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Amor – in: Laços de Família, 1960Amor – in: Laços de Família, 1960
Prof. Welington FernandesProf. Welington Fernandes
2
Esboço biográfico de Clarice LispectorEsboço biográfico de Clarice Lispector
Em Set/1919, uma judia chamada Mania foi estuprada por soldados
russos e contraiu sífilis. Mania e seu marido, Pinkhas, decidiram ter um
filho na esperança de encontrar a cura. O nascimento da menina, em
1920, contudo, não cessou o sofrimento de sua mãe, que faleceria dez
anos mais tarde. Clarice vem para o Brasil aos dois meses de idade. Tem
a infância marcada por dificuldades financeiras. A família então se
transfere para o Rio de Janeiro. No jornalismo, aproxima-se de escritores
como Fernando Sabino e Rubem Braga. Em 1941, passa a frequentar o
bar "Recreio", na Cinelândia, ponto de encontro de autores como
Vinicius de Moraes e Rachel de Queiroz. Entre 1948 e 1953, Clarice tem
seus dois filhos. Em 1959, separa-se do marido e regressa ao Brasil. Em
1966, a escritora dorme com um cigarro aceso. Passou 3 dias sob o risco
de morte. Em 1968, participa da "Passeata dos 100 mil”, contra a
ditadura militar. Em 1977, publica A hora da estrela. Morre nesse
mesmo ano.
3
Segundo Antonio Candido, “Raramente é dado
encontrar um escritor que, como o Mário de Andrade,
de Macunaíma, procura estender o domínio da palavra
sobre regiões mais complexas e mais inexprimíveis
(...). Por isso, tive verdadeiro choque ao ler o romance
diferente que é Perto do coração selvagem.
A intensidade com que sabe escrever e a rara
capacidade da vida interior poderão fazer desta jovem
escritora um dos valores mais sólidos e, sobretudo,
mais originais da nossa literatura”.
Fortuna críticaFortuna crítica
4
“Meus livros felizmente não são superlotados de fatos, e sim
da repercussão dos fatos no indivíduo”
“O que sou então?
Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo
ininteligível e um mundo impalpável. (...) Sou sobretudo uma
pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando
consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida
humana ou animal.”
"Tenho várias caras. Uma é quase bonita,
outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".
Clarice por ClariceClarice por Clarice
5
O tradutor Gregory Rabassa recordava ter ficado "pasmo ao
encontrar aquela pessoa rara, que era parecida com Marlene
Dietrich e escrevia como Virginia Woolf".
Fortuna críticaFortuna crítica
6
Algumas de suas obras mais importantesAlgumas de suas obras mais importantes
• Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: A Noite, 1944.
• Laços de Família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960.
• A Maçã no Escuro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1961
• A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1964.
• Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. RJ: Sabiá,
1969.
• Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971.
• A Imitação da Rosa. Rio de Janeiro: Artenova, 1973
• Água-Viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
• A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
7
Algumas de suas obras mais importantesAlgumas de suas obras mais importantes
• Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: A Noite, 1944.
• Laços de Família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960.
• A Maçã no Escuro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1961
• A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1964.
• Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. RJ: Sabiá,
1969.
• Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971.
• A Imitação da Rosa. Rio de Janeiro: Artenova, 1973
• Água-Viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
• A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
8
O governo de JK entrou para história como o de mais
expressivo crescimento da economia do país. O lema do
governo foi “Cinquenta anos de progresso em cinco anos de
governo”. Para cumprir com esse objetivo, o governo federal
elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado
crescimento econômico a partir da expansão do setor
industrial, com investimentos na produção. No entanto, o
excessivo controle estrangeiro sobre a economia brasileira
representou grandes perdas para o país. A gestão de JK
também foi marcada pela implementação de um ambicioso
programa de obras públicas com destaque para
a construção da nova capital federal, Brasília.
Contexto histórico: 1956-1961
9
Clarice Lispector – (Clarice Lispector – (1920 –1977)
10
Pré-requisito conceitual:
Fluxo de consciência
11
William James (1842-1910) definia a vida mental
como um fluxo, um dado imediato da introspecção.
