Este documento narra a história de Raul, o melhor amigo de Mário de Sá-Carneiro, que se apaixonou por Marcela mas acabou por ter um caso com outra mulher. Quando Marcela descobriu, Raul tentou provar o seu amor desfigurando-lhe o rosto, mas ela conseguiu fugir. Consumido pela culpa, Raul acabou por se suicidar.
2. Fulcro da Questão: A loucura é segundo a psicologia uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados “anormais” pela sociedade. E segundo Mário de Sá-Carneiro?
3. Nasceu em Lisboa, a 19 de Maio de 1890 no seio de uma família abastada. Suicidou-se em Paris, a 26 de Abril de 1916. Em 1912 veio a conhecer aquele que foi, sem dúvida, o seu melhor amigo – Fernando Pessoa. Era um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. As cartas que trocou com Pessoa, entre 1912 e o seu suicídio, são como que um autêntico diário onde se nota paralelamente o crescimento das suas frustrações interiores. Sobre ele escreveu Fernando Pessoa: “Mário de Sá-Carneiro não tem biografia, só génio.” Mário de Sá-Carneiro
4. Ficha Técnica Autor: Mário de Sá-Carneiro Editora: Capa Azul Data de edição: 4ª edição, Outubro de 2009 Narrador: Mário de Sá-Carneiro
6. Loucura “A morte de Raul Vilar foi muito lamentada. Todos os jornais consagraram longos artigos ao grande escultor. (…) Hoje, poucos se lembrarão já do pobre Raul. É por isso mesmo que me decido a falar dele. Para o fazer, ninguém mais competente que eu: fui o seu maior amigo, o seu único amigo.” Mário de Sá-Carneiro Mário de Sá-Carneiro nesta pequena obra narra a história de vida do seu melhor amigo que se suicidou, de seu nome Raul, com o intuito de “estas páginas desfazerem as estúpidas fantasias que se propalaram sobre os motivos que teriam conduzido o jovem artista ao seu acto de desespero.” Raul sempre fora um rapaz fora do comum, um louco, e tinha atitudes que Sá-Carneiro sempre reprovara. No entanto, esta amizade começa quando Raul se dá por culpado de um acto que Mário de Sá-Carneiro cometera. Num baile a que Raul foi com o seu amigo conheceu a mulher da sua vida, Marcela, que era o sonho de qualquer homem. “Eu não quero ser feliz, seria para mim a maior das infelicidades!... “
7. Para espanto de Sá-Carneiro (“O fim do mundo, ter-me-ia causado menos espanto. ..”), casou-se com Marcela e desde aí nunca mais foi o mesmo, deixou a sua loucura de parte vivendo apenas o seu amor tornando-se, completamente obsessivo: Mas não tardava muito a que um pecado mortal o atraiçoasse, foi com Luísa que o praticou, a sua musa inspiradora para mais uma escultura. “O meu maior prazer – exclamava – seria passear com o teu corpo nu, mostrá-lo pelas ruas para que toda a gente pudesse admirar a minha obra-prima! Sim! Fui eu que formei, que dei fogo… vida a este corpo!...” “Espíritos desprendidos, fracos e livres, não se envergonhando de ser animais; possuíram-se encarando o acto como o mais natural, o mais humano, visto que é ele que fabrica a vida, que fabrica os homens… Possuíram-se como amantes, não se possuíram como esposos…” “Durante a execução de Afrodite, depois de uma hora de trabalho, seguiam-se duas horas de amor se amor se pode chamar à prática luxuriosa dos vícios mais requintados.”
8. Marcela descobrira e desde aí passou a não acreditar no seu marido crendo que Raul já não a amava. Este comprometeu-se a dar-lhe uma prova do seu amor. O sentimento de culpa por não conseguir provar realmente o quanto a amava e a ideia de envelhecer andou a perturbar-lhe a cabeça até que, certo dia, uma ideia lhe surgiu. O homem só ama a mulher pela sua beleza: A solução estava em acabar com a beleza de Marcela e continuar a ama-la, assim provar-lhe-ia que o sentimento que nutria por ela era tão forte, tão verdadeiro que era capaz de a amar sendo ela feia. Seduzindo Marcela, Raul levou-a para o seu atelier , pensando ela que sabia o que a esperava. “ninguém ama um corpo sem fogo, um corpo de carne mole e repugnante; ninguém beija um rosto sem nariz…uns olhos cegos, uns lábios contraídos na crispação de uma ferida mal cicatrizada…”
9. Foi assim que lhe tentou tirar a sua beleza, queimando-lhe o rosto e o resto do corpo fazendo dela uma mulher feia, dessa forma mais nenhum homem olharia para ela. Mas Marcela conseguiu fugir e livrar-se daquele louco. Raul acabou por beber o seu próprio veneno e assim morreu da sua própria loucura. “Se ela o sabia… Ali dentro tinham-se passado os mais deliciosos instantes da sua vida… Ali dentro, cada móvel, cada objecto, recordava-lhe um beijo, uma carícia, um amplexo.... Se não sabia o que iam fazer… se não sabia…” “Vou queimar os teus seios…sujar para sempre a brancura imaculada da tua carne… E assim, um monstro repelente, continuarei a amar-te, amar-te-ei muito mais, porque todo o tempo será para ver a tua alma…a tua querida almazinha…. Não tenhas medo…não grites…. Vais ser muito feliz… Vamos ser muito felizes…”
10. Citações Marcantes “-Gostava que morresse toda a gente…todos os animais e que só eu ficasse vivo… -Para quê? – perguntei espantado. -Para experimentar o medo de me ver completamente só num mundo cheio de cadáveres. Devia ser delicioso! Que calafrio de horror!...“ (Raul) “Não era banalmente no leito burguês – às escuras – que os seus corpos se estreitavam; era um plena luz, em estofos caros e moles, nos divãs do atelier, donde, na fúria do amplexo, rolavam para o chão – abraçados, confundidos…” (Mário de Sá-Carneiro) “Marcela aparecia envolta em qualquer roupagem transparente. A carne nua mostrava-se do delgado tecido; os seios erectos oscilavam com as suas pontas rosadas a enfolarem a pano… Ah! Como ele gostava de morder esses seios! Beijava-os, mordia-os tão sofregamente, que uma vez o sangue correra…” (Mário de Sá-Carneiro) “ – Eu quero que tu me ames como eu te amo… Com todo o teu corpo; com as mãos…com os braços… Com boca…” ( Luísa) “Procriar, é uma malvadez: é fazer desgraçados. E um crime matar, preceituam as leis. Crime muito maior é formar assassinos.” (Escrito por Raul no seu diário)
11. “Um enigma… Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos…”
12. “Os doidos são irresponsáveis, diz o Código” Mário de Sá-Carneiro