém o sujeito pós-moderno é construído
pelas fragmentações e certamente não tem a sua própria essência. O planejamento
da vida é a referência da personalidade de cada indivíduo, e quando esse projeto
não se constitui, o sujeito se perde entre tempo e espaço.
        O autor ainda diz:


                     ‘Isolamento existencial’ não é tanto uma separação do indivíduo dos outros,
                     mas uma separação dos recursos morais necessários para viver uma
                     existência plena e satisfatória (GIDDENS, 2003, p. 16).


        Contudo, enquanto representação da realidade o sujeito depara-se com
hipóteses e ferramentas que, certamente, podem levá-lo a questionar-se sobre a sua
existência, desconstruindo assim a ideia de um mundo coerente, igual. E a
imaginação é uma forma para então reconstruí-la com base nessa nova realidade,
isto é, um universo fragmentado e heterogêneo.
19




1.3 Autoria feminina




          A literatura contemporânea cada vez mais rica e heterogênea,
caracterizada por mostrar várias tendências temáticas e estéticas, continua seguindo
tanto as tendências passadas como as presentes, pois reconstrói obras de inegável
caráter inovador. Para Coutinho (2004, p.362) “[...] não houve uma ruptura radical
com o Modernismo, ao contrário, esta geração é uma continuação dele [...]”. As
tendências se aproximam principalmente pela engendra do fenômeno da
intertextualidade, como elemento das mais recentes teorizações da literatura,
marcadas pelos diálogos dos textos, ao permitir a disseminação, colagem, e mistura
das escritas. A obra literária recria uma imagem de estética e de valor dentro do
mundo ficcional.
        Assim, a literatura brasileira se potencializou com a junção dos autores que
ligaram o velho e o novo, a partir dos conhecimentos estéticos de um período com a
estreia de um novo movimento, a contemporaneidade, que é caracterizada por
trazer obras com aspectos renovados. Uma tentativa de continuar com uma
linguagem original, ao fazer do velho um espaço de apoio para os novos talentos.
Diz ainda o autor:


                       [...] Ela está viva, atuante, com a sua linguagem própria, mas rica e mais
                       variada do que a linguagem comum, cotidiana, embora o escritor possa
                       fazer uso desta, na variada estilização de suas concepções da realidade
                       (COUTINHO, 2004, p. 274).



        E nesse espaço aparecem as obras de cunho feminino, já existentes, porém
não manifestadas. Desde a metade do século XX, a literatura de autoria feminina se
destacou ao proporcionar constantes reflexões acerca dessas diversidades, embora,
as autorias desempenhem uma representação do discurso feminino dentro da
sociedade, baseado na tentativa de assumir lugares e papeis sociais perante as
organizações. Nesse sentido, Xavier (1998) afirma que:


                        [...] A condição de mulher vivida e transfigurada esteticamente é um
                       elemento estruturante nesses textos; não se trata de um simples tema
                       literário, mas da substância mesma de se nutrir à narrativa (p. 11).
20




        Dessa forma, a literatura de autoria feminina perpassa de forma progressiva,
ao ter espaço para expressar suas artes literárias. Contudo, essa dimensão
proporciona a representação do sujeito feminino até os dias atuais, na
representação do mundo real.
        Os textos literários seguiram novos rumos, em meio a novas indagações e
perplexidades instauradas pelo paradoxo pós-moderno. Assim, as produções
feministas são abordadas sob um enfoque distante do que era considerado como
hierarquia patriarcal, em que o homem era o centro das atenções e do poder,
questionando a sociedade tradicional às discriminações excludentes. Assim afirma
Coelho (1999, p.10) “[...] é principalmente no âmbito dessa literatura feminina,
reivindicante, que ressalta o poder da Literatura, como grande instrumento de
conscientização [...]”. A literatura foi uma das formas em que a escrita feminina teve
oportunidade de expressar uma conscientização e de fato questionar as atitudes de
uma sociedade prisioneira. A escrita ampliou os embates da mulher e a participação
nos meios sociais.
        A escritora Helena Parente Cunha faz parte da geração de 60. Pertenceu a
uma época, em que se iniciava a luta pela inserção da fala e do jeito feminino na
literatura brasileira. Suas obras abordam temáticas da mulher na sua recriação e
redefinição identitária, ao constituir um espaço onde se torna possível um sujeito que
afirma sua subjetividade ao descrever a realidade interior conflituosa das
personagens na busca de sua identidade.
        Assim descreve Coutinho, a autora:


                     [...] ensaísta, romancista, poeta e contista, transita com facilidade entre
                     poesia e prosa. [...] Sua ficção parte da observação da realidade mais
                     prosaica, para um conhecimento mais profundo do homem e da vida
                     coletiva dos fatos (2004, p. 273).



        Foram as vivências revolucionárias, a transformação de perceber o mundo e
a vida, que permitiram a mulher contemporânea se apropriar das raízes, o que, no
passado, não era possível, para criar sua linguagem e atrair algumas adeptas
fervorosas do feminismo, reescrevendo principalmente a afirmação identitária da
mulher, para uma vivência da nova conscientização.
21



        E neste viés, Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, traça as
condições do sujeito contemporâneo na literatura através do diálogo intimista da
mulher em frente a sua imagem no espelho. Um desafio aos limites impostos ao
universo feminino diante de si mesmo e à sociedade. A narrativa perpassa os fluxos
da consciência, por meio de uma personagem condicionada à passividade e o seu
reflexo intricado a uma mulher que rompe com o convencional. Contudo é um sujeito
frustrado, e suas reflexões são os desejos que até então retidos no inconsciente.
Assim sendo, a obra de criação traça literariamente o sujeito contemporâneo
fragmentado e diversificado, na perspectiva de interiorização do eu. As vozes da
personagem revelam-se perturbadoras, pois em meios a uma vivência dramática, a
personagem se encontra dividida entre os mandatos patriarcais familiares e suas
percepções liberais, deixando vim à tona seus anseios reprimidos em sua
imaginação.
         E é assim, que os escritos feministas encontram um posicionamento em
relação aos conceitos dirigidos a classe feminina, com o intuito de reverter os pontos
até então consagrados pela sociedade, na medida em que expressava suas
angústias e questionamentos através da escrita. O discurso da mulher passa a ser
sustentado por seus próprios pensamentos que se atualizam na produção literária.
         Contudo, é por meio da literatura de cunho feminino que se discute o
comportamento da mulher dentro da ficção. E Helena Parente Cunha faz de sua
personagem instrumento de representação do mundo real, onde identidades não se
formam, gerando o descontentamento e perturbações do sujeito, que se multiplicam
pelo jogo dos espelhos. Assim, o espelho da mulher está diretamente ligado aos
múltiplos reflexos do seu interior, que será analisado no próximo capítulo.
22




 2 O CONFLITO DA PERSONAGEM NO ROMANCE MULHER NO ESPELHO DE
                      HELENA PARENTE CUNHA



        O foco deste capítulo é analisar o diálogo entre a personagem e o seu
interior, consciente/inconsciente, através da imagem projetada pelo espelho. Assim,
a partir do espelhar, na tentativa de uma interiorização é que o indivíduo gera o
conflito da sua construção identitária. A personagem duplica sua imagem pelo
reflexo no espelho e se multiplica em diversos eu.




2.1 Diálogos no espelho



        As personagens na literatura são construídas a partir dos registros da
narrativa, ao tecer o comportamento de agentes transitando pelo mundo literário.
Segundo Gancho (2002, p. 14), “[...] os personagens se definem no enredo pelo que
fazem ou dizem, e pelo julgamento que fazem dele, o narrador e os outros
personagens [...]”. Neste caso, a personagem é construída dentro da narrativa pelas
suas ações e pelo olhar do outro.
        Mulher no Espelho é narrado em primeira pessoa a partir de uma
observação na perspectiva da própria personagem. Suas ações interferem a
atenção do leitor. Assim a narradora está dentro da história, necessariamente na
construção dos seres fictícios, através de um minucioso trabalho de linguagem até
chegar ao leitor a partir da personagem principal que relata à história do seu ponto
de vista. Para Brait (1985, p. 60), a narradora personagem é a própria “câmera”, que
define a construção adequada do enredo: “[...] produtos de um discurso narrativo
que aponta para a ironia de um observador empenhado em fazer da linguagem o
seu instrumento de impiedosa caracterização”.
        E neste viés a obra de criação representa uma personagem que se depara
em uma condição real e imaginário, oscilando entre dois mundos, ao representar as
lutas e as frustrações da mulher dentro da sociedade, na tentativa de se esquivar
23



dos seus comportamentos. Uma mulher frustrada, sem nome definitivo, à procura de
sua existência, julgando sua própria realidade através dos jogos dos espelhos,
permitindo-lhes questionar suas novas inspirações e, as imagens, revelando quem a
personagem poderia ter sido e quem ela é.
          A mulher divide-se psicologicamente, realizando um reflexo em torno de
si, isto é, uma troca de posicionamento ao fragmentar-se nas unidades (consciente/
inconsciente), até obter uma mudança comportamental:


                     Eu vou começar a minha estória. [...] no cruzamento do meu corpo com o
                     espaço de minhas imagens. [...] Só existo na minha imaginação e na
                     imaginação de quem me lê. E, naturalmente, para a mulher que me escreve
                     [...] (CUNHA, 2001, p. 17).


          Um conflito existencial de uma mulher que ao se espelhar, dialoga com o
seu íntimo, na tentativa de obter uma identidade própria. O diálogo perpassa os
detalhes corporais, ao adentrar na mais profunda subversão de um indivíduo. Deste
modo, há uma afirmação do posicionamento da personagem, ao se tratar da sua
projeção nos espelhos e a rejeição constatada: “Não desejo narrar a mulher que me
escreve. Quero narrar a mim mesma somente [...]” (p. 27). A mulher em frente ao
espelho discorre com seus desejos sobrepujados no inconsciente.
          E tudo pelas maneiras de dependência em que esse eu se permitia. Seu
horizonte deve limitar-se a satisfazer aos desejos do senhor seu pai. Como pode ser
observado neste trecho, em que a mulher refletida pelo espelho faz um
questionamento a atitude do pai e a aceitação da filha submissa:


                     [...] Seu pai pegou uma toalha de rosto que estava perto da cama, uma
                     toalha felpuda e começou a esfregar na sua boca, esfregado, muito
                     zangado, dizendo que filha dele não ia andar daquele jeito na rua, você não
                     arredava o pé e ainda oferecia mais o rosto para ele maltratar [...] (p. 59).


             A mulher fora do espelho rejeita a posição de seu reflexo, na tentativa
de aceitar a vida que estava sobrevivendo. Assim ela responde aos seus desejos da
seguinte forma:


                     Meu marido acha que devo viver, exclusivamente, exaustivamente para ele.
                     Isso me faz muito feliz. Na opinião de meus filhos, toda mãe tem obrigação
24



                       de se dedicar de modo absoluto a quem pôs no mundo. Esta é a razão da
                       minha vida (CUNHA, 2001, p.26).



          Com o diálogo através do espelho, o inconsciente desperta uma
manifestação, e o outro lado, o consciente, abriga uma permanência subentendido.
Dessa forma, o eu personagem, tinha sempre um olhar limitado, observe-a: “[...] O
pai autoritário que eu superamei e ela superodiou [...]” (p.24). Constata-se que a
personagem possui duas personalidades: uma que amava o pai e outra que o
odiava.
          Uma mulher adulta reprimida, diligenciando contra o domínio da imaginação
que afloram sob seus pensamentos, acumulados durante anos. A realidade da
personagem era viver excepcionalmente para servir ao pai, ao marido e aos filhos,
impedida de viver a sua própria vontade. Seus desejos autênticos ficaram reprimidos
na imaginação.
          A personagem é tratada como objeto do marido e dos filhos. Essa atitude faz
de seu interior, uma maneira de questioná-la. Desse modo, expressa as angústias
relevantes a condição de subordinação em que vive:


                       Você não pode continuar a alimentar esta atitude absurda. É preciso ter
                       consciência dos seus próprios direitos, sobretudo nos dias de hoje, final da
                       década de 70, numa cidade como Salvador. A mulher deve reagir, não se
                       permitir levar pelos caprichos e exorbitâncias da família. Você não pode
                       continuar a viver assim (p.26).



          Aos poucos ela reage como se tudo fosse realmente parte dela. Que existe
uma necessidade de assumir uma atitude. Porém, o eu em frente ao espelho
assume um papel de resistência a um desejo que lhe consumia, mas não fora
crescendo com tanta exatidão: “[...] Por mais que tinha crescido a sua necessidade
de captar, não me alcança [...]” (p.34). Seus instintos de liberdade, de por em cena
os anseios acumulados durante anos, ainda encontra uma linha que promove uma
discussão dentro de um indivíduo: “Não gosto de admitir que todo meu sacrifício
tenha sido estéril” (p. 95).
          Assim, a narrativa enfatiza um diálogo com seu alter-ego. A protagonista
questiona quem ela é e o que quer. “[...] não quero me influenciar pela mulher que
me escreve. Ela vê a minha vida pelo seu ângulo torto e vesgo [...]” (p. 96). Dividida
entre um sistema de normas tradicionais e seus desejos de emancipação ainda não
25



assumidos, e que só aos poucos ela se redime como necessidade da outra. “[...]
Está na hora de se conceder uma nova modalidade de vida [...]” (CUNHA, 2001, p.
99). Ela aceita que precisa mudar e para isto, precisa da outra:


                       [...] preciso dela e, no fundo, é bom que as coisas apareçam também sob
                       os olhos dela, [...]. De qualquer forma, quer eu queira ou não, essas coisas
                       pertencem a ela também [...]. Meus filhos de repente, são também filhos
                       dela [...] (p. 37).



        A imaginação questiona os modos da mulher que se diz real, impondo
limites à passividade: “[...] Você se mostra tão fraca e impotente [...]” (p.96). E num
instante, seus desejos são de livre arbítrio, de uma mulher independente, que não
tem medo de se expressar, diante de uma sociedade. O que era apenas imaginação
passa a ser uma realidade para a personagem. Assim pode ser notado na seguinte
expressão:


                       Posso gozar do meu ser livre. Que ninguém sabe nem suspeita, supondo
                       que a sujeição é o único gesto endossado. Quando estou só em casa, dou-
                       me o direito de me entregar à proibição. Canto minhas músicas, preferidas,
                       sem zombarias. Sinto-me livre, no gosto e na voz. E danço, invadida de
                       ritmo e balanço [...] (p. 45).