Também Daniel Dennett (1942), em 1992, descreve a
consciência como um fluxo errático, produzida pelo
que ele chamou de máquina joyceana. Dennett nega a
ideia de que a consciência forme uma unidade. Na
verdade, o cérebro produz, continuamente, várias
versões sobre percepções, sensações e emoções, das
quais algumas são adotadas, outras são abandonadas.
A sensação de que existe um fluxo de consciência
único é formada a partir de aparições momentâneas de
algumas dessas versões no foco da atenção. (João Teixeira)
Conceito de fluxo de consciênciaConceito de fluxo de consciência
12
O fluxo de consciência é um procedimento narrativo
próprio da literatura do século XX que procura
representar/simular a experiência psíquica (sobretudo
a anterior à formulação linguística). Como se fosse
dada ao leitor a possibilidade de contemplar a
amálgama de impressões, sensações e percepções do
personagem no seu caótico nascedouro. Embora não
haja, propriamente, uma regra ou esquema para tal
procedimento, quando ocorre fluxo de consciência, o
texto pode apresentar-se: fragmentário, desarticulado,
profuso, polifônico e não-linear.
Fluxo de consciência na literaturaFluxo de consciência na literatura
13
‘‘Amor’, em Laços de Família, 1960Amor’, em Laços de Família, 1960
14
Uma mulher, com as compras de mercado, pega um
bonde para voltar para casa. No percurso, ela ingressa
numa viagem para dentro de si mesma. Em tal balanço
existencial, seu pensamento oscila entre frustração x
autossugestão. Numa parada do bonde, a mulher avista
um homem na calçada. Sem qualquer motivo
consciente, ela se sente um tanto incomodada. Só
então percebe que ele é cego e que está mascando
chicletes. Essa conjunção, tão banal quanto sui
generis, acaba por dominar-lhe o pensamento, de tal
modo que a mulher se esquece de segurar. Com o
súbito arranque do bonde, a mulher derruba suas
SinopseSinopse
15
compras e solta um grito, assustada. O condutor para o
carro para verificar o que houve. Constrangida, fica
uns instantes sem saber o que fazer. Um garoto a ajuda
a recolher a bolsa. Na queda, os ovos haviam se
quebrado. As gemas e as claras escorriam,
umedencendo as tramas da bolsa de tricô. O bonde
seguiu seu caminho. Atordoada que estava, perde o
ponto em que pretendia descer. Caminha a esmo até
chegar a um lugar conhecido, o Jardim botânico. Ela
entra lá e permanece, até a hora de fechar. Volta pra
casa. Tenta agir normalmente, mas o pensamento
ainda voava.
SinopseSinopse
16
- Ana – mulher, esposa, mãe, vagante e divagante
- Cego parado no ponto – homem que masca chiclete
- Marido – homem de hábitos rotineiros
- Filhos – apenas mencionados
- Empregada – apenas mencionada
- Visitantes – irmãos do marido e respectivas esposas
Personagens por ordem de aparição:Personagens por ordem de aparição:
17
Trecho 1:
A viagem para a casaA viagem para a casa
ouou
para dento de sipara dento de si
18
Atentar para a tensão entre:
lampejos de percepção da
insuficiência/insatisfação
e
tentativas de autosugestão
19
Um pouco cansada, com as compras deformando o
novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o
volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-
se então no banco procurando conforto, num suspiro
de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e
sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para
si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A
cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava
estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as
sementes que tinha na mão, não outras, mas essas
apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos.
20
Um pouco cansada, com as compras deformando o
novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o
volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-
se então no banco procurando conforto, num suspiro
de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e
sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para
si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A
cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava
estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as
sementes que tinha na mão, não outras, mas essas
apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos.
Percepção da insuficiência/insatisfação
21
Um pouco cansada, com as compras deformando o
novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o
volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-
se então no banco procurando conforto, num suspiro
de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e
sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para
si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A
cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava
estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as
sementes que tinha na mão, não outras, mas essas
apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos.
Tentativas de autossugestão
22
Trecho 2:
Balanço existencialBalanço existencial
23
Discrepância entre:
Ordem externa
e
Caos interno
24
... e era de se ver o modo como cortava blusas para os
meninos, a grande tesoura dando estralidos na
fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico
encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias
realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo
decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima
desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível
de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma
aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão
do homem.
