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Educação Unisinos
11(1):15-21, janeiro/abril 2007
© 2007 by Unisinos
Resumo: A história da sociedade ocidental na perspectiva da educação está intimamente
ligada às grandes transformações do mundo do trabalho. Na sociedade rural, o saber passava
de uma geração à outra na própria experiência vivida. O modo de agir e de pensar, portanto,
era muito mais uma herança familiar e comunitária do que nos dias de hoje, em que existe
maior diversidade de influências. A sociedade industrial, pressionada pela necessidade de
trabalhadores com competência para trabalhar nas máquinas, portanto, com saberes
específicos e disciplina de fábrica, abriu a escola para as classes pobres. Estes a inseriram em
seus projetos. Na sociedade pós-industrial, onde a hegemonia do trabalho imaterial necessita
de um trabalhador intelectual criativo, as exigências ao nível da educação passam a ser
outras. Em todos esses tempos, contra as perversidades do capitalismo, as populações
tiveram que produzir espaços de resistências e de insurreições. Neste texto, pretendo
abordar essas questões. Para tanto, haverá nele dois movimentos: no primeiro, no limite de
um artigo, farei uma incursão nas transformações do mundo do trabalho tendo em vista as
sociedades industrial e pós-industrial; no segundo, tentarei entender as necessidades gerais
da educação para o novo contexto.
Palavra-chave: educação, trabalho, capitalismo pós-industrial.
Abstract: From the perspective of education, the history of Western society is intimately
linked with the major transformations in the world of labor. In rural society, knowledge was
passed on from one generation to the next in lived experience itself. Thus, people’s way of
acting and thinking was a family and community legacy to a much greater extent than it is
today, when there is a greater diversity of influences. Since industrial society needed workers
with the necessary competence to operate the machines – i.e., with specific knowledge
and shop floor discipline –, it opened up the school to the poor. The latter included it in
their life project. In post-industrial society, where the hegemony of immaterial labor requires
a creative intellectual worker, the demands in terms of the level of education or training
have changed. During all these periods, people had to create spaces of resistance and
insurrection against the perversities of capitalism. This paper discusses these issues in two
steps. In the first one it examines the transformations in the world of labor in relation to
industrial and post-industrial society. In the second it tries to understand the general
educational needs for the new context.
Key words: education, labor, post-industrial capitalism.
Do capitalismo industrial ao pós-industrial
Reflexões sobre trabalho e educação
From industrial to post-industrial capitalism
Reflections on labor and education
Ivete Keil
ivetek@hotmail.com
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16
Educação Unisinos
Ivete Keil
É desastrosa a noite em que todos os
gatos são pardos – ela sempre nos
confunde.
O mundo do trabalho
As sociedades ocidentais passa-
ram ao longo de sua história por trans-
formações importantes definindo di-
ferentes modos de produção. Eviden-
temente, cada uma ao seu ritmo. Ou
seja, as sociedades passaram da pro-
dução rural para a industrial e da in-
dustrial para a pós-industrial.1
Algu-
masvivemumparadoxo.Porumlado,
continuam com alta produção agríco-
la, por outro, desenvolvem indústrias
e tentam, também, entrar na dinâmica
do trabalho imaterial. Assim, alguns
países convivem, ao mesmo tempo,
comasociedaderural,industrialepós-
industrial. O Brasil é um deles.
A primeira revolução começa na
EuropaemmeadosdoséculoXVIII,e,
ao longo do século XIX, a sociedade
agrária(com7milanos)dálugaràsoci-
edadeindustrial(quedurará200anos).
Oritmodavidadeixadesercontrolado
pelas estações do ano, tornando-se
mais dinâmico. Sob o ponto de vista
econômico,inicia-seamodernidade.A
Inglaterradeixa,porprimeiro,aecono-
mia agrária e artesanal para entrar na
era industrial, a Alemanha e a França
em seguida, e depois outros.As socie-
dades estamentais se transformam em
sociedades de classes, isto é, o poder
passa das mãos dos proprietários de
terra (aristocracia rural) para as mãos
dos proprietários dos meios de produ-
ção industriais (burguesia industrial).
Evidentemente, essa passagem não foi
simples.Foiumtempodeinquietações
até que os contornos da nova socieda-
de se mostrassem definidos.
A sociedade industrial nasce com
o iluminismo. Isso tem duas conseqü-
ências imediatas: a recusa das expli-
cações mítico-religiosas dos fenôme-
nos naturais e a recusa do campo das
emoções. O iluminismo coloca a raci-
onalidade no centro, e a indústria se
aproveita disso. O trabalho, e as no-
vas relações que o organizam, adqui-
re centralidade na consciência, no
pensamento e na imaginação de toda
a população. Desempenha, pois, uma
funçãosocialmenteidentificadaenor-
malizada na produção e reprodução
do social (Gorz, 1997, p. 25). O traba-
lho,nestafasedocapitalismo,temuma
enorme força de socialização, de nor-
malização e de estandardização – re-
primindo ou limitando a invenção, a
criação, a autodeterminação individu-
al ou coletiva de necessidades e de
novas competências (Gorz, 1997, p.
15). Bem entendido, sendo específico
ao capitalismo industrial, trata-se do
trabalho como negação do seu senti-
do antropológico ou filosófico. Nele,
a sensibilidade e o corpo do trabalha-
dor são reduzidos ao utilitário, e ele
perde o sentido de realização de si.
Acontece que, nesses países, hou-
veumatransformaçãoprofundanosis-
tema de trabalho, passando da
hegemonia da produção de bens ru-
rais para a hegemonia de bens indus-
triais (produzidos em larga escala).As
conseqüências na estrutura da socie-
dadeforamextremamentesignificativas.
Em grande medida, modificam-se as
instituições políticas, sociais e econô-
micas. No plano do sujeito, apesar da
sociedade industrial exaltar sua liber-
dade e emancipação, observa-se que,
com a industrialização, o trabalhador
perde o conhecimento e o controle so-
bre o processo produtivo. Nesse pro-
cessodealienação,antesdeseremcria-
das as condições necessárias para a
formação da individualidade, produz-
se um corpo dócil e homogeneizado.
Tudograçasaosistemadisciplinarque
caracteriza o período.
Observa-se que o poder se movi-
menta em consonância com as trans-
formações das sociedades. Ora, na
sociedade feudal o poder era do tipo
soberania. Nele, a individualidade
permaneceu abaixo do limite da des-
crição (Foucault, 1975). A crônica
sobre um homem, um relato sobre sua
vida era um processo de heroificação.
A sociedade disciplinar (sociedade
industrial) mudou essa relação. A
descritibilidade passou a ser uma for-
ma de enquadramento disciplinar e
não mais de prestígio. Ou seja, a dis-
ciplina marca o momento em que se
efetua o que se poderia chamar a tro-
ca do eixo da individualização
(Foucault, 1975, p. 157).Além disso,
a disciplina fixa o corpo num espaço
e no ritmo de um tempo. O tempo e o
espaço da fábrica.
Para se ter uma idéia, o artesão,
antes da industrialização, trabalhava
em média quatro horas por dia; a so-
ciedade industrial inventou longas
jornadas de trabalho que iniciavam
na madrugada e terminavam somen-
te no final da tarde. Este esforço pelo
trabalho foi produzido, por um lado,
através da produção de um imaginá-
rio moral sobre ele, por outro, atra-
vés das punições – copiadas do mo-
delo judiciário. Na verdade, há uma
penalidade – perpétua – que atraves-
sa todos os pontos e controla todos
os instantes das instituições disci-
plinares (fábrica, escola, hospital, pri-
são, família), comparando, diferenci-
ando, hierarquizando, homogenei-
zando,normalizando(Foucault,1975,
p. 169).Aidéia que está no bojo des-
te processo é excluir aqueles que es-
tão fora do padrão estabelecido pelo
poder dominante, produzindo um tra-
balhador identificado como parte da
maquinaria, seu apêndice.
A sociedade industrial, com sua
produção em massa, foi possível por
causa do avanço tecnológico, mas
também organizacional. Neste senti-
do, a disciplina foi essencial. Embora
1
Bell, J. utilizando o esquema evolutivo em três níveis, designa três fases constitutivas da sociedade ocidental: 1) extrativa pré-industrial, 2) industrial-
fabricação e 3) pós-industrial-informação. The social framework of the information society, Mimeo.
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17
volume 11, número 1, janeiro • abril 2007
Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação
não se possa identificar com uma ins-
tituição nem com um aparelho, por
ser um tipo de poder, a disciplina fi-
cou a cargo das instituições, e a fá-
brica foi uma delas. Serviu para pro-
duzir corpos submissos e exercitados
para o trabalho.Adisciplina aumenta
as forças do corpo (em termos eco-
nômicos de utilidade) e diminui es-
sas mesmas forças (em termos de
política de obediência) (Foucault,
1975, p. 120). O que ocorre é o au-
mento de uma aptidão e o aprofun-
damento da dominação. Assim, toda
a sociedade industrial entrou no rit-
mo do trabalho, passando a ser ele o
eixo identitário em torno do qual as
identidades foram sendo produzidas.