             A mulher angustiada abre espaço para sua imaginação. Os sentimentos
liberais surgem sob o corpo da mulher real, uma mulher ardilosa, que se arrisca nos
desejos, e utiliza de um jogo de sedução para a conquista: “Eu vou virar a mesa. De
agora por diante estou livre de todos e qualquer preconceito [...]” (p. 117). E é o fluxo
do inconsciente e do consciente que promove as concepções do que é real e
imaginário. “[...] Quem conhece meu rosto atrás do meu rosto? Que rosto se
esconde atrás dos espelhos iluminados? Que rosto se perde aquém dos espelhos
apagados? [...]” (p. 107).
        O discurso passa a inverter-se. A mulher real tem atitudes que seu
inconsciente passa agora a considerar anormal: “Você até hoje confunde a
necessidade de ser independente com invenções de fugir de casa e matar alguém
de desgosto [...]” (p. 126). E nesta oportunidade o eu se defende: “Eu me condenei,
eu me acusei, eu me culpei, eu vivi meu fracasso, dobra por dobra, até o
esgotamento final. Por isso estou poliedricamente livre [...]” (p. 126). A personagem
26



necessita da constatação de fragmentar-se para liberar seus sentimentos, que
arrastam por discursos múltiplos de se mesma. Uma crise de identidade que gera
diálogos e perturbações de um único ser. Seus sentimentos misturam-se,
contorcendo a dor, o sofrimento, a solidão, e o desejo de liberdade. Absolutamente
sensações refletidas pelo espelho.
       Giddens (2002, p. 61) afirma que, o indivíduo caracterizado pela falta de
conexão do pensamento e de atitudes padece de psicose, ou seja, “[...] se sente
distante do que o corpo está fazendo ou do que ele está sofrendo. A imagem
especular e o eu podem se tornar efetivamente invertidos em personalidades”.
       Assim, pode-se constatar a condição daquela mulher que sofre de
insanidade. Em frente ao espelho, julga-se, invertendo corpo e sentimentos, ao
modo que se aceita e confronta-se, aniquilando sua própria essência.
       Dessa maneira, a obra abordada traz o espelho como base de
sustentabilidade da formação da consciência do sujeito, mas também a
desconstrução de sua identidade. A personagem passa a ter atitudes diferentes e
afobações que abrangem o diálogo do inconsciente com o consciente, ou
simplesmente, na perspectiva de questionar atitudes e negar a si mesma. O discurso
se prolonga por toda a narrativa. As vozes da se intercalam, ora a sua imaginação,
ora sua própria realidade física. Assim, vai contradizendo os desejos do inconsciente
com sua consciência.




2.2 Imagens duplicadas e múltiplas identidades



      Diante de uma figura atormentada, que se encarrega em conflitar seus
sentimentos e suas ações, pode-se designar um sujeito duplo. Para Bravo (1998, p.
263) “um conflito psíquico cria o duplo, projeção da desordem íntima [...]”. Assim
encontra-se explícito, um sujeito dividido em um mundo capaz de apontar o que está
no inconsciente e o que está conscientemente.
      O indivíduo libera os anseios inconscientes para dialogar com sua realidade
física, criando a ideia de duplo. Ainda segundo autor, o ser duplo são pessoas que
“[...] se vêem a si mesmas [...]”, aquela que possui em si mesma o outro,
caminhando ao seu lado (BRAVO, 1998, p. 261; 262).
27



      Com base no estudo de Kappler (1972 apud BRAVO, 1998, p. 263), o duplo
significa que o sujeito é “[...] ao mesmo tempo idêntico ao original e diferente - até
mesmo o oposto - [...]”. Assim, o indivíduo apresenta-se confuso com mais de uma
identidade, trazendo o imaginário para o real.
      O mesmo ocorre em Mulher no Espelho. A personagem se desdobra com
diferentes personalidades. O duplo é uma ilusão do próprio sujeito, uma loucura que
consome e faz alucinar-se dentro de um mundo onde seus desejos são
manifestados. A busca da identidade profunda faz com que essa mulher tome
consciência de seu íntimo, através da sua duplicidade, sendo a forma pela qual o
indivíduo pode se encontrar literalmente ou fracassar.
        A personagem não se reconhece ao espelhar-se. Uma imagem que tenta
dilacerar a inquietude da real, na tentativa de sustentar uma tomada de consciência
da sua própria identidade: “Os ratos só existem na sua imaginação [...]” (CUNHA,
2001, p. 21). Então a mulher dentro do espelho significava a mulher liberal: “[...] A
mulher que me escreve se julga sem preconceitos nem barreiras, dona e senhora de
suas guerras [...]” (p.44). Que tenta ressurgir na mulher passiva, que aceitava as
imposições a ela, e não reivindicava o seu desejo, não abria espaço para sustentar o
que estava por dentro.
          Portanto, o eu personagem, abre espaço para seu inconsciente, o que
realmente deseja, os sentimentos liberais surgem sob o corpo da real, uma mulher
ardilosa, que se arrisca nos desejos, e utiliza de um jogo de sedução para a
conquista.


                       Nua diante dos espelhos [...] Para que meu corpo se encontre inteiro com
                       meu corpo, viro a cabeça de lado e me coloco ao espelho [...] Uma
                       sensação boa de liberdade percorre as minhas imagens [...] (p. 114).



             Há um conflito na narrativa proporcionado pelo íntimo da personagem
narradora, e, sem dúvidas, o trágico destino explora uma densidade do próprio
inconsciente. Há também uma fragmentação na personalidade da protagonista
gerada pela rejeição e ódio de uma vida conturbada onde se depara com os desejos
do inconsciente, deixando-a dilacerada.
         Para Bravo (1998), o sujeito ficcional aparece em linhas literárias formulado
nas ideias da dualidade da consciência, o que permite as múltiplas identidades de
28



uma única personagem. E essa duplicidade, deixa suceder a confusão na
construção da personalidade do indivíduo, conflitando os elementos reais e
imaginários, relativamente, a consciência e o inconsciente.
            Essa crise existencial também pode ser discorrida em outras obras como
o conto O Espelho, de Machado de Assis, a poesia Retrato, de Cecília Meireles e a
tela Mulher no espelho de Pablo Picasso. O Espelho de Machado (1994) retrata a
história de um homem também com quarenta e seis anos de nome Jacobina, que
conta uma passagem de sua vida a quatro amigos. Uma história que despertou a
construção de duas almas de uma única personagem. Tudo aconteceu a partir do
momento em que fora nomeado alferes de Guarda Nacional, criticado por algumas
pessoas, porém elogiado por muitos, desde amigos e parentes, chamando-o de
Senhor Alferes. Em certo dia visitou a senhora sua tia, Marcolina, que o contemplava
dignamente. Com alguns dias, ela precisou ir ao encontro da filha que estava
enferma e o Jacobina, ficou tomando conta do Sítio.
         Nesse período, Jacobina, sentiu-se sozinho e a solidão tomou conta de sua
vida e sua alma. “[...] Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias
formam mais compridos [...]” (ASSIS, 1994, p. 4). E o seu refúgio era o sono, quando
dormia sentia aliviado. Os louvores dirigidos a ele pelos amigos e familiares eram
perpassados pelos sonhos e as angústias tomavam seu corpo no momento em que
acordava. Sua solidão era ver que não tinha ninguém para lhe proclamar: “[...] um
silêncio vasto, enorme, infinito [...]” (p. 5).
         Porém, toda agonia e sofrimentos instigados pela solidão, eram abrandados
pelo objeto que estava em seu quarto, o espelho, acessório decorativo da sala, que
a tia tinha cedido como forma de consagração a um alferes, depositando-o no
quarto. E a todo o momento a personagem se deparava no espelho para resgatar a
sua própria construção identitária. Sua alma exterior (alferes) estava presa ao
espelho, recolhida no momento em que a tia e os escravos saíram do Sítio e deixou-
o sozinho. A solidão rompeu a construção da figura de alferes, que estava
acostumado a ouvir chamá-lo desse título, e quando sozinho sentiu a necessidade
de ser exaltado, e seu eu foi reprimido no espelho.
         Algo fez com que a personagem vestisse a farda de alferes, olhando-se para
o espelho, o que antes era confusa, vaga, incompleta, esfumada sem uma
construção própria, tornou-se clara e natural: “[...] o vidro reproduziu então a figura
integral; nenhuma linha a menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o
29



alferes, que achava, enfim, a alma exterior [...] “(ASSIS, 1994, p.6)”. O espelho
gerou um pensamento que uniformizou sua imagem e amenizou a solidão. Assim
como em Mulher no Espelho sua imagem inicial também era incompleta. Quando
vestiu a farda em frente ao espelho a aflição e o desespero levou-o a uma
identidade integral, que seria pertencer à Guarda Nacional.
       Assim, afirma Tanis (2003) sobre o conto O Espelho:


                     [...] adultos vestidos identidades fardadas, como forma de se defender de
                     conflitos que se sentem incapazes de enfrentar ou, quando a angústia é
                     maior, de um vazio que domina sua existência (p.81).


       Certamente, este sujeito angustiado sente-se incapaz de ter sua
personalidade, e busca ano espelho um sentido de evasão do mundo em que se
encontra. A tristeza conduz-lhe para a reflexibilidade de si mesmo através dos
instintos inacabados, sustentando uma identidade através da sua farda.
       Já na obra Retrato, de Cecília Meireles (2001), a solidão é anunciada, ao
comunicar a alma de um eu lírico desmaterializado que vaga em dimensões
espirituais. O texto é contaminado pelo sentimento da desilusão que leva o eu a
abismar-se entre um mundo através do espelho que retém sua própria realidade.


                                             Retrato

                                 Eu não tinha este rosto de hoje,
                             assim calmo, assim triste, assim magro,
                                  nem estes olhos tão vazios,
                                      nem o lábio amargo.

                               Eu não tinha estas mãos sem força,
                                  tão paradas e frias e mortas;
                                    eu não tinha este coração
                                       que nem se mostra.

                                  Eu não dei por esta mudança,
                                 tão simples, tão certa, tão fácil:
                                 - Em que espelho ficou perdida
                                         a minha face?

                               (Retrato, Viagem, MEIRELES, 2001)




        Assim, o poema Retrato refere-se à velhice, onde o eu lírico compara o
rosto do presente com o rosto do passado, a partir do reconhecimento de tudo que
30



lhe aconteceu. Uma imagem modificada pelo tempo, provocando um sentimento de
perplexidade: “[...] Eu não dei por esta mudança / tão simples, tão certa, tão fácil [...]”
(MEIRELES, 2001, p. 232). O desencanto pela vida, que se deu em um momento,
que estava claro durante anos e não tinha percebido.
        Na primeira estrofe, o eu lírico descreve seu próprio rosto que não mais
reconhece como seu. A ideia se intensifica com a passagem da vida e a nostalgia do
eu, que perpassa-se quando reafirma essa constatação: “eu não tinha este rosto de
hoje,/ assim calmo, assim triste, assim magro,/ nem estes olhos tão vazios,/ nem o
lábio amargo [...]” (p. 232). Essa visão indica a mudança ocorrida no íntimo, na
personalidade e no físico devido aos sofrimentos em que viveu o eu lírico.
        No último verso da última estrofe, há um questionamento com relação a sua
vida diante do espelho: “[...] em que espelho ficou perdida a minha face?”(p. 232),
numa indicação de que o espelho seria o lugar ou o momento de sua vida em que
ficou presa, havendo assim, uma transição, porém, sem o seu pleno conhecimento
desse fato. Sua face ficou imóvel no espelho, mas o tempo passou sem que se
percebesse as mudanças ocorridas.
        Assim, afirma Bittencourt (2010, p.266) sobre a poesia Retrato:


                      [...] a dualidade passado/presente está presente nessa relação simbólica,
                      mostrando as modificações apreendidas pelo indivíduo. No instante em que
                      o homem se depara com um espelho e com um retrato, ele é forçado a
                      refletir sobre a sua condição e sobre os seus anseios. É o encontro dos
                      mundos problemáticos do sujeito: o interior e o exterior.



        Portanto, no momento em que o indivíduo se olha, é obrigado a deparar-se
consigo mesmo, numa condição estabelecida pelo próprio tempo. O eu lírico
descobre seu lado inconsciente através da constatação de que tudo mudou, suas
formas e expressões foram alteradas e só neste momento teve a consciência de que
a crise de identidade foi aceita e internalizada por si próprio.
         Ainda que, numa linguagem pictórica, a tela Moça na frente do espelho, de
Pablo Picasso (1932), exposta no Museu de Arte Moderna em Nova York com 162 x
130 cm, aproxima-se das obras de Helena, de Machado e de Cecília. Suas formas
são capazes de reproduzir o espelhar de um sujeito, aparentemente uma mulher, a
partir do movimento da imagem. Pode-se observar por meio das misturas de cores e
de formas a multiplicidade da construção de um ser através da seguinte tela:
31




                                                                             4




        De tal modo, nota-se que a imagem real, fora do espelho, é construída por
dupla face que se reflete pelo espelhar, simbolizando um sujeito incompleto ou
simplesmente misturado. Picasso (1932) cria uma tela capaz de chocar as pessoas
e mostrar o sujeito além da realidade, fazendo do imaginário instrumento da
originalidade.
        Para Meyer (2002, p. 47) há uma mudança estrutural do corpo externo e do
corpo interno através da “[...] imagem do corpo e esquema do corpo, e que é
constantemente remodelado e distorcido por diversas emoções, instabilidades ou
sofrimento do indivíduo”. Desse modo, a pintura traz mais um corpo contemplado no
espelho como forma de refletir o interior desta mulher.