25
... e era de se ver o modo como cortava blusas para os
meninos, a grande tesoura dando estralidos na
fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico
encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias
realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo
decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima
desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível
de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma
aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão
do homem.
A ordem externaA ordem externa
26
... e era de se ver o modo como cortava blusas para os
meninos, a grande tesoura dando estralidos na
fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico
encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias
realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo
decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima
desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível
de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma
aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão
do homem.
Caos interno
27
Fragmento de uma canção brega:
“Não, não posso parar,
Se paro eu penso,
Se penso eu choro.”
(Moacyr Franco / David Nasser / Nelsinho )
28
Trecho 3:
Pensar é muito perigoso.Pensar é muito perigoso.
O melhor é fugirO melhor é fugir
29
Oscilação entre:
Risco do ócio
e
Opção pela fuga
30
Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores
que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia
sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da
família distribuído nas suas funções. Olhando os
móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em
espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse
ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer
compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando
voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do
colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua
tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o
quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos,
31
Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores
que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia
sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da
família distribuído nas suas funções. Olhando os
móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em
espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse
ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer
compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando
voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do
colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua
tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o
quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos,
O risco do ócioO risco do ócio
32
Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores
que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia
sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da
família distribuído nas suas funções. Olhando os
móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em
espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse
ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer
compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando
voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do
colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua
tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o
quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos,
Necessidade da fugaNecessidade da fuga
33
Turning Point
34
Pré-requisito conceitual:
epifania
35
O termo epifania pode ser entendido em sentido
místico-religioso ou literário. No primeiro sentido,
significa o aparecimento de uma divindade e uma
manifestação espiritual. Aplicado à literatura, o termo
sugere o relato de uma experiência que a princípio se
mostra simples e rotineira, mas que acaba por
apresentar toda a força de uma inusitada revelação.
Ou seja, a partir de uma epifania, a personagem passa
a ter uma nova visão da realidade e/ou de si.
A epifaniaA epifania
http://www.revistadeletras.ufc.br/rl28Art13.pdf
36
O bonde se arrasta, em seguida estacava. (...) Foi
então que olhou para o homem parado no ponto. (...).
Era um cego. O que havia mais que fizesse Ana se
aprumar em desconfiança? Então ela viu: o cego
mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
(...). Sem sofrimento, com os olhos abertos. O
movimento de mastigação fazia-o parecer sorrir e de
repente deixar de sorrir (...) como se ele a estivesse
insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a
impressão de uma mulher com ódio.
A epifania deflagrada por algo banalA epifania deflagrada por algo banal
37
o bonde deu uma arrancada súbita (...), o pesado saco
de tricô despencou-se do colo, (...) O moleque dos
jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se
haviam quebrado no embrulho (...). Poucos instantes
depois (o bonde) se sacudia nos trilhos e o cego
mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal
estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima
como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e
estar num bonde era um fio partido;
A epifania deflagrada por algo banalA epifania deflagrada por algo banal
38
Mantinha tudo em serena compreensão (...) – tudo
feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um
cego mascando goma despedaçava tudo isso. (...)
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto
(...) desceu do bonde com pernas débeis (...) não
conseguia orientar-se (...). Era uma rua comprida (...).
Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais (...)
atravessou os portões do Jardim Botânico.
Consciência do caos instaurado ou reveladoConsciência do caos instaurado ou revelado
39
A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua
respiração. Ela adormecia dentro de si. (...)
Ao seu redor havia ruídos serenos (...). Tudo era
estranho, suave demais, grande demais. (...) E de
repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa
emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do
qual ela começava a se aperceber. (...)
A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a
guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um
mundo faiscante, sombrio, (...). Mas quando se
lembrou das crianças (...) avançou pelo atalho (...)
sacudiu (os portões). O vigia apareceu espantado (...)