Este modelo foi relevante para desen-
volver a riqueza em alguns países di-
tos desenvolvidos. Portanto, o
acúmulo de riqueza e de conhecimen-
to determinou a passagem da socie-
dade industrial para a pós-industrial.
As características da sociedade
pós-industrial são distintas das so-
ciedades anteriores. No plano do
poder, observa-se que o poder passa
das mãos dos proprietários dos mei-
os de produção de bens materiais,
portanto, da indústria, para as mãos
dos proprietários dos meios de pro-
dução de bens imateriais. Isso signi-
fica a passagem de um tipo de poder
a outro. A sociedade industrial ou
moderna precisou do poder discipli-
nar, a sociedade pós-industrial ou
pós-moderna (sociedade do conhe-
cimento e da informação) precisa de
uma pessoa criativa, não mais fixa
num espaço e no ritmo das máqui-
nas, como anteriormente. O poder
agora opera pelo controle, sem per-
der, é claro, sua dimensão disciplinar.
Observa-se, portanto, que a indús-
tria não produziu apenas produtos em
série, mas comportamentos. Princípi-
os e comportamentos, entre eles,
como vimos, a padronização e a raci-
onalidade (fechada), mas também a
objetividade e a especialização. Cada
trabalhador efetua diariamente a mes-
ma tarefa milhares de vezes. Tudo na
sociedade industrial se realiza em es-
cala industrial: na fábrica, na escola,
na prisão, no hospital, na família...
Claro que a sociedade industrial foi
capaz de grandes progressos: urba-
nização, comunicação em massa,
avanço da tecnologia, democratiza-
ção da educação2
... – e, foi capaz,
também, de gerar a sociedade pós-
industrial. Na sociedade pós-indus-
trial, as máquinas, cada vez mais in-
teligentes, substituem grande parte
da massa operária, dos trabalhado-
res do comércio...
Ambas, a sociedade industrial e a
pós-industrial, são sociedades capi-
talistas e implicam uma relação que
compreende quem explora e quem é
explorado, quem ordena e quem é or-
denado, quem subordina e quem é
subordinado. As transformações do
capitalismo provocadas pelas lutas
populares, pelo desenvolvimento de
novas tecnologias, pela ruína do Se-
gundo Mundo etc. apontam para uma
nova situação histórica de transfor-
mação entre o moderno e o pós-mo-
derno. Claro, muitos são os pontos
que devem ser conectados para se
compreender a passagem de um
modo de produção a outro.
Seja como for, observa-se que o
novo contexto possibilita a invenção
sem limites e exige uma pessoa cole-
tiva e mais livre. O capital não ofere-
ce mais o instrumento do trabalho,
como anteriormente o fazia, mas de-
pende da apropriação do conheci-
mento. O que está ocorrendo, por-
tanto, é uma grande mudança no qua-
dro paradigmático do trabalho e, con-
seqüentemente, na sociedade como
um todo.
Na sociedade pós-industrial, não
se produzem bens materiais em larga
escala, como na sociedade industri-
al, mas bens imateriais (serviço, in-
formação, estética...). Nesse proces-
so, pelas mesmas razões por que a
sociedade industrial não poderia dis-
pensar os bens agrícolas (apenas
pôde re-organizar o modo de produ-
ção com máquinas, adubos químicos
e pesticidas), a sociedade pós-indus-
trial não pode dispensar os bens in-
dustriais. Não pode dispensar os car-
ros, nem os eletrodomésticos. O que
a sociedade dispensa são os traba-
lhadores: a sociedade industrial dis-
pensou grande parte dos trabalhado-
res agrícolas, a sociedade pós-indus-
trial dispensa grande parte dos ope-
rários, dos gerentes, dos dirigentes,
enfim, dos trabalhadores industriais.3
Como se pode observar passamos da
sociedade rural à sociedade industri-
al e desta para a pós-industrial. Este
processo, em todos os níveis, apre-
senta importantes conseqüências.
Os novos tempos geram novos
comportamentos, novos princípios,
novos valores e novas necessidades.
Sem dúvida, sempre que aparece uma
nova configuração do tecido históri-
co, tem-se uma mudança na perspec-
tiva epistemológica. Com isso, a vi-
são sobre os fatos, sob o ponto de
vista prático, é modificada. Hoje, os
novos paradigmas trazidos pelo ca-
pitalismo cognitivo, sob o qual tem
lugar a sociedade pós-industrial –
mais ligados ao intelecto, à ética, à
estética, às emoções, à desestrutura-
ção do tempo e do espaço, à raciona-
lidade plural – exigem a produção de
novos modos de compreensão da
realidade, ou seja, de uma nova edu-
cação.
A educação é uma enorme ques-
tão a enfrentar nos dias atuais. Na
verdade, trata-se de um grande desa-
fio, na medida em que é necessário e
urgente encontrar um modo de de-
senvolver novas correntes de racio-
2
Claro que a democratização do ensino é um ato reformista, por não se referir à educação popular.
3
Para aprofundar essa questão, consulte Domenico De Masi. 1999. A Sociedade Pós-Industrial (organizador) São Paulo: Senac,444.
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18
Educação Unisinos
Ivete Keil
cínio, novas formas de pensar a vida,
a sociedade, o trabalho, o tempo li-
vre... – em perspectivas mais criati-
vas e inventivas. Não se trata ape-
nas de realizar pequenas aparas, mas,
sim, de elaborar grandes transforma-
ções. Diferentemente do que dizem
alguns, o eixo dessas transforma-
ções continua sendo o trabalho. Não
mais na sua forma material, mas
imaterial. Trabalho que exige o de-
senvolvimento de aptidões distintas
daquelas exigidas na sociedade in-
dustrial, sobretudo, aptidões ligadas
ao intelecto.
A propósito da educação
Na sociedade agrária, somente a
elite tinha acesso ao ensino. Na so-
ciedade industrial, como requisito ao
mundo do trabalho industrial, a edu-
cação formal foi democratizada, pas-
sando a atender diferentes classes
sociais e faixas etárias. Neste perío-
do, a educação teve uma perspecti-
va disciplinar e, além de docilizar o
corpo, ensinar ritmo e organização
para o trabalho, visava ao controle
dos desejos. Evidentemente, o capi-
talismo industrial estava a exigir um
comportamento técnico-burocrático
voltado à indústria e à lógica do mer-
cado. Com isso, produziu uma sub-
jetividade-padrão, inibindo a capa-
cidade criativa. De fato, o objetivo
era fazer o maior número de coisas
no menor tempo possível. Na socie-
dade pós-industrial, era da informa-
ção e do conhecimento, na qual o
trabalho é realizado por máquinas e
computadores, a educação deve in-
fluenciar a produção de subjetivida-
des inventivas, isto é, subjetivida-
des pensantes com idéias criativas.4
Ela expressa uma forte tendência em
acompanhar todo o curso da vida das
pessoas, não apenas como elemen-
to de ingresso e continuidade no
exercício do trabalho heterônomo,
mas também como condição de cida-
dania ampliada (Pochmann, 2006).
A passagem da sociedade indus-
trial para a sociedade do conhecimen-
to, para Castells, sociedade intensi-
va de conhecimento (1997), designa
um período de dificuldades e sinali-
za uma ruptura de equilíbrio quer na
perspectiva social, individual, cultu-
ral ou econômica. O pensamento
abandona sua predominância linear,
tornando-se muito mais complexo e
se estruturando, predominantemen-
te, em rede. O pensamento em rede
(com seu largo fluxo de idéias) traz
um enorme potencial cognitivo
relativista, mas, também, exige o de-
senvolvimento de uma “ética comum
da responsabilidade” (Negri, 2000).
Toni Negri (2005) afirma, no de-
bate com Marilena Chauí, que
estamos na época do General
Intellect e, nela, a cooperação pro-
dutivanãoéimpostapelocapital,mas
é uma habilidade da força-trabalho
imaterial, do trabalho mental que só
pode ser cooperativo. Para o filóso-
fo, a chave da acumulação é o pró-
prio General Intellect. Seja como for,
na sociedade do conhecimento, da
força-trabalho desmaterializada, os
que não possuem as habilidades para
tratar a informação ou não têm os
conhecimentos que a rede valoriza
ficam totalmente excluídos. Fossos
e diferenciações profundos entre
grupos humanos estão sendo acele-
radamente abertos e expandidos.