4
 Moça na frente do espelho (1932), de Pablo Picasso, exposta no Museu de Arte Moderna em Nova
York com 162 x 130 cm.
32



        O espelho traz o que pode-se chamar de verdade, mostrando os traços
marcantes do seu corpo através da imagem deformada e contornada por linhas que
juntam realidade e os seus reflexos. A figura de Picasso demonstra-se triste e
deprimida, refletindo os sentimentos de uma mulher infeliz, o que parece sugerir a
expressão de alguém que tem medo de aceitar quem realmente é.
        Em Mulher no Espelho, de Cunha (2001) a personagem está em constante
confronto com o abismo, em um processo de autoafirmação e descoberta da própria
identidade, através da subserviência da mulher perante a sociedade em que está
inserida. O objeto questionador é sua própria imagem suprimida através de um
espelho, que tenta abrir caminhos para a libertação do seu verdadeiro sentimento
diante da sua condição de vida: “Abro os meus espelhos. Lá dentro, no fundo da
superfície fria, esgueira-se uma imagem [...]” (CUNHA, 2001, p. 113). Mas sua
identidade nunca se concretiza em presença de duas visões que circundam sua
própria existência. Segundo Bravo (1998, p. 282) “a literatura tem a vocação de pôr
em cena o duplo, invalidando o princípio de identidade: o que é uno é também
múltiplo, [...]”. Assim, quando uma está no corpo presente, a outra está refletida no
espelho para culpá-la das consequências de suas ações.
        O fim dramático apodera-se de seu corpo. Não se move deitada no tapete
de pele, ouve seu filho chamar-lhe, e não consegue se levantar: “[...] alguém
tocando a companhia. [...] Meu cansaço me paralisa. Não mexo um músculo [...]”
(CUNHA, 2001, p. 172). E é através dos pedaços de espelhos que consegue ver as
inúmeras imagens produzidas pelo único rosto: “Os espelhos se multiplicam as
imagens até o infinito. Mas o nosso remorso nos une. [...] Meu rosto no espelho é o
dela. Ela sou eu. Eu sou ela. [...]” (p. 174). Dessa forma, necessariamente a
personagem se perde entre o espelhar do seu consciente, o que para Ferreira
(1999, p. 814) “[...] os olhos são o espelho da alma [...]”.
       Em meios ao engendramento dos corpos duplicados, chega-se as mais
diversas possibilidades do eu, que se multiplica em diversos rostos, em várias almas
de um único ser. A imaginação viabiliza as mais distintas particularidades do interior
da personagem. Suas personalidades de submissão, de questionamentos, de
sensualidade, de fracasso, de sua alma, do seu corpo, de suas atitudes, capazes de
experimentar o mundo e seus desejos além de suas limitações. O duplo passa agora
a ser múltiplo. Sua fragmentação perpassa ao desdobramento e chega a mais
inusitada perspectiva: o encontro de si mesma.
33




                    [...] Encontrei o meu rosto no canto do último espelho. Quero guardar intacto
                    este sorriso novo, aberto no sulco da lágrima que houvera. O renascer dos
                    frutos nas sombras mais profundas [...] ( CUNHA, 2001, p. 130).


         A obra de Helena Parente Cunha representa uma história que desperta
vários temas da realidade. O leitor traça uma reflexão dos problemas humanos, ao
projetar o drama do mundo real. Todo conflito é consequência da culpa, das dúvidas
e contradições doutrinadas, em um incontrolável posicionamento do que é certo e do
que não é certo, transformado pelos sentimentos, no interior de cada pessoa.
         Metaforicamente, a literatura promove o conflito do duplo, pois busca uma
representação e uma subjetividade encontradas no real, recriando sentidos e
apoderando-se das palavras que manipula através da escrita para dar vida a ficção.
Deste modo, Mulher no Espelho transmite a construção de uma figura complexa e
variável, de uma mulher sensível, expressando seus vários mundos, formas e
tempos a partir de seu reencontro, visando enriquecer a sua verdadeira identidade,
formada por muitos conceitos que se confrontam, se ajustam, se movem e se unem.
34




                            CONSIDERAÇÕES FINAIS



       Partindo-se do princípio da investigação deste trabalho, pode-se constatar
que o espelho é aqui um elemento de observação e construção dos reflexos
humanos e ficcionais.
       Através dele o sujeito busca a sua própria imagem como forma de
construção psíquica. Assim é na literatura. O espelho como elemento coadjuvante
na narrativa, revela o que as personagens buscam para refletir seus sentimentos.
Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha (2001), traz estas características a
partir do drama da personagem em frente ao espelho, no espaço mais escuro da
sua própria casa. E a partir dele, sua personalidade torna-se móvel oscilando entre
seu corpo real e tudo aquilo que ficou acumulado durante anos. Seus sonhos
reprimidos, suas desilusões e suas dores, ficaram boa parte da vida dentro do
espelho questionando-a e na tentativa de tomar posse de seu corpo, passando a
assumi-lo através da desconstrução mental, em que a imaginação assume lugar por
meio de alucinações da própria personagem.
       De acordo com as ideias de Giddens (2002, p. 70), pode-se perguntar “O
que fazer? Como fazer? Quem ser?” em circunstâncias das questões existenciais
em que determinados indivíduos se encontram.
       Portanto,


                    Possivelmente você está inquieto. Ou pode se sentir assoberbado pelas
                    demandas da mulher, filhos, marido, ou do trabalho. Pode se sentir pouco
                    apreciado pelas pessoas mais próximas. Talvez sinta raiva de que a vida
                    está passando e você não conseguiu realizar as grandes coisas que
                    pretendia. Parece que falta algo em sua vida [...] (RAINWATER, 1989, p.9
                    apud GIDDENS, 2002, p. 70).


       O reflexo do eu se torna uma possível investigação da alma e os
comportamentos expostos pelo sujeito. A mulher atormentada da obra de criação
constitui uma significância negada pela solidão em que viveu durante anos. A
fragilidade limita a existência de uma pessoa confiante e determinada, constituindo
assim um eu sem identidade.
35



        A partir do momento em que o espelho se estilhaça ao chão, aquela mulher
atormentada, toma consciência de seu único rosto, formado através das múltiplas
imagens refletidas pelos espelhos quebrados, constatando finalmente que o sujeito é
constituído por muitos eus de várias personalidades. Pois é neste momento que
acontece a união dos conteúdos inconscientes e conscientes, auxiliando o indivíduo
a entender uma identidade marcada pela fragmentação.
           Assim como nas obras de Machado de Assis, Cecília Meireles e Pablo
Picasso, o espelho também é o instrumento pelo qual o sujeito pode ver o seu
próprio reflexo e questioná-lo na tentativa de entender seu próprio ser. Há uma
interiorização que os multiplicam em diversos rostos, expressões e sentimentos. O
espelho é o espaço onde os indivíduos mesclam a consciência e a imaginação no
intuito de refletir e desconstruir a ideia de unidade do sujeito, tornando-o múltiplo e
variado.
           Enfim, os sujeitos procuram através do espelhar, o sentido da vida e a
reflexão de sua existência, onde tudo se confunde e ao mesmo tempo fica claro.
REFERÊNCIAS



ASSIS, Machado de. O espelho. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar
1994. v.2. <Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acessado em
10/07/2010.


BIBLÍA SAGRADA. Tradução de L. Garmus [et al]. Petrópolis: Vozes, 1986.


BITTENCOURT, Amanda Rosa de. Uma análise psicológica do duplo em Cecília
Meireles. In: Revista Historiador. n 03. Ano 03. Dezembro de 2010. <Disponível em:
http://www.historialivre.com/revistahistoriador>. Acessado em 04/03/2012.


BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 1985.


BRAVO, Nicole Fernandez. O duplo. In: BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos
literários. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.


COELHO, Nelly Novaes. O desafio ao cânone: consciência histórica versus discurso-
em-crise. In: CUNHA, Helena Parente (Org.). Desafinado o cânone: aspectos da
literatura de autoria feminina na prosa e na poesia (anos 70/80). Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1999.


COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: relações e perspectivas conclusões. 7.
ed. São Paulo: Global. 2004, v. 6.


CUNHA, Helena Parente. Mulher no espelho. 8. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasil,
2001.


DIJCK, Sônia Van. Calidoscópio e hipertexto. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2004. <Disponível em: http://www.soniavandijck.com/espelhos.htm>. Acessado em
01/07/2011.



DOR, Joel. Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como
linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
DORON, Roland e PAROT, Françoise. Dicionário de psicologia. São Paulo: Ática,
2001.


ELLIOTT, Anthony. Teoria psicanalítica - introdução. São Paulo: Loyola, 1996.
<Disponível em: www.books.google.com.br.> Acessado em 10/07/2010.


FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da
língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.


FREUD, Sigmund. (1856-1939) Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud: ego e o id. Tradução de José Octavio
de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1997.


GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7. ed. São Paulo: Ática,
2002.


GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio
de janeiro:Jorge Zahar, 2002.


HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2005.


JUNG. Carl G. A dinâmica do inconsciente.Tradução de Pe. Dom Mateus
Ramalho Rocha. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.


MEIRELES, Cecília. Retrato. In: SECCHIN, Antônio Carlos (Org.). Poesia completa.
V. I. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.


PICASSO, Pablo. Mulher no espelho. In: VENEZIA, Mike. Pablo Picasso. São
Paulo: Moderna, 1996. Coleção Mestre das Artes.


ROCHA-COUTINHO, Maria Lucia. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira
nas relações sociais. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.


ROCHA, Zeferino. Freud: novas aproximações. Recife: Universitária da UFPE,
2008.< Disponível em: http://books.google.com.br/. > Acessado em 01/07/2011.
SALES, Léa Silveira. Posição do estágio do espelho na teoria lacaniana do
imaginário. Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 17 - nº 1, p. 113-127,
Jan./Jun. 2005.< Disponível em: www.scielo.br/pdf/rdpsi/v17n1/v17n1a09.pdf. >
Acessado em 11/07/2010.


SILVA, Roberto José da. Espelho: olhar introspectivo em algumas narrativas
femininas. Coloquium Humanarum, v.4. 2007. <Disponível em: revistas.unoeste.br.>
Acessado em 12/05/2011.

SHAPIRO, Meyer. A unidade da arte de Picasso. Tradução de Ana Luiza Dantas
Borges.     São     Paulo:   Cosac     &    Naife,  2002.  <Disponível em:
http://books.google.com.br/books>. Acessado em 02/03/2012.



TALLAFERRO, Alberto. Curso básico de psicanálise. 2. Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

TANIS, Bernardo. Circuitos da Solidão: entre a clínica e a cultura. São Paulo: Casa
do Psicólogo: FAPESP, 2003. <Disponível em: http://books.google.com.br.>
Acessado em 23/02/2012.


XAVIER, Elóidia. Declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de
Janeiro: Record: Rosas dos tempos, 1998.


ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica - uma
abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Jogos de-lingua-portuguesa
Jogos de-lingua-portuguesaJogos de-lingua-portuguesa
Jogos de-lingua-portuguesaJorge Luciano
 
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdf
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdfFICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdf
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdfNatália Moura
 
Conceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaConceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaLudmiilaa
 
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...Carlos Fabiano de Souza
 
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURA
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURAAULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURA
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURAMarcelo Cordeiro Souza
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poemaionasilva
 
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4GernciadeProduodeMat
 
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC (EM13LGG101)
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC  (EM13LGG101) LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC  (EM13LGG101)
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC (EM13LGG101) GoisBemnoEnem
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeAdriana Masson
 
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Literaturas Africanas de Língua PortuguesaLiteraturas Africanas de Língua Portuguesa
Literaturas Africanas de Língua PortuguesaJirede Abisai
 
Apresentação Adverbios
Apresentação AdverbiosApresentação Adverbios
Apresentação AdverbiosLeisiane Jesus
 
Tudo sobre POEMAS
Tudo sobre POEMASTudo sobre POEMAS
Tudo sobre POEMASJaicinha
 
Oficina de descritores português 9º ano
Oficina de descritores português 9º anoOficina de descritores português 9º ano
Oficina de descritores português 9º anoClaudiaAdrianaSouzaS
 

Mais procurados (20)

Jogos de-lingua-portuguesa
Jogos de-lingua-portuguesaJogos de-lingua-portuguesa
Jogos de-lingua-portuguesa
 
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdf
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdfFICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdf
FICHA - TIPOLOGIAS TEXTUAIS - Gabarito.pdf
 
Conceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaConceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poetica
 
Aula intertextualidade
Aula intertextualidadeAula intertextualidade
Aula intertextualidade
 
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação...
 
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURA
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURAAULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURA
AULA 01 - TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO - ESTRUTURA
 
Aula arcadismo
Aula arcadismoAula arcadismo
Aula arcadismo
 
Poesia concreta
Poesia concretaPoesia concreta
Poesia concreta
 
Mário de andrade
Mário de andradeMário de andrade
Mário de andrade
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poema
 
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4
LÍNGUA PORTUGUESA | 3ª SÉRIE | HABILIDADE DA BNCC - (EM13LP04) D4
 
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC (EM13LGG101)
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC  (EM13LGG101) LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC  (EM13LGG101)
LÍNGUA PORTUGUESA | 1ª SÉRIE | HABILIDADE BNCC (EM13LGG101)
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Literaturas Africanas de Língua PortuguesaLiteraturas Africanas de Língua Portuguesa
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
 
Apresentação Adverbios
Apresentação AdverbiosApresentação Adverbios
Apresentação Adverbios
 
Tudo sobre POEMAS
Tudo sobre POEMASTudo sobre POEMAS
Tudo sobre POEMAS
 
SLIDES – PARÓDIA.
SLIDES – PARÓDIA.SLIDES – PARÓDIA.
SLIDES – PARÓDIA.
 