No Jardim BotânicoNo Jardim Botânico
40
Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as
maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela
brilhavam, a lâmpada brilhava – que nova terra era
essa? (...) O menino que se aproximou correndo era
um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que
corria e a abraçava. Apertou-o com força, com
espanto. (...) Ela amava o mundo, amava o que fora
criado – amava com nojo. (...) O que faria se seguisse
o chamado do cego? Iria sozinha... (...)
Sentia as costelas delicadas da criança (...), ouviu o
seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino.
Afastou-o (...) não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe.
Do que percebeu ao ‘voltar’ para a realidadeDo que percebeu ao ‘voltar’ para a realidade
41
Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as
maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela
brilhavam, a lâmpada brilhava – que nova terra era
essa? (...) O menino que se aproximou correndo era
um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que
corria e a abraçava. Apertou-o com força, com
espanto. (...) Ela amava o mundo, amava o que fora
criado – amava com nojo. (...) O que faria se seguisse
o chamado do cego? Iria sozinha... (...)
Sentia as costelas delicadas da criança (...), ouviu o
seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino.
Afastou-o (...) não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe.
Do que percebeu ao ‘voltar’ para a realidadeDo que percebeu ao ‘voltar’ para a realidade
42
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-
se rompido na crosta e a água escapava. (...)
O Jardim Botânico, tranquilo e alto, lhe revelava. Com
horror descobria que pertencia à parte forte do mundo
– e que nome se deveria dar à sua misericórdia
violenta? Seria obrigada a beijar o leproso, pois nunca
seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de
mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida
porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos
ardentes.
De como se percebeu nessa ‘volta’ à realidadeDe como se percebeu nessa ‘volta’ à realidade
43
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-
se rompido na crosta e a água escapava. (...)
O Jardim Botânico, tranquilo e alto, lhe revelava. Com
horror descobria que pertencia à parte forte do mundo
– e que nome se deveria dar à sua misericórdia
violenta? Seria obrigada a beijar o leproso, pois nunca
seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de
mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida
porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos
ardentes.
De como se percebeu nessa ‘volta’ à realidadeDe como se percebeu nessa ‘volta’ à realidade
44
Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca
entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família.
Cansados do dia, felizes em não discordar, tão
dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o
coração bom e humano. (...). E como a uma borboleta,
Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele
nunca mais fosse seu.
Usufruir o efêmero da delicadeza cotidianaUsufruir o efêmero da delicadeza cotidiana
45
O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? (...)
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado
em toda a casa! pensou correndo para a cozinha (...)
– O que foi? Gritou vibrando toda. (...)
– Não foi nada, disse, sou um desajeitado. (...) Mas
diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior
atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
– Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
(...) É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto
(...) que pareceu natural, segurou a mão da mulher,
levando-a consigo (...) afastando-a do perigo de viver.
Por amor à sua vida e família, Ana diz simPor amor à sua vida e família, Ana diz sim
46
Interpretação
47
Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o
entrechoque de mundos e fronteiras, que se tornam
fluidos e erradios como o que é dado ao leitor a
compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e
seus filhos (...) E, como se pouco a pouco se
desnudasse uma estratégia, o cotidiano vai-se
desnudando como um ambiente falsamente estável,
(...) vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de
súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo
marcado pela ameaça de nada acontecer. (...) os laços
que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao
mesmo tempo de afeto e de aprisionamento.
Segundo Lúcia Helena, da Brown UniversitySegundo Lúcia Helena, da Brown University
48
Fragmento de uma poema clássico:
“Perdi-me dentro de mim,
Porque eu era labirinto,
e hoje, quando me sinto,
é com saudades de mim” -1914
(Mário de Sá Carneiro)
49
o poema Dispersão, de Mário de Sá Carneiro,
apresenta imagens que reafirmam a insatisfação do
poeta frente ao mundo (...) tem-se um eu que anseia
reunir-se, mas que sempre acaba por se dissipar,
perdido dentro se si, por ser labirinto.
Segundo André Amora,
50
Conforme a mitologia, Teseu, um jovem herói
ateniense, sabendo que a sua cidade deveria entregar
sete rapazes e sete moças, para serem devorados pelo
insaciável Minotauro, solicitou ser incluído entre eles.