Na prática, a sociedade pós-in-
dustrial gera uma enorme quantida-
de de informação.Ainformação pre-
cisa do conhecimento para ser apli-
cada e perder sua inutilidade. Por-
tanto, é a capacidade de pensar o
ponto diferenciador entre as pesso-
as e as sociedades. Cabe à educação
o desenvolvimento da capacidade de
pensar – investida como possibili-
dade de entrada na esfera da eman-
cipação individual e coletiva e na
esfera do trabalho imaterial. Todavia,
a educação no Brasil, presa ainda nos
ditames da sociedade industrial, não
está adequadamente conectada com
as transformações e valores da soci-
edade contemporânea, razão pela
qual não está conseguindo preparar
adequadamente as crianças e os jo-
vens. Para estar no seu tempo, ela (a
educação), qualificada em bases his-
tórico-sociais, portanto, politizada,
terá que produzir espaços visando à
produção de idéias (espaços produ-
toresdeidéias).Convéminsistir,mais
uma vez, que o trabalho imaterial de-
pende da criatividade, do pensamen-
to plural e da racionalidade aberta.
Milton Santos observa que
estamos diante de outra cognocibili-
dade no planeta. Neste horizonte,
constata o geógrafo, o conhecimen-
to deve nascer no interior da crítica,
sem abstrações alienantes, sem
incompletudes que possam dar mar-
gem a falsas compreensões a respei-
to de direitos, justiça, liberdades, nu-
trindo a desinteligência de setores
da população e encobrindo a razão
das desigualdades sociais (Santos,
2000).Épreciso,pois,reconhecereste
momento, suas peculiaridades e, so-
bretudo, as possibilidades que ele traz
em seu bojo. Aproveitar as possibili-
dades significa um esforço em dire-
ção às atividades intelectuais ligadas
à raridade, à inovação. Os elementos
inovadores é que serão capazes de
produzirvalor.
Ora, a mudança do quadro
paradigmático da sociedade, isto é,
a passagem da sociedade industrial
para a sociedade pós-industrial, im-
plica a morte de algumas formas de
trabalho, emprego e carreiras. Essas
esferas passam, efetivamente, por
um importante processo de mutação.
O fim da sociedade industrial con-
cretiza o fim da sociedade salarial e
exige outras formas de composição
econômica. Um aspecto importante
4
Nos Estados Unidos a indústria emprega atualmente, segundo Marcio Pochmann, apenas 13% do total dos ocupados e o setor agrário apenas 5%.
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volume 11, número 1, janeiro • abril 2007
Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação
é o maior valor atribuído ao conheci-
mento, à cultura, à arte, à estética, ao
lazer impondo novos campos de tra-
balho e carreira. No contexto pós-
industrial, a força produtiva depen-
de das forças intelectuais e científi-
cas do trabalhador. O capitalismo
cognitivo precisa extrair a mais valia
captando os fluxos sociais do traba-
lho cognitivo – o trabalho continua
como trabalho explorado com um
agravante: a cidadania aparece cada
vez mais fortemente articulada à ca-
pacidade de consumo.
Pois bem, esta época cognitiva
exige uma educação que, evidente-
mente, está sendo (ou está para ser)
inventada. No processo de invenção,
alguns pontos são essenciais e de-
vem ser considerados. De saída, não
se pode esquecer que a educação
deve qualificar, crianças e jovens,
para a vida futura. Neste sentido,
sobretudo, dois pontos aparecem na
cena do debate: o primeiro refere-se
à educação ligada ao processo
emancipatório; o segundo refere-se
à educação ligada ao trabalho (mate-
rial e imaterial). Em outros termos, li-
berdade e trabalho combinados com
a vida em coletivo. O que proponho
é um certo desaparecimento das fron-
teiras entre o político e o social, a
produtividade e a ética da vida.
O primeiro ponto engloba dois
movimentos fundamentais, isto é,
resistência e insurgência. Ambos
apontam para a educação política e
para a educação politizada. As pes-
soas devem saber recusar tutelas e
privilégios e tomar em suas próprias
mãos a defesa de seus direitos, inte-
resses e desejos. Nesta perspectiva,
será necessário dar um passo maior
do que o fez a sociedade industrial,
isto é, a educação deve possibilitar
que a sociedade compreenda as re-
lações de força em seu conjunto e,
assim, possa resistir à exploração e à
exclusão socioeconômica e, ao mes-
mo tempo, possa se insurgir, de al-
gum modo, buscando a elaboração
de novas idéias e de novos compor-
tamentos através de dispositivos de
cooperação que se formam e se es-
tendem pelo tecido social.
Para avançar nestas questões,
será útil pensar no conceito
espinosista de afetação, pois a sub-
jetividade é o resultado de um con-
junto de relações.Aconfiguração do
sujeito emancipado, portanto, apa-
rece mediante processos de apren-
dizagens – através dos quais são re-
tirados os véus da ignorância. Sabe-
mos todos que os movimentos de
resistência e de insurgência fazem
avançar o âmbito dos direitos, por-
que apontam não somente para a
esferapolíticapura,mastambémpara
a esfera ética e cultural.
Resistência e insurgência dizem
respeito aos políticos, aos profissio-
nais da educação, aos pais, aos es-
tudantes, enfim, a todos os interes-
sados em transformar a sociedade
brasileira na perspectiva de interes-
ses e desejos coletivos. A sociedade
industrial teve a educação como um
dos seus mecanismos de controle
social.5
Nesse período de transição
para a sociedade pós-industrial, mais
do que nunca, observa-se o apareci-
mento de múltiplos poderes e espa-
ços de poder antagônicos. Este an-
tagonismo, tendência da sociedade
pós-industrial, abre brechas nas
quais as relações de força podem
gravitar em torno da ética comum da
responsabilidade. Ou, pelo menos,
expandir e aprofundar sua gravitação
em torno deste eixo. Isso significa
aproveitar a situação na qual os sig-
nos, confiados ao trabalho vivo (que
constitui a forma criadora na socie-
dade), estão em descontrole. Ou seja,
o campo criativo do significado está
corroendo a possibilidade de um
controle absoluto sobre as lingua-
gens (Negri, 2005).
Com efeito, o controle exercido
pelo poder dominante está enorme-
mente prejudicado em seu equilíbrio.
Aliás, nenhum poder hoje pode con-
trolar as linguagens, uma vez que,
mais do que simples instrumentos de
comunicação, elas são imediatamen-
te produtivas.As multidões resistem
e se insurgem, seguindo dinâmicas
moleculares, reivindicando diferen-
ças, experimentando cruzamentos e
hibridações, forçando o poder a ad-
mitir seus limites. Essa dinâmica abre
enormes espaços de emancipação
coletiva. A educação pode explorar
estes espaços, criar outros e cami-
nhar para o equilíbrio entre a liberda-
de e a ordem.
O segundo ponto, isto é, a educa-
ção ligada à esfera do trabalho, abarca
não apenas a atividade produtiva, mas
aintegraamotivosontológicos.Opro-
jeto do capitalismo pós-industrial e
cognitivo é a modificação do quadro
paradigmático do trabalho, constituí-
do doravante por uma quantidade de
conhecimento suportado e posto em
produção pela “intelectualidade de
massa”(Negri,2005).Aforçaproduti-
va nasce dos sujeitos, se materializa e
se organiza na cooperação. Isso sig-
nifica que o trabalhador terá que ser
mais criativo, ter capacidade de ino-
vação, domínio de informações e
tecnologias, capacidade analítica, ca-
pacidade de interação e cooperação.
Entretanto, no Brasil, a educação con-
temporânea ainda não está consoante
com o mundo do trabalho.
O alto índice de desemprego de
trabalhadores escolarizados e a rela-
tiva facilidade de empregos para os
trabalhadores do chamado setor de
ponta, particularmente os que estão
5
Ao educador é dada a tarefa da divulgação e da reprodução ideológica. Esta tarefa está condicionada pelas relações de poder, pelo grau de polarização
política e pelo nível de organização dos movimentos sociais. Portanto, a insurgência e a resistência revelam um importante grau de politização por parte
daquele que resiste e/ou se insurge.
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20
Educação Unisinos
Ivete Keil
inseridos nos segmentos nobres das
empresas multinacionais, são
emblemáticos dessa realidade. Pois,
movida pelo capitalismo pós-indus-
trial, a sociedade salarial se transfor-
ma colocando populações, antes in-
cluídas, em zonas de precariedade
econômica e social, ou seja, há um
forte processo de desqualificação
social em movimento. Este processo
atinge não apenas os pobres, mas
populações economicamente favore-
cidas – redefinindo seu status social.
Observa Dominique Schnapper, refe-
rindo-se ao século XX: o desempre-
goéagangrenadoséculo(Schnapper,
1991), razão pela qual está se consti-
tuindo uma nova pobreza.