Oficina de descritores português 9º ano
Oficina de descritores português 9º anoOficina de descritores português 9º ano
Oficina de descritores português 9º ano
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 

Destaque

A prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarA prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarUNEB
 
Canção cecilia meireles
Canção   cecilia meirelesCanção   cecilia meireles
Canção cecilia meireleszizimorais
 
Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica
Arca de noé no romance cacau um leitura metafóricaArca de noé no romance cacau um leitura metafórica
Arca de noé no romance cacau um leitura metafóricaUNEB
 
Auto Retrato - Espelho e as Coisas
Auto Retrato - Espelho e as CoisasAuto Retrato - Espelho e as Coisas
Auto Retrato - Espelho e as CoisasSonteria Songs
 
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...UNEB
 
A poesia de cecília meireles
A poesia de cecília meirelesA poesia de cecília meireles
A poesia de cecília meirelesma.no.el.ne.ves
 
Cecília meireles
Cecília meirelesCecília meireles
Cecília meirelesluahuff
 
Análise do poema cecília meireles
Análise do poema  cecília meirelesAnálise do poema  cecília meireles
Análise do poema cecília meirelesPaula Angelo
 
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -Corrigido planejando as visitas às salas de aula -
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -Eunice Mendes de Oliveira
 
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e a neve c
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e  a neve   cAtividade 3 5_eunice slides a formiga e  a neve   c
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e a neve cEunice Mendes de Oliveira
 
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2Eunice Mendes de Oliveira
 
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aula
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aulaPNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aula
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aulaElieneDias
 

Destaque (20)

A prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarA prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovar
 
Canção cecilia meireles
Canção   cecilia meirelesCanção   cecilia meireles
Canção cecilia meireles
 
Espelhos
EspelhosEspelhos
Espelhos
 
Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica
Arca de noé no romance cacau um leitura metafóricaArca de noé no romance cacau um leitura metafórica
Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica
 
Auto Retrato - Espelho e as Coisas
Auto Retrato - Espelho e as CoisasAuto Retrato - Espelho e as Coisas
Auto Retrato - Espelho e as Coisas
 
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
 
A poesia de cecília meireles
A poesia de cecília meirelesA poesia de cecília meireles
A poesia de cecília meireles
 
Cecília meireles
Cecília meirelesCecília meireles
Cecília meireles
 
Análise do poema cecília meireles
Análise do poema  cecília meirelesAnálise do poema  cecília meireles
Análise do poema cecília meireles
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -Corrigido planejando as visitas às salas de aula -
Corrigido planejando as visitas às salas de aula -
 
Dona Licinha conto1
Dona Licinha    conto1Dona Licinha    conto1
Dona Licinha conto1
 
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e a neve c
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e  a neve   cAtividade 3 5_eunice slides a formiga e  a neve   c
Atividade 3 5_eunice slides a formiga e a neve c
 
Falarcomdeu sco
Falarcomdeu scoFalarcomdeu sco
Falarcomdeu sco
 
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2
DIA D 2014 - A COMUNIDADE ESCOLAR - O dia d e o pip 2
 
Mensagem dia dos pais
Mensagem dia dos paisMensagem dia dos pais
Mensagem dia dos pais
 
Eunice
EuniceEunice
Eunice
 
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aula
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aulaPNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aula
PNAIC - Refletindo sobre a ortografia na sala de aula
 
Devocional diario (1)
Devocional diario (1)Devocional diario (1)
Devocional diario (1)
 
Mensagem ao professor
Mensagem ao professorMensagem ao professor
Mensagem ao professor
 

Semelhante a O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha

Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENILCRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENILprof.aldemir2010
 
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENILCRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENILprof.aldemir2010
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilprof.aldemir2010
 
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...UNEB
 
Aula 5 adolescência e alteridade
Aula 5   adolescência e alteridadeAula 5   adolescência e alteridade
Aula 5 adolescência e alteridadeariadnemonitoria
 
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010Smar Brasil
 
Clínica da adolescencia
Clínica da adolescenciaClínica da adolescencia
Clínica da adolescenciaDaniela Marques
 
Quando a depressao_ataca
Quando a depressao_atacaQuando a depressao_ataca
Quando a depressao_atacaGLAUCIA CASTRO
 
Monografia fernanda paixao
Monografia fernanda paixaoMonografia fernanda paixao
Monografia fernanda paixaoAcervo Vis
 
Livro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimLivro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimboinadalvi
 
Ed 2. chispas literarias
Ed 2.   chispas literariasEd 2.   chispas literarias
Ed 2. chispas literariasDouglasAbreu4
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem soudanibateras
 
Sou surda e não sabia
Sou surda e não sabiaSou surda e não sabia
Sou surda e não sabiaMarco971
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretratogernacor
 

Semelhante a O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha (20)

Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENILCRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO JUVENIL
 
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENILCRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENIL
CRIATIVIDADE COM LITERATURA INFANTO-JUVENIL
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
Criatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenilCriatividade com literatura infanto juvenil
Criatividade com literatura infanto juvenil
 
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...
Iracema, rita baiana e flor diálogos e metáforas de nação em iracema, de josé...
 
Aula 5 adolescência e alteridade
Aula 5   adolescência e alteridadeAula 5   adolescência e alteridade
Aula 5 adolescência e alteridade
 
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010
A Arte de Ler (Vanderlei Miranda) - Cidadão do Futuro 2010
 
Clínica da adolescencia
Clínica da adolescenciaClínica da adolescencia
Clínica da adolescencia
 
Quando a depressao_ataca
Quando a depressao_atacaQuando a depressao_ataca
Quando a depressao_ataca
 
Monografia fernanda paixao
Monografia fernanda paixaoMonografia fernanda paixao
Monografia fernanda paixao
 
Livro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimLivro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmim
 
Ed 2. chispas literarias
Ed 2.   chispas literariasEd 2.   chispas literarias
Ed 2. chispas literarias
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
 
Sou surda e não sabia
Sou surda e não sabiaSou surda e não sabia
Sou surda e não sabia
 
Acre 012 Ouro Preto - MG
Acre 012 Ouro Preto - MGAcre 012 Ouro Preto - MG
Acre 012 Ouro Preto - MG
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretrato
 

Mais de UNEB

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraUNEB
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneUNEB
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesUNEB
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraUNEB
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoUNEB
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaUNEB
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraUNEB
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazUNEB
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraUNEB
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraUNEB
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraUNEB
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraUNEB
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaUNEB
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosUNEB
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosUNEB
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAUNEB
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...UNEB
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e ModerniddeUNEB
 

Mais de UNEB (20)

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges Alves
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima Oliveira
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana Miranda
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde
 