Em Creta, encontrando-se com Ariadne, a filha do rei
Minos, recebeu dela um novelo que deveria desenrolar
ao entrar no labirinto, onde vivia o Minotauro.
Teseu adentrou o labirinto, matou o Minotauro e, com
a ajuda do fio que desenrolara, encontrou o caminho
de volta.
Retornando a Atenas levou consigo a princesa.
Teseu, o Minotauro e AriadneTeseu, o Minotauro e Ariadne
51
Ao mergulhar no labirinto de si mesma, Ana
identifica-se com Teseu. Tal viagem exige dela
coragem para confrontar o Minotauro (suas
frustrações, insatisfações e insuficiências). No entanto,
de certa maneira, a experiência foge um pouco do
controle e ela corre o risco de perder-se para sempre.
Mesmo após voltar para casa, sente-se insegura e
dividida. Uma parte sua quer voltar à vida normal;
outra parte cogita abandonar tudo. É nesse momento,
que o amor que ela sente pelo marido e pelos filhos,
serve-lhe de fio de Ariadne, para que ela consiga sair
do labirinto.
Do amor, como o fio de AriadneDo amor, como o fio de Ariadne
52
Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
Era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
Onde a palavra parece encontrar
Sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
Viveu por nós
Em forma de história
Em forma de sonho de história
Em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata ou um anjo?)
Visão de Clarice Lispector – C Drummond
Referências eletrônicas e bibliográficas:Referências eletrônicas e bibliográficas:
http://www.positive-magazine.com/photography/arnau-oriol-commuters/
http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literatura/clarice_lispecto
r/bibliografia_noBrasil.html
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-paixao-de-clarice-lispector/
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cla_esp1.htm
http://claricelispectorims.com.br/files/uploads/books/book_34.pdf
http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/10726/10726_6.PDF
http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/93/artigo3108
94-1.asp

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  • 1. 1 Amor – in: Laços de Família, 1960Amor – in: Laços de Família, 1960 Prof. Welington FernandesProf. Welington Fernandes
  • 2. 2 Esboço biográfico de Clarice LispectorEsboço biográfico de Clarice Lispector Em Set/1919, uma judia chamada Mania foi estuprada por soldados russos e contraiu sífilis. Mania e seu marido, Pinkhas, decidiram ter um filho na esperança de encontrar a cura. O nascimento da menina, em 1920, contudo, não cessou o sofrimento de sua mãe, que faleceria dez anos mais tarde. Clarice vem para o Brasil aos dois meses de idade. Tem a infância marcada por dificuldades financeiras. A família então se transfere para o Rio de Janeiro. No jornalismo, aproxima-se de escritores como Fernando Sabino e Rubem Braga. Em 1941, passa a frequentar o bar "Recreio", na Cinelândia, ponto de encontro de autores como Vinicius de Moraes e Rachel de Queiroz. Entre 1948 e 1953, Clarice tem seus dois filhos. Em 1959, separa-se do marido e regressa ao Brasil. Em 1966, a escritora dorme com um cigarro aceso. Passou 3 dias sob o risco de morte. Em 1968, participa da "Passeata dos 100 mil”, contra a ditadura militar. Em 1977, publica A hora da estrela. Morre nesse mesmo ano.