Ora, o pensamento liberal domi-
nante, base do capitalismo pós-in-
dustrial, tem um caráter fortemente
excludente. Nele, o que conta são as
competências individuais. No caso
do Brasil, observa-se que a grande
maioria dos trabalhadores está
despreparada para a competitividade
exigida pelo mercado, portanto, sem
possibilidade imediata para se inte-
grar no novo padrão de competên-
cia. Com efeito, os padrões de com-
petência que a escola brasileira de
hoje promove não correspondem aos
exigidos pelo mercado, pois a escola
ainda tem como base as necessida-
des impostas pelo capitalismo indus-
trial, submetendo o conjunto dos
processos educativos escolares ao
imediatismo da formação técnico-
profissional dura. Isso está aconte-
cendo apesar das demandas exigirem
novas competências. Para países
como o Brasil, a educação é a única
saída para superar o atraso
tecnológico e entrar com autonomia
na economia global.
Os dois pontos, isto é, a educa-
ção ligada ao processo emancipató-
rio e a educação ligada à esfera do
trabalho, em termos de desenvolvi-
mento de habilidades necessárias
(mas também de compreensão da ex-
ploraçãopelocapital),produzemuma
única realidade que conduz ao
engajamento na luta e na constru-
ção de uma nova sociedade muito
mais democrática, pois rompe com o
bloqueio da participação e do
autogoverno da população brasilei-
ra. Bloqueio, diga-se de passagem,
produzido pelo pacto liberal. Numa
perspectiva otimista, observa-se, por
um lado, a possibilidade de livrar o
trabalho da exploração, por outro, a
possibilidade de capacitar novas for-
ças de trabalho que criam o mundo
na perspectiva do bem comum. Cer-
tamente, as possibilidades dos tra-
balhadores, dos oprimidos se recom-
porão em novos termos.
Palavras finais
O capitalismo pós-industrial exi-
ge enormes investimentos em
tecnologia e competência neste cam-
po, assim como investimentos em
bens e serviços de maior valor agre-
gado. Os países que não desenvol-
vem investimentos nessas áreas não
poderão gerar postos de trabalho
com qualidade (ótima e boa) e remu-
neração condizente. Nesta perspec-
tiva, para as pessoas não ricas des-
ses países apenas resta o trabalho
precário e de execução, longas jor-
nadas de trabalho, baixa remunera-
ção e desemprego. Trabalhos precá-
rios e desemprego significam humi-
lhação, constrangimentos, dessoci-
alizaçãoeameaçamolaçosocial.Com
efeito, o capitalismo industrial con-
seguiu uma relativa integração soci-
al e estabilidade contratual pelo de-
senvolvimento econômico e pela
promessa de pleno emprego. Nele,
os mecanismos de redistribuição (ou
a promessa de) funcionaram como
instrumento de integração e luta con-
tra o processo de exclusão. O capita-
lismo pós-industrial aumenta a po-
breza existente, produz uma nova
pobreza, não consegue assegurar os
empregos e tenta destruir (e destrói)
as conquistas populares que força-
ram a criação do Estado de bem-es-
tar e, assim fazendo, coloca em risco
o pacto social. A estabilidade
contratual da sociedade contempo-
rânea somente estará assegurada
pela sua capacidade de gerar bons
postos de trabalho. No Brasil, o au-
mento da violência urbana e a gera-
ção de um Estado paralelo são prova
disso.
Ora, como vimos discutindo, os
acontecimentos contemporâneos
são conseqüência da racionalidade
econômica que se mostra no para-
doxo dos elevados ganhos de pro-
dutividade e da crescente precariza-
ção do trabalho e declínio do padrão
econômico dos trabalhadores. A
grande competição globalizada no
mundocapitalistaproduz,deumlado,
os fluxos migratórios (constituídos
tanto pela mão-de-obra altamente
qualificada como pela mão-de-obra
sem qualificação) em busca de me-
lhores condições, contribuindo para
o aumento dessa baixa remuneração
e precarização. E, de outro, o fluxo
migratório das plantas empresariais
em busca de trabalhadores a baixo
custo, causando um alto índice de
desemprego estrutural (empobrecen-
do enormemente grupos da popula-
ção mundial, regiões e países). Em-
bora esse nomadismo possa também
ser visto, ao mesmo tempo, como o
faz Negri, como insurreição, resistên-
cia e nova forma de luta em torno
das relações de poder, cada vez mais
mundializadas (Negri e Hardt, 2000).
Seja como for, não há uma pers-
pectiva positiva imediata contra o
projeto econômico imposto ao mun-
do pelo capitalismo pós-industrial.
Com efeito, não se vislumbra nos
dias de hoje uma reorganização po-
sitiva no universo do trabalho, ao
contrário. Entretanto, o que está em
jogo no jogo dos poderes é a inclu-
são/exclusão de pessoas, grupos,
regiões e países. Sabemos todos que
a exclusão socioeconômica é uma
construção, um produto histórico de
015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2420
21
volume 11, número 1, janeiro • abril 2007
Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação
mecanismos econômicos e sociais
(não sendo, pois, resultante de atri-
butos de uma pessoa isolada). Ela
resulta da ausência de emprego du-
rável que produz, por sua vez, a per-
da das relações sociais. Dubar é en-
fático ao observar que, para explicar
a exclusão, é preciso interrogar a evo-
lução das políticas de emprego, os
funcionamentos do mercado de tra-
balho, mas também as transforma-
ções da família, das políticas urba-
nas, dos bairros periféricos que re-
sultam da própria exclusão econômi-
ca. Para o sociólogo, não se pode
compreender nada a respeito do tema
sem uma profunda análise das insti-
tuições (incluindo a educação), da
integração econômica (emprego/de-
semprego) e da filiação social
(pertencimento a um coletivo)
(Dubar,1996).
Claro que a viabilização da inclu-
são socioeconômica no Brasil con-
temporâneo é possível, mas depen-
de da resolução dos seus entraves.
Isto é, depende dos interesses eco-
nômicos e políticos das elites diri-
gentes e da qualidade da educação
desencadeada por esses mesmos in-
teresses. A capacidade de conhecer
permite acesso à produção e, por
meio dela, às relações intersubjetivas
e à continuidade da sociedade. Por-
tanto, a educação formal (oferecida
nas escolas) e informal (realizada
pelo conjunto social), hoje, precisa
desenvolver uma ontologia do ser
imaterial inserido no trabalho
imaterial.6
A pessoa (incluída) será,
segundo alguns teóricos, social e
coletiva e determinará o valor da pro-
dução. Isto é, o trabalho será organi-
zado em formas comunicativas e lin-
güísticas, e o saber será, cada vez
mais, cooperativo. Portanto, a pro-
dução vai depender das conexões e
das relações que constituem o tra-
balho intelectual e lingüístico. Isso,
bem entendido, não põe fim à explo-
ração capitalista, apenas a organiza
de outro modo.Aliás, a expansão e o
aprofundamento da exclusão
socioeconômica são uma das tendên-
cias da sociedade pós-industrial.
Um projeto e execução de medi-
das positivas no campo da educa-
ção podem virar essa tendência. A
educação (política e politizada) é re-
conhecidamente um elemento essen-
cial na construção da sociedade, so-
bretudo, da sociedade calcada e
estruturada sobre informação e co-
nhecimento. Mas há urgência em
reconfigurar o modelo educacional
brasileiro. Ele deve projetar – para
todos – um modelo que considere
os espaços de conhecimento emer-
gentes, abertos, de produção contí-
nua, em fluxo e em rede, organizados
em diálogo entre objetivos e realida-
de.Aeducação no Brasil pode influ-
enciar a produção de subjetividades
capazes de lidar com as coisas do
mundo na perspectiva ética. Sabe-
mos o quanto as pessoas precisam
estar preparadas psicológica e etica-
mente para enfrentar as dificuldades
produzidas em uma sociedade em
transformação. Isto significa, na pers-
pectiva profissional, uma formação
que capacite a migração a campos
diversos, segundo desejos ou neces-
sidades, implicando, portanto, o de-
senvolvimento da capacidade de
pensar. Capacidade de pensar, por
sua vez, implicada na capacidade de
lidar com as mudanças, com a insta-
bilidade. Este é um desafio enorme;
outro desafio para a educação diz
respeito à emancipação. Em síntese:
o grande desafio hoje para a educa-
ção, no Brasil, é difundir os valores
democráticos e os valores republi-
canos tecendo com eles todas as re-
lações de trabalho e afetivas, a fim
de produzir uma socialidade, de fato,
democrática.
Referências
BELL, J. 1980, The social framework of
the information society. Mimeo.
CASTELLS, M. 1997. The rise of the
network society: The information age:
economy, society and culture. Oxford,
Blackwell, 314.
DUBAR, C. 1996. Socialisation et
processus. Paris, Découverte, 250.
FOUCAULT, M. 1975. Surveiller et pu-
nir. Paris, Gallimard, 320.
GORZ, A. 1997. Misere du présent: Richesse
du possible. Paris, Galilée, 230.