O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV COLEGIADO DE LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS – LICENCIATURA SANDRA KELLY SOUZA SANTOS OS REFLEXOS DO EU EM MULHER NO ESPELHO DE HELENA PARENTE CUNHA Conceição do Coité 2012
  • 2. SANDRA KELLY SOUZA SANTOS OS REFLEXOS DO EU EM MULHER NO ESPELHO DE HELENA PARENTE CUNHA Monografia apresentada ao Departamento de Educação, Campus XIV, Curso de Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas - Licenciatura, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), como instrumento da avaliação final do Componente Curricular Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do grau de licenciada. Orientadora: Profa. Dra. Itana Nogueira. Conceição do Coité 2012
  • 3. A mente é tudo A mente é a força mestra que modela e faz E o homem é mente, e cada vez mais empunha O instrumento do pensamento e, afeiçoando o que quer, Produz mil alegrias, mil males _ Reflete em segredo e o que ele pensa acontece: O ambiente nada mais é do que o seu espelho. Anônimo Espelho Queria não ter tanto pra escrever, ser sempre leve. Mas tudo pra mim é vidro... Vejo tudo através dele, Não apenas o que está ao alcance, Mas o que nele está contido. É quase um dom, mas às vezes não, Às vezes é só delírio. Pois a imagem, quando atravessa, Nem sempre permanece o que era. Quase sempre quem vê ao espelho, Vê ao inverso, ou do avesso. Às vezes o avesso é o que mais se aproxima da realidade. Mas, na maioria das vezes, o avesso, é só o avesso. Nada tem de verdade. Súlzer Larissa Germano
  • 4. Dedico este trabalho primeiramente a minha família, por sempre estar presente nos momentos difíceis, dando-me força para vencer as batalhas que a vida oferece e nos momentos alegres, principalmente a minha mãe, Iracema Carneiro que é um exemplo de vida. Dedico também aos professores da faculdade principalmente a Itana Nogueira e os professores das escolas onde estudei, pois contribuíram com seus méritos de forma complacente no que sou hoje.
  • 5. AGRADECIMENTOS A DEUS pela acolhida nas horas em que mais preciso, pela benção de nascer, conhecer e viver com pessoas especiais. Pelas alegrias, pela força e coragem de vencer os obstáculos e nunca desistir dos sonhos. Agradeço-o por oportunizar diversas portas que se abrem na vida, que trazem um crescimento profissional e principalmente pessoal. A MINHA FAMÍLIA pelo apoio nas horas em que mais preciso: pais, primos, tios, avós, especialmente a minha mãe, IRACEMA CARNEIRO DOS SANTOS, pessoa mais importante que Deus colocou em minha vida. Obrigada mãe por me fazer existir, permanecendo carregada pela força que vem de você. Como também, minha avó, MARIA SOUZA SANTOS e minha tia IRACY CARNEIRO DOS SANTOS MIRANDA. A Orientadora Prof.ª Dr.ª ITANA NOGUEIRA NUNES, por sempre estar apoiando e incentivando a construir. Uma pessoa coadjuvante, que compartilha seus saberes e mostra que “nada se perde”. Obrigada por oportunizar o espaço de expor opiniões e sentimentos. Como também aos professores DEIJAIR FERREIRA e SAYONARA AMARAL pelas orientações de grande valia. Aos colegas de classe, principalmente, MÔNICA DE OLIVEIRA SOUZA, ROSANA CRISTINA LIMA DA SILVA E ELIANE LIMA DOS SANTOS. Obrigada por compartilhar momentos difíceis e momentos alegres. Nossos momentos divertidos ficarão para sempre. Momentos de risos deixarão saudade, porém a amizade será eterna. Às pessoas que de certa forma deixaram suas marcas, direta ou indiretamente. Às pessoas que conheci através da graduação, aos colegas de trabalho, aos parceiros do PIBID. Enfim, agradeço a todos, que de fato contribuíram na construção da pessoa que sou hoje.
  • 6. RESUMO O presente trabalho analisa os reflexos do eu na obra Mulher no Espelho, da escritora Helena Parente Cunha, investigando a (des)construção da imagem feminina e seus conflitos identitários através dos espelhos. A obra é escrita em primeira pessoa, possibilitando a narradora construir um diálogo entre dois mundos, no qual a personagem apodera-se do inconsciente para liberar seus desejos e acaba constituída por múltiplas identidades refletidas no espelho. Para desenvolver o trabalho, utiliza-se a pesquisa bibliográfica embasando-se em Anthony Giddens (2002), David Zimerman (1999), Joel Dor (1989), Carl Jung (1995), Anthony Elliott (1996), Afrânio Coutinho (2004), Nelly Coelho (1999), Nicole Bravo (1998), Beth Brait (1985) e outros que, em suas obras retratam a literatura contemporânea, o espelho, o consciente e inconsciente, além da análise de romance. A partir dessa abordagem, foi possível constatar o jogo de manipulação utilizada no discurso da narrativa dentro do mundo fictício, proporcionando a revelação das múltiplas identidades da mulher através do espelho. Palavras- chaves: Literatura. Espelho. Mulher.
  • 7. ABSTRACT This paper analyzes the reflections of the work The Woman in the Mirror, the writer Helena Parente Cunha, whose objective is to investigate the (de) construction of the female image and his identity conflicts through the mirrors. The work is written in first person, allowing the narrator to build a dialogue between two worlds, in which the character takes hold of the unconscious to release their desires and ends consisting of multiple identities reflected in the mirror. To develop the work, we use the literature basing on Anthony Giddens (2002), David Zimerman (1999), Joel Dor (1989), Carl Jung (1995), Anthony Elliott (1996), Afranio Coutinho (2004), Nelly Coelho (1999), Nicole Bravo (1998), Beth Brait (1985) and others who, in his works portray contemporary literature, the mirror, the conscious and unconscious, beyond the analysis of the novel. From this approach, we could see the game of manipulation used in the discourse of narrative within the fictional world, providing the revelation of the multiple identities of women through the mirror. Keywords: Literature. Mirror. Women.
  • 8. SUMÁRIO INTRODUÇÃO -----------------------------------------------------------------------------------------08 1 O ESPELHO DA MULHER ----------------------------------------------------------------------10 1.1 O jogo dos espelhos -----------------------------------------------------------------------------10 1.2 O limite entre o consciente e o inconsciente ----------------------------------------------15 1.3 Autoria feminina ----------------------------------------------------------------------------------19 2 O CONFLITO DA PERSONAGEM NO ROMANCE MULHER NO ESPELHO DE HELENA PARENTE CUNHA --------------------------------------------------------------------22 2.1 Diálogos no espelho -----------------------------------------------------------------------------22 2.2 Imagens duplicadas e múltiplas identidades ----------------------------------------------26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------------------34 REFERÊNCIAS
  • 9. 8 INTRODUÇÃO A Literatura Contemporânea possui um vasto grau de heterogeneidade, caracterizada por mostrar uma diversidade de temáticas e estilos, a partir dos conhecimentos estéticos de períodos passados e a continuidade através do caráter renovador, ao fazer do velho um espaço de apoio para os novos talentos. É por meio da cultura literária contemporânea que se destacam as relevantes crises do eu feminino na obra Mulher no Espelho, da escritora baiana Helena Parente Cunha, cuja narrativa traça a desconstrução da imagem feminina e seus conflitos identitários através dos espelhos. A personagem apodera-se do inconsciente para liberar seus desejos e acaba constituída por múltiplas identidades que se refletem no espelho, utilizado na tentativa de autoanálise e liberdade interior. Este comportamento é indagado a partir de estudos da psicanálise, para discutir as introspecções dos indivíduos. A dupla personalidade da mulher é movida pelos devaneios de uma família tradicional, submissa ao pai, ao marido e aos filhos. O seu inconsciente luta por seus sonhos reprimidos e por sua liberdade, uma imagem que se apresenta através de um espelho e questiona a atitude da personagem real. O desígnio é investigar o conflito e a fragmentação do sujeito contemporâneo, representado pela duplicidade da personagem através de seu reflexo no espelho. Para tanto, utiliza-se o princípio da argumentação como método básico para justificar as discussões aqui propostas. A pesquisa utilizada é a bibliográfica, que permite uma revisão alicerçada em fundamentações teóricas que apresentam discussões sobre identidades relacionadas à figura da mulher na contemporaneidade. Nessa perspectiva, algumas hipóteses podem ser levantadas sobre a discussão pautada na figura feminina: o espelho pode ser o limite entre o consciente e o inconsciente da personagem; pode ser também a única saída para a personagem se debruçar e questionar-se buscando o reflexo como conforto. Para o desenvolvimento do trabalho retoma-se as ideias de alguns investigadores que dialogam com a temática em questão. Deste modo, encontram- se aqui citações de autores como: Anthony Giddens (2002), Joel Dor (1989), Anthony Elliott (1996), Carl Gustav Jung (1998), David E. Zimerman (1999), Alberto
  • 10. 9 Tallaferro (2001), Zeferino Rocha (2008), Afrânio Coutinho (2004), Nelly Novaes Coelho (1999), Nicole Fernandez Bravo (1998), Beth Brait (1985), entre outros com a finalidade de empreender as teorias que baseiam os estudos literários. Além do texto principal, o romance Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, tem-se também como base de sustentação para o objeto desse estudo, o conto O Espelho, de Machado de Assis, a poesia Retrato, de Cecília Meireles e a tela Moça na frente do espelho, de Pablo Picasso. A monografia está estruturada em dois capítulos. No primeiro, há uma explanação teórica sobre o termo espelho. Além de, uma investigação psicanalítica preliminar, discutindo a formação e desconstrução identitária do indivíduo através do espelho, que necessariamente estão pautadas na literatura contemporânea. O segundo capítulo trata da análise da obra Mulher no Espelho. Os desfechos serão apontados e justificados a partir das obras de criação, que seguem dialogando com o objeto espelho no qual as personagens se buscam, refletindo seus inconscientes.
  • 11. 10 1 O ESPELHO DA MULHER A obra de Helena Parente Cunha, Mulher no Espelho, é o retrato de uma personagem feminina, cuja identidade fragmentada pelas suas tentativas frustradas de buscar a sua verdadeira personalidade, aparece em todo o corpo do romance como uma figura atormentada a procura de respostas. O seu descontentamento e insatisfação que estão refletidos nas suas ações e pensamentos são as bases nas quais a autora empreende a sua discussão sobre o eu feminino para abordar temas como: as múltiplas identidades; os limites entre o consciente e o inconsciente; a realidade e a imaginação e finalmente os reflexos obtidos como tais respostas através do espelho. É nos textos literários que o espelho atua com maior intensidade nos desenlaces das histórias das personagens que se autorefletem, na tentativa de expor seus desejos e de refletirem sobre suas próprias vidas. 1.1 O jogo dos espelhos Segundo Zimerman (1999) o espelho é um elemento que está constantemente vinculado a áreas como a mitologia, a ciência, a religião e a literatura. Tem sido considerado ao longo dos tempos como objeto causador de tristezas, sofrimentos, mortes, mas também de alegrias, luzes, e outros símbolos positivos, além de ser a chave do reconhecimento ou das fragmentações de um eu, a depender da crença de cada indivíduo. Desde muito tempo, o espelho é utilizado como objeto do reflexo. Antes mesmo da utilização do vidro como espelho, a humanidade primitiva usava das águas paradas como forma de refletir suas próprias imagens e constituir crendices relacionadas ao espelhar do corpo e da alma. As crendices populares estenderam-se até os dias atuais, e muitas pessoas acreditam que o espelho pode ser um objeto que desperte o mal e o demônio.
  • 12. 11 Segundo Zimerman (1999, p. 185), são crendices populares: “[...] ‘criança que se olha no espelho custa a falar’; ‘espelho quebrado é sinal de morte’; olhar-se no espelho a noite é perigoso: pode-se ver o diabo’ [...]”. O espelho tem a função de refletir imagens através do olhar, e toda essa construção é fruto da imaginação e de todos estes preconceitos estabelecidos. Para Ferreira (1999, p. 814) “[...] os olhos são o espelho da alma [...]”. É através do olhar que se visualiza a alma de um ser, seus pensamentos e suas ações. Também nas referências bíblicas, tem-se o olhar como possível causador imparcial da destruição do sujeito, que, pela curiosidade e pela desobediência, pode provocar um fim trágico. A história bíblica da esposa de Ló é um dos clássicos exemplos, pois ela voltou-se para ver a destruição de Sodoma e Gomorra, onde deixou suas jóias preciosas. Dessa maneira, verifica-se no evangélico de Lucas (17:31-2) das escrituras sagradas: “Quem estiver no terraço e os bens dentro de casa, não desça para apanhá-los. Também quem estiver no campo, não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Ló”. O olhar, nesse caso, é considerado pela religião como pecado. É a história da mulher que foi castigada pela sua desobediência, tornando-se uma estátua de sal. Entretanto, o espelho é também o simbolizador da iluminação, da reflexão solar, da sabedoria e do reconhecimento. Uma forma de expressão mais forte de um ser, pois ele remete a claridade, a luz que ilumina a face de um indivíduo. É através do espelho que as pessoas podem notar suas formas corporais e adentrar através do próprio olhar na reflexão de seus pensamentos e atitudes. Nesse sentido Dijck (2004), afirma que: [...] a palavra ‘espelho’ (speculum= especulação) nomeia um dos artefatos mais antigos [...] tanto remete à observação dos corpos estelares, como lembra a verdade, a sinceridade, a pureza, o conteúdo do coração e da 1 consciência [...] (Não paginado). 1 A citação foi extraída do texto Calidoscópio e Hipertexto de Sonia van Dijck (2004), porém, não se encontra paginado. Disponível em: <http://www.soniavandijck.com/espelhos.htm>.
  • 13. 12 O espelho leva o sujeito a observar os componentes do seu interior e do mundo em que está inserido. Trazendo com os seus vários significados, desde as reações mais angustiantes às mais fantásticas, transmitindo assim os sentimentos de cada indivíduo. A imagem do sujeito é capturada constantemente pelo espelho no momento em que ele se posiciona na frente do objeto. Essa reflexão se desdobra em uma dimensão que se pode constatar a imaginação de diversos rostos de um eu2. As imagens especuladas são frutos da percepção do próprio indivíduo, quando sua unidade corporal está em outra dimensão, causando-lhe um estranhamento e vários questionamentos sobre as imagens projetadas diante do espelho. Segundo Sales (2005), em função disso, há uma necessidade de representação do outro, ou seja, o indivíduo vê sua imagem formada através da imagem que tem de outros sujeitos. Assim, o autor (2005) estuda a formulação lacaniana se referido ao que ele chama “estágio do espelho”. Segundo ele, Lacan usou experimentos comparativos entre o mundo consciente e inconsciente através do espelhar. Daí parte-se do exemplo de uma criança que se encontra hesitando entre a realidade e o espaço, ou seja, entre as imaginações (inconsciente) e uma realidade física (consciente): “[...] o contato com o espelho é uma experiência provocada pelo psicológico cujo objetivo é investigar o modo como a criança atinge uma relação adulta normal com a realidade [...]” (SALES, 2005, p. 118). O indivíduo ao nascer está sempre em contato com imagens, que se refletem e constroem a sua própria imagem. No momento em que a criança está sendo amamentada, ela busca intensamente olhar para o rosto de sua mãe, para assim estabelecer uma relação de sentido com o seu mundo. Quando a mãe devolve esse olhar, a criança sente-se amada e acolhida e sua reação é ter a mãe como próprio espelho. Segundo Joel Dor (1989, p. 81) “[...] a criança se mantém junto à mãe, buscando identificar-se como o que supõe ser o objeto de seu desejo”. Com o tempo, o indivíduo vai desenvolvendo-se por meio das sensações que seu reflexo evidencia através de uma imagem, sucedendo o reconhecimento da imaginação e do seu próprio corpo. Como Sales e Joel Dor, Giddens (2002, p. 47) enfatiza: 2 Segundo Parot e Doron (2001), “[...] o ego / eu se baseia numa experiência subjetiva de (consciência de si) [...] é, ao mesmo tempo, a instância integrada onde se forma as representações conscientes, especialmente a representação de si [...] a sede da consciência [...]”.