  • 3. 3 Segundo Antonio Candido, “Raramente é dado encontrar um escritor que, como o Mário de Andrade, de Macunaíma, procura estender o domínio da palavra sobre regiões mais complexas e mais inexprimíveis (...). Por isso, tive verdadeiro choque ao ler o romance diferente que é Perto do coração selvagem. A intensidade com que sabe escrever e a rara capacidade da vida interior poderão fazer desta jovem escritora um dos valores mais sólidos e, sobretudo, mais originais da nossa literatura”. Fortuna críticaFortuna crítica
  • 4. 4 “Meus livros felizmente não são superlotados de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo” “O que sou então? Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. (...) Sou sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” "Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo". Clarice por ClariceClarice por Clarice
  • 5. 5 O tradutor Gregory Rabassa recordava ter ficado "pasmo ao encontrar aquela pessoa rara, que era parecida com Marlene Dietrich e escrevia como Virginia Woolf". Fortuna críticaFortuna crítica
  • 6. 6 Algumas de suas obras mais importantesAlgumas de suas obras mais importantes • Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: A Noite, 1944. • Laços de Família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960. • A Maçã no Escuro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1961 • A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1964. • Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. RJ: Sabiá, 1969. • Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971. • A Imitação da Rosa. Rio de Janeiro: Artenova, 1973 • Água-Viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973. • A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
  • 7. 7 Algumas de suas obras mais importantesAlgumas de suas obras mais importantes • Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: A Noite, 1944. • Laços de Família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960. • A Maçã no Escuro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1961 • A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1964. • Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. RJ: Sabiá, 1969. • Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971. • A Imitação da Rosa. Rio de Janeiro: Artenova, 1973 • Água-Viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973. • A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
  • 8. 8 O governo de JK entrou para história como o de mais expressivo crescimento da economia do país. O lema do governo foi “Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo”. Para cumprir com esse objetivo, o governo federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial, com investimentos na produção. No entanto, o excessivo controle estrangeiro sobre a economia brasileira representou grandes perdas para o país. A gestão de JK também foi marcada pela implementação de um ambicioso programa de obras públicas com destaque para a construção da nova capital federal, Brasília. Contexto histórico: 1956-1961
  • 9. 9 Clarice Lispector – (Clarice Lispector – (1920 –1977)
  • 11. 11 William James (1842-1910) definia a vida mental como um fluxo, um dado imediato da introspecção. Também Daniel Dennett (1942), em 1992, descreve a consciência como um fluxo errático, produzida pelo que ele chamou de máquina joyceana. Dennett nega a ideia de que a consciência forme uma unidade. Na verdade, o cérebro produz, continuamente, várias versões sobre percepções, sensações e emoções, das quais algumas são adotadas, outras são abandonadas. A sensação de que existe um fluxo de consciência único é formada a partir de aparições momentâneas de algumas dessas versões no foco da atenção. (João Teixeira) Conceito de fluxo de consciênciaConceito de fluxo de consciência
  • 12. 12 O fluxo de consciência é um procedimento narrativo próprio da literatura do século XX que procura representar/simular a experiência psíquica (sobretudo a anterior à formulação linguística). Como se fosse dada ao leitor a possibilidade de contemplar a amálgama de impressões, sensações e percepções do personagem no seu caótico nascedouro. Embora não haja, propriamente, uma regra ou esquema para tal procedimento, quando ocorre fluxo de consciência, o texto pode apresentar-se: fragmentário, desarticulado, profuso, polifônico e não-linear. Fluxo de consciência na literaturaFluxo de consciência na literatura
  • 13. 13 ‘‘Amor’, em Laços de Família, 1960Amor’, em Laços de Família, 1960
  • 14. 14 Uma mulher, com as compras de mercado, pega um bonde para voltar para casa. No percurso, ela ingressa numa viagem para dentro de si mesma. Em tal balanço existencial, seu pensamento oscila entre frustração x autossugestão. Numa parada do bonde, a mulher avista um homem na calçada. Sem qualquer motivo consciente, ela se sente um tanto incomodada. Só então percebe que ele é cego e que está mascando chicletes. Essa conjunção, tão banal quanto sui generis, acaba por dominar-lhe o pensamento, de tal modo que a mulher se esquece de segurar. Com o súbito arranque do bonde, a mulher derruba suas SinopseSinopse
  • 15. 15 compras e solta um grito, assustada. O condutor para o carro para verificar o que houve. Constrangida, fica uns instantes sem saber o que fazer. Um garoto a ajuda a recolher a bolsa. Na queda, os ovos haviam se quebrado. As gemas e as claras escorriam, umedencendo as tramas da bolsa de tricô. O bonde seguiu seu caminho. Atordoada que estava, perde o ponto em que pretendia descer. Caminha a esmo até chegar a um lugar conhecido, o Jardim botânico. Ela entra lá e permanece, até a hora de fechar. Volta pra casa. Tenta agir normalmente, mas o pensamento ainda voava. SinopseSinopse
  • 16. 16 - Ana – mulher, esposa, mãe, vagante e divagante - Cego parado no ponto – homem que masca chiclete - Marido – homem de hábitos rotineiros - Filhos – apenas mencionados - Empregada – apenas mencionada - Visitantes – irmãos do marido e respectivas esposas Personagens por ordem de aparição:Personagens por ordem de aparição:
  • 17. 17 Trecho 1: A viagem para a casaA viagem para a casa ouou para dento de sipara dento de si
  • 18. 18 Atentar para a tensão entre: lampejos de percepção da insuficiência/insatisfação e tentativas de autosugestão
  • 19. 19 Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou- se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos.