NEGRI, A. 2005. O comunismo da
imanência. In: Debate com Marilena
Chauí – promovido pelo Núcleo de
Estudos da Subjetividade e pelas pós-
graduações em Psicologia Clínica e Fi-
losofia da PUC-SP e Universidade Nô-
made. Mimeo.
NEGRI, T. e HARDT, M. 2000. Empire.
Paris, Exils, 80.
POCHMANN, M. 2006. O trabalho em
três tempos. Revista Ciência e Cultu-
ra, 54(4):160.
SANTOS, M. 2000. Por uma outra
globalização: Do pensamento único
à consciência universal. Rio de Janei-
ro, Record, 230.
SCHNAPPER, D. 1991. L’épreuve du
chômage. Paris, Gallimard, 260.
Submetido em: 04/12/2006
Aceito em: 24/01/2007
6
Entre as definições do trabalho imaterial está a de Toni Negri: conjunto das atividades intelectuais, comunicativas, afetivas, expressas pelos sujeitos
e movimentos sociais – que conduzem à produção.
Ivete Manetzeder Keil
Pesquisadora do Instituto Nacional
de Direitos da Infância, Adolescência
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Do capitalismo industrial ao pós industrial

  • 1. Educação Unisinos 11(1):15-21, janeiro/abril 2007 © 2007 by Unisinos Resumo: A história da sociedade ocidental na perspectiva da educação está intimamente ligada às grandes transformações do mundo do trabalho. Na sociedade rural, o saber passava de uma geração à outra na própria experiência vivida. O modo de agir e de pensar, portanto, era muito mais uma herança familiar e comunitária do que nos dias de hoje, em que existe maior diversidade de influências. A sociedade industrial, pressionada pela necessidade de trabalhadores com competência para trabalhar nas máquinas, portanto, com saberes específicos e disciplina de fábrica, abriu a escola para as classes pobres. Estes a inseriram em seus projetos. Na sociedade pós-industrial, onde a hegemonia do trabalho imaterial necessita de um trabalhador intelectual criativo, as exigências ao nível da educação passam a ser outras. Em todos esses tempos, contra as perversidades do capitalismo, as populações tiveram que produzir espaços de resistências e de insurreições. Neste texto, pretendo abordar essas questões. Para tanto, haverá nele dois movimentos: no primeiro, no limite de um artigo, farei uma incursão nas transformações do mundo do trabalho tendo em vista as sociedades industrial e pós-industrial; no segundo, tentarei entender as necessidades gerais da educação para o novo contexto. Palavra-chave: educação, trabalho, capitalismo pós-industrial. Abstract: From the perspective of education, the history of Western society is intimately linked with the major transformations in the world of labor. In rural society, knowledge was passed on from one generation to the next in lived experience itself. Thus, people’s way of acting and thinking was a family and community legacy to a much greater extent than it is today, when there is a greater diversity of influences. Since industrial society needed workers with the necessary competence to operate the machines – i.e., with specific knowledge and shop floor discipline –, it opened up the school to the poor. The latter included it in their life project. In post-industrial society, where the hegemony of immaterial labor requires a creative intellectual worker, the demands in terms of the level of education or training have changed. During all these periods, people had to create spaces of resistance and insurrection against the perversities of capitalism. This paper discusses these issues in two steps. In the first one it examines the transformations in the world of labor in relation to industrial and post-industrial society. In the second it tries to understand the general educational needs for the new context. Key words: education, labor, post-industrial capitalism. Do capitalismo industrial ao pós-industrial Reflexões sobre trabalho e educação From industrial to post-industrial capitalism Reflections on labor and education Ivete Keil ivetek@hotmail.com 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2415
  • 2. 16 Educação Unisinos Ivete Keil É desastrosa a noite em que todos os gatos são pardos – ela sempre nos confunde. O mundo do trabalho As sociedades ocidentais passa- ram ao longo de sua história por trans- formações importantes definindo di- ferentes modos de produção. Eviden- temente, cada uma ao seu ritmo. Ou seja, as sociedades passaram da pro- dução rural para a industrial e da in- dustrial para a pós-industrial.1 Algu- masvivemumparadoxo.Porumlado, continuam com alta produção agríco- la, por outro, desenvolvem indústrias e tentam, também, entrar na dinâmica do trabalho imaterial. Assim, alguns países convivem, ao mesmo tempo, comasociedaderural,industrialepós- industrial. O Brasil é um deles. A primeira revolução começa na EuropaemmeadosdoséculoXVIII,e, ao longo do século XIX, a sociedade agrária(com7milanos)dálugaràsoci- edadeindustrial(quedurará200anos). Oritmodavidadeixadesercontrolado pelas estações do ano, tornando-se mais dinâmico. Sob o ponto de vista econômico,inicia-seamodernidade.A Inglaterradeixa,porprimeiro,aecono- mia agrária e artesanal para entrar na era industrial, a Alemanha e a França em seguida, e depois outros.As socie- dades estamentais se transformam em sociedades de classes, isto é, o poder passa das mãos dos proprietários de terra (aristocracia rural) para as mãos dos proprietários dos meios de produ- ção industriais (burguesia industrial). Evidentemente, essa passagem não foi simples.Foiumtempodeinquietações até que os contornos da nova socieda- de se mostrassem definidos. A sociedade industrial nasce com o iluminismo. Isso tem duas conseqü- ências imediatas: a recusa das expli- cações mítico-religiosas dos fenôme- nos naturais e a recusa do campo das emoções. O iluminismo coloca a raci- onalidade no centro, e a indústria se aproveita disso. O trabalho, e as no- vas relações que o organizam, adqui- re centralidade na consciência, no pensamento e na imaginação de toda a população. Desempenha, pois, uma funçãosocialmenteidentificadaenor- malizada na produção e reprodução do social (Gorz, 1997, p. 25). O traba- lho,nestafasedocapitalismo,temuma enorme força de socialização, de nor- malização e de estandardização – re- primindo ou limitando a invenção, a criação, a autodeterminação individu- al ou coletiva de necessidades e de novas competências (Gorz, 1997, p. 15). Bem entendido, sendo específico ao capitalismo industrial, trata-se do trabalho como negação do seu senti- do antropológico ou filosófico. Nele, a sensibilidade e o corpo do trabalha- dor são reduzidos ao utilitário, e ele perde o sentido de realização de si. Acontece que, nesses países, hou- veumatransformaçãoprofundanosis- tema de trabalho, passando da hegemonia da produção de bens ru- rais para a hegemonia de bens indus- triais (produzidos em larga escala).As conseqüências na estrutura da socie- dadeforamextremamentesignificativas. Em grande medida, modificam-se as instituições políticas, sociais e econô- micas. No plano do sujeito, apesar da sociedade industrial exaltar sua liber- dade e emancipação, observa-se que, com a industrialização, o trabalhador perde o conhecimento e o controle so- bre o processo produtivo. Nesse pro- cessodealienação,antesdeseremcria- das as condições necessárias para a formação da individualidade, produz- se um corpo dócil e homogeneizado. Tudograçasaosistemadisciplinarque caracteriza o período. Observa-se que o poder se movi- menta em consonância com as trans- formações das sociedades. Ora, na sociedade feudal o poder era do tipo soberania. Nele, a individualidade permaneceu abaixo do limite da des- crição (Foucault, 1975). A crônica sobre um homem, um relato sobre sua vida era um processo de heroificação. A sociedade disciplinar (sociedade industrial) mudou essa relação. A descritibilidade passou a ser uma for- ma de enquadramento disciplinar e não mais de prestígio. Ou seja, a dis- ciplina marca o momento em que se efetua o que se poderia chamar a tro- ca do eixo da individualização (Foucault, 1975, p. 157).Além disso, a disciplina fixa o corpo num espaço e no ritmo de um tempo. O tempo e o espaço da fábrica. Para se ter uma idéia, o artesão, antes da industrialização, trabalhava em média quatro horas por dia; a so- ciedade industrial inventou longas jornadas de trabalho que iniciavam na madrugada e terminavam somen- te no final da tarde. Este esforço pelo trabalho foi produzido, por um lado, através da produção de um imaginá- rio moral sobre ele, por outro, atra- vés das punições – copiadas do mo- delo judiciário. Na verdade, há uma penalidade – perpétua – que atraves- sa todos os pontos e controla todos os instantes das instituições disci- plinares (fábrica, escola, hospital, pri- são, família), comparando, diferenci- ando, hierarquizando, homogenei- zando,normalizando(Foucault,1975, p. 169).Aidéia que está no bojo des- te processo é excluir aqueles que es- tão fora do padrão estabelecido pelo poder dominante, produzindo um tra- balhador identificado como parte da maquinaria, seu apêndice. A sociedade industrial, com sua produção em massa, foi possível por causa do avanço tecnológico, mas também organizacional. Neste senti- do, a disciplina foi essencial. Embora 1 Bell, J. utilizando o esquema evolutivo em três níveis, designa três fases constitutivas da sociedade ocidental: 1) extrativa pré-industrial, 2) industrial- fabricação e 3) pós-industrial-informação. The social framework of the information society, Mimeo. 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2416