  • 14. 13 [...] que a sensação precoce de segurança da criança vem da criação que recebeu daqueles que cuidavam dela [...] a aprovação ou desaprovação paternos ou maternos. A ansiedade é sentida ─ real ou imaginariamente [...]. O sujeito sente a necessidade de encontrar no outro o apoio fundamental para construir a autoestima. Quando não localiza essa fortaleza, passa por provações de insegurança e não consegue sustentar uma atitude. O comportamento descontrolado desse sujeito é o espelhar da sua infância, utilizando-se do afeto ou não da familiaridade como seu próprio espelho para formar ou desconstruir uma identidade. Nos liames literários, os espelhos são elementos bastante recorrentes nos desfechos das narrativas, especificamente, por serem os geradores das introspecções das personagens. Dessa forma, são utilizados para viabilizar os diálogos das personagens com seu interior, refletindo as frustrações e conflitos na construção identitária. Segundo Silva (2007, p.59) “o espelho na narrativa de ficção sempre foi um elemento que representou um meio pelo qual as personagens se interiorizam e fazem uma investigação da alma [...]”. De tal modo, limita-se entre o real e o imaginário e constrói a fragmentação da personagem, pois é um artifício pelo qual a arte literária se configura. Contudo, há o conflito entre o consciente e o inconsciente da personagem, ao investigar-se através do próprio reflexo no espelho, se autoanalisando na busca da libertação. Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, publicado em 1985, retrata uma personagem feminina que luta constantemente na busca obsessiva da própria personalidade, refletida por um espelho, que, de certa forma, é o objeto de conflito da sua identidade. Assim sendo, há uma tripartição dessa única mulher manifestada em: eu (a real na obra, possivelmente passiva); ela (o reflexo desse eu, necessariamente a do espelho, revoltosa) e uma terceira (autora – personagem, que se manifesta nas leituras romanescas da personagem), porém as duas primeiras dominam quase todo o enredo. São duas histórias de uma única personagem. Ela tem quarenta e seis anos, personagem sem nome, oriunda de uma família burguesa, vítima de um pai e de um marido autoritários, que aniquilaram sua liberdade, impondo padrões, regras e comportamentos a serem seguidos.
  • 15. 14 Na infância, a personagem viveu um drama ao ter um irmão mais novo, por quem era responsável em tudo o que lhe pudesse acontecer. Para acalentar-se, a personagem procurava o sótão, o quarto e demais lugares escuros e solitários, como refúgio de um mundo onde ela não recebia carinho e atenção da própria família. Na casa havia espelhos e, neles, a personagem adentrava-se, na tentativa de acalentar seus medos e angústias. “[...] Na fluidez das linhas divisórias qual a distância entre o rosto no espelho e o espelho ante o rosto? [...] E o meu rosto no espelho? Quem é?” (CUNHA, 2001, p. 18). No conto de Assis (1994) O Espelho, na poesia O Retrato, de Cecília Meireles (2001) e na tela Moça na frente do espelho, de Pablo Picasso (1932), o espelho é também um objeto que busca uma análise íntima dos sujeitos. Em O Espelho, o personagem entra em conflito com a sua imagem quando está sozinho e sente a necessidade de ser o que as pessoas o consideravam. Este vazio leva-o para um mundo imaginário e conturbado, e a partir do momento em que o personagem adormece, tomam conta de seu corpo os sonhos, suas imaginações, seus desejos e sensações de acalento, na tentativa de realização. Do mesmo modo, no poema Retrato, de Cecília Meireles, o eu lírico resgata uma visão da sua própria vida e as modificações feitas pelo tempo. O espelho é o espaço onde sua face está. É o objeto que conflita o passado e o presente do eu lírico. Já na tela Moça na frente do espelho, de Picasso, as imagens sinalizam uma mulher dividida e amargurada se refletindo no espelho. Suas formas mostram uma aparência conturbada e fragmentada nas imagens produzidas, como também nas imagens que corresponde à figura real que se reflete. Dessa forma, seja na literatura ou na linguagem pictórica, muitas das tensões e dos conflitos retratam o universo das imagens dos sujeitos, que se perpetuam diante dos espelhos, ou seja, é o limite, onde se autoanalisam, conflitando seus sonhos e desejos reprimidos do inconsciente através da sua consciência, buscando assim o real.
  • 16. 15 1.2 O limite entre o consciente e o inconsciente Alguns estudos psicanalíticos caracterizam-se como método de investigação pela busca de significados dos sentimentos expressos pelo imaginário, através de palavras e ações proferidas pelos delírios e sonhos do indivíduo. Freud (apud ROCHA, 2008, p. 202) diz que, a partir de suas investigações psicanalíticas, criou o sistema metapsicológico que apresenta o aparelho psíquico do indivíduo, topograficamente dividido em inconsciente, pré-consciente e consciente. Segundo o autor, o indivíduo pode mudar de estágios, transitando ocasionalmente entre inconsciente e consciente. Assim o inconsciente, para Stefanzweig (apud TALLAFERRO, 2001, p. 42), “[...] não é em absoluto o resíduo da alma, mas pelo contrário, sua matéria prima, da qual só uma porção mínima alcança a superfície iluminada da consciência [...]”. É nele, onde está o reprimido, o refúgio de um mundo consciente. Uma parte do inconsciente surge a partir de sonhos que afloram-se até o consciente, supostamente é considerado como pré-consciente devido estar mais perto do sentido consciente. Embora exista o inconsciente reprimido, a parte abstrata nunca chegará ao consciente, encontrando-se no id3, instância regida pelo sistema do inconsciente e que nunca pode mudar de estágio. Segundo Sales (2005, p. 117), o conceito lacaniana oscila entre o eu consciente e o eu inconsciente, utilizando a terminologia je para consciente e moi para o inconsciente, partindo do que não é “verdade do sujeito”, ligado intimamente a subjetividade, enquanto que o consciente é a unidade sistematizada de um eu. Tais pensamentos podem ser verificados no seguinte trecho: [...] ao moi o significado de uma instância imaginária sintomática e alarmante e ao je o estatuto de sujeito do inconsciente, lugar situado no simbólico e aparentemente a verdade do desejo [...] (SALES, 2005, p. 117). 3 Segundo Ferreira (1999) id é um “sistema básico da personalidade que possui um conteúdo inconsciente, por um lado hereditário e inativo, e por outro, recalcado e adquirido, de acordo com a segunda teoria freudiana do aparelho psíquico”.
  • 17. 16 Para a formação mental de um indivíduo, é preciso passar por diversas fases desde o nascimento. Quando ocorrem incoerências no desenvolvimento de uma criança, aparecem os reflexos na formação adulta. O indivíduo passa a ter conflitos entre os desejos retraídos e seus sentimentos, que não poderá ser expressos em sua vida enquanto sujeitos de uma sociedade. A construção do eu fica impossibilitado devido às reações provocadas pelo inconsciente e pelo consciente, quando o indivíduo se encontra em situações que lhe provocam constrangimentos e decepções, alarmando-se na formação da sua plena consciência, quem realmente é esse eu. O desencontro do processo que limita o consciente do inconsciente resulta na busca insensata da própria construção do sujeito. A imaginação é a via que leva o indivíduo ao mundo irreal do seu próprio interior, tornado-se o espaço que liga os sentimentos reprimidos até a consciência, enquanto o ser eu, revela seus aspectos contraditórios. Segundo as ideias de Elliott (1996, p. 223), há “[...] uma reflexão crítica nas modalidades centrais de sentimento [...]”, do indivíduo, ao perpassar pela distância que se limita entre o inconsciente e o consciente. Este debate é o que possibilita o conflito da sua construção identitária. Quando o indivíduo se depara com duas personalidades, constata as transposições entre o inconsciente e o consciente, os quais se alternam propagando os desejos e as razões de um ser. Assim, Jung (1998, p.191) diz: “[...] tudo que é inconsciente já foi ou será conteúdo do consciente [...]”. O inconsciente quando refletido é considerado como se fosse parte do consciente, porque quando um eu se atribui dos conteúdos do inconsciente tornando-se semelhantes ao consciente, o indivíduo passa a ter perturbações na consciência e necessariamente a construção da dupla personalidade. Também no universo literário, algumas personagens se deparam em situações de busca e conflito, quanto à formação da consciência e inevitavelmente da própria personalidade. Em Mulher no Espelho, desde a sua infância, a personagem central de Cunha (2001) não teve um firmamento estrutural da consciência, ou seja, o eu não se concretizou durante toda a sua vida e chega a não se reconhecer. Os conteúdos inconscientes refletem contrariamente ao consciente dessa mulher. Suas ideias e suas atitudes de toda a vida são questionadas pelos desejos e pelas indignações do inconsciente.
  • 18. 17 Pelo fato de viver na infância passivamente, sempre atendendo as ordens de outras pessoas e inevitavelmente privada da afetividade familiar, essa mulher inacabada não se estruturou psicologicamente, o que lhe ocasionou constrangimentos e perturbações. Como relata o filosofo Giddens (2002, p. 42): Desde os primeiros dias de vida, o hábito e a rotina desempenham um papel fundamental na construção de relações no espaço potencial entre a criança e os que cuidam dela. Conexões centrais são estabelecidas entre a rotina, a reprodução de convenções coordenadas e os sentimentos de segurança antológica nas atividades posteriores do indivíduo. Pode-se afirmar que quando o sujeito não tem uma boa convivência com a família, ele passa a ter um desequilíbrio emocional. A falta de carinho e sucessivamente a obrigação de seguir normas levou aquela mulher a viver dentro dos padrões de uma sociedade tradicional, apenas para servir seus pais, movidos pelo autoritarismo. Uma mulher reprimida que aprendeu a cuidar do irmão mais novo e quando adulta foi submissa ao marido e aos filhos. Para ela, uma mulher recatada, simples e dona de casa, deveria manter-se nesses patamares. “[...] Eu boa menina, obediente, os amigos do meu pai me gabavam [...]” (CUNHA, 2001, p. 19); “[...] para viver bem com meu pai que eu amava, aprendi a viver para amá-lo [...] não levantava a cabeça para falar com ele [...]” (p. 25). A personagem quando criança quebrou um brinquedo do irmão não se conformando por ele ter destruído a sua boneca favorita. Por causa dessa atitude o pai a colocou de castigo e não o irmão, ela ficou revoltada, entretanto se culpa pelo ato. Foi questionada pelo seu inconsciente, dizendo que ela não tinha errado em quebrar o brinquedo do irmão, ele substituiu seu espaço enquanto criança, de poder brincar e ser bem amada. Esse confronto viabiliza um diagnóstico de que, desde sua infância, aquela mulher angustiada sempre esteve num abismo, sem ter a certeza do que estava fazendo. Seus desejos e instintos eram vistos como errados por sua consciência, enquanto um eu que deveria se comportar como criança bondosa e educada. Os atos momentâneos eram sementes das conturbações da consciência do sujeito e move toda a dualidade de uma única mulher. A personagem dialoga com a sua imagem ao espelho:
  • 19. 18 Você já falhou. Desde o começo, falhou com suas omissões. Suas manias de querer desculpar todos e tudo. E sua rotina de autocondenação e flagelação. (CUNHA, 2001, p. 41). Dessa maneira a dualidade perpassa toda a narrativa, mesclando o discurso do consciente e inconsciente, que se esquivam e se chocam num diálogo de culpas e sentimentos. Uma vida de desastres em que a mulher se autocrítica, negando-se e ao mesmo tempo fugindo dessa realidade. O inconsciente que rompe o limite, surgindo como força de expressão, inevitavelmente provoca o conflito da imaginação com os princípios da realidade. Uma ruptura na formação da identidade de uma mulher procedente de uma família tradicionalista, que agita a sua vida. A imaginação protesta contra suas atitudes reais, projetando uma desconstrução mental da personagem e aflorando suas vontades até então não assumidas. Dessa forma, o indivíduo passa a ter perturbações e não forma uma identidade própria. Há sempre um limite entre o seu estado consciente e o inconsciente. Assim, a personagem da narrativa é vista através de um discurso contrário ao estabelecido, como mais uma possibilidade, diante dos conflitos existenciais do contemporâneo. Como diz Giddens (2003, p.50), “a existência é um modo de estar-no-mundo [...] aceitar e viver sua própria realidade”, porém o sujeito pós-moderno é construído pelas fragmentações e certamente não tem a sua própria essência. O planejamento da vida é a referência da personalidade de cada indivíduo, e quando esse projeto não se constitui, o sujeito se perde entre tempo e espaço. O autor ainda diz: ‘Isolamento existencial’ não é tanto uma separação do indivíduo dos outros, mas uma separação dos recursos morais necessários para viver uma existência plena e satisfatória (GIDDENS, 2003, p. 16). Contudo, enquanto representação da realidade o sujeito depara-se com hipóteses e ferramentas que, certamente, podem levá-lo a questionar-se sobre a sua existência, desconstruindo assim a ideia de um mundo coerente, igual. E a imaginação é uma forma para então reconstruí-la com base nessa nova realidade, isto é, um universo fragmentado e heterogêneo.
  • 20. 19 1.3 Autoria feminina A literatura contemporânea cada vez mais rica e heterogênea, caracterizada por mostrar várias tendências temáticas e estéticas, continua seguindo tanto as tendências passadas como as presentes, pois reconstrói obras de inegável caráter inovador. Para Coutinho (2004, p.362) “[...] não houve uma ruptura radical com o Modernismo, ao contrário, esta geração é uma continuação dele [...]”. As tendências se aproximam principalmente pela engendra do fenômeno da intertextualidade, como elemento das mais recentes teorizações da literatura, marcadas pelos diálogos dos textos, ao permitir a disseminação, colagem, e mistura das escritas. A obra literária recria uma imagem de estética e de valor dentro do mundo ficcional. Assim, a literatura brasileira se potencializou com a junção dos autores que ligaram o velho e o novo, a partir dos conhecimentos estéticos de um período com a estreia de um novo movimento, a contemporaneidade, que é caracterizada por trazer obras com aspectos renovados. Uma tentativa de continuar com uma linguagem original, ao fazer do velho um espaço de apoio para os novos talentos. Diz ainda o autor: [...] Ela está viva, atuante, com a sua linguagem própria, mas rica e mais variada do que a linguagem comum, cotidiana, embora o escritor possa fazer uso desta, na variada estilização de suas concepções da realidade (COUTINHO, 2004, p. 274). E nesse espaço aparecem as obras de cunho feminino, já existentes, porém não manifestadas. Desde a metade do século XX, a literatura de autoria feminina se destacou ao proporcionar constantes reflexões acerca dessas diversidades, embora, as autorias desempenhem uma representação do discurso feminino dentro da sociedade, baseado na tentativa de assumir lugares e papeis sociais perante as organizações. Nesse sentido, Xavier (1998) afirma que: [...] A condição de mulher vivida e transfigurada esteticamente é um elemento estruturante nesses textos; não se trata de um simples tema literário, mas da substância mesma de se nutrir à narrativa (p. 11).
  • 21. 20 Dessa forma, a literatura de autoria feminina perpassa de forma progressiva, ao ter espaço para expressar suas artes literárias. Contudo, essa dimensão proporciona a representação do sujeito feminino até os dias atuais, na representação do mundo real. Os textos literários seguiram novos rumos, em meio a novas indagações e perplexidades instauradas pelo paradoxo pós-moderno. Assim, as produções feministas são abordadas sob um enfoque distante do que era considerado como hierarquia patriarcal, em que o homem era o centro das atenções e do poder, questionando a sociedade tradicional às discriminações excludentes. Assim afirma Coelho (1999, p.10) “[...] é principalmente no âmbito dessa literatura feminina, reivindicante, que ressalta o poder da Literatura, como grande instrumento de conscientização [...]”. A literatura foi uma das formas em que a escrita feminina teve oportunidade de expressar uma conscientização e de fato questionar as atitudes de uma sociedade prisioneira. A escrita ampliou os embates da mulher e a participação nos meios sociais. A escritora Helena Parente Cunha faz parte da geração de 60. Pertenceu a uma época, em que se iniciava a luta pela inserção da fala e do jeito feminino na literatura brasileira. Suas obras abordam temáticas da mulher na sua recriação e redefinição identitária, ao constituir um espaço onde se torna possível um sujeito que afirma sua subjetividade ao descrever a realidade interior conflituosa das personagens na busca de sua identidade. Assim descreve Coutinho, a autora: [...] ensaísta, romancista, poeta e contista, transita com facilidade entre poesia e prosa. [...] Sua ficção parte da observação da realidade mais prosaica, para um conhecimento mais profundo do homem e da vida coletiva dos fatos (2004, p. 273). Foram as vivências revolucionárias, a transformação de perceber o mundo e a vida, que permitiram a mulher contemporânea se apropriar das raízes, o que, no passado, não era possível, para criar sua linguagem e atrair algumas adeptas fervorosas do feminismo, reescrevendo principalmente a afirmação identitária da mulher, para uma vivência da nova conscientização.