  • 20. 20 Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou- se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos. Percepção da insuficiência/insatisfação
  • 21. 21 Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou- se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. (...). Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. (...) cresciam seus filhos. Tentativas de autossugestão
  • 24. 24 ... e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estralidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
  • 25. 25 ... e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estralidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem. A ordem externaA ordem externa
  • 26. 26 ... e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estralidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem. Caos interno
  • 27. 27 Fragmento de uma canção brega: “Não, não posso parar, Se paro eu penso, Se penso eu choro.” (Moacyr Franco / David Nasser / Nelsinho )
  • 28. 28 Trecho 3: Pensar é muito perigoso.Pensar é muito perigoso. O melhor é fugirO melhor é fugir
  • 29. 29 Oscilação entre: Risco do ócio e Opção pela fuga
  • 30. 30 Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos,
  • 31. 31 Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos, O risco do ócioO risco do ócio
  • 32. 32 Certa hora da tarde era mais perigosa (...) as árvores que plantara riam dela. (...) quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas (...) não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto. (...) saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, (...). Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração.(...) estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos, Necessidade da fugaNecessidade da fuga
  • 35. 35 O termo epifania pode ser entendido em sentido místico-religioso ou literário. No primeiro sentido, significa o aparecimento de uma divindade e uma manifestação espiritual. Aplicado à literatura, o termo sugere o relato de uma experiência que a princípio se mostra simples e rotineira, mas que acaba por apresentar toda a força de uma inusitada revelação. Ou seja, a partir de uma epifania, a personagem passa a ter uma nova visão da realidade e/ou de si. A epifaniaA epifania http://www.revistadeletras.ufc.br/rl28Art13.pdf
  • 36. 36 O bonde se arrasta, em seguida estacava. (...) Foi então que olhou para o homem parado no ponto. (...). Era um cego. O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles. (...). Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento de mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir (...) como se ele a estivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. A epifania deflagrada por algo banalA epifania deflagrada por algo banal
  • 37. 37 o bonde deu uma arrancada súbita (...), o pesado saco de tricô despencou-se do colo, (...) O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho (...). Poucos instantes depois (o bonde) se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito. A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; A epifania deflagrada por algo banalA epifania deflagrada por algo banal
  • 38. 38 Mantinha tudo em serena compreensão (...) – tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. (...) Só então percebeu que há muito passara do seu ponto (...) desceu do bonde com pernas débeis (...) não conseguia orientar-se (...). Era uma rua comprida (...). Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais (...) atravessou os portões do Jardim Botânico. Consciência do caos instaurado ou reveladoConsciência do caos instaurado ou revelado
  • 39. 39 A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si. (...) Ao seu redor havia ruídos serenos (...). Tudo era estranho, suave demais, grande demais. (...) E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber. (...) A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, (...). Mas quando se lembrou das crianças (...) avançou pelo atalho (...) sacudiu (os portões). O vigia apareceu espantado (...) No Jardim BotânicoNo Jardim Botânico
  • 40. 40 Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava – que nova terra era essa? (...) O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. (...) Ela amava o mundo, amava o que fora criado – amava com nojo. (...) O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... (...) Sentia as costelas delicadas da criança (...), ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o (...) não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. Do que percebeu ao ‘voltar’ para a realidadeDo que percebeu ao ‘voltar’ para a realidade
  • 41. 41 Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava – que nova terra era essa? (...) O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. (...) Ela amava o mundo, amava o que fora criado – amava com nojo. (...) O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... (...) Sentia as costelas delicadas da criança (...), ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o (...) não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. Do que percebeu ao ‘voltar’ para a realidadeDo que percebeu ao ‘voltar’ para a realidade