  • 3. 17 volume 11, número 1, janeiro • abril 2007 Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação não se possa identificar com uma ins- tituição nem com um aparelho, por ser um tipo de poder, a disciplina fi- cou a cargo das instituições, e a fá- brica foi uma delas. Serviu para pro- duzir corpos submissos e exercitados para o trabalho.Adisciplina aumenta as forças do corpo (em termos eco- nômicos de utilidade) e diminui es- sas mesmas forças (em termos de política de obediência) (Foucault, 1975, p. 120). O que ocorre é o au- mento de uma aptidão e o aprofun- damento da dominação. Assim, toda a sociedade industrial entrou no rit- mo do trabalho, passando a ser ele o eixo identitário em torno do qual as identidades foram sendo produzidas. Este modelo foi relevante para desen- volver a riqueza em alguns países di- tos desenvolvidos. Portanto, o acúmulo de riqueza e de conhecimen- to determinou a passagem da socie- dade industrial para a pós-industrial. As características da sociedade pós-industrial são distintas das so- ciedades anteriores. No plano do poder, observa-se que o poder passa das mãos dos proprietários dos mei- os de produção de bens materiais, portanto, da indústria, para as mãos dos proprietários dos meios de pro- dução de bens imateriais. Isso signi- fica a passagem de um tipo de poder a outro. A sociedade industrial ou moderna precisou do poder discipli- nar, a sociedade pós-industrial ou pós-moderna (sociedade do conhe- cimento e da informação) precisa de uma pessoa criativa, não mais fixa num espaço e no ritmo das máqui- nas, como anteriormente. O poder agora opera pelo controle, sem per- der, é claro, sua dimensão disciplinar. Observa-se, portanto, que a indús- tria não produziu apenas produtos em série, mas comportamentos. Princípi- os e comportamentos, entre eles, como vimos, a padronização e a raci- onalidade (fechada), mas também a objetividade e a especialização. Cada trabalhador efetua diariamente a mes- ma tarefa milhares de vezes. Tudo na sociedade industrial se realiza em es- cala industrial: na fábrica, na escola, na prisão, no hospital, na família... Claro que a sociedade industrial foi capaz de grandes progressos: urba- nização, comunicação em massa, avanço da tecnologia, democratiza- ção da educação2 ... – e, foi capaz, também, de gerar a sociedade pós- industrial. Na sociedade pós-indus- trial, as máquinas, cada vez mais in- teligentes, substituem grande parte da massa operária, dos trabalhado- res do comércio... Ambas, a sociedade industrial e a pós-industrial, são sociedades capi- talistas e implicam uma relação que compreende quem explora e quem é explorado, quem ordena e quem é or- denado, quem subordina e quem é subordinado. As transformações do capitalismo provocadas pelas lutas populares, pelo desenvolvimento de novas tecnologias, pela ruína do Se- gundo Mundo etc. apontam para uma nova situação histórica de transfor- mação entre o moderno e o pós-mo- derno. Claro, muitos são os pontos que devem ser conectados para se compreender a passagem de um modo de produção a outro. Seja como for, observa-se que o novo contexto possibilita a invenção sem limites e exige uma pessoa cole- tiva e mais livre. O capital não ofere- ce mais o instrumento do trabalho, como anteriormente o fazia, mas de- pende da apropriação do conheci- mento. O que está ocorrendo, por- tanto, é uma grande mudança no qua- dro paradigmático do trabalho e, con- seqüentemente, na sociedade como um todo. Na sociedade pós-industrial, não se produzem bens materiais em larga escala, como na sociedade industri- al, mas bens imateriais (serviço, in- formação, estética...). Nesse proces- so, pelas mesmas razões por que a sociedade industrial não poderia dis- pensar os bens agrícolas (apenas pôde re-organizar o modo de produ- ção com máquinas, adubos químicos e pesticidas), a sociedade pós-indus- trial não pode dispensar os bens in- dustriais. Não pode dispensar os car- ros, nem os eletrodomésticos. O que a sociedade dispensa são os traba- lhadores: a sociedade industrial dis- pensou grande parte dos trabalhado- res agrícolas, a sociedade pós-indus- trial dispensa grande parte dos ope- rários, dos gerentes, dos dirigentes, enfim, dos trabalhadores industriais.3 Como se pode observar passamos da sociedade rural à sociedade industri- al e desta para a pós-industrial. Este processo, em todos os níveis, apre- senta importantes conseqüências. Os novos tempos geram novos comportamentos, novos princípios, novos valores e novas necessidades. Sem dúvida, sempre que aparece uma nova configuração do tecido históri- co, tem-se uma mudança na perspec- tiva epistemológica. Com isso, a vi- são sobre os fatos, sob o ponto de vista prático, é modificada. Hoje, os novos paradigmas trazidos pelo ca- pitalismo cognitivo, sob o qual tem lugar a sociedade pós-industrial – mais ligados ao intelecto, à ética, à estética, às emoções, à desestrutura- ção do tempo e do espaço, à raciona- lidade plural – exigem a produção de novos modos de compreensão da realidade, ou seja, de uma nova edu- cação. A educação é uma enorme ques- tão a enfrentar nos dias atuais. Na verdade, trata-se de um grande desa- fio, na medida em que é necessário e urgente encontrar um modo de de- senvolver novas correntes de racio- 2 Claro que a democratização do ensino é um ato reformista, por não se referir à educação popular. 3 Para aprofundar essa questão, consulte Domenico De Masi. 1999. A Sociedade Pós-Industrial (organizador) São Paulo: Senac,444. 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2417
  • 4. 18 Educação Unisinos Ivete Keil cínio, novas formas de pensar a vida, a sociedade, o trabalho, o tempo li- vre... – em perspectivas mais criati- vas e inventivas. Não se trata ape- nas de realizar pequenas aparas, mas, sim, de elaborar grandes transforma- ções. Diferentemente do que dizem alguns, o eixo dessas transforma- ções continua sendo o trabalho. Não mais na sua forma material, mas imaterial. Trabalho que exige o de- senvolvimento de aptidões distintas daquelas exigidas na sociedade in- dustrial, sobretudo, aptidões ligadas ao intelecto. A propósito da educação Na sociedade agrária, somente a elite tinha acesso ao ensino. Na so- ciedade industrial, como requisito ao mundo do trabalho industrial, a edu- cação formal foi democratizada, pas- sando a atender diferentes classes sociais e faixas etárias. Neste perío- do, a educação teve uma perspecti- va disciplinar e, além de docilizar o corpo, ensinar ritmo e organização para o trabalho, visava ao controle dos desejos. Evidentemente, o capi- talismo industrial estava a exigir um comportamento técnico-burocrático voltado à indústria e à lógica do mer- cado. Com isso, produziu uma sub- jetividade-padrão, inibindo a capa- cidade criativa. De fato, o objetivo era fazer o maior número de coisas no menor tempo possível. Na socie- dade pós-industrial, era da informa- ção e do conhecimento, na qual o trabalho é realizado por máquinas e computadores, a educação deve in- fluenciar a produção de subjetivida- des inventivas, isto é, subjetivida- des pensantes com idéias criativas.4 Ela expressa uma forte tendência em acompanhar todo o curso da vida das pessoas, não apenas como elemen- to de ingresso e continuidade no exercício do trabalho heterônomo, mas também como condição de cida- dania ampliada (Pochmann, 2006). A passagem da sociedade indus- trial para a sociedade do conhecimen- to, para Castells, sociedade intensi- va de conhecimento (1997), designa um período de dificuldades e sinali- za uma ruptura de equilíbrio quer na perspectiva social, individual, cultu- ral ou econômica. O pensamento abandona sua predominância linear, tornando-se muito mais complexo e se estruturando, predominantemen- te, em rede. O pensamento em rede (com seu largo fluxo de idéias) traz um enorme potencial cognitivo relativista, mas, também, exige o de- senvolvimento de uma “ética comum da responsabilidade” (Negri, 2000). Toni Negri (2005) afirma, no de- bate com Marilena Chauí, que estamos na época do General Intellect e, nela, a cooperação pro- dutivanãoéimpostapelocapital,mas é uma habilidade da força-trabalho imaterial, do trabalho mental que só pode ser cooperativo. Para o filóso- fo, a chave da acumulação é o pró- prio General Intellect. Seja como for, na sociedade do conhecimento, da força-trabalho desmaterializada, os que não possuem as habilidades para tratar a informação ou não têm os conhecimentos que a rede valoriza ficam totalmente excluídos. Fossos e diferenciações profundos entre grupos humanos estão sendo acele- radamente abertos e expandidos. Na prática, a sociedade pós-in- dustrial gera uma enorme quantida- de de