  • 22. 21 E neste viés, Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha, traça as condições do sujeito contemporâneo na literatura através do diálogo intimista da mulher em frente a sua imagem no espelho. Um desafio aos limites impostos ao universo feminino diante de si mesmo e à sociedade. A narrativa perpassa os fluxos da consciência, por meio de uma personagem condicionada à passividade e o seu reflexo intricado a uma mulher que rompe com o convencional. Contudo é um sujeito frustrado, e suas reflexões são os desejos que até então retidos no inconsciente. Assim sendo, a obra de criação traça literariamente o sujeito contemporâneo fragmentado e diversificado, na perspectiva de interiorização do eu. As vozes da personagem revelam-se perturbadoras, pois em meios a uma vivência dramática, a personagem se encontra dividida entre os mandatos patriarcais familiares e suas percepções liberais, deixando vim à tona seus anseios reprimidos em sua imaginação. E é assim, que os escritos feministas encontram um posicionamento em relação aos conceitos dirigidos a classe feminina, com o intuito de reverter os pontos até então consagrados pela sociedade, na medida em que expressava suas angústias e questionamentos através da escrita. O discurso da mulher passa a ser sustentado por seus próprios pensamentos que se atualizam na produção literária. Contudo, é por meio da literatura de cunho feminino que se discute o comportamento da mulher dentro da ficção. E Helena Parente Cunha faz de sua personagem instrumento de representação do mundo real, onde identidades não se formam, gerando o descontentamento e perturbações do sujeito, que se multiplicam pelo jogo dos espelhos. Assim, o espelho da mulher está diretamente ligado aos múltiplos reflexos do seu interior, que será analisado no próximo capítulo.
  • 23. 22 2 O CONFLITO DA PERSONAGEM NO ROMANCE MULHER NO ESPELHO DE HELENA PARENTE CUNHA O foco deste capítulo é analisar o diálogo entre a personagem e o seu interior, consciente/inconsciente, através da imagem projetada pelo espelho. Assim, a partir do espelhar, na tentativa de uma interiorização é que o indivíduo gera o conflito da sua construção identitária. A personagem duplica sua imagem pelo reflexo no espelho e se multiplica em diversos eu. 2.1 Diálogos no espelho As personagens na literatura são construídas a partir dos registros da narrativa, ao tecer o comportamento de agentes transitando pelo mundo literário. Segundo Gancho (2002, p. 14), “[...] os personagens se definem no enredo pelo que fazem ou dizem, e pelo julgamento que fazem dele, o narrador e os outros personagens [...]”. Neste caso, a personagem é construída dentro da narrativa pelas suas ações e pelo olhar do outro. Mulher no Espelho é narrado em primeira pessoa a partir de uma observação na perspectiva da própria personagem. Suas ações interferem a atenção do leitor. Assim a narradora está dentro da história, necessariamente na construção dos seres fictícios, através de um minucioso trabalho de linguagem até chegar ao leitor a partir da personagem principal que relata à história do seu ponto de vista. Para Brait (1985, p. 60), a narradora personagem é a própria “câmera”, que define a construção adequada do enredo: “[...] produtos de um discurso narrativo que aponta para a ironia de um observador empenhado em fazer da linguagem o seu instrumento de impiedosa caracterização”. E neste viés a obra de criação representa uma personagem que se depara em uma condição real e imaginário, oscilando entre dois mundos, ao representar as lutas e as frustrações da mulher dentro da sociedade, na tentativa de se esquivar
  • 24. 23 dos seus comportamentos. Uma mulher frustrada, sem nome definitivo, à procura de sua existência, julgando sua própria realidade através dos jogos dos espelhos, permitindo-lhes questionar suas novas inspirações e, as imagens, revelando quem a personagem poderia ter sido e quem ela é. A mulher divide-se psicologicamente, realizando um reflexo em torno de si, isto é, uma troca de posicionamento ao fragmentar-se nas unidades (consciente/ inconsciente), até obter uma mudança comportamental: Eu vou começar a minha estória. [...] no cruzamento do meu corpo com o espaço de minhas imagens. [...] Só existo na minha imaginação e na imaginação de quem me lê. E, naturalmente, para a mulher que me escreve [...] (CUNHA, 2001, p. 17). Um conflito existencial de uma mulher que ao se espelhar, dialoga com o seu íntimo, na tentativa de obter uma identidade própria. O diálogo perpassa os detalhes corporais, ao adentrar na mais profunda subversão de um indivíduo. Deste modo, há uma afirmação do posicionamento da personagem, ao se tratar da sua projeção nos espelhos e a rejeição constatada: “Não desejo narrar a mulher que me escreve. Quero narrar a mim mesma somente [...]” (p. 27). A mulher em frente ao espelho discorre com seus desejos sobrepujados no inconsciente. E tudo pelas maneiras de dependência em que esse eu se permitia. Seu horizonte deve limitar-se a satisfazer aos desejos do senhor seu pai. Como pode ser observado neste trecho, em que a mulher refletida pelo espelho faz um questionamento a atitude do pai e a aceitação da filha submissa: [...] Seu pai pegou uma toalha de rosto que estava perto da cama, uma toalha felpuda e começou a esfregar na sua boca, esfregado, muito zangado, dizendo que filha dele não ia andar daquele jeito na rua, você não arredava o pé e ainda oferecia mais o rosto para ele maltratar [...] (p. 59). A mulher fora do espelho rejeita a posição de seu reflexo, na tentativa de aceitar a vida que estava sobrevivendo. Assim ela responde aos seus desejos da seguinte forma: Meu marido acha que devo viver, exclusivamente, exaustivamente para ele. Isso me faz muito feliz. Na opinião de meus filhos, toda mãe tem obrigação
  • 25. 24 de se dedicar de modo absoluto a quem pôs no mundo. Esta é a razão da minha vida (CUNHA, 2001, p.26). Com o diálogo através do espelho, o inconsciente desperta uma manifestação, e o outro lado, o consciente, abriga uma permanência subentendido. Dessa forma, o eu personagem, tinha sempre um olhar limitado, observe-a: “[...] O pai autoritário que eu superamei e ela superodiou [...]” (p.24). Constata-se que a personagem possui duas personalidades: uma que amava o pai e outra que o odiava. Uma mulher adulta reprimida, diligenciando contra o domínio da imaginação que afloram sob seus pensamentos, acumulados durante anos. A realidade da personagem era viver excepcionalmente para servir ao pai, ao marido e aos filhos, impedida de viver a sua própria vontade. Seus desejos autênticos ficaram reprimidos na imaginação. A personagem é tratada como objeto do marido e dos filhos. Essa atitude faz de seu interior, uma maneira de questioná-la. Desse modo, expressa as angústias relevantes a condição de subordinação em que vive: Você não pode continuar a alimentar esta atitude absurda. É preciso ter consciência dos seus próprios direitos, sobretudo nos dias de hoje, final da década de 70, numa cidade como Salvador. A mulher deve reagir, não se permitir levar pelos caprichos e exorbitâncias da família. Você não pode continuar a viver assim (p.26). Aos poucos ela reage como se tudo fosse realmente parte dela. Que existe uma necessidade de assumir uma atitude. Porém, o eu em frente ao espelho assume um papel de resistência a um desejo que lhe consumia, mas não fora crescendo com tanta exatidão: “[...] Por mais que tinha crescido a sua necessidade de captar, não me alcança [...]” (p.34). Seus instintos de liberdade, de por em cena os anseios acumulados durante anos, ainda encontra uma linha que promove uma discussão dentro de um indivíduo: “Não gosto de admitir que todo meu sacrifício tenha sido estéril” (p. 95). Assim, a narrativa enfatiza um diálogo com seu alter-ego. A protagonista questiona quem ela é e o que quer. “[...] não quero me influenciar pela mulher que me escreve. Ela vê a minha vida pelo seu ângulo torto e vesgo [...]” (p. 96). Dividida entre um sistema de normas tradicionais e seus desejos de emancipação ainda não
  • 26. 25 assumidos, e que só aos poucos ela se redime como necessidade da outra. “[...] Está na hora de se conceder uma nova modalidade de vida [...]” (CUNHA, 2001, p. 99). Ela aceita que precisa mudar e para isto, precisa da outra: [...] preciso dela e, no fundo, é bom que as coisas apareçam também sob os olhos dela, [...]. De qualquer forma, quer eu queira ou não, essas coisas pertencem a ela também [...]. Meus filhos de repente, são também filhos dela [...] (p. 37). A imaginação questiona os modos da mulher que se diz real, impondo limites à passividade: “[...] Você se mostra tão fraca e impotente [...]” (p.96). E num instante, seus desejos são de livre arbítrio, de uma mulher independente, que não tem medo de se expressar, diante de uma sociedade. O que era apenas imaginação passa a ser uma realidade para a personagem. Assim pode ser notado na seguinte expressão: Posso gozar do meu ser livre. Que ninguém sabe nem suspeita, supondo que a sujeição é o único gesto endossado. Quando estou só em casa, dou- me o direito de me entregar à proibição. Canto minhas músicas, preferidas, sem zombarias. Sinto-me livre, no gosto e na voz. E danço, invadida de ritmo e balanço [...] (p. 45). A mulher angustiada abre espaço para sua imaginação. Os sentimentos liberais surgem sob o corpo da mulher real, uma mulher ardilosa, que se arrisca nos desejos, e utiliza de um jogo de sedução para a conquista: “Eu vou virar a mesa. De agora por diante estou livre de todos e qualquer preconceito [...]” (p. 117). E é o fluxo do inconsciente e do consciente que promove as concepções do que é real e imaginário. “[...] Quem conhece meu rosto atrás do meu rosto? Que rosto se esconde atrás dos espelhos iluminados? Que rosto se perde aquém dos espelhos apagados? [...]” (p. 107). O discurso passa a inverter-se. A mulher real tem atitudes que seu inconsciente passa agora a considerar anormal: “Você até hoje confunde a necessidade de ser independente com invenções de fugir de casa e matar alguém de desgosto [...]” (p. 126). E nesta oportunidade o eu se defende: “Eu me condenei, eu me acusei, eu me culpei, eu vivi meu fracasso, dobra por dobra, até o esgotamento final. Por isso estou poliedricamente livre [...]” (p. 126). A personagem
  • 27. 26 necessita da constatação de fragmentar-se para liberar seus sentimentos, que arrastam por discursos múltiplos de se mesma. Uma crise de identidade que gera diálogos e perturbações de um único ser. Seus sentimentos misturam-se, contorcendo a dor, o sofrimento, a solidão, e o desejo de liberdade. Absolutamente sensações refletidas pelo espelho. Giddens (2002, p. 61) afirma que, o indivíduo caracterizado pela falta de conexão do pensamento e de atitudes padece de psicose, ou seja, “[...] se sente distante do que o corpo está fazendo ou do que ele está sofrendo. A imagem especular e o eu podem se tornar efetivamente invertidos em personalidades”. Assim, pode-se constatar a condição daquela mulher que sofre de insanidade. Em frente ao espelho, julga-se, invertendo corpo e sentimentos, ao modo que se aceita e confronta-se, aniquilando sua própria essência. Dessa maneira, a obra abordada traz o espelho como base de sustentabilidade da formação da consciência do sujeito, mas também a desconstrução de sua identidade. A personagem passa a ter atitudes diferentes e afobações que abrangem o diálogo do inconsciente com o consciente, ou simplesmente, na perspectiva de questionar atitudes e negar a si mesma. O discurso se prolonga por toda a narrativa. As vozes da se intercalam, ora a sua imaginação, ora sua própria realidade física. Assim, vai contradizendo os desejos do inconsciente com sua consciência. 2.2 Imagens duplicadas e múltiplas identidades Diante de uma figura atormentada, que se encarrega em conflitar seus sentimentos e suas ações, pode-se designar um sujeito duplo. Para Bravo (1998, p. 263) “um conflito psíquico cria o duplo, projeção da desordem íntima [...]”. Assim encontra-se explícito, um sujeito dividido em um mundo capaz de apontar o que está no inconsciente e o que está conscientemente. O indivíduo libera os anseios inconscientes para dialogar com sua realidade física, criando a ideia de duplo. Ainda segundo autor, o ser duplo são pessoas que “[...] se vêem a si mesmas [...]”, aquela que possui em si mesma o outro, caminhando ao seu lado (BRAVO, 1998, p. 261; 262).
  • 28. 27 Com base no estudo de Kappler (1972 apud BRAVO, 1998, p. 263), o duplo significa que o sujeito é “[...] ao mesmo tempo idêntico ao original e diferente - até mesmo o oposto - [...]”. Assim, o indivíduo apresenta-se confuso com mais de uma identidade, trazendo o imaginário para o real. O mesmo ocorre em Mulher no Espelho. A personagem se desdobra com diferentes personalidades. O duplo é uma ilusão do próprio sujeito, uma loucura que consome e faz alucinar-se dentro de um mundo onde seus desejos são manifestados. A busca da identidade profunda faz com que essa mulher tome consciência de seu íntimo, através da sua duplicidade, sendo a forma pela qual o indivíduo pode se encontrar literalmente ou fracassar. A personagem não se reconhece ao espelhar-se. Uma imagem que tenta dilacerar a inquietude da real, na tentativa de sustentar uma tomada de consciência da sua própria identidade: “Os ratos só existem na sua imaginação [...]” (CUNHA, 2001, p. 21). Então a mulher dentro do espelho significava a mulher liberal: “[...] A mulher que me escreve se julga sem preconceitos nem barreiras, dona e senhora de suas guerras [...]” (p.44). Que tenta ressurgir na mulher passiva, que aceitava as imposições a ela, e não reivindicava o seu desejo, não abria espaço para sustentar o que estava por dentro. Portanto, o eu personagem, abre espaço para seu inconsciente, o que realmente deseja, os sentimentos liberais surgem sob o corpo da real, uma mulher ardilosa, que se arrisca nos desejos, e utiliza de um jogo de sedução para a conquista. Nua diante dos espelhos [...] Para que meu corpo se encontre inteiro com meu corpo, viro a cabeça de lado e me coloco ao espelho [...] Uma sensação boa de liberdade percorre as minhas imagens [...] (p. 114). Há um conflito na narrativa proporcionado pelo íntimo da personagem narradora, e, sem dúvidas, o trágico destino explora uma densidade do próprio inconsciente. Há também uma fragmentação na personalidade da protagonista gerada pela rejeição e ódio de uma vida conturbada onde se depara com os desejos do inconsciente, deixando-a dilacerada. Para Bravo (1998), o sujeito ficcional aparece em linhas literárias formulado nas ideias da dualidade da consciência, o que permite as múltiplas identidades de
  • 29. 28 uma única personagem. E essa duplicidade, deixa suceder a confusão na construção da personalidade do indivíduo, conflitando os elementos reais e imaginários, relativamente, a consciência e o inconsciente. Essa crise existencial também pode ser discorrida em outras obras como o conto O Espelho, de Machado de Assis, a poesia Retrato, de Cecília Meireles e a tela Mulher no espelho de Pablo Picasso. O Espelho de Machado (1994) retrata a história de um homem também com quarenta e seis anos de nome Jacobina, que conta uma passagem de sua vida a quatro amigos. Uma história que despertou a construção de duas almas de uma única personagem. Tudo aconteceu a partir do momento em que fora nomeado alferes de Guarda Nacional, criticado por algumas pessoas, porém elogiado por muitos, desde amigos e parentes, chamando-o de Senhor Alferes. Em certo dia visitou a senhora sua tia, Marcolina, que o contemplava dignamente. Com alguns dias, ela precisou ir ao encontro da filha que estava enferma e o Jacobina, ficou tomando conta do Sítio. Nesse período, Jacobina, sentiu-se sozinho e a solidão tomou conta de sua vida e sua alma. “[...] Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias formam mais compridos [...]” (ASSIS, 1994, p. 4). E o seu refúgio era o sono, quando dormia sentia aliviado. Os louvores dirigidos a ele pelos amigos e familiares eram perpassados pelos sonhos e as angústias tomavam seu corpo no momento em que acordava. Sua solidão era ver que não tinha ninguém para lhe proclamar: “[...] um silêncio vasto, enorme, infinito [...]” (p. 5). Porém, toda agonia e sofrimentos instigados pela solidão, eram abrandados pelo objeto que estava em seu quarto, o espelho, acessório decorativo da sala, que a tia tinha cedido como forma de consagração a um alferes, depositando-o no quarto. E a todo o momento a personagem se deparava no espelho para resgatar a sua própria construção identitária. Sua alma exterior (alferes) estava presa ao espelho, recolhida no momento em que a tia e os escravos saíram do Sítio e deixou- o sozinho. A solidão rompeu a construção da figura de alferes, que estava acostumado a ouvir chamá-lo desse título, e quando sozinho sentiu a necessidade de ser exaltado, e seu eu foi reprimido no espelho. Algo fez com que a personagem vestisse a farda de alferes, olhando-se para o espelho, o que antes era confusa, vaga, incompleta, esfumada sem uma construção própria, tornou-se clara e natural: “[...] o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha a menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o