  • 42. 42 Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam- se rompido na crosta e a água escapava. (...) O Jardim Botânico, tranquilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo – e que nome se deveria dar à sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar o leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. De como se percebeu nessa ‘volta’ à realidadeDe como se percebeu nessa ‘volta’ à realidade
  • 43. 43 Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam- se rompido na crosta e a água escapava. (...) O Jardim Botânico, tranquilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo – e que nome se deveria dar à sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar o leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. De como se percebeu nessa ‘volta’ à realidadeDe como se percebeu nessa ‘volta’ à realidade
  • 44. 44 Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. (...). E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu. Usufruir o efêmero da delicadeza cotidianaUsufruir o efêmero da delicadeza cotidiana
  • 45. 45 O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? (...) Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha (...) – O que foi? Gritou vibrando toda. (...) – Não foi nada, disse, sou um desajeitado. (...) Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago. – Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela. (...) É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto (...) que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo (...) afastando-a do perigo de viver. Por amor à sua vida e família, Ana diz simPor amor à sua vida e família, Ana diz sim
  • 47. 47 Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e fronteiras, que se tornam fluidos e erradios como o que é dado ao leitor a compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e seus filhos (...) E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, (...) vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer. (...) os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento. Segundo Lúcia Helena, da Brown UniversitySegundo Lúcia Helena, da Brown University
  • 48. 48 Fragmento de uma poema clássico: “Perdi-me dentro de mim, Porque eu era labirinto, e hoje, quando me sinto, é com saudades de mim” -1914 (Mário de Sá Carneiro)
  • 49. 49 o poema Dispersão, de Mário de Sá Carneiro, apresenta imagens que reafirmam a insatisfação do poeta frente ao mundo (...) tem-se um eu que anseia reunir-se, mas que sempre acaba por se dissipar, perdido dentro se si, por ser labirinto. Segundo André Amora,
  • 50. 50 Conforme a mitologia, Teseu, um jovem herói ateniense, sabendo que a sua cidade deveria entregar sete rapazes e sete moças, para serem devorados pelo insaciável Minotauro, solicitou ser incluído entre eles. Em Creta, encontrando-se com Ariadne, a filha do rei Minos, recebeu dela um novelo que deveria desenrolar ao entrar no labirinto, onde vivia o Minotauro. Teseu adentrou o labirinto, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio que desenrolara, encontrou o caminho de volta. Retornando a Atenas levou consigo a princesa. Teseu, o Minotauro e AriadneTeseu, o Minotauro e Ariadne
  • 51. 51 Ao mergulhar no labirinto de si mesma, Ana identifica-se com Teseu. Tal viagem exige dela coragem para confrontar o Minotauro (suas frustrações, insatisfações e insuficiências). No entanto, de certa maneira, a experiência foge um pouco do controle e ela corre o risco de perder-se para sempre. Mesmo após voltar para casa, sente-se insegura e dividida. Uma parte sua quer voltar à vida normal; outra parte cogita abandonar tudo. É nesse momento, que o amor que ela sente pelo marido e pelos filhos, serve-lhe de fio de Ariadne, para que ela consiga sair do labirinto. Do amor, como o fio de AriadneDo amor, como o fio de Ariadne
  • 52. 52 Clarice, veio de um mistério, partiu para outro Ficamos sem saber a essência do mistério. Ou o mistério não era essencial, Era Clarice viajando nele. Era Clarice bulindo no fundo mais fundo, Onde a palavra parece encontrar Sua razão de ser, e retratar o homem. O que Clarice disse, o que Clarice Viveu por nós Em forma de história Em forma de sonho de história Em forma de sonho de sonho de história (no meio havia uma barata ou um anjo?) Visão de Clarice Lispector – C Drummond
  • 53. Referências eletrônicas e bibliográficas:Referências eletrônicas e bibliográficas: http://www.positive-magazine.com/photography/arnau-oriol-commuters/ http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literatura/clarice_lispecto r/bibliografia_noBrasil.html http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-paixao-de-clarice-lispector/ http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cla_esp1.htm http://claricelispectorims.com.br/files/uploads/books/book_34.pdf http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/10726/10726_6.PDF http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/93/artigo3108 94-1.asp