informação.Ainformação pre- cisa do conhecimento para ser apli- cada e perder sua inutilidade. Por- tanto, é a capacidade de pensar o ponto diferenciador entre as pesso- as e as sociedades. Cabe à educação o desenvolvimento da capacidade de pensar – investida como possibili- dade de entrada na esfera da eman- cipação individual e coletiva e na esfera do trabalho imaterial. Todavia, a educação no Brasil, presa ainda nos ditames da sociedade industrial, não está adequadamente conectada com as transformações e valores da soci- edade contemporânea, razão pela qual não está conseguindo preparar adequadamente as crianças e os jo- vens. Para estar no seu tempo, ela (a educação), qualificada em bases his- tórico-sociais, portanto, politizada, terá que produzir espaços visando à produção de idéias (espaços produ- toresdeidéias).Convéminsistir,mais uma vez, que o trabalho imaterial de- pende da criatividade, do pensamen- to plural e da racionalidade aberta. Milton Santos observa que estamos diante de outra cognocibili- dade no planeta. Neste horizonte, constata o geógrafo, o conhecimen- to deve nascer no interior da crítica, sem abstrações alienantes, sem incompletudes que possam dar mar- gem a falsas compreensões a respei- to de direitos, justiça, liberdades, nu- trindo a desinteligência de setores da população e encobrindo a razão das desigualdades sociais (Santos, 2000).Épreciso,pois,reconhecereste momento, suas peculiaridades e, so- bretudo, as possibilidades que ele traz em seu bojo. Aproveitar as possibili- dades significa um esforço em dire- ção às atividades intelectuais ligadas à raridade, à inovação. Os elementos inovadores é que serão capazes de produzirvalor. Ora, a mudança do quadro paradigmático da sociedade, isto é, a passagem da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial, im- plica a morte de algumas formas de trabalho, emprego e carreiras. Essas esferas passam, efetivamente, por um importante processo de mutação. O fim da sociedade industrial con- cretiza o fim da sociedade salarial e exige outras formas de composição econômica. Um aspecto importante 4 Nos Estados Unidos a indústria emprega atualmente, segundo Marcio Pochmann, apenas 13% do total dos ocupados e o setor agrário apenas 5%. 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2418
  • 5. 19 volume 11, número 1, janeiro • abril 2007 Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação é o maior valor atribuído ao conheci- mento, à cultura, à arte, à estética, ao lazer impondo novos campos de tra- balho e carreira. No contexto pós- industrial, a força produtiva depen- de das forças intelectuais e científi- cas do trabalhador. O capitalismo cognitivo precisa extrair a mais valia captando os fluxos sociais do traba- lho cognitivo – o trabalho continua como trabalho explorado com um agravante: a cidadania aparece cada vez mais fortemente articulada à ca- pacidade de consumo. Pois bem, esta época cognitiva exige uma educação que, evidente- mente, está sendo (ou está para ser) inventada. No processo de invenção, alguns pontos são essenciais e de- vem ser considerados. De saída, não se pode esquecer que a educação deve qualificar, crianças e jovens, para a vida futura. Neste sentido, sobretudo, dois pontos aparecem na cena do debate: o primeiro refere-se à educação ligada ao processo emancipatório; o segundo refere-se à educação ligada ao trabalho (mate- rial e imaterial). Em outros termos, li- berdade e trabalho combinados com a vida em coletivo. O que proponho é um certo desaparecimento das fron- teiras entre o político e o social, a produtividade e a ética da vida. O primeiro ponto engloba dois movimentos fundamentais, isto é, resistência e insurgência. Ambos apontam para a educação política e para a educação politizada. As pes- soas devem saber recusar tutelas e privilégios e tomar em suas próprias mãos a defesa de seus direitos, inte- resses e desejos. Nesta perspectiva, será necessário dar um passo maior do que o fez a sociedade industrial, isto é, a educação deve possibilitar que a sociedade compreenda as re- lações de força em seu conjunto e, assim, possa resistir à exploração e à exclusão socioeconômica e, ao mes- mo tempo, possa se insurgir, de al- gum modo, buscando a elaboração de novas idéias e de novos compor- tamentos através de dispositivos de cooperação que se formam e se es- tendem pelo tecido social. Para avançar nestas questões, será útil pensar no conceito espinosista de afetação, pois a sub- jetividade é o resultado de um con- junto de relações.Aconfiguração do sujeito emancipado, portanto, apa- rece mediante processos de apren- dizagens – através dos quais são re- tirados os véus da ignorância. Sabe- mos todos que os movimentos de resistência e de insurgência fazem avançar o âmbito dos direitos, por- que apontam não somente para a esferapolíticapura,mastambémpara a esfera ética e cultural. Resistência e insurgência dizem respeito aos políticos, aos profissio- nais da educação, aos pais, aos es- tudantes, enfim, a todos os interes- sados em transformar a sociedade brasileira na perspectiva de interes- ses e desejos coletivos. A sociedade industrial teve a educação como um dos seus mecanismos de controle social.5 Nesse período de transição para a sociedade pós-industrial, mais do que nunca, observa-se o apareci- mento de múltiplos poderes e espa- ços de poder antagônicos. Este an- tagonismo, tendência da sociedade pós-industrial, abre brechas nas quais as relações de força podem gravitar em torno da ética comum da responsabilidade. Ou, pelo menos, expandir e aprofundar sua gravitação em torno deste eixo. Isso significa aproveitar a situação na qual os sig- nos, confiados ao trabalho vivo (que constitui a forma criadora na socie- dade), estão em descontrole. Ou seja, o campo criativo do significado está corroendo a possibilidade de um controle absoluto sobre as lingua- gens (Negri, 2005). Com efeito, o controle exercido pelo poder dominante está enorme- mente prejudicado em seu equilíbrio. Aliás, nenhum poder hoje pode con- trolar as linguagens, uma vez que, mais do que simples instrumentos de comunicação, elas são imediatamen- te produtivas.As multidões resistem e se insurgem, seguindo dinâmicas moleculares, reivindicando diferen- ças, experimentando cruzamentos e hibridações, forçando o poder a ad- mitir seus limites. Essa dinâmica abre enormes espaços de emancipação coletiva. A educação pode explorar estes espaços, criar outros e cami- nhar para o equilíbrio entre a liberda- de e a ordem. O segundo ponto, isto é, a educa- ção ligada à esfera do trabalho, abarca não apenas a atividade produtiva, mas aintegraamotivosontológicos.Opro- jeto do capitalismo pós-industrial e cognitivo é a modificação do quadro paradigmático do trabalho, constituí- do doravante por uma quantidade de conhecimento suportado e posto em produção pela “intelectualidade de massa”(Negri,2005).Aforçaproduti- va nasce dos sujeitos, se materializa e se organiza na cooperação. Isso sig- nifica que o trabalhador terá que ser mais criativo, ter capacidade de ino- vação, domínio de informações e tecnologias, capacidade analítica, ca- pacidade de interação e cooperação. Entretanto, no Brasil, a educação con- temporânea ainda não está consoante com o mundo do trabalho. O alto índice de desemprego de trabalhadores escolarizados e a rela- tiva facilidade de empregos para os trabalhadores do chamado setor de ponta, particularmente os que estão 5 Ao educador é dada a tarefa da divulgação e da reprodução ideológica. Esta tarefa está condicionada pelas relações de poder, pelo grau de polarização política e pelo nível de organização dos movimentos sociais. Portanto, a insurgência e a resistência revelam um importante grau de politização por parte daquele que resiste e/ou se insurge. 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2419