  • 30. 29 alferes, que achava, enfim, a alma exterior [...] “(ASSIS, 1994, p.6)”. O espelho gerou um pensamento que uniformizou sua imagem e amenizou a solidão. Assim como em Mulher no Espelho sua imagem inicial também era incompleta. Quando vestiu a farda em frente ao espelho a aflição e o desespero levou-o a uma identidade integral, que seria pertencer à Guarda Nacional. Assim, afirma Tanis (2003) sobre o conto O Espelho: [...] adultos vestidos identidades fardadas, como forma de se defender de conflitos que se sentem incapazes de enfrentar ou, quando a angústia é maior, de um vazio que domina sua existência (p.81). Certamente, este sujeito angustiado sente-se incapaz de ter sua personalidade, e busca ano espelho um sentido de evasão do mundo em que se encontra. A tristeza conduz-lhe para a reflexibilidade de si mesmo através dos instintos inacabados, sustentando uma identidade através da sua farda. Já na obra Retrato, de Cecília Meireles (2001), a solidão é anunciada, ao comunicar a alma de um eu lírico desmaterializado que vaga em dimensões espirituais. O texto é contaminado pelo sentimento da desilusão que leva o eu a abismar-se entre um mundo através do espelho que retém sua própria realidade. Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? (Retrato, Viagem, MEIRELES, 2001) Assim, o poema Retrato refere-se à velhice, onde o eu lírico compara o rosto do presente com o rosto do passado, a partir do reconhecimento de tudo que
  • 31. 30 lhe aconteceu. Uma imagem modificada pelo tempo, provocando um sentimento de perplexidade: “[...] Eu não dei por esta mudança / tão simples, tão certa, tão fácil [...]” (MEIRELES, 2001, p. 232). O desencanto pela vida, que se deu em um momento, que estava claro durante anos e não tinha percebido. Na primeira estrofe, o eu lírico descreve seu próprio rosto que não mais reconhece como seu. A ideia se intensifica com a passagem da vida e a nostalgia do eu, que perpassa-se quando reafirma essa constatação: “eu não tinha este rosto de hoje,/ assim calmo, assim triste, assim magro,/ nem estes olhos tão vazios,/ nem o lábio amargo [...]” (p. 232). Essa visão indica a mudança ocorrida no íntimo, na personalidade e no físico devido aos sofrimentos em que viveu o eu lírico. No último verso da última estrofe, há um questionamento com relação a sua vida diante do espelho: “[...] em que espelho ficou perdida a minha face?”(p. 232), numa indicação de que o espelho seria o lugar ou o momento de sua vida em que ficou presa, havendo assim, uma transição, porém, sem o seu pleno conhecimento desse fato. Sua face ficou imóvel no espelho, mas o tempo passou sem que se percebesse as mudanças ocorridas. Assim, afirma Bittencourt (2010, p.266) sobre a poesia Retrato: [...] a dualidade passado/presente está presente nessa relação simbólica, mostrando as modificações apreendidas pelo indivíduo. No instante em que o homem se depara com um espelho e com um retrato, ele é forçado a refletir sobre a sua condição e sobre os seus anseios. É o encontro dos mundos problemáticos do sujeito: o interior e o exterior. Portanto, no momento em que o indivíduo se olha, é obrigado a deparar-se consigo mesmo, numa condição estabelecida pelo próprio tempo. O eu lírico descobre seu lado inconsciente através da constatação de que tudo mudou, suas formas e expressões foram alteradas e só neste momento teve a consciência de que a crise de identidade foi aceita e internalizada por si próprio. Ainda que, numa linguagem pictórica, a tela Moça na frente do espelho, de Pablo Picasso (1932), exposta no Museu de Arte Moderna em Nova York com 162 x 130 cm, aproxima-se das obras de Helena, de Machado e de Cecília. Suas formas são capazes de reproduzir o espelhar de um sujeito, aparentemente uma mulher, a partir do movimento da imagem. Pode-se observar por meio das misturas de cores e de formas a multiplicidade da construção de um ser através da seguinte tela:
  • 32. 31 4 De tal modo, nota-se que a imagem real, fora do espelho, é construída por dupla face que se reflete pelo espelhar, simbolizando um sujeito incompleto ou simplesmente misturado. Picasso (1932) cria uma tela capaz de chocar as pessoas e mostrar o sujeito além da realidade, fazendo do imaginário instrumento da originalidade. Para Meyer (2002, p. 47) há uma mudança estrutural do corpo externo e do corpo interno através da “[...] imagem do corpo e esquema do corpo, e que é constantemente remodelado e distorcido por diversas emoções, instabilidades ou sofrimento do indivíduo”. Desse modo, a pintura traz mais um corpo contemplado no espelho como forma de refletir o interior desta mulher. 4 Moça na frente do espelho (1932), de Pablo Picasso, exposta no Museu de Arte Moderna em Nova York com 162 x 130 cm.
  • 33. 32 O espelho traz o que pode-se chamar de verdade, mostrando os traços marcantes do seu corpo através da imagem deformada e contornada por linhas que juntam realidade e os seus reflexos. A figura de Picasso demonstra-se triste e deprimida, refletindo os sentimentos de uma mulher infeliz, o que parece sugerir a expressão de alguém que tem medo de aceitar quem realmente é. Em Mulher no Espelho, de Cunha (2001) a personagem está em constante confronto com o abismo, em um processo de autoafirmação e descoberta da própria identidade, através da subserviência da mulher perante a sociedade em que está inserida. O objeto questionador é sua própria imagem suprimida através de um espelho, que tenta abrir caminhos para a libertação do seu verdadeiro sentimento diante da sua condição de vida: “Abro os meus espelhos. Lá dentro, no fundo da superfície fria, esgueira-se uma imagem [...]” (CUNHA, 2001, p. 113). Mas sua identidade nunca se concretiza em presença de duas visões que circundam sua própria existência. Segundo Bravo (1998, p. 282) “a literatura tem a vocação de pôr em cena o duplo, invalidando o princípio de identidade: o que é uno é também múltiplo, [...]”. Assim, quando uma está no corpo presente, a outra está refletida no espelho para culpá-la das consequências de suas ações. O fim dramático apodera-se de seu corpo. Não se move deitada no tapete de pele, ouve seu filho chamar-lhe, e não consegue se levantar: “[...] alguém tocando a companhia. [...] Meu cansaço me paralisa. Não mexo um músculo [...]” (CUNHA, 2001, p. 172). E é através dos pedaços de espelhos que consegue ver as inúmeras imagens produzidas pelo único rosto: “Os espelhos se multiplicam as imagens até o infinito. Mas o nosso remorso nos une. [...] Meu rosto no espelho é o dela. Ela sou eu. Eu sou ela. [...]” (p. 174). Dessa forma, necessariamente a personagem se perde entre o espelhar do seu consciente, o que para Ferreira (1999, p. 814) “[...] os olhos são o espelho da alma [...]”. Em meios ao engendramento dos corpos duplicados, chega-se as mais diversas possibilidades do eu, que se multiplica em diversos rostos, em várias almas de um único ser. A imaginação viabiliza as mais distintas particularidades do interior da personagem. Suas personalidades de submissão, de questionamentos, de sensualidade, de fracasso, de sua alma, do seu corpo, de suas atitudes, capazes de experimentar o mundo e seus desejos além de suas limitações. O duplo passa agora a ser múltiplo. Sua fragmentação perpassa ao desdobramento e chega a mais inusitada perspectiva: o encontro de si mesma.
  • 34. 33 [...] Encontrei o meu rosto no canto do último espelho. Quero guardar intacto este sorriso novo, aberto no sulco da lágrima que houvera. O renascer dos frutos nas sombras mais profundas [...] ( CUNHA, 2001, p. 130). A obra de Helena Parente Cunha representa uma história que desperta vários temas da realidade. O leitor traça uma reflexão dos problemas humanos, ao projetar o drama do mundo real. Todo conflito é consequência da culpa, das dúvidas e contradições doutrinadas, em um incontrolável posicionamento do que é certo e do que não é certo, transformado pelos sentimentos, no interior de cada pessoa. Metaforicamente, a literatura promove o conflito do duplo, pois busca uma representação e uma subjetividade encontradas no real, recriando sentidos e apoderando-se das palavras que manipula através da escrita para dar vida a ficção. Deste modo, Mulher no Espelho transmite a construção de uma figura complexa e variável, de uma mulher sensível, expressando seus vários mundos, formas e tempos a partir de seu reencontro, visando enriquecer a sua verdadeira identidade, formada por muitos conceitos que se confrontam, se ajustam, se movem e se unem.
  • 35. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo-se do princípio da investigação deste trabalho, pode-se constatar que o espelho é aqui um elemento de observação e construção dos reflexos humanos e ficcionais. Através dele o sujeito busca a sua própria imagem como forma de construção psíquica. Assim é na literatura. O espelho como elemento coadjuvante na narrativa, revela o que as personagens buscam para refletir seus sentimentos. Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha (2001), traz estas características a partir do drama da personagem em frente ao espelho, no espaço mais escuro da sua própria casa. E a partir dele, sua personalidade torna-se móvel oscilando entre seu corpo real e tudo aquilo que ficou acumulado durante anos. Seus sonhos reprimidos, suas desilusões e suas dores, ficaram boa parte da vida dentro do espelho questionando-a e na tentativa de tomar posse de seu corpo, passando a assumi-lo através da desconstrução mental, em que a imaginação assume lugar por meio de alucinações da própria personagem. De acordo com as ideias de Giddens (2002, p. 70), pode-se perguntar “O que fazer? Como fazer? Quem ser?” em circunstâncias das questões existenciais em que determinados indivíduos se encontram. Portanto, Possivelmente você está inquieto. Ou pode se sentir assoberbado pelas demandas da mulher, filhos, marido, ou do trabalho. Pode se sentir pouco apreciado pelas pessoas mais próximas. Talvez sinta raiva de que a vida está passando e você não conseguiu realizar as grandes coisas que pretendia. Parece que falta algo em sua vida [...] (RAINWATER, 1989, p.9 apud GIDDENS, 2002, p. 70). O reflexo do eu se torna uma possível investigação da alma e os comportamentos expostos pelo sujeito. A mulher atormentada da obra de criação constitui uma significância negada pela solidão em que viveu durante anos. A fragilidade limita a existência de uma pessoa confiante e determinada, constituindo assim um eu sem identidade.
  • 36. 35 A partir do momento em que o espelho se estilhaça ao chão, aquela mulher atormentada, toma consciência de seu único rosto, formado através das múltiplas imagens refletidas pelos espelhos quebrados, constatando finalmente que o sujeito é constituído por muitos eus de várias personalidades. Pois é neste momento que acontece a união dos conteúdos inconscientes e conscientes, auxiliando o indivíduo a entender uma identidade marcada pela fragmentação. Assim como nas obras de Machado de Assis, Cecília Meireles e Pablo Picasso, o espelho também é o instrumento pelo qual o sujeito pode ver o seu próprio reflexo e questioná-lo na tentativa de entender seu próprio ser. Há uma interiorização que os multiplicam em diversos rostos, expressões e sentimentos. O espelho é o espaço onde os indivíduos mesclam a consciência e a imaginação no intuito de refletir e desconstruir a ideia de unidade do sujeito, tornando-o múltiplo e variado. Enfim, os sujeitos procuram através do espelhar, o sentido da vida e a reflexão de sua existência, onde tudo se confunde e ao mesmo tempo fica claro.
  • 37. REFERÊNCIAS ASSIS, Machado de. O espelho. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v.2. <Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acessado em 10/07/2010. BIBLÍA SAGRADA. Tradução de L. Garmus [et al]. Petrópolis: Vozes, 1986. BITTENCOURT, Amanda Rosa de. Uma análise psicológica do duplo em Cecília Meireles. In: Revista Historiador. n 03. Ano 03. Dezembro de 2010. <Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriador>. Acessado em 04/03/2012. BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 1985. BRAVO, Nicole Fernandez. O duplo. In: BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. COELHO, Nelly Novaes. O desafio ao cânone: consciência histórica versus discurso- em-crise. In: CUNHA, Helena Parente (Org.). Desafinado o cânone: aspectos da literatura de autoria feminina na prosa e na poesia (anos 70/80). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999. COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: relações e perspectivas conclusões. 7. ed. São Paulo: Global. 2004, v. 6. CUNHA, Helena Parente. Mulher no espelho. 8. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasil, 2001. DIJCK, Sônia Van. Calidoscópio e hipertexto. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2004. <Disponível em: http://www.soniavandijck.com/espelhos.htm>. Acessado em 01/07/2011. DOR, Joel. Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
  • 38. DORON, Roland e PAROT, Françoise. Dicionário de psicologia. São Paulo: Ática, 2001. ELLIOTT, Anthony. Teoria psicanalítica - introdução. São Paulo: Loyola, 1996. <Disponível em: www.books.google.com.br.> Acessado em 10/07/2010. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FREUD, Sigmund. (1856-1939) Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: ego e o id. Tradução de José Octavio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1997. GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7. ed. São Paulo: Ática, 2002. GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de janeiro:Jorge Zahar, 2002. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. JUNG. Carl G. A dinâmica do inconsciente.Tradução de Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. MEIRELES, Cecília. Retrato. In: SECCHIN, Antônio Carlos (Org.). Poesia completa. V. I. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. PICASSO, Pablo. Mulher no espelho. In: VENEZIA, Mike. Pablo Picasso. São Paulo: Moderna, 1996. Coleção Mestre das Artes. ROCHA-COUTINHO, Maria Lucia. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações sociais. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. ROCHA, Zeferino. Freud: novas aproximações. Recife: Universitária da UFPE, 2008.< Disponível em: http://books.google.com.br/. > Acessado em 01/07/2011.
  • 39. SALES, Léa Silveira. Posição do estágio do espelho na teoria lacaniana do imaginário. Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 17 - nº 1, p. 113-127, Jan./Jun. 2005.< Disponível em: www.scielo.br/pdf/rdpsi/v17n1/v17n1a09.pdf. > Acessado em 11/07/2010. SILVA, Roberto José da. Espelho: olhar introspectivo em algumas narrativas femininas. Coloquium Humanarum, v.4. 2007. <Disponível em: revistas.unoeste.br.> Acessado em 12/05/2011. SHAPIRO, Meyer. A unidade da arte de Picasso. Tradução de Ana Luiza Dantas Borges. São Paulo: Cosac & Naife, 2002. <Disponível em: http://books.google.com.br/books>. Acessado em 02/03/2012. TALLAFERRO, Alberto. Curso básico de psicanálise. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. TANIS, Bernardo. Circuitos da Solidão: entre a clínica e a cultura. São Paulo: Casa do Psicólogo: FAPESP, 2003. <Disponível em: http://books.google.com.br.> Acessado em 23/02/2012. XAVIER, Elóidia. Declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de Janeiro: Record: Rosas dos tempos, 1998. ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica - uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.