  • 6. 20 Educação Unisinos Ivete Keil inseridos nos segmentos nobres das empresas multinacionais, são emblemáticos dessa realidade. Pois, movida pelo capitalismo pós-indus- trial, a sociedade salarial se transfor- ma colocando populações, antes in- cluídas, em zonas de precariedade econômica e social, ou seja, há um forte processo de desqualificação social em movimento. Este processo atinge não apenas os pobres, mas populações economicamente favore- cidas – redefinindo seu status social. Observa Dominique Schnapper, refe- rindo-se ao século XX: o desempre- goéagangrenadoséculo(Schnapper, 1991), razão pela qual está se consti- tuindo uma nova pobreza. Ora, o pensamento liberal domi- nante, base do capitalismo pós-in- dustrial, tem um caráter fortemente excludente. Nele, o que conta são as competências individuais. No caso do Brasil, observa-se que a grande maioria dos trabalhadores está despreparada para a competitividade exigida pelo mercado, portanto, sem possibilidade imediata para se inte- grar no novo padrão de competên- cia. Com efeito, os padrões de com- petência que a escola brasileira de hoje promove não correspondem aos exigidos pelo mercado, pois a escola ainda tem como base as necessida- des impostas pelo capitalismo indus- trial, submetendo o conjunto dos processos educativos escolares ao imediatismo da formação técnico- profissional dura. Isso está aconte- cendo apesar das demandas exigirem novas competências. Para países como o Brasil, a educação é a única saída para superar o atraso tecnológico e entrar com autonomia na economia global. Os dois pontos, isto é, a educa- ção ligada ao processo emancipató- rio e a educação ligada à esfera do trabalho, em termos de desenvolvi- mento de habilidades necessárias (mas também de compreensão da ex- ploraçãopelocapital),produzemuma única realidade que conduz ao engajamento na luta e na constru- ção de uma nova sociedade muito mais democrática, pois rompe com o bloqueio da participação e do autogoverno da população brasilei- ra. Bloqueio, diga-se de passagem, produzido pelo pacto liberal. Numa perspectiva otimista, observa-se, por um lado, a possibilidade de livrar o trabalho da exploração, por outro, a possibilidade de capacitar novas for- ças de trabalho que criam o mundo na perspectiva do bem comum. Cer- tamente, as possibilidades dos tra- balhadores, dos oprimidos se recom- porão em novos termos. Palavras finais O capitalismo pós-industrial exi- ge enormes investimentos em tecnologia e competência neste cam- po, assim como investimentos em bens e serviços de maior valor agre- gado. Os países que não desenvol- vem investimentos nessas áreas não poderão gerar postos de trabalho com qualidade (ótima e boa) e remu- neração condizente. Nesta perspec- tiva, para as pessoas não ricas des- ses países apenas resta o trabalho precário e de execução, longas jor- nadas de trabalho, baixa remunera- ção e desemprego. Trabalhos precá- rios e desemprego significam humi- lhação, constrangimentos, dessoci- alizaçãoeameaçamolaçosocial.Com efeito, o capitalismo industrial con- seguiu uma relativa integração soci- al e estabilidade contratual pelo de- senvolvimento econômico e pela promessa de pleno emprego. Nele, os mecanismos de redistribuição (ou a promessa de) funcionaram como instrumento de integração e luta con- tra o processo de exclusão. O capita- lismo pós-industrial aumenta a po- breza existente, produz uma nova pobreza, não consegue assegurar os empregos e tenta destruir (e destrói) as conquistas populares que força- ram a criação do Estado de bem-es- tar e, assim fazendo, coloca em risco o pacto social. A estabilidade contratual da sociedade contempo- rânea somente estará assegurada pela sua capacidade de gerar bons postos de trabalho. No Brasil, o au- mento da violência urbana e a gera- ção de um Estado paralelo são prova disso. Ora, como vimos discutindo, os acontecimentos contemporâneos são conseqüência da racionalidade econômica que se mostra no para- doxo dos elevados ganhos de pro- dutividade e da crescente precariza- ção do trabalho e declínio do padrão econômico dos trabalhadores. A grande competição globalizada no mundocapitalistaproduz,deumlado, os fluxos migratórios (constituídos tanto pela mão-de-obra altamente qualificada como pela mão-de-obra sem qualificação) em busca de me- lhores condições, contribuindo para o aumento dessa baixa remuneração e precarização. E, de outro, o fluxo migratório das plantas empresariais em busca de trabalhadores a baixo custo, causando um alto índice de desemprego estrutural (empobrecen- do enormemente grupos da popula- ção mundial, regiões e países). Em- bora esse nomadismo possa também ser visto, ao mesmo tempo, como o faz Negri, como insurreição, resistên- cia e nova forma de luta em torno das relações de poder, cada vez mais mundializadas (Negri e Hardt, 2000). Seja como for, não há uma pers- pectiva positiva imediata contra o projeto econômico imposto ao mun- do pelo capitalismo pós-industrial. Com efeito, não se vislumbra nos dias de hoje uma reorganização po- sitiva no universo do trabalho, ao contrário. Entretanto, o que está em jogo no jogo dos poderes é a inclu- são/exclusão de pessoas, grupos, regiões e países. Sabemos todos que a exclusão socioeconômica é uma construção, um produto histórico de 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2420
  • 7. 21 volume 11, número 1, janeiro • abril 2007 Do capitalismo industrial ao pós-industrial – Reflexões sobre trabalho e educação mecanismos econômicos e sociais (não sendo, pois, resultante de atri- butos de uma pessoa isolada). Ela resulta da ausência de emprego du- rável que produz, por sua vez, a per- da das relações sociais. Dubar é en- fático ao observar que, para explicar a exclusão, é preciso interrogar a evo- lução das políticas de emprego, os funcionamentos do mercado de tra- balho, mas também as transforma- ções da família, das políticas urba- nas, dos bairros periféricos que re- sultam da própria exclusão econômi- ca. Para o sociólogo, não se pode compreender nada a respeito do tema sem uma profunda análise das insti- tuições (incluindo a educação), da integração econômica (emprego/de- semprego) e da filiação social (pertencimento a um coletivo) (Dubar,1996). Claro que a viabilização da inclu- são socioeconômica no Brasil con- temporâneo é possível, mas depen- de da resolução dos seus entraves. Isto é, depende dos interesses eco- nômicos e políticos das elites diri- gentes e da qualidade da educação desencadeada por esses mesmos in- teresses. A capacidade de conhecer permite acesso à produção e, por meio dela, às relações intersubjetivas e à continuidade da sociedade. Por- tanto, a educação formal (oferecida nas escolas) e informal (realizada pelo conjunto social), hoje, precisa desenvolver uma ontologia do ser imaterial inserido no trabalho imaterial.6 A pessoa (incluída) será, segundo alguns teóricos, social e coletiva e determinará o valor da pro- dução. Isto é, o trabalho será organi- zado em formas comunicativas e lin- güísticas, e o saber será, cada vez mais, cooperativo. Portanto, a pro- dução vai depender das conexões e das relações que constituem o tra- balho intelectual e lingüístico. Isso, bem entendido, não põe fim à explo- ração capitalista, apenas a organiza de outro modo.Aliás, a expansão e o aprofundamento da exclusão socioeconômica são uma das tendên- cias da sociedade pós-industrial. Um projeto e execução de medi- das positivas no campo da educa- ção podem virar essa tendência. A educação (política e politizada) é re- conhecidamente um elemento essen- cial na construção da sociedade, so- bretudo, da sociedade calcada e estruturada sobre informação e co- nhecimento. Mas há urgência em reconfigurar o modelo educacional brasileiro. Ele deve projetar – para todos – um modelo que considere os espaços de conhecimento emer- gentes, abertos, de produção contí- nua, em fluxo e em rede, organizados em diálogo entre objetivos e realida- de.Aeducação no Brasil pode influ- enciar a produção de subjetividades capazes de lidar com as coisas do mundo na perspectiva ética. Sabe- mos o quanto as pessoas precisam estar preparadas psicológica e etica- mente para enfrentar as dificuldades produzidas em uma sociedade em transformação. Isto significa, na pers- pectiva profissional, uma formação que capacite a migração a campos diversos, segundo desejos ou neces- sidades, implicando, portanto, o de- senvolvimento da capacidade de pensar. Capacidade de pensar, por sua vez, implicada na capacidade de lidar com as mudanças, com a insta- bilidade. Este é um desafio enorme; outro desafio para a educação diz respeito à emancipação. Em síntese: o grande desafio hoje para a educa- ção, no Brasil, é difundir os valores democráticos e os valores republi- canos tecendo com eles todas as re- lações de trabalho e afetivas, a fim de produzir uma socialidade, de fato, democrática. Referências BELL, J. 1980, The social framework of the information society. Mimeo. CASTELLS, M. 1997. The rise of the network society: The information age: economy, society and culture. Oxford, Blackwell, 314. DUBAR, C. 1996. Socialisation et processus. Paris, Découverte, 250. FOUCAULT, M. 1975. Surveiller et pu- nir. Paris, Gallimard, 320. GORZ, A. 1997. Misere du présent: Richesse du possible. Paris, Galilée, 230. NEGRI, A. 2005. O comunismo da imanência. In: Debate com Marilena Chauí – promovido pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade e pelas pós- graduações em Psicologia Clínica e Fi- losofia da PUC-SP e Universidade Nô- made. Mimeo. NEGRI, T. e HARDT, M. 2000. Empire. Paris, Exils, 80. POCHMANN, M. 2006. O trabalho em três tempos. Revista Ciência e Cultu- ra, 54(4):160. SANTOS, M. 2000. Por uma outra globalização: Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janei- ro, Record, 230. SCHNAPPER, D. 1991. L’épreuve du chômage. Paris, Gallimard, 260. Submetido em: 04/12/2006 Aceito em: 24/01/2007 6 Entre as definições do trabalho imaterial está a de Toni Negri: conjunto das atividades intelectuais, comunicativas, afetivas, expressas pelos sujeitos e movimentos sociais – que conduzem à produção. Ivete Manetzeder Keil Pesquisadora do Instituto Nacional de Direitos da Infância, Adolescência e Juventude – INDIAJ 015a021_ART02_Keil[rev].pmd 16/5/2007, 11